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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Ao intervir no Rio, Temer pula dentro do incêndio




Michel Temer tem pelo menos três problemas sobre a mesa:  
- seu governo é reprovado por 70% dos brasileiros; 
- seu preposto na chefia da Polícia Federal colocou a Operação Abafa a Jato na vitrine; e, 

 - sua reforma da Previdência tomou o caminho do brejo

Não tendo nada a dizer sobre nenhum desses temas, Temer optou por mudar de assunto. Pendurou nas manchetes uma intervenção no setor de segurança pública do Rio de Janeiro. Acha que a ousadia fará seu projeto de reeleição ascender por gravidade. Contudo, o mais provável é que tenha apenas se jogado no centro de um incêndio onde não há saída de emergência.

Temer pensa dez vezes antes de mover os lábios. Não dá um “bom dia” sem uma profunda reflexão. Quando ordenou aos ministros Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) e Raul Jungmann (Defesa) que fossem buscar o governador Luiz Fernando Pezão no Rio de Janeiro, sabia que a lei manda que não se mexa na Constituição enquanto houver Estados sob intervenção federal. Há quem sustente que reformas como a da Previdência poderiam tramitar, desde que não fossem promulgadas. Mas esse é outro debate. Por ora, o que importa para Temer é cavar um pretexto que lhe permita sair de fininho de uma reforma que definhou por insuficiência de votos.
[Temer corre o risco de arder no incêndio pela falta de decisão - não ter coragem de decidir é seu ponto forte; 
Acertadamente, percebe que alguma coisa precisa ser feita para conter a criminalidade no Rio - a ação das Forças Armadas e das Polícia Civil e Militar tendo que combater os bandidos, obedecendo uma parcial e absurda legislação de direitos humanos (que concede dezenas e dezenas de direitos humanos a bandidos, impedindo uma ação efetiva das autoridades de segurança) tem se revelado ineficaz.

Só que a intervenção federal para ser exitosa impõe a necessidade de várias medidas e falta ao presidente a decisão de adotá-las, então ele optou pelo caminha mais fácil, mais cômodo e ineficaz: uma intervenção federal que não é intervenção federal.

Logo alguma associação de advogados estará ingressando na Justiça com ação pedindo a suspensão da intervenção que não é anônima.
Ou então o MP ou mesmo aquele senador Rodrigues, de Roraima, que usa seu mandato não para apresentar projetos úteis ao Brasil e ao seu Estado e sim para aparecer.]


Pezão fez cara de dúvida quando soube o motivo da visita de Jungmann e Moreira. A ideia de uma intervenção formal não lhe caiu bem. Preferia algo informal. Acalmou-se ao saber que Temer havia jurado que não daria um passo sem o seu consentimento. O pseudo-governador não dispõe de um itinerário. Mas acha que ainda está no volante. 

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Entregou gostosamente os pontos ao ser informado de que a ingerência federal ficaria restrita à área da segurança pública, que seu governo já não controla.


Embora Pezão não tenha percebido, sua administração acabou na viagem do Rio para Brasília. Ao final da reunião no Palácio da Alvorada, seu mandato estava, por assim dizer, encurtado em dez meses e meio. Para tentar recarregar suas próprias baterias, Temer desligou o correligionário da tomada. Poderia ter deixado o afilhado do presidiário Sérgio Cabal derretendo em sua própria gordura até o término do mandato. Mas preferiu abreviar o processo de carbonização.



Dizer que o gesto de Temer foi ousado é pouco. Ousadia teve Fernando Henrique Cardoso quando promoveu, em 1997, uma intervenção branca no governo de Alagoas. No caso de Temer, a intervenção é preto no branco, como se diz. E ocorre no coração do país, não num Estado periférico. É mais do que uma ousadia. Beira a temeridade. Em Alagoas, depois de levar as finanças estaduais à breca, o então governador Divaldo Suruagy encareceu a FHC que a União assumisse o buraco. Enviado por Brasília, o economista Roberto Longo tornou-se interventor informal na Secretaria de Fazenda alagoana. Carbonizado, Suruagy licenciou-se do cargo. Pouco depois, renunciou para evitar um impeachment.

No Rio, a iniciativa da intervenção foi de Temer, esclareceu um ministro. Embora o Estado também esteja quebrado, o alvo de Brasília é a segurança. Assume o comando das polícias o general Walter Souza Braga Neto. Trata-se de um militar de mostruário. Não brinca em serviço. Para realizar o seu trabalho a sério, exigirá meios.  O contribuinte que paga seus impostos em outros Estados, alguns tão violentos quanto o Rio, logo se perguntará quanto de verba pública federal escorrerá pelo ralo até que Temer se convença de que o drama da violência fluminense, por insolúvel, não será resolvido nos dez meses que lhe restam de mandato.

O noticiário da TV Globo sobre o surto de violência no Carnaval carioca teve grande peso na decisão de Temer. Em privado, o presidente e seus auxiliares alegam que, ao distribuir as culpas pelo descalabro, as reportagens da emissora já não fazem distinção entre as autoridades locais de segurança e as autoridades federais. Destacadas para ajudar a manter a lei e a ordem, as Forças Armadas também foram empurradas para dentro do micro-ondas. Nessa versão, seria melhor entrar de vez na briga do que ser atropelado como um pedestre inadvertido.

O decreto de intervenção terá de ser aprovado no Congresso. Eleito pelo Rio, o presidente da Câmara Rodrigo Maia fez cara de poucos amigos. Último a ser chamado para a reunião do Alvorada, ao lado do presidente do Senado Eunício Oliveira, Maia abespinhou-se por não ter participado do debate desde o início. Levou o pé atrás. Esboçou contrariedade. Ironicamente, coube ao govenador Pezão amolecer as resistências. “Não dá mais para adiar, Rodrigo.”

Assim, ficou decidido que Temer, depois de ser retratado como vampiro no enredo da escola de samba Tuiuti, instalará no Planalto uma sucursal do inferno. Nos próximos meses, o presidente se dedicará a brincar com fogo. Torça-se para que as Forças Armadas não saiam chamuscadas. Soldados, como se sabe, são treinados para matar inimigos, não para prender patrícios.



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