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sábado, 28 de novembro de 2015

Problemas na segurança da Copa causam apreensão para os Jogos Olímpicos - Afinal, somos um país com ex-terroristas no comando do governo federal

Ataques em Paris elevaram a tensão dos estrangeiros que virão para o Rio em 2016

— O terrorismo evita se repetir, para escapar às medidas preventivas e, principalmente, gerar mais impacto e medo. Se tentarem aqui praticar atos terroristas, serão diferentes dos que já aconteceram. 
De qualquer maneira, é evidente que os riscos existem, mas podem ser reduzidos com a prevenção. A concentração de eventos numa só cidade ajuda no trabalho das forças antiterror. 
Mas não temos uma história de combate a esse flagelo. Nesses casos, é sempre útil estabelecer parcerias com forças de segurança de outros países com mais experiência na atividade antiterrorista.

Vestindo uma camisa do Flamengo, o torcedor argentino Pablo Álvarez foi preso pela Polícia Federal no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, onde se enfrentavam Argentina e Bélgica, no dia 6 de junho do ano passado, durante a Copa do Mundo. Não era para ele estar ali. Um dos chefes dos “barras bravas” torcedores responsáveis por episódios de violência nos estádios argentinos —, Álvarez estava proibido de entrar no país durante o torneio. Alguns dias antes, já havia burlado a segurança e assistido, em São Paulo, disfarçado de suíço (tinha a bandeira do país e o rosto pintado com as cores da nação europeia), a outro jogo da Argentina, em São Paulo. Nas redes sociais, apareceu zombando das autoridades brasileiras.

Militares participam, em maio de 2014, de uma simulação de ataque terrorista à estação Cidade Nova do metrô: o exercício foi um dos realizados dentro do plano de segurança preparado para a Copa do Mundo - Gustavo Miranda / Agência O Globo (31/05/2014)


A falha que permitiu a ele cruzar com facilidade a fronteira e circular livre pelo país não foi a única durante a Copa. Um relatório da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), produzido depois do evento, apontou outros problemas. O documento, revelado a autoridades responsáveis pela segurança das Olimpíadas no Rio, relacionou, principalmente, brechas na proteção interna dos estádios, que colocaram em risco torcedores e autoridades. O objetivo de apresentar o relatório foi alertar para o seguinte: os pontos vulneráveis detectados durante o mundial de futebol não podem se repetir nos Jogos. Um dos casos analisados pela Abin aconteceu no dia 18 de junho de 2014: cerca de cem torcedores chilenos e argentinos, sem ingresso, invadiram o Maracanã, causando grande tumulto no centro de mídia do estádio.

POLICIAIS SUBSTITUIRÃO AGENTES PARTICULARES
A análise da agência levou o governo federal à decisão de mudar parte importante da matriz de segurança aplicada na Copa. Os 15 mil agentes particulares, os chamados stewards, que trabalharam na segurança interna dos estádios e fariam o mesmo durante as Olimpíadas, serão substituídos por policiais da Força Nacional. Também durante o mundial de futebol, muita gente conseguiu burlar a vigilância e assistir às partidas usando credenciais e bilhetes falsos. [claro que o efetivo da Força Nacional não será suficiente para substituir os chamados 'stewarts' - além de seu efetivo não permitir deslocamento de 15.000 homens para um único evento/cidade, a movimentação de um número bem inferior implicaria em abandonar locais em que a FN já atua.
A Força Nacional de Segurança, com o devido respeito, continua mais próxima de uma Força Virtual de Segurança.
Até mesmo o apoio e prestígio da sua criação já deixou de existir.]

Houve falhas também longe dos estádios, apontou a Abin. Num dos episódios, antes mesmo do torneio, em maio, o ônibus da delegação brasileira foi cercado por professores em greve, que atacaram o veículo, batendo na lataria e colando dezenas de adesivos com a frase “Não vai ter Copa”. — Conheço a minuta do relatório da Abin. Todo evento traz ensinamentos e oportunidades de melhorias. Nós temos sempre que qualificar nosso processo. No caso da segurança das instalações olímpicas, demos um salto de qualidade em relação à Copa. Nós vamos atuar 100% nela, com policiais mais bem preparados — afirmou Andrei Passos Rodrigues, secretário extraordinário para Grandes Eventos do Ministério da Justiça.

Os ataques terroristas em Paris elevaram a tensão dos estrangeiros que virão para o Rio em 2016. O temor é que ocorram atentados por aqui. Segundo o delegado Thierry Guiguet-Doron, da Polícia Nacional francesa, que é adido da embaixada da França no Brasil, seu país aposta numa integração internacional para afastar qualquer ameaça terrorista aos Jogos no Rio. Uma análise de risco da Abin põe a delegação da França no nível mais elevado de possibilidade de se tornar alvo de ataques no Brasil, juntamente com as dos Estados Unidos e de mais oito países.  Temos contato com a Polícia Federal desde a Copa. O Andrei foi à França em setembro para ver como funcionam nossos serviços de inteligência. Teve briefing com nosso pessoal sobre os atentados de janeiro (quando terroristas atacaram a sede do jornal satírico “Charlie Hebdo” em Paris, matando 12 pessoas). O diretor da Inteligência da PF também foi à França. Ou seja: estamos conversando, trabalhando em conjunto, há algum tempo. Agora mesmo há policiais brasileiros em Paris, acompanhando nossas investigações (sobre os novos atentados, ocorridos em 13 de novembro, que deixaram 130 mortos) — afirmou o delegado francês.

CONTROLE DAS FRONTEIRAS É FRÁGIL
Mesmo com toda a aproximação, Guiguet-Doron, que esteve na cidade esta semana participando do “Briefing internacional de segurança para os Jogos de 2016”, na Escola de Guerra Naval, na Urca, não esconde haver preocupações. Ele falou da possibilidade de um terrorista já estar no Brasil e disse que a PF tem efetivo pequeno para cuidar da fronteira: É muito difícil para o governo brasileiro controlar a fronteira. Na França, temos dez mil policiais que cuidam exclusivamente das fronteiras. No Brasil, a Polícia Federal tem 11 mil para atuar em todo o país. Olhe o tamanho do Brasil e o compare com o da França. [a França tem dez mil policiais para cuidar apenas das fronteiras, sendo 1.183km de fronteiras terrestres e 378 litorâneas; já no Brasil a PF tem 11 mil para atuar em todo o Brasil e nossas fronteiras terrestres tem 15.791km e as litorânea 7.367km.
A partipação militar é mínima dada a carência de efetivos  que também são prejudicados pela falta de apoio logístico.
Não podemos olvidar que a França faz fronteiras com países que a LEI e a ORDEM são a norma e também cuidam da proteção das suas fronteiras - o Brasil faz fronteiras com países com terroristas organizados e em número elevado (FARC-Colômbia), que praticam tráfico de armas e drogas.] Acho que o governo brasileiro deveria reforçar a Polícia Federal com mais gente.

O adido também lembrou outra ameaça: Aqui as armas de fogo são encontradas com facilidade — acrescentou. — Com relação ao crime comum, não temos temor. O medo maior, não só para a França como para outros países, é o risco de um ataque terrorista. Por quê? Porque os Jogos Olímpicos têm uma visibilidade muito grande. [a alegada abundância de armas no Brasil, apresentada pelo adido, é resultado da falta de controle de fronteiras.
E, certamente, o material bélico a ser usado em eventual ataque terrorista é bem mais poderoso que o usado no dia a dia dos criminosos brasileiros.
É verdade que na Copa 2014, o terror mesmo foi a fantástica goleada de  7x1 aplicados no Brasil pela Alemanha.]
 
Desde os ataques em Paris, o economista Sérgio Besserman, presidente do Instituto Pereira Passos, tem dito que as autoridades responsáveis pela segurança dos Jogos devem abrir um canal de troca de informações com a comunidade internacional. Segundo ele, no entanto, é pouco provável que se repitam no Rio os episódios ocorridos na França: — O terrorismo evita se repetir, para escapar às medidas preventivas e, principalmente, gerar mais impacto e medo. Se tentarem aqui praticar atos terroristas, serão diferentes dos que já aconteceram. De qualquer maneira, é evidente que os riscos existem, mas podem ser reduzidos com a prevenção. A concentração de eventos numa só cidade ajuda no trabalho das forças antiterror. Mas não temos uma história de combate a esse flagelo. Nesses casos, é sempre útil estabelecer parcerias com forças de segurança de outros países com mais experiência na atividade antiterrorista.

Para Leandro Piquet, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), não dá para medir no momento o risco de o país ser palco de um atentado semelhante ao ocorrido durante as Olimpíadas de Munique, na Alemanha, em 1972, quando 18 pessoas entre atletas israelenses, terroristas palestinos e policiais foram mortas:
— O fato é que não devemos agir como se o risco fosse zero. Há necessidade de preparação, e o primeiro desafio é conseguir algum grau de integração entre os órgãos de segurança nacionais.

Outra preocupação é com a concentração de armas nas mãos de traficantes cariocas, que poderiam negociá-las com terroristas. Segundo Piquet, há no país características semelhantes às aproveitadas pelo Estado Islâmico, grupo que praticou os atentados em Paris em 13 de novembro. Há enormes facilidades para qualquer organização terrorista atuar no Brasil. Primeiro, há “territórios livres” perto da fronteira, o que pode facilitar a entrada de pessoas e armas no país. Parte do território da Colômbia ainda é controlado por uma narcoguerrilha. Segundo, comprar um fuzil no Rio não exige qualquer conexão internacional. Há vendedores locais que oferecem modelos como os utilizados nos atentados em Paris, por preços reduzidos — disse Piquet.

O professor da USP vai mais longe: seria ingênuo, segundo ele, “achar que essas vantagens logísticas, aproveitadas pelo crime organizado, não serão igualmente usufruídas pelo terrorismo”:  Criminosos e terroristas se comunicam de forma muito semelhante com seus fornecedores e parceiros nos negócios ilícitos. Se você quiser comprar um fuzil, vai encontrar alguém vendendo.

ARMAS E EXPLOSIVOS COM CRIMINOSOS COMUNS
O professor Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador e cientista político da UFRJ, destaca que, ao contrário dos grupos ETA (na Espanha) e IRA (Grã-Bretanha), o terrorismo contemporâneo não tem um “teatro de operações definido”. Ele busca locais de megaeventos e de grande afluxo de turismo, por exemplo, garantindo assim a repercussão para suas ações. — Ele quer espetáculo. Assim, se o risco de uma ação terrorista é grande na França, nos Estados Unidos ou na Inglaterra, é bastante possível que ele busque esses alvos em outros países, em locais onde, por tradição, é baixo o risco de terrorismo e, consequentemente, baixo o nível das medidas preventivas.

Vinícius Domingues Cavalcante, especialista em segurança de autoridades e em ações terroristas, não têm dúvida de que há condições de um atentado acontecer no país.
— Embora a fragilidade na segurança de nossas fronteiras permita que armas, munições e explosivos sejam estocados aqui com grande antecedência, não há qualquer impedimento para que terroristas obtenham aqui mesmo todos os materiais de que necessitam. Há desde armas de fogo militares até explosivos de posse de criminosos comuns.

Fonte: O Globo

 



sábado, 14 de novembro de 2015

Estado Islâmico assume autoria dos ataques terroristas na capital francesa que deixaram mais de 120 mortos e chocaram o mundo.

Terror em Paris

Hollande diz que massacre em Paris é ‘ato de guerra’ e terá resposta implacável

[a resposta francesa contra o Estado Islâmico é necessária - tanto como retaliação exemplar quanto para destruir a organização terrorista;  mas, não pode ser dirigida em ataques aéreos sobre regiões controladas pelo EI - a região está dominada pelos extremistas mas tem milhares de pessoas que estão presas na região e serão vítimas inocentes da vingança francesa.
E a morte de inocentes apenas maximizará o impacto da ação terrorista - exatamente o que os jihadistas desejam.]

Estado Islâmico assume autoria dos ataques terroristas na capital francesa que deixaram mais de 120 mortos e chocaram o mundo. Outras 250 pessoas ficaram feridas, 80 em estado grave. Vídeo publicado pelo grupo terrorista ameaça França: ‘Não viverão em paz’  

Um dia depois dos atentados em Paris que deixaram ao menos 127 mortos e 300 feridos, o presidente da França, François Hollande, classificou neste sábado os ataques como um “ato de guerra” cometido pelo Estado Islâmico e decretou três dias de luto nacional. Logo em seguida, os jihadistas reivindicaram a responsabilidade pelo massacre em um comunicado no qual afirmam que seus combatentes munidos de explosivos e metralhadoras espalharam o terror em vários locais na capital francesa que foram cuidadosamente estudados. Segundo os extremistas, os atos terroristas foram em resposta a insultos ao profeta Maomé e aos bombardeios franceses contra alvos do grupo. Tendo ousado insultar nosso Profeta, se gabado de lutar contra o Islã na França e atacando muçulmanos no Califado com seus aviões que não os ajudaram de forma alguma nas ruas mal cheirosas de Paris diz o comunicado.
Polícia investiga local dos atentados em Paris um dia depois dos atentados que deixaram mais de 120 mortos - PASCAL ROSSIGNOL / REUTERS
 
 De acordo com o jornal “Libération”, um cidadão francês já conhecido pelas autoridades foi confirmado como um dos terroristas, identificado pelas impressões digitais. Além disso, a policia encontrou um documento sírio e outro egípcio foram encontrados pertos de corpos dos homem-bomba perto do Stade de France. Oito agressores morreram nos ataques, sete deles ao detonarem explosivos e outro foi abatido pelas forças de segurança. Os corpos de todos eles estão sendo estudados e o DNA coletados.

Os ataques coordenados em estádio, sala de concertos e cafés e restaurantes no Norte e Leste Paris foram o tema de uma reunião entre Hollande com um conselho de Defesa, da qual participaram os principais ministros do governo, enquanto o país segue em estado de emergência com as fronteiras fechadas. Depois do encontro, o presidente pediu união nacional e declarou que todas as medidas necessárias serão tomadas para combater as ameaças terroristas. — O que ocorreu ontem foi um ato de guerra cometido pelo Daesh (acrônimo árabe do EI), organizado a partir do exterior e com ajuda interna — declarou Hollande. — Mesmo ferida, a França vai se reerguer.

O presidente francês também discutiu os atentados com líderes europeus como a chanceler alemã, Angela Merkel, o premier italiano, Matteo Renzi, e o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, segundo fontes do Palácio de Eliseu.  Mais cedo, pelo Twitter, o EI divulgou um vídeo ameaçando atacar a França se o país continuar com os bombardeios contra alvos extremistas. No entanto, não ficou claro quando o filme foi gravado. — Enquanto vocês continuarem bombardeando, não viverão em paz — diz o vídeo.

Menos de um ano depois dos atentados contra a revista satírica Charlie Hebdo, Paris se viu diante de um intenso ataque terrorista na sexta-feira, deixando 127 mortos, além de cerca de 250 feridos, 80 em estado grave. Mais de 70 reféns foram mortos durante um show de rock no teatro Bataclan. Cerca de 40 pessoas morreram vítimas de homens armados que abriram fogo em outros cinco pontos da capital francesa. Os testemunhos de sobreviventes apontam que os atiradores gritaram “Alá Akbar“ (Deus é grande) e citaram a intervenção francesa na Síria para justificar as ações.

Ocorreram também três explosões do lado de fora do Stade de France, onde a seleção de futebol do país jogava um amistoso contra a Alemanha, com o presidente na plateia. Cinco pessoas morreram no entorno do estádio, disse a polícia. Dois brasileiros ficaram feridos nos ataques, informou a Embaixada.  Segundo informações da cônsul-geral do Brasil em Paris, Maria Edileuza Fontenele Reis, um casal de brasileiros ficou ferido enquanto jantava em um restaurante. O homem estava em estado grave e foi submetido a uma cirurgia. Segundo a cônsul, ele perdeu muito sangue e teve de fazer uma transfusão. A mulher sofreu ferimentos leves. Perto de um deles, a polícia encontrou um passaporte sírio.


INVESTIGAÇÃO
A Justiça francesa abriu uma investigação sobre ataques, os mais mortíferos na Europa desde os atentados islâmicos em Madri, em março de 2004. A prioridade da equipe é identificar os corpos, incluindo os dos terroristas, que em sua maioria foram pulverizados quando explodiram a si mesmos. Uma vez identificados os terroristas, será determinado se eles tiveram a ajuda de cúmplices.

Nenhuma prisão foi realizada e os investigadores sugeriram que não estavam procurando qualquer pessoa nesta fase. No entanto, autoridades acreditam que há uma ligação entre um homem detido na Alemanha na semana passada com armas automáticas e explosivos e os ataques.  Em estado de emergência, o Eliseu anunciou a mobilização de 1.500 militares adicionais e o reforço dos controles nas fronteiras.

Fonte: O Globo

 

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Homem é decapitado em atentado jihadista contra usina na França

A França volta a viver o clima de terror promovido por um ataque terrorista. O alvo da vez foi uma usina de gás próxima a Lyon, que deixou alguns feridos e um morte decapitado, afirmam fontes que estão no local. Até o momento apenas um suspeito foi preso nas imediações da usina.
Reuters
As autoridades encontraram em um primeiro momento uma cabeça de um homem decapitado coberta por inscrições árabes. Por conta desse achado, autoridades afirmam que existem grandes chances do atentado ser de cunho jihadista. “Segundo os primeiros elementos dentro da investigação, um ou vários indivíduos, a bordo de um veículo, entraram na usina. Então ocorreu uma explosão e o atentado teve início”, informa uma das fontes, se referindo aos fatos que começaram por volta das 10h locais (5h de Brasília).

O ataque à usina de gás é o primeiro desde a onda de atentados que assolaram a França em janeiro deste ano. À época, mais de 17 pessoas foram mortas, sendo a maioria delas no extermínio dentro da sede do seminário francês Charlie Hebdo.


Fonte: Reuters

domingo, 22 de fevereiro de 2015

Suleymane S., adotou um comportamento de confronto com uma torcida enlouquecida

Da marcha triunfal à rotina

Na França a associação de ‘ralé’ com ‘futebol’ tem causado um desconforto específico, mais autóctone

“Nenhum dos que estavam ali me defendeu. Mas, pensando bem, fazer o quê?” A pergunta que fica no ar foi feita por Suleymane S., protagonista da cena de racismo explícito ocorrida esta semana no metrô de Paris.

Ela durou pouco mais de dois minutos. Suleymane S., um franco-mauritano de 33 anos nascido em Paris, terminara o trabalho e aguardava na estação Richelieu-Drouot o metrô que o levaria de volta para casa. O trem chegou bastante lotado. Antes mesmo da abertura das portas, podia-se ouvir a cantoria de torcedores do time de futebol inglês Chelsea. Estavam a caminho do Parc des Princes para assistir às oitavas de final da Liga dos Campeões contra o Paris Saint-Germain.

Quando as portas do trem se abriram, só Suleymane andou em direção à muralha de hooligans para entrar no vagão. Os demais passageiros da plataforma preferiram aguardar. Foi ejetado pela linha de frente do bando aos empurrões e gritos de “Somos racistas, somos racistas, é isso aí”. Sem se alterar, tentou novamente cavar um espaço para entrar no vagão, mas justamente sua compostura calma parece ter exaltado ainda mais os ingleses. Foi expelido de volta à plataforma. Mesmo quem assiste ao vídeo no conforto de casa em outro país, outro continente, pode sentir o peso da humilhação pública daquele homem. Nenhuma das pessoas da plataforma fez qualquer movimento. Dos vagões adjacentes houve curiosidade, mas não reação.
 [RAW] Racist Chelsea Fans Prevent Black Man Boarding Paris Metro Train | VIDEO 

Sequer um impulso equivocado de solidariedade, como o apertar do botão de emergência.
É a vida que segue, um fait-divers desagradável. Não passaria disso não fosse o instinto do videojornalista Paul Nolan, que sacou o celular, filmou o essencial e o vídeo se tornou viral.
É provável que boa parte dos que presenciaram a cena estava entre os quatro milhões de participantes da marcha contra a intolerância e a liberdade de expressão do dia 11 de janeiro, em Paris. A comunhão nacional do “Nous sommes tous Charlie” ocorrera em repúdio a um duplo atentado terrorista que fizera 17 vítimas, enquanto no episódio desta semana não morreu ninguém, sequer ferimentos físicos houve. Mas 4.000.000 x 0?
[a comparação é desprovida de sentido:  o repúdio ao atentado terrorista contra o Charlie Hebdo é perfeitamente compreensível, já que a matança teve como motivo um comportamento jornalístico, de deboche  - portanto, inadequado - em relação ao islamismo.
Já a conduta dos torcedores do Chelsea, além de não representar crime na França, pode ser atribuída a um comportamento típico de torcedores fanáticos - inadequado,  mas que existe. Tanto que torcedores do Corinthians assassinaram, e permanecem impunes, uma criança boliviana em Orubo, Bolívia.
Convenhamos que  Suleymane S., adotou uma conduta de confronto com os torcedores ingleses - foi o único na plataforma a ter um comportamento belicoso contra os torcedores. Os demais passageiros preferiram esperar um outro trem - o que deixa evidente o caráter não racial da conduta dos ingleses.]


Poucos dias após a triunfal marcha de janeiro, o presidente François Hollande chegou a ser ovacionado de pé na Assembleia Nacional. Na ocasião, todos os deputados entoaram espontaneamente a “Marselhesa”, algo que não ocorria desde a assinatura do armistício que encerrou a Primeira Guerra Mundial em 1918. Desta vez, nenhum político francês de expressão se manifestou, nem era esperado que o fizesse. O episódio, além de corriqueiro, ficaria relegado à seção de Esportes na mídia.

De fato, ele foi considerado gravíssimo pelas instâncias mais altas do futebol mundial, engrossará a lista de crimes de xenofobia e violência racial no esporte e levará à nova revisão do rol de medidas coercitivas a hooligans. Ainda bem, pois a violência em campo, nas arquibancadas, no entorno dos estádios ou alhures só tem aumentado. Em Paris o caso Suleymane gerou a abertura de um inquérito por crime de “violência racial voluntária em um meio de transporte coletivo”, com a investigação a cargo do Serviço Transversal de Aglomeração em Eventos (STADE), uma unidade especial da polícia metropolitana. Os suspeitos já teriam sido identificados, todos convenientemente estrangeiros, hooligans e ralé.

Na França a associação de “ralé” com “futebol” tem causado um desconforto específico, mais autóctone, desde a publicação do livro “Racaille Football Club” , do jornalista Daniel Riolo. Nele, o autor disseca o DNA da seleção francesa que, em 2012, eliminada da Eurocopa, amargara o seu terceiro fracasso consecutivo em campeonatos de grande porte. 

O fracasso da equipe dos Bleus, formada à época por uma maioria de jogadores negros ou de origem árabe, vindos da periferia, levou o atual presidente da União dos Clubes Profissionais de Futebol da França, Jean-Pierre Louvel, a admitir: “Chega de hipocrisia. Todos os clubes adotam algum tipo de cota. Negá-lo seria absurdo”.

O dirigente reconhecia o que fora revelado pelo jornal eletrônico “Médiapart em 2011". Naquele ano, uma reunião da cúpula da Federação Francesa de Futebol discutira a adoção de cotas raciais nos centros de formação do país, com o objetivo de limitar o número de jogadores franceses negros ou de origem árabe. Para Laurent Blanc, à época presidente da federação e hoje técnico do PSG “se você tem 60% ou 80% de jogadores de origem africana, isso não é um mal em si... mas a vida social desse clube deixa de ser o que era”.

Um dos argumentos para justificar o projeto de cotas era a morfologia dos jogadores:  devido ao excesso de negros, considerados “mais altos, mais potentes e mais musculosos”, seria necessário abrir espaço para jogadores brancos, mais técnicos, de estatura mais baixa e mais ágeis.  Blanc acabou tendo de pedir desculpas e o projeto de cotas não se oficializou, mas, como admite o presidente da União dos Clubes, ele existe e negá-lo seria absurdo.

Souleymane S., o agredido no metrô, não é jogador de futebol. É contador numa firma e, por não falar inglês, não entendeu o que lhe gritavam os hooligans do vagão. “Só entendi que me repudiavam por causa da minha cor”. Em entrevista ao jornal “Le Parisien”, que o localizou no dia seguinte, contou não ter ficado tão surpreendido com o que lhe acontecera “pois vivo o racismo. Apenas nunca tinha me acontecido no metrô”.

Depois de agredido, aguardou o trem seguinte e foi para casa. Não contou nada à mulher nem aos três filhos. “Dizer o quê? Que o pai deles tinha sido ofendido por ser negro? Isso não leva a nada”, concluiu. Suleymane S. lembrava de uma pessoa que se aproximou dele na plataforma para dizer que ele fora corajoso. Mas lembra sobretudo que ninguém mais se mexeu. É a vida que segue, sem marcha republicana.

Por: Dorrit Harazim é jornalista - O Globo
 

domingo, 1 de fevereiro de 2015

É preciso evitar a intolerância religiosa no Brasil

País da convivência íntima entre casa-grande e senzala tem registrado episódios de perseguições que não condizem com tradição 

O radicalismo religioso está na raiz de boa parte das más notícias que, infelizmente, abriram 2015. O mundo se chocou no primeiro mês do ano com o atentado ao “Charlie Hebdo”, em Paris; a execução de reféns do Estado Islâmico; e a destruição da cidade de Baga, na Nigéria — mais uma ação do Boko Haram, na qual teriam morrido duas mil pessoas. São casos de extrema violência que brasileiros repudiam da mesma forma que americanos e europeus. [apesar do nosso repúdio ao terrorismo - inclusive nos orgulhamos de ter combatido tal praga no Brasil, na década de 70 - não entendemos justo comparar os mortos pelo Estado Islâmico e Boko Haram aos do Charlie Hebdo. Mesmo não considerando correto o assassinato de jornalistas do semanário francês, ressaltamos que estes fizeram a escolha ao exercitar humor desrespeitoso a uma religião que tem entre seus seguidores fanáticos.
Já as vítimas do Boko Haram e Estado Islâmico são inocentes  que não escolheram praticar atos que poderiam causar reações violentas. Optaram por desrespeitar a fé dos outros, mesmo sabedores que tal comportamento poderia despertar reações violentas.]

No caso brasileiro, no entanto, a reação vem junto com a percepção de que é pequena a possibilidade de que conflitos de fundo religioso venham a causar estragos da mesma dimensão. E, de fato, no Brasil, as inaceitáveis manifestações de intolerância não resultaram em tragédias comparáveis ao que acontece pelo mundo. Mas convém não confiar no histórico nacional de acomodação de diferenças, do qual o sincretismo religioso é exemplo. O país da convivência íntima entre casa-grande e senzala tem registrado episódios de perseguições a segmentos religiosos que não condizem com a tradição de manter os conflitos dentro do limite administrável. 

A intolerância já tentou censurar até manifestações culturais que são forte elemento da identidade nacional. Recentemente, um grupo de músicos da Estação Primeira de Mangueira, em atitude aplaudida nas redes sociais, recusou-se a atender ao pedido de uma emissora de TV para omitir a palavra orixás ao cantar o samba-enredo. [não podemos confundir religião com manifestação cultural, especialmente para divulgar seitas como se fossem cultura.] Ora, como dissociar as religiões afro-brasileiras do ritmo que é marca da brasilidade? Era uma mãe de santo, a lendária Tia Ciata, que abrigava as reuniões de sambistas em sua casa na Praça Onze no início do século passado, quando eles eram perseguidos pela polícia. Na origem, componentes de bateria tocavam atabaques em terreiros de candomblé. Não há como, de uma hora para outra, simplesmente ignorar herança tão forte.

A sociedade se mobiliza para evitar o pior. Representantes de diversas crenças organizam juntos passeatas na orla exigindo respeito a todas as religiões e dando o exemplo de que, diferenças à parte, é possível agir em conjunto. Reunidos na ABI para tratar do assunto, na semana passada, líderes espirituais cobraram do governo a criação de um Plano Nacional de Combate à Intolerância Religiosa. Representantes da comunidade muçulmana participam do movimento com especial interesse. Depois do atentado ao “Charlie Hebdo”, eles estão preocupados com a associação de sua crença à violência e a possibilidade de as fiéis sofrerem hostilidades nas ruas por serem facilmente identificadas por causa do véu.

Estão certos em cobrar providências enquanto a intolerância não alimenta tragédias. Se na questão da água tivesse havido ação preventiva do governo e da sociedade, o drama da seca não teria chegado a tal ponto. Vale a lição.

Fonte: Editorial - O Globo
 

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A morte de 17 franceses vale mais que a de 2.000 nigerianos? A liberdade de imprensa é absoluta?



Trataremos de assuntos extremamente delicados e controversos onde a esfera racional por variados instantes cede espaço para que a esfera da emoção se faça prevalecer. Até para nós, estudiosos do direito, há inelutável dificuldade para se emprestar uma análise cognitiva que se mostre satisfativa. O artigo divide-se em duas temáticas distintas, mas complementares.

Neste momento é que os métodos de Alexy e Dworkin parecem falhos, quando inferimos a necessidade de sopesarmos, ponderarmos bens tuteláveis de tão expressivo valor e realidades, mas o direito não pode se acabrunhar e deve viabilizar uma decisão interpretativa que na maior medida possível mostre-se aproximada da justiça e da equidade.  Pelo menos 400 pessoas morreram na Nigéria em um novo ataque supostamente cometido pela seita radical islâmica Boko Haram no estado de Borno, no norte da Nigéria nos primeiros meses de 2014. Você que leu esta notícia hoje, lembra de tê-la visto nos noticiários? Lembra-se, por quantos dias? Com que perplexidade?

Pois no final da 2ª quinzena de janeiro de 2015 (dia 12), a Organização Humanitária Anistia Internacional calcula que cerca de 2.000 pessoas foram chacinadas pela mesma seita de extremistas islâmicos que teriam assumido o controle de Baga e arredores há 15 dias. Pergunto: Você leitor, teve conhecimento deste fato? Quantas vezes já ouviram ou leram nos noticiários? O mundo está reunindo-se em alguma marcha histórica que reunirá 3,7 milhões de pessoas pelas vidas dos Nigerianos massacrados?

Em outro hemisfério, com outra visibilidade, com outra perspectiva de “comoção mundial”, desta vez na França, 17 mortos, entre eles as 12 pessoas que morreram em um atentado contra a sede do jornal "Charlie Hebdo", este a mais de uma semana tomou conta dos noticiários do mundo, que participou de uma marcha histórica que reuniu grande parte dos principais representantes de Estados e de Governos de todo o ocidente em um verdadeiro “tsunami humano” que tomou conta das ruas de Paris.

Neste momento, sem qualquer grão de hipocrisia, mas de certa forma impactado pelas perspectivas humanas de valor, perguntemos: Franceses valem mais que nigerianos? A morte de dezessete franceses causa maior revolta, repulsa e comoção que a morte de 2000 nigerianos? A morte de brancos europeus é mais dolorosa que a morte de negros africanos?

Estas perguntas deixamos com o fim de provocar uma autorreflexão de nossas representações neste mundo, de nossas diferenças, importâncias e prioridades. Mensuremos nosso potencial para produzirmos hipocrisias em nossas relações humanas e o valor que atribuímos aos humanos, negros, brancos, amarelos ou da cor de pelé que representemos aos olhos do mundo. Será que somos capazes de conscientemente tarifarmos a vida humana pela cor, Estado, fé religiosa ou cultura que representamos?

Já articulamos a respeito deste trágico e lamentável acontecimento ocorrido em território francês, artigo publicado em diversos meios: “A hostil relação entre o terrorismo e as liberdades de expressão democráticas: algumas inferências pontuais”. No artigo tivemos a oportunidade de assentar por outras palavras, que liberdade só é possível de ser atribuída se acompanhada de responsabilidade. Liberdade irresponsável é anarquia e não Estado Democrático de Direito. Assim, devemos assentar que liberdade é um valor relativo e não absoluto, e por isso deve ser sopesado com outros valores que estejam em conflito, para extrairmos o máximo de cada um evitando-se o aniquilamento do outro, aí incluindo-se a liberdade de expressão. Esta, uma visão neoconstitucionalista que ilumina a ciência do Direito Constitucional contemporâneo.

Ao analisarmos boa parcela das charges do jornal "Charlie Hebdo", que teve 12 de seus chargistas brutalmente assassinados, percebemos que muitas destas charges não cumprem o seu papel de promover uma ironia política de bom gosto, ao contrário, muitas delas são grosseiras, de menor potencial criativo e apenas promovem de forma tosca uma violência emocional absolutamente desnecessária.

Aqui não se quer defender a reação absolutamente desproporcional dos extremistas islâmicos, ao contrário, desta reação há que se ter o maior repúdio. Aqui se assenta que, a liberdade de expressão “à priori” é de fato livre, (com o perdão da redundância), mas quando tomada pelo excesso capaz de promover dano sem fundamento razoável em qualquer de suas formas, deve sim, ser responsabilizada na medida de seu excesso. Censura jamais, responsabilidade sempre, que entendamos seus limites.

Talvez, se no passado o Estado Francês houvesse responsabilizado o jornal "Charlie Hebdo" por seus excessos costumeiros absolutamente despropositados e de gosto duvidoso, este absurdo promovido pelos extremistas não houvesse sido praticado, apenas a título de mera suposição, conjeturando. Não estamos aqui culpando como responsável direto o Estado francês por uma reação tão desproporcional de uma fé extremista, mas pode de certa forma haver contribuído para o resultado absolutamente lamentável que prosperou.

Lembremos para finalizar que, para cultura Muçulmana, precipuamente aos extremistas muçulmanos, a vida e a morte possuem outros significados que os atribuídos no seio das culturas ocidentais, em boa parte catequizada pela fé Cristã. Aos muçulmanos (significado: aqueles que se submetem a Alá), o Islã prevalecerá sobre a terra, os extremistas acreditam que a realização da profecia do Islã e seu domínio sobre todo o mundo, como descrito no Corão, é para os nossos dias. Cada vitória de um extremista Muçulmano convence milhões de muçulmanos moderados a se tornarem extremistas. Matar e morrer por Alá, para os extremistas do Islã, é sinal de um poder absoluto que passam a ostentar para um posterior descanso no paraíso do além-vida.

Cultura absolutamente estranha e doentia aos olhos do ocidente, mas que está incrustada na cultura religiosa dos mais ortodoxos do Islã, que recebem já durante nos primeiros anos da infância uma verdadeira lavagem cerebral de uma doutrina desviada do que pregam os bons praticantes do Islã. Nesta absoluta discrepância do entendimento de vida e morte que carregamos e que os extremistas muçulmanos carregam, que deveríamos, se não por respeito ao que nos parece absolutamente doentio e desviado da boa fé, por questão de segurança dos não praticantes do Islã, abdicarmos de satirizar o que para eles é intocável. Senão por respeito, por inteligência.

Fonte: Leonardo Sarmento - Professor constitucionalista   •   Rio de Janeiro (RJ)   JUS BRASIL


 

Ofender é democrático; punir também

Pode escrever, pode publicar, sem qualquer censura prévia. Se alguém se sente ofendido, que vá aos tribunais

Jornalistas processados por injúria, calúnia ou difamação costumam se defender apelando para a liberdade de imprensa. Alegam que não ofenderam ninguém, apenas exerceram o sagrado direito de crítica. E que nem deveriam ser processados, pois o processo em si já seria uma violação do direito de livre expressão.  É verdade que há litigantes de má-fé e que vão aos tribunais não para obter justiça, e sim para atazanar a vida do jornalista e intimidar a direção do veículo. Abrem seguidos processos, em diversas cidades e instâncias, aproveitando-se da morosidade da Justiça para, de fato, criar dificuldades pessoais e prejuízos financeiros para o jornalista e o órgão no qual trabalha.

Mas não se pode concluir daí que todo processo contra jornalistas e/ou veículos de imprensa seja um atentado à liberdade de expressão. Há uma diferença entre crítica e ofensa. Entre, digamos, atacar uma política e difamar uma pessoa.  E quem resolve isso? A Justiça. Quando um jornalista é processado por algo que veiculou, ele já exerceu a liberdade de imprensa. Já fez e publicou a reportagem ou a opinião, não tendo sofrido qualquer censura prévia. Agora, se uma pessoa se sente ofendida, tem o direito de reclamar nos tribunais. Trata-se de um direito individual do mesmo nível do direito à livre expressão.

De onde se conclui que a assim chamada democracia ocidental é uma verdadeira obra-prima, uma notável criação. Vira e mexe aparecem restrições ao sistema: que não funciona para todos, que não serve para determinadas culturas ou para determinados momentos na vida de um povo. Diz-se, por exemplo, que é preciso uma ditadura ou ao menos um regime autoritário para um país pobre crescer rapidamente e acumular riqueza. Seria algo como formar o bolo na ditadura para distribuí-lo numa futura democracia. Era o que se dizia no Brasil, por exemplo. Nunca acontece: é preciso derrubar a ditadura para crescer de forma saudável. [o saudoso Governo Militar - 1964 a 1979 (falar 1985 é exagero, já que em 1979 o Governo Militar entrou em processo de desintegração e surgiu a famigerada Nova República) colocou o Brasil nos rumos de um crescimento saudável.
A tenebrosa 'nova república', considerada democrática resultou que no temos agora: um governo imundo, que se digladia consigo mesmo para decidir se é MAIS CORRUptO ou MAIS INCOMptENTE  ou igual nas duas coisas.]
 
Mas atenção: democracia não é garantia de crescimento e eficiência econômica. Garante os direitos, a liberdade individual, mas os cidadãos podem tomar más decisões no exercício dessa democracia. [caso do Brasil, acima destacado, cuja democracia nova republicana está nos fazendo crescer para dentro = ENCOLHENDO no aspectico economico, moral, ético, social, na segurança e em tudo mais.] Mas não há como garantir o fundamento — a plena liberdade das pessoas — sem o aparato da democracia ocidental. 

Na China, então, eles nem se preocupam em argumentar que a ditadura seria uma necessidade transitória. Dizem logo que democracia à maneira ocidental é coisa que não serve para eles. A prova? O sucesso econômico do país.  Atenção, de novo: um regime autoritário pode perfeitamente conseguir momentos de expansão do Produto Interno Bruto. Mas será sempre um crescimento enviesado, privilegiando setores e grupos, especialmente o pessoal do poder e do partido no poder. Exemplo? A própria China, em que chefões do Partido Comunista acumulam fortunas de bilhões de dólares. Ou os burocratas da velha União Soviética, que se apropriavam da riqueza socialista e que, na suposta democratização e introdução do capitalismo, ficaram ricos vendendo para eles mesmos os bons negócios. [o que ocorre na China e na URSS não ocorreu durante o Governo Militar no Brasil, que não uma ditadura e sim um regime forte.]
 
Na verdade, nem se precisaria argumentar tanto. Basta observar: os países mais ricos, aqueles onde a população vive melhor, onde a renda é maior e mais bem distribuída, são democracias e capitalistas. Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha — ali onde as bases da democracia ocidental foram construídas ao longo da História. [os países citados adotam uma democracia modificada, adaptada pela vontade do povo em sintonia com os governantes  e que não foi, não é e nunca será, a tal democracia que ainda vigora no Brasil, fruto da 'nova república'.] É isso, nem capitalismo nem democracia são, digamos, naturais. São construções históricas, as melhores que se pode conseguir.

Inclusive com a separação dos poderes e a existência de tribunais independentes para dirimir as disputas entre pessoas livres. A liberdade de imprensa é parte desse processo. Mas, assim como a minha liberdade não me dá o direito de sair por aí matando os outros que me incomodam, também o jornalista não tem o direito de ofender os outros.
Pode escrever, pode publicar, sem qualquer censura prévia. Se alguém se sente ofendido, que vá aos tribunais — e estes decidirão onde está a crítica, onde a ofensa. É simples assim. Fácil de entender e de fazer.

O que não faz sentido algum é a pessoa achar que, em nome de sua religião, qualquer religião ou fé, pode fazer justiça contra os infiéis. “Charlie Hebdo" foi assassinado. Ato covarde, brutal, horror.

As charges eram ofensivas? [a ação contra o jornal Charlie Hebdo merece todo o repúdio já que foi um ato terrorista.
Mas, indiscutivelmente, sem a menor dúvida, a liberdade de expressão não permite que se ofenda a fé de outros.
Para isso não é necessário que um juiz seja chamado a decidir. 
As charges que motivaram a bárbara ação terrorista - que repudiamos - eram eloquentes para mostrar que ofendiam a fé muçulmana.
Na ocasião a imprensa noticiou que uma famosa agência de notícias retirou da sua galeria, algo que era considerado 'obra de arte', produzida por um idiota que retratou alguém urinando no Cristo crucificado.
É necessário um juiz para decidir que tal nojeira era ofensiva aos cristãos? Clique aqui, veja a matéria e decida se é necessário um juiz para decidir que a IMUNDÍCIE deve ser incinerada e seu autor processado.]

Só o juiz pode decidir isso e impor a sentença, mas sempre defendendo a liberdade de opinião. Pode, por exemplo, impor uma pena de prisão ao ofensor, mas nunca impor a censura prévia ou fechar o veículo. O resto é conversa para proteger interesses e justificar brutalidades contra as pessoas. Por que uma mulher não poderia andar com o rosto descoberto, não poderia votar ou dirigir um carro? Porque a cultura “deles” é assim ou porque elas fazem o papel de escravas de seus homens?

Por: Carlos Alberto Sardenberg é jornalista - O Globo

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A liberdade precisa de pelo menos um limite: terminar onde começa a do outro

Pela liberdade

A mentira é a mais poderosa arma de guerra 

Quem disse sobre o assassinato, em Paris, no último dia 7, dos jornalistas do semanário satírico Charlie Hebdo: “Esses ataques que vocês chamam de terrorista são uma resposta a tanta barbaridade que acontece contra os muçulmanos. Nossa religião não incentiva violência, jamais incentiva derramamento de sangue, só que, infelizmente, essa é a resposta à crueldade. Vocês podem esperar coisa pior”?

E quem disse sobre o mesmo assunto: “Nós somos defensores do profeta. Não matamos ninguém. Se alguém ofender o profeta, então não há problema. Nós podemos matá-lo, sim. Não matamos mulheres. Não somos como vocês. Vocês são aqueles que matam mulheres e crianças na Síria, no Iraque e no Afeganistão. Se buscamos vingança? Disseram bem. Buscamos vingança”?

A primeira fala foi de Maha Abdelaziz, professora do Centro Islâmico de Brasília, em entrevista ao repórter Gabriel Garcia, publicada em meu blog.
A segunda, de Chérif Kouachi, um dos terroristas responsáveis pelo massacre, em entrevista por telefone ao canal de televisão francesa BFMTV.

A ideologia que Maha ensina foi a mesma que apertou o gatilho das armas de Chérif e do seu irmão. Pessoas como Maha e Chérif são movidas pelo ódio e, portanto, bastante perigosas. Mas Maha é mais perigosa do que Chérif. Ela pensa, reflete, elabora, conceitua e dissemina valores que colidem com aqueles aceitos pelas sociedades mais civilizadas.
Chérif era o braço armado de Maha. O executor. Aquele que matava e também podia morrer. Matou e acabou morto.

Concedamos que não há religião superior às demais. [existe uma única religião verdadeira, que é a fundada por Jesus Cristo -  "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja" (Mt 16,18).]
Nem por isso todas se equivalem. Há religiões que são usadas como pretextos para a pregação da violência e a imposição dos seus dogmas. No passado remoto, o cristianismo se comportou assim. Hoje, mais cristãos são mortos no mundo por serem cristãos do que muçulmanos radicais que se dizem perseguidos. O trágico episódio do aniquilamento de quase toda a redação de um jornal não se assemelha a nenhum outro ocorrido da segunda metade do século passado para cá.


E serve para confirmar que não há país a salvo de ataques de fanáticos, nem mesmo a França, principalmente ela, habitada por pouco mais de seis milhões de muçulmanos, e coração de uma Europa puxada pela Alemanha.  A primeira vítima de uma guerra é a verdade. A mentira é a mais poderosa arma de guerra. A segunda vítima é a liberdade. Não só do lado mais fraco. Também do lado mais forte que, para vencer, considera necessário sacrificar princípios e valores.

Foi isso o que aconteceu com os Estados Unidos depois do 11/09. Para esmagar o terror, tudo valeria a pena.
Pois o terror ainda vive.
"Nós estamos sendo atacados pelo que somos”, declarou Madeleine Albright, secretária de Estado do governo Bill Clinton, antes mesmo que se apagassem as chamas que consumiram as Torres Gêmeas, em Nova Iorque. “Apoiamos a democracia, a liberdade e uma sociedade livre. Essa é a essência da América da qual não podemos escapar”.

Uma pena, mas a essência da América desfigurou-se. Espera-se que seja diferente na Europa ainda em estado de choque desde o 07/01. Na França, a lei assegura o direito à livre expressão com tudo o que faz parte dela – da irreverência à sátira, do achincalhe à zombaria. O governo pediu moderação aos cartunistas do Charlie Hebdo prevendo algum tipo de retaliação. Como não foi atendido, tentou protegê-los. Sem sucesso.
Pois a liberdade ainda vive.


Fonte: Blog do Noblat Por: Ricardo Noblat

 

Cristãos se unem a muçulmanos em atos contra ‘Charlie Hebdo’

No Paquistão, o alvo das manifestações era o presidente francês e seu apoio às novas charges publicadas pelo semanário 

Governo belga pede extradição de preso na Grécia - Homem é suspeito de particiapação em célula desbaratada na semana passada

Autoridades europeias e israelenses continuavam neste domingo a ofensiva antiterrorista desencadeada pelo ataque ao jornal “Charlie Hebdo" há 12 dias, enquanto milhares de manifestantes mantêm protestos diários em países diversos como Níger, na África, e Paquistão, no sudoeste asiático. Na Bélgica, o Ministério Público pediu a extradição de um dos dois suspeitos presos em Atenas, na Grécia, por supostas ligações com uma célula terrorista belga. Segundo a imprensa belga, um terceiro homem ainda é procurado, e poderia estar na Grécia ou na Turquia. As autoridades belgas, porém, afirmaram que a célula não possuía ligações com o ataque de Paris.

Na Alemanha, uma manifestação islamofóbica marcada para hoje foi cancelada após suspeitas de um ataque terrorista. Segundo a polícia alemã, “todas as manifestações públicas ao ar livre estão proibidas na segunda-feira, 19 de janeiro, no território da cidade de Dresden” devido a “um risco terrorista concreto". A cidade seria palco de mais um protesto semanal do movimento Pegida (Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente). Uma manifestação anti-Islã também foi proibida pelas autoridades em Paris por receios de que causasse desordem pública.

No Paquistão, o alvo das manifestações era o presidente francês François Hollande e seu apoio às novas charges publicadas pela Charlie Hebdo retratando o profeta Maomé de forma considerada ofensiva para muitos muçulmanos. Cerca de 5 mil pessoas se reuniram na cidade de Lahore, no leste do Paquistão e outras milhares em outras cidades do país. Bandeiras francesas e fotos de Hollande foram queimadas. Os protestos reuniram seguidores de partidos religiosos e seculares também nas cidades de Karachi, Islamabad, Quetta, Peshawar, Multan e em várias outras. Em Karachi, duas mil pessoas se reuniram no mausoléu do fundador da nação, Mohamed Ali Jinah. Um grupo de pastores cristãos também se uniu à comitiva em solidariedade aos fiéis muçulmanos. Uma delegação do partido Tehreek-e-Insaf visitou a residência do cônsul francês para entregar a ele uma resolução pedindo que Paris proibisse a publicação “Charles Hebdo” por "transmitir ao mundo uma mensagem de ódio religioso". Hafiz Mohammad Saeed, líder do partido Jamaat-ud-Dawa, pediu que a ONU declare toda forma de blasfêmia um crime internacional.  — Se as Nações Unidas não dá atenção, então os Estados muçulmanos devem formar sua própria ONU — disse.

Em 2012, 21 pessoas morreram e 229 ficaram feridas em distúrbios com a polícia após a publicação de outras charges da mesma revista francesa e a divulgação de um filme americano de baixo orçamento que zombava de Maomé. No Níger, manifestações contra a difamação do profeta foram proibidas pelas autoridades e ocorreram sob forte repressão policial.

Deportações e prisões na Europa e em Israel
Na Europa, dezenas de suspeitos de envolvimento com atividades terroristas foram presos em ao menos quatro países nos últimos dias, e em Israel autoridades afirmaram terem desmantelado uma célula do grupo Estado Islâmico após prenderem sete árabes-israelenses.
 Paquistaneses pedem o banimento da revista satírica “Charlie Hebdo”: milhares protestaram em todas as maiores cidades do país e tiveram apoio de grupos cristãos - Arif Ali / AFP

A informação, divulgada neste domingo, diz respeito a detenções realizadas em novembro e dezembro. Um tribunal de Haifa os acusou de pertencer ao Estado Islâmico, grupo considerado ilegal em Israel desde setembro. Segundo a polícia israelense, um dos membros, Karim Abu Sallah, foi detido no aeroporto Ben Gurion quando se preparava para se unir à jihad na Síria. Na Itália, o ministro do Interior, Angelino Alfano, afirmou que nove pessoas foram deportadas desde o início deste ano por supostas ligações com grupos terroristas.  Segundo Alfano, eram cinco tunisianos, um turco, um egípcio, um marroquino e um paquistanês, todos eles tinham autorizações de residência e foram expulsos do país.
Temos feito tudo o necessário, dentro dos limites, para nos proteger contra uma ameaça — afirmou Alfano, observando que as deportações começaram antes dos ataques de Paris. — Nove pessoas foram deportadas. Não vamos parar por aqui. E, no que diz respeito a expulsões, vamos continuar a ser extremamente duros.

Na França, nove das 12 pessoas presas na última sexta-feira continuam em detenção preventiva. Os suspeitos foram detidos nos arredores de Paris para serem questionados por um possível “apoio logístico” — especialmente no que diz respeito a armas e veículos — a Amedy Coulibaly, que matou um policial e quatro civis em em uma loja judaica no dia 9. Hollande afirmou que a França está “travando uma guerra” contra o terrorismo e que isso podia ser visto nas ruas de Paris e de outras cidades, onde 122 mil policiais e soldados estão de prontidão.


Fonte: AFP