Orçamento
de 2019 não poderá ser feito enquanto a lei não for alterada, e governo prepara
uma série de medidas que ainda serão apresentadas como contrapartida.
O governo
quer a suspensão da regra de ouro junto com um conjunto de medidas: a
possibilidade de usar recursos de superávits passados que estão na conta única,
mudar o artigo constitucional que dá aos servidores direito a aumento salarial
todo ano, reduzir carga horária e salário de servidor. Para o governo, 2019 é o
ano que já começou. Ele tem que preparar o Orçamento e há um impasse.
Quando o
ministro Henrique Meirelles fala em adiar a discussão é porque houve forte
reação. Mas no governo admite-se que dá para fechar as contas de 2018, mas não
dá para fazer o Orçamento do próximo ano. A ideia é apresentar um conjunto de
propostas junto com a suspensão da regra de ouro. Algumas
delas: na conta única estão receitas de impostos que tinham destinação
específica, não usadas nos anos em que houve superávit. Pela lei, essa receita
só pode ser usada naquele objetivo para a qual estava destinada. A Cide, por
exemplo, que é para investimento em estradas. O governo quer a liberdade de
remanejar esses recursos. Outra mudança é no artigo da Constituição que dá ao
funcionário público o direito a reajuste anual. O governo quer não reajustar
durante a crise. A terceira medida seria a possibilidade de reduzir horas
trabalhadas de servidores de áreas não essenciais para diminuir os salários. O
ministro Teori Zavascki morreu antes de julgar uma Ação Direta de
Inconstitucionalidade (Adin) no Supremo sobre isso.
O que se
diz no governo é que a crise é maior e mais ampla do que eles estão conseguindo
explicar. Admitem que comunicaram mal a ideia de quebrar a regra de ouro, que
estabelece que só pode haver aumento de endividamento na mesma proporção dos
investimentos. A ideia é reapresentar a proposta junto com outras mudanças
constitucionais. Pela lei,
a regra de ouro se cumpre duas vezes: quando o Planejamento faz o Orçamento e o
entrega em agosto ao Congresso e, depois, quando o Tesouro prova ao fim do ano
que não quebrou a regra. Portanto, o impasse de 2019 é realidade agora. Teria
que haver um ajuste que os técnicos calculam entre R$ 180 bilhões e R$ 200
bilhões num ano, 3% do PIB. Um ajuste “impossível”.
O grande
risco seria o Congresso se enganar com o curto prazo. De imediato, há notícias
boas: o déficit de 2017 ficará menor em R$ 30 bilhões, como eu já escrevi aqui,
e em 2018 haverá o repasse de R$ 130 bi do BNDES para o Tesouro, como informou
ontem o “Valor”. A confusão é o ano que vem, por isso o que se diz no governo é
que as boas notícias de curto prazo têm que ser vistas como uma janela de
oportunidade: — A ideia
de que se pode resolver o problema aprovando crédito suplementar, como foi
sugerida por alguns economistas, é equivocada. Esse recurso é para ser usado
quando uma despesa não prevista aconteceu, uma catástrofe, por exemplo, e o
gasto real que o governo terá com uma rubrica é maior do que a orçada. Mas o
governo não pode fazer um Orçamento com despesas deliberadamente subestimadas
para, no ano seguinte, pedir um crédito suplementar ao Congresso.
Quem olha
a série do Banco Central dos resultados do Tesouro vê que o Brasil, de 1991 até
2014, teve apenas um pequeno déficit primário, de 0,25% do PIB em 1997. No
começo do segundo mandato do governo Fernando Henrique, ele levou o resultado
para superávit através de um aumento de impostos. As receitas líquidas foram de
14% do PIB para 18%. E as despesas subiram de 14% para 16%. Atualmente seria
difícil fazer o ajuste através do aumento de carga tributária. Seria impossível
também cortar porque a rigidez do Orçamento aumentou em vez de diminuir. Agora
é de 92% dos gastos. — A
situação é trágica. O país em 2020 entrará no sétimo ano de superávit. Não se
deveria permitir que chegasse nesse ponto, mas chegou. O investimento público
da União em 2014 foi 1,4% do PIB. Em 2016 foi 1%, ou, R$ 65 bilhões. Em 2017
deve fechar em 0,6% do PIB, entre R$ 40 bi e R$ 45 bi. Mesmo se fosse a zero
não seria suficiente. Hoje para dizer a verdade precisaríamos de um ajuste
impossível, de 2% do PIB — admite um alto funcionário da área econômica.
Esse tom
dramático se pode ouvir de vários integrantes da equipe. O país chegou num
impasse fiscal. Eles dizem que é preciso agir agora para ter Orçamento para
2019, ano em que o governo será outro.
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