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quarta-feira, 8 de abril de 2020

Atenção para os próximos passos - Valor Econômico

Martin Wolf 


Quarentenas são necessárias para controlar o contágio, mas têm de ser breves

Uma jornada de milhares de quilômetros começa com um único passo. A jornada por esta pandemia será longa e difícil. Não temos como saber onde ela vai terminar, embora seja difícil não especular. Em vez disso, o que precisamos fazer é nos concentrar nos passos que temos logo à frente se quisermos evitar cair de nosso caminho estreito, num morticínio de um lado ou numa devastação econômica do outro.

Se não evitarmos essas calamidades num futuro próximo, corremos o risco de mergulhar no caos mais à frente. E mesmo que conseguirmos fazer isso, não retornaremos à normalidade que até recentemente tínhamos como certa. Para isso, precisamos pelo menos esperar por uma cura ou uma vacina. Os danos econômicos e sociais durarão ainda mais.

Análise da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) esclarece a ruptura econômica que vem por aí. Esta não é uma recessão comum ou mesmo uma depressão causada por um colapso na demanda. A atividade econômica está sendo desligada, em parte porque as pessoas temem entrar em contato umas com as outras e em parte porque os governos disseram que elas precisam ficar em casa. O impacto imediato dessas ações poderá ser uma redução no PIB do G-7, o grupo das sete nações mais industrializadas, em algo entre 20% e 30%. A cada mês que grandes partes de nossas economias permanecerem fechadas, o crescimento anual poderá cair 2 pontos porcentuais.

Além disso, os custos são repartidos de forma desigual. Os trabalhadores não capacitados sofrem mais com a perda de empregos. Pessoas e empresas capazes de trabalhar online continuam trabalhando. Aqueles que não conseguem fazer isso, não.  E os custos também não são divididos igualmente em termos globais. Muitos países emergentes e em desenvolvimento estão sendo afetados pelo colapso da demanda externa, a queda nos preços das commodities e uma fuga de capital sem precedentes, ao mesmo tempo em que têm de administrar a pandemia com sistemas de saúde altamente inadequados. As quarentenas são particularmente brutais nos países com assistência social limitada ou mesmo nenhuma, e com grandes números de pessoas que subsistem com o que ganham diariamente numa economia informal frágil.

É correto perguntar se essa carnificina econômica pode ser justificada. Entre os países de alta renda, a Suécia vem adotando a postura menos restritiva. Uma comparação com a Noruega torna essa concessão clara: o desemprego vem crescendo menos na Suécia também, mas muito menos do que no país vizinho; mesmo assim, o número de mortes também é maior na SuéciaDeveríamos ser gratos pela experiência sueca. Podemos aprender com ela, de uma maneira ou de outra.

Minha opinião, porém, em linha com a dos especialistas em saúde e grandes economistas, é de que as quarentenas são necessárias para evitar um colapso dos sistemas de saúde e controlar a doença. Mas elas precisam ser breves. É impossível manter as pessoas confinadas indefinidamente sem que haja grande sofrimento e danos sociais e econômicos. Isso obviamente é verdade onde os governos são incapazes de oferecer as custosas medidas de proteção social possíveis nos países de alta renda.

As quarentenas precisam ser um espaço curto para respirar, antes de passarmos para o que um grupo de especialistas alemães chama de uma “estratégia adaptada ao risco”. Durante as quarentenas, os governos precisam fazer tudo o que for necessário para evitar essas intervenções pesadas novamente. Eles não têm muito tempo para fazer isso: uns poucos meses, não mais.

Fazer os confinamentos valerem a pena, para permitir que vivamos sem eles, é o primeiro passo essencial. O segundo passo é minimizar os danos econômicos. Aqui, o foco precisa estar no dia de hoje, e não no elevado endividamento público e outros fardos do futuro. Assim como na guerra, é preciso sobreviver ao presente se quisermos ter um futuro que valha a pena. Levando-se em conta o que é preciso fazer para gerenciar o impacto econômico devastador, além de reabrir as economias o mais rapidamente, dentro de uma maneira razoavelmente segura, há três considerações essenciais.

Primeiro, proteger os fracos, tanto dentro dos países como entre eles. Uma doença ameaça a todos. A maneira de responder é uma medida de nossos padrões éticos. É indispensável garantir uma segurança econômica básica para todos se esses não puderem trabalhar. Uma renda básica universal e temporária é uma opção óbvia. De modo parecido, e tão importante quanto, é preciso encontrar meios para apoiar economias vulneráveis. Há muitas possibilidades radicais.

Uma delas é uma nova e enorme emissão de Direitos Especiais de Saque do Fundo Monetário Internacional (FMI), com doações por países de alta renda de suas parcelas em um fundo em benefício dos países em desenvolvimento mais vulneráveis. Também crucial será uma suspensão dos pagamentos de serviços das dívidas enquanto a crise durar.

Em segundo lugar, não provocar danos. O maior golpe viria da destruição completa do sistema comercial. Isso tornaria imensamente mais difícil restabelecer a prosperidade global depois do fim da crise.

Em terceiro lugar, abandonar crenças desgastadas. Governos já desistiram de velhas regras fiscais, e com razão. Os bancos centrais também precisam fazer tudo que for preciso. Isso significa financiar o orçamento dos governos. Os bancos centrais fingem que o que eles estão fazendo é reversível e portanto não se trata de financiamento monetário. Se isso os ajudar a agir, isso é bom, mesmo que provavelmente não seja correto.

Na zona do euro, eles falam muito em eurobônus. Mas o apoio que importa terá de vir do Banco Central Europeu. Não há alternativa. Ninguém deveria se importar. Sempre há maneiras de gerenciar as consequências. Até mesmo “dinheiro jogado de helicóptero” poderia muito bem ser justificado numa crise tão profunda.

Escolhas mais dolorosas que essas surgem. Uma emergência como esta será usada por aspirantes a tiranos para aumentar seu poder. Ao mesmo tempo, algumas liberdades terão de ser deixadas de lado temporariamente. Administrar concessões tão dolorosas depende de altos graus de confiança e integridade, características pouco evidentes nas democracias de hoje. Mas o teste é agora. Os governos que não conseguirem enfrentar esses desafios correm o risco de colapsar. Sistemas políticos que produzem tais governos correm o risco de perder sua legitimidade. Precisamos acertar nos próximos passos. Tudo vai depender disso. (Tradução de Mário Zamarian)

Valor Econômico - Martin Wolf , editor e analista do Financial Times



sexta-feira, 13 de março de 2020

O ponto em que as crises se encontram - Míriam Leitão

O Globo



O ponto em que as crises se encontram

Há um ponto em que as crises se encontram e se parecem. Esta é diferente na origem, um vírus que se espalha de forma assustadora, podendo atingir uma dimensão desconhecida. A partir daí começam as semelhanças. Atividade econômica suspensa produz PIB menor. O mundo perderá crescimento e pode entrar em recessão. Mudanças bruscas em valor dos ativos produzem inúmeras consequências, principalmente se apanha o país num contrapé, que é o nosso caso. Quando a bolsa cai fortemente, isso leva à perda de riqueza que afeta todos, principalmente os pequenos investidores.

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Esta tem sido uma semana devastadora. Ontem, o dia foi de quedas tão brutais nas bolsas que os analistas pararam de comparar com 2008, mas ao colapso da bolsa em 1987, que ficou conhecido como Black Monday. No Brasil, um rápido balanço mostra o seguinte: desde o início do ano, a perda de valor de mercado chega a R$ 1,5 trilhão, segundo cálculos da Economática. Somente ontem houve recuo de R$ 489 bilhões, a maior perda diária da história da bolsa brasileira. A Petrobras já perdeu R$ 240 bilhões em valor no ano. O índice Ibovespa recuou aos 72.582 pontos e voltou ao mesmo patamar de junho de 2018.

Como nunca houve tanta pessoa física na bolsa brasileira, e os estrangeiros saíram nos últimos meses, essa perda de valor afeta diretamente a economia real. O investidor que vê uma desvalorização brusca de seus ativos ficará retraído para tudo o mais, do consumo ao crédito a investimentos com qualquer nível de risco. Assim vão se formando os canais pelos quais a oscilação das ações afeta a tomada de decisão e a economia real.

O economista Márcio Garcia, da PUC do Rio, diz que o problema é haver uma dinâmica que contamina setores e se espalha pelos países, como o próprio vírus. — O que tem que impedir é esse círculo vicioso. Esse é o maior risco, e é aí que os governos têm que atuar. Para que uma crise temporária não tenha efeitos permanentes. Empresas podem começar a quebrar por falta de caixa e receita. E aí não paga o banco, e o banco também quebra ou atrasa pagamentos. Isso aí vira uma crise grande por conta de algo que poderia ter sido temporário — afirma.

Esse é o temor em relação aos Estados Unidos porque, como disse aqui ontem o economista José Roberto Mendonça de Barros, há muitas empresas alavancadas. Com o dinheiro barato elas se endividaram por nenhuma razão importante, às vezes para comprar as próprias ações. Agora perderam valor. — Quando os preços se movem muito rapidamente acontecem dinâmicas muito perversas que têm a ver com a forma como o mercado financeiro funciona. Quem está muito alavancado perde muito — explica Garcia.

O “Financial Times” contou um exemplo: uma rede de hotéis em Nashville, Ryman, que teve em uma semana 77 mil cancelamentos de quartos/noite. Deixou de faturar US$ 40 milhões. Sua dívida foi colocada em observação para rebaixamento pela S&P. Milhões de eventos como esse estão acontecendo no mundo e no Brasil também, onde o pisca alerta só agora começa a ser ligado. O presidente Bolsonaro, que dizia que esse surto era uma fantasia propagada pela imprensa, ontem apareceu de máscara em transmissão pela internet.

O que fazer diante disso? A equipe econômica montou um gabinete de crise e apresentou algumas medidas tímidas na área, como antecipação de 13º salário de beneficiários do INSS e suspensão de provas de vida por 120 dias. Até então, só se falava em aprovação de reformas, o que não resolve, até porque o Congresso pode entrar em recesso. [talvez com o Congresso em recesso, o governo Bolsonaro fique com mais liberdade para governar sem ser boicotado.]  Há algumas boas propostas paradas, outras ainda não chegaram, outras são ruins. Mas as boas têm chance de melhorar o país estruturalmente. O que é preciso é ter ações emergenciais precisas que interrompam o espiral de queda. Mas isso dentro da realidade brasileira, um país com limites fiscais.

Márcio Garcia sugere coisas práticas como a de que o BC anuncie, como fez Ilan Goldfajn e Alexandre Tombini, em duas crises que administraram, um volume de recursos que usará para diminuir a volatilidade do dólar. Isso seria melhor do que comunicar um valor a cada dia. Sugeriu que o Tesouro recompre títulos, coisa que o Tesouro anunciou logo depois. O governo precisa sair é da receita monocórdica e explicar com que medidas pretende mitigar a crise. [o importante não é explicar, ficar prestando contas, e sim apresentar resultados que levem à recuperação da economia.]  Mas se o presidente da República entender, enfim, qual é o papel de um presidente da República numa crise já seria um grande alívio. Pelo pronunciamento dele ontem em rede nacional, não foi desta vez.

Míriam Leitão, jornalista - O Globo - Com Alvaro Gribel, de São Paulo


sábado, 26 de outubro de 2019

Chile é o teste para a região - Folha de S. Paulo

Roberto Simon

Democracia chilena oferecerá respostas à desilusão da massa?
 
Apesar da Cordilheira dos Andes e dos níveis de renda mais elevados, o Chile não está isolado e os eventos dos últimos dias —da explosão das manifestações ao pacote de medidas proposto por Sebastián Piñera— tocam em vários desafios comuns a outros países da América Latina. Um ponto, porém, merece atenção especial: se nem a mais avançada democracia latino-americana conseguir dar conta das demandas criadas por uma nova classe média, cada vez mais desiludida, é difícil imaginar quem, na região, consiga.
 
[em certas situações a 'democracia' precisa ser deixada de lado e substituída por autoridade;
 
O caso do Chile é exemplar, a desordem começou protestando contra aumento das tarifas do metrô, agora os desordeiros  já ultrapassam um milhão de pessoas e querem reformas imediatas na aposentadoria, educação e saúde - pretende conseguir, na marra, consertar em dias o que vem errado desde que os governos de esquerda (entre as quais a Bachelet, presidente do Chile por sua vez e agora alta comissária da ONU dos direitos humanos -por óbvio, vai ajudar  a consecução do desmonte,por ela iniciado, do Chile.
 
Ou o Piñera age com energia ou logo o Chile precisará de outro Pinochet - e eventual sucesso das desordens naquela País (sucesso de ações de guerrilha urbana, sempre significa o sucesso da esquerda, o fim das liberdades e a destruição de todos os valores da nação vítima.
 
Sem esquecer que a praga da revolta pode se estender a outros países da América Latina, incluindo o Brasil.]

Nos primeiros dias da crise, parecia que a corte de Maria Antonieta havia se instalado em Santiago. Na quinta-feira (17), o presidente Piñera apareceu no Financial Times dizendo que o Chile era um “oásis” numa América Latina em convulsão. 24 horas depois, em meio a confrontos no centro de Santiago, seu gabinete, no Palácio la Moneda, cheirava a gás lacrimogêneo e o sistema de transportes da capital havia sido paralisado.

Jornalistas estranharam a ausência de Piñera em uma entrevista coletiva sobre os distúrbios. Uma foto nas redes sociais revelou seu paradeiro: uma pizzaria gourmet, celebrando o aniversário da neta. Quando ficou claro que a suspensão da alta no preço do metrô seria insuficiente para desarmar os protestos, Piñera declarou que o Chile estava “em guerra”. O general a cargo do estado de emergência discordou: “sou um homem feliz, não estou em guerra contra ninguém”.

O entourage de Piñera também errava pelos jardins de Versalhes. Um de seus ministros sugeriu que, para evitar os preços mais altos do metrô na hora do rush, trabalhadores deveriam acordar mais cedo. Os manifestantes eram “uns alienígenas”, desabafou a primeira-dama em um áudio de WhatsApp, vazado à imprensa.

Na visão dos milhares nas ruas, Piñera —um dos homens mais ricos do país— e seu gabinete de gente bem vestida são a imagem perfeita de uma elite chilena que foi, de longe, a maior beneficiária do progresso das últimas décadas. Aos estudantes endividados, às famílias com renda estagnada ou aos aposentados desamparados, o Chile do 1% mais rico só existe no Instagram, junto com a crescente percepção de que eles nunca chegarão naquele país. Na terça-feira, com a contagem de mortos em dois dígitos, Piñera iniciou uma guinada política. O presidente convidou todos os partidos ao La Moneda para discutir uma solução de consenso. No Twitter, disse que “acolhia com humildade” as demandas nas ruas, pediu desculpas e lançou uma “Nova Agenda Social”.

O pacote de medidas sociais custará cerca de R$ 5 bilhões, parcialmente financiados com um aumento de cinco pontos no imposto de renda dos mais ricos. O dinheiro subsidiará aposentadorias, gastos de saúde e contas de luz. Discretamente, o governo também sinaliza que suas propostas no Congresso —incluindo uma lei tributária generosa com acionistas e a reversão de parte dos direitos trabalhistas ampliados na era Michelle— são coisas do passado.

A incapacidade inicial do governo agravou a crise, ao custo de vidas. E a “agenda social” de Piñera oferece muito menos do que pede a oposição moderada (considerando que a centro-esquerda chilena, traduzida à realidade brasileira, seria considerada centro-direita). Mas a democracia chilena parece, finalmente, estar oferecendo respostas concretas às demandas da classe média insatisfeita. É difícil imaginar uma reação política similar em outros cantos da região, incluindo no Brasil de hoje.

Roberto Simon, é diretor sênior de política do Council of the Americas - Folha de S. Paulo.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Combate à pobreza é o ponto central - Míriam Leitão


O Globo
O prêmio Nobel de Economia deixa mais evidente, para quem ainda tinha dúvidas, que o combate à pobreza é parte central do desenvolvimento econômico e não um assunto lateral e complementar. E que a questão não está separada de outras políticas públicas, porque para um país ser bem-sucedido na tarefa de reduzir o percentual de pobres precisa ter também investimentos certos em educação e saúde. Os estudos dos vencedores de ontem entram em muitas outras áreas.

O economista Abhijit Banerjee é indiano-americano, cresceu em Calcutá. Esther Duflo é franco-americana. Eles fundaram o Laboratório de Ação contra a Pobreza no MIT onde trabalham. Os dois são casados e têm diversos trabalhos juntos em economia do desenvolvimento e combate à pobreza. Michael Kremer é professor de economia do desenvolvimento e economia da saúde em Harvard e é pesquisador associado a um centro de inovação para a ação das nações sobre a pobreza. Os três se complementam, fizeram trabalhos juntos, tanto acadêmicos quanto de avaliação direta de políticas públicas. Duflos e Kremer estudaram, por exemplo, o impacto da oferta de escola secundária gratuita em Gana. Ela estudou o efeito do saneamento básico. A ideia principalmente do casal Banerjee-Duflo é usar o modelo de experimentos focalizados para estudar o combate à pobreza de forma ampla. Kremer fez inicialmente estudos no Kenya em meados dos anos 1990. Banerjee e Duflo fizeram pesquisas em Mumbai e Vadodara na Índia. Em outra análise, o casal verificou o impacto do acesso à infraestrutura no desenvolvimento da China. Esses trabalhos se transformaram no método padrão em economia do desenvolvimento.

A teoria de Kremer sustenta que as tarefas de produção executadas conjuntamente — em um ambiente em que várias pessoas com aptidões diferentes e complementares cooperam — elevam a produtividade. Essa complementariedade de aptidões seria, segundo ele, a chave da produtividade.  O comitê disse que eles juntos reestruturaram totalmente a economia do desenvolvimento e têm tido um claro impacto no combate à miséria no mundo. Principalmente “porque usam métodos de pesquisa experimental para identificar as políticas de intervenção mais efetivas para combater a pobreza”, segundo escreveu o jornal “Financial Times”.

Esther Duflo em entrevista ontem disse que o objetivo deles “é garantir que a luta contra a pobreza esteja baseada em evidências científicas”. Um dos estudos do trio mostra que apenas disponibilizar material escolar e os livros às crianças pode não ser suficiente para um bom aprendizado, que ocorre de forma mais eficiente com um ensino mais individualizado, mais feito sob medida.  Houve um tempo em que políticas de combate à pobreza não eram consideradas temas centrais na economia. 
Hoje, a economia se volta cada vez mais para a redução da pobreza e da desigualdade como forma não apenas de corrigir as distorções criadas pelo capitalismo, mas como única maneira de garantir aumento da produtividade e desenvolvimento. A escolha do Nobel de 2019 faz parte da tendência de instalar cada vez mais esse tema no centro do debate. Além disso, o comitê do prêmio ressaltou a forma com que os três sempre abordaram a questão: com métodos científicos de desenvolvimento de políticas, e com testes de avaliação da eficiência da política adotada.

O que impressiona nos três laureados ontem é a dispersão das áreas para as quais eles levaram seus estudos, que pode ser desde educação e saúde, segurança no trânsito, ação policial, saneamento, garantia de água potável, papel dos influenciadores e combate a determinados dogmas do ultraliberalismo. Em uma aula magna, chamada “aulas Tanner”, Duflo contesta a ideia de que o assistencialismo reduza a liberdade das pessoas.  Duflo é a segunda mulher a ganhar o Nobel de economia e a pessoa mais jovem laureada com o prêmio na área. Tem 46 anos. Banerjee, com 58, e Kremer com 54 anos, são também relativamente jovens para o Nobel.

Combate à pobreza é dever moral das sociedades civilizadas, mas o que os três laureados de ontem estimulam com seus trabalhos é a busca da forma mais eficiente, e cientificamente testada, de alcançar esse objetivo. E isso não por benemerência, mas sim porque essa é a questão central do desenvolvimento.

Blog da Míriam Leitão, jornalista - Com Alvaro Gribel, São Paulo - O Globo

domingo, 5 de maio de 2019

O presidente ficou nu

Cancela a festa

[decisão acertada a do presidente Bolsonaro - democrata americano e petista são coisas das quais é conveniente manter distância.]

Pouco importa se o presidente Jair Bolsonaro desistiu de ir a Nova York receber o título de “Pessoa do Ano” conferido pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Brazilcham). Na verdade, a honraria pode ficar bonita no peito do capitão, como ficou nos dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Bill Clinton, mas nada significa para o país. Tem, sim, simbologia, e serve como parâmetro para ver como cidadãos do mundo e mais especificamente dos Estados Unidos, país modelo para a primeira família, enxergam o governante brasileiro.

A série de polêmicas envolvendo a homenagem – repúdio explícito do prefeito de Nova York, Bill de Blasio, recusa do Museu de História Natural em sediar o tradicional jantar de gala para os agraciados, desistência de patrocinadores como Financial Times e Delta Airlines – feriram Bolsonaro com o seu próprio ferro, a ideologização, e no campo no qual ele se considera um craque imbatível: as redes sociais. [a recusa do presidente Bolsonaro em não comparecer a tal homenagem, foi uma resposta à altura e com vantagens os que de alguma forma não concordavam em ser nosso presidente o homenageado;
que importa ao Brasil, aos brasileiros e ao presidente Bolsonaro a  opinião dos acima destacados em itálico vermelho?
NADA.
A mesma resposta vale para os abaixo-assinado,o desprezo de produtos de empresa.]

Pregador da ideologia acima de tudo – pelo que vem mostrando até mesmo acima do Deus de sua campanha -, Bolsonaro não teve qualquer escrúpulo em usar a “ideologização da atividade” como desculpa para se ausentar do evento que acontece no próximo dia 14, no Hotel Marriott de Nova York, onde, diariamente, já se concentram manifestantes. Diga-se, convocados pelas redes. O ambiente digital também abrigou um abaixo-assinado contra a presença do presidente brasileiro, que cresceu como rastilho de pólvora. No Facebook e no Twitter, pessoas começaram a dizer que passariam a desprezar produtos de empresas que apoiassem o evento. Com nome parecido e medo de ser confundida, a Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham), estampou em seu site informação de que nada tem a ver com a encrenca.

Gente da própria Brazilcham passou a questionar se tal desgaste tinha alguma valia. No site dos organizadores, o evento não tem mais lugar de destaque, os nomes dos patrocinadores sumiram. Nas redes, uma nota oficial do Planalto tenta fazer frente a uma enxurrada de reproduções originárias dos Estados Unidos com depoimentos em áudio e vídeo do presidente, nos quais ele elogia gente inelogiável e distribui xingamentos. O que era para ser uma festa, com direito a gestos de simpatia e rasgação de seda a um presidente em que o capital apostou e que anda deixando o mesmo capital aflito, escancarou para fora dos limites nacionais traços de um perfil conhecido por aqui, mas até então de pouca importância para além das fronteiras.

Com mais de 4 milhões de seguidores no Twitter, quase 9,5 milhões no Facebook, 11,6 milhões no Instagram, Jair Messias Bolsonaro é um sucesso arrebatador nas redes sociais. Canais que, de acordo com sua crença equivocada, foram os responsáveis por sua vitória, e continuam sendo o principal eixo de sua comunicação, embora só dialoguem com os mesmos fiéis.
Competentíssimos nessas teias durante a campanha, Bolsonaro e seus ativos rebentos não têm ideia de como enfrentar o universo global da web que dissemina ao mundo o perfil histórico do presidente, sua postura obscurantista, sua intolerância e desprezo por qualquer tipo de diversidade, sua cegueira diante do meio ambiente, sua incapacidade de entender o que são os direitos humanos.
Mary Zaidan - Blog do Noblat


domingo, 17 de fevereiro de 2019

'Pragmatismo para crescer'

Jair Bolsonaro e seus ministros falam menos sobre modernização e dinamização da economia do que sobre questões ideológicas e de costumes. 

Eles deveriam ler com atenção a ata do Copom


Inflação controlada e juros baixos são condições para uma economia saudável, mas crescimento de longo prazo, com expansão segura dos negócios e do emprego, envolve muito mais que isso, como lembram os diretores do Banco Central (BC) na ata da última reunião de seu Comitê de Política Monetária (Copom). O lembrete é especialmente oportuno, porque pouco se têm mencionado metas mais ambiciosas que a arrumação do Orçamento e a reforma da Previdência. Estas são tarefas de enorme importância, sem dúvida, mas qualquer pauta econômica para o Brasil, neste momento, tem de ser muito mais ampla. O presidente Jair Bolsonaro e seus ministros continuam falando muito menos sobre modernização e dinamização da economia do que sobre questões ideológicas e de costumes.

Os desafios diante do governo são postos em adequada perspectiva na ata do Copom. As principais tarefas são tratadas em duas etapas, como deveriam ser num verdadeiro plano de governo. Primeiro ponto: a retomada econômica só ganhará maior velocidade se diminuírem as incertezas quanto aos ajustes e reformas, notadamente os de natureza fiscal. Quando houver maior segurança em relação ao conserto do Orçamento e à implementação da reforma previdenciária, os mercados proporcionarão maior impulso às atividades. Mas será preciso algo mais para o País ir além da recuperação. Isto leva ao segundo ponto: os membros do Copom destacaram também a importância de iniciativas para elevar a produtividade, proporcionar ganhos de eficiência, tornar a economia mais flexível e melhorar o ambiente de negócios. 

O presidente e sua equipe raramente se ocupam desses temas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, ocasionalmente se refere à simplificação de procedimentos, à redução de impostos e à melhora do ambiente de negócios, mas sem dar detalhes e sem explorar outros tópicos. Mesmo quando se refere a esses pontos, seu discurso é marcadamente ideológico. Numa entrevista ao jornal Financial Times, por exemplo, ele usou a palavra perestroika. Em seu discurso, a dinamização da economia brasileira parece depender de uma reestruturação semelhante à da Rússia quando se abandonou o regime soviético. A singeleza pode ser uma virtude, mas nesse caso é preocupante e um tanto assustadora. 

Não é preciso ter um doutorado em economia para perceber as enormes diferenças entre a Rússia soviética e o Brasil. Nunca houve na história da república brasileira, mesmo nas fases mais autoritárias, barbaridades comparáveis às da União Soviética. Mas também nunca houve produção científica e tecnológica nem educação fundamental semelhantes.  Educação e tecnologia são componentes fundamentais de qualquer pauta de modernização da economia brasileira, mas a relação entre escola e desenvolvimento parece continuar fora das preocupações do governo. O ministro da Educação continua aparentemente fascinado pela ideia de livrar a educação de um imaginário domínio marxista e, naturalmente, de uma perversa preocupação com questões de gênero. O ministro tem-se mostrado disposto, também, a corrigir os maus modos de uma antropofágica – em sua visão – juventude brasileira. 

A pauta indicada pelos membros do Copom tem um objetivo muito mais prosaico: elevar o potencial de crescimento da economia brasileira e aproximá-lo, portanto, dos padrões observados entre países emergentes mais dinâmicos. Isso envolve formação de capital humano, investimentos para ampliar e tornar mais eficiente a infraestrutura, incentivos à pesquisa, financiamento mais amplo e mais barato ao setor privado e integração nas cadeias globais de produção. Sem esse esforço, o Brasil estará condenado a crescer, como indicam as projeções correntes, míseros 2% ou 3% anuais. 

Ao insistir na realização de ajustes e reformas e na preservação da confiança do mercado, a equipe do Copom meramente aponta passos iniciais e indispensáveis à busca de quaisquer objetivos mais ambiciosos. O presidente e sua equipe deveriam ler com atenção a ata do Copom, um pequeno manual de pragmatismo.

Editorial - O Estado de S. Paulo


quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Fala de Bolsonaro sobre ‘livrar’ o país do socialismo repercute no mundo

O discurso do presidente Jair Bolsonaro repercutiu nas principais veículos de comunicação europeus nesta quarta-feira, 2. Praticamente todas as publicações enfatizaram a fala do novo líder da maior economia da América Latina em que cita a libertação do Brasil do socialismo.

O jornal britânico The Guardian foi um dos que mencionaram o trecho como destaque. “Suas palavras encantaram uma multidão de mais de 100 mil pessoas – muitas das quais viajaram à capital modernista para o evento, convencidas de que o populista de extrema direita pode resgatar o País conturbado da corrupção virulenta, do aumento do crime e da estagnação econômica”, mencionou o diário. No jornal britânico de economia Financial Times, a posse de Bolsonaro não recebeu qualquer menção na edição impressa desta quarta-feira nem na versão na internet.

Ainda no Reino Unido, a rede de televisão BBC repetiu algumas vezes na noite de ontem uma reportagem sobre a posse de Bolsonaro. Em seu site na internet hoje, o assunto já está fora da página principal do veículo. No material de ontem, a BBC destacou que o presidente usou seu discurso de posse para prometer a construção de uma “sociedade sem discriminação ou divisão”. O enfoque sobre o fim do socialismo no país durante o discurso do novo presidente foi dado pelo francês Le Monde. Saudando “neste dia em que as pessoas começam a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo do Estado e do politicamente correto”, o líder da extrema direita brasileira prometeu livrar o país das “ideologias nocivas” que “destroem nossas famílias”, como as da “teoria do gênero” que abomina, ou “marxismo”, que ele acredita detectar nos livros didáticos.

Garantindo às pessoas “boas” o direito de “legítima defesa”, ele novamente mencionou seu desejo de flexibilizar o mais rápido possível a lei de 2003 que proíbe o porte de armas, mostrando ao mesmo tempo sua benevolência para com os atores da defesa do agronegócio em conflito com o movimento dos sem-terra e dos povos indígenas. [os bandidos disfarçados em 'sem terras' também matam - aliás, estão sempre armados e  prontos para o confronto com os legítimos proprietários dass terras que invadem, impunemente;

os índios também são violentos e agridem - além do absurdo que representa existir reserva indígena com 50.000 hectares para apenas doze índios.]
 O também francês Le Figaro mantém o tema sem muito destaque em sua página na internet. “Jair Bolsonaro assumiu o cargo na terça-feira, abrindo uma era de ruptura com sérias incertezas em relação à mudança para a extrema direita da maior potência da América Latina.”

Já o espanhol El País enfatizou a exibição da aliança de Bolsonaro com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Bolsonaro e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aproveitaram a cerimônia para mostrar, via Twitter, sua aliança, que é uma virada ‘copernicana’ da política externa brasileira”, ressaltou o periódico. O veículo também informou que, em seu discurso de posse, o presidente evitou sua habitual crítica ao Partido dos Trabalhadores (PT) para convocar os deputados a se unirem “à missão de reconstruir o País, libertando-o do crime, da corrupção, da submissão ideológica e da irresponsabilidade econômica”.

O português Diário de Notícias, que acompanhou a transmissão do cargo ontem em tempo real, por sua vez, dá destaque à posse e salientou quatro frases do pronunciamento de Bolsonaro consideradas como “a chave” do discurso de posse: 
 1) “Este é o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da invasão de valores, do politicamente correto, do gigantismo estatal; 
2) “Temos o desafio de enfrentar a ideologia que descriminaliza bandidos, pune policiais e destrói famílias, vamos restabelecer a ordem no País”; 
3) “Esta é a nossa bandeira, que jamais será vermelha, só será vermelha se for do nosso sangue derramado para a manter verde e amarela”, e 
4) “Traremos a marca da confiança de que o governo não vai gastar mais do que arrecada, do interesse nacional, do livre mercado e da eficiência, da garantia de que as regras, os contratos e as propriedades serão respeitados.

Revista IstoÉ



quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Sem resposta simples

Vista de fora do Brasil, a onda bolsonarista desafia interpretações


Vista de Nova York, onde estou palestrando para investidores estrangeiros, a onda que levou Bolsonaro aos seus 50 milhões de votos no primeiro turno é uma jabuticaba política brasileira ou simplesmente a expressão de um fenômeno autoritário com variadas ramificações mundo afora?  Pelo menos três elementos a política brasileira tem em comum com ondas semelhantes na Ásia, Europa e Estados Unidos. Eles são: o descrédito e a desconfiança do eleitor em relação a instituições tradicionais, incluindo perda de credibilidade dos grandes órgão de imprensa; a presença de fortes redes sociais que impulsionam “outsiders”; uma situação de crise ou paralisia na economia (no caso brasileiro, a pior recessão em gerações).

Aos elementos acima teríamos de acrescentar partidos desmoralizados, sistema político destruído, e as consequências da Lava Jato como expressão de indignação e raiva que vem já desde 2013. Ou seja, aos elementos comuns a muitos países somam-se fatores domésticos de alta relevância.  O “fenômeno político Bolsonaro” atraiu enorme atenção fora do Brasil – e dificuldades de interpretação idem. O mínimo denominador comum encontrado entre publicações normalmente divergentes entre si (como The Guardian ou Economist), por exemplo, foi o de ressaltar perigos severos à democracia. A palavra “fascista” aparece em publicações como Der Spiegel, revista importante num país no qual esse vocábulo tem peso muito especial. Mesmo o Financial Times, que provavelmente tem a melhor cobertura do Brasil na grande imprensa internacional, vê na figura de Bolsonaro o prenuncio de tempos duros – a inversão de uma tendência, segundo o FT, que o Brasil também simbolizara ao sair do regime militar há mais de 30 anos.

Para comediantes da telinha americana como John Oliver, a eleição brasileira virou piada pronta, com a exibição das aberrações de propaganda eleitoral produzida por candidatos a deputado, passando por Lula na cadeia (aqui fora se acha mesmo piada que um presidiário surgisse como favorito nas pesquisas eleitorais) e chegando até algumas das frases mais contundentes de Bolsonaro – aqui, segundo o humorista, acaba a graça.

A “guerra cultural” brasileira invadiu também o espectro de opiniões nos Estados Unidos, com o reconhecendo em editorial que progressistas no mundo inteiro ingressaram em “estado de ansiedade” desde que os brasileiros deram votação tão expressiva a Bolsonaro. Mas não será o próprio eleitor brasileiro que sabe melhor que ninguém de qual candidato precisa?, indagou o WSJ.

Quanto aos investidores estrangeiros, concentrados em grande número em Nova York, a política brasileira se resume a uma pergunta: “Can he deliver?” – Bolsonaro consegue entregar o que precisa ser feito, na perspectiva de quem pretende pôr dinheiro no nosso país, ou seja, ele consegue as reformas necessárias para atacar a questão do gasto público e a recuperação da capacidade de investimento na economia?

Confesso que não consegui dar a eles uma resposta simples. É óbvio que a onda do fim de semana passado mudou bastante a política e sugere desdobramentos de alcance maior do que a capacidade de se construir maiorias para votações na Câmara dos Deputados. A onda desenha uma oportunidade que pode ser ampliada com o “capital político”, como gostam de dizer os economistas, que Bolsonaro está acumulando. Soa esperançoso? Depende para trazer resultados de uma capacidade de articulação e liderança políticas que até agora ninguém demonstrou.

William Waack -  O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Mistificação


Mistificação

Era mesmo necessário que alguém da estatura de FHC viesse a público manifestar seu repúdio contra essa campanha de desinformação da máquina lulopetista


O jornal britânico Financial Times publicou no dia 21 um artigo de Fernando Henrique Cardoso no qual o ex-presidente critica duramente seu sucessor, Lula da Silva, por enxovalhar a imagem do Brasil no exterior – a mais recente estocada foi um artigo, publicado pelo New York Times, em que o petista diz, entre outras barbaridades, que sua prisão “foi a última fase de um golpe em câmera lenta destinado a marginalizar permanentemente as forças progressistas no Brasil”.


Em resposta a essa patacoada, FHC escreveu que “a maneira que Lula da Silva escolheu para se defender perante o mundo (…) tem de ser contestada”, pois “sua versão da história recente do Brasil guarda escassa relação com a realidade”. Diz também que “o ex-presidente retrata o Brasil como uma democracia em ruínas, na qual o Estado de Direito deu lugar a medidas arbitrárias destinadas a enfraquecê-lo e a seu partido”, o que “não é verdade”.


Depois de descrever as muitas mentiras de Lula sobre o “golpe” contra a presidente Dilma Rousseff e sobre o processo que condenou o petista à cadeia, FHC afirma que “é uma grave distorção da realidade (…) dizer que há uma campanha no Brasil para perseguir indivíduos específicos” e termina com um protesto: “Meu país merece mais respeito”. Já não era sem tempo. A máquina lulopetista de agitação e propaganda, calejada depois de mais de três décadas destruindo reputações alheias e construindo a mitologia de seu morubixaba, há muito tempo trabalha para convencer a opinião pública no exterior de que o impeachment de Dilma e a prisão de Lula foram parte do tal “golpe” destinado a “reverter o progresso dos governos do PT”, como diz o caviloso artigo do chefão petista. 

Era mesmo necessário que alguém da estatura de FHC, reconhecido internacionalmente como estadista, viesse a público manifestar seu repúdio mais veemente contra essa campanha de desinformação e má-fé. Mas o fato é que o estrago está feito. O aparato da seita de Lula para desmoralizar a democracia brasileira no exterior mobilizou tantas frentes que hoje é praticamente impossível tentar conter seus danos por meios tradicionais, como a diplomacia, ou com artigos na imprensa estrangeira. São artistas, intelectuais, professores universitários e políticos de diversos países, todos convencidos de que Dilma Rousseff caiu em razão de um “golpe” e que Lula da Silva é um “preso político”. Pudera: até uma “greve de fome” os petistas deflagraram para caracterizar o “estado de exceção” brasileiro. [que valor tem a opinião dessa gentalha, desses gringos? ignorá-los e tocar a bola para a frente e manter o criminoso Lula preso e punir, tambném com cadeia, seu poste Dilma.] 

Essa campanha de desinformação não para de dar frutos. No mês passado, por exemplo, o cientista político Steven Levitski, de Harvard, autor do best-seller Como as Democracias Morrem, disse em entrevista ao Estado que o impeachment de Dilma “viola o espírito das leis” e que a exclusão de Lula da corrida presidencial “é algo perigoso a se fazer” – como se, em ambos os casos, a lei não tivesse sido seguida. [alguma coisa piorou ou melhorou para o Brasil depois que o tal Levitski expeliu suas asneiras?] 

O mesmo equívoco, mas numa dimensão muito maior, cometeu o ex-chanceler do México Jorge Castañeda. Em artigo no New York Times, intitulado Por que Lula deve ter permissão para concorrer à Presidência, Castañeda argumenta que “a causa de Lula foi endossada por muitas figuras internacionais ao redor do mundo” e sugere que seu caso se assemelha à perseguição política empreendida pelas ditaduras da Venezuela e da Nicarágua contra seus oponentes. Após dizer que impedir a candidatura de Lula seria marginalizar milhões de eleitores que querem “seu ídolo de volta à Presidência”, ele completa: “As acusações (contra Lula) são tão frágeis, os alegados crimes, tão pequenos, a sentença, tão escandalosamente desproporcional (…) que a democracia deveria se sobrepor ao Estado de Direito” – ou seja, o “desejo” dos eleitores de Lula deveria prevalecer sobre a lei. [esse Castañeda deve ter exagerado na tequila e falou bobagens. 
Ele que vá cuidar dos traficantes do México.
Em no máximo uns quatro meses o presidiário Lula estará esquecido.] 

Quando prestigiados intelectuais, alguns com boas credenciais democráticas, se deixam encantar dessa forma pelas patranhas de Lula, a ponto de abdicar da defesa do Estado de Direito – que é o pilar da democracia, pois assegura que ninguém, nem mesmo deidades como Lula, está acima da lei –, só resta esperar que a Justiça brasileira não vergue ante essa espantosa histeria coletiva.