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quarta-feira, 13 de julho de 2022

Conservadores de araque - Ana Paula Henkel

Boris Johnson anuncia sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, em Londres (07/07/2022) | Foto: James Veysey/Shutterstock
Boris Johnson anuncia sua renúncia ao cargo de primeiro-ministro do Reino Unido, em Londres (07/07/2022) | Foto: James Veysey/Shutterstock

Para aqueles que, em tempos de calmaria ou de turbulência, se inspiram em ícones da humanidade, a pandemia de coronavírus trouxe mais do que perguntas, até hoje, sem respostas. O vírus que assolou o globo trouxe a certeza de que o mundo está profundamente carente do espírito de líderes que engrandeceram as páginas dos livros de história. De tempos em tempos, nomes são elevados ao cenário político global como potenciais faróis e defensores dos legados de Winston Churchill, Ronald Reagan, Margaret Thatcher e até mesmo o papa João Paulo II. No entanto, nossa realidade não vem mostrando diálogo com nossos desesperados anseios.

A eleição do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, não foi diferente. Diante da ascensão ao cargo do comando político de uma das nações mais importantes do planeta, conservadores de todo o mundo vibraram com a possibilidade de uma correção na rota suicida que parte do mundo decidiu tomar elegendo líderes da esquerda radical globalista. Exímio estudioso e conhecedor da vida de Churchill, Johnson chegou a escrever um livro sobre a vida, o trabalho e as lições deixadas pelo líder britânico durante a Segunda Guerra Mundial: O Fator Churchill

No entanto, as similaridades com o antigo e fundamental primeiro-ministro do Reino Unido, que ajudou a libertar o mundo das garras nazistas, não vão muito além da palavra “conservador”. Boris Johnson acabou se tornando, de fato, a antítese dos caminhos tomados por Churchill. Caminhos pavimentados com ações que mostraram coragem e resiliência.

A renúncia de Boris Johnson, na quinta-feira, desnuda a hipocrisia de palavras tão usadas hoje em dia no debate raso na política como “esquerda x direita”, “conservadores x progressistas”, e assim por diante. Mas podemos ir além. A renúncia anuncia uma incerteza significativa para o Reino Unido, que desencadeará uma disputa de liderança dentro do Partido Conservador e levará a um novo primeiro-ministro em outubro, com uma provável eleição geral antecipada. Mas também expões as vísceras de líderes patéticos que se ajoelharam para a turba globalista com agendas perigosas que minam o poder dos cidadãos que não querem ver suas vidas governadas por burocratas em Bruxelas. O mandato de quase três anos de Johnson, que foi iniciado com o tão aguardado “Brexit”, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia, terminou em absoluta desordem, depois que ele ameaçou um impasse com seu partido, após a renúncia de 42 secretários que consideraram sua posição “insustentável”.

Partygate
Ministros conservadores declararam que perderam a confiança no primeiro-ministro, depois que surgiram notícias de que ele havia elevado Chris Pincher, nome de peso de seu partido, a um poderoso cargo no governo, apesar das alegações de má conduta sexual. Mas esse não foi o único escândalo com o qual o governo de Johnson teve de lidar, foi apenas o último que os ministros puderam tolerar. Os eleitores britânicos ficaram diante de eventos devastadores para o partido de Johnson, hoje apelidados pela mídia como Partygate: festas e outras reuniões de funcionários do governo e do Partido Conservador realizadas durante a pandemia em 2020 e 2021, quando as restrições de saúde pública proibiram a maioria de reuniões e aglomerações de pessoas. Enquanto vários lockdowns no país estavam em vigor, as reuniões ocorreram na residência do primeiro-ministro localizada no famoso endereço 10 Downing Street, em seu jardim e outros prédios do governo.

Os escândalos das festas foram apenas a cereja de um bolo que já estava derretendo. Para o ex-assessor de Boris Johnson, Thomas Corbett-Dillon, o primeiro-ministro “esqueceu que é conservador”. Ele afirmou nesta semana que o primeiro-ministro foi sugado por uma agenda globalista: “O resumo da história é que elegemos Boris para ser o Trump britânico, para que ele ‘abalasse’ o sistema, para que ele pudesse fazer o Brexit acontecer, seguir com as vontades do povo; mas ele foi sugado rapidamente pela agenda globalista. Johnson passou muito tempo bajulando Macron e Merkel, e esqueceu que é um conservador. Ele foi um tirano nos lockdowns e com as políticas de vacinas experimentais obrigatórias. Ele virou um ‘woke’ e, em seguida, aderiu totalmente a essa ideia da Greta Thunberg de que o mundo está acabando, e se tornou em quem os conservadores jamais votariam”.

Em 2021, Boris Johnson enfrentou resistência sobre os planos de exigir vacinações em certos locais para conter a rápida disseminação da variante Ômicron, já que dezenas de legisladores de seu próprio Partido Conservador votaram contra a medida. Apesar da rebelião de cerca de cem parlamentares conservadores, os controversos “passaportes vacinais” entraram em vigor na Inglaterra, depois que o Partido Trabalhista, de oposição, apoiou a medida. A revolta inesperada por Boris dentro do partido deixou evidente o desconforto de alguns parlamentares do Partido Conservador sobre as regras que exigiam comprovação de vacinação ou teste negativo para as pessoas acessarem boates e outros locais. Johnson também apostou em uma campanha de vacinação de reforço, afirmando — sem um dado científico — que o reforço manteria o vírus sob controle e, assim, as restrições ao mínimo.

A disseminação da já fraca variante Ômicron em 2021 mostrou que o não tão conservador Boris Johnson usou e abusou de intervenções estatais draconianas. Nas ondas anteriores da pandemia, Johnson até resistiu e adiou mais do que os líderes europeus antes de impor restrições drásticas. Mas diante do escrutínio da casta globalista da Europa — não do povo —, o agora quase ex-primeiro-ministro se ajoelhou diante da gritaria anticientífica da turma de George Soros e companhia e, contrariando qualquer página de qualquer manual conservador, ficou com medinho do que falariam dele na hora do recreio. A rebelião dentro do partido contra a postura de Johnson foi tão expressiva que legisladores conservadores disseram que queriam que o Parlamento fosse retirado do recesso de Natal, em dezembro de 2021 para examinar quaisquer novas restrições que fossem introduzidas por ele. Tudo isso acontecia enquanto Downing Street quebrava as regras de lockdowns impostas por Downing Street realizando várias festas e reuniões.

Diante dos escândalos e da renúncia de Boris Johnson, conservadores espalhados pelo mundo, dentro de suas vertentes locais, mas conectados pela espinha dorsal dos princípios do conservadorismo, agora enfrentarão certa turbulência. O Partido Conservador da Grã-Bretanha foi atingido pela crise de confiança que tomou conta do primeiro-ministro, levantando questões sobre o dano de longo prazo que seu mandato causou ao partido e ao movimento como um todo. Ele deixará para seu sucessor, a ser escolhido nas próximas semanas, um desafio hercúleo. O próximo primeiro-ministro terá de reconstruir a confiança na integridade, na honestidade e na competência dos governos conservadores, enquanto enfrenta uma crise de custo de vida que já atinge muitos de seus principais eleitores.

Em movimento contrário às projeções das eleições de midterms nos EUA em novembro, projeções que mostram que os republicanos podem tomar com certa folga a liderança na Câmara e no Senado, as dificuldades de Johnson prejudicaram a posição do partido com o eleitorado conservador. Uma pesquisa da Savanta ComRes realizada de 1º a 3 de julho mostrou que 41% das pessoas votariam hoje nos trabalhistas em uma eleição geral e 32% nos conservadores. Mas nem tudo está perdido. O Partido Conservador é, historicamente, resiliente. Formado em 1834 a partir do antigo Partido Conservador (Tory Party), eles se apegarão no fato de o partido ser o mais antigo ainda existente, tendo seu principal pilar estabelecido na capacidade de se adaptar às mudanças do sentimento público e na sua eficiência em remover líderes que não têm mais a confiança do partido e dos eleitores em geral.

Vernon Bogdanor, cientista político e historiador, afirma que muitos dentro e fora do partido acham que a deposição de Johnson aumentará as perspectivas do partido nas próximas eleições gerais, que devem ser realizadas até o fim de 2024: “Na minha opinião, a mudança melhorará enormemente as chances dos conservadores nas próximas eleições”, diz o professor do King’s College London. Bogdanor defende a ideia de que, embora os oponentes do partido argumentem que os conservadores estão no poder desde 2010 e que a mudança é necessária, há um precedente para mudar um líder após um longo período no cargo e vencer uma eleição subsequente. Quando Margaret Thatcher foi destituída, em 1990, após 11 anos no poder, por exemplo, seu sucessor, John Major, obteve uma vitória surpreendente em 1992 em meio a uma recessão.

Assim como nos EUA, os conservadores representam uma ampla gama de opiniões dentro do partido. Na centro-direita, a tenda política abrange os que querem cortes de impostos radicais com os que competem com conservadores fiscais, comerciantes livres com protecionistas, liberais sociais com tradicionalistas e uma facção anti-União Europeia com aqueles que gostariam de consertar as relações com o bloco. O grande sucesso eleitoral de Johnson foi combinar o apoio ao seu partido em áreas suburbanas e rurais tradicionais com incursões em áreas pós-industriais onde o Partido Trabalhista dominava havia muito tempo. O que será crítico na corrida para seu sucesso serão a integridade e a reparação do dano à marca que o partido sofreu. E, embora a disputa pela liderança possa prejudicar o partido aos olhos do público, isso não é nada comparado ao dano que teria sido causado se Johnson tivesse permanecido no cargo.

Para o ex-líder do partido do Brexit, Nigel Farage, a renúncia de Boris Johnson como primeiro-ministro britânico estimulará uma “batalha pela alma do conservadorismo” no Reino Unido: “Eu acho que o que vai acontecer agora é que vai haver uma batalha pela alma do conservadorismo neste país. Johnson foi eleito como conservador, mas governou como progressista, com compromissos maciços com a agenda globalista ambiental e irreal, aumentou os impostos, aumentou o tamanho do Estado… Para muitos conservadores tradicionais, ele era irreconhecível como conservador, e agora ele terá aquela ala do Partido Conservador que era efetivamente dos sociais-democratas contra os conservadores mais tradicionais. E essa será a batalha. Eu simplesmente não sei o que pode acontecer. Tudo o que sei é que, se eu olhar para o mundo ocidental, seja na América, seja na Grã-Bretanha, Austrália, qualquer lugar, quando os partidos conservadores deixam de ser conservadores, eles perdem eleições. Acredito que este é um grande momento para o conservadorismo britânico. Haverá uma grande batalha de ideias nos próximos meses”. Apesar da grande crise, Farage é otimista: “Substituir Johnson também será uma oportunidade maravilhosa para o Partido Conservador redescobrir seu propósito. O fim do mandato de Boris Johnson como primeiro-ministro não é um desastre para o movimento conservador. É uma grande oportunidade e deve ser agarrada com as duas mãos”.

A figura de Boris Johnson é emblemática e hoje não é difícil apontar aqueles que usam as caixinhas ideológicas para vencer eleições, mas traem seus eleitores assim que estão no poder. Na teoria, querem ser Winston Churchill, mas não passam de um patético Justin Trudeau. Até no Brasil testemunhamos alguns que abusaram do crachá de conservador ou liberal, mas que administraram como verdadeiros globalistas com sua agenda devoradora de liberdades. Depois de serem destronados pela opinião pública, eles precisam admitir a saída da vida pública e a volta para a privada. Faz sentido.

Leia também “A nova histeria da esquerda”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 13 de maio de 2022

Duas mil mulas - Revista Oeste

Rodrigo Constantino

Milhões de norte-americanos alimentam a sensação de que algo esquisito e fraudulento aconteceu para que Joe Biden fosse eleito com mais voto do que Obama

Você pode acreditar que um senador com meio século de vida política apagada se tornou o mais popular presidente dos Estados Unidos, fazendo sua campanha basicamente escondido num porão, ou você pode desconfiar que algo muito estranho aconteceu nas últimas eleições norte-americanas. Milhões de norte-americanos alimentam a sensação de que algo esquisito e fraudulento aconteceu para que Joe Biden fosse eleito com mais voto do que Obama, mas, na falta de provas concretas, e com o enorme esforço da imprensa e das redes sociais para abafar os questionamentos e os debates, muitos preferiram seguir adiante com ar de normalidade.

Donald Trump e Joe Biden | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Donald Trump e Joe Biden | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

 Não foi o que fez Dinesh D’Souza, um acadêmico indo-norte-americano conservador. D’Souza é autor de vários livros importantes, entre eles uma biografia de Ronald Reagan e A Grande Mentira, um livro que mostra como a esquerda “progressista” foi quem flertou com ideias eugenistas e nazistas no passado, sem qualquer mudança essencial com o tempo. Dinesh também foi o autor de um documentário expondo quem é Hillary Clinton, e desta vez ele mergulhou justamente no escândalo das eleições. O resultado é o documentário 2000 Mules, que é simplesmente de cair o queixo!

O documentário tem gerado grande repercussão nos Estados Unidos, mas será completamente ignorado no Brasil. A tática tem sido rotular qualquer um que aponta para indícios suspeitos nas eleições como um teórico da conspiração com “chapéu de alumínio”. Fazer isso é mais fácil do que rebater os fatos incômodos que já foram levantados. E o documentário teve acesso ao incrível trabalho de inteligência do True The Vote, uma organização criada para monitorar a lisura dos processos eleitorais no país.

Sua missão é clara: “Nossos processos eleitorais são vulneráveis ​​do começo ao fim — e essas vulnerabilidades estão sendo exploradas por grupos que subvertem nossas eleições para servir a seus próprios propósitos. A melhor maneira de proteger os direitos dos eleitores é equipar os cidadãos para o serviço. Isso é o que fazemos. Agora, isso é o que você pode fazer também”. A entidade teve acesso a milhões de horas de câmeras de segurança, assim como sinais de telefones celulares obtidos por empresas de marketing, e conseguiu traçar uma fórmula para filtrar atitudes extremamente suspeitas em relação aos votos por correio.

Vale a pena lembrar que a pandemia, um “presente de Deus para a esquerda”, segundo a atriz Jane Fonda, serviu como pretexto para que um advogado democrata sugerisse mudanças nas regras, para permitir uma quantidade espantosa e sem precedentes de votos por correio nas últimas eleições. O que era uma exceção para casos atípicos virou algo banal, com dezenas de milhões de votos sendo enviados pelas caixas de correio espalhadas pelo país. É aqui que a fraude provavelmente rolou solta, como se pode verificar no filme.

Os analistas criaram um filtro bem exigente para acompanhar somente os casos mais suspeitos: era preciso que o indivíduo, por meio do rastreamento de seu celular, tivesse frequentado ao menos dez caixas de correio num único condado em poucos dias, e também passado por organizações não governamentais responsáveis pela compilação dos votos por correios. Que tipo de gente circula em alguns dias por várias zonas de caixas de correio para votos na madrugada, por exemplo? Isso só pode ser atividade criminosa.

A tese central do documentário é que essas “mulas” depositaram em média cinco votos por cada caixa de correio

A “colheita” de votos foi algo impressionante nessa eleição, e um partido como o Democrata, com sua máquina bilionária por trás, gastou muito dinheiro para correr atrás de eleitores que nem sequer pretendiam votar. Mas essa é a parte legal do processo. O que o documentário mostra é que a coisa não ficou só nisso, mas, sim, em “mulas” agindo para forjar votos, para conseguir votar no lugar de quem nem existe mais ou não mora mais naquele Estado. Eles agiram como as “mulas” do tráfico de drogas, distribuindo o produto ilegal e recebendo por isso. As imagens das câmeras de segurança são inquietantes!

A tese central do documentário, com base nessa quantidade imensa de dados digitais, é que essas “mulas” depositaram em média cinco votos por cada caixa de correio, visitando dezenas de caixas durante o período eleitoral. E fizeram isso nos Estados chamados de swing”, aqueles que não são claramente nem azuis (democratas) nem vermelhos (republicanos), ou seja, onde uma quantidade relativamente pequena de votos pode mudar o resultado final. A responsável pela pesquisa não afirma que são todos votos falsos, fraudados, mas o que vem à tona é extremamente comprometedor e para lá de suspeito, para dizer o mínimo.

Dinesh D’Souza reuniu um seleto grupo de republicanos, como Larry Elder, Charles Kirk e Dennis Prager, e muitos eram céticos ou agnósticos quanto a um esquema enorme de fraude capaz de efetivamente alterar o resultado. Após o que viram, todos ficaram estarrecidos e convencidos de que se trata de uma bomba, um escândalo de enorme proporção, que precisa ser investigado a fundo pelas autoridades competentes.

Ben Shapiro viu o documentário, recomendou-o para quem se interessa pelo assunto, mas não se mostrou totalmente convencido de que se trata de prova de fraude. Para ele há prova de um modelo muito falho e suspeito, mas que não encerra o assunto. Algumas agências de checagem questionam a precisão da localização por celular, que pode ter imprecisão de alguns metros. Elas também alegaram que pode tratar-se de gente que dirige por certo trajeto com várias caixas de correio, mas os pesquisadores evitaram esse problema utilizando apenas quem mudou de comportamento durante o período eleitoral. Por fim, alguns admitem a possibilidade de algumas fraudes, mas questionam se elas foram suficientes para virar o resultado eleitoral.

Algumas questões permanecem em aberto. Faltou o documentário mostrar, nas imagens das câmeras, uma mesma pessoa indo em várias caixas de correio, o que certamente seria a prova de um crime. Não obstante, as imagens que temos são chocantes. Por que uma mulher colocaria os votos na caixa usando uma luva, e logo em seguida jogaria as luvas no lixo? 
Por que algumas pessoas tiraram fotos da caixa do correio quando depositaram os votos? 
Mostrar para seus familiares? 
Ou é mais crível achar que estavam comprovando o serviço pelo qual teriam sido pagas? 
São comportamentos esquisitos demais, com certeza.

Em suma, o documentário pode dar alguns saltos das premissas para as conclusões que demandam mais explicações e dados, tendo deixado alguns nós desatados no caminho. Mas a simples rejeição da esquerda como teoria conspiratória, sem lidar com os dados que efetivamente foram divulgados e que por si só já são bem suspeitos, mostra a total falta de interesse em investigar mais a fundo a questão. Isso sem falar do esforço democrata para não instituir medidas mais rigorosas para verificar a identidade do eleitor. Ao contrário: o próprio Biden chama de “racista” quem demanda maior transparência!

Com base no filme, não é possível afirmar peremptoriamente que houve fraude em larga escala capaz de modificar o resultado eleitoral a favor de Biden, mas é perfeitamente razoável constatar que coisas muito estranhas aconteceram. E mais estranha ainda é a postura da esquerda diante disso, o que só alimenta as suspeitas de fraude.

Leia também “O resgate do federalismo”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste

 


segunda-feira, 18 de abril de 2022

Liberdade cristã - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino

Estamos em época de Semana Santa, então creio que seja adequada uma reflexão sobre a importância da fé cristã para a liberdade. O historiador Rodney Stark, em A Vitória da Razão, resume bem: “O sucesso do Ocidente, incluindo a ascensão da ciência, repousa inteiramente sobre fundações religiosas, e as pessoas que o tornaram possível eram cristãs devotas”. Tocqueville estaria de acordo. Muitos revisionistas, porém, tentam separar o legado ocidental de sua raiz cristã, num esforço ideológico que distorce a realidade.

O próprio conceito de liberdade, nesse ambiente dominado pelo iluminismo, tem sido subvertido por uma ideia de libertinagem, que aproxima os seres humanos de animais irracionais. É como se “dar vazão” aos impulsos mais primitivos fosse o ápice da liberdade, o que não faz qualquer sentido. O homem livre, no sentido cristão, é livre dentro de um contexto divino, em relação com o próximo, e não uma ilha separada do restante.

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Quem defendeu muito bem esse sentido da liberdade foi o papa João Paulo II, que, ao lado de Ronald Reagan e Margareth Thatcher, formou o trio heroico no combate ao comunismo soviético, a “essência do mal” materialista. O papa e Reagan sofreram atentados que quase os mataram numa distância de apenas seis semanas, e esses eventos marcaram muito suas vidas, assim como a crença inabalável de que sobreviveram por um “plano divino” para agir contra esse mal. E assim o fizeram.

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Para ambos, liberdade não era “ser deixado em paz” apenas, mas sim uma liberdade atrelada ao sentimento de fé. A dignidade humana vinha dessa noção de vida sagrada feita à imagem de Deus, e o comunismo ateu era o seu oposto. Tanto o papa católico como o presidente protestante se enxergaram, com humildade, como parte de um desígnio divino, como instrumentos de uma causa maior e mais nobre. Essa crença fez toda a diferença em suas atitudes corajosas para enfrentar o inimigo totalitário.

Ambos foram atores antes de assumir as novas posições. E as ações do ator carregam significado. Karol Wojtyła e Ronald Reagan entenderam isso. Ao se posicionar contra o comunismo, eles repetidamente transmitiram uma verdade interna com uma ação externa. Ambos eram contra o individualismo radical e o coletivismo. A liberdade, para eles, não é apenas o que eu quero fazer. A liberdade é uma questão de fazer a coisa certa e fazer isso como uma questão de hábito. Essa seria uma liberdade genuinamente humana.

A liberdade não deve ser tratada como o fim supremo; o fim mais elevado, ou virtude, é como se age com o dom dessa liberdade. Uma liberdade com propósito elevado, eis o segredo. “A única liberdade verdadeira, a única liberdade que pode realmente satisfazer, é a liberdade de fazer o que devemos como seres humanos criados por Deus de acordo com seu plano”, disse o papa. Reagan estaria de acordo. Aprendizado, fé e liberdade: cada um reforça os outros, cada um torna os outros possíveis. Pois o que eles são um sem o outro?

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

domingo, 13 de março de 2022

Uma tragédia anunciada - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Em apenas 14 meses, a esquerda norte-americana conseguiu o que queria. Como tudo em que mete a mão, o caos

Em 20 de janeiro de 2021, Joe Biden tomou posse na Casa Branca como 46º presidente dos Estados Unidos. Mas não foi apenas o ex-vice de Barack Obama que passou a segurar as rédeas da nação mais poderosa no mundo (até quando, não sabemos…) naquele dia
A esquerda radical norte-americana, representada pelo atual Partido Democrata, também conseguiu o controle da maioria nas duas Casas legislativas do Congresso norte-americano. Joe Biden foi empacotado com o verniz da normalidade democrata moderada dos anos 1990 para, na verdade, forçar uma agenda da extrema esquerda. Para isso, foi preciso um esforço conjunto para empurrar para fora do caminho a reeleição do 45º presidente, Donald Trump, o malvadão do século que mexeu com uma geração hedonista e incapaz de enxergar ações e políticas, apenas sentimentos.
O presidente Joe Biden, a vice Kamala Harris e Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos | Foto: Wikimedia Commons
O presidente Joe Biden, a vice Kamala Harris e Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos -  Foto: Wikimedia Commons [trio mais conhecido no submundo da INcompetência como Trio Parada Dura.]

Durante quatro anos, de 2016 a 2020, vimos ações tirânicas, como perseguições e censura, que jamais poderíamos imaginar na América de hoje. Instituições financeiras e econômicas, culturais e de entretenimento e quase toda a mídia desempenharam vários papéis para ver o ex-presidente Donald Trump não apenas derrotado, mas também empurrado para dois processos de impeachment, para depois ser banido das redes sociais e descartado como persona non grata após o fatídico 6 de janeiro. 
Depois de meses de investigações sobre a invasão do Capitólio, nenhuma prova contra Donald Trump foi encontrada e qualquer participação do republicano no incidente foi descartada. Mesmo assim, até hoje há uma resiliência quase olímpica por parte dos democratas em associar a confusão na capital norte-americana ao ex-presidente.
 
Mas, em 20 de janeiro de 2021, não houve apenas uma troca de políticos de partidos distintos numa democracia saudável.  
Houve uma histeria quase bizarra por parte de acadêmicos renomados, grandes corporações, toda a casta de Hollywood, a mídia norte-americana, equipes esportivas profissionais, Wall Street, o Vale do Silício e um número inacreditável de jovens desmiolados que pedem a implementação do socialismo na América. Em comum? 
Todos se gabavam da derrota da “supremacia branca”, juraram que fizeram o que fizeram “para salvar a democracia”, e orgulhosos estavam em fazer parte de legiões de czares da “diversidade, equidade, inclusão e justiça social”. Ahh… a partir daquele momento, a teoria racial crítica seria incorporada para extirpar o racismo e a discriminação endêmicos. Como? Abraçando o racismo e a discriminação.

Os novos guerreiros da justiça social
Com a nova administração voltada apenas para o “bem comum” (não de todos), alguns tipos de crimes deveriam ser vistos principalmente como uma construção criada pela elite para proteger seus próprios privilégios patriarcais, suas prerrogativas opressoras e suas propriedades. Furtos em lojas, saques, baderna e bandidos nas ruas passaram a ser apenas parte da vida normal em uma cidade normal. Os novos guerreiros da justiça social também poderiam substituir a polícia, que passaria a não ter recursos nem investimentos (defund de police), porque são racistas. A maioria das políticas para abordagem policial, encarceramento ou prisão obrigatória deixaria de existir porque criminosos são “vítimas da sociedade”.

A partir de janeiro de 2021, as agendas verdes irreais dos ecochatos transformariam fundamentalmente os Estados Unidos, ao colocar um fim imediato nas “mudanças climáticas” provocadas pelo homem com o início do banimento definitivo dos combustíveis fósseis. Os amantes cegos da teoria monetária moderna nos asseguraram que imprimir dinheiro “espalharia a riqueza” e desvalorizaria as moedas de capitalistas indignos que tinham muito dinheiro. Afinal, para eles, imprimir mais dinheiro jogaria o dinheiro do rico nas mãos dos injustiçados. Inflação? Calma. Ela seria uma boa coisa à medida que aparecesse, um sinal de uma classe de consumidores robusta e recém-empoderada, a que há muito tempo é negada “equidade” pelos capitalistas egoístas.

A partir de janeiro de 2021, a fronteira seria aberta e permaneceria aberta para imigrantes ilegais. Chega de xenofobia. Chega de muros. Como cidadãos do mundo, a esquerda norte-americana acolheu 2 milhões de imigrantes que chegaram ilegalmente aos EUA sem nenhum documento ou comprovante de vacinas durante uma pandemia, enquanto membros das Forças Armadas norte-americanas foram ameaçados de expulsão se não tomassem a picada.

À medida que os radicais da extrema esquerda apavoravam toda uma nação e obrigavam os raros democratas moderados a se esconderem, toda a velha sabedoria sobre a natureza humana desapareceu. Esqueça a obviedade de que criminosos soltos prejudicam mais os pobres, e que a falta de polícia nas ruas é um pesadelo para as comunidades menos favorecidas. Descarte a ideia boba de Martin Luther King Jr. de que nosso caráter, não nossa cor, determina quem somos. E, por favor, ignore a ideia ultrapassada de que inflação corrói os salários da classe trabalhadora. Isso tudo é coisa de gente atrasada.

O retrato de um governo inepto
Mas o que está ruim sempre pode piorar. As cenas no Afeganistão, retrato de um inepto governo, visto poucas vezes dessa maneira na história norte-americana, trouxe à vida monstros maiores. Não podemos afirmar com absoluta certeza que esse pesadelo Ucrânia/Rússia não aconteceria se tivéssemos um presidente forte na Casa Branca, mas fato é que a fraqueza muitas vezes é um convite à agressão, como diria o próprio Ronald Reagan. 
E Biden não pôde escapar do fiasco no Afeganistão. Os militares afegãos treinados pelos norte-americanos nos últimos 20 anos, que sofreram milhares de baixas anteriores, evaporaram em poucas horas no cerco a Cabul, em agosto de 2021. 
O que o Afeganistão indica, no entanto, é que forças mais poderosas do que o Talibã, em lugares muito mais estratégicos, têm sinal verde para avançar, visto que a Casa Branca hoje é apenas uma administração ideológica, mas previsivelmente incompetente, com um Pentágono e comunidades de Inteligência politicamente armadas preocupados com a diversidade e políticas de gênero.

Não vou ser repetitiva aqui sobre as catastróficas políticas de Joe Biden, domésticas e internacionais, em apenas 14 meses. Há mais de um ano venho escrevendo aqui em Oeste sobre não apenas o que leio, pesquiso e estudo, mas o que testemunho in loco: os resultados das irresponsáveis políticas da esquerda radical norte-americana que são capazes de arruinar um Estado lindo e rico como a Califórnia, onde resido.

E o que os eleitores democratas descobriram após 14 meses de Biden e Harris, além da incompetência na área da segurança doméstica e internacional? Que eles desprezam a inflação tanto quanto a recessão, e temem que agora possam obter ambas. As pessoas querem gasolina mais barata, não mais cara. Elas preferem a autossuficiência energética norte-americana, e não ter de implorar a países como Venezuela e Irã para bombear mais petróleo quando a independência foi atingida nos anos anteriores.

Os democratas podem sofrer perdas históricas nas eleições de midterms em novembro.  
Esse desastre para o partido acontecerá não apenas por causa do desastre no Afeganistão, da invasão da Ucrânia pelo presidente russo, Vladimir Putin, da destruição da fronteira sul, da confusão da cadeia de suprimentos ou de seu apoio à demagoga agenda racial e de gênero. 
 A bala de prata que pode ceifar a maioria democrata em ambas as Casas legislativas e causar o aniquilamento político em novembro tem um nome odiado pelos norte-americanos, e com razão: a inflação descontrolada.

Os “novos direitos de redistribuição”
Joe Biden insiste em dizer que os preços ao consumidor estão subindo “apenas” a uma taxa anual de 7,9%, como se o maior aumento em 40 anos não fosse tão ruim assim. No entanto, a classe média sabe que a inflação é muito pior quando se trata das coisas da vida: comprar uma casa, carro, gasolina, carne, grãos, madeira ou materiais de construção. A inflação é um destruidor de oportunidades iguais de sonhos. Ela mina ricos e pobres, democratas e republicanos, conservadores e liberais (EUA). Ela une todas as tribos e ideologias contra aqueles que são nomeados como os que teriam dado à luz o polvo monstruoso cheio de tentáculos e que espreme tudo e todos. A inflação é onipresente, onipotente e humilhante. Destrói a dignidade pessoal. Ao contrário da estúpida teoria racial crítica ou das abjetas políticas de gênero, ela não pode ser evitada por um dia sequer. Você não pode ignorá-la como se faz com a irresponsável bagunça no Afeganistão ou na agora inexistente fronteira sul. A inflação ataca a todos, 24 horas por dia, sete dias por semana, em 360 graus. Sem piedade ou lente racial ou ideológica.

Biden reduziu os Estados Unidos a um mendigo de energia implorando aos sauditas e russos que bombeassem mais petróleo

Acima de pontos econômicos negativos que uma inflação sem controle pode trazer, há a esfera filosófica de uma nação que tem em sua genética a cooperação humana. A inflação como a atual nos EUA é vista como uma mina perigosa para uma sociedade civil e ordenada, desencadeando um egoísmo “cada um por si”. Os norte-americanos sabem que essa inflação é autoinduzida, não um produto de uma guerra no exterior, um terremoto ou o esgotamento dos depósitos de gás e petróleo. Biden ignorou a onda natural de compras inflacionárias de consumidores que foram desacorrentados dos lockdowns por quase dois anos sem poder gastar. Em vez disso, ele incentivou a saciar essa enorme demanda imprimindo trilhões de dólares em dinheiro falso para todos os tipos de “novos direitos de redistribuição”, projetos “verdes” irreais e programas de congressistas de estimação preocupados com uma agenda desconectada da realidade.

O governo Biden corroeu a ética do trabalho norte-americano. Isso é grave e os norte-americanos sabem disso. Manteve altas as taxas de trabalhadores fora dos postos de trabalho com cheques federais para que ficassem em casa. Cortou sem o menor debate a produção de gás e petróleo cancelando arrendamentos federais, campos petrolíferos e oleodutos, enquanto pressionava os bancos a não liberar capital para o fracking. Em apenas um ano, Biden reduziu os Estados Unidos de maior produtor de gás e petróleo da história da civilização a um mendigo de energia implorando aos sauditas e russos que bombeassem mais petróleo porque os Estados Unidos precisam, embora não extraiam para si mesmos de suas fontes.

Os norte-americanos sabem que o polvo da inflação não nasceu voluntariamente. A única dúvida é se essa administração desencadeou esse cenário por incompetência; se tudo é uma ideia neossocialista: corroer o valor da moeda para aqueles que têm dinheiro, enquanto distribuem capital para quem não tem; ou se Biden foi iludido pela “teoria monetária moderna” maluca, o ouro dos tolos que afirmam que imprimir dinheiro garante prosperidade.

Bem, então, o que as pessoas estão concluindo 14 meses depois que a esquerda radical norte-americana promoveu uma agenda de bondades para realizar seus desejos? As pesquisas revelam que os eleitores não gostam de fronteiras abertas, principalmente os latinos que estão legalmente no país. Está claro como a luz do dia que eles desaprovam a imigração ilegal tanto quanto apoiam os imigrantes legais; que os norte-americanos estão preocupados com o aumento dos índices criminais e com o aumento da circulação de drogas; e que eles não querem mais saber da palhaçada segregacionista de agendas raciais e de gênero.

No final, não importa se Biden foi iludido, é apenas mais uma criatura do establishment norte-americano ou se é diabólico como a espinha dorsal do atual Partido Democrata. Em apenas 14 meses, a esquerda conseguiu o que queria. Como tudo em que mete a mão, o caos. E as pessoas não estão apenas cansadas do que estão vendo, mas enojadas. Os norte-americanos estão apavorados que a esquerda não esteja apenas falhando, mas também destruindo o país com eles junto.

A história nos deixa adágios para a crescente raiva do povo norte-americano contra a esquerda arrogante, vil, tirânica e perigosa. O ditado norte-americano diz: What comes around, goes around, ou, no bom português, “Você colhe o que planta”.

Como diria um republicano a um brasileiro perto de eleições: Hey, Brazil, are you watching this?”

Leia também “Os negros e o Partido Republicano”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 7 de março de 2022

Debochando da tirania - Caio Coppolla

Revista Oeste

Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos | Foto: Wikimedia Commons
Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos | Foto: Wikimedia Commons

Enquanto isso, nos Estados Unidos, um carismático presidente republicano desfruta seus últimos meses de (segundo) mandato. Seu nome é Ronald Reagan, um expoente do conservadorismo norte-americano, que está prestes a eleger seu sucessor.

Mr. President se dirige a uma plateia de operários da indústria metalúrgica em Richmond, Virgínia — está jogando em casa: durante seu governo, houve drástica redução de impostos, o país cresceu 3,6% ao ano, o desemprego caiu e a renda média anual das famílias norte-americanas aumentou cerca de U$ 4.500. Sorridente, Reagan fala sobre seu novo hobby aos trabalhadores na plateia:

“Tenho colecionado histórias que são contadas na União Soviética pelas pessoas de lá e que revelam seu ótimo senso de humor, mas também uma postura um tanto cínica quanto ao seu sistema [político-econômico].

Feita a introdução — e a insinuação acertada de que o socialismo estava ruindo por dentro, criticado e caçoado pela própria população russa —, o presidente arranca gargalhadas ao acrescentar:

“Não contei essa pro Gorbachev [Mikhail Gorbachev, secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e chefe de Estado da URSS]”.

Nesse ponto, Reagan traz um dado que cala fundo na alma da audiência, movida pelo sonho norte-americano de prosperidade, liberdade e busca pela felicidade: “Na União Soviética, há uma espera de dez anos para entrega de um automóvel e apenas uma em cada sete famílias possui um carro [nos EUA de 1988, a média era de dois veículos por domicílio]. Quando você está pronto pra comprar, passa por um processo e, então, precisa adiantar o pagamento”uma década antes de receber o veículo! Reagan segue com a anedota:

Um homem entregou seu dinheiro e o camarada encarregado disse:

— ‘Ok, volte aqui em dez anos e retire seu carro’.

— ‘De manhã ou de tarde?’ — perguntou o homem.

— ‘É daqui a dez anos, que diferença faz?’ — replicou o camarada.

E o homem explicou: ‘É que o encanador vai vir de manhã’ naquele momento, cada funcionário da fábrica ri e aplaude seu presidente com entusiasmo, cioso dos benefícios incomparáveis do modo de vida norte-americano lastreado no capitalismo e na democracia.

Reagan também usava seu humor para expor a hipocrisia inerente à utopia socialista: o regime limitava as liberdades e as oportunidades do seu povo sob pretexto de proporcionar igualdade e justiça social, mas os integrantes da administração estatal e da elite política eram beneficiados com luxo e privilégios inacessíveis à população. A temática do carro — símbolo da cultura norte-americana, que materializava a autonomia individual e a propriedade privada — também aparece em outras soviet jokes clássicas do então commander in chief:

A maior parte dos automóveis [na URSS] é dirigida por burocratas, o governo providencia carros e motoristas e a coisa toda.

Eis que uma ordem foi dada à polícia para que todos os motoristas flagrados acima da velocidade permitida fossem multados, não importa quem fossem.

Um dia, Gorbachev estava na sua casa de campo, com limusine e motorista à disposição. Muito atrasado pra chegar ao Kremlin, ele pediu ao chofer que fosse pro banco de trás, porque ele ia dirigindo — e assim foi feito.

No caminho, passaram acelerando por dois policiais de motocicleta e um deles foi logo atrás do veículo para interceptá-lo e penalizá-lo. Quando o policial voltou, seu parceiro perguntou:

— ‘E aí, você o multou?’

E o policial respondeu: ‘Não’.

— ‘Por que não?’

‘Ah’ — suspirou o policial —, ‘eles eram muito importantes.’

— ‘Mas nós fomos instruídos a multar qualquer pessoa’ — insistiu o parceiro.

O policial nem se abalou: ‘Não… eu não poderia… não esse sujeito’.

— ‘Como assim? Quem é ele?’ — questionou o parceiro curioso.

Eu não sei’ — admitiu o policial — ‘mas seu motorista é o Gorbachev!’ — mais risos, mais palmas… E assim, com leveza e destreza, Reagan explorava a ideia de que toda piada tem um fundo de verdade e trazia para os estertores da Guerra Fria o velho brocardo latino ridendo castigat moris: é rindo que se corrigem os costumes.

O cão Americano disse que, nos EUA, você precisava latir muito pra ganhar um pedaço de carne. O cão Polonês perguntou: ‘O que é carne?’; e o Russo: ‘O que é latir?’

Além de pontuar, com gentileza e espirituosidade, os vícios econômicos da URSS — como desabastecimento de produtos, instabilidade de cadeias de suprimento, ausência de concorrência, desincentivo à inovação e diversificação, falta de mobilidade social etc. —, Reagan também lançava mão do humor para abordar tópicos mais delicados, relacionados aos direitos fundamentais prestigiados pela democracia liberal, mas reprimidos pelo socialismo autoritário, como é o caso da liberdade de expressão, de crítica e de manifestação política:

Um Americano e um Russo discutiam sobre seus países. O Americano disse: “No meu país, eu posso entrar no Salão Oval, bater na mesa e dizer: ‘Sr. Presidente, eu não gosto da forma como você conduz nosso país’”.

Mas o Russo rebateu: “Eu também posso fazer isso”.

— “Pode mesmo?” — insistiu o Americano.

“Claro que sim”, explicou o Russo: “Eu posso ir ao Kremlin, entrar no escritório do camarada Gorbachev, bater na sua mesa e dizer: ‘Sr. secretário-geral, eu não gosto da forma como o presidente Reagan está conduzindo os EUA’”.

Ao que consta, este último causo foi compartilhado com Gorbachev, “e ele riu!”, relatava Reagan com indisfarçável satisfação, implicando sutilmente as próprias lideranças soviéticas na sua crítica bem-humorada ao socialismo. Para mensagens mais incisivas, o presidente norte-americano fazia uso da prosopopeia, diluindo o peso das suas palavras em personagens não humanas:

Um cachorro Americano, um cachorro Polonês e um cachorro Russo se encontraram. O cão Americano descreveu sua vida nos Estados Unidos: ‘Sabe como é, você late, você tem que latir. E depois de latir por um tempo, aí aparece alguém e te dá um pedaço de carne’.

O cão Polonês perguntou: ‘O que é carne?’

E o cão Russo: ‘O que é latir?’

Essa anedota dos cachorros nos leva a refletir sobre as mazelas enfrentadas pelos Estados sob domínio da URSS. Nações com sua própria história, idioma e identidade cultural submetidos, por décadas, a um sistema totalitário que trouxe sofrimento por onde passou. A Polônia, do velho cão soviético faminto, é país-membro da União Europeia desde 2004 e tem seus indicadores de desenvolvimento humano em alta — seus cachorros podem latir sem medo de represália, há várias opções de proteína e muitos deles são adestrados em nível superior… Não é mais uma vida de cão. Muito desse desenvolvimento deve-se ao trabalho de vida daquele simpático político norte-americano que entendeu, entre tantas outras coisas, o poder do deboche à tirania. Zombemos deles, sempre que possível.

Até porque, como disse o ex-senador republicano Alan Simpson em uma bela homenagem póstuma a George Bush pai, sucessor de Ronald Reagan na Presidência norte-americana:

“Humor is the universal solvent against the abrasive elements of life” — o humor é o solvente universal contra os elementos abrasivos da vida. 

Leia também “4 tragos de vodca”

Caio Coppolla é comentarista político e apresentador do Boletim Coppolla, na TV Jovem Pan News e na Rádio Jovem Pan

[Não há dificuldade em se confirmar que o regime da extinta URSS era péssimo - sendo a causa principal derivar do comunismo, que levou uma grande porrada com a extinção da União Soviética. Só que continua existindo e tenta se expandir via maldito esquerdismo e recuperar os espaços perdidos.]

 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Tempo de escolha - Revista Oeste

Retrato do Ronald Reagan, ex-presidente norte-americano | Foto: Wikimedia Commons
Retrato do Ronald Reagan, ex-presidente norte-americano | Foto: Wikimedia Commons

Para aqueles que me acompanham há algum tempo, o assunto de minha coluna nesta semana pode até não ser novidade. Mas não há como ser diferente, já que, em 6 de fevereiro de 1911, nascia em Tampico, no Estado de Illinois, aquele que se tornaria o 40º presidente dos Estados Unidos e um dos maiores líderes que o mundo já viu: Ronald Reagan. Nome respeitado durante sua administração na Casa Branca, consegue ser nos dias atuais uma voz ainda mais indispensável.

Obviamente, mesmo um grande presidente como Ronald Reagan cometeu erros. Ele mudou de posição algumas vezes e chegou até a confundir sua base conservadora. No entanto, no big picture, como dizem os norte-americanos, a Presidência de Ronald Reagan foi um grande sucesso. Ele reconstruiu um caótico Exército dos EUA e ajudou a acabar com a Guerra Fria sem disparar um míssil sequer. Os cortes de impostos radicais em 1981 estimularam o crescimento econômico e redefiniram a relação entre os norte-americanos e o governo, além de nomear juízes federais conservadores, que tentaram reverter a tendência de meio século de expansão do controle governamental e do ativismo judicial nos Estados Unidos.

O carisma natural de Reagan era uma de suas grandes qualidades e isso fazia com que até os críticos pensassem duas vezes antes de emitir opiniões raivosas sem boa fundamentação. Mas ele não era apenas um bobo sorridente, como alguns acadêmicos alinhados com o Partido Democrata gostam de retratá-lo. Em vez disso, seus diários particulares e documentos revelam um homem profundamente bem informado, que lia vorazmente e possuía um intelecto diferenciado, além de ser um escritor talentoso e impecável. Seria impossível trazer a grande fotografia de todo o mapa de sua vida e seu legado em apenas um artigo. Não à toa, encontro-me mergulhada no esboço de meu primeiro livro, que deverá ser publicado ainda neste ano, sobre a história deste ícone da liberdade e da justiça.

Os antigos amigos, daqui de Oeste e de minhas redes sociais, conhecem em detalhes a história da primeira vez que ouvi o nome “Reagan”. Para os que chegam agora, um rápido resumo: nos anos 1980, depois de se dedicar durante décadas em salas de aula como professor de Matemática, meu pai passou a comandar, como diretor-geral e pedagógico, uma das instituições educadoras mais antigas e respeitadas do sul de Minas Gerais, o Instituto Gammon, em Lavras, onde nasci e fui criada.

Certo dia, eu devia ter uns 12 ou 13 anos, meu pai comentou em casa que ele antevia, até por sua experiência como professor, que aquele ano seria tumultuado, com a ameaça real de uma grande greve de professores em toda a cidade e região. Lembro como se fosse ontem, o telefone tocando em casa sem parar. Professores, sindicatos, pais, políticos, administradores de escolas. Todas as conversas, de alguma forma, convergiam para a mesa do meu pai. Apesar da aparente inevitável greve geral, ele sempre encerrava as ligações com calma e serenidade. Mas houve um dia, logo após mais uma enxurrada de telefonemas, que meu pai estava inquieto. Parecia que não havia mais como contornar os ânimos e que as repercussões de uma greve sem precedentes não poderiam ser evitadas.

Depois do que parecia mais uma conversa improdutiva ao telefone, ele finalmente sentou-se à mesa de almoço onde eu estava com a minha mãe e, mostrando clara frustação, disse para si mesmo: “O que Reagan faria?”. Fiquei com aquele nome na cabeça. Quem era esse homem por quem o meu pai, meu ídolo, tinha enorme admiração e que sempre mencionava em tempos de animosidade, insegurança e incertezas? Bem, a greve foi evitada depois de dias e dias de costuras entre as partes envolvidas; e eu cresci ouvindo histórias sobre esse tal de Reagan, o que fez despertar em mim uma curiosidade diferente sobre o ator que virou presidente.

Os anos se passaram e, mesmo antes de me mudar para os Estados Unidos, mergulhei em livros sobre a vida, as políticas e o legado do “Grande Comunicador”. Há um vasto caminho de abordagens sobre vários temas que fundamentam sua história. Aqui mesmo, em Oeste, tenho alguns artigos sobre Reagan, Reagan e Thatcher, Reagan e João Paulo II. O material sobre eles é vasto, e é difícil acreditar que muitos jovens nem sequer conhecem o legado desse trio para a humanidade e o que fizeram contra as forças do “império do mal” — nome propriamente dado ao comunismo pelo presidente norte-americano.

Hoje, no entanto, para celebrarmos o aniversário desse ícone e alimentarmos nossas esperanças de dias melhores, convido-os a uma reflexão sobre um discurso de Reagan de 1964, quando ele nem havia emergido para a vida política. Na verdade, foi exatamente depois desse discurso, “A Time for Choosing” (Tempo de Escolha), feito para a campanha presidencial do republicano Barry Goldwater, que muitos perceberam que Reagan possuía o caráter que define os líderes.

Não há dúvida de que “A Time for Choosing” pertence ao topo dos discursos históricos norte-americanos e está entre as oratórias políticas mais significativas já proferidas por alguém que não era político nem candidato a nada. O discurso anunciou o início da carreira longe dos palcos de um homem que se tornaria governador por dois mandatos — no Estado mais rico da nação, a Califórnia — e presidente de sucesso por outros dois. O discurso, que continua sendo uma expressão extraordinariamente poderosa e convincente de uma visão de mundo atemporal, nos deu frases citadas até hoje por conservadores espalhados pelo mundo, incluindo a de que “um novo programa do governo é a coisa mais próxima da vida eterna que veremos nesta terra”, além de ser uma declaração definitiva sobre o conservadorismo moderno. Os argumentos centrais de Reagan no discurso abordam os efeitos deletérios dos impostos, gastos deficitários e dívidas que definiram a agenda republicana por duas gerações e estabeleceram raízes sólidas do conservadorismo norte-americano. Mas ele vai muito além disso.

Reagan cultiva no discurso algo que os norte-americanos possuem desde o nascimento da nação: o desejo de um Estado mínimo

Como Reagan observa em seu discurso, as falhas do governo inevitavelmente tornam as ocasiões propícias para mais ativismo governamental. Nas palavras do ex-presidente: “Buscamos resolver os problemas do desemprego por meio do planejamento do governo, e, quanto mais os planos falham, mais os planejadores planejam da mesma maneira”. Hoje, os incentivos que não são bem geridos pelo governo, tanto no Brasil quanto nos EUA, aumentam os custos nas áreas de saúde, educação, segurança e habitação. No entanto, a esquerda continua argumentando que a resposta é mais regulamentação ou uma tomada completa do governo.

Reagan também bate na obsessão da esquerda com a desigualdade pintada até hoje em uma realidade paralela pela turba socialista: “Há tantas pessoas que não podem ver um homem gordo ao lado de um magro sem chegar à conclusão de que o gordo ficou assim levando vantagem sobre o magro”. Ele também cultiva no discurso algo que os norte-americanos possuem desde o nascimento da nação, e que nós brasileiros precisamos urgentemente adquirir; o desejo de um Estado mínimo e da responsabilidade de sermos donos do nosso próprio destino: “Ou acreditamos em nossa capacidade de autogoverno, ou abandonamos a Revolução Americana e confessamos que uma pequena elite intelectual em uma capital distante pode planejar nossas vidas melhor do que nós mesmos”.

“A Time for Choosing” é um discurso profundamente ideológico, mas Reagan não enquadra nossa escolha fundamentalmente entre o conservadorismo e o liberalismo (como o termo usado nos EUA, a esquerda norte-americana), mas entre o passado e o futuro, e entre declínio e progresso. Em um momento memorável, ele afirma: “Dizem que cada vez mais temos de escolher entre esquerda ou direita, mas gostaria de sugerir que não existe esquerda ou direita. Há apenas para cima ou para baixo — até o antigo sonho de um homem, o máximo em liberdade individual consistente com a lei e a ordem. E, independentemente de sua sinceridade, de seus motivos humanitários, aqueles que trocam nossa liberdade por segurança embarcaram nesse caminho descendente”.

As palavras de Reagan sobre a Guerra Fria no discurso são marcantes e deixam claro que ele tinha exatamente as mesmas crenças estabelecidas nos mesmos termos por décadas: “Estamos em guerra com o inimigo mais perigoso que já enfrentou a humanidade em sua longa escalada do pântano às estrelas (o comunismo), e foi dito que, se perdermos essa guerra, e ao fazê-lo perderemos nosso caminho de liberdade, a história registrará com o maior espanto que aqueles que mais tinham a perder fizeram menos para evitar que isso acontecesse”. Ele também defende com veemência a frase “paz através da força” (peace through strength), que, embora seja remetida à Guerra Fria, continua relevante não apenas à abordagem à segurança nacional americana, mas à segurança de todos nós contra os tiranos da pandemia dos últimos dois anos. Um recado de ontem para hoje.

Muitos defendem que “A Time for Choosing” é essencialmente um discurso libertário, no sentido original da palavra, não no deturpado significado dos tempos atuais. Mas, mesmo assim, Reagan entrega uma aura conservadora a temas que ressoam além da liberdade individual e do interesse próprio. Seu patriotismo profundo e permanente é inconfundível. Em uma expressão comovente do excepcionalismo norte-americano, ele declara: “Se perdermos a liberdade aqui, não há para onde fugir. Esta é a última posição na terra. E essa ideia de que o governo está em dívida com o povo, que não há outra fonte de poder a não ser o povo soberano, ainda é a ideia mais nova e única em toda a longa história da relação do homem com o homem”.

A lição fundamental de “A Time for Choosing” não é que precisamos de outro Reagan no sentido de alguém replicar exatamente suas políticas e discursos, não que isso seja uma má ideia, mas que, assim como Reagan, tenhamos uma visão de mundo que absorva a profundidade dessas palavras e que nos faça buscar objetivos exaltados por ele de defender nossa nação e nossa liberdade.

Muitas das frases de discursos de Ronald Reagan como presidente são vastamente conhecidas. Poucos, no entanto, mergulham nesse discurso profético daquele que um dia diria a um líder soviético para derrubar o Muro de Berlim. Não posso me despedir deste artigo sem deixar para a sua apreciação, caro leitor, o final inspirador desse discurso que pode ser aplicado exatamente no momento desta leitura. Não se surpreenda se voltar para ler novamente esses trechos, eu já perdi a conta de quantas vezes eles foram abraçados pelos meus olhos nos últimos anos.

“Aqueles que trocam nossa liberdade pela sopa do estado do bem-estar social nos disseram que têm uma solução utópica de paz sem vitória. Eles chamam sua política de ‘acomodação’. E dizem que, se evitarmos qualquer confronto direto com o inimigo, ele esquecerá seus maus caminhos e aprenderá a nos amar. Todos os que se opõem a eles são indiciados como provocadores. Dizem que oferecemos respostas simples para problemas complexos. Bem, talvez haja uma resposta simples — não uma resposta fácil, mas simples: você e eu temos que ter coragem de dizer aos nossos oficiais eleitos que queremos que nossa política nacional seja baseada no que sabemos em nossos corações que é moralmente correto. (…) Alexander Hamilton disse: ‘Uma nação que pode preferir a desgraça ao perigo está preparada para um dono e merece um’. Agora vamos ser honestos. Não há discussão sobre a escolha entre paz e guerra, mas há apenas uma maneira garantida de você ter paz — e você pode tê-la no próximo segundo —, rendição.”

“Você e eu sabemos e não acreditamos que a vida é tão querida e a paz tão doce a ponto de ser comprada ao preço de correntes e escravidão. Se nada na vida vale a pena morrer, quando isso começou — apenas diante desse inimigo? Ou Moisés deveria ter dito aos filhos de Israel que vivessem em escravidão sob os faraós? Deveria Cristo ter recusado a cruz? Os patriotas da Concord Bridge deveriam ter largado suas armas e se recusado a disparar o tiro ouvido em todo o mundo? (Início da Revolução Americana). Os mártires da história não foram tolos, e nossos honrados mortos que deram a vida para impedir o avanço dos nazistas não morreram em vão. Onde, então, está o caminho para a paz? Bem, é uma resposta simples, afinal.”

“Você e eu temos a coragem de dizer aos nossos inimigos: ‘Há um preço que não pagaremos’. ‘Há um ponto além do qual eles não devem avançar.’ E este — este é o significado da frase de ‘paz através da força’. Winston Churchill disse: ‘O destino do homem não é medido por cálculos materiais. Quando grandes forças estão em movimento no mundo, aprendemos que somos espíritos — não animais. Há algo acontecendo no tempo e no espaço, e além do tempo e do espaço, que, gostemos ou não, significa dever'”.

“Você e eu temos um encontro com o destino. Preservaremos para nossos filhos isso, a última melhor esperança do homem na Terra, ou os condenaremos a dar o último passo em mil anos de escuridão.”

Na visão de Reagan em “A Time for Choosing”, somos mais do que uma mera coleção de números econômicos ou mesmo o que é visível para nós neste mundo, como muitos governantes querem que enxerguemos.

É tempo de escolha. Estamos cansados, exaustos. Fato. Mas que caminho vamos seguir? Da rendição imediata por um pouco de paz? A liberdade nunca foi tão frágil e nunca esteve tão perto de escapar de nossas mãos como neste momento. Temos a capacidade, a dignidade e o direito de tomar nossas próprias decisões e determinar nosso destino. É tempo de escolha.

Leia também “É chegada a hora de despertar”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 

domingo, 12 de dezembro de 2021

A briga inútil do capitão com o almirante da Anvisa - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Agência tem razões para se orgulhar de sua conduta durante a pandemia. Barra Torres preservou a credibilidade da instituição, e evitou bate-bocas e provocações

Bolsonaro pintou-se para uma nova guerra: “Estamos trabalhando agora com a Anvisa, que quer fechar o espaço aéreo. De novo, porra? De novo vai começar esse negócio?”

A Anvisa nunca sugeriu que se fechasse o espaço aéreo mas, diante do surgimento de uma nova variante do vírus, o presidente anteviu uma nova batalha. Ele não gosta da vacinação, preferia cloroquina e prefere viver no mundo da negação, supondo que com isso defende a economia. Há um ano, Bolsonaro dizia que a vacina CoronaVac não seria comprada. Comprou-a. Condenava o isolamento social e teve que aceitá-lo.

De fato, pode ser que comece tudo de novo, porque o governador João Doria anunciou que instituirá o passaporte de imunização em São Paulo. Ele comprou a vacina chinesa e em janeiro começou a aplicá-la. [o 'joãozinho', segundo Bolsonaro o 'calcinha apertada' faz qualquer coisa para chamar atenção e o método mais eficiente para ter êxito é ser contra Bolsonaro.]

Arrumou um ministro da Saúde capaz de dizer que prefere perder a vida à liberdade, como se esse dilema estivesse na mesa. Depois de ter fritado dois ministros que tomaram o partido da ciência e de ter amparado um general desastroso, o capitão sente-se confortável com o médico Marcelo Queiroga. É seu estilo, mas não precisava chamar a Agência de Vigilância Sanitária para a briga. Primeiro, porque a Anvisa é um órgão independente. Além disso, porque está atirando em um quadro de sua tropa, o médico e almirante Antonio Barra Torres, cujo pecado seria ter traçado uma linha no chão, além da qual não pisaria.
O Brasil está chegando perto da marca de 300 milhões de doses aplicadas, com cerca de 65% da população imunizada. Apesar disso, Bolsonaro prefere procurar uma nova briga.

Barra Torres pode ser visto como um exemplo do oficial que atendeu ao chamado do capitão. Militar e cavaleiro da Ordem de Malta, foi colocado na direção da Anvisa e em março de 2020, quando os mortos pela Covid eram cinco, acompanhou Bolsonaro numa manifestação que desafiava a pandemia e o Supremo Tribunal Federal. Ele não se entendia com o ministro Luiz Henrique Mandetta e tinha tudo para virar um daqueles aloprados que o general Pazuello levaria logo depois para o Ministério da Saúde.

Recusou-se a patrocinar as virtudes da cloroquina e disse coisas desagradáveis, tais como: “Estamos trabalhando no mundo real, que é o mundo científico”, ou “Vamos deixar de bobagem e vamos vacinar”.

Quando foi pressionado, o almirante deu um recado críptico: “Meu limite está muito longe ainda. Tenho 32 anos de treinamento militar”. Como tem mandato e dirige uma agência independente, não cabia na frigideira em que foi jogado o general Santos Cruz. O almirante preservou a credibilidade da Anvisa, evitou bate-bocas e provocações. Não se colocou como um ativo contraponto à disseminação de superstições.

(...)

Destruição criadora
A financeira digital Nubank tornou-se o banco privado mais valioso da América Latina, superando as grandes casas brasileiras. Seu valor de mercado chegou a US$ 47,6 bilhões. Conseguiu isso em apenas oito anos de operações.
Oito anos parecem ser um tempo mágico para a destruição criadora do capitalismo no mercado financeiro de Pindorama. Fundado em 1943, o Bradesco tornou-se o maior banco privado do país em 1951. Como?

Amador Aguiar, seu patriarca, percebeu que os grão-senhores da banca não gostavam de gente com poucos sobrenomes e sapatos sujos. Diante disso, decidiu que as mesas dos gerentes ficariam na entrada das agências e os funcionários deveriam ajudar os clientes a preencher cheques. Em algumas cidades do Paraná, as agências do Bradesco chegavam antes da luz elétrica.

O Nubank e seus similares fazem coisa parecida no mundo digital de hoje, correndo atrás de uma fatia de consumidores deixada de lado pela grande banca. Facilitam os contatos com a clientela e abrem mão de taxas lucrativas, porém antipáticas.

Destruição destruidora
A gigantesca United Health, dona da operadora brasileira Amil, livrou-se de sua carteira de planos de saúde individuais, com 370 mil clientes. Pagou R$ 3 bilhões a uma financeira para que ela ficasse com os contratos e suas obrigações.
Para a empresa, foi um bom negócio, porque a operação dava prejuízo. Só o tempo dirá o que acontecerá com os clientes.

Na melhor das hipóteses, fica tudo igual.
Na pior, os clientes vendidos, quando desatendidos, deverão recorrer à Justiça.

No século XIX, a Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro pôs um anúncio nos jornais pedindo aos donos de pessoas escravizadas que parassem de depositar negros doentes em seus cemitérios.

A Covid de Trump
Mark Meadows, chefe de gabinete de Donald Trump, revelou que o presidente-machão que desafiava o coronavírus foi ao debate com Joe Biden em outubro do ano passado tendo testado positivo para a Covid. Dias depois, levaram-no para o hospital com a taxa de oxigenação do sangue em 86%, indicando perigo para um homem de sua idade.

Melhorou a marca do tempo que se passa para que se conheça o estado de saúde de um presidente americano. 
A patranha segundo a qual estava tudo bem levou pouco mais de um ano para prevalecer.
Em 1963, depois de levar um tiro na cabeça, o presidente John Kennedy chegou morto ao hospital, mas esse detalhe levou tempo para ser aceito.

Em 1981, o presidente Ronald Reagan tomou um tiro no peito e sua turma espalhou que ele entrou no hospital fazendo piadas. Era mentira. Com um pulmão perfurado, tiraram-no do bico do urubu.