Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Arábia Saudita. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Arábia Saudita. Mostrar todas as postagens

sábado, 9 de maio de 2020

Cide – a intervenção que Bolsonaro não quer entender - Maílson da Nóbrega


quinta-feira, 12 de março de 2020

Coronavírus é recessão - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 12 de março de 2020

Eis como a situação econômica, em qualquer país, pode se complicar, em consequência das restrições impostas para o controle do coronavírus. Começa que a empresa perde receita ou porque teve que fechar (cinemas, por exemplo) ou porque os consumidores não vão às compras. 

Mas continua com suas obrigações básicas, pagamento de salários, impostos e prestações de empréstimos, além da conta de insumos adquiridos anteriormente. Se essa situação se prolonga, a empresa atrasa impostos, dá o cano nos bancos e demite funcionários. E a crise passa para o governo, que perde receita, para os bancos, que levam calote, e, mais importante e grave, para os trabalhadores que perdem emprego. É a partir daí que todos, governo e sociedade, devem organizar as respostas para dividir os prejuízos. 

No fundo, sabe-se o que fazer. A questão política é como coordenar as medidas nacional e globalmente.    Governos podem adiar o pagamento de impostos, especialmente para os setores mais atingidos. Bancos podem negociar a reestruturação de financiamentos. Na Itália, a associação de bancos disse que seus membros podem suspender as dívidas de pequenas empresas e de pessoas, incluindo hipotecas. E as empresas em geral podem evitar as demissões, por exemplo, reduzindo a jornada de trabalho, com redução equivalente de salários. Mesmo assim, governos devem estender os benefícios de desemprego.

Tudo isso custa dinheiro e requer outras ações para amenizar os danos. Os bancos centrais já se preparam para injetar dinheiro no sistema financeiro, comprando títulos de bancos e empresas. Em muitos países, a taxa de juros já está a zero ou negativa – era uma resposta à desaceleração econômica que já acontecia antes do coronavírus. Nesses casos, só resta a opção de dar liquidez ao mercado. Mas nos Estados Unidos, por exemplo, é praticamente certa a redução dos juros a zero. E, finalmente, todos os governos precisam gastar muito dinheiro no controle da epidemia.

Nada disso é novidade. As medidas econômicas de combate à recessão foram aplicadas na crise de 2008/09, com bastante sucesso. E houve uma extraordinária coordenação entre governos, bancos centrais e instituições globais, como o FMI e o Banco Mundial. E aqui já aparecem alguns problemas. A coordenação nacional e global, por exemplo, é menos provável hoje. Peça fundamental, o governo americano, com Trump, está mais para tentar tirar vantagem (América primeiro) do que para cooperar. Aliás, como Bolsonaro nesta semana, Trump já havia dito que a epidemia era mais coisa da imprensa e dos democratas. Agora, está dizendo que os democratas bloqueiam as medidas de controle do vírus. Também se vangloriou com a frase: temos uma economia muito forte, mas isso causa inveja no mundo (em tradução livre).

De outro lado, existe a situação específica de cada país. No Brasil, por exemplo, os governos federal e estaduais estão em déficit, fazendo ajuste fiscal. Como poderiam aumentar gastos e perder receita com adiamento do pagamento de impostos? Sem dúvida, uma reação lógica está na aceleração das reformas. A tributária, por exemplo, facilitaria em muito a vida das empresas. Também seria importante a aprovação da “PEC emergencial”, que permitiria mudanças nos gastos, com a redução no pagamento de salários e aumento de despesas em outras áreas, como saúde e infraestrutura. Ocorre que a pressão no Congresso será na direção contrária: não cortar nada e aumentar gastos em geral.

Nesse quadro, não ajuda em nada a atitude agressiva do presidente Bolsonaro e seu pessoal em relação ao Congresso e à mídia, esta que tem importante função de informar e esclarecer. Se o presidente diz que a crise é mais coisa da grande mídia, isso pode desmobilizar esforços e cuidados que todos deveriam tomar. Além disso, atrapalha a coordenação que deveria ocorrer em todas as instâncias da administração para combater a epidemia e seus efeitos na economia. A guerra de preços do petróleo lançada pela Arábia Saudita foi, literalmente, gasolina no incêndio. Mas é mais provável um arranjo  aqui, com um armistício entre Arábia Saudita e Rússia.  A crise do coronavírus, com ameaça de recessão, é mais ampla e mais difícil de administrar.


terça-feira, 10 de março de 2020

Guerra do petróleo e coronavírus elevam risco de recessão mundial - O Globo

Com crise mundial e coronavírus, Planalto teme risco de nova recessão

Para analistas e Congresso, manifestação do próximo domingo serve apenas para desviar o foco de dificuldades para o governo que podem ser trazidas pelo desaquecimento da economia mundial por causa do coronavírus, que deixa rastros de prejuízos mundo afora

Ibovespa tem queda de 12,17% e empresas perdem R$ 432 bi Petrobras e Vale: valor de mercado cai R$ 126,9 bi - Paulo Guedes: reformas são a melhor resposta para a crise

'Mercado financeiro é alvo de um 'choque dentro do outro', diz economista

Para Roberto Padovani, guerra de preços do petróleo agravou nervosismo de investidores com coronavírus - O economista acredita em acordo entre Moscou e Riad sobre o petróleo 

Padovani acredita que o maior risco para o crescimento mundial continua sendo a epidemia, que pode atingir de forma mais profunda EUA e Europa, que ao lado da China são os motores do crescimento mundial.

Coronavírus e guerra do petróleo:  Confira guia para lidar com a crise nos mercados

O GLOBO — Como o senhor vê a guerra de preços do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita num cenário em que o mercado financeiro já vinha sofrendo com a epidemia de coronavírus?
ROBERTO PADOVANI — Os mercados já estavam tensos com a falta de informações sobre os impactos do coronavírus. No final de semana, o preço do petróleo despencou com a guerra entre Arábia Saudita e Rússia. É um choque dentro de outro choque, agravando o nervosismo dos mercados.

Podemos ter uma nova crise como a de 2008?
Embora a volatilidade dos mercados faça lembrar a crise de 2008, não temos bolha imobiliária ou crise dos bancos, que deram início à crise financeira. Acredito que esta crise é temporária, de um ou dois meses. A China foi a origem, mas está mostrando que conseguiu controlar o problema e está servindo de referência para outros países.


Para o Brasil, qual é o impacto dessa guerra do petróleo?
Esse cenário vai gerar mais cautela entre os investidores e acaba impactando o fluxo de recursos para o país. A confiança do investidor cai com aumento da incerteza. E o Brasil terá que fazer mais leilões de campos de petróleo nesse ambiente.

Essa guerra do preço do petróleo pode durar muito tempo?
A Arábia Saudita tem muito poder de fogo. Produz petróleo a custo muito  baixo. Mas houve muito ruído na negociação com a Rússia. Pode ter havido um erro de cálculo. Acho que a saída natural é que os países voltem a conversar e cheguem a um acordo.

(.....)


Mercados acionários de todo o mundo sofreram ontem perdas históricas na esteira de uma disputa entre Arábia Saudita e Rússia sobre os preços do petróleo —o que se somou à turbulência causada pela epidemia de coronavírus. Os dois fatores, para analistas, formam uma tempestade perfeita que aumenta o risco de uma recessão. Várias Bolsas amargaram as maiores quedas desde 2008, quando eclodiu a crise financeira global. Já o Ibovespa, principal índice da B3, desabou 12,17%, o maior desde setembro de 1998, na crise russa. O indicador caiu aos 86.067 pontos. Desde 23 de janeiro, quando o Ibovespa atingiu a máxima histórica de 119.527 pontos, a desvalorização acumulada é de 38,8%. Somente ontem, as empresas com ações negociadas na Bolsa brasileira perderam R$ 432 bilhões de valor de mercado, segundo a Economática. 

Mesmo com o Banco Central vendendo US$ 3,5 bilhões das reservas internacionais, a cotação do dólar comercial subiu 2,03% a R$ 4,728, novo recorde histórico. Durante o dia, a moeda americana chegou a atingir R$ 4,79. O BC já anunciou que irá vender hoje mais US$ 2 bilhões. Diante da forte volatilidade, o Tesouro Nacional cancelou o leilão que faria na quinta-feira de títulos públicos prefixados.

NEGÓCIOS TRAVADOS
Às 10h31m, meia hora depois da abertura, quando o Ibovespa caía 10,02%, a Bolsa acionou o mecanismo de circuit breaker, que trava os negócios por 30 minutos sempre que as quedas ultrapassam 10%. O mecanismo não era acionado desde 18 de maio de 2017, um dia após o colunista do GLOBO Lauro Jardim revelar áudios do empresário Joesley Batista que comprometiam o então presidente Michel Temer.

(.....)

Nos Estados Unidos, as principais Bolsas também acionaram o circuit breaker quando a queda do índice S&P 500 superou os 7%, logo após a abertura do pregão. Os negócios ficaram suspensos por 15 minutos. Os principais índices americanos fecharam em queda de mais de 7%, no pior dia desde 2008.  Foi a primeira vez que os negócios em Wall Street foram interrompidos desde as eleições presidenciais de 2016.

As quedas também foram fortes na Ásia e na Europa. A Bolsas da Austrália (-7,33%) e de Paris (-8,39%) também registraram suas maiores perdas desde a crise de 2008, enquanto a de Frankfurt (-7,94%) teve seu pior dia desde o 11 de Setembro.

Para o economista-chefe do banco BV, Roberto Padovani, a disputa entre Arábia Saudita e Rússia piorou o que já era grave: Os mercados já estavam tensos com a falta de informações sobre os impactos do coronavírus. A guerra do petróleo é um choque dentro de outro choque, agravando o nervosismo dos mercados — disse Padovani, que observa que o grande temor dos investidores são as consequências que a epidemia pode trazer aos outros dois motores do crescimento mundial, além da China, que são os Estados Unidos e a Europa.

INCERTEZA CORROSIVA
Em relatório a clientes, Joachim Fels, assessor econômico global da gestora Pimco, afirmou ver possibilidade de uma recessão nos EUA ena Europa neste semestre. O Japão, segundo ele, já estaria em recessão. “Em nossa opinião, o pior para a economia ainda está por vir”, escreveu Fels.

Para Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs, em Nova York, a incerteza “é pior do que o risco”:

—É um cenário muito sério. Embora os governos se esforcem em conter o avanço do coronavírus, inclusive como desenvolvimento de uma vacina, haverá um impacto muito grande, e caminhamos a passos largos para uma recessão global. E agora, haverá queda da demanda e aumento da oferta do petróleo. Um novo viés negativo para o mercado.

A cotação do petróleo tipo Brent chegou a desabar mais de 30% na noite de domingo, depois de a Arábia Saudita anunciar que cortaria seus preços em mais de 10% e que elevaria a produção em abril.

O pano de fundo foi uma disputa coma Rússia no âmbito da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). O cartel tentava há semanas costurar um acordo para reduzir a produção, devido à queda na demanda por causa do coronavírus, que derrubou a indústria chinesa.

Mas, em um reunião no fim de semana, a Rússia decidiu não cooperar coma Opep para reduzira produção e, consequentemente, elevar os preços. Em represália, a Arábia Saudita decidiu cortar preços e produzir mais.

A Rússia ontem afirmou que tem capacidade de aguentar os preços baixos por cerca de dez anos, graças a seu fundo soberano de US $150 bilhões. Para analistas, o verdadeiro alvo da briga era a produção de shalegas (petróleo não convencional) nos EUA, que pode não ser lucrativa com o barril em torno de US$ 30.

O analista do Citigroup Ed Morse aval iaque o barril pode cair a US $20, pois, pela primeira vez, um aumento da oferta ocorre junto com uma queda na demanda.

Em relatório, a agência de classificação de risco Fitch Ratings afirma que “os efeitos do choque do petróleo podem durar muito mais do que aqueles do coronavírus”. O banco Goldman Sachs cortou a previsão para o preço do barril do Brent no segundo e terceiro trimestres para US$ 30 .

O analista Ilan Arbteman, da Ativa Investimentos, porém, não vê mudança nos fundamentos das empresas petrolíferas. Mas ressalta que o consumidor não deve esperar que a Petrobras repasse aqueda de preços ao mercado interno.

Economia - O Globo


Um conto árabe - Nas entrelinhas

”Com a nova crise do petróleo, a conjuntura mudou completamente, mas parece que o presidente Jair Bolsonaro ainda não percebeu a verdadeira dimensão do problema”

“Aquele que não sabe se adaptar às realidades do mundo sucumbe infalivelmente aos perigos que não soube evitar (…) Aquele que não prevê as consequências de seus atos não pode conservar os favores do século” (As Mil e Uma Noites). Desde a década de 1970, a Arábia Saudita manipula o fato de que o petróleo não tem uma fonte renovável, virando a mesa na relação com as grandes potências. O desenvolvimento da economia do carbono, com a industrialização e a ampliação do consumo, somente aumentou seu poder de barganha, liderando a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). Foi-se o tempo em que as chamadas “Sete Irmãs” (Standard Oil, Royal Dutch, Shell, Móbil, Gulf, BP e Standard Oil da Califórnia) controlavam os preços do mercado.

A primeira crise do petróleo ocorreu em 1956, quando o Egito nacionalizou o Canal de Suez, que era de propriedade anglo-francesa. A medida fez com que o abastecimento de produtos nos países ocidentais fosse interrompido, o que causou aumento dos preços do petróleo. O segundo momento foi em 1973, em protesto ao apoio que os Estados Unidos deram a Israel durante a Guerra do Yom Kipur: os países-membros da Opep novamente supervalorizaram o preço do petróleo. Entre outubro daquele ano e março de 1974, ou seja, em cinco meses, aumentou 400%, com reflexos nos Estados Unidos e na Europa, e desestabilizou a economia mundial.

Essa crise foi um fator decisivo para o colapso do chamado “milagre brasileiro”, durante o governo de Ernesto Geisel, o que colocou em xeque o regime militar. A resposta do governo foi criar o programa do álcool e iniciar a busca de petróleo no mar, para reduzir a dependência. Só recentemente o Brasil passou a ser autossuficiente na produção de petróleo. Nova crise ocorreu após a Revolução do Irã, cuja guerra com Iraque reduziu a produção de petróleo, eram os dois maiores produtores, e a oferta do petróleo foi bastante reduzida no mercado mundial. Em 1991, a Guerra do Golfo gerou outra crise. O Kuwait foi invadido pelo Iraque, os Estados Unidos intervieram no conflito e expulsaram os iraquianos do Kuwait, que, ao sair, incendiaram poços de petróleo.

Na crise financeira de 2008, iniciada no mercado imobiliário dos Estados Unidos, movimentos especulativos de escala global fizeram com que o preço do petróleo subisse 100% entre os seis primeiros meses do ano. Agora, estamos diante de nova crise, provocada pela Arábia Saudita, num cenário em que os preços do petróleo já estavam em baixa, por causa da epidemia de coronavírus, que desacelerou a economia global e afetou a demanda por energia. Os membros da Opep ainda são os maiores produtores de petróleo do mundo, juntos somam 27,13% da produção mundial.

Desabando
Na sexta-feira, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo
(Opep) sugeriu a diminuição da produção, estabilizando os preços da commodity. Mas a Arábia Saudita, maior exportador de petróleo do mundo, condicionou o corte à colaboração da Rússia, que não faz parte da Opep e rejeitou a medida. No domingo, a Arábia Saudita, em retaliação, anunciou uma redução no preço de venda e um aumento na produção a partir de abril, o que provocou uma nova crise. Ontem, os preços do petróleo desabaram cerca de 25%, para perto de US$ 30, na maior queda diária desde a Guerra do Golfo. As bolsas de valores derreteram, inclusive a de Nova York.

No Brasil, a Bovespa desabou 12,16%, sua maior queda em mais de 20 anos. Voltou ao patamar de 27 de dezembro de 2018, quando marcou 85.460 pontos. Logo na abertura da sessão, o índice despencou 10%, atingindo mínimas em mais de um ano, o que provocou a interrupção das negociações (circuit breaker). Às 10h32, o índice registrou queda de 10,02%, recuando a 88.178 pontos, quando as negociações foram interrompidas por 30 minutos. O Banco Central (BC) teve de intervir no câmbio, vendendo dólar, torrando R$ 3 bilhões em reservas. A Petrobras perdeu R$ 91 bilhões em valor de mercado, avaliada em R$ 215,8 bilhões, contra um valor de R$ 306,9 bilhões no fechamento dos mercados na sexta-feira.

Com o PIB de 1,1% de 2019, o Brasil já estava em marcha lenta, correndo risco de desaceleração, por causa do impacto no coronavírus na economia mundial, principalmente a chinesa. Com a nova crise do petróleo, a conjuntura econômica mudou completamente, mas parece que o presidente Jair Bolsonaro ainda não percebeu a verdadeira dimensão do problema. Briga com aqueles com os quais precisa contar para enfrentar o cenário mundial, sobretudo o Congresso. [infelizmente, o Congresso não resolve os problemas econômicos brasileiros;
qualquer ação do Congresso, em favor do Brasil, além de lenta, custa caro.
O Poder Executivo tem que pagar um alto preço. A maior parte dos parlamentares - existe exceções - está mais preocupada com o que vai ganhar.]  Precisa se dar conta das mudanças em curso e da gravidade do momento que o país atravessa. Os principais problemas do país são de ordem objetiva, ou seja, não se resolvem com narrativas ideológicas, num jogo de perde-perde.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense




Encolhendo ministros - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

É só impressão ou os grandes nomes que se aproximaram do presidente Jair Bolsonaro e entraram no governo estão encolhendo? É uma espécie de maldição que agora se abate sobre a atriz e secretária de Cultura, Regina Duarte, eterna “namoradinha do Brasil”. [atualização: Regina Duarte é subordinada diretamente ao presidente Bolsonaro - ela, pessoa física, e atual secretária de Cultura - mas, a Cultura não tem status de Ministério.
Anda que tivesse, qualquer ministro de Estado está subordinado ao Presidente da República - são, constitucionalmente, auxiliares do Chefe do Poder Executivo.
A subordinação direta da secretária ao Presidente não reduz o nível de subordinação, apenas torna o subordinado mais 'próximo' do Presidente - condição que pode significar mais prestígio e também menor independência.
A independência do ministro, no caso secretário, depende da importância do 'órgão' que chefia e do desempenho do chefe.
O Ministério da Infraestrutura, excelente desempenho, trabalhando e cuidando do assunto = INFRAESTRUTURA = sob o comando do ministro Tarcisio, pouco se fala dele, passa ao largo da 'guerrinhas'.
Mas, seu titular está firme como uma rocha.

Já a Cultura, não tem importância que justifique um Ministério exclusivo. O ideal seria integrar o MEC - Ministério da Educação e Cultura.]

Se havia um verdadeiro “mito” na posse do governo, era o juiz Sérgio Moro, cuja fama atravessou fronteiras e oceanos depois de comandar a maior operação de combate à corrupção do mundo. Não durou muito. Mito como juiz de Curitiba, Moro foi colocado no devido lugar pelo presidente, conhecido tanto pelo ciúme quanto pela mania de perseguição, o capitão do “quem manda no governo sou eu”, reforçado pelo “quem tem votos e popularidade sou eu”.

O super-Moro foi diminuindo até que sua mulher, Rosângela Moro, admitiu: “não vejo o Bolsonaro, o Sérgio Moro, eu vejo o Sérgio Moro no governo Bolsonaro, eu vejo uma coisa só”. Quem engoliu quem? O presidente, que encolhe todos à sua volta, ou o ministro, que aguentou uma desautorização após a outra e não deu uma palavra contra o motim de PMs no Ceará?

O super-Guedes também não está mais essa Brastemp toda, depois de perder o embalo da reforma da Previdência e tratar como corriqueiro o PIB de 1,1%. Diz que “sem reforma não tem crescimento”, mas nada de enviá-las ao Congresso. Enquanto isso, o presidente se encarrega de convocar – agora à luz do dia – manifestações que são, sim, contra o Legislativo e o Judiciário. [sendo recorrente: ser Presidente da República não implica em perder a condição de cidadão, com os direitos constitucionais inerentes à mesma.
Portanto, incluindo sem limitar o do direito à LIVRE EXPRESSÃO.
Ou este direito só vale para os inimigos do Presidente Bolsonaro?] 


Guedes tem os predicados que opinião pública, empresários e mercado adoram – é liberal, privatista, cioso do ajuste fiscal, mas está mostrando ao longo dos meses que promete muito, entrega pouco. Quem jogou todas as suas fichas nele, fechando os olhos e os ouvidos para as patacoadas do chefe, começa a se perguntar: “qual é mesmo o plano da economia?”

Para piorar, Guedes até aqui tinha carta-branca e apenas cedeu na Previdência diferenciada para os militares. Mas, nas reformas administrativa e previdenciária, quem manda é o Planalto.  Ou melhor, o próprio Bolsonaro. Quanto mais o ministro se esgoela a favor das reformas, mais o presidente dá de ombros e vai adiando. Onyx Lorenzoni foi rebaixado e não se mais fala nele. Gustavo Bebianno empenhou tudo na campanha de Bolsonaro e não deu para o gasto. O general Santos Cruz agiu em legítima defesa contra o guru da Virgínia e foi parar no olho da rua. E não foi o único, apenas mais um na lista de generais defenestrados. Sai um, entra outro.

[vamos tocar em dois temas que o coronavírus começa a mostrar que são de grande importância,  mas, que atrapalham.
Um deles é os cuidados com preservação do MEIO AMBIENTE - necessária, mas não tão urgente, que justifique a proposta (disfarçada)  do presidente francês de invadir a Amazônia brasileira.
Chegou ao absurdo de uma fedelha sueca ser guindada à condição de MENTORA UNIVERSAL em matéria de meio ambiente.
O Presidente Bolsonaro que ousou adjetivar a sueca, foi 'espancado' em âmbito mundial.
Hoje se ver que a China - uma das destruidores do MEIO AMBIENTE- está contendo o vírus.
Já a Itália, França,  Alemanha, Suíça, Suécia e outros defensores da conservação do MEIO AMBIENTE (o dos outros, já que o deles há muito destruíram) estão sofrendo as consequências da Covid-19.

A DEMOCRACIA apesar do Churchill afirmar "A democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela, " quando em excesso, atrapalha.
A China apesar de comunista, está na fase capinista, logo deve chegar ao capitalismo, e por ter ainda um componente autoritário, foi o o foco inicial do coronavírus, mas, está controlando. O autoritarismo possibilitou isolar uma área com mais de 10.000.000 de habitantes - aqui no Brasil fosse necessário isolar uma área menor que o Vaticano, seria impossível.
A turma dos direitos humanos e de politicamente correto não deixaria.
Já a Itália, Franca, Alemanha e outros países - farta democracia - estão com sérias dificuldades no controle do vírus.
O número de mortos na Itália já é superior - relação mortos/população - ao da China no ápice da mortandade.]

Quem começa a causar dúvidas é o general Luiz Eduardo Ramos. Não pelos defeitos, mas pelas qualidades. Pela capacidade de diálogo, de aceitação no Congresso, de trabalhar por apoios e não pela guerra. Velho amigo de Jair Bolsonaro, ele que se cuide!  Foi o general Ramos quem sugeriu Regina Duarte para a Cultura e é justamente ele quem agora critica publicamente a nova secretária, que acusou uma “facção” pelos ataques que vem recebendo, pelas redes sociais, do guru de sempre e dos saudosos do nazistoide demitido por pressão política e popular. Regina está sentindo na pele o que um punhado de jornalistas sofre todo dia. [o general Luiz Eduardo, mais uma vez confirma o acerto do adágio: errar é humano, permanecer no erro é diabólico.] 

“É o sol!”, diz experiente político, confrontado com a lista de “satélites” chamuscados pelo presidente, que deveria começar a se preocupar com o que realmente interessa: não bastasse o coronavírus, a guerra do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia explode a economia mundial. Real, Bolsas e PIB de 2020 derretem e já se fala em recessão. Não é com guerra ideológica, apagando o brilho dos seus quadros mais lustrosos e usando comediantes para dar bananas para repórteres que o presidente vai reduzir a tragédia. Ele tem é de liderar a superação da crise, mas talvez seja pedir demais. 

Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo


terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Risco de pandemia - Nas entrelinhas

São dois problemas: um é genético, como as bactérias, os coronavírus estão em permanente evolução; o outro, a escala demográfica da China, com quase 1,386 bilhão de habitantes”


Radicado em São Paulo, o médico chinês Peter Liu, em vídeos postados nas redes sociais, afirma que a China perdeu o controle sobre a epidemia do coronavírus. Atribuiu a informação a sua irmã, deputada estadual em Pequim, no mesmo dia em que a capital chinesa registrava a primeira morte devido à doença. Segundo ele, as autoridades da cidade de Wuhan falharam pela demora em fechar as fronteiras: “Quando decidiram fechar, já haviam saído 300 mil pessoas de Wuhan para o mundo, para a China inteira”, afirmou. “A minha irmã falou que na China todas as cidades estão infectadas, em todas as cidades têm pessoas que já têm o problema”, completou.
[Extremamente lamentável e preocupante a ainda incipiente epidemia do coronavírus na China. 
Primeiramente, lamentável e preocupante para a própria China, além do potencial risco para milhares, ou mesmo milhões, de vidas humanas, há o grande prejuízo que para a economia chinesa - apesar do grave inconveniente de ser comunista, a China caminha a passos largos para a liderança mundial;
Na sequência,  para os demais países do mundo, que além do elevado risco de morte de seres humanos, terão sérios problemas econômicos. 
A China já admite que ocorreu falha, atraso, no fechamento das fronteiras de Wuhan - o que, teoricamente, colocou 300.000 "bombas" humanas em circulação na China e no mundo.

Não podemos deixar de pensar se o coronavírus tivesse surgido no Brasil; 
a China, apesar da já reconhecida demora, conseguiu de forma célere fechar uma cidade com 7.500.000 de habitantes  e grande centro comercial e econômico;
também, suspendeu as comemorações do  Ano Novo chinês, as viagens internas e externas, mesmo assim, o risco foi reduzido, mas, permanece;


Imagine se o problema é no Brasil e fosse preciso suspender, vamos ousar supor, o carnaval. De imediato, protestos ocorreriam, verdadeira rebelião e partindo a decisão do Poder Executivo, haveria uma grita geral do demais Poderes, do MP e pedidos de liminares à Justiça Federal para suspender a medida preventiva e essencial para contar a peste.

Protestos seriam apresentados pelo Poder Legislativo, cogitando até mesmo do 'impeachment' presidencial, juízes concederiam liminares - muitas seriam referendadas por instâncias superiores - alegando que a suspensão feria a liberdade dos cidadãos brasileiros expressarem sua alegria.

Por tudo isso, apesar de lamentar e desejar que a epidemia seja contida, antes de se tornar  pandemia,  temos que reconhecer que é melhor para o mundo que seja na China - onde, apesar do comunismo, as autoridades possuem e podem exercer autoridade.
A China é um dos poucos países do mundo em condições de conter o coronavírus - da parte dos brasileiros e demais países do mundo, nos resta pedir a Deus para conter a peste e, concomitantemente, adotar medidas preventivas.]  

Ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou como “elevado” o risco internacional de contaminação pelo novo coronavírus. Retificou a avaliação feita anteriormente pela própria instituição, que assumiu o “erro de formulação” ao apontar o risco como “moderado”. Até o começo da tarde, os dados oficiais apontavam 81 mortes e mais de 2,7 mil pacientes infectados. A epidemia de coronavírus na China gerou drásticas restrições ao transporte de pessoas e mercadorias, paralisia do turismo e queda do consumo,e já ameaça agravar a desaceleração da economia chinesa.

Pequim adotou medidas de confinamento sem precedentes: em plenas festividades do Ano Novo chinês, o governo suspendeu as viagens organizadas na China e para o exterior, um duro golpe para o turismo. Wuhan virou “cidade proibida”, embora seja um “hub logístico” e centro de produção de automóveis da província de Hubei. Nela está instalada a Dongfeng, segunda fabricante automotiva chinesa, que tem parcerias com as francesas Renault e PSA, com fábricas instaladas na região. Produz 1,7 milhão de veículos. O setor automotivo gera negócios de mais de 58 bilhões de dólares por ano.

Os coronavírus (CoV) são uma grande família viral, conhecidos desde meados dos anos 1960, que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais. Infecções por coronavírus causam doenças respiratórias leves e moderadas, semelhantes a um resfriado comum. Alguns coronavírus, porém, podem causar síndromes respiratórias graves, como a que ficou conhecida pela sigla SARS ( Severe Acute Respiratory Syndrome). SARS é causada pelo coronavírus associado à SARS (SARS-CoV), sendo os primeiros relatos na China em 2002.

Evolução
O SARS-CoV se disseminou rapidamente para mais de doze países na América do Norte, América do Sul, Europa e Asia, causando em torno de 800 mortes, antes da epidemia global de SARS ser controlada em 2003. Em 2012, foi isolado outro novo coronavírus, distinto daquele que causou a SARS, na Arábia Saudita e, posteriormente, em outros países do Oriente Médio, na Europa e na África. Por isso, a doença passou a ser designada como síndrome respiratória do Oriente Médio, cuja sigla é MERS (Middle East Respiratory Syndrome). Agora, surgiu outro coronavírus na China.


De acordo com as investigações em andamento, o novo coronavírus pode ter origem em serpentes ou morcegos, porém não existe consenso entre os cientistas sobre isso. Coronavírus diferentes podem sofrer mutações e se recombinar, dando origem a agentes inéditos. Pulando entre espécies animais (os hospedeiros), eles eventualmente chegam aos seres humanos. É um processo que tem semelhanças com o que acontece na gripe. Na gripe suína, um porco pegou o vírus de aves e, na recombinação de vírus diferentes dentro do animal, surgiu um H1N1 que conseguiu migrar para os seres humanos.

São dois problemas: um é genético, como as bactérias, os coronavírus estão em permanente evolução; o outro, a escala demográfica da China, com quase 1,386 bilhão de habitantes, o que faz de qualquer erro de planejamento econômico ou de políticas públicas uma tragédia nacional. O governo chinês corre contra o tempo para evitar que a epidemia se alastre ainda mais e se torne uma pandemia, mas o coronavírus já afeta os negócios e a imagem dos chineses. Enquanto tenta encontrar uma vacina eficaz, a China se fecha novamente para o mundo.

Um exemplo de como a escala da China pune o erro de forma dramática foi o Grande Salto para Frente (1958-1962), um programa de profundas reformas de Mao Tsé-tung, cujo objetivo era acelerar a marcha para o comunismo. As Comunas Populares reuniam cerca de 20 mil a 30 mil pessoas, criando uma unidade social, agrícola, industrial, administrativa, cultural, médica e militar. O resultado dessa estratégia, porém, foi a desorganização da economia e a fome em massa, que matou pelo menos 18 milhões de chineses. Alguns estudos, porém, sugerem que o número de mortos foi mais próximo de 55,6 milhões.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense  


terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Uma história real de Natal - O Globo

Petróleo começou a jorrar na Guiana

Na noite de sexta-feira, os 782 mil habitantes da Guiana receberam a confirmação de que ganharam o grande prêmio da loteria geológica: o petróleo começou a jorrar quatro dias antes do Natal no campo de Liza-I, situado a 120 quilômetros da costa, em frente à capital Georgetown.  Mudou a sorte do país mais pobre da América do Sul, vizinho do Brasil nos 1.605 quilômetros de fronteira com Roraima. O petróleo produzido desde o fim de semana sela o destino da sociedade construída por migrantes indianos e africanos nas colonizações holandesa e britânica, até 1966.
Na sexta-feira, o país estava atolado na miséria de sempre, só comparável à de El Salvador, na América Central, ou do Quirguistão, na Ásia . Concentrados no litoral (10% do território), os guianenses têm expectativa de vida de 67 anos. Quatro de cada dez sobrevivem com menos de R$ 4 por dia. Água encanada é luxo, para apenas 5%.

No sábado, a Guiana acordou confirmada no clube dos países com maior potencial de produção de petróleo por habitante: nos Emirados Árabes são 2,9 mil barris por pessoa; na Noruega, 2,2 mil e na Arábia Saudita, 1,9 mil. A Guiana tem 3,9 mil , informam o governo, as americanas Exxon e Hess e a chinesa CNOOC, sócios num bloco de 27 mil quilômetros quadrados na costa atlântica.

A produção no mar começa em 102 mil barris por dia e deve avançar para 424 mil barris em cinco anos. Os efeitos são imediatos. O FMI estima crescimento real de 85,6% do Produto Interno Bruto, em relação a este ano. Equivale a duplicar a riqueza por habitante até a ceia natalina de 2020.

O país já era um paraíso comparado à vizinha Venezuela da cleptocracia chavista. Vai virar jardim dos sonhos para economistas entretidos com a agonia fiscal do Brasil ou o colapso da Argentina. A receita pública sobe mais de 30%, e a dívida cai 60% em 2020. O problema agora é político, como usar o prêmio da loteria geológica para moldar o futuro. Em março haverá eleição.
A realidade na Guiana superou as melhores fábulas de Natal.

 
José Casado, jornalista - O Globo
 
 

sábado, 2 de novembro de 2019

Barbaridades em série: a investigação desastrosa do caso Marielle - VEJA

Depoimento mentiroso que tentava ligar Bolsonaro aos assassinos é mais um triste capítulo de um crime que completa 600 dias sem solução

A execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes não para de produzir notícias espantosas, a começar pelo tempo de 600 dias sem que o caso tenha uma solução, um prodígio até para os padrões indigentes de produtividade da polícia nacional. [considerando que mais de 100.000 homícidios sem solução - só de 2015 para cá, o caso da vereadora está dentro do que podemos chamar 'normalidade'.] Quem matou? Quem mandou matar? As famílias das vítimas e toda a sociedade brasileira aguardam até hoje essas respostas, em vão. Cercada de confusões de todo tipo, a investigação jogou mais dúvidas do que luzes sobre o episódio. Quando se imaginava que nada de pior poderia acontecer depois desse roteiro lamentável, eis que no último dia 29 surgiu a notícia de uma possível conexão de Jair Bolsonaro com a história. Embora essa ligação tenha sido formalizada em depoimento à polícia, ficou claro logo depois que ela não fazia sentido. Mesmo sendo mentirosa, foi suficiente para o caso do crime sem fim atingir um novo patamar em termos de polêmica e de agitação política.


O envolvimento do nome de Bolsonaro no enredo do crime surgiu em uma reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo. A Polícia Civil do Rio de Janeiro teve acesso ao caderno de visitas do condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste do Rio, onde têm casa o presidente e o ex-­policial militar Ronnie Lessa, acusado das mortes de Marielle e de Anderson.

No dia 14 março de 2018, às 17h10, pouco mais de quatro horas antes do crime, o ex-PM Élcio Queiroz, outro suspeito dos assassinatos, a bordo de um Logan Prata, anunciou na portaria do condomínio que iria visitar Jair Bolsonaro e acabou indo até a casa de Lessa. À polícia, o porteiro afirmou que, a pedido de Élcio, ligara para a casa 58, onde vive o presidente. E que uma pessoa que ele identificou como sendo o “seu Jair” liberara a entrada. Élcio, no entanto, dirigiu-se à casa 65, onde mora Ronnie Lessa. O porteiro, então, telefonou novamente, e o mesmo “seu Jair” teria dito que sabia para onde ele estava indo. Conforme a reportagem, no dia da visita, no entanto, Bolsonaro estava em Brasília, e não no Rio. O então deputado federal registrou a presença em duas votações na Câmara. Lessa é acusado pela polícia de ser o autor dos disparos contra Marielle e Anderson. Élcio, por sua vez, é suspeito de ser o motorista do carro que levava o matador. Os dois foram presos em 12 de março.

Bolsonaro recebeu a notícia no exterior, em meio à viagem para captar investimentos na Ásia e no Oriente Médio. Em uma live transmitida da madrugada da Arábia Saudita, negou qualquer ligação com os suspeitos dos assassinatos, reclamou do vazamento de informações de um processo que corre sob sigilo e reagiu de forma furiosa às insinuações. Seu alvo principal foi a imprensa, classificada por ele de “porca” e “nojenta”. “Vocês são patifes, canalhas, não são patriotas”, vociferou, dirigindo os ataques principalmente à Rede Globo. No momento de maior destempero, ameaçou cancelar a concessão pública da emissora, que vence em 2022, uma ameaça absurda e injustificável, mesmo levando-se em conta o momento de indignação do presidente, que tem certeza de ser vítima de injustiça e perseguição no caso.

A própria reportagem do Jornal Nacional já deixava claro um problema grave no depoimento do porteiro. Como se viu, no dia em que ele diz ter interfonado para a casa de “seu Jair”, Bolsonaro encontrava-se em Brasília. Além disso, se os suspeitos do crime agiam em conluio com o presidente, o normal seria tentar despistar essa ligação a todo custo. Dentro dessa lógica, entrar no condomínio a pretexto de ir à residência de Bolsonaro para depois se dirigir ao endereço do comparsa não faz o menor sentido. Um dia após a reportagem do Jornal Nacional, surgiu outra prova robusta contra o depoimento do porteiro. Em vídeo divulgado nas redes sociais, um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, que tem casa no mesmo condomínio, mostrou arquivos de todas as gravações das chamadas da portaria para as residências do Vivendas da Barra no dia do assassinato de Marielle. Um dos áudios revela que Élcio, ao chegar ao local, mandou interfonar para a casa 65, ou seja, a residência de Ronnie.

Na mesma quarta, conforme antecipou o site de VEJA, o Ministério Público já dava como certo que o porteiro havia mentido no depoimento.Pode ter sido um equívoco, pode ter sido por vários motivos que o porteiro mencionou a casa 58 (de Jair Bolsonaro). E eles serão apurados”, afirmou a promotora Simone Sibilio. Os áudios do condomínio passaram por perícia e foram incorporados ao processo.

Depois de classificar a notícia como “factoide”, o procurador-geral da República, Augusto Aras, anunciou o arquivamento da investigação sobre a menção ao nome do presidente no episódio do assassinato enviada pelo MP do Rio ao STF. Frederick Wassef, que é o verdadeiro advogado do presidente, classificou o episódio do porteiro como “uma armação barata e de baixíssimo nível”. “Ela foi feita e arquitetada por pessoas do Rio, que plantaram uma testemunha e pediram a um indivíduo que mentisse deliberadamente”, acusa. O próprio Bolsonaro encarregou-­se de ir mais adiante nessa suspeita, dando nome aos bois. Ao citar uma revelação feita pela coluna Radar, do site de VEJA, a de que o governador fluminense Wilson Witzel sabia com antecedência do depoimento do porteiro, o presidente acusou o político do PSC de manobrar para tentar destruí-­lo tendo como objetivo a conquista de mais espaço para se credenciar às eleições de 2022 ao Palácio do Planalto. Witzel negou, mas Bolsonaro continuou batendo na tecla ao lembrar de um encontro entre os dois ocorrido em 9 de outubro no Clube Naval do Rio. Na ocasião, segundo Bolsonaro, Witzel lhe revelou que o porteiro havia citado seu nome no depoimento.

Brasília entrou em polvorosa com a repercussão política do novo escândalo. Na quarta, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), decidiu despachar de sua residência. “Se ele fosse para o Senado, a oposição passaria o dia na tribuna explorando a crise”, afirma um dos interlocutores que foram à casa de Alcolumbre. Muitos parlamentares mantiveram cautela ao avaliar o episódio. “Nunca fui bolsonarista, mas acho que todos só devem ser ‘condenados’ se comprovado definitivamente o erro”, afirma o ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB). O deputado Elmar Nascimento (DEM-­BA), líder da legenda na Câmara, declarou que o episódio em si foi superado, mas a preocupação continua. “O clima político está muito carregado. Afinal, alguém tentou envolver o presidente em um crime, o que é grave e precisa ser esclarecido”, diz.

A história marca o ápice de um caso repleto de confusões e trapalhadas de todo tipo. Vários mandantes já foram apontados, e houve até uma tentativa de sabotagem nos trabalhos para incriminar rivais. Boa parte das trombadas ocorre por disputas entre autoridades que deveriam trabalhar juntas, mas, na prática, atuam como concorrentes. Polícia Civil e Ministério Público se vangloriam do fato de que a investigação da morte de Marielle resultou em frutos não esperados, como a desarticulação da mais antiga milícia carioca, em Rio das Pedras, na Zona Oeste, a revelação da existência do Escritório do Crime, grupo de matadores por trás de diversos homicídios não esclarecidos no Rio, e do esquema de tráfico de armas liderado por Ronnie Lessa. Mas não é raro ouvir críticas de delegados a promotores e vice-versa: para além da discordância de métodos, há disputa intensa por protagonismo. O pedido de federalização do caso, feito pela ex-­procuradora-geral da República Raquel Dodge, embaralhou ainda mais a história. Enquanto o Superior Tribunal de Justiça não decide se o inquérito muda de competência, veio à tona, junto com o pedido, a existência de um áudio no qual um miliciano diz que a morte de Marielle foi encomendada por Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado, junto a Élcio Queiroz e Ronnie Lessa. O problema: nem a Polícia Civil do Rio nem o Ministério Público acreditam totalmente no relato. “Não há nenhuma prova concreta que envolva Domingos Brazão”, afirma a promotora Simone Sibilio.

 Horas depois do assassinato de Marielle e Anderson, quase todos os pré-­candidatos à Presidência divulgaram notas de pesar. Jair Bolsonaro preferiu ficar mudo. Quando questionado, disse que sua opinião “seria polêmica demais”. Ao longo dos meses, entre o silêncio e declarações de menosprezo ao episódio, o clã passou a criticar a repercussão do caso Marielle em momentos pontuais — o vereador Carlos, por exemplo, criticou a Mangueira por usar o nome dela em um samba no Carnaval carioca de 2019. Em março, quando os suspeitos foram presos, circularam na internet fotos de Bolsonaro ao lado de Élcio. [Élcio e Lessa estão  presos por envolvimento com tráfico de fuzis, já que as suspeitas não justificam a prisão.] Logo também veio à tona a informação de que o atirador era vizinho do presidente. Embora demonstrem uma proximidade desagradável, essas coincidências nada provam. A filha mais velha de Ronnie Lessa, Mohana, disse a VEJA que sua família não tinha contato com os parentes do presidente: “Eu vi o Bolsonaro duas vezes indo para a praia com a filha menor e a Michelle passeando com o cachorrinho. E só”.

Colega de Marielle na Câmara de Vereadores do Rio, Carlos Bolsonaro deu um depoimento aos policiais logo no começo das investigações devido a uma discussão ocorrida antes do crime. Um assessor de Marielle andava pelo corredor mostrando o prédio a dois amigos quando, em frente ao gabinete 905, de Carlos, comentou que ali ficava o filho de um deputado “ultraconservador” que beirava o “fascismo”. O Zero Dois ouviu tudo e, aos berros, começou a discutir, até que Marielle apareceu, colocando panos quentes. Desde a briga, Carlos passou a evitar até entrar no elevador se Marielle ou assessores dela estivessem presentes. A Polícia Civil do Rio voltou a se debruçar sobre essa velha história neste mês. Pelo menos quatro ex-funcionários de Carlos foram ouvidos até agora. Mas mesmo adversários políticos não acreditam nessa hipótese. Pessoas próximas à vereadora receberam com preocupação a notícia de que essa linha de investigação havia sido reaberta, uma vez que não veem, ali, motivo suficiente para que alguém tivesse ordenado a execução. Avaliam, também, que o movimento dá indícios de que a polícia não sabe por onde seguir.

Foi nesse enredo tragicamente rocambolesco que o nome do presidente acabou envolvido. Destemperos à parte, Bolsonaro, que já sofreu uma tentativa de assassinato, agora tem razão em reclamar de que atentaram contra sua honra com base em um depoimento fajuto. Pode-se não gostar dele por sua visão simplória e paranoica de mundo, por seu gosto por ditaduras e por sua incapacidade de administrar a nação em paz, entre outros tantos motivos. A despeito dessas críticas, justas ou não, ninguém pode ser vítima de uma insinuação de tamanha gravidade sem provas muito menos a maior autoridade do país. Esse enredo triste e irresponsável tampouco faz justiça às vítimas, às famílias de Marielle Franco e Anderson Gomes e a todos os brasileiros que acreditam na busca da verdade. O Brasil não pode mais conviver com isso. Está mais do que na hora de acabar com o mistério do crime sem fim.

Publicado em VEJA de 6 de novembro de 2019, edição nº 2659

Na VEJA, MATÉRIA COMPLETA

Colaboraram Edoardo Ghirotto e Roberta Paduan


quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Quem colocou o porteiro na tuba? eis o mistério - UOL



Blog do Josias

[as provas de que o então deputado federal estava em Brasília são indiscutíveis, baseadas em documentos oficiais da Câmara dos Deputados e também em meios eletrônicos da mesma origem.

O 'destempero' do presidente Bolsonaro é fácil de explicar. Afinal, não é todo dia que alguém, sabidamente inocente, é acusado de assassinato.

Uma acusação que teve por objetivo tentar afastar do presidiário de Curitiba a acusação do assassinato de Celso Daniel, feita ao mesmo por Marcos Valério - a tentativa fracassou.] 

Está entendido que a voz do "seu Jair" não pode ter soado no interfone da casa 58 do condomínio Vivendas da Barra, no Rio, no dia 14 de março de 2018. Proprietário do imóvel, o então deputado Jair Bolsonaro dava expediente na Câmara, em Brasília. Não teria como autorizar a entrada de Élcio Queiroz, hoje preso sob a acusação de matar Marielle Franco. A voz que soa no sistema de áudio da portaria, atesta a perícia, é a do morador da casa 65, Ronnie Lessa, outro suspeito preso pelo mesmo crime. Falta esclarecer o seguinte: Quem colocou na tuba do inquérito um porteiro capaz de inventar em dois depoimentos à polícia que falou com "seu Jair”?

Afora os depoimentos, o áudio da portaria e os rastros de Bolsonaro em Brasília há sobre a mesa a planilha com os lançamentos feitos pelo porteiro naquele fatídico 14 de março do ano passado, dia da execução de Marielle Franco. Nesse documento, está anotado o nome de Élcio Queiroz e o número da casa 58 de Bolsonaro, não do imóvel 65 de Ronnie Lessa. Supondo-se que o porteiro não fosse um vidente capaz de antecipar a futura conversão de Bolsonaro de deputado em presidente da República, cabe perguntar: por que meteu o capitão na encrenca?

Há outro mistério no lance da irritação do presidente da República com a reportagem em que o Jornal Nacional levou os depoimentos do porteiro ao ventilador, sem sonegar à plateia a informação de que seu relato não ornava com os registros de presença do "seu Jair" na Câmara. Numa live improvisada na madrugada da Arábia Saudita, o capitão perdeu a linha: "Patifaria", "porra", "canalhas", "imprensa porca", "jornalismo podre"…

Entende-se que uma resposta era necessária. Mas isso poderia ter sido feito organizadamente, sem a teatralização bizarra que apequenou o ofendido. O próprio Bolsonaro declarou que o governador fluminense Wilson Witzel lhe informara 20 dias antes sobre as menções que o porteiro fizera ao seu nome. O caso subiu para o Supremo, disse o governador ao presidente. Por que Bolsonaro esperou a encrenca chegar à vitrine do Jornal Nacional para tomar providências? Para que todo o mistério seja esclarecido, é essencial que os investigadores e a lógica comecem a caminhar na mesma direção.

Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL