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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Até 1ª Guerra, não existiam fronteiras entre Israel, Líbano, territórios palestinos e Síria - Guga Chacra


Meu avô nasceu otomano, achava que fosse sírio, disseram que era libanês e, se nascesse alguns quilômetros mais ao Sul, seria palestino. As vilas daquela região do Mediterrâneo Oriental integravam o Império Otomano, com sede na distante Istambul (Constantinopla). 
Não existiam fronteiras no que hoje é Israel, territórios palestinos, Líbano e Síria. 
A pessoa se identificava com sua vila, sua religião e sua região. 
Poderia ser um cristão melquita de Zahle, um muçulmano sunita de Nablus, um judeu de Aleppo, um muçulmano xiita de Nabatieh, um cristão armênio de Jerusalém, um druso das Colinas do Golã ou um cristão greco-ortodoxo de Haifa. Todos súditos otomanos. 
 
A noção de Estado nacional era inexistente naquela região até a Primeira Guerra, quando os otomanos foram derrotados e viram seu império desmoronar. França e Reino Unido, os vencedores da guerra, dividiram entre si essa região do Levante, assim como outras partes do Império Otomano, a não ser pela Turquia. Por exemplo, os britânicos uniram três províncias diferentes na Mesopotâmia e inventaram uma monarquia artificial chamada Iraque. 
Anos depois, fariam o mesmo no que hoje é a Jordânia. 
 
A França ficou com o que hoje é Síria e Líbano, criados no mandato francês nos anos 1920 e que viriam a ficar independentes nos anos 1940. O Reino Unido, por sua vez, ficou com a região da Palestina histórica. Como no resto do Levante, tratava-se de uma região multirreligiosa. 
Basta ver que a cidade antiga de Jerusalém historicamente é dividida em quatro quadriláteroso cristão, o armênio (também cristão), o islâmico e o judaico. 
A maioria da população era muçulmana, mas havia expressivas minorias de diferentes denominações cristãs e judaicas. 
 
Diferentemente do que ocorreu no Líbano e na Síria com a França, a região onde estava a Palestina histórica teve um status indefinido pelos britânicos. Afinal, além da população que ali vivia (muçulmanos, cristãos e judeus), ocorreu uma enorme imigração de judeus europeus durante o movimento sionista. 
Diferentemente da população local, eles traziam uma noção de Estado nacional e, diante das perseguições que sofriam na Europa, consideravam o que hoje é Israel como o único lugar onde poderiam estabelecer uma nação judaica dado os laços milenares com a região, onde está Jerusalém, berço do judaísmo — essa ideia ganhou ainda mais força ao redor do mundo com o Holocausto. 
 
Nesse momento, duas identidades passam a se chocar. A dos muçulmanos e cristãos, que não tiveram uma nação para suas vilas sob o mandato britânico, diferentemente do ocorrido nos recém-independentes Síria e Líbano com a França — e com o colapso otomano começava a emergir a identidade palestina. 
E a dos judeus tanto vindos da Europa como os locais, que queriam uma nação judaica. Naquele momento, talvez até pudessem ter um Estado sectário sem maioria religiosa, como o Líbano.
 
No fim, os palestinos não aceitaram a partilha por avaliar ser injusta porque dava áreas de expressiva maioria árabe para Israel. 
O fato é que houve a guerra de 1948, que resultou na expulsão e saída da maioria dos palestinos do territórios israelenses a maioria dos habitantes de Gaza descende de palestinos que viviam há gerações no que hoje é Israel. Paralelamente, nos ano seguintes, houve a expulsão ou saída de judeus de países como Síria, Egito, Iraque e Líbano. Segundo o escritor franco-libanês Amin Maalouf, que preside a Academia Francesa de Letras, estes dois acontecimentos são a tragédia do Levante, como é conhecida esta região.

Guga Chacra, colunista - O Globo


quarta-feira, 19 de maio de 2021

Ministério da Defesa confirma: Russos operando nas fronteiras do Brasil - DefesaNet

Pela primeira vez Governo Brasileiro confirma forças russas operando nas fronteiras do Brasil

Exclusivo – Artigo publicado por DefesaNet, que menciona forças russas operando nas fronteiras do Brasil, é confirmado pelo Ministro da Defesa Brasileiro

Pela primeira vez uma autoridade do governo brasileiro confirma a presença de forças militares russas operando nas fronteiras brasileiras. O Ministro da Defesa, Gen Ex Walter Braga Netto, questionado pelo Deputado Federal Marcel van Hatten (Novo/RS), confirmou reportagem de DefesaNet.

A matéria Russos e venezuelanos operam na fronteira com Brasil”, publicada por DefesaNet, no dia 02MAIO2021, detalhava ações de Guerra Eletrônica empreendidas por Forças Russas e a Fuerza Armada Nacional Bolivariana (FANB), na região de fronteira de Roraima.

Artigo publicado por DefesaNet, que menciona forças russas e venezuelanas operando nas fronteiras do Brasil, é confirmado pelo Ministro da Defesa Braga Netto.

Na audiência pública realizada pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN), no dia 05MAIO2021, Reunião Extraordinária - Explanar sobre as prioridades do Ministério da Defesa para o ano de 2021. O Ministro Braga Netto estava acompanhado do Comandante do Exército, General-de-Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira,  do  Comandante da Marinha, Almirante-de-Esquadra Almir Garnier Santos e o Comandante da Aeronáutica, Tenente-Brigadeiro do Ar Carlos de Almeida Baptista Jr.

A audiência pública foi presidida pelo Deputado Federal Aécio Neves (PSDB/MG), presidente da CREDN. O deputado van Hatten questionou ao Ministro Braga Netto informações sobre a notícia de DefesaNet, que forças Russa e da FANB estavam operando sistemas de Monitoramento e Guerra Eletrônica (jamming) junto à Fronteira do Brasil.

Para surpresa de todos, o Ministro Braga Netto foi claro: 
“O exercício na fronteira ocorreu e as forças armadas (Brasileiras) têm capacidade de contrapor às ameaças cibernéticas. Toda a vez que é mobilizado um exercício, nós (Comandos Militares) acompanhamos, todo tipo de exercício ”.
 
 EXERCÍCIOS MILITARES DA VENEZUELA E RÚSSIA NA FRONTEIRA COM O BRASIL

O Ministro Braga Netto ressaltou a importância e a característica da Guerra Cibernética, que é de evolução constante.(Nota DefesaNet - Os sistemas russos de Guerra Eletrônica são excelentes e são constantemente apefeiçoados)   O Ministro inclusive questionou Comandante da Aeronáutica Ten Brig Baptista Jr sobre detalhes das ações e se tinham avançado sobre o território brasileiro, o que não ocorreu.

Relações Exteriores e Defesa Nacional - Braga Netto e as prioridades da  Defesa         para 2021- 05/05/2021

Porém, o Ministro deveria ter perguntado ao Comandante do Exército Gen Ex Paulo Sérgio, que é o responsável pela implementação dos sistemas de Inteligência de Sinal (SIGINT), se o Brasil está conseguindo acompanhar a evolução tecnológoica e operacional, pois há questionamentos quanto às prioridades. Mesmo com recomendação do Palácio do Planalto, para que sejam atualizados e incrementados os sistemas de inteligência na Fronteira Norte, o Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), tem definições e prioridades próprias. Segundo informes obtidos por DefesaNet, o DCT opta por outros programas e regiões, inclusive ignorando as mensagens do Palácio do Planalto.

A oportuna pergunta do Deputado Federal Marcel van Hatten desnudou uma realidade, que  várias administrações do próprio governo brasileiro, vinham postergando o seu reconhecimento ao longo da última década. A resposta do Ministro da Defesa Braga Netto, é corajosa pois traz para a mesa a realidade estratégica de nosso entorno. Mesmo com a enorme demanda financeira, que o Brasil tem na proteção de sua população na Pandemia da COVID-19, muitas decisões e ações são inadiáveis.  Cabe ressaltar o contínuo e deletério boicote da área econômica do Governo Federal às demandas estratégicas urgentes do Brasil.
  
 
DefesaNet
 
 

sábado, 14 de março de 2020

Direita internacional está usando a crise do novo coronavírus - Merval Pereira

O Globo

Distorções sobre o coronavirus - Realidades distintas

O presidente Bolsonaro aproveitou até mesmo a desmobilização de seus seguidores para cutucar os congressistas, que dias antes haviam dado um troco a seu governo ao derrubar irresponsavelmente um veto seu, criando uma despesa nova de R$ 20 bilhões sem saber de onde esse dinheiro viria. Diante da crise do Covid-19, o presidente foi obrigado a aconselhar seus seguidores a não fazerem as manifestações programadas para amanhã, mas fez do limão uma limonada.

Criticou indiretamente o Congresso de todas as maneiras que pôde, comemorando um supostorecado das ruas” contra os políticos. Não aproveitou a ocasião para pacificar os ânimos, ao contrário. A direita internacional está usando a crise do novo coronavírus para reforçar a tese nacionalista de que fechar as fronteiras é a melhor resposta à globalização, que estaria sendo confrontada pela realidade. O presidente dos Estados Unidos Donald Trump tentou inicialmente minimizar as conseqüências da crise de saúde pública mundial, mas teve  que se curvar aos fatos. Aproveitou para jogar sobre a União Européia a culpa da disseminação do vírus, e fechou os aeroportos aos europeus, com exceção dos ingleses, como se o brexit fosse uma fronteira intransponível para o Covid-19. Os extremistas americanos atribuem a situação a uma manobra política da esquerda para derrotar Trump. 

Outros acham que é uma jogada da China, que sairia fortalecida política e economicamente sendo o primeiro país a controlar a crise. Até mesmo os grandes laboratórios farmacêuticos estariam por trás da crise, em busca de lucros no capitalismo selvagem. 

 A mesma postura regressiva foi utilizada aqui por Bolsonaro, que tentou mascarar a verdade atribuindo a pandemia a uma ação conjunta da “grande mídia internacional”, que estaria fantasiando a realidade, não se sabe com que intenções. Talvez impedir a “decolagem” da economia brasileira, que, na visão do ministro da Economia Paulo Guedes, estava prestes a acontecer.  Como não temos fronteiras a fechar por aqui, [sic] nem somos vítimas de conspirações internacionais, Bolsonaro não conseguiu criar um ambiente irresponsável, embora tenha adiado ao máximo a admissão de que a situação era grave. A realidade crua destrói essas teorias conspiratórias, como no caso brasileiro, que obrigou Bolsonaro e seus assessores diretos a usarem máscaras depois que o chefe da Secretaria de Comunicação, que o acompanhou na recente viagem aos Estados Unidos, foi identificado com o Covid-19.

Um caso exemplar de teoria da conspiração aconteceu com um dos filhos do presidente, aquele que sonhava ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos e que nunca ouviu falar em Henry Kissinger. O deputado Eduardo Bolsonaro também não sabe o que é coronavírus, e, por ignorância, gerou uma desinformação importante nos Estados Unidos. Entrevistado pela Fox News, emissora direitista que apóia Trump, ele, ao responder a uma pergunta da âncora do programa, comentou que o pai havia testado negativo para coronavírus “que nos Estados Unidos chamam de Covid-19”, como se fossem a mesma coisa.Tomou uma aula ao vivo da jornalista, que explicou que diversos tipos de coronavirus existem há muitas décadas, e que Covid-19 é um novo tipo da família viral. Talvez por ignorância, e não má-fé, Eduardo tinha passado anteriormente a informação para a mesma Fox de que o presidente Bolsonaro testou positivo para coronavírus.

O que quer dizer que não poderia ter o Covid-19, mas provavelmente ele misturou tudo. O jornalista John Roberts revelou em um tuíte que fora Eduardo quem lhe dera a informação. Para não fugir à lógica própria dos Bolsonaro, o deputado atribuiu o mal-entendido à má-fé do jornalista, que estaria divulgando fake newsA existência dessas versões amalucadas demonstra, porém, que a politicagem vulgar não é uma característica brasileira do momento, mas do populismo que toma conta do mundo, agora de teor direitista.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


sexta-feira, 2 de novembro de 2018

O governo precisa recuperar o Brasil confiscado pelos narcotraficantes

Que seja esse o legado de Sergio Moro em sua passagem pelo Ministério da Justiça

A histórica derrota do PT nas urnas de outubro exorcizou a assombração bolivariana: Lula e seus comparsas foram obrigados a arquivar o sonho de transformar o Brasil numa Venezuela tamanho família e com legendas em mau português. Falta agora enfrentar o pesadelo que ameaça deixar o país parecido com a Colômbia do último quarto do século 20.

Nos anos 80 e 90, a Nação colombiana teve de enfrentar, simultaneamente, os cartéis do narcotráfico e as tropas narcoterroristas das FARC. O Brasil já não pode adiar o desencadeamento da inevitável ofensiva contra o crime organizado, cuja face mais torpe é escancarada pelo PCC e pelo Comando Vermelho. Os chefões desses bandos dominam morros, periferias, cadeias, fronteiras. Não demorarão a expandir-se até alcançar o espaço que lhes permita atacar o coração do poder.

Foi o que fizeram os comandantes dos cartéis e das FARC até que o governo colombiano mobilizou as Forças Armadas e os organismos policiais para o vigoroso contra-ataque apoiado pelos Estados Unidos. Foi longa e sangrenta a ressurreição do Estado Democrático de Direito.  Até que o governo vencesse, os inimigos sequestraram, torturaram ou mataram parlamentares, empresários, ministros de Estado, candidatos à Presidência da República, oficiais do Exército — ninguém pôde sentir-se seguro por anos a fio. No Brasil, os pastores da violência não chegaram a tanto. Ainda. Falta pouco. 

Foi especialmente alentador constatar que Sergio Moro redesenhou o Ministério da Justiça para livrar o Brasil dos horrores que martirizaram a nação vizinha. Sem interromper o combate à corrupção, Sergio Moro está pronto para mostrar aos narcotraficantes que a lei da selva foi revogada pelo novo governo. Que seja esse o grande legado do novo ministro da Justiça.

Blog do Augusto Nunes - Veja
 

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Na crise venezuelana, Rosa Weber inventa a ministra que dá sugestão a juiz… Fux, seu colega, já havia criado o ministro parecerista

A ministra Rosa Weber do Supremo, negou o fechamento da fronteira, mas, nestes tempos um tanto estranho, o fez de maneira também algo estranha: ela não mandou reabrir as fronteiras, mas solicitou ao magistrado que reavaliasse a sua decisão. A determinação de resgatar a ordem constitucional partiu do Tribunal Regional da 1ª Região. 

Rosa, pelo visto, está inaugurando uma nova categoria de decisões no tribunal: a “recomendação”. Há dias, ao se negar a analisar um pedido de inelegibilidade de Lula, Luiz Fux, presidente do TSE, fez o óbvio no caso: nem admitiu julgar a petição porque o peticionário não tinha legitimidade para empreende-la. Mas Fux é Fux. Aproveitou a oportunidade para dar um parecer: a inelegibilidade de Lula é, segundo ele, “chapada”. É o ministro de tribunal superior que dá “parecer”. Logo vai ter magistrado abrindo uma tenda no Supremo prometendo trazer a pessoa amada em três dias e garantindo até a conquista do amor verdadeiro. Mas volto ao ponto.

Continua aqui

Blog do Reinaldo Azevedo
 

Os países do Continente, por intermédio da OEA, têm de redobrar a pressão para que um tirano assassino liberte o seu próprio povo. [tirano assassino e que conta com o apoio total e incondicional do PT, apoio que alcança outro tirano: Daniel Ortega, Nicarágua.

O mais trágico é que o Brasil não pode esquecer que tem 13.000.000 - grande parte morando nas ruas e também faminto.]

 

sábado, 3 de março de 2018

As duas fases do governo

Pode ser qualificado como populista, oportunista ou qualquer outro adjetivo que se queira mencionar, mas é fato que o governo do presidente Michel Temer é um, antes do Carnaval, e outro, depois da folia de Momo. Assim, mutante, o presidente que até a quarta-feira de cinzas parecia ser um fardo para os aliados no jogo eleitoral que se aproxima, pode, agora, vir a ser um importante agente político de sua própria sucessão. Sabemos que há um longo caminho até a eleição, mas o País dará um grande salto se as forças políticas se mostrarem capazes de abandonar um pouco o Fla-Flu dos últimos anos e convergirem em torno de uma agenda mínima proposta por essa espécie de segunda gestão Temer.

No primeiro governo tinha-se um Poder Executivo que, aparentemente, estava em estado letárgico. Refém de um Legislativo ganancioso, radicalmente fisiológico e sem nenhum pudor ético. Uma gestão fragilizada com parte de sua equipe citada em falcatruas, diante de um Ministério Público travestido de super-herói. Uma administração dependente de uma agenda econômica extremamente impopular e reformista, mas necessária para tirar o País de uma recessão sem precedentes na nossa história republicana. Com alguma habilidade, muita verba pública e estratosférico índice de impopularidade, esse primeiro governo Temer construiu uma base de apoio no Congresso para manter o presidente no Palácio do Planalto e aprovar parcialmente as amargas reformas, o suficiente para agora começar a colher bons resultados econômicos, que se espera, nos próximos meses, possam refletir no dia a dia do cidadão.

O segundo governo Temer parece revigorado. Praticamente abdicou da reforma da Previdência e assim cortou as amarras que o deixavam refém da Câmara e do Senado. Trocou a pauta negativa por uma agenda conectada com os anseios populares e empunhou a bandeira da segurança pública. Reduzir a violência é o desafio. Em pouco mais de dez dias, o governo, antes letárgico, decretou intervenção federal na segurança do Rio de Janeiro, criou o Ministério da Segurança e começa a construir uma força de elite nacional, que reúne os serviços de inteligência das Forças Armadas, amplia o contingente da Polícia Federal e tira os militares dos quartéis para que efetivamente patrulhem as fronteiras. Nessa batalha extremamente popular, o presidente passou os últimos dias a reunir governadores de diversos partidos para que se unam em torno de um plano de ação de comum. Só na quinta-feira 1, anunciou crédito de R$ 42 bilhões para que os estados invistam em planos contra a violência.

Não é pouco para um País que há décadas procura um projeto nacional de segurança pública, visto que os estados não dão conta de enfrentar um crime que não respeita as fronteiras, sejam elas nacionais ou internacionais. O segundo governo Temer entendeu que para enfrentar as organizações criminosas não basta comprar viaturas e armas, ou ampliar os contingentes policiais. Com as medidas anunciadas nos últimos dias, o governo pôs fim ao discurso de que segurança não é tarefa federal e inaugurou, assim, uma nova dinâmica para tratar do assunto. O Congresso logo reagiu e os presidentes da Câmara e do Senado correram para tirar das prateleiras os inúmeros projetos que tratam do tema e que havia anos estavam paralisados. Animais políticos que são, deputados e senadores sabem que, se o governo conseguir reduzir a violência e fizer frente ao crime organizado, o presidente se firmará como um importante eleitor e a eleição de alguma forma passará por ele. Interesses políticos à parte, para os brasileiros é importante que o projeto dê resultados e que o governo a ser eleito possa estar comprometido com as reformas que o primeiro governo de Temer não conseguiu realizar.

Mário Simas Filho, diretor de redação da revista ISTOÉ 
 

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Brasil dobra controle militar e reforça triagem de refugiados venezuelanos

O Brasil criou uma força-tarefa para controlar o ingresso de venezuelanos em Roraima, medida anunciada em visita do presidente Michel Temer ontem a Boa Vista. De acordo com o plano, haverá aumento de 100 para 200 homens nos pelotões de fronteira no Estado e duplicação dos postos de fiscalização. O governo federal pretende aplicar R$ 15 milhões na contenção de novos refugiados – alguns dos quais são usados pelo crime organizado – e na ajuda para os que já chegaram.

Segundo a Polícia Federal, 42 mil imigrantes venezuelanos entraram em 2017 por via terrestre em Roraima e não saíram. Isso equivale a 10% da população do Estado, de 400 mil moradores. Depois do anúncio da assinatura de uma medida provisória decretando uma espécie de “estado de emergência social” na região, os ministros da Defesa, Raul Jungmann, do Gabinete de Segurança Constitucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, e da Justiça, Torquato Jardim, detalharam algumas das medidas.

No que se refere ao Ministério da Justiça, 32 homens da Força Nacional que estão em Manaus serão deslocados para Roraima e oito caminhonetes, assim como motocicletas, serão levadas para ajudar no patrulhamento. Um hospital de campanha será montado em Pacaraima, cidade fronteiriça. [alguém deve estar de brincadeira, talvez montando um circo, ao pretender instituir um sistema de triagem com tamanho efetivo.]

Novos centros de triagem devem ser instalados na região. O ministro da Justiça falou em R$ 700 mil iniciais para a instalação das unidades e anunciou nova reunião em 14 de março, para tratar especificamente da população indígena. Ele reiterou que após o carnaval um censo entre os venezuelanos definirá quais serão enviados para São Paulo, Paraná, Amazonas e Mato Grosso do Sul. Jungmann ressaltou a necessidade de distribuição dos imigrantes pelo País, salientando que “este é um problema nacional, que se dá pelo norte do País por uma questão de fronteiras”. [cabe as autoridades constituídas do Brasil defender antes de tudo os interesses, e necessidades, dos brasileiros.
Esta distribuição de venezuelanos pelo Brasil - sem condições de trabalho, sem emprego, sem especialização - é o que se chama espalhar a miséria.
O impacto que Temer fala no parágrafo adiante terá como responsável unicamente a política de espalhar emigrantes, nascida da cabeça de seu competente ministro da Defesa.]

Temer, que não chegou a passar pelas ruas e praças de Boa Vista tomadas pelos imigrantes, listou o fluxo de refugiados para o Estado como um problema grave, que pode ter impacto em outras partes do País. “Todos os recursos necessários serão usados para solucionar a questão”, prometeu, indicando que pretende resolver a questão este ano. De acordo com o presidente, a governadora de Roraima, Suely Campos, mencionou que cidadãos do país vizinho estariam “tirando emprego de roraimenses”. “Temos milhares de venezuelanos em Roraima que demandam remédios e alimentação e não podemos e nem queremos fechar as fronteiras”, afirmou Temer. O presidente anunciou revalidação de diplomas para professores e médicos venezuelanos, como forma de aumentar a participação deles na assistência. Canadá, Estados Unidos e União Europeia já ofereceram ajuda para controlar o fluxo desordenado.

A governadora de Roraima entregou um documento com 11 sugestões, entre as quais está a atuação do Exército no policiamento ostensivo em Pacaraima. Ela afirmou que o crime organizado aproveita a vulnerabilidade dos venezuelanos para fazê-los transportar drogas e armas para o Brasil. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Dos bicheiros ao PCC, onde está o Estado?

Determinar o uso das Forças Armadas para fazer varreduras em presídios com certeza tem força retórica midiática e pode até, em momentos de convulsão como os que vivemos, trazer algum resultado prático. No entanto, imaginar essa medida como parte de um plano nacional de segurança beira a infantilidade. A melhor forma de as Forças Armadas contribuírem para o enfrentamento do crime organizado que domina as penitenciárias brasileiras está exatamente em uma das razões maiores de sua existência: a vigilância de nossas fronteiras. É sabido por gregos e troianos que o tráfico internacional de drogas e de armas é a principal fonte de energia dessas facções criminosas. Também é de conhecimento público o fato de que uma organização criminosa só é derrotada ou perde consideravelmente sua força na medida em que é atacada em sua base financeira. 



Ou seja, não é preciso nenhuma mudança jurídica ou decreto especial para que Exército, Marinha e Aeronáutica possam ajudar efetivamente na luta contra as facções reinantes em nossos presídios. Se cumprirem o dever constitucional de zelarem pelas fronteiras, nossas Forças Armadas certamente terão um papel muito mais efetivo na guerra contra o crime organizado. Drogas, armas e contrabando de toda a espécie encontram em nossas fronteiras um terreno fértil para uma movimentação muitas vezes descarada.

Uma política de segurança vai muito além da forma como usar as Forças Armadas ou as polícias. Os fatos que insistem em desfilar pela nossa frente desde a virada do ano indicam que a simples construção de muralhas ou o aumento no efetivo do pelotão responsável por vigiar essas muralhas não conseguem manter a paz nem aos que se encontram do lado de dentro e nem aqueles que estão do lado de fora dos presídios. 

O poder exercido pelas facções criminosas está dentro e fora das penitenciárias. A história ensina que o crime só se organiza onde há carência de Estado. Há alguns anos, o exemplo mais notório que tínhamos de crime organizado no Brasil eram os bicheiros. Com a ausência do Estado nas comunidades mais carentes, os contraventores ofereciam saúde, educação, transporte, esporte. Distribuíam propinas, financiavam o Carnaval e campanhas políticas de diferentes partidos. Conquistaram respeito das comunidades e muitos eram tratados como celebridades.

O jogo do bicho perdeu espaço para as loterias oficiais e parte da estrutura montada pelos bicheiros caiu nas mãos do tráfico. Hoje, os associados e simpatizantes do PCC ou outros grupos recebem mais dos criminosos do que do Estado. E uma efetiva política de segurança só dará certo se for capaz de fazer o Estado reocupar o seu espaço, com saúde, educação, lazer, esportes etc. O problema, como se percebe, é muito mais do que um caso de polícia. Um plano nacional de segurança envolve necessariamente diversos setores do Estado e não apenas do Executivo. Não pode se resumir a dotações orçamentárias, a distribuição de forças especiais e a construção de novos presídios. Assim, será como enxugar gelo. E essa não é uma questão de ideologia ou de direitos humanos. É uma questão de civilidade e de um pouquinho de inteligência.

Fonte: Editorial - Mario Simas Filho -  diretor de redação da revista ISTOÉ

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Comandante Michel, cadê a Ágata e a Sentinela?

Do ponto de vista da comunicação, sobretudo se considerarmos que um governo impopular tem pouco a perder, a decisão de empregar as Forças Armadas na fiscalização dos presídios pode ser uma boa jogada de curto prazo. [lembrem-se que Helena Chagas foi fiel escudeira do governo lulopetista e a matéria deixa transparecer seu imenso ressentimento contra todos que se opuseram, e venceram, a corja maldita do PT.] 
 
É uma reação de impacto, que passa a ideia de ação, força, autoridade, num contexto em que o governo parecia mais perdido do que cego em tiroteio - como bem disse meu amigo Jorge Bastos Moreno - e a população assistia, estarrecida, a escalada de rebeliões, decapitações e demonstrações de poder do crime organizado.  Em vez de continuar jogando a batata quente no colo dos estados (como se a população ficasse satisfeita em ouvir mais uma vez que a missão constitucional de administrar a segurança é deles), e a culpa pela crise nos governos do PT (como se não tivesse feito parte deles), Michel Temer tomou uma atitude. Palmas para ele.
        
É grande o risco, porém, de o feitiço voltar-se contra o feiticeiro no médio e no longo prazos. Até porque se, como diz o governo, os militares se restringirem mesmo a fazer varreduras nas penitenciárias, num trabalho eventual e pontual, sem contato com os presos, poderá ser bastante limitado o resultado dessa medida. Traduzindo: não vai resolver o problema. [pelo horário que a matéria foi escrita se constata que a autora não contava que Temer pode ser 'marcha lenta' mas tem sorte: os bandidos ao promoverem o CAOS nas ruas de Natal desafiaram as Forças Armadas o que levou Temer a tomar a acertada decisão de transformar a aviltante função que havia sido imposta aos militares - auxiliares de agentes penitenciários - na importante missão de mostrar aos bandidos quem manda e o preço que deve ser cobrado de quem afrontar as FF AA.]
       
Essa é a opinião de diversos especialistas no tema, alguns deles contrários à quebra do tabu de se botar os militares a cuidar de questões da ordem interna.  Outros acham insuficiente a medida, anunciada com estardalhaço incompatível com seus efeitos potenciais. Aliás, talvez tenha sido essa percepção que levou Temer a dar entrevista na tarde desta quarta para esclarecer que a convocação das Forças Armadas para combater a crise penitenciária é apenas uma das medidas de um conjunto, "o fio de um novelo". Ou um esparadrapo para curar ferimento de bala, como apontam outros?
        
Talvez o presidente tenha percebido que não é bom exagerar nas expectativas se a atuação dos militares irá se circunscrever mesmo às varreduras. No imaginário popular, pode ter ficado aquela primeira ideia de que as Forças Armadas vão lá combater os bandidos em rebelião e resolver as coisas. Quando isso não acontecer, a decepção será grande - e voltada sobretudo contra o autor da medida, que todo mundo sabe quem é.
         
Por outro lado, são grandes os riscos de se colocar soldados do exército, despreparados para o trabalho de polícia, dentro de presídios controlados pelo crime organizado. Não foram treinados para isso, e pode sair muita confusão. Aliás, uma confusão que não é nova. Já vimos esse filme quando as forças armadas ajudaram no trabalho de pacificação das UPPs no Rio. O maior receio era a falta de treinamento dos militares, preparados para a guerra mas não para a bandidagem. [o fato do treinamento dos militares ser para a guerra será a principal diferença no abate dos bandidos em Natal e, se necessário, em outras cidades brasileiras.]  Num primeiro momento, deu tudo certo, mas as coisas degringolaram. E o filme das UPPs acabou sem final feliz.
        
Mais complicado ainda seria o cenário de o governo botar de fato o Exército, a Marinha e a Aeronáutica dentro dos presídios, com a missão de manter a ordem, e as coisas funcionarem, seja lá de que jeito for. As Forças Armadas, que já hoje estão entre as instituições com maior aprovação por parte da população, poderiam acabar se encaixando naquele papel do herói salvador que o país desencantado com a corrupção e os políticos tanto procura. Um perigo...
         
São remotas as chances de a crise penitenciária - que, obviamente, não é só penitenciária - ser resolvida com o que foi anunciado até agora. Pode, no máximo, ajudar o presidente a atravessar os dois anos de mandato que tem pela frente sem ser decapitado. nMas todo mundo sabe que o cerco ao crime organizado exige estratégia bem mais complexa e só será eficaz com medidas de inteligência e investigação competentes para acabar com os esquemas, inclusive financeiros, que sobrevivem e continuam a ser administrados mesmo com seus líderes na cadeia. Com a presença do Estado para coibir o tráfico e o recrutamento dos jovens que, sem alternativa, passam a trabalhar nessa indústria. Com a dura punição à corrupção dos agentes do Estado que ganham com a manutenção desse esquema. Com a implantação de programas sociais e de educação nas áreas de risco.
         
A crise penitenciária não vai se resolver também enquanto não houver um sistema eficiente de vigilância nos mais de 17.000 km de nossa imensa fronteira para bloquear as rotas do tráfico em território nacional. Não é fácil, e nem barato, e já foi tentado outras vezes. No governo Dilma Rousseff, por exemplo, foram implantadas, com a união das Forças Armadas, das polícias federal, rodoviária e estaduais, e dos Ministérios da Defesa e da Justiça, as Operações Ágata e Sentinela para vigiar as fronteiras brasileiras. Por delegação presidencial, quem coordenava e comandava esse programa - cadê ele? - era o então vice-presidente da República, Michel Temer.


Fonte: Helena Chagas - Blog do Noblat - O Globo

 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Vigilância das fronteiras está entre as atribuições das Forças Armadas

 Forças Armadas têm que combater facções nas fronteiras


As Forças Armadas têm um papel a cumprir no combate aos grupos criminosos. As facções viraram um problema de segurança nacional. Mas, ao invés de atuar nas cadeias, seria melhor focar nas funções tradicionais das forças militares. Vigiar as fronteiras traria um efeito maior.

As facções estão lutando pelas fronteiras do país com o Peru, Bolívia, Paraguai e Colômbia. Elas brigam pelo controle do tráfico internacional de drogas e armas. As Forças Armadas foram treinadas para vigiar as fronteiras. A atuação delas tende a ser mais eficaz nessa missão clássica.

Esse não é o único treinamento que os militares têm. Há batalhões especializados em outros tipos de conflitos, como a Garantia da Lei e da Ordem, para atuação urbana. Mas nesse caso o inimigo do estado tem atuação forte nos limites do país com os vizinhos.  Todas as instituições têm um papel a cumprir nessa luta. Os grupos criminosos estão disputando os controles das fronteiras em busca das lucrativas rotas de armas e drogas. Combatê-los ali usando as Forças Armadas vai atingir a raiz dessas facções.   

Fonte: Míriam Leitão - O Globo 

domingo, 6 de setembro de 2015

Guerrilha controla o norte do Paraguai

Conheça a perigosa guerrilha que controla o norte do Paraguai

O Exército do Povo Paraguaio (EPP) já matou mais de 20 pessoas nos últimos dois anos e alguns se perguntam se o governo de Assunção está realmente tentando combatê-lo

No coração da América do Sul, um grupo terrorista relativamente novo no universo das lutas armadas está tomando o espaço das autoridades locais e provocando rumores de que o próprio governo age como cúmplice do grupo. O Exército do Povo Paraguaio (EPP) foi formalmente fundado em 2008, mas o movimento rebelde por trás da guerrilha marca presença no norte do Paraguai por quase 20 anos.
Guerrilha Exército do Povo Paraguaio(Reprodução/Twitter)

Habilidosos com explosivos e equipados com armas automáticas, os rebeldes do EPP são regularmente ligados a grupos armados estrangeiros, como por exemplo, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Sua ideologia é uma mistura das doutrinas marxista, leninista e guevarista, com uma característica local muito particular: o grupo reverencia o ditador que controlou o país após sua independência, José Gaspar Rodríguez de Francia. O político selou as fronteiras do Paraguai ao comércio exterior para impulsionar o desenvolvimento interno e executou e encarcerou centenas de seus oponentes.

O EPP se financia por meio da cobrança das chamadas "taxas revolucionárias" de donos de propriedades agrícolas locais, contou um fazendeiro da cidade de Horqueta - um dos locais de mais força do grupo - ao jornal britânico The Guardian. "Eles afirmam ser como Robin Hood, roubando dos ricos para dar aos pobres, mas nós somos pessoas que trabalham duro também", contou o homem que pediu para ser mantido em anonimato após ter sido advertido pelas guerrilhas para não falar com a imprensa.

Mesmo com o envio de milhares de soldados e tendo declarado estado de emergência na região, o governo paraguaio parece não conseguir conter o grupo, que opera em algumas centenas de quilômetros quadrados de extensas florestas e propriedades agrícolas que só crescem. Ao todo, o EPP e seus fundadores já mataram mais de 50 pessoas - 25 só nos últimos dois anos - das quais 30 eram civis e 21 policiais ou militares. Em março, assassinaram três fazendeiros paraguaios desarmados, e espalharam panfletos proibindo o cultivo de "soja, milho, ou qualquer outro produto que exija pesticidas" pela propriedade.

Governo omisso - Contudo, a manutenção da força do grupo tem provocado dúvidas sobre o real interesse do estado em combater o EPP, e sobre os benefícios em não acabar com a organização. A ideia de que a guerrilha é um inimigo conveniente e controlável do governo é defendida por Cristóbal Olazar, antigo secretário geral do Movimento Pátria Livre, cujo braço armado se dividiu para formar o EPP, e que agora é informante da polícia. "A corrupção é muito forte entre as organizações de segurança, e não é vantajoso para eles acabar com este grupo, porque isso também acabaria com o seu apoio econômico", afirmou ao Guardian.

Ele alega também que a polícia e a Força-Tarefa Conjunta (FTC) - a força organizada pelo presidente Horacio Cartes para combater os terroristas - são cúmplices no esquema de tráfico de drogas que acredita ser organizado pelo EPP. No final de junho, a Câmera dos Deputados criou uma comissão para investigar as acusações de corrupção na FTC. O clientelismo, cultivado por décadas de regime de partido único e que resultou em funcionários corruptos, que desviam grandes quantidades de dinheiro público, também desmotiva a população a denunciar as ações do grupo terroristas - que fica cada vez mais perigoso.

Fonte: Revista VEJA