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sábado, 8 de julho de 2017

Vanessa, Samara, Arthur e Eduarda

Eu me senti como Janot. Mas minha náusea é com a bala perdida, que fez 632 vítimas no estado do Rio em seis meses 

Cada história dessas é um soco em nossa consciência, é um tiro de fuzil na cidadania brasileira. E tiro de fuzil não é tiro de pistola. Ele destrói o organismo, todo o tecido social em volta. Se nada acontecer – ou apenas retórica vazia –, teremos atingido o fundo do poço civilizatório.

Vanessa, 10 anos, foi morta em casa com um tiro de fuzil na cabeça, em companhia de PMs que disseram ter buscado ali um abrigo. Samara, 14 anos, teve um pulmão perfurado por um tiro de fuzil no pátio da escola e diz que sobreviveu “por milagre”. Arthur foi baleado dentro do útero materno, luta para viver e o mais provável é que fique paraplégico. Maria Eduarda, a Duda, 13 anos, foi morta na quadra esportiva da escola, ao se levantar para beber água no intervalo da educação física. Tudo isso desde o fim de março.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sente “náusea” ao ouvir a conversa de porão no Palácio presidencial? Ele fica “enjoado” com a gravação entre um presidente e um bandido, entre um bandido e um empresário, ou entre dois bandidos? [destaque-se que um dos bandidos, o delator Joesley foi perdoado pelo procurador, super premiado com anistia total e permissão para usufruir livremente, no Brasil e no Exterior, do produto dos mais de 200 crimes confessados e devidamente anistiados pelo procurador-geral, que assumiu as funções de PODER JUDICIÁRIO SUPREMO.
De tudo, resta inequívoco que Janot só sente náusea de alguns bandidos.] Eu também fico, Janot. Mas, hoje, minha náusea é com a “bala perdida” que fez 632 vítimas no estado do Rio em seis meses. Sessenta e sete pessoas morreram com um tiro vindo de não sei onde. Em casa, na escola, no trabalho, na rua, no restaurante. Atingidos até antes de nascer.

É guerra, os hospitais sabem disso, mas o governador Pezão só grava declarações, deve meses à PM e aos aposentados. E o prefeito itinerante Crivella vai para Paris, em sua sexta viagem internacional. O secretário estadual de Segurança, Roberto Sá, dá desculpas esfarrapadas e diz que a UPP foi um equívoco e uma utopia. [a única declaração correta, tendo em conta que as UPPs - Unidade de Perigo ao Policial - também foram uma fraude.]
 
Mesmo? Logo o Sá, ex-braço direito de José Mariano Beltrame. As balas perdidas, as mortes e os confrontos haviam diminuído muito com as UPPs. O Estado tinha uma estratégia séria e premiada. Mas Sérgio Cabral preferiu investir em joias em vez de fazer sua parte na pacificação. E prossegue a omissão criminosa de Pezão, Crivella e do bunker de bandidos federais engravatados em Brasília, preocupados apenas em salvar mandatos e mordomias.

Vanessa Vitória dos Santos tinha chegado da escola na terça-feira, onde ensaiou para a festa junina. Deixou a mochila rosa com desenho de princesa junto à porta. A madrinha ouviu tiros e viu quando policiais da UPP correram para dentro da casa em que a menina morava com a mãe, o padrasto e dois irmãos, em 10 metros quadrados. “Calma, moço, deixa eu pegar minha afilhada.” Mas Vanessa só teve tempo de dizer que estava com medo. O tiro entrou pela testa e saiu pela nuca. O impacto foi tão forte que ela parou do lado de fora da casa. A mãe, Adriana, se mudou, foi embora com marido e dois filhos. Está com medo.

Samara Gonçalves estava no pátio da escola na quarta-feira quando sentiu um impacto nas costas. “Mãe, se eu me levanto poderia ter sido na minha cabeça, no meu ouvido, Deus me protegeu”, disse a menina. Uma professora a abraçou chorando, avisou a direção, que chamou o Corpo de Bombeiros. Samara vive.

Maria Eduarda Alves da Conceição queria ser atleta de basquete e colecionava medalhas em competições. No pátio da escola, foi morta com dois tiros na cabeça e um nas costas. “Estou sem chão, mataram minha caçula”,  disse a mãe, Rosilene, que acabara de dar um celular para a filha de presente. Duda gostava de selfies como toda adolescente e era apaixonada pelo cantor Justin Bieber.

Resposta de Crivella ao Rio? Prometeu erguer muros mais altos na escola de Duda e outras, com argamassa especial contra balas, fabricada nos Estados Unidos. Um espanto. Dos 100 dias de aulas neste ano, em apenas sete dias todas as escolas do município do Rio funcionaram sem interrupção. Tudo por causa da violência. Isso atinge 130 mil estudantes. Quando não mata nem fere, traumatiza.

Arthur nasceria dali a alguns dias. O tiro atravessou o quadril da mãe, Claudineia dos Santos Melo, perfurou um pulmão do bebê e provocou uma lesão na coluna, que pode deixar Arthur sem movimento das pernas. Claudineia saía de uma mercearia na Favela do Lixão, na Baixada Fluminense, quando bandidos atiraram em policiais que faziam patrulha. Ela se salvou. Seu maior sonho, ao receber alta, era “tocar” Arthur.

Desculpe falar disso no fim de semana. Desculpe, porque você não é parente dessas crianças, eu não sou parente dessas crianças, você pode nem morar no Rio ou, se morar, não vive numa casa de 10 metros quadrados na favela como vivia Vanessa, a última vítima de “balas perdidas” enquanto escrevo. Escrevo porque me senti como Janot. Senti náusea com a sucessão de tragédias absurdas e a falta total de solidariedade e de estratégia do poder público, diante das famílias enlutadas pelo horror, no fundo do poço. 

Fonte: Ruth de Aquino - ÉPOCA

>> Todas as colunas de Ruth de Aquino 

 
 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

União precisa assumir seu papel na segurança

Fronteiras vulneráveis permitem a entrada no país de drogas e armas, que estão na raiz dos problemas de violência em vários estados, incluindo o Rio de Janeiro 

Quem observasse do alto as colunas de fumaça preta que se erguiam de pontos da Avenida Brasil e da Rodovia Washington Luís, na manhã de anteontem, poderia pensar que testemunhava um bombardeio na Síria. Mas era só mais uma batalha da guerra cotidiana do Rio. Traficantes haviam ateado fogo a nove ônibus e dois caminhões em represália a uma ação da polícia na Cidade Alta, em Cordovil, onde facções rivais se enfrentavam. Em consequência, algumas das vias mais importantes da Região Metropolitana tiveram de ser bloqueadas, enquanto motoristas e passageiros ficavam reféns da situação, alguns em meio a tiroteios. Para completar o caos, ainda houve saques às cargas dos caminhões incendiados.

São vários os motivos que contribuem para esse descontrole da segurança no Rio. A começar pela grave situação fiscal do estado, que praticamente paralisou a administração, impactando setores essenciais — o governo chegou a admitir que a polícia corria o risco de parar este mês por falta de combustível. Soma-se a isso a fragilidade do governo Pezão, que tem se mostrado incapaz de reagir à crise, ficando à espera do socorro da União na medida em que a situação só se agrava. 

Acrescente-se ainda o enfraquecimento das UPPs. Reportagem do GLOBO com base em pesquisa da FGV mostrou que, embora o número de homicídios não tenha voltado a patamares pré-UPP, houve um aumento de 23% entre 2012 e 2016. E já há crimes que se situam nos mesmos níveis de 2006. É mais um sinal de alerta para as autoridades. O projeto das UPPs, de retomada de territórios dominados pelo tráfico, representou m ganho importantíssimo para a sociedade. Por isso, é fundamental que o programa seja recuperado, dentro dos princípios que o nortearam, como o policiamento de proximidade que desestimularia ações desastradas da PM em comunidades.

Mas, acima de tudo, o controle da segurança depende do governo federal. E não apenas para enviar a Força Nacional ou contingentes das Forças Armadas em situações de emergência, como agora. A União precisa assumir o protagonismo na segurança. Não só no Rio, porque hoje a atuação das quadrilhas ultrapassa os limites dos estados e mesmo do país. Isso ficou comprovado nas sangrentas rebeliões em presídios do Norte-Nordeste com participação de facções do Sudeste. Ou no roubo a uma transportadora de valores em Ciudad del Este, Paraguai, por bandidos brasileiros.

Fronteiras vulneráveis permitem a entrada no país de drogas e armas, que estão na raiz dos problemas de violência em vários estados, incluindo o Rio. Durante a operação na Cidade Alta, anteontem, a polícia apreendeu 32 fuzis, quantidade maior do que a que foi recolhida em todo o mês de março. Nenhum deles foi fabricado no estado. O problema demanda ações coordenadas de inteligência. Sem que União e estados resolvem essas questões, cidadãos continuarão reféns dos bandidos, vivenciando cenas que estão mais para Aleppo do que para o Rio.


Fonte: Editorial - O Globo 

segunda-feira, 1 de maio de 2017

A tragédia do Rio

Numa semana em que quatro jovens foram mortos no Alemão, na longa agonia que já chamam de guerra, o ex-governador Sérgio Cabral foi a Curitiba para dizer que fez todas aquelas compras com “sobras de campanha” e vender uma versão fantasiosa sobre a sua relação com a Petrobras e o governo Lula. Ele acha que ao confessar o crime considerado menor, caixa 2, vai atenuar suas penas.

Segundo o que contou na vara do juiz Sérgio Moro, ele tinha atritos constantes com a Petrobras por discordar dos valores pagos em royalties e participação especial. A acusação que ele foi responder é a de ter recebido “vantagens indevidas” no Comperj, conforme disseram a Andrade Gutierrez e Paulo Roberto Costa. Como Cabral se recusou a responder às perguntas do juiz e do MP, foi interrogado pelo seu próprio advogado, com questões do tipo: “qual era a relação da Petrobras com o governo do Rio?” Cabral disse que era uma relação de “lutas e litígios” e posou de estadista ao falar da política de Lula para o Petróleo, em 2009:  — Enxergamos ali um prejuízo incalculável com a nova legislação, primeiro para o Brasil. Para o Rio, as consequências seriam dramáticas.

Cabral quis dizer que combatera a política do governo Lula que redividiu os royalties do petróleo com estados não produtores e mudou o marco regulatório. Na verdade, ele jogou todas as suas fichas na amizade estreita com o presidente. “É mais fácil o sargento Garcia prender Zorro do que o presidente não vetar essa barbaridade contra estados produtores. Eu conheço o presidente. Ele é o presidente mais solidário que o Rio já teve”, disse Cabral em março de 2010. A lei foi aprovada, e depois sancionada sem vetos pela presidente Dilma.

Mesmo que ele tivesse tido a atitude correta como governante nesse caso específico — e não foi assim — Cabral não está sendo julgado por ter defendido mal os interesses do Rio, mas sim pelo apego aos interesses pessoais e inconfessáveis. Quando Cabral falou das empresas que atraiu para o Rio, ele se empolgou e disse que seu governo conseguiu “o menor nível de desemprego do Brasil”. Foi interrompido pelo juiz Sérgio Moro, que o advertiu: “Mas, assim, senhor Sérgio, não é para propaganda, é para responder aos termos da acusação.”

O incrível nesse depoimento é a falta completa de sentido. Ele foi a Curitiba para dizer que tinha uma relação tensa com a Petrobras, que foi um grande governador e que anteviu o fracasso da política de petróleo. A verdade é que ele teve uma relação submissa com o governo federal, vivia exaltando o então presidente Lula, fez uma atração de empresas para o Rio às custas de uma absurda distribuição de incentivos fiscais, que por muitos anos vai pesar nos cofres do tesouro estadual, e iniciou o desmonte do estado.

A tragédia do Rio é que algumas políticas iniciadas sob sua gestão poderiam ter dado certo e funcionaram durante anos. A política de segurança sob o comando de José Mariano Beltrame levou o Rio a vislumbrar a realização do seu sonho de pacificar as áreas em conflito. [sonho que se revelou um pesadelo; tanto que as famosas UPP - Unidade de Polícia Pacificadora - tiveram o nome modificado para Unidade de Perigo ao Policial, a modificação foi imposta pelos fatos. 
Só pessoas sem noção conseguiam defender um programa policial baseado no principio de que antes de ocupar uma favela deveria avisar aos traficantes para saírem do local - permanecendo,  estavam sujeitos a prisão e apreensão das drogas.]  
O salto do 26º lugar do Ideb para o quarto lugar foi conquistado pela mobilização das melhores forças da educação do estado sob o comando de Wilson Risolia. Poderia ter sido o caminho da recuperação do Rio e foi o começo da pior debacle. Na semana em que ele foi elogiar-se e contar lorotas na 13ª Vara Federal, o Rio viu o comércio da Tijuca ser fechado por traficantes e quatro jovens mortos, sem qualquer ligação com o crime, apenas eram do Complexo do Alemão.

Sérgio Moro perguntou a ele como explicava aquele “perfil de pagamentos”, com quantias fracionadas, abaixo de R$ 10 mil, ao mesmo fornecedor de roupas de luxo para ele e sua mulher. Ele respondeu quando a pergunta foi refeita pelo advogado e disse que “tinha o hábito de pagar parceladamente”. Eram sucessivas parcelas nos mesmos dias e em espécie. Ele então lançou o que pensa ser a sua tábua de salvação: o dinheiro foi de “sobras de campanha”, disse. Depois, com ar de arrependido: “reconheço esse erro, fato real na vida nacional.”

Se tiver sorte, Sérgio Cabral voltará para dizer o oposto do que disse na última quinta-feira. Mas pode nem ter essa chance. E sua versão dos fatos é descabida e despropositada.

Fonte: Blog da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo

sábado, 29 de abril de 2017

Determinação judicial obriga PM a desocupar casas do Alemão

As residências foram ocupadas por policiais da UPP Nova Brasília em fevereiro 

Torre blindada no Complexo de favelas do Alemão - Márcia Foletto / O Globo

Uma determinação judicial obriga a Polícia Militar a desocupar imediatamente as casas de moradores do Complexo do Alemão que estão sendo usadas como base pela corporação. A decisão é fruto de um pedido da Defensoria Pública, em ação impetrada na última quinta-feira junto à 15ª Vara de Fazenda Pública. Além da imediata desocupação dos imóveis, a juíza Roseli Nalin determina que a PM se abstenha “de turbar ou esbulhar a posse privada sob o pretexto da utilização dos imóveis para operações militares no contexto do combate à criminalidade naquele Complexo”. [mais uma matéria que deixa claro a irresponsabilidade da Defensoria Pública ao tentar por todos os meios e com argumentos que, infelizmente, são acatados por alguns juízes, impedir o trabalho da Polícia Militar nas ações de combate à criminalidade nas favelas do Rio.

O lado bom é que pouco a pouco a farsa promovida pelo ex-secretário Beltrame, ao criar as UPP's = Unidades de Perigo ao Policial - vai denso desmascarada.

O combate à criminalidade tem que ser considerado prioridade também pela Justiça e a Defensoria Pública.]

Ao fundamentar a decisão, a juíza destaca que “o atuar do Comando Militar não poderá, ainda que em nome do grave quadro aqui desenhado, praticar violações de direitos humanos em operações policiais, notadamente com invasão e ocupação das casas de civis para utilização como base militar, representando além de ofensa à proteção constitucional do domicílio e da posse afronta ao direito à vida, à integridade física e à segurança”.

A ação foi movida após os núcleos de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) e Contra a Desigualdade Racial (Nucora) da Defensoria constatarem que a corporação não havia cumprido a promessa de deixar as residências até a última terça-feira, conforme acordado em audiência pública com moradores da comunidade na sede da instituição pública, no Centro do Rio.  “Por meio de contato telefônico realizado no dia de hoje com os possuidores das residências afetadas, a Defensoria Pública constatou que os compromissos não foram cumpridos, mas, ao revés, há notícias de novas ocupações e de intensificação dos tiroteios no Largo do Samba, o que torna insustentável a situação”, esclarecem, na petição inicial, os defensores Fabio Amado e Lívia Casseres, respectivamente, coordenadores do Nudedh e do Nucora. [percebam que na petição inicial os defensores que assinam aludido documento se refere a "possuidores" e sabemos que possuidores não é sinônimo de proprietário o que deixa evidente serem apenas invasores dos imóveis que a PM está utilizando no exercício de suas missões de combate ao crime naquela favela.
Fora de qualquer dúvida que muitos do PROPRIETÁRIOS daqueles imóveis foram expulsos por traficantes que cederam/revenderam a preço de banana para invasores que agora a Defensoria chama de Possuidores.] 

As casas no Alemão foram ocupadas por agentes da UPP Nova Brasília em fevereiro desse ano. Na ocasião, o ouvidor-geral da Defensoria, Pedro Strozemberg, e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil e da Assembleia Legislativa foram ao local e constataram que todas serviam de moradia, ao contrário do que afirmavam os policiais. No início dessa semana, uma audiência pública reuniu a Defensoria, movimentos sociais que atuam no Alemão, as Comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal e policiais militares.

A decisão judicial também ordena a publicação da medida em boletim interno da Polícia Militar, para que todos os membros da corporação tomem conhecimento "da ilicitude da prática de utilização de imóveis particulares como base militar no referido complexo".
A atuação para a garantia da devolução das casas aos moradores contou com a parceria dos coletivos Papo Reto, Juntos Pelo Complexo e Defezap. 

Fonte: O Globo





quarta-feira, 8 de março de 2017

Beltrame, foi ele quem deu inicio ao desmonte da Segurança Pública com a filosofia estúpida de avisar aos bandidos sobre operações policiais e incentivar as favelas a sempre acusar os policiais

José Mariano Beltrame: “A segurança pública está ruindo”

O ex-secretário de Segurança do Rio de Janeiro atesta que os governos estão paralisados diante do avanço da criminalidade no Brasil 

Beltrame foi o grande artífice da política de desmoralização dos policiais e das Unidades de Perigo ao Policial = UPP 

A sua teoria de avisar com antecedência aos bandidos quando uma favela seria ocupada e uma Unidade de Perigo ao Policial seria instalada acabou com a credibilidade e moral do policial.

Qualquer policial sabia que um morador de favela, por iniciativa própria ou por ordem do tráfico, podia acusar a Polícia de qualquer crime e teria credibilidade

Sondado por deputados do PMDB para ser secretário nacional de Segurança do governo Michel Temer, José Mariano Beltrame recusou. Diz querer distância do serviço público para sempre. Aposentado da Polícia Federal, está satisfeito como consultor da mineradora Vale. “Na iniciativa privada, tudo é mais ágil”, diz. Em dez anos como secretário de Segurança do Rio de Janeiro, ele criou as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) e reduziu os índices de criminalidade, que voltaram a crescer de forma alarmante. “Só uma união de esforços pode mudar o quadro. Nessa luta do bem contra o mal, não pode haver tantas barreiras constitucionais”, afirma nesta entrevista a ÉPOCA. 

 Dos tempos de governo, Beltrame mantém apenas dois guarda-costas, devido às 51 ameaças de morte que colecionou. E duas ações judiciais contra o ex-governador Anthony Garotinho, que insinuou haver ligação dele com o esquema de propinas do ex-governador Sérgio Cabral, preso por corrupção.

ÉPOCA – Seus seguranças são da secretaria ou da Vale?
José Mariano Beltrame –
Da secretaria. É padrão. Ando só com dois agora. O resto eu dispensei. Estou pensando em desmamar esses também. Mantenho por enquanto a segurança porque é mais fácil acontecer algo comigo agora, eu saí com muito recadinho, 51 ameaças de morte. Foram muitas punições, muitas expulsões de policiais que não se conformam.


ÉPOCA – O senhor sente mais medo de policial que de bandido?
Beltrame –
Dos milicianos, que eu também considero bandidos. Policial que se desvia de conduta é pior que bandido comum. O traficante, quando perde, entende e aceita. O policial em desvio não.


ÉPOCA – O senhor foi convidado a integrar o governo Michel Temer?
Beltrame –
O convite formal do governo Temer não houve, apenas sondagem e muita especulação. Não aceitaria nem aceitarei. Não tenho mais interesse no serviço público. Foram 36 anos de serviço – e os últimos dez, como secretário no Rio, eu vivi de maneira muito intensa. Posso até um dia contribuir, mas não quero mais vínculo. No Rio, se forem situações sérias, transparentes e objetivas, estou sempre disposto a ajudar caso precisem de mim. Em São Paulo, faço parte do conselho de segurança do prefeito João Doria, sem remuneração.


ÉPOCA – Como o senhor vê o acirramento da violência no Rio de Janeiro?
Beltrame –
Vejo com muita tristeza. Porque é uma realidade nacional. A atuação do PCC [Primeiro Comando da Capital, a maior facção criminosa do país] no Recife, o túnel que os presos escavavam no Rio Grande do Sul... o serviço público brasileiro está ruindo, a segurança em primeiro lugar. Infelizmente, não vejo nenhuma atuação concreta para que isso seja evitado e repensado. Acho que o governo federal precisa entrar, mas corre do problema e vê tudo à distância. Os estados terão cada vez mais dificuldade de fazer frente a isso.


ÉPOCA – O que pode mudar isso?
Beltrame –
Só uma união de esforços. Iniciamos no Rio quando juntamos várias entidades em prol de um projeto. Continuo achando que é uma luta do bem contra o mal. Não pode haver muitas fronteiras nem tantas barreiras constitucionais. O Ministério da Defesa tem de entrar nisso para mitigar o problema. Que os Ministérios e secretarias conversem entre si e mostrem à população um horizonte ao menos. Sem segurança, nada prospera. A violência barra investimentos, afugenta empresas, impede que as pessoas saiam de casa.



ÉPOCA – A quais barreiras o senhor se refere?
Beltrame –
O Exército alega limitações constitucionais, a Polícia Federal também. Não falo de rasgar a Constituição. Mas de unir esforços com a Polícia Rodoviária, a Receita Federal, o Coaf que podem buscar muito para a Segurança na movimentação financeira. O Brasil precisa disso. Quando se quer mudar a Constituição, se muda até de madrugada no Brasil. A luta da segurança não se vence. O que pode dar a vitória a longo prazo é educação e coisas atreladas às causas da violência. No momento, os governos nem pensam em estratégia, estrutura e planejamento.


UPP = Unidade de Perigo ao Policial - Morte de PM faz criou apelido da UPP de Beltrame


>> No rastro de um chefão do crime

  >> “Não é possível acabar com facções criminosas”, diz líder de grupo de combate ao crime

Leia Matéria Completa, em Época


 

quarta-feira, 1 de março de 2017

UPP = Unidade de Perigo ao Policial - Morte de PM faz jus ao apelido da UPP de Beltrame

Revejam, por favor, o trecho entre 8min44seg e 10min18seg (que já está no ponto ao clicar no ‘play’) do meu comentário no nosso programa Sem Edição de 15 de fevereiro, na TVeja, sobre o legado do ex-secretário que vinha sendo cotado por Michel Temer para ocupar um cargo no governo federal, José Mariano Beltrame, na Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Agora veja na manchete do Extra de 22 de fevereiro, uma semana depois, a síntese exata da realidade que denunciei no programa, como já vinha fazendo há anos neste blog:

  

Eis um trecho da matéria, com grifos meus:
“Menos de um ano depois de entrar para a Polícia Militar, o soldado Michel de Lima Galvão denunciou a falta de condições de trabalho nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). 

Uma gravação do policial de 2015 mostra o claro descontentamento do agente com a falta de munição e a desvantagem numérica e operacional no confronto com traficantes. Para ele, o projeto das UPPs estava falido. O soldado foi morto na noite de terça-feira, durante um ataque do tráfico no Jacarezinho, na Zona Norte da Cidade.

‘Essa guerra não é nossa. Governo falido, projeto falido. Estão colocando a gente dentro do morro para morrer. A favela não é nossa casa. Ser policial não é ser guerrilheiro, não é confrontar em desvantagem numérica, em desvantagem logística, em desvantagem operacional’, apela o soldado Galvão aos companheiros de tropa.”

Como queríamos demonstrar, é triste.
A “Unidade de Perigo ao Policial” continua fazendo jus ao apelido revelado neste blog em 2014.
Só falta Temer deixar Beltrame espalhá-la pelo país.

Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

PM de UPP vai trabalhar em favela de chinelo, bermuda e fuzil

Foto viraliza na internet junto com áudio de policial do Bope reclamando dos trajes do colega

Uma foto de um soldado da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro, viralizou na internet nesta quinta-feira. O policial militar, alegando que sua farda havia sido destruída em um incêndio que praticamente acabou com o alojamento da unidade, no final da tarde de ontem, decidiu trabalhar de chinelo, bermuda, fuzil na mão e apenas o colete com a identificação de PM. Por pouco ele não foi confundido com um traficante por policiais do Bope que, durante todo o dia, fizeram operação na favela.


 PM de UPP aparece sem farda, de chinelo e com fuzil na mão (Reprodução)

A foto mostra justamente um policial do Bope conversando com o soldado. Nos grupos de WhatsApp de policiais do Rio, a imagem se espalhou junto com um áudio de um minuto, no qual o agente do Bope reclama da roupa usada pelo colega: “Aí chego na favela tá o camarada da UPP desse jeito. Aí toma um balaço. E aí?!..”, diz.

Na gravação, o policial que seria do Bope diz que ainda orientou o soldado a vestir uma calça jeans e uma camisa, mas que ele estava apenas ‘cumprindo ordem’. O site de VEJA procurou o Comando de Polícia Pacificadora (CPP), que respondeu: “Segundo o comando da UPP Vila Cruzeiro, o policial – de folga – se apresentou voluntariamente para participar da operação de rescaldo da UPP. No entanto, tendo em vista o traje utilizado pelo agente, o comandante orientou que o mesmo não participasse da ação”.

Fonte: VEJA

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Tráfico age como milícia na Rocinha e controla comércio - é este o resultado das UPPs do Beltrame e da proteção do 'cabralzinho' aos Amarildo

Polícia investiga compra de água e carvão de um único distribuidor na comunidade

Maior favela do Brasil — são 69 mil habitantes, segundo o Censo 2010 do IBGE, e cerca de 200 mil, de acordo com as associações de moradores locais —, a Rocinha tem hoje um tráfico com cara de milícia. Comerciantes denunciam que uma nova regra foi imposta por bandidos na comunidade: donos de bares, biroscas e mercados foram proibidos de comprar água mineral e carvão de seus fornecedores habituais, devendo adquirir os produtos para revenda num único ponto no morro. 
 A Favela da Rocinha, onde, segundo associações, vivem cerca de 200 mil pessoas: donos de bares, restaurantes e biroscas denunciam que foram ameaçados por bandidos - Custódio Coimbra / Agência O Globo
Com o monopólio decretado por meio de ameaças, caminhões de entrega estão sendo barrados nos acessos à Rocinha há cerca de dez dias, tanto pelo lado da Gávea quanto de São Conrado. E isso acontece apesar de a favela contar com Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), delegacia, Região Administrativa e três associações de moradores. — Nossa preocupação é que, daqui a pouco, façam a mesma coisa com arroz, feijão, frutas, verduras, bebidas, cigarro... Meninos passaram de loja em loja avisando que os caminhões de entrega de água e carvão não poderiam mais entrar na comunidade. E deram um papel do lugar onde a gente poderia comprar. Isso é um abuso. Estou desesperado, perdendo clientes. Não vou comprar de quem está me obrigando, e ainda é muito mais caro — reclama o comerciante X., instalado na Rocinha há algumas décadas.

Cálculo inicial feito por um grupo de comerciantes mostra os lucros que podem estar por trás do monopólio da água na Rocinha. Por dia, só de garrafas de 500ml, são vendidas cerca de três mil unidades.

‘ESTAMOS PEDINDO SOCORRO’
Com a cerveja, há uma “lei” em vigor há algum tempo na Rocinha, lembra o comerciante. Segundo ele, apenas caminhões de distribuição de uma única marca têm autorização para subir o morro. Para garantir a variedade de estoque, conta X., a saída foi passar a buscar a mercadoria de carro na Praia de São Conrado, onde os entregadores param. — Chegaram a dizer que iriam proibir também a gente de pegar a cerveja na praia. Por enquanto, não fizeram nada. Mas não sei qual será o futuro. Estamos pedindo socorro. O Ministério Público poderia nos ajudar — desabafa.

W., que também tem negócio na Rocinha, teme novas proibições: — Daqui a pouco, até com as frutas vão fazer isso. Estão de olho grande.

Outro comerciante, que assim como os demais teme se identificar, engrossa o coro dos descontentes:  — Criaram algo pior do que a milícia. É um absurdo o que estamos passando. É uma ilegalidade.

O pedido já teve eco. Por nota ao GLOBO, o MP informa que “está aberto para receber os comerciantes e investigar o caso”. As denúncias podem ser feitas pessoalmente na Ouvidoria da instituição, de segunda à sexta-feira, das 8h às 20h; pelo telefone 127; pelo formulário eletrônico disponível no site do MP; ou enviando correspondência para a Ouvidoria. A identidade do denunciante será preservada. O cidadão pode ainda fazer a queixa de forma anônima.

De 2010 a 2016, só ao Grupo Especial de Combate à Corrupção (Gaeco), do Ministério Público, foram apresentadas 125 denúncias sobre tráfico e milícia. A partir delas, 2.025 pessoas foram delatadas à Justiça.


(...)
EPISÓDIOS TRAUMÁTICOS
Desde a prisão do traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, em novembro de 2011, o comando da venda de drogas na Rocinha está nas mãos de Rogério Avelino da Silva, o Rogério 157. O bandido é acusado por moradores de ser um dos mais tiranos chefes do tráfico que passaram pela favela. Sob suas ordens, criminosos de sua quadrilha passaram a cobrar pedágio de distribuidoras de bebidas e empresas de serviços, exigindo ainda pagamento de taxas dos comerciantes.

A Rocinha conta com uma UPP desde setembro de 2012, o que possibilitou ao governo do estado instalar ali uma delegacia. A comunidade tem mais de dois mil estabelecimentos comerciais, espalhados numa área de 887.587 metros quadrados, entre a Gávea e São Conrado. Em 1993, virou bairro e teve seu perímetro delimitado.

Um dos mais traumáticos episódios ocorridos na favela foi o sequestro e a morte do ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, que desapareceu em 14 de julho de 2013, após ter sido detido por PMs e levado da porta de sua casa para a sede da UPP. Doze policiais foram condenados pelo crime. Cerca de um ano depois, a Justiça descobriu um plano de traficantes, com a ajuda de PMs, de assassinar a major Pricilla Azevedo, ex-comandante da UPP da comunidade. O caso só foi divulgado em setembro deste ano.

Matéria na íntegra, clique aqui


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O 'santo' não era mais tão santo - Os PMs erraram ao tentar forjar a cena do crime. Apresentassem os fatos: o suspeito esboçou reação e foi usada a força necessária para neutralizarsária

Eduardo: de coroinha na igreja ao envolvimento com o tráfico

Adolescente morto tinha abandonado a escola em 2014, no 9º ano do ensino fundamental

Caçador de pipas, coroinha da igreja, adolescente vaidoso e “vapor” do tráfico.

Eduardo Felipe Santos Victor foi tudo isso, conforme contaram, na quarta-feira, amigos e parentes do jovem de 17 anos, que teve o destino selado na véspera, num beco do Morro da Providência, vítima de policiais que tentaram forjar um confronto.  Pintinho ou Felipe da Provi, como ele se identificava no Facebook, cresceu na comunidade oriunda da primeira favela do Brasil. Habilidoso para recuperar pipas caídas e subir em mangueiras, tornou-se conhecido no lugar.

Outra diversão do rapaz, tricolor, era o futebol. A bolinha de gude, mais uma. Fez primeira comunhão na Paróquia Santa Catarina de Alexandria. E, na Igreja de Santa Rita de Cássia, virou coroinha. Mas a candura acabou com o tempo.  Numa família de oito irmãos, Eduardo Felipe parou de estudar em meados do ano passado. Cursava o 9º ano na Escola Municipal Calouste Gulbenkian, na Cidade Nova. Até que sua mãe, Patricia Santos, entrou em contato com a unidade para avisar que o filho não voltaria mais, alegando que ele não conseguiria conciliar os estudos com o trabalho.

Amigos reconhecem, no entanto, que o garoto se envolveu com o tráfico. Na quarta-feira, num vídeo na internet, o adolescente aparecia supostamente vendendo drogas, e o comando da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Providência confirmou que ele vinha sendo monitorado.  Antes do desfecho de terça-feira, foram três anotações criminais: por tráfico de drogas, injúria e ameaça. — Ele era tão bom que fiquei surpresa quando entrou para o tráfico. Acho que subiu à cabeça dele o fato de se sentir adorado e importante — contou uma vizinha de Eduardo, uma adolescente de 16 anos.

Apesar de estar envolvido com o crime, o jovem não deixava de participar de festivais de pipa na favela.  — Seria fácil recuperá-lo. Tinha boa índole — lamentou outro amigo da família, Fabrício Santos.

Fonte:  O Globo
 

domingo, 6 de setembro de 2015

Raio X das armas - à Polícia cabe limpar a área e manter limpa

As UPPs entraram em crise graças a seu sucesso inicial. 

Os criminosos expulsos de uma favela foram se juntar aos criminosos de onde não havia UPP

Desde que inventou as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), o secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, tem feito questão de dizer que a polícia não pode ser a única representante do Estado a subir o morro. As UPPs estavam apenas abrindo uma porta estreita para que os outros serviços do Estado, como habitação, saúde, educação, saneamento etc., a escancarassem para aquelas comunidades. “De conversa fiada todo mundo está cheio”, disse ele então. 

Ao longo dos anos, Beltrame fez apelos cada vez mais dramáticos por serviços públicos nas favelas. Sem eles, elas permaneceriam territórios sem lei, apesar da repressão policial. Na esteira de uma certa euforia social, conforme as UPPs iam sendo criadas, bancos comerciais se instalaram naquelas comunidades e até Eike Batista, antes de perder sua fortuna, colaborou com recursos próprios para o sucesso do programa. Mas os outros serviços do Estado se mantiveram alheios e distantes. 

Semana passada, o secretário voltou a fazer um apelo, dessa vez no plenário da OAB, em Niterói, pedindo ajuda a outras secretarias. “Lá em cima do morro”, disse ele, “ninguém do poder público faz nada, exceto a polícia. (...) O Estado é ausente e aí pode tudo”.
 
Beltrame chama sempre atenção para o tráfico de armas em nossas fronteiras, o que garante o poder dos traficantes de drogas e seu domínio das favelas. Nessa quinta-feira, o secretário anunciou, em reunião na Câmara dos Deputados, que seu assessor Pehkx da Silveira passara pelo raio X do Aeroporto Santos Dumont com uma pistola de plástico e metal, comprovando a insegurança e o desinteresse do sistema pela circulação de armas.

As UPPs entraram em crise graças a seu sucesso inicial. Os criminosos expulsos de uma favela foram se juntar aos criminosos de onde não havia UPP. [essa união de criminosos mostra o quanto foi, é e sempre será, errado o procedimento de ocupar favelas com dia e hora marcados e aviso com antecedência.
É a oportunidade que a política das UPPs sempre concedeu aos bandidos - a de fugirem (melhor dizendo,  não fugiam, apenas se mudavam com - literalmente - armas, drogas e bagagem para outras favelas)
A única forma que funciona é a invasão de surpresa, com força total, para reduzir a resistência dos bandidos e havendo alguma resistência tem que ser sufocada sem piedade - efeitos colaterais sempre vão existir e costumam não ser bons, mas, são inevitáveis e necessários. Naturalmente, moradores locais passaram a pedir a instalação de unidades em suas comunidades. Para atender essa demanda, Beltrame teve necessidade de formar um contingente policial muito maior do que aquele que havia preparado e que estava à sua disposição. 

Seu projeto de treinar novos PMs para o novo serviço não pôde ser executado, as UPPs tiveram que absorver os velhos quadros de sempre, mal preparados, com os vícios tradicionais de corrupção e violência típicos da polícia brasileira. Ainda assim, Beltrame afirma que, para atingir o modelo ideal de segurança pública, o Estado do Rio de Janeiro precisa de 90 mil PMs na ativa. Hoje, conta apenas com 49 mil.

A Polícia Militar foi criada quando Dom João VI, o soberano português, chegou ao Brasil em 1808. Tratava-se de uma corporação militar preparada para a guerra e criada para proteger Sua Majestade da população nativa, aquele bando de índios e mulatos em que não se podia confiar. A PM foi treinada para ser a polícia do rei, e não da sociedade, e assim continuou a serviço da oligarquia patriarcal que controla o Brasil desde sempre. Ela não foi educada para agir como um serviço prestado pelo Estado aos cidadãos, mas como um batalhão disposto a atirar em quem enchesse o saco.

Junior Perim, líder do grupo Crescer e Viver, diz que “as UPPs não podem ser uma ‘polícia de comportamento’, o que gera desrespeitos aos direitos individuais e coletivos dos moradores de favelas”. Se a “UPP social” não vier em seguida, em breve ninguém saberá mais por que os PMs estão no morro. Como diz Perim, as UPPs têm que se transformar em “Unidades de Políticas Públicas”. [a prevalecer o entendimento desse Junior, logo terá que ser criada a Bolsa Comportamento, destinada a recompensar ao morador de favelas que cumprir as leis.
As Leis existem para ser cumpridas - cumpri-las é DEVER, que sendo cumprido deixa tudo dentro da normalidade; o não cumprimento das Leis deve ser punido de forma imediata e severa.]
 
A ansiada inversão virtuosa só agora começa a existir, ainda como um sonho que, por enquanto, é apenas uma tomada de consciência de parte da população. José Mariano Beltrame é um desses sonhadores.

Fonte: O Globo - Cacá Diegues

 

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O medo volta a assaltar os cariocas



O que o governador Luiz Fernando Pezão pretende fazer a respeito?
A política de implantação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas áreas sob o comando do tráfico de drogas no Rio de Janeiro fez mais pela segurança dos habitantes da cidade do que tudo o mais que se fizera antes. De acordo. Mas nada sugere que ela irá muito além disso.


Traficantes trocaram tiros com policiais e atearam fogo em viatura da PM no Morro de São Carlos (Foto: Fernando Quevedo / O Globo )

Aos poucos, o tráfico está retomando várias áreas que tinha abandonado. Multiplicam-se os conflitos entre os marginais. E também os conflitos deles com a polícia. O medo, definitivamente, voltou a fazer companhia aos cariocas. O que o governador Luiz Fernando Pezão pretende fazer a respeito?

[o irônico, ridículo mesmo, vergonhoso,  é que a atual guerra nas favelas do Centro do Rio é comandada por dois chefões do tráfico que estavam presos no presídio de segurança máxima em Porto Velho e foram liberados para visitar a família e optaram por não voltar.
A incompetência, o descaso é tamanho que gastam uma fortuna para construir os tais presídios de segurança máxima – supõe-se que para abrigar criminosos perigosos e impedir fugas; só que a legislação leniente permite que os bandidos sejam liberados para visitar familiares.]

quarta-feira, 8 de abril de 2015

O sofá com plástico da segurança pública brasileira



Quantos ministros da Justiça, governadores, secretários de segurança já ouvimos prometer mudanças, prioridade e mais investimentos para a Segurança Pública?
Nos antigamente, algumas famílias tinham o hábito de manter sofás e poltronas cobertos de plásticos, que só eram retirados para receber visitas ilustres.  No dia a dia, a família e os chegados eram obrigados a conviver com o desconforto do plástico.

O Brasil tem feito isso. Fazemos impecáveis eventos internacionais – Copa do Mundo, das Confederações, visita do Papa, etc. Passados os supereventos, voltamos para o sofá com plástico.

O exemplo mais gritante desse mau hábito é a pacificação do Rio de Janeiro. Nem um ano depois da Copa e volta tudo ao normal – polícia violenta, despreparada, gente morrendo de bala perdida ou muito bem endereçada, nos lugares de sempre, onde vivem os menos ricos. O de sempre. Como sempre. [a análise omite um dos aspectos que elimina qualquer perspectiva de êxito da política das UPPs.
Enquanto não for eliminado o hábito estúpido de divulgar com meses de antecedência o dia e hora da ocupação de determinada favela ou mesmo complexo de favelas e o efetivo a ser utilizado, a política de implantação de Unidade de Polícia Pacificadora está fadada ao fracasso. A unidade é instalada, ocorrem comemorações, a favela fica tranquila – os bandidos foram avisados e providenciaram uma mudança temporária e tudo fica uma maravilha.
Passado algum tempo, meses no máximo os bandidos começam a voltar e impõe o reinado do terror, inclusive jogando a população contra os policiais.
O pretexto para a expedição do ‘aviso prévio’ é evitar confronto. Esquecem os autores da política do ‘aviso prévio’ que havendo o confronto em um momento escolhido pela polícia, encontrando os bandidos um pouco desprevenidos, o efeito dissuasório de um eventual retorno da bandidagem prevalece.
Mortes são, infelizmente, necessárias para que a paz se consolide.]

“A polícia sempre agiu de forma truculenta no Alemão.... São soldados destreinados. Saem atirando em quem estiver pela frente, sem perguntar”, relatou o pai o menino Eduardo de Jesus, de 10 anos, assassinado na porta de casa. [a dor de perder um filho é uma sensação horrenda e que só é avaliada na plenitude por quem perdeu. Mais ainda, se o filho perdido é um garoto de apenas dez anos. Com certeza devido a dor fica praticamente impossível para o pai do menino Eduardo de Jesus entender que em uma situação de confronto, em um tiroteio, balas se cruzando, não é possível ao policial efetuar perguntas antes de atirar – o tempo despendido em uma pergunta pode representar a oportunidade do bandido atirar primeiro e o policial ‘curioso’ ser abatido.]  

Alguma novidade no desabafo dolorido do pai José Maria? Cada um de nós sabe que é assim e não só no Rio de Janeiro, mas país afora. No domingo, ouvi o governador do Rio declarando: “Nesses três meses de governo, já formamos mais de 1.100 PMs e vamos intensificar a ocupação no Alemão". Um pouquinho antes, na mesma matéria, um policial dizia: “O policial forma hoje, coloca na UPP. ... Ta aqui a pistola. É ali que vai trabalhar”. [três meses para formar policiais para uma situação de guerra em que o inimigo é mais bem treinado, melhor armado e escolhe o momento do combate].
Pela ótica dos defensores dos bandidos o policial nunca pode dar o primeiro tiro. Quando os bandidos começam a atirar o policial antes de revidas tem que perguntar a o possível alvo se atirou ou não.]

Os policiais também relataram que “não há fuzil para todo mundo”. As comunidades onde atuam são populosas zonas de guerra. Pistolas e homens despreparados não dão conta. Matam quem não deve. Morrem por armas melhores e mais eficientes.
A matéria mostrou ainda o estado precário dos alojamentos onde os policiais trabalham, as UPPscontêineres destroçados, sem banheiros, sem colchões, onde água e lâmpadas têm de ser compradas pelos próprios policiais, com dinheiro de seus parcos salários.

Alguma novidade nessas informações?
Contêineres são usados em situações emergenciais. Qualquer tontinho sabe que têm vida curta. Deveriam ser, claro, substituídos por construções sólidas, duradouras. Foram? São 38 as UPPs no Rio. Quantas ainda de zinco, sem banheiros, água, colchões?
Já vimos todos esses “filmes” antes - violência, truculência, formação precária (três meses para formar soldados para guerra urbana?), sórdidas condições de trabalho, o provisório e precário tornado permanente.