Discretamente,
como quem procurava esconder o malfeito, o ministro Luiz Fux, do
Supremo, liberou para votação outra causa sobre a qual estava sentado:
os privilégios absurdos concedidos aos senhores desembargadores do
Tribunal de Justiça do Rio. No país inteiro, na esfera estadual e
federal, os mimos com que são beneficiados os senhores togados são de
fazer corar os despudorados. Mas é no Rio que a, como posso chamar?,
insensibilidade com os miseráveis atinge o estado de arte. E notem:
estamos falando de um Estado quebrado. Mas os membros do TJ-RJ, estejam
certos, vivem no paraíso. Já volto ao ponto. Antes, algumas
considerações.
Não há
dúvida de que há roubalheira no Brasil. Fui e sou crítico do
autoritarismo messiânico da Lava Jato, mas sempre reconheci que a
operação tocava e toca num cancro da vida nacional. Daí a mandar a
política e a institucionalidade para o abismo e a superestimar a
importância da corrupção nos desastres nacionais, bem, esses são outros
bilhões. A corrupção tem de ser combatida sem tréguas. Mas não há
safadeza no país que faça frente, por exemplo, ao assalto aos cofres
públicos representado pela Previdência do funcionalismo. A corrupção tem
de ser combatida sem tréguas. Mas não há safadeza no país que faça
frente aos ganhos nababescos da elite dos servidores, onde se encontram
juízes e membros do Ministério Público. E, no entanto, essas coisas
ainda estão debaixo do tapete, não é mesmo? Só o auxílio-moradia das
duas categorias custa aos brasucas desdentados R$ 1,6 bilhão por ano.
Os
levantamentos são constrangedores. As respostas dadas por alguns juízes
são nauseantes. O tal Marcelo Bretas, que gosta de dar aula de decência a
Sérgio Cabral, tornado seu brinquedo judicial, recebe, em companhia da
mulher, também juíza, dois auxílios-moradia. Recorreu à Justiça para ter
direito ao duplo benefício, embora o Conselho Nacional de Justiça tenha
definido que, em casos assim, o dito-cujo será pago apenas uma vez.
Bretas considerou discriminação. E ganhou! A decisão foi tomada por
juízes que recebem auxílio-moradia.
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Sérgio
Moro, que está longe de ser um rapaz necessitado — até porque quem “mora
com Moro” é pessoa igualmente bem-sucedida no ramo do direito —,
explicou por que, embora resida em imóvel próprio em Curitiba, recebe
auxílio-moradia. É que, disse ele, o ganho compensa o reajuste de
salário que não houve. Entenderam? O juiz da moral reta, estrita,
ilibada; que é implacável com o deslize alheio, quase irascível; que
hoje é a esperança dos indignados, especialmente os sem informação, bem,
este cavaleiro sem mácula confessa que, para ele, auxílio-moradia é
mesmo ganho salarial. E ponto.
Reportagem
da Folha deste domingo informa que há 2.275 juízes atuando na cidade de
São Paulo, considerando a Justiça estadual, federal, do trabalho e
militar: “Desses, 30% (680) recebem os R$ 4.378 mensais de auxílio para
moradia mesmo tendo imóvel na capital. Considerando apenas o universo de
juízes que recebem o auxílio, 43% possuem imóvel na capital.” O jornal
informa ainda: “Os dados mostram que 215 desses magistrados têm mais de
um imóvel em seu nome. O campeão é o desembargador do Tribunal de
Justiça de São Paulo José Antonio de Paula Santos Neto, que tem 60
imóveis registrados em seu nome na base do IPTU.”
O doutor
concede entrevista ao jornal. E, sim, ele diz considerar impróprio o
pagamento, mas também apela à tal falta de reajuste e diz que recebe,
porque, afinal, está na lei. Entendi. Se está na lei, por que o
proprietário de 60 imóveis dispensaria o auxílio-moradia, né?
Não há como justificar. Ponto final. Por isso, os doutores não têm o que falar.
De volta Fux
Em 2014, como sabemos, o ministro Luiz Fux estendeu o indecoroso auxílio-moradia a todos os juízes e a todos os membros do Ministério Público. Ele o fez em caráter liminar e ficou lá, segurando a medida. Só agora liberou para votação, o que deve acontecer em março. Mas Fux fez mais do que isso.
Em 2014, como sabemos, o ministro Luiz Fux estendeu o indecoroso auxílio-moradia a todos os juízes e a todos os membros do Ministério Público. Ele o fez em caráter liminar e ficou lá, segurando a medida. Só agora liberou para votação, o que deve acontecer em março. Mas Fux fez mais do que isso.
Nenhum
Tribunal de Justiça do país conta com as mamatas de que goza o do Rio —
onde os senhores desembargadores têm direito a refeitório privado, por
exemplo, com serviço gourmet da alta gastronomia. Recebem ainda
auxílio-saúde, adicional de permanência, gratificações, pagamento para
fazer cursos no exterior etc. O então
ministro Ayres Brito, relator de uma Adin (Ação Direta de
Inconstitucionalidade), considerou tais benefícios inconstitucionais.
Isso se deu no ano da graça de 2012. Fux pediu vista e só agora decidiu
liberar seu voto. Entenderam? Os tais ganhos estão sendo pagos há quase
seis anos. A cada cinco anos, os doutores, no TJ-RJ, têm direito a três
meses de licença remunerada. Isso nada tem a ver, é claro!, com as
férias de 60 dias…
O TJ-RJ é
aquele integrado pela filha de Fux, Marianna. Em 2016, aos 35 anos, ela
foi nomeada desembargadora pelo governador Luiz Fernando Pezão. Sua
candidatura chegou a ser impugnada por falta de “prática jurídica”. Vale
dizer: ninguém conhecia a atuação da moça nem mesmo como advogada. Seu
nome chegou a ser recusado pela OAB. Para provar que trabalhara na área,
apresentou uma carta de Sérgio Bermudes, um medalhão da advocacia. Ele
atestou Marianna atuara no seu escritório fazendo “consultoria e
assessoria jurídica”. Ah, tá… Mas sem nem um processo pra chamar de seu…
Lembrete: estagiários também fazem “consultoria” e “assessoria
jurídica”. Doutor Bermudes não mentiu, entendem?
Fux não
descansou. Reportagem da Folha informou que o homem ligou para os
conselheiros da OAB para defender o nome da filha. E, sabem como é,
lembrou as causas que os doutores tinham lá no Supremo. Deu certo.
Marianna concorreu à cadeira que cabe à Ordem no chamado quinto
constitucional – pela Constituição, um quinto das vagas dos tribunais
deve ser preenchido por advogados, indicados pela OAB, e por
representantes do Ministério Público. Quando foi indicado por Dilma
Rousseff para a vaga de ministro do Supremo, Fux beijou os pés de
Adriana Ancelmo, mulher do então governador Sérgio Cabral, em sinal de
gratidão pelo apoio recebido. Os dois eram muito, muito amigos. Não sei
se no caso da filha alguém foi beneficiado com um ósculo…
Mais de cinco anos segurando com um voto-vista…
Mais de três segurando um liminar…
Ah, Fux, Fux, Fux…
Alguém se dispõe a fazer a conta de quantos bilhões custaram ao país e o Rio as procrastinações de Fux?
Blog do Reinaldo Azevedo
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