As articulações do PT e de Lula para escapar do desfecho trágico da prisão incluem (seriamente) o asilo diplomático em países camaradas. Por que a manobra – mais uma afronta à Justiça – pode constituir um tiro no pé
Líderes políticos, poderosos ou não, em decadência ou não, costumam ser
rodeados por dois grupos distintos de auxiliares: os que lhe falam verdades
difíceis de serem ditas e aqueles que, de suas bocas, só escapam sinfonias para
os ouvidos do interlocutor – ou seja, os que só pronunciam palavras aveludadas,
aquelas que seu líder mais gostaria de ouvir. O senador Jorge Viana (AC) se
enquadra nesse segundo time. Viana virou uma espécie de grilo falante de Lula para assuntos de desacato à Justiça e tentativas
de driblar a lei. Há dois anos, foi dele a sugestão, registrada em escuta
telefônica com autorização judicial, para que Lula afrontasse publicamente o
juiz Sergio Moro de modo a virar um “preso político”. Como o diálogo se tornou
público, Lula não levou a ideia adiante, nem Moro caiu nessa. Agora, é da lavra
de Viana outra indecente manobra que, nos últimos dias, ganhou fôlego no seio
do PT. É semelhante à primeira na essência: para escapar da prisão, hoje
iminente, Lula buscaria o asilo diplomático em países camaradas.
De lá,
discursaria ao seu séquito como “exilado político”, até retornar ao Brasil em
momento de mais calmaria – ou depois de costurar um acordão político-jurídico
que o livrasse definitivamente da cadeia. Embora tenha dito, recentemente, que
“a palavra fugir não existe” em sua vida, Lula gostou do que ouviu – como não.
E passou a considerar seriamente a hipótese. A proposta de Viana foi
recepcionada no partido como cafezinho quente e açucarado em sala de espera.
Tanto que logo ganhou adeptos no petismo: o ex-ministro José Dirceu, também
condenado em segunda instância, mas que ainda segue livre, foi um dos que
endossaram a “saída pelo asilo”, à revelia da lei. Na última semana, passou a
propagar a tese, que se espalhou no PT como rastilho de pólvora.
Entre as nações dispostas a receber Lula, estariam a Venezuela, Bolívia,
Equador e Cuba, além de países do continente africano onde o petista poderia
fixar residência como Argélia e Etiópia. Este último, destino para onde o
ex-presidente tinha até viagem marcada. Lá daria uma palestra sobre corrupção,
tema que, a julgar pelas recentes decisões judiciais, ele domina como poucos.
Mas capitulou, depois que o juiz Ricardo Leite cassou-lhe o passaporte – já
devolvido. Face à impossibilidade de se dirigir aos etíopes pessoalmente, Lula
gravou um vídeo em que dourou a narrativa persecutória – o suficiente para
angariar apoios e receber convites de hospitalidade.
Em sua
argumentação em favor da idéia do asilo, Viana lapida a articulação. Argumenta
que, se um país aceitar conceder refúgio ao ex-presidente, não há possibilidade
de extradição, pois reconheceria que a situação não é somente jurídica, mas
política. A vantagem para Lula seria a possibilidade de, solto, seguir na toada
de entrevistas e de alguma forma se manifestando sobre o processo. Se decidisse
partir para Venezuela, Bolívia ou Equador, Lula não precisaria ir de avião nem
muito menos de passaporte. Bastaria pegar um carro que chegaria ao destino
livremente, beneficiado pela longa área de fronteira que circunda o território
brasileiro. Para convencer a chancelaria vizinha a lhe conceder o asilo, Lula
teria de justificar sua fuga. Um bom argumento, na visão dos petistas
entusiastas da tese, seria declarar ser vítima de perseguição política, discurso
que o partido vem usando desde que se ventilou o nome dele em denúncias de
corrupção. Apesar de a maioria dos nossos vizinhos ter acordo de extradição com
as autoridades brasileiras, o processo que o levaria ao caminho de volta não
seria rápido, o que daria para ele continuar dando as cartas e capitaneando a
militância, mesmo que de longe.
Os
articuladores
O mentor
da tese de que Lula deve driblar a lei para escapar da prisão e buscar asilo
diplomático numa embaixada amiga é o senador Jorge Viana (PT-AC), mas a
hipótese já havia sido aventada pelo ex-ministro Ciro Gomes, candidato a
presidente pelo PDT. O ex-ministro José Dirceu também endossa a ideia
Para Jorge Viana, se um país aceitar conceder refúgio a lula, não há
possibilidade de extradição, “pois reconheceria que a situação é política”
“A gente vai lá, sequestra o Lula e entrega numa embaixada. Isso eu topo
fazer” Ciro
Gomes, ex-ministro de Lula
Passaporte
devolvido
Por
enquanto, não há registro de que o ex-presidente tenha feito um movimento mais
brusco nesse sentido. Segundo o Itamaraty, não existe, por ora, nenhum
comunicado dessas nações sobre um pedido de asilo a Lula. O Itamaraty é
categórico: apesar de não ser obrigatório, os países da América do Sul costumam
manter uma relação diplomática entre si. Para uma fonte ouvida pela ISTOÉ, uma
omissão dessa natureza pode abalar a diplomacia com o Brasil. Dependendo do
desfecho, até mesmo suspender acordos entre as duas nações, por um gesto
unilateral do governo brasileiro. Procuradas pela reportagem, as embaixadas
desses países negaram peremptoriamente que tenha recebido qualquer contato,
muito menos nesses termos. Os embaixadores se negaram a tecer qualquer
comentário adicional. O estratagema, por ousado e ilegal, pode realmente
constituir um tirambaço no pé, caso seja levado adiante por Lula e o PT. ISTOÉ
apurou com a alta cúpula da Polícia Federal que, desde a decisão do TRF-4,
agentes federais já monitoram os passos de Lula. Especialmente depois que seu
passaporte foi devolvido na semana passada, por decisão da Justiça.
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