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segunda-feira, 29 de março de 2021

A perseguição à Lava Jato conduz o Brasil a superar a Grécia “sofista” do século V a.C. - Sérgio Alves de Oliveira

Quem observar de perto o lamentável processo da decadência que abalou nos últimos anos os alicerces políticos, econômicos e sociais da Grécia, deveria também saber que essa sua trajetória tão “baixa” na marchada civilização ,nem sempre foi assim. Nos seus áureos tempos,os helênicos forneceram ao mundo alguns dos seus maiores pensadores, principalmente filósofos, que tiveram decisiva influência nas boas conquistas da humanidade. De fato,o Século V a.C, em particular, se constitui no período mais brilhante da civilização helênica. As guerras vitoriosas contra os persas,as riquezas e terras conquistadas,o intenso comércio,e o desenvolvimento das artes e das ciências,fizeram a Grécia atingir a plenitude da sua civilização.

Mas esse apogeu material e econômico provocou, especialmente em virtude de uma riqueza mal distribuída, a corrupção dos costumes,da política, da “Justiça”, das tradições religiosas e morais, bem como o surgimentos de muitos“ oportunistas”, tipos daqueles “caras” que, em grande quantidade, a partir de 1985, no Brasil, se adonaram dos cargos políticos eletivos, governamentais e legislativos e também judiciários nos tribunais,estes nomeados pelos respectivos governantes ,tudo “carimbado” pelo Poder Legislativo. O péssimo ambiente social, político e econômico, reinante na Grécia dessa época foi a principal causa do surgimento dos SOFISTAS, cuja postura cética e relativista conquistou as inteligências mais frágeis, diante do descrédito que as escolas de filosofia pré-socráticas haviam contaminado a filosofia.

Os sofistas, antigos professores de música, passaram a “ensinar ” filosofia para o povo . Eram homens venais,sem escrúpulos e convicções, sedentos de riquezas, poder e glória ,”trabalhando” justamente numa época de crise do pensamento grego. Ensinavam a juventude ateniense, atraída pelos encantos da eloquência,a arte de defender os “prós” e os “contras” de todas as questões,o segredo de tirar partido de qualquer situação. 
Serviam-se das armas da razão para destruir a própria razão,e sobre as ruínas da verdade,erigir o próprio interesse em norma suprema de ação. Os maiores expoentes sofistas foram Protágoras (481 a.C-411 a.C),que deixou imortalizada a frase, “o homem é a medida de todas as coisas,das coisas que são,enquanto são,e das coisas que não são,enquanto não são” (até parece frase de Dilma), e Górgias, o “niilista”, que escreveu ”Do não ser”.

Essas estratégias e táticas sofistas, especialmente do uso abusivo da “dialética”, foram desenvolvias bem mais tarde com maestria por Hegel e Karl Marx, no que chamaram de “estratégia das tesouras”, pela qual a esquerda passaria a mandar no mundo onde houvesse alguma “democracia” e “eleições”, sempre indicando dois candidatos fortes de esquerda, um “explícito”, ”radical”, outro “disfarçado”, ”moderado”, polarizando entre eles a eleição.

E a esquerda brasileira não perdeu tempo. Adotou à plenitude a “estratégia das tesouras” no chamado “Pacto de Princeton”, assinado por Lula, representando o então “Foro San Pablo”, e FHC,pelo “Diálogo Interamericano”, nos Estados Unidos, em 1993. A partir daí, FHC e Lula foram eleitos e se alternaram no poder durante alguns anos. Não há como questionar, portanto, o “parentesco” próximo entre a escola sofista e o socialismo/comunismo.

Mas o vírus sofista não se limitou a contaminar a juventude da Grécia Antiga, e o socialismo/comunismo,a partir do “Manifesto Comunista”” (1848), de Karl Marx. Foi bem mais longe.  Influenciou forte também o “nacional-socialismo”, o NAZISMO, de Adolf Hitler, a partir da sua “Mein Kampf” (Minha Luta), de 1925, escrito na sua juventude enquanto estava preso,cuja “dialética” se resumia em repetir uma mentira tantas vezes quantas necessárias, até ser aceita como verdade, estratégia desenvolvida com maestria pelo Ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels.

Sócrates (469 a.C-399 a.C) veio ao mundo com a principal missão de combater e destronar os sofistas, buscando livrar a juventude ateniense dessa perniciosa influência. Notabilizou-se pela firmeza de caráter, nobreza de coração e grande inteligência. Combateu e pulverizou a “dialética” (“estratégia das tesouras”), desenhada por Hegel e Marx,e usada por FHC /Lula, no tal (“Pacto de Princeton”), vazia,superficial e interesseira dos sofistas,impugnando os deuses humanizados da mitologia homérica.

Devido ao “aparelhamento” sofista do Estado e das leis gregas, onde o mais grave dos crimes era falar a verdade, mais que matar,estuprar e roubar, Sócrates foi acusado pelos seus inimigos sofistas de corromper a mocidade,pelas verdades que ensinava,e por isso condenado à morte e executado bebendo o veneno “cicuta”. ”Conhece-te a ti mesmo”, para o Filósofo,seria a introdução a todo o conhecimento. Frente a um adversário, fazia-lhe uma série de perguntas até forçá-lo a cair em contradição e reconhecer a sua ignorância.

Foi grande a influência filosófica e pedagógica de Sócrates. Seus discípulos prosseguiram e aperfeiçoaram a sua obra,dentre os quais Antístenes, Aristipo,Euclides, Platão e Xenofonte. É claro que não vai ser preciso falar ou escrever sobre todas as “coisas” absurdas que se passam no Brasil de hoje para fazer-se uma analogia de quase absoluta “identidade” com o que acontecia “ontem” na Grécia sofista.

A total inversão dos valores preconizada pelos “canalhas” sofistas da Grécia Antiga repete-se com extrema fidelidade na arena política e judicial brasileira de hoje. Tanto quanto na Grécia sofista, no Brasil as últimas instâncias dos Poderes Legislativo e Judiciário federais, contaminando” de cima para baixo todos os demais poderes públicos hierarquicamente inferiores, estão sob direção deles, dos novos sofistas, dos sofistas/comunistas brasileiros, que provocaram uma espécie de “renascimento” nocivo da Escola Sofista da Antiga Grécia.

Tanto quanto os canalhas da Grécia sofista perseguiram e mataram Sócrates, por ele não abdicar da verdade, aqui e agora os novos sofistas/esquerdistas “tupiniquins”, responsáveis diretos pelo “renascimento” sofista, ”travestido” de socialismo/comunismo, absurdamente passaram a perseguir sem qualquer limite alguns juízes de direito e desembargadores federais, promotores de justiça e procuradores, diretamente envolvidos na chamada “Operação Lava Jato”, que se dedicaram de corpo e alma a acabar com uma corrupção sistêmica que teria desviado dos cofres públicos a quantia estimada em 10 trilhões de reais,enquanto o Brasil foi comandado pela esquerda,especialmente depois de FHC,de 1995 em diante,e mais ostensivamente durante a “Era PT”,de 2003 a 2016.  
E está sendo justamente esse “aparelhamento” que a esquerda deixou no Brasil, inclusive nos tribunais, ”capitaneado”,em última instância, pelo próprio Supremo Tribunal Federal, com maioria nomeada pela esquerda, transformado agora em “capitão-do-mato” da “vingança” da esquerda contra as condenações de muitos dos seus componentes,o grande responsável por essa surpreendente “virada” ,que está surpreendendo e deixando o mundo perplexo, com total cobertura e apoio de uma grande mídia “venal”,comprada com parte dos 10 trilhões de reais roubados.

Termino o meu artigo recomendando a indispensável irretocável leitura do texto hoje publicado “STF funciona como um escritório de advocacia para ladrões milionários”, de autoria do jornalista J.R.Guzzo.   Aí dá para se compreender como pode um famoso advogado , “soltador” de corruptos, junto ao Supremo, adentrar nesse tribunal e nos gabinetes dos seus Ministros, vestido a “rigor”, de “bermudas”, deixando-se fotografar, com muito orgulho na expressão facial, num verdadeiro acinte contra a Justiça brasileira (verdadeira).

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo

 

Gilmar não enganaria Tom Jobim - Revista Oeste

Augusto Nunes 

O especialista em olhares não compraria um carro usado do Juiz dos Juízes

Paulo Francis dizia que o grande ator não é gente. “É outra coisa, muito acima de gente comum”, garantia. E apresentava a prova definitiva. “Por exemplo: nem o mais infeliz viúvo do mundo vai chorar como Marlon Brando no túmulo da mulher, na cena de O Último Tango em Paris. E ele só foi viúvo no cinema”. Se ainda estivesse por aqui, creio que encamparia a complementação da tese que esbocei faz tempo: o grande canastrão também não é gente. É outra coisa, muito abaixo de gente comum. 

Interpretando o papel do Juiz dos Juízes na versão data venia da Ópera dos Malandros, encenada na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes provou que nem o mais desqualificado juiz de futebol conseguiria superar em canastrice vigarista o ministro que faz o que pode — e, com frequência crescente, o que não deve — para elevar o cinismo a uma forma de arte.

O Maritaca de Diamantino festejou nesta semana o parto de outro Dia da Infâmia, em gestação desde que o ministro Edson Fachin resolveu anular as condenações impostas a Lula nos processos que nasceram e cresceram em Curitiba. O lugar certo era Brasília, mudou de ideia o relator dos casos da Lava Jato, depois de cinco anos afirmando o contrário. Fachin ressalvou que a decisão não transforma Lula em inocente. Continua culpado, mas nada deve à Justiça e os processos terão de recomeçar do zero. A ficha não está limpa, mas o dono do gordo prontuário está liberado para disputar até a Presidência da República. 

Animadíssimo com a absolvição do bandido, Gilmar tentou já no dia seguinte punir o mocinho. 
Era só fazer de conta que Sergio Moro ainda usava fraldas quando descobriu que viraria ministro de Estado se prendesse um ex-presidente da República. 
Por isso, o juiz não foi imparcial ao julgar o mundaréu de bandalheiras envolvendo um tríplex no Guarujá. Por isso, bastava oficializar a suspeição de Moro, sepultar a maracutaia e apressar o velório da Lava Jato.
A cada cinco anos, Gilmar esquece o que disse nos cinco anteriores. Em 19 de agosto de 2015, por exemplo, parecia enxergar as coisas como as coisas eram. “O que se instalou no país nos últimos anos e está sendo revelado na Lava Jato é um modelo de governança corrupta, algo que merece um nome claro: cleptocracia”, constatou. (Cleptocracia, aliás, não é um nome claro para muitos brasileiros. Sua Excelência poderia ter substituído o palavrão pelo seu significado: um lugar governado por ladrões.) “A Lava Jato estragou tudo”, prosseguiu. “O plano era perfeito, mas esqueceram de combinar com os russos.” Agora, “a operação que salvou a Petrobras” tornou-se “o maior escândalo judicial da nossa história”
E Gilmar age como inimigo juramentado do juiz que liderou a mais destemida e produtiva operação anticorrupção da História. 
(Tente entender: Gilmar, desafeto de Moro, considerou-se insuspeito para participar do julgamento do juiz da Lava Jato. 
E Moro foi colocado sob suspeição porque seria inimigo de Lula e, portanto, incapaz de portar-se imparcialmente. Difícil entender? 
Não se incomode. Se alguém entendeu, não contou a mais ninguém — talvez para não receber à meia-noite um mandado de prisão em flagrante assinado com um X por Alexandre de Moraes.)
Um pedido de vista do ministro Nunes Marques adiou por uma semana o final infeliz do faroeste à brasileira que teve Gilmar como produtor, diretor, roteirista e astro do elenco de canastrões. 
Irritado com o voto favorável a Moro, assustou Nunes Marques sublinhando com um medonho sobe e desce do beiço o palavrório amalucado: o bom ladrão se salvou, mas não há salvação para um juiz covarde. (O Brasil que presta acha que o ladrão é Lula, e nada tem de bom. Acha também que covardes são juízes que agem como padroeiros de bandidos.) 
Como sempre acontece com atores de picadeiro, as lágrimas continuaram longe dos olhos quando o orador tentou chorar em homenagem ao advogado Cristiano Zanin, pelo esforço que fez para resgatar da cadeia um corrupto duas vezes condenado em segunda instância. Não é pouca coisa. Mas não é tudo. Gilmar também fingiu ignorar que a vitória da obscenidade estava assegurada. Faz muito tempo que convenceu Carmen Lúcia a piorar a biografia para reduzir-se a Carmendes. Haja cinismo.
Comecei com Paulo Francis, termino com Tom Jobim. Numa noite no Rio, minutos antes do início da entrevista para um programa de TV, ouvi a pergunta inesperada. “Você sabia que sou especialista em olhares?”. Não, não sabia. Tom foi em frente: “É muito útil. Os olhos escancaram a alma e o caráter, descubro como a pessoa é em um segundo. Tem o olhar honesto, o esquivo, o sincero, o dissimulado, o arrogante, o confiante, o medroso, o perverso, e por aí vai. Um grande ator consegue mudar o modo de andar, o penteado, o figurino. Pode engordar ou emagrecer, pode usar maquiagem para ficar mais jovem ou mais velho, pode mudar quase tudo. Menos o olhar. Ninguém me engana. Nem o Marlon Brando”. Marlon Brando, de novo. Nesta semana, lembrei-me dessas conversas e lamentei de novo a partida da grande dupla. 
O que Francis estaria escrevendo sobre Gilmar Mendes? 
E como Tom Jobim definiria o olhar do gerentão do Supremo?
Eis aí uma mirada que conheço bem. Já vi esse olhar inconfundível nas brigas no portão do grupo escolar e do colégio, nos tensos barulhos de 1968, nos tumultos que encerraram antes da hora o jogo de futebol na várzea, a bordo do avião forçado ao pouso de emergência, num país assombrado pelo fantasma da guerra civil, em dois arranha-céus lambidos pelo fogo — enfim, já vi esse olhar em rostos alheios confrontados com perigos reais e imediatos. 
É o mesmo exibido por Gilmar Mendes nos vídeos que o mostram em alguma rua de Portugal, tentando afastar-se de dois ou três brasileiros indignados com o que fez, faz e pretende fazer depois de cobrir-se com a toga negra, fantasia que o transforma em Gilmar, o Supremo. 
É o olhar de quem esbanja valentia em duelos retóricos e bate-bocas em sessões do tribunal, mas sabe desde a infância que será sitiado pelo pânico quando a situação exigir a coragem física que sempre lhe faltou. Sublinhado pela palidez e pelo sorriso bestificado do pugilista no momento do nocaute, o olhar do ministro é o desenhado pelo medo.

Leia também “Gilmar Mendes e os 40 bandidos soltos”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste 


Os suspeitos - Guilherme Fiuza

Vozes - Gazeta do Povo 
 
Por que o Gilmar tá chorando?
– Por causa do advogado do Lula.
– O que ele fez? Bateu no Gilmar?
– Não.
– Jogou areia no olho do Gilmar?
– Não.
– Amarrotou a toga do Gilmar?
– Não. Quer dizer, não sei. Mas não é por isso que ele tá chorando.
– Então é por quê? O advogado do Lula disse que o STF é uma vergonha?
– Não, o advogado do Lula não acha que o STF é uma vergonha.
 
 
O plenário do STF em sessão com apoio de videoconferência. Imagem ilustrativa.| Foto: Nelson Jr./SCO/STF

 - Então o que aconteceu? Ele xingou o Gilmar?
– Não. O Gilmar tá chorando de emoção.
– Ah, tá. É, deve ser emocionante mesmo trabalhar na suprema corte.
– Ele não tá chorando por causa do trabalho dele.
– Não?
– Não. Tá chorando por causa do trabalho do advogado do Lula.
– Como assim?
O Gilmar ficou encantado com a atuação do advogado do Lula. Começou a fazer elogios a ele e caiu no choro.
– Caramba. E filmaram isso sem ele ver?
– Não, foi em público mesmo.
– Em público?!
– É.

– Ele tava dando uma palestra?
Não. Ele tava numa sessão do STF.
– O que?! O Gilmar elogiou o advogado do Lula no meio de uma sessão do STF??
– Sim. No meio de uma sessão do STF que deliberava sobre um processo de interesse da defesa do Lula.
– E ele chorou de emoção enaltecendo o advogado do réu?
– Do réu condenado.
Você acha isso normal?
– Acho.
– Por quê?
– Porque realmente o advogado do Lula conseguiu um milagre. E diante de um milagre é difícil segurar a emoção.

– Que milagre?
O cliente dele roubou um país inteiro e está em vias de ser inocentado.
– É. Milagre mesmo. Já sabem qual foi o santo?
– Lula.
– Não, perguntei de quem foi o milagre pra santificar o Lula.
Parece que foi um milagre coletivo.
– Autores desconhecidos?
– Não. Bem conhecidos.
Você pode citar algum?
– Claro. Gilmar.

– Hein? O Gilmar está comovido com o milagre que ele mesmo fez?
– Qual é o problema? Ele fez o milagre, gostou, se emocionou e chorou. É um direito dele. Afinal de contas é um ser humano.

– Verdade. Bem lembrado.
– Inclusive ele já tinha chorado antes com o cara do MST.
– Milagre também?
– Não. Era uma live em defesa da democracia.

– Não deixa de ser um milagre se juntar com um cara violento em nome da democracia e ainda conseguir chorar.
– Chorar não é tão difícil assim.
– Quando fiz teatro amador eu nunca conseguia.
Mas quem tá falando de amador?
– Verdade. Ali só tem profissional.


– Claro. Ninguém ganha uma toga e uma varinha de condão se não souber chorar.
– Sem dúvida. Mas não é um pouco suspeito um juiz chorar elogiando o advogado do ladrão?
Não. Suspeito é o juiz que condenou o ladrão.
 
Guilherme Fiuza, jornalista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

As mudanças nas negociações trabalhistas - O Estado de S. Paulo

A pandemia está deixando uma marca que levará tempo para ser superada: a perda de renda real de parte da população

A pandemia acentuou algumas tendências nas negociações trabalhistas observadas desde a reforma de 2017, criou outras e estimulou o entendimento entre empregados e empregadores a respeito de questões que nem sempre estiveram entre suas preocupações. Do ponto de vista econômico e social, além de impor dificuldades para todos – empresários, empregados e os que perderam ou não conseguiram ocupação remunerada –, a pandemia está deixando uma marca que levará tempo para ser superada: a perda de renda real de parte da população.

Estas são algumas conclusões a que conduz a pesquisa Salariômetro, iniciativa da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (Fipe) da Universidade de São Paulo (USP) para fornecer informações e análises sobre o mercado de trabalho brasileiro. Para isso, a Fipe coleta dados disponíveis no Ministério da Economia sobre negociações coletivas (acordos e convenções).

Em fevereiro, três quartos, ou exatamente 74,7%, das negociações coletivas (acordos coletivos, entre empresa ou grupo de empresas e seus empregados, e convenções, entre categorias econômicas e profissionais) resultaram em reajustes salariais inferiores à inflação. Apenas 17,1% dessas negociações previram aumento real dos salários (o restante teve reajuste igual à inflação). Nos últimos 12 meses, período que inclui a chegada da covid-19 e sua expansão pelo País, 39% das negociações asseguraram reajustes superiores à inflação, o que sugere maior dificuldade nos últimos meses para os trabalhadores alcançarem ganhos reais.

O que a pesquisa também mostra é que, a despeito das dificuldades que a crise provocada pela pandemia impõe para os dois lados, há mais disposição para a busca de entendimentos. Nos dois primeiros meses do ano, houve 1.492 negociações, mais do que o número observado no mesmo período em 2018 (1.070), 2019 (1.161) e 2020 (1.116) e próximo do registrado em 2017 (1.632), ano em que passaram a vigorar as novas regras para o mercado de trabalho.

Negociações com prazo de vigência superior a um ano cresceram nos anos seguintes ao da reforma, mas haviam caído bruscamente em 2020, por causa das incertezas diante da extensão e duração da crise. Em 2021 voltaram a subir. Temas ligados ao trabalho remoto passaram a ser mais discutidos nas negociações.

Opinião - O Estado de S. Paulo

 

UM DIA A CASA CAI - Percival Puggina

Poderosa e voluntariosa corte constitucional. Leniente tribunal penal para réus com privilégio de foro. Topo da infinita escada recursal do Poder Judiciário.  
Usurpador confesso da inexistente função de poder moderador da República. Assim é a Corte. Com tais mantos se engalanam os 11 ministros do Supremo Tribunal Federal brasileiro. 
Pela conduta militante, ele e imprensa também militante são os dois agentes políticos mais ativos do país. 
Congresso Nacional? Vem bem depois, com seus negócios. Presidência da República? É o mais despojado dos poderes de Estado.
 
Pelo que tem realizado nos últimos anos, a atual composição do STF é a maior tragédia legada pelo aparelhamento esquerdista do setor público nacional. 
É um caos silencioso.  
A parceria solidária da imprensa emudece e canibaliza o espírito crítico com que poderia contribuir, em ambiente de pluralismo e liberdade, para retificar os rumos do país. Sim, houve um tempo em que a imprensa fazia isso. 
Toda opinião, toda crítica estão focadas, hoje, na pessoa do presidente. Legisle o Congresso em causa própria, dificulte ainda mais o combate à criminalidade, opere em favor da impunidade, faça o STF o absurdo o que fizer, tais escândalos, se mencionados, ganham edição estéril, viram informação placebo. Você pensa que foi informado, mas não foi.

E o cidadão? Ora, o cidadão! Dele se exige ficar em casa sendo doutrinado pelo incansável realejo das TVs. Se alguém arriscar opinião divergente nas redes sociais, ensaiadas injúrias desabam sobre o infeliz, a quem chamam “gado”.A nação vive um silêncio imposto pelo medo. Medo, sim. Há o medo da covid-19, claro. Mas há, também, o medo da Justiça, que é do “fim do mundo”, mas não é divina. São temores que escravizam.

Quem impõe censura, cria seu assustado filhote, a autocensura.

A palavra “gado” define a situação de curral a que estamos submetidos. Fecharam-se as porteiras das alternativas e a farra da Casa Grande nos escraviza enquanto escarnece de nossas opiniões. 
É surpreendente que exijam respeito. Não é respeitável o que fazem! 
Respeitem para serem respeitados. 
Respeitem os mandatos que lhes foram concedidos, senhores congressistas. 
Respeitem a vontade expressa nos votos e o resultado das urnas, senhores ministros do STF. 
Respeitem o pequeno detalhe que ainda chamamos de Constituição.

A Lava Jato, que cometeu o crime de levar à condenação nossos Adãos de paraísos fiscais, recebeu atestado de óbito numa sessão virtual da 2ª turma. E viva a gandaia!

O Brasil tem uma história anterior a esse colegiado, dispensa suas lições e, mais ainda, sua visão de mundo
O farol com que os 11 pretendem iluminá-lo ensombrece e entristece o futuro. 
Naquelas cadeiras sentaram pessoas muito mais sábias, muito mais cultas, muito mais comprometidas com a nação. Eram respeitáveis. 
Já a atual composição do STF, desnorteada com sua impopularidade e com a animosidade que suscita, busca se impor pelo medo, como fazem os ditadores. 
É impossível que os poderes de Estado, em seus escancarados anseios de autoproteção e de proteção recíproca, não percebam o gemido da alma nacional nestes tempos de frustração e temor.

Atentem todos, porém, para o fato de que as circunstâncias podem retardar a resposta da sociedade, que tarda, mas não falha. Senadores e Deputados Federais! Se não pelo país, ao menos por apego aos próprios mandatos, cumpram com seu dever. A situação atual não é sustentável.

Money Pit é uma comédia romântica dos anos 80, com Tom Hanks e Shelley Long. Conta a história de jovem casal que comprou uma casa onde nada funciona. O nome que esse filme recebeu no Brasil vale como advertência: “Um dia a casa cai”.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto, empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais (Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE. Integrante do grupo Pensar+.

 

Política e irracionalidade - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

Pode dar certo um governo que se caracteriza pela falta de atitudes racionais?

O cenário nacional é de tempestade perfeita: descontrole fiscal, baixo crescimento, aumento da inflação, alta dos juros, aproximadamente 14 milhões de desempregados, sem falar nos subocupados, no medo generalizado da covid-19 e de uma cifra de mortes de mais de 300 mil pessoas, em crescimento acelerado. Para coroar o quadro, um presidente descontrolado e irresponsável, que nem ideia tem do abismo em que estamos entrando. E como desgraça pouco é bobagem, a alternativa política que se está desenhando, graças ao Supremo Tribunal, é o retorno de Lula à cena política.[sugerimos aos nossos leitores, que avaliem  o desastre que o Supremo está praticando = a volta do petista - Um desastre maior para consertar um menor? 
Ele será eleito ou nomeado?]
 

 

A dificuldade de compreensão do presidente Bolsonaro reside em que seu comportamento, suas ações e declarações não se orientam pela normalidade, pela racionalidade que julgaríamos comum em atitudes políticas. Ele se pauta pela irracionalidade, pela destruição e pela morte. Sua previsibilidade só se dá se seguirmos esses critérios, e não os da razão, do equacionamento da violência (ataques e agressões), da vida.[quem é mais imprevisível: as decisões do presidente Bolsonaro? 
ou as decisões do Supremo?]  Ele tem uma tendência incontida, diria incontrolável, a seguir comportamentos destruidores, até de acordos por ele mesmo celebrados, ainda que este rompimento lhe seja prejudicial em médio e longo prazos.

Sua estrutura psicológica se organiza em torno de seu núcleo familiar, a saber, seus filhos, que lhe conferem apoio e união, sempre e quando, evidentemente, seja reconhecido como o pai e o mestre. Sua coesão interna na destruição e na morte está baseada na consideração do outro, qualquer que seja, como estranho e, por via de consequência, como um inimigo potencial, seja ele fático ou imaginário. Isso se traduz igualmente pela instabilidade na consideração dos “amigos”, sempre provisórios e transitórios, tratados com desconfiança. Foram vários os seus “amigos” que passaram a ser “inimigos”. Eis o que o faz sempre privilegiar os filhos, por mais que eles possam estar emaranhados em ilícitos ou simples idiotices, que terminam tendo repercussão nacional.

Outra versão de seu comportamento irracional consiste em seu completo desprezo pelo outro, em seu sentido genérico, aplicável não apenas aos de seu círculo político, mas aos brasileiros em geral. Sempre tratou as vítimas da pandemia sem nenhuma compaixão, utilizando a “ironia” como se fosse uma gracinha. Seus impropérios foram múltiplos. As pessoas adoecem, sofrem e morrem sem uma palavra sequer de apoio do representante máximo do País. Até hoje não visitou nenhum hospital, não viu a morte com os próprios olhos, restringiu-se ao seu gozo distante. Um presidente normal mostraria sentimentos morais, exibiria compaixão, emprestaria palavras de apoio e solidariedade.

Logo, ao bem público é reservado uma posição completamente secundária, pois o mais importante consiste na proteção da família e em sua permanência no poder, apostando na eleição e flertando com o desrespeito à ordem institucional. O presidente e sua família agarram-se de todas as maneiras à preservação dos seus interesses e à conservação de sua coesão psicológica. Sua única política conhecida é a do ataque, por mais, reitero, que isso possa ser-lhes prejudicial em longo prazo. A satisfação é tirada do projeto imediato, de pequenas conquistas e do aplauso grotesco de seus apoiadores fanatizados. Não entra em linha de consideração o que é melhor para o País, deixando situação econômica e social se desagregar cada vez mais. O projeto, vendido nas eleições, de uma pauta liberal já está completamente “vendido”, não mais corresponde aos seus interesses familiares. Foi apenas uma encenação eleitoral.

O caso mais escandaloso dessa política da morte é o tratamento dado à pandemia. As cenas são aterradoras. O tratamento precoce proposto, desautorizado em todo o mundo, não defendido por nenhuma comunidade ou instituição científica no planeta, é apresentado aqui como poção mágica. Trata-se de campanha sistemática contra a vacina, traduzida por postergações enormes, apesar de que, agora, por queda abrupta de popularidade ameaçando seu projeto de poder, ela começa a ser revertida. E o é pela impostura, pois a vacina de aplicação preponderante e amplamente majoritária, a Coronavac, é toda ela obra do governador João Doria. Aliás, não faltaram discursos presidenciais contra a “vacina chinesa”. [o Doria, vulgo 'calcinha apertada',alcunha imposta pelo presidente Bolsonaro, não é mais herói, nem no seu partido.
Até o prefeito de São Paulo, seu cúmplice em algumas mancadas, cansou dele.
E ao estilo PSDB o governador gaúcho começa a desmontar  a imagem do ex quase mito paulista da vacina. e  de sua u] Isso para não falar na ausência de leitos em unidades de tratamento intensivo, na falta de oxigênio, em atrasos, erros de envio, e assim por diante, além do boicote aos governadores. Fosse uma política racional, nada disso teria acontecido, só a irracionalidade explica a conduta presidencial e governamental.

De nada adianta agora fazer uma encenação de união nacional, na qual nem os participantes acreditam. Criar um comitê é ao mesmo tempo nada pretender fazer, quando mais não seja pelo fato de seu objetivo ser somente compartilhar a sua irresponsabilidade. Em vez de uma escolha técnica para Ministro da Saúde, optou novamente por uma opção familiar, multiplicando ainda mais os conflitos políticos. Pode dar certo um governo que se caracteriza pela ausência de comportamentos racionais?

Denis Lerrer Rosenfield, professor de filosofia - O Estado de S. Paulo


Navio gigante desencalha no Canal de Suez

Equipes de resgate conseguem desencalhar navio gigante no Canal de Suez

Veículo de 400 metros que bloqueou uma das rotas comerciais mais importantes do mundo por quase uma semana já está se movimentando 

Equipes de resgate conseguiram, enfim, movimentar o navio Ever Given, da empresa Evergreen, seis dias depois de o veículo gigante encalhar no Canal de Suez, no Egito, paralisando uma das rotas comerciais mais importantes do mundo. A notícia foi divulgada inicialmente pela empresa especializada em serviços marítimos Inchcape no Twitter e confirmada por agências internacionais como a Reuters e Bloomberg.

Navio no Canal de Suez KHALED ELFIQI/EPA/EFE

Segundo os relatos iniciais, o navio foi parcialmente movimentado depois que escavadores removeram 27.000 metros cúbicos de areia, penetrando profundamente nas margens do canal, conseguindo liberar a proa encalhada. Algumas horas depois a embarcação foi desencalhada totalmente e agora já se movimenta na direção norte do canal. O acidente, porém, causou o congestionamento de mais de 450 navios ao longo de quase uma semana. O tráfego deve demorar mais alguns dias para se estabilizar.

O presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, celebrou a operação em suas redes sociais. “Hoje, os egípcios conseguiram pôr fim à crise do navio encalhado no Canal de Suez, apesar da grande complexidade técnica do processo”, tuitou. Havia a expectativa de que, caso as escavações não funcionassem, seria necessário aliviar o peso do navio por meio da retirada de alguns de seus 18.300 contêineres, o que implicaria uma nova e complicada operação logística.

O navio de 400 metros de comprimento viajava com destino à Holanda, mas foi redirecionado por uma tempestade inesperada e encalhou em Suez na última terça-feira, 23. De acordo com a Lloyd’s Lists, que presta informações comerciais à comunidade marítima global, o bloqueio gerou um custo de 400 milhões de dólares por hora para o comércio. A empresa fez o cálculo com base no valor dos bens que trafegam diariamente pela região.

 Mundo - VEJA


domingo, 28 de março de 2021

Não se aplica - J.R Guzzo

 O Estado de S. Paulo

Se vale o que está escrito, Cármen Lúcia deveria estar dando alguma satisfação sobre o que fez. Mas ela não precisa

Está escrito na lei brasileira o seguinte: 
“São crimes de responsabilidade dos ministros do Supremo Tribunal Federal: 1. Alterar por qualquer forma, exceto por recurso, decisão ou voto já proferido em sessão do tribunal”. 
O que poderia haver de mais claro que isso? A lei, por sinal, foi aprovada em 1950, quando os deputados e seus redatores ainda sabiam escrever em português. 
Se vale o que está escrito, então, e segundo requer a lógica mais comum, a ministra Cármen Lúcia, que acaba de fazer exatamente o que a lei diz que é crime, deveria estar dando alguma satisfação sobre o que fez; pelo menos isso.  
Mas aí é que está: ela não precisa fazer absolutamente nada. 
No Brasil de hoje, que é o Brasil como o STF quer que ele seja, é mais fácil o simpático camelo da Bíblia passar pelo buraco de uma agulha do que a lei valer alguma coisa quando os ministros supremos não querem que valha. A solução universal, então, é dizer: “Nesse caso a lei não se aplica”. Pronto: tudo resolvido e vida que segue, até a próxima.

A lei obviamente não se aplica à ministra, nem a qualquer dos seus dez colegas, nem sobre qualquer decisão que o STF possa tomar – afinal, entre outros portentos, os ministros tocam há mais de um ano um inquérito policial que não têm nenhum direito de tocar, prendem deputados federais, anulam leis aprovadas legitimamente no Congresso Nacional, decretam o que é proibido fazer, decretam o que é obrigatório que se faça. Se fazem tudo isso, por que iriam implicar com Cármen, ainda mais quando ela está fazendo exatamente o que eles querem que seja feito?

Não existe rigorosamente nada de certo na decisão que a ministra tomou para considerar o juiz Sérgio Moro “suspeito” de agir de maneira parcial na condenação do ex-presidente Lula por corrupção e lavagem de dinheiro – sentença que foi confirmada por outros oito magistrados superiores a ele. Quando julgou a história da suspeição, na abertura do caso em 2018, Cármen disse em seu voto que Moro não era suspeito de nada. Agora, três anos depois e com a condenação de Lula já passada em terceira e última instância, ela dá um voto exatamente ao contrário do primeiro. Não aconteceu nada de novo entre um momento e o outro, a não ser a apresentação de “provas” obtidas através de gravações ilegais – um crime. Tudo o que houve nesse período, segundo diz Cármen, foram “conversas” com o “ministro Gilmar Mendes”.

Cármen não fez apenas um reparo ou ajuste técnico em seu primeiro voto; fez um voto novinho em folha, decidindo simplesmente o oposto do que já tinha decidido. A mudança também não foi feita “por recurso”, como pede a lei; Cármen começou, dias atrás, a espalhar na imprensa que poderia dar um “voto novo”, e assim que o caso foi reaberto para o julgamento final, com um placar de 2 x 2, ela anulou sua própria decisão e deu a vitória a Lula. É verdade que os votos, tanto o que era à brinca como o que foi à vera, não foram dados em sessão plenária do STF, e sim na “Segunda Turma” d qual ela faz parte; mas foi decisão oficial.

Mas e daí, não é mesmo? Nada disso tem a mais vaga importância para o STF. O tribunal vive no seu próprio Brasil, um universo no qual é proibida a entrada de fatos ou pontos de vista diferentes, e onde só vale a vontade pessoal dos ministros. Eles têm a sua própria realidade. O ministro Gilmar, por exemplo, diz que o que desmoraliza a Justiça brasileira não é o Supremo, mas sim a Operação Lava Jato – uma “vergonha mundial”, nas suas palavras.

O STF é isso: a mais bem-sucedida ação da Justiça contra a corrupção, em toda a história, é um erro, o culpado é o juiz e o condenado é um mártir.

J.R Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo