O teto melhorou as expectativas do
mercado e deu perspectiva para as contas públicas
A
Previdência, devido à resistência de governos e políticos em adaptá-la ao
fenômeno demográfico mundial de envelhecimento da população, tem há muito tempo propensão a
produzir déficits crescentes. O próprio engessamento orçamentário, com a
fixação de percentuais fixos para despesas como na Saúde e na Educação, cedo ou
tarde complicaria de vez o trabalho do gestor público. Assim como a indexação
de várias despesas consideradas como sociais, caso das aposentadorias e
pensões. As barbeiragens da política econômica lulopetista da “nova matriz
macroeconômica”, lançada no final do segundo governo Lula e levada ao
paroxismo por Dilma Rousseff, colocaram a economia brasileira na maior recessão
da História (quase 8% no biênio 2015/26, 14 milhões de desempregados e inflação
em alta), numa crise fiscal jamais vista.
Impedida
Dilma Rousseff pelo Congresso, por atropelar a Lei de Responsabilidade Fiscal, coube ao novo governo, do vice
Michel Temer, e sua equipe econômica tomarem medidas para conter gastos e que,
de forma muito rápida, mudassem, ou atenuassem, a expectativa de insolvência do
Tesouro. A proposta de reforma da Previdência era inevitável, e, para
funcionar como um freio nos gastos, aprovou-se emenda constitucional para
impedir que o total das despesas primárias (exceto as financeiras) ultrapasse
um teto calculado pelo limite anterior acrescido da inflação. Este teto, de
duas décadas de vigência, passou a funcionar como uma espécie de farol para
sinalizar a necessidade de ajustes nos gastos. Também para forçar escolhas
pelos políticos, algo inédito em um país em que se acha que a capacidade de
gasto do Estado é infinita. Como o teto é do total das despesas, para se
despender em uma rubrica do Orçamento, deve-se cortar em outra. Antes,
como, por ideologia, o próprio governo Dilma não tinha maiores preocupações com
déficits fiscais, as despesas vinham crescendo mais que o próprio PIB e a
arrecadação tributária. Na verdade, a tendência é
antiga, mas agravou-se com a “nova matriz” e quebrou o Estado.
Por isso, a nota de crédito do Brasil tem caído — o que significa juros mais
elevados nos financiamentos externos a projetos no país.
O teto,
que passou a vigorar em 2017, foi obedecido e deverá sê-lo este ano. Mas com a ajuda do BNDES, na devolução de parte dos R$ 500 bilhões que o Tesouro, de
forma irresponsável, levantou no mercado para injetar no banco, dentro
da filosofia da “nova matriz”. Tem havido receitas extraordinárias
que também auxiliam, e a própria retomada, mesmo lenta da economia, contribui. Além
de tudo, o governo, por determinação constitucional, não pode se endividar
para pagar despesas de custeio, apenas gastos de capital e investimentos.
Chama-se “regra de ouro” e deverá ser
descumprida em 2019, a depender do novo governo. O teto, não se discute,
melhorou as expectativas do mercado e deu perspectiva para as contas públicas.
Mas, se não começar a reforma da Previdência, o ajuste
terá de ser duro, forçado pelo teto constitucional e para evitar a volta
da inflação, o que transformará em pó os ganhos que os
pobres tiveram nos últimos 20 anos.
Editorial
- O Globo
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