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sábado, 17 de julho de 2021

Eficácia x eficiência: compare as vacinas contra covid disponíveis no Brasil - IstoÉl

Mesmo com o avanço da vacinação, a pandemia de covid-19 entra em um momento delicado com a expansão da variante delta, surgida da Índia e presente em ao menos 92 países. À medida que os laboratórios tentam descobrir o quanto seus imunizantes protegem contra as novas mutações do coronavírus, novos estudos sobre eficiência e eficácia são publicados e permitem compreender melhor como combater a crise sanitária internacional.

Para entender as diferenças entre os estudos científicos publicados é 
importante distinguir três conceitos básicos: 

1 – A eficácia de uma vacina é analisada em um ambiente controlado, geralmente em testes da fase 3, e é eficaz quando produz o efeito esperado. Dentro desta perspectiva, as taxas de eficácia das vacinas contra a Covid-19 são:

– Moderna: 95,5%
Pfizer: 95% 
– Sputnik V: 91,6%
Novavax: 89,3%
– AstraZeneca: 70%
– Janss
en: 66%
– Coronavac: 50,4%

É fundamental ressaltar que essas taxas de eficácia dizem respeito à proteção contra a forma leve da doença. Considerando-se as formas mais graves de desenvolvimento da Covid-19 e os óbitos decorrentes desse agravamento, as vacinas apresentam uma proteção muito maior. A campanha de vacinação visa à imunização de toda uma população, o que permitiria controlar a circulação do vírus, então o fenômeno de escolha de vacinas não se justifica.

2 – A efetividade diz respeito ao mundo real, com todas as adversidades e alcance em massa sob condições adversas – é efetiva quando observada de uma perspectiva realista de impacto e proteção em uma sociedade

3 – A eficiência é atrelada à relação custo-efetividade, ou seja, leva em consideração seu custo e aplicação (dose única ou dupla).

CoronaVac
Acusada de ter a mais baixa eficácia contra a forma leve da Covid, a vacina produzida no Instituto Butantan também tem sido majoritariamente utilizada no Chile. Um estudo, o primeiro sobre a efetividade da coronavac, publicado no último dia 7 de julho pela revista científica New England Journal of Medicine, com dados de vacinação chilenos, aponta que o imunizante teve efetividade de 86% na prevenção de mortes provocadas pela Covid-19. O levantamento analisou um grupo de 10,2 milhões de chilenos entre 2 de fevereiro e 1 de maio. As conclusões listam as efetividades da Coronavac:

– Prevenção de casos de Covid-19: 65,9%
– Prevenção de hospitalizações: 87,5%
– Prevenção de internações em UTI: 90,3%
– Prevenção de mortes: 86,3%

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AstraZeneca
Desenvolvida no Brasil em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a vacina teve um novo estudo de eficácia feito pela Universidade de Oxford com 32 mil participantes na Inglaterra que elevaram sua eficácia dos 70% originais para 79% contra casos sintomáticos de Covid-19. Alvo de polêmica pelo risco raro de desenvolvimento de coagulação sanguínea e trombose, é consenso médico que os benefícios da vacina superar em muito qualquer risco de efeito colateral.

No Brasil, a Fiocruz concluiu no início deste mês um estudo de efetividade com 40 milhões de brasileiros a partir dos 60 anos que tomaram AstraZeneca e CoronaVac. Os números confirmam a efetividade de ambos os imunizantes: com uma dose, a efetividade das vacinas foi de 73,7% entre 60 e 79 anos, o que aumenta para 79,8% com as duas doses na mesma faixa etária. Há evidências de eficiência de 92% de proteção contra a variante gama, diz estudo da Public Health England

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Janssen
A vacina da Johnson & Johnson possui dose única e apresentou eficácia de 66% que aumenta para 85% (após 28 dias da aplicação) contra casos graves e 100% de proteção contra hospitalização e morte após 28 dias da aplicação. Os dados são do Laboratório Farmacêutico Janssen em parceria com o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês), com mais de 44 mil voluntários de Argentina, Brasil, Chile, México, Colômbia, Peru e África do Sul.

A Food and Drug Administration, agência reguladora dos Estados Unidos, informa eficácia geral de 72% da Janssen.

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Pfizer
Das preferidas dos “sommeliers de vacina” devido à alta eficácia, a vacina Pfizer apresentou efetividade reduzida contra as variantes alfa e beta, de acordo com estudo da agência inglesa de saúde pública (Publich Health England). Foram analisados 14 mil casos da variante delta entre 12 de abril e 4 de junho deste ano.

96% de efetividade contra hospitalização provocado pela variante delta após 2 doses – a AstraZeneca apresentou efetividade de 92% nas mesmas condições.

– 88% de proteção contra formas leves de Covid-19 causados pela delta

Já uma pesquisa israelense publicada na revista Nature indica que a Pfizer perde eficácia após seis meses da aplicação – sua taxa de proteção contra sintomas leves caiu para 64%.

Covaxin
Eficácia: 81%
Aplicação: 2 doses entre 28 dias
Custo: US$ 15
Tecnologia: vírus inativado
Armazenamento: entre 2ºC e 8ºC
Fabricação: Índia
Situação na Anvisa: registro emergencial concedido em 4 de junho

Sputnik
Eficácia: 91,6%
Aplicação: 2 doses entre 21 dias
Custo: R$ 69,36 a dose
Tecnologia: adenovírus geneticamente modificado
Armazenamento: -18ºC
Fabricação: Rússia
Situação na Anvisa: registro emergencial concedido em 4 de julho

Apesar das comparações numéricas, não é possível comparar as taxas de eficácia e efetividade das vacinas pois cada estudo é feito em contextos diferentes, com pessoas e países distintos. Importante ressaltar que diversas pesquisas ainda estão em andamento e é natural haver distorções e diferenças entre os imunizantes que, embora apresentem uma proteção menor contra a variante delta, ainda são eficazes e eficientes contra todas as variantes que surgiram até o momento.

 Em IstoÉ, saiba mais


sábado, 22 de maio de 2021

O dia em que Israel começou a morrer - O Globo

José Eduardo Agualusa

Vejo pela televisão as bombas israelenses derrubando prédios na faixa de Gazagritos, nuvens de poeira, crianças soterradas. Um jornalista comenta que já foram mortas mais crianças do que combatentes do Hamas 
 
[Qual a surpresa? são caças de última geração de um dos mais poderosos exércitos do mundo contra civis desarmados = misseis x estilingue.
Israel tem indiscutivelmente o direito de se defender de qualquer força militar que o ataque - mas se defender matando civis desarmados? , matando crianças e mulheres indefesas? derrubando prédios residenciais? Esse conceito de defesa é bem estranho?]

“Lançar uma bomba é mais uma confirmação do que uma refutação”, escreveu Jorge Luís Borges. “É como dar razão ao adversário, mas de um modo terrível”. A frase de Borges se instala na minha cabeça enquanto, na segurança do meu escritório, vejo pela televisão as bombas israelenses derrubando prédios na faixa de Gaza gritos, nuvens de poeira, crianças soterradas. Um jornalista comenta que já foram mortas mais crianças do que combatentes do Hamas.

Vivi num país em guerra civil, escutando justificações para atos injustificáveis. Os argumentos de quem comete esses crimes são sempre os mesmos: 1) ele começou primeiro. 2) ele fez pior. Eu, que durante todos esses anos de guerra civil nunca apoiei nem um lado nem outro — estive sempre do lado das crianças mortas —, passava horas me esforçando por mostrar o óbvio: 1) não interessa quem começou. 2) se, para combater um inimigo, você tiver de executar crimes idênticos, é porque já se transformou nele.

Dois inimigos podem não concordar em nada, mas estão de acordo no fundamental: em fazer a guerra. Ora, não há nada que aproxime tanto quanto a partilha da crueldade. É por isso que antigos combatentes gostam de se reencontrar e conviver, depois que a guerra termina. Estive — como jornalista — em alguns destes convívios. Ouvi muitos ex-militares recordando com saudade o tempo das lutas. Não raras vezes, tais convívios terminam por estender-se também aos antigos inimigos. No fim, acabam todos à mesma mesa, comendo e bebendo, recordando com alegria como se matavam uns aos outros.

Os pacifistas, esses sim, são o inimigo eterno dos beligerantes. Sem surpresa, quando uma guerra deflagra, aqueles que se opõe a ela costumam ser os primeiros a enfrentar o pelotão de fuzilamento. Para as partes em confronto, o pacifista é muito pior do que o inimigo, porque é inimigo da própria guerra.

Assim, estou consciente da pouca utilidade de argumentar contra uma guerra enquanto ela decorre. Não consigo, contudo, permanecer em silêncio diante daquilo que está ocorrendo na Faixa de Gaza. Primeiro, em razão da desigualdade de meios — que é, como quem diz, da desigualdade de mortos. Depois, porque quanto mais olho para Israel, nos dias de hoje, mais eu vejo a África do Sul do tempo do apartheid. Também os bôeresdescendentes de huguenotes holandeses e franceses expulsos da Europa — acreditavam na ideia de que Deus lhes oferecera o extremo sul da África como refúgio e terra santa.  
Armados dessa crença, expulsaram os povos nativos das suas terras, inventaram uma língua e um desígnio, alteraram a toponímia dos lugares, e criaram uma democracia onde só eles tinham direitos.  
O apartheid acabou caindo, e os descendentes desses bôeres estão agora expiando os pecados dos pais.

A 19 de julho de 2018, o Knesset aprovou uma lei consagrando Israel como uma “nação judaica”, e o hebreu como única língua oficial; isto, num país que tem 20% de cidadãos árabes. Foi nesse dia que Israel começou a morrer. Regimes assentes no ódio e em políticas de apartheid e exclusão dificilmente perduram. O ódio é fraca argamassa.

José Eduardo Agualusa, colunista - O Globo - Cultura

 

quinta-feira, 25 de março de 2021

O piloto sumiu - Merval Pereira

O Globo 

Crise da COVID

O Congresso assumiu o comando de um “comitê de crise” contra a Covid-19, criado com um ano de atraso pelo presidente Jair Bolsonaro. As lideranças políticas do país, refletindo o pensamento de setores empresariais, da classe média desiludida, da maioria não negacionista emparedada pelo medo da pandemia sem ser maricas, tomaram as rédeas da situação, assumindo seu papel de representantes dos cidadãos. Assumiram o posto do piloto, que sumiu na tempestade.

[Comitê de crise = a forma mais fácil de dizer o que não foi feito... sem dizer como fazer = enrolar, fingir que faz e o problema continuando. Tanto que o ministro  Fux decidiu logo pela não participação do STF = afinal, há sempre o risco do STF ter que julgar eventuais acusações contra o comitê - entre elas as de omissão - e estar entre os acusados. 
Apontar a falta de vacinas como uma das causas do elevado contágio e letalidade da peste maldita não salva uma única vida, nem produz uma dose que seja do imunizante. ]

Mesmo que formalmente Bolsonaro seja o líder, já perdeu a condição de liderar, e agora é liderado pelo Centrão, formado por políticos experientes, que não estão dispostos a seguir as maluquices do presidente eventual quando se trata propriamente do futuro do país e, por conseguinte, deles mesmos.

Uma relação impressionante de sequências foi feita pelo economista e especialista em risco Paulo Dalla Nora Macedo para demonstrar como chegamos aonde estamos, no dia trágico quando superamos a casa dos 300 mil mortes pela pandemia.[avisem para o economista que o Brasil precisa de vacinas e atendimento médico - demonstrar onde estamos e como chegamos, não vai salvar uma vida que seja.]

O mundo começou a vacinar em escala em janeiro deste ano. Só os EUA vacinaram 31 milhões de pessoas naquele mês. Até 31 de janeiro, o mundo tinha aproximadamente 2,250 milhões de mortes por Covid-19. O Brasil tinha cerca de 225 mil, ou 10% do total. De 1º de fevereiro até ontem, terão morrido mais 75 mil pessoas no Brasil vítimas da Covid-19, enquanto no mundo foram 500 mil.

Desde 1º de fevereiro, portanto, o Brasil terá concentrado 15% das mortes de Covid-19, um crescimento de 50% em relação a 31 de janeiro. Se pegarmos apenas março deste ano, esse número pode se aproximar de 30%. Ou seja, em março, quase uma em cada três mortes de Covid no mundo deverá ser do Brasil. “Um espanto que mostra que a aceleração de mortes aqui é absolutamente desproporcional ao resto do mundo.”

Na comparação com os EUA, o efeito do estágio da vacinação também é bem claro: até 31 de janeiro, eles estavam muito à frente do Brasil (+25%) no número de mortes por milhão de habitantes, o que ainda é verdade. No entanto, para as mortes apenas de 1º de fevereiro até hoje, estamos empatados em mortes por milhão de habitantes e temos curvas totalmente distintas: nós subindo, eles caindo. Por isso, se consideramos apenas março deste ano, já temos um número de mortes por milhão bem acima dos EUA.

A pressão sobre o governo chegou também à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, onde seu presidente, o deputado tucano Aécio Neves, cobrou do ministro Ernesto Araújo uma ação mais efetiva do governo brasileiro, com nova postura no debate na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a quebra de patentes de vacinas e insumos de combate à Covid-19.

Membros do Brics, como Índia e África do Sul, com o apoio de outros 55 países, querem uma moratória do acordo que regula os direitos da propriedade intelectual, mas o governo brasileiro se posiciona por uma solução intermediária, que preserve as patentes, mas leve a uma produção de vacinas e insumos em países que já estão atendidos para países mais pobres, licenciamento voluntário negociado com as farmacêuticas, transferência de tecnologia.

“Um dos principais entraves à ampliação da oferta de vacinas no mercado mundial é o compromisso de patentes e a proibição de exportação de versões genéricas das vacinas em circulação. De um lado, criticamos a ausência de oferta de vacinas e, ao mesmo tempo, nos colocamos contrários a um movimento ou uma ação concreta que pode de forma célere ampliar a oferta dessas vacinas. Quais são as perspectivas para que uma solução intermediária possa ocorrer?”, atacou Aécio Neves.

É possível que, agora, haja uma orientação comum no combate à Covid-19 no Brasil. O comitê formado para coordenar as ações da crise da pandemia será comandada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Fica claro que, nesse assunto, Bolsonaro foi suplantado pela pressão do Congresso. Os políticos abriram os olhos, viram que, do jeito que estava, o país ia afundar, e resolveram assumir o controle da situação. O problema para Bolsonaro é que o Centrão está no comando, então ele terá que fazer avaliação sobre apoios políticos antes de reclamar de alguma medida que venha a ser tomada, como o lockdown.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

A política que mata - Fernando Gabeira

In Blog

Há muito tempo que gostaria de escrever sobre outra coisa: a dimensão do realismo fantástico num país em que o presidente acha que vacina nos transforma em jacaré, oferece hidroxicloroquina para a ema do palácio e manda os jornalistas enfiarem uma lata de leite condensado no rabo. Mas a urgência do drama proíbe digressão. Não absorvemos bem o que aconteceu em Manaus. Não quero dizer apenas que era necessário avaliar os estoques de oxigênio, planejar, em termos estratégicos, a produção e o consumo desse elemento vital.

Pazuello foi a Manaus defender a cloroquina e não percebeu a gravidade da falta de oxigênio. Quando percebeu a gravidade da falta de oxigênio, tarde demais, não percebeu outro fato decisivo: a presença de uma nova variante do coronavírus. Desde quando os japoneses sequenciaram o mapa dessa variante em turistas que chegaram da Amazônia, era preciso acionar o alarme. A variante brasileira tem características, ao que parece, semelhantes às mutações encontradas na Inglaterra e na África do Sul.

Todos se adaptaram de tal forma que podem se propagar com mais facilidade. Boris Johnson imediatamente decretou um lockdown para conter a nova onda que estava a caminho. No Brasil, confirmada a existência da variante, não houve um debate nacional sobre o que fazer diante desse novo perigo. [debate nacional? com ou sem distanciamento social? jetom para os especialistas em nada? virtual ou presencial?o know-how dos contadores de cadáveres seria considerado?] Na verdade, a variante brasileira é mais destacada nos jornais estrangeiros do que nos nossos.

Parece que, no Brasil de Bolsonaro, adotamos aquele velho lema: desgraça pouca é bobagem. Pazuello decidiu transferir os doentes de Manaus sem cuidados especiais de segurança. O aeroporto de Manaus durante algum tempo foi muito usado pelas UTIs aéreas que saíam do estado com os doentes mais ricos. Somente Roraima e Pará, dois estados limítrofes, tentaram erguer uma tímida barreira sanitária. A variante já apareceu em São Paulo e no Rio Grande do Sul, sem contar seus voos mais longos: Estados Unidos e Alemanha.

Os voos do Brasil para Portugal foram suspensos. Biden manteve as restrições à entrada de brasileiros. Muitos já notaram que Pazuello errou ao receitar hidroxicloroquina. Está sendo questionado por isso. Errou ao ignorar o avanço da crise de oxigênio, algo que não acontece de um momento para outro. Mas não estamos cobrando do governo um projeto para conter a variante amazônica no norte do país. Na verdade, nem se toca no assunto, como se o vírus mutante fosse brasileiro e já tivesse o direito de circular livremente pelo nosso território.

Muito menos nos espantamos com o fato de os japoneses terem sequenciado e anunciado a variante. Na Fundação Oswaldo Cruz em Manaus, já era conhecida. Mas a verdade é que rastreamos pouco, sequenciamos pouco, por falta de recursos. O negacionismo da política de Bolsonaro não se limita a tiradas verbais. Ele tem uma tosca base teórica. Prefere gastar com remédios a gastar com vacina e não se preocupa com testes. Milhares deles foram abandonados num galpão de São Paulo. O que adianta conhecer e monitorar? O que adianta sequenciar mutações de vírus?

Pelo que li, o governo já sabe que uma nova onda virá, dobrando o número de mortos. Diz que vai correr atrás da vacina. Para milhares de vidas, será tarde demais. Quando Bolsonaro pagará por isso? Quem quiser pesquisar desde o início as frases, decisões, atitudes, omissões vai recolher um acervo, mais amplo ainda do que o enviado ao Tribunal Internacional.[demorou, mas estão começando = tentativas dos inimigos do Brasil de responsabilizar o presidente Bolsonaro pela entrada do vírus chinês no Brasil;  de algum tempo questionamos quando o governo Bolsonaro, mais especificamente o presidente Bolsonaro seria responsabilizado pelo coronavirus e todos os seus malefícios. Começam a - o cidadão, a pessoa física, que foi escolhida para presidir o Brasil - cogitar de acusá-lo. Faz tempo que versões de fatos são levemente adaptadas abrindo espaço para tentar responsabilizar o presidente Bolsonaro. Semana passada, um artigo buscou insinuar que o presidente Bolsonaro em viagem que realizou a Miami, ao voltar para o Brasil, trouxe o vírus; já  um grupo de procuradores aposentados, na busca de passar o tempo que lhes sobra, situação proporcionada pelo ócio que custeamos com nababescas aposentadorias, apresentaram uma acusação contra o presidente da República. Algo até cômico,  desrespeitoso mesmo, por apresentar apenas versões adaptadas de fatos e suposições.O currículo de alguns dos inativos indica bem o destino da acusação.

Tem cão danado que acusou Bolsonaro de crime ambiental, quando bateu com uma caixa vazia de cloroquina em uma ema do Palácio da Alvorada.]

Quando vejo Pazuello respondendo ao TCU pela compra da cloroquina, à PF pela omissão em Manaus, a sensação que tenho é de que tudo é um único e indivisivel processo: a história da negação e as mortes que ela produz diariamente no Brasil. E ele é apenas o homem que obedece.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista 

Artigo publicado no jornal O Globo em 01/02/2021


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A diplomacia que mata - Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Articulação permitiria que Brasil, China, Índia e Rússia se organizassem para produzir vacinas

Está certo que Brics, na maior parte do tempo, foi mais uma sigla do que uma aliança concreta. Originalmente representando Brasil, Rússia, Índia e China, a sigla foi inventada por um economista britânico, Jim O’Neill, para designar o grupo de países emergentes com mais chances de se tornarem ricos e influentes.
Que formassem um grupo, era duvidoso, dadas as notórias divergências entre, por exemplo, Índia e China, ou Rússia e China, sem contar que o Brasil não parecia ter qualquer proximidade com aqueles três.

Num dado momento, entretanto, com o Brasil sob governo petista, surgiu um interesse comum entre aquelas nações em fazer um contraponto à influência americana, principalmente, e europeia, em segundo lugar. Seria a voz mais importante do mundo emergente. O grupo se formalizou diplomaticamente, incorporando a África do Sul, para ter um representante daquele continente. De uma coisa meramente retórica, de mais discurso e menos ação, evoluiu para algo mais prático, especialmente com a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, chamado banco do Brics, para financiar projetos em comum. Banco que é hoje presidido por um brasileiro, o economista Marcos Troyjo, indicado pelo governo Bolsonaro.

Tudo isso para dizer que as circunstâncias abriram uma enorme possibilidade para o Brasil — não aproveitada. Dos membros do grupo, um, a China, era não apenas o principal parceiro comercial do Brasil, como um dos maiores produtores mundiais de medicamentos e insumos. A Índia, há anos, cravou posição como a maior produtora de genéricos e também de insumos farmacêuticos. A Rússia, em reconstrução, não havia perdido a capacidade tecnológica, inclusive nas ciências biológicas e médicas.

O Brasil tem dois institutos com reconhecimento mundial na produção de vacinas, o Butantan e Manguinhos. Todo mundo sabia disso quando se iniciou a pandemia. E a oportunidade estava na mão: uma boa articulação permitiria que Brasil, China, Índia e Rússia se organizassem para produzir e distribuir vacinas em larga escala, com financiamento de seu próprio banco. China, Índia e Rússia entrando com a tecnologia e as fórmulas; Brasil, com sua capacidade de produção e seu imenso mercado, estendendo-se para o Mercosul e toda a América Latina.

Mas isso jamais passou pela cabeça do presidente Bolsonaro e de seu chanceler, Ernesto Araújo. Nessa cabeça, a China é um bando de comunistas, que produz vacina para destruir o mundo ocidental. A Rússia, bem, seja o que for, não é amiga dos EUA. A Índia, do direitista e populista Narendra Modi, até poderia ser próxima, mas o país tem uma diferença histórica com os EUA. Sendo a maior produtora de genéricos, a Índia sempre teve interesse em limitar as patentes farmacêuticas, dominadas pelas grandes farmacêuticas americanas e europeias.

Por isso, em meados do ano passado, a pandemia crescendo, a Índia propôs na OMS que as patentes de medicamentos relacionados à Covid-19 fossem temporariamente suspensas. Trata-se de uma controvérsia. A patente, o direito exclusivo de explorar a venda de um medicamento, é um estímulo importante para que as farmacêuticas invistam bilhões de dólares na busca de uma nova substância.  Mas faz tempo que o mundo, incluindo governos e setor privado, está debruçado na busca de arranjos legais que permitam conciliar a patente com a distribuição de medicamentos para as nações mais pobres.

A calamidade da pandemia justificava esse esforço. Só que o Brasil de Bolsonaro seguiu fielmente os EUA de Trump e votou contra a suspensão temporária de patentes da Covid, deixando Índia, principalmente, e China enfurecidas. A retórica antichinesa de Bolsonaro e sua turma terminou o serviço. Agora, Bolsonaro implora os medicamentos de Modi e tem vergonha de pedir os insumos chineses, esperando que Doria resolva o problema. A vacina “chinesa assassina do Doria” vira a vacina do Brasil, na nova mentira bolsonarista, tentando salvar o que não pode salvar: o fato de que ele desprezou o sofrimento e boicotou a vacina.  [cabe um pequeno comentário: a vacina da Fiocruz está contratada junto a ASTRAZENECA que possui uma fábrica na China, dispondo dos insumos necessários e com a obrigação de contratual de repassar para o Brasil todo o necessário a que o contrato seja cumprido - a China não vai intervir no assunto.
Quanto a questão indiana houve um desajuste diplomático a ser sanado.
Já a vacina chinesa, a CoronaVac, é uma parceria entre o Butantan e a Sinovac, cabendo a esta o  fornecimento dos insumos necessários, só que se trata de uma empresa chinesa, instalada em solo chinês.!!!
Quanto ao destino do atual chanceler,  o esperado e necessário para o Brasil, é sua substituição.]

Uma diplomacia pragmática salvaria milhares de vidas. Essa outra matou.

O Globo - Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Manaus - Alon Feuerwerker

Análise Política

A tragédia em Manaus leva jeito de ter na raiz, além de eventuais crimes, o surgimento de uma variante bem mais contagiosa do SARS-CoV-2, a precariedade crônica da infraestrutura e a subestimação dos riscos ainda presentes da Covid-19.

Parece haver também casos de reinfecção. Será o caso de fazer duas perguntas aos especialistas [em nada? em palpites estúpidos?] (que parecem ainda não ter respostas): 
1) Os anteriormente infectados e curados estão imunizados contra a nova variante do vírus? e 
2) As vacinas disponíveis funcionam contra ele?
[oportuno um comentário: consideramos o coronavírus e seu fruto - covid-19 - extremamente maléficos, respeitamos suas vítimas = mortas, sequeladas ou plenamente recuperadas.
Mas entendemos que por razões ainda desconhecidas, existe um esforço concentrado para maximizar os efeitos da atual pandemia, muitos esquecendo que a gripe espanhola, de 1918, matou mais de 50.000.000 de pessoas (algumas fontes falam em cem milhões) e contaminou em torno de 500.000.000 - índice de letalidade em torno de 10%.
A covid-19 está bem longe desses números - graças a DEUS - apesar da ciência ter evoluído pouco no combate ao vírus = combatendo mais os sintomas.
Um ponto é indiscutível: as condições atuais de combate à covid-19 e ao vírus que a produz, não são as ideais mas o progresso da ciência  facilita o combate. 
Contra nós existe a extrema facilidade/velocidade de transporte, o vírus que está aqui hoje,  amanhã pode estar infectando alguém do outro lado do mundo. Se a peste espanhola contasse com tal aliado? Felizmente, não conta, e nós contamos com a tecnologia para combater a peste de agora.
Saiba mais, clicando aqui ou aqui.]

De todo modo, os novos acontecimentos do Reino Unido, África do Sul e Manaus mostram que a guerra será prolongada. Qualquer ilusão de vencê-la no curto prazo é só ilusão mesmo. E a vitória depende de clareza estratégica, firmeza, capacidade operacional e também bom senso.

Já foi dito aqui mas não custa repetir, pela urgência: precisamos de um plano que combine a vacinação em massa e a volta progressiva às atividades com medidas sanitárias e de distanciamento social que possam ser aplicadas, realisticamente falando. Difícil para um país tão politicamente bagunçado.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O antirracismo como ideologia da classe dominante - Revista Oeste

A nova elite política e cultural quer que o racismo continue indefinidamente para beneficiar-se dos movimentos antirracistas

O ano de 2020 foi moldado por duas coisas. O novo coronavírus dominou todos os aspectos de nossa vida. Mas algo mais também nos agarrou: o antirracismo. Em maio, chocados com a morte de George Floyd pelas mãos de um policial de Minneapolis, nos Estados Unidos, pessoas em todo o mundo saíram do confinamento para participar dos protestos Black Lives Matter (BLM). Estátuas foram derrubadas, figuras públicas se ajoelharam em solidariedade e muitas pessoas bloquearam suas postagens nas redes sociais por um dia. Escolas, universidades e locais de trabalho intensificaram o treinamento em diversidade e iniciativas antirracistas.

Obviamente, houve protestos contra o racismo no passado. Mas no último ano foi diferente. Nunca antes pessoas em todos os continentes, em países e cidades que enfrentam seus próprios problemas, compareceram em tão grande número para apoiar a mesma causa. Nunca antes livros como White Fragility (Fragilidade Branca), Por Que Eu Não Converso Mais com Pessoas Brancas sobre Raça e Como Ser um Antirracista se tornaram best-sellers internacionais. E nunca antes um movimento de protesto teve tanto apoio do establishment. No Reino Unido, o BLM foi publicamente aprovado pela família real, pela Premier League do futebol e por políticos importantes. Corporações multinacionais também entraram em ação. O fabricante de sorvete Ben & Jerry’s comprometeu-se a fazer todo o possível para desmantelar a supremacia branca, enquanto as universidades de primeira linha emitem declarações denunciando seu racismo institucional.

A integração e o apoio da elite a iniciativas antirracismo indicam uma nova compreensão do racismo. A Critical Race Theory (teoria crítica da raça — CRT, na sigla em inglês) costumava ser uma atividade minoritária, um obscuro interesse acadêmico. Em 2020, forneceu a justificativa para protestos, livros, oficinas de diversidade e aulas escolares. Em junho, o Canal 4 britânico exibiu A Escola Que Tentou Acabar com o Racismo, série documental que acompanha a trajetória de crianças em um programa de reeducação antirracista com base nos princípios da CRT. 

Novas frases entraram em nosso vocabulário. Termos como racismo sistêmico, preconceito inconsciente, privilégio branco, apropriação cultural, reparações, microagressão e interseccionalidade migraram de acadêmicos e ativistas para jornais, discussões de rádio, campanhas de caridade e aulas escolares. O presidente dos EUA, Donald Trump, e a ministra da Igualdade do Reino Unido, Kemi Badenoch, fizeram discursos citando explicitamente a CRT e apontando quão nociva ela pode ser.

O que é a Critical Race Theory?
A CRT começa com um desafio ao racismo “científico” do século 19 e início do século 20. Nos tempos do Império Britânico, a exploração colonial e a escravidão eram justificadas pela crença de que os brancos eram física, mental e moralmente superiores às pessoas que eles governavam. Essa visão se estendia à classe trabalhadora doméstica, que era retratada como geneticamente distinta e inferior à classe alta. Essa compreensão biológica da raça começou a ser questionada após a 2ª  Guerra Mundial, embora seu legado tenha continuado a se manifestar na África do Sul na era do apartheid, no sul dos Estados Unidos com as leis de Jim Crow e no Reino Unido com a discriminação.

Os teóricos críticos da raça não são os primeiros a apontar que a raça é socialmente construída; ou seja, não é um fenômeno que ocorre de modo natural, mas criado e tornado significativo por pessoas coletivamente, ao longo do tempo e do lugar. Poucos hoje discordam disso. Contudo, enquanto uma geração anterior de antirracistas desafiou o significado social atribuído às diferenças biológicas para argumentar que havia uma raça, a raça humana, e enfatizou traços universais que criam uma humanidade comum independentemente da cor da pele, os teóricos raciais críticos argumentam que, uma vez construída, a raça se torna um fato incontestável. Como Robin DiAngelo explica em White Fragility: “Embora não haja raça biológica como a entendemos, a raça como construção social tem um significado profundo e molda todos os aspectos de nossa vida”.

Quando a raça é vista dessa forma, o racismo é entendido como sistêmico; isto é, construído na própria estrutura das sociedades concebidas por brancos, para o benefício dos brancos. Os defensores da CRT argumentam que as ideias de superioridade branca e inferioridade negra são intrínsecas à nossa língua, à cultura e até mesmo a interpretações da História. Todos os aspectos de nossa vida diária, desde educação, policiamento, serviço de saúde e emprego, assumem uma norma branca, argumentam eles, e isso ridiculariza a igualdade perante a lei e a noção liberal de igualdade de oportunidades. Como a jornalista Reni Eddo-Lodge explica em Por Que Eu Não Converso Mais com Pessoas Brancas sobre Raça: “Se você é branco, sua raça quase certamente terá um impacto positivo na trajetória de sua vida de alguma forma. E provavelmente você nem vai notar. Em um argumento inescapavelmente circular, a raça é construída e tornada significativa por meio do racismo; são as experiências cotidianas das pessoas em uma sociedade racista que criam a realidade da raça”.

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Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA  

Joanna Williams está atualmente pesquisando crimes de ódio em seu papel como diretora do Projeto Liberdade, Democracia e Vítima no think tank Civitas