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domingo, 3 de setembro de 2023

A democracia no Brasil de 2023 tem dois lados - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Falar que as urnas do TSE são sujeitas a fraude é infração gravíssima, mas Lula pode dizer que impeachment de Dilma foi ‘golpe de Estado’

Em nenhum momento, ao longo dos 500 anos de história do Brasil, a autoridade pública, os tribunais de justiça e a polícia falaram tanto de democracia como hoje. Mais que isso: montaram uma espécie de “Comissariado Nacional de Repressão aos Atos Antidemocráticos”, que deu a si próprio a autorização para violar as leis quando julga que o “estado de direito” está ameaçado por alguém ou por algum tipo de ideia.  
A manifestação suprema desta cruzada, que se propõe a nos salvar da “extrema direita”, é o inquérito perpétuo que o STF mantém aberto há mais de quatro anos contra os “atos antidemocráticos”.  
É um elixir universal. Serve para quem fala mal das urnas do TSE, tem atitudes “golpistas” ou participou da arruaça do 8 de janeiro que a presidente do STF considerou igual ao bombardeio de Pearl Harbor, que matou 2.400 pessoas e levou os Estados Unidos à uma guerra de quatro anos contra o Japão e a Alemanha nazista.
O inquérito sem fim também serve para perseguir quem se enrolou com atestados de vacina, falou mal dos ministros do Supremo, entrou no WhatsApp para conversar de política – enfim, vai na base do “pega um, pega geral”. Quer dizer: não é tão geral assim.  
Nunca pegou até hoje um único antidemocrata de “esquerda”, ou admirador do presidente Lula – e muitíssimo menos o próprio Lula. 
Bem que poderia pegar, se o comissariado de salvação da democracia, que também considera as “fake news” como crime de lesa-pátria, tivesse alguma preocupação em ser imparcial. 
Mas, aqui, pau que bate em Chico nunca bate em Francisco, dependendo de quem seja o Francisco. 
 Dizer que as urnas do TSE são sujeitas a fraude, por exemplo, é infração gravíssima – o ex-presidente da República, inclusive, foi declarado “inelegível” por oito anos porque falou isso numa palestra a embaixadores estrangeiros.  
Lula, porém, pode dizer que uma decisão legítima do Congresso Nacional, o impeachment de Dilma Rousseff por fraude contábil, foi um “golpe de Estado”. 
Pode, até mesmo, exigir uma espécie de certificado oficial atestando que a sua sucessora é inocente de todas as acusações e deve ser reconhecida como mártir das causas populares.
Dilma foi deposta porque 367 deputados federais votaram a favor do impeachment, e só 137 contra
No Senado foi ainda pior: 55 a favor, 22 contra
O que poderia haver de mais claro como demonstração da vontade da população brasileira, que só o Congresso tem direito de representar? Além disso, o STF supervisionou cada decisão do processo, e aprovou tudo. É o chamado ato jurídico perfeito – mas pode ser chamado de “golpe”. No Brasil-2023 só é antidemocrático quem está do outro lado.
 
J.R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
 
 
 

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Supremo deboche - Augusto Nunes

Revista Oeste

O drama vivido por milhares de brasileiros é tratado como piada pelo comando do Poder Judiciário

 

 Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Rosa Weber | Foto: Montagem Revista Oeste/Reprodução/Marcos Oliveira/Agência Senado/Carlos Alves Moura/STF

Tão previsível quanto a mudança das estações, a troca de guarda no Supremo Tribunal Federal é menos empolgante que festa de batizado na sacristia da igrejinha
A tradição determina que os dois primeiros da fila de 11 ministros, formada pelo critério da antiguidade, sejam alojados a cada dois anos nos cargos de presidente e vice-presidente. 
Sempre pelo placar de 10 a 1: as boas maneiras ordenam que os previamente escolhidos votem nos que irão substituí-los na mudança seguinte. 
Ao divulgar o resultado, portanto, o presidente em fim de mandato está dispensado de identificar os homenageados com o voto solitário. Não precisa, certo?
 
Precisa, sim, decidiu Rosa Weber neste 9 de agosto, na primeira etapa da cerimônia do adeus que se encerrará com a aposentadoria em setembro. O roteiro começou a desandar quando Rosa Weber cismou de enxergar na cerimônia protocolar uma eleição de verdade, só que sem urna eletrônica e com cédulas de papel.  
Foi assim que o que seria uma sessão ligeiramente mais solene acabou transformada numa bizarra mistura de hora do recreio num antigo curso de madureza com happy hour da turma da quarta série 30 anos depois da formatura.

  Todos estavam felizes na quarta-feira mais que perfeita. Barroso transpirava alegria por assumir o comando da tropa que derrotou o bolsonarismo na frente suprema

(...)

Ainda sorria quando ouviu o comentário do também risonho Gilmar Mendes: — Vai colocar esse pessoal num inquérito…

Mero palpite? Sugestão explícita? Outra declaração de guerra? Nada disso, parecia informar a expressão “esse pessoal”, usada pelo decano para referir-se aos dez ministros que haviam imposto a Moraes o primeiro revés em mais de quatro anos de confrontos. O comentário seria remetido ao baú dos chistes e pilhérias em juridiquês se a réplica do artilheiro do Timão da Toga não tivesse escancarado o espetáculo do deboche:

— É que a eleição não foi no TSE…

Moraes ouvira claramente o elogio da desfaçatez, avisou a rapidez da resposta.

(.....)
Só o golpe de 8 de janeiro resultou em mais seis inquéritos secretos, sucessivos recordes na modalidade captura em massa, centenas de prisões sem julgamento, milhares de oitivas sem pé nem cabeça, uma infinidade de castigos arbitrários e a eternização da insegurança jurídica. “Tem muita gente pra prendê, muita multa pra aplicá”, não param de ouvir os botões da toga. 
 
Sobrancelhas e pestanas se cumprimentaram quando a garganta de Barroso qualificou de “luminosa” a passagem da introvertida gaúcha pela Presidência do STF. Ele vai suceder Rosa, mas nem tentará substituí-la. É tarefa impossível, conformou-se, alheio aos dicionários que teimam em garantir que sucessor é a mesma coisa que substituto.

Hoje o Supremo escancarou o DEBOCHE e o DESPREZO com que os ministros tratam a cidadania brasileira. Gilmar Mendes fez uma pergunta jocosa a Alexandre de Moraes ao questioná-lo se iria incluir os colegas “no inquérito” por ter perdido a eleição para vice-presidente do STF. Moraes… pic.twitter.com/EQUT2iJQn3— Marcel van Hattem (@marcelvanhattem) August 9, 2023

Moraes estava feliz desde o começo da manhã, quando soube da prisão preventiva de Silvinei Vasques, ex-comandante da Polícia Rodoviária Federal, acusado de ter dificultado a movimentação de eleitores lulistas no dia da votação em segundo turno. 
A distribuição de mais um lote de tornozeleiras eletrônicas e castigos adicionais foi promovida pela operação Constituição Cidadã. 
Era esse o adjetivo colado pelo deputado Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte, ao conjunto de normas aprovado em 1987 e agora em frangalhos. A marcha da insensatez segue seu curso. Já não há limites para o deboche perverso.  
Nem haverá salvação para os desprovidos de compaixão.
 


Leia também “A danação de Dino”

 Coluna Augusto Nunes, Revista Oeste

 

quarta-feira, 26 de julho de 2023

O golpe do algodão-doce - Redação

Revista Oeste

Ministros do Supremo tentam criar uma cortina de fumaça para esconder a confissão de Luís Roberto Barroso sobre o novo consórcio de poder no país


Rosa Weber, ministra do STF, comparou os atos de vandalismo que ocorreram no 8 de janeiro em Brasília com o ataque à base militar em Pearl Harbor, nos Estados Unidos - Foto: Montagem Revista Oeste/Divulgação/Wikimedia Commons

Avessa a qualquer tipo de holofote desde que chegou à Corte, em 2011, Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), resolveu fazer um discurso na semana passada.  
A ministra gaúcha comparou os atos de vandalismo ocorridos no dia 8 de janeiro, em Brasília, ao ataque-surpresa do Japão a Pearl Harbor, em dezembro de 1941, que selou a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

O bombardeio kamikaze no Havaí deixou mais de 2,4 mil mortos, centenas de feridos e um enorme rastro de destruição, especialmente à esquadra americana. O episódio é conhecido como “Dia da Infâmia” e foi amplamente revisitado em livros, manuais de estratégia militar e pelo cinema.publicidade

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A tarde do dia 8 de janeiro em Brasília foi marcada por protestos de civis na Praça dos Três Poderes contra a volta de Lula. 
Terminou como ninguém queria: com a depredação de prédios públicos por um grupo de estúpidos [até o momento,não se sabe se eram apenas estúpidos, ou estúpidos com a agravante de serem esquerdistas infiltrados, buscando fornecer pretexto para o novo governo endurecer o regime e o combate aos opositores - em uma versão tupiniquim do incêndio no Reichstag.]  que se misturaram a cidadãos indignados com o processo eleitoral, o mais turbulento desde a redemocratização do país — muito por causa da interferência da Justiça Eleitoral. Felizmente, não houve feridos em Brasília.Rosa Weber, presidente do STF | Foto: Rosinei Coutinho/SCO/STF
 
As investigações sobre a responsabilidade das autoridades no 8 de janeiro estão emperradas porque o governo Lula não tem interesse na divulgação da parte não contada da história.  
A operação de blindagem é comandada por Flávio Dino, ministro da Justiça e Segurança Pública, que controla a Polícia Federal. 
Do pouco que se sabe sobre o lado oculto, o então general do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, circulou entre os manifestantes e acabou demitido em tempo recorde — até hoje, o governo impede seu depoimento à CPMI no Congresso Nacional. 
As imagens foram obtidas pela emissora CNN porque, do contrário, permaneceriam escondidas.
 
Rosa Weber leu seu discurso durante o Encontro Nacional da Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC). Ela foi homenageada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que até hoje não divulgou uma nota contra as arbitrariedades — em alguns casos, crueldades — do Supremo com os presos.  
Dezenas de advogados reclamam de falta de acesso aos autos contra mães, avós e pais que não atiraram uma única pedra. 
Boa parte assas pessoas, cerca de 1,5 mil no total, ainda será julgada em lotes humanos. A defesa teme que inocentes sejam condenados por, simplesmente, terem saído de casa naquela tarde rumo à Esplanada dos Ministérios com uma bandeira do Brasil à mão.
 
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Cortina de fumaça
Por que a discreta Rosa Weber resolveu trazer o 8 de janeiro às manchetes?
Desde a semana passada, está em ação uma operação para apagar o incêndio causado por Luís Roberto Barroso. Contagiado pela plateia da União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela militância do PCdoB, ele subiu no palanque, afrouxou a gravata e — microfone em punho disse uma frase que escancarou o que aconteceu no Brasil: “Nós derrotamos o ‘bolsonarismo'”.

Na quarta-feira, 19, a oposição protocolou um pedido de impeachment contra Barroso. O documento foi assinado por deputados e senadores. A Lei nº 1079/50, conhecida como Lei do Impeachment, proíbe que ministros do STF se envolvam em atividades político-partidárias. O congresso da UNE, além de político, é partidário, porque a organização é comandada pelo PCdoB (leia reportagem nesta edição).

O caso será analisado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Desde 2019, Pacheco e seu antecessor na cadeira, Davi Alcolumbre (UB-AP), receberam 80 representações contra integrantes do Supremo e não deram andamento a nenhuma. Tampouco há prazo para isso.

À fala de Rosa, soma-se a exaustiva cobertura da velha imprensa sobre a suposta agressão envolvendo o ministro Alexandre de Moraes na Itália. Segundo a mídia, Alexandre Barci de Moraes, filho do ministro, teria sido agredido fisicamente por brasileiros ao defender o pai de xingamentos.
[a mídia, inclusive com ilustrações da versão dos fatos, apresenta o filho do ministro, o 'agredido'  como um adolescente; o 'adolescente' é um homem feito, com quase 30 anos e seu agressor um idoso de 75 anos.]

Até agora, não foram disponibilizadas imagens do Aeroporto de Roma. [a não disponibilização de imagens, facilita a circulação de narrativas, que podem distorcer o que realmente ocorreu - facilitando a divulgação de 'versões' adaptadas à conveniência dos divulgadores - mas não distorcem detalhes físicos dos envolvidos.]

.....

Não havia, de acordo com constitucionalistas, motivo para mandar a polícia ao endereço da família.
Foto: Reprodução O Estado de S. Paulo (19/7/2023)

Turismo supremo
O episódio em Roma também joga luz sobre o intenso roteiro de viagens internacionais dos ministros do STF, onde eles acabam se manifestando sobre questões nacionais. 
No caso da Itália, Moraes viajou a convite do Centro Universitário Alves Faria (Unialfa), uma faculdade de Direito de Goiânia, para uma palestra em português na histórica Universidade de Siena. 
As informações foram divulgadas pela BandNews.

O Grupo José Alves, que controla a Unialfa, é dono da Vitamedic, fabricante da ivermectina, condenada pela Justiça gaúcha por “danos à saúde”.  
Há dois anos, Moraes determinou a abertura de um novo inquérito contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por supostamente difundir notícias falsas sobre a covid-19. Na época, Bolsonaro associou a vacinação contra a covid-19 ao risco de desenvolver Aids. Ele proferiu as declarações em vídeos publicados nas redes sociais, posteriormente retirados do ar.

A condenação imposta à Vitamedic é em primeira instância, ou seja, é possível que o processo chegue em fase recursal ao Supremo Tribunal Federal.

A belíssima Siena, na região da Toscana, não foi o único destino internacional dos togados neste mês. Moraes e Gilmar Mendes — que promoveu um evento em Lisboa — estiveram em Valladolid, na Espanha. 

Foi numa comitiva dessas ao exterior que Luís Roberto Barroso se sentiu importunado por um brasileiro nas ruas de Nova York e respondeu: “Perdeu, mané, não amola”.  
Resta saber se, desta vez, o Senado vai exercer seu papel institucional ou se não há mesmo limites para os poderes supremos. 
 Até hoje uma frase folclórica circula nos corredores do Congresso Nacional quando surge a indicação de um novo nome para ser sabatinado ao STF: “Alguns ministros acham que são deuses”. Atualmente, eles têm certeza.
 
 

Leia também “Supremo Tribunal Político”

 

Redação - Revista Oeste 

 

 

domingo, 23 de julho de 2023

Perseguição a bolsonaristas - Retórica genocida - Flávio Gordon

Vozes - Gazeta do Povo

Uma temporada revolucionária – como a que estamos vivendo no Brasil, que passa por uma mudança de regime – costuma ser marcada pela incomum velocidade dos acontecimentos. 
Mudanças que, em condições normais, talvez jamais acontecessem, ou acontecessem de modo gradativo, levando nisso anos ou décadas, passam a ocorrer de um dia para o outro. De uma semana a outra, a sensação é de que se passaram séculos, tornando difícil ao cidadão comum acompanhar a intensa produção de fatos (e factoides).
 
Dias atrás, por exemplo, tínhamos notícia da confissão de um golpe de Estado por parte de Luís Roberto Barroso, ministro do STF que se assumiu integrante do grupo político que derrotou Jair Bolsonaro. “Derrotamos o bolsonarismo” – foi a fala do militante profissional (e juiz eventual) em evento da UNE, sintomaticamente discursando ao lado de Flávio Dino, o comunista que dirige a pasta da Justiça e da Segurança Pública, e do qual o magistrado – que já acelera a sua chegada à presidência da corte – parece ser um companheiro de governo.
Quando mal a oposição, enfraquecida e de mãos atadas (como sói acontecer em regimes não democráticos), ensaiava alguma reação e parte da sociedade clamava por uma investigação sobre o que exatamente teria feito Barroso para, na condição de presidente do tribunal eleitoral, “derrotar o bolsonarismo”, eis que o consórcio formado por governo, STF e imprensa amestrada lança uma espessa cortina de fumaça sobre o assunto.
 
A oportunidade foi a notícia da hostilização sofrida por Alexandre de Moraes no salão de embarque do aeroporto internacional de Roma, para onde o magistrado viajara. 
Antes que qualquer imagem do ocorrido tivesse sido disponibilizada, e antes que os acusados pudessem apresentar a sua versão, o assim chamado “jornalismo profissional” cravou a narrativa: o ministro havia sido agredido por “bolsonaristas”, que também chegaram a agredir fisicamente o filho de Moraes com um tapa no rosto. 
Na ausência de imagens que pudessem mostrar o que de fato ocorreu, o jornal O Globo – hoje praticamente indistinguível de um panfleto oficial do regime, a exemplo do Pravda soviético ou do Granma cubano providenciou uma ilustração dramatizada do episódio, chegando a retratar o filho do ministro, um adulto de 27 anos, com feições de criança.[VERDADE VERDADEIRA: o suposto agressor do filho do ministro - um adulto de 27 anos - é um idoso de 75 anos.] 
 A ilustração baseou-se única e exclusivamente no relato de Moraes.


    Diante da fala do mandatário brasileiro sobre “extirpar” determinado segmento político, lembrei-me imediatamente de frases como as de Adolf Hitler sobre os judeus

O episódio foi a senha para uma nova campanha de criminalização da oposição ao regime lulopetista e, em particular, ao assim chamado “bolsonarismo” – aquele que Barroso dissera ter derrotado. 

Na Globo News, a voz do consórcio ecoou de maneira paradigmática no comentário da jornalista Natuza Nery. Segundo ela, o ocorrido era a prova mais contundente que o extremismo (de direita, por óbvio, já que não há extremismo de esquerda) não havia acabado com a eleição.  
“O que pode garantir que situações assim cessem? Punição exemplar (...) e educação política” – declarou Natuza, sem dar maiores detalhes do que entende por “educação política”.
 
Seguiu-se um frenesi de histrionismo estratégico por parte do consórcio, de acordo com um procedimento que já se tornou padrão. Um caso que deveria ser, no máximo, enquadrado em crime contra a honra, a ser resolvido entre as partes em juízo de primeira instância, é transformado num ato gravíssimo, equiparado ao terrorismo e à tentativa de abolição violenta do Estado de Direito. 
 Reproduzindo esse teatro, e municiada com a demonização do bolsonarismo propiciada pelo episódio, a presidente do STF, Rosa Weber – que, imitando a vice-presidente americana Kamala Harris em relação ao 6 de janeiro, já havia comparado os atos de 8 de janeiro ao ataque japonês à base naval de Pearl Harbor –, autorizou uma inusitada operação de busca e apreensão, de teor claramente vingativo e intimidatório, na residência dos acusados da suposta (é sempre bom ressaltar, pois até agora só temos uma versão parcial do caso) agressão a Moraes. 
 
No mesmo diapasão, a Procuradoria-Geral da República solicitou a Moraes que exija das redes sociais em funcionamento no Brasil o fornecimento de uma lista com a identificação de todos os seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro.  
Em suma, de uma hora para outra, o Estado passa a reivindicar acesso aos dados privados de milhões de cidadãos brasileiros, suspeitos do “crime” de esposar uma determinada orientação político-ideológica, contrária aos mandatários do atual regime, um procedimento característico de regimes totalitários como a Venezuela ou a Coreia do Norte.

Mas o mais grave ainda estava por vir. Discursando em Bruxelas na manhã de hoje, dia 19, ninguém menos que o presidente da República, o descondenado-em-chefe Luiz Inácio Lula da Silva, aproveitou o episódio da suposta agressão ao companheiro Alexandre de Moraes para proferir as seguintes palavras: “Um cidadão desse é um animal selvagem, não é um ser humano (...) Essa gente que renasceu no neofascismo colocado em prática no Brasil tem de ser extirpada”.

Veja Também:

    Estado Excepcionalíssimo de Direito

    Expurgos

    Um dia viveremos sem medo? Registros da presente ditadura no Brasil

Note-se que o presidente da República não se restringiu a comentar individualmente sobre o suposto agressor de Moraes, o que já seria alarmante, sobretudo porque nada ainda permite extrair uma conclusão inequívoca sobre o episódio. O mandatário, amigo e aliado de narcoditadores e criminosos contra a humanidade como Maduro e Ortega, referiu-se a “essa gente”. É “essa gente”, comparada a um animal selvagem, que o presidente da República diz querer extirpar. São esses, segundo os dicionários, os sentidos possíveis do verbo extirpar: “Arrancar pela raiz, extrair (como, em medicina, um cisto, um dente, um tumor etc.). Destruir por completo”.

“Essa gente”, “um animal selvagem”, “extirpada”. Em períodos recentes, é difícil lembrar de algum líder de qualquer pretensa democracia no Ocidente utilizando abertamente, em público, esse tipo de retórica, a qual, a meu ver, pode perfeitamente ser qualificada como genocida. Com efeito, diante da fala do mandatário brasileiro sobre “extirpar” determinado segmento político, lembrei-me imediatamente de frases como as de Adolf Hitler sobre os judeus: “Já não são seres humanos. São animais. Nossa tarefa não é, portanto, humanitária, mas cirúrgica. Caso contrário, a Europa perecerá sob a doença judia”. Ou a de Lazar Kaganovich, braço-direito de Stalin, sobre os inimigos do Estado soviético: “Pensem na humanidade como um grande e único corpo, mas que, periodicamente, requer algum tipo de cirurgia. Ora, eu não preciso lembrá-los de que não se faz uma cirurgia sem cortar membros, destruir tecidos e derramar sangue”. É a essa cultura política que a frase do petista nos remete.


    Hoje, os assim estigmatizados como “bolsonaristas” foram efetivamente reduzidos à condição de párias e inimigos do Estado, indignos, portanto, de todas as garantias constitucionais dadas aos demais cidadãos

Há coisa de um ano, antes ainda da eleição presidencial que levou o lulopetismo de volta ao controle do Executivo, publiquei uma coluna com o título “O estigma do bolsonarismo”. Nela, destacava a virulência da linguagem que a imprensa e o meio jurídico começavam a empregar sistematicamente, e sem qualquer pudor, ao se referir a Bolsonaro, seus eleitores e admiradores. Depois de mencionar casos extremos nos quais uma retórica desumanizadora conduziu ao genocídio, observei: “No Brasil, não existe obviamente algo similar a esses casos extremos de violência política. No entanto, na esfera da linguagem, já se observa há algum tempo um mecanismo cada vez mais virulento de estigmatização, processo que tem como alvos o presidente Jair Bolsonaro, seus apoiadores e qualquer um que, apenas por não aderir irrestritamente à agenda da oposição, venha a ser marcado com o estigma do bolsonarismo. São recorrentes os exemplos de linguagem estigmatizadora e desumanizadora, utilizada com cada vez menos cerimônia (...) Fulano é bolsonarista, logo, contra ele tudo é permitido – eis, enfim, o silogismo consagrado nas redações, nos estúdios, nos palcos e nos tribunais do Brasil de nossos dias.”

Impressiona constatar como avançamos na direção da violência política. 
Hoje, os assim estigmatizados como “bolsonaristas” foram efetivamente reduzidos à condição de párias e inimigos do Estado, indignos, portanto, de todas as garantias constitucionais dadas aos demais cidadãos. 
Basta ver o tratamento desumano a que estão submetidos os presos políticos do 8 de janeiro, dentre eles idosos e doentes (até mesmo um autista, só recentemente liberado), cujo encarceramento prolongado, que já dura mais de seis meses, não se justifica sob nenhum aspecto legal. 
 
 Mas assusta presenciar o próprio presidente da República empregando essa verborragia desumanizadora, uma verborragia que, ao longo da história, invariavelmente antecedeu e preparou perseguições políticas e assassinatos em massa.  
E assusta, sobretudo, constatar que, hoje, já não há qualquer instituição, quer estatal, quer civil, disposta a lhe fazer um contundente contraponto. Seguiremos daí na coluna da semana que vem.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Flávio Gordon, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 21 de julho de 2023

Suprema blasfêmia- Ana Paula Henkel

 Revista Oeste

Rosa Weber pode até desdenhar das páginas da nossa Constituição, mas não menosprezar as páginas da história



Cena do filme Pearl Harbor | Foto: Divulgação

As imagens da “invasão do Capitólio”, em 6 de janeiro de 2021, rodaram o mundo
É claro que ali havia baderneiros, infiltrados e também aqueles que queriam apenas protestar contra uma eleição presidencial cheia de perguntas e nenhuma resposta. 
Como a nossa em 2022. Mas, sim, “invasão” está entre aspas porque as imagens da “insurreição”, trancafiadas no baú do Partido Democrata por dois anos, já que eles tinham maioria na Câmara e no Senado, e obtidas pelos Republicanos em 2023 com a retomada da Câmara, não mostram bem uma invasão — mas portas sendo abertas por policiais do Capitólio e “terroristas que ameaçavam a democracia norte-americana” com câmeras fotográficas, garrafas de água e sendo ciceroneados por outros policiais para dentro do prédio, onde tiravam selfies com os “golpistas”.

Sim, eu posso imaginar o que você está pensando agora. Tivemos um Capitólio tupiniquim.

Mas as similaridades não param por aí. No aniversário de um ano do famoso 6 de janeiro, a vice-presidente da nação mais poderosa do mundo, Kamala Harris, decidiu incluir a data como um dos três dias mais sombrios da história norte-americana, e afirmou que o 6 de janeiro de 2021 viverá na memória do país comparando o dia ao episódio em Pearl Harbor, quando os japoneses atacaram a base militar americana no Pacífico, colocando os Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, e aos ataques terroristas de 11 de setembro às Torres Gêmeas em Nova York.



Do alto de sua absoluta ignorância e desonestidade, Harris, a campeã de impopularidade até dentro do Partido Democrata, proferiu: “Certas datas ecoam ao longo da história. Incluindo datas que lembram instantaneamente, a todos que as viveram, onde estavam e o que estavam fazendo quando nossa democracia foi atacada. Datas que ocupam não apenas um lugar em nosso calendário, mas um lugar em nossa memória coletiva. 7 de dezembro de 1941, 11 de setembro de 2001 e 6 de janeiro de 2021”.

Comparar 6 de janeiro com Pearl Harbor não mostra apenas desequilíbrio e estupidez, mas desrespeito à história e às vítimas de uma guerra real não esse fascismo imaginário imposto a todos aqueles que discordam do sistema e seus peões. Mas Kamala não está só. 
O 6 de janeiro tupiniquim, o nosso 8 de janeiro, traz similaridades além das narrativas emplacadas pelas assessorias de imprensa de partidos políticos na própria imprensa. 
A mesma idiotice de Kamala foi proferida esta semana, sem o menor pudor e com os mesmos ares de “defesa da democracia”, por uma ministra da mais alta corte do Brasil aquela corte que deveria reservar suas cadeiras a pessoas com notável saber jurídico, reputação ilibada e, pelo amor de Deus, é pedir demais o mínimo conhecimento de história?

Na última sexta-feira, 14 de julho, durante discurso no Seminário e Encontro Nacional da Associação de Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC), Rosa Harris, digo, Rosa Weber, ministra do Supremo Tribunal Federal e atual presidente da Corte, comparou o vandalismo do 8 de janeiro no Distrito Federal — repudiado veementemente por todos nós da Revista Oeste — ao ataque à base naval de Pearl Harbor, nos Estados Unidos, feito pela Marinha japonesa, em 1941. “O presidente Franklin Roosevelt, em 8 de dezembro de 1941, perante o Congresso Norte-Americano, ao reagir ao ataque aéreo japonês, deflagrado na véspera, contra as Forças Navais Norte-Americanas, em Pearl Harbor, no Havaí, disse que aquela data, 7 de dezembro de 1941, pelo caráter traiçoeiro da agressão, viveria eternamente na infâmia. Para nós, 8 de janeiro de 2023 será eternamente o dia da infâmia. E não deixaremos ser esquecido, na defesa da democracia constitucional e do Estado Democrático de Direito”, regurgitou a ministra de Lula a bobagem dita pela vice de Biden.

 


Com todo o respeito, dona Rosa, vamos conversar. A senhora pode até desdenhar das páginas da nossa Constituição, que hoje em dia é facilmente moldada, amassada e rasgada eu diria até tratada com “caráter traiçoeiro da agressão” —, mas menosprezar as páginas da história não dá. Essas não se curvam a caprichos narcisistas infames.

(...)

Um dia antes do ataque a Pearl Harbor, em 6 de dezembro de 1941, os Estados Unidos interceptaram uma mensagem japonesa que indagava sobre movimentações de navios e posições de ancoragem em Pearl Harbor. O decodificador passou a mensagem a seu superior, que respondeu que entraria em contato na segunda-feira, 8 de dezembro. No domingo, 7 de dezembro, um operador de radar em Oahu, no Havaí, viu um grande grupo de aviões em sua tela indo em direção à ilha e ligou para seu superior, que lhe disse que provavelmente era um grupo de bombardeiros americanos B-17 e que não era para se preocupar.

O ataque japonês a Pearl Harbor começou às 7h55 daquela manhã, e todo o ataque levou apenas uma hora e 15 minutos. O capitão Mitsuo Fuchida enviou a mensagem de código “Tora, Tora, Tora” à frota japonesa depois de sobrevoar Oahu para indicar que os americanos seriam pegos de surpresa. Não sei se o “jênio”, com “J” mesmo, do assistente que teve a brilhante ideia de comparar o 8 de janeiro com Pearl Harbor lhe contou, mas a senhora acredita que a força de ataque japonesa consistia em 353 aeronaves lançadas de quatro porta-aviões pesados? 
No aparato militar do histórico ataque de 7 de dezembro de 1941, havia 40 aviões torpedeiros, 103 bombardeiros nivelados, 131 bombardeiros de mergulho e 79 caças. O ataque também consistia em dois cruzadores pesados, 35 submarinos, 2 cruzadores leves, 9 petroleiros, 2 encouraçados e 11 contratorpedeiros.

Agora imagine se os oficiais norte-americanos tivessem levado a sério a informação passada pela inteligência do iminente ataque? Dentro da esdrúxula comparação, seria como se a Abin tivesse avisado o ministro da Justiça e mais 48 agências do governo de um possível ataque e os envolvidos tivessem dado de ombros. 

 

A destruição do USS West Virginia, no dia 7 de dezembro de 1941, em Pearl Harbor, Havaí | Foto: Shutterstock

Dona Rosa, apesar das centenas de pessoas presas sem o devido processo legal e o amplo direito de defesa pelo 8 de janeiro, não houve feridos graves ou mortos no Brasil no que a senhora chama de “dia da infâmia”
Em Pearl Harbor, o ataque japonês, além de deixar 1.178 pessoas feridas, matou 2.403 militares norte-americanos, incluindo 68 civis, e destruiu ou danificou 19 navios da Marinha dos Estados Unidos, incluindo oito navios de guerra. Mais de 300 aviões da frota americana foram destruídos.  
Não sei se te contaram, mas o navio USS Arizona permanece no fundo do mar em Pearl Harbor com sua tripulação a bordo até hoje. 
Metade dos mortos naquele 7 de dezembro estava no Arizona e, por isso, há uma bandeira dos Estados Unidos tremulando permanentemente acima do encouraçado afundado, que serve de memorial a todos os norte-americanos que morreram no ataque. 
 
Não sei se a senhora se comove com facilidade como o ministro Gilmar Mendes, que chora desembaraçadamente diante de tanta emoção quando homenagens a advogados de corruptos são prestadas, mas vou deixar alguns pontos rápidos aqui para a senhora, caso ache pertinente dividi-los com o cérebro “jenial” que a aconselhou a comparar o 8 de janeiro com o Pearl Harbor.  
Coisa rápida, não quero tomar muito seu tempo, sei que a senhora é muito ocupada defendendo a demogracinha brasileira.
Os membros sobreviventes da tripulação que serviram a bordo do USS Arizona durante o ataque pediram a seus familiares que, após sua morte, suas cinzas fossem depositadas por mergulhadores sob uma das torres de artilharia afundadas no Arizona. Cerca de 44 sobreviventes do navio agora descansam com seus companheiros no fundo do Pacífico. 
 
(...)

Já que é o nosso dinheiro que sustenta muitas viagens, comes e bebes de vossas excelências, eu não me importaria se a senhora, em rota para um desses muitos congressos que os supremos costumam atender para falar mal do Brasil, desse uma parada no Havaí, quem sabe levasse o assessor “jênio”, e entendesse — de fato — o que foi e o que significa Pearl Harbor para o povo norte-americano que, aliás, também ouviu a comparação que a senhora vergonhosamente repetiu da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris.  

Não, dona Rosa, isso não é um elogio.

Numa recente viagem ao Havaí com a minha família, tive a oportunidade de visitar pela primeira vez Pearl Harbor e, claro, entrar no Memorial USS Arizona, um museu a céu aberto exatamente sobre um dos navios abatidos pelos japoneses. Sei que a senhora pensou que marcaria pontos extras com a turba que joga até amarelinha com a palavra “democracia”, mas, acredite, a infame comparação que a senhora fez é de um profundo desrespeito a um lugar que deve ser visitado por todos que desejem prestar verdadeiras homenagens a quem, de fato, lutou pela liberdade que temos hoje. Liberdade até para falar bobagens usando pronomes ridículos ou gritar “ameaça à democracia” toda vez que alguém chama um ministro de comunista ou traidor da pátria.

Ali, olhando para os destroços nas águas do Pacífico e andando sobre um dos navios abatidos, é impossível não se emocionar. Na parte final do memorial estão entalhados em uma parede de mármore os nomes de mais de 1,1 mil marinheiros e fuzileiros navais mortos no USS Arizona durante o ataque a Pearl Harbor. A maioria dos mortos tinha idade entre 17 e 23 anos. Há muitas fotos do ataque de 7 de dezembro de 1941, mas não encontrei nenhuma com generais servindo água aos japoneses.

Não sei se a senhora gosta de cinema, mas eu gostaria de deixar uma dica para o fim de semana da senhora, se a senhora tiver tempo, claro — defender o país contra terroristas que vendem algodão-doce durante uma tentativa de golpe sem tanques e sem políticos em Brasília em um domingo não deve ser tarefa fácil. 
No clássico e épico Tora! Tora! Tora!, filme de guerra de 1970 que dramatiza o ataque japonês a Pearl Harbor na Segunda Guerra Mundial, o almirante Isoroku Yamamoto, que comandava a Marinha Imperial Japonesa, diz, logo depois do ataque à base norte-americana: “Temo que tudo o que fizemos foi acordar um gigante adormecido e enchê-lo com uma terrível determinação”. Alguns historiadores defendem que Yamamoto não teria dito exatamente essa frase, mas escrito algo parecido, como “Posso correr livre por seis meses… depois disso, não tenho nenhuma expectativa de sucesso”, resumindo um sentimento geral entre os almirantes japoneses de que não demoraria muito para que o orgulho ferido do então gigante adormecido, aliado à enorme capacidade industrial dos Estados Unidos, garantisse a destruição do Império Japonês.
 
Pensando bem, há um ponto de convergência entre esse discurso sem pé nem cabeça que a senhora leu esta semana e a realidade no Brasil. O orgulho ferido. O nosso. O do povo brasileiro que vem sofrendo um ataque sem precedentes por parte de ministros que insistem em andar fora da lei. Que insistem em prender inocentes, cassar e caçar oponentes políticos. Silenciar cidadãos, jornalistas e qualquer um que cruze o espelho narcisista da Corte. Há um ataque surpresa covarde a cada dia que nasce. 
 
(...)

E a história deixa lições. Trinta dias após Pearl Harbor, 134 mil norte-americanos se alistaram nas Forças Militares. O ataque criou uma onda de patriotismo e indignação que levantou o país e ajudou a curar o orgulho ferido. Catástrofes unem pessoas. Desafios criam vínculos de honra, coragem, amor à pátria e resiliência para lutar pelo que é correto e para lutar contra qualquer projeto de poder nefasto. Se Adolf Hitler, com todo o seu poderio superior, foi derrotado, só há esperança em nosso caminho contra qualquer tipo de Gestapo.

Depois de um embate terrível nas páginas da história, japoneses e norte-americanos hoje têm uma sólida e profunda relação de amizade, e o Japão é um dos fortes aliados da América.  
Quem sabe um dia, mesmo diante da atual guerra abertamente declarada ao Brasil e suas leis, o atual Supremo Tribunal Federal se tornará um aliado da nação brasileira e defenderá seu povo. 
Pelo menos sonhar ainda não é proibido no Brasil.

Leia também “A escravidão do pensamento”

ÍNTEGRA DA MATÉRIA - CLIQUE AQUI - Revista OESTE

 

 Ana Paula Henkel, colunista da Revista Oeste

 


terça-feira, 18 de julho de 2023

Juiz parcial - E agora, Supremo? - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia - VOZES

 

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, divulgou uma nota sobre suas declarações em evento da UNE.| Foto: Carlos Moura/SCO/STF.

Campeonato de futebol decidido, o árbitro vai a uma reunião dos vencedores e se gaba, ao microfone, de ter ajudado a derrotar o principal adversário. O que fará a federação diante de tal escândalo? 
Pois é um caso para a corte suprema do Judiciário brasileiro resolver, já que o juiz em breve será seu presidente. 
Tendo se manifestado como participante da derrota do bolsonarismo, já emitiu julgamento sobre esse grupo político; como poderá ser considerado isento ao presidir qualquer julgamento que envolva um desses derrotados, um bolsonarista? 
A manifestação de juízo foi expressa num recinto dos vencedores, já que o Partido Comunista do Brasil, que comanda a UNE, fez parte da coligação vitoriosa. 
 Por menos do que isso o Conselho Nacional de Justiça já expulsou juízes, mas o CNJ não julga ministro do Supremo; só quem pode julgar são os senadores.
 
“Nós derrotamos o bolsonarismo”, clamou o juiz, ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral e em breve presidente do Supremo. Como todos sabemos, nós é eu e mais alguém ou outros. Aqui já fica uma dúvida: Nós quem? Eu e quem mais? 
Uma nota do Supremo explicava que ele se referia ao voto popular – o que lembra o TSE presidido por Barroso e levanta mais dúvidas sobre o significado da frase do ministro. O ministro tentou justificar-se, postando que se referia a “extremismos golpistas”. A emenda piorou, pois deixa implícito que, para ele, bolsonarismo é sinônimo de extremismo golpista. 
O ministro do Supremo estava emocionado no ambiente da UNE, mangas arregaçadas e rosto corado. 
Pode ser que as características de um magistrado, de comedimento, equilíbrio, reserva, moderação e sobriedade, tenham sido tragadas pela emoção e provocado uma catarse ou ato falho. 
Mas agora, como a flecha arremessada por um arco, as palavras não podem mais voltar a uma boca fechada, cujo ideal seria só falar nos autos.
 
São tempos muito estranhos no Judiciário. O desembargador Sebastião Coelho, depondo na memorável sessão da semana passada da Comissão de Segurança Pública do Senado, sobre presos políticos, afirmou que juízes de carreira sentem vergonha do que acontece.  
Uma semana antes de aparecer no congresso da UNE, o ministro Barroso afirmara, em Porto Alegre, que o Judiciário se tornou poder político”. 
Isso significaria tomar poder do Legislativo, que é o poder politico representante do povo, e esquecer o segundo artigo da Constituição. São tempos em que juízes do Supremo dão entrevistas, emitem opiniões, debatem, respondem “perdeu, mané, não amola” – frase do vencedor, que agora se encaixa no contexto do que foi expressado na UNE.
 
Nesses dias, o ministro Gilmar Mendes bateu boca nas redes com o ex-deputado Deltan Dallagnol. 
Para os da minha geração, tudo estranho e inédito. 
Tem gente responsabilizando a TV Justiça por transformar o plenário em estúdio em que as luzes acenderam as vaidades.  
No mensalão, o presidente do Supremo, ministro Joaquim Barbosa, era aplaudido nos aeroportos; na Lava Jato, o juiz Sergio Moro concedia selfies nos shoppings. 
A atual presidente do STF era exceção. Elogiava-se a ministra Rosa Weber por sua discrição. Mas agora ela quebrou o silêncio.  
Comparou o 8 de janeiro de 2023 ao 7 de dezembro de 1941, quando os japoneses atacaram Pearl Harbor.  
E agora, como vai presidir julgamento dos réus de 8 de janeiro, uma vez que já pré-julgou, ao afirmar que foi um novo “Dia da Infâmia”? 
Quem vai julgar, sem que não tenha prejulgado?

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 19 de fevereiro de 2023

O vício do prazer - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Estamos vivendo em uma época de acesso sem precedentes a estímulos de alta recompensa e alta dopamina: drogas, comida, notícias, jogos de azar, compras, redes sociais e seus cliques e por aí vai 

 Ilustração: Shutterstock

Ilustração: Shutterstock 

Numa recente viagem ao Havaí com a minha família, tive a oportunidade de visitar pela primeira vez Pearl Harbor, a histórica base naval norte-americana na Ilha de Oahu, que foi alvo de um ataque japonês surpresa, em 7 de dezembro de 1941, e que precipitou a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. 
A Frota do Pacífico dos EUA estava estacionada em Pearl Harbor desde abril de 1940 e, além de quase cem embarcações, incluindo oito navios de guerra, havia importantes forças militares e aéreas na ilha. O ataque à base prejudicou gravemente a força naval e aérea dos EUA no Pacífico. No entanto, dos oito navios de guerra, todos, exceto o Arizona e o Oklahoma, foram eventualmente consertados e voltaram ao serviço.

Hoje, Pearl Harbor continua sendo uma base militar ativa, sede da Frota do Pacífico e um marco histórico nacional. Para os que tiverem a oportunidade, o Memorial USS Arizona, um museu a céu aberto exatamente sobre um dos navios abatidos pelos japoneses, é um lugar que deve ser visitado por todos que desejam prestar verdadeiras homenagens a quem, de fato, lutou pela liberdade que temos hoje. 

Ali, olhando para os destroços nas águas no Pacífico e andando sobre um dos navios abatidos, é impossível não se emocionar. Local de descanso de 1.102 dos 1.177 marinheiros e fuzileiros navais mortos no USS Arizona durante o ataque a Pearl Harbor, na parte final do memorial estão entalhados em uma parede de mármore os nomes dessas pessoas e suas idades. A maioria dos mortos tinha idades entre 17 a 23 anos. Além de um marco histórico, o navio USS Arizona é hoje um cemitério militar ativo dos EUA. À medida que os sobreviventes do ataque ao Arizona falecem, muitos deixam registrado que desejam que suas cinzas sejam espalhadas na água sobre o navio ou colocadas em urnas para serem depositadas no fundo do navio no mar.

Pearl Harbor: três encouraçados norte-americanos atingidos. 
Da esquerda para a direita: U.S.S. West Virginia, severamente 
danificado; USS Tennessee, danificado; e USS Arizona, 
afundado em 7 de dezembro de 1941 | Foto: Shutterstock

É praticamente impossível sair do lugar sem derramar alguma lágrima. Eu olhava para os meus filhos, com 22 e 17 anos, e tentava imaginar o que aquela geração viveu. Chegamos em casa e iniciamos uma verdadeira maratona na frente da TV sobre a Segunda Guerra Mundial. Eu já escrevi em alguns artigos aqui em Oeste passagens e eventos com Winston Churchill, por exemplo, e as lições deixadas por homens de seu quilate. O que a visita a lugares como Pearl Harbor nos traz é a perspectiva de que Churchill, um dos integrantes da minha assembleia de vozes, na verdade, é a ponta final e famosa de uma época de homens e mulheres raríssimos hoje em dia.

Sente-se neste fim de semana com os filhos, sobrinhos, netos e, olhando as filmagens do “Dia D”, em 6 de junho de 1944, tente não se emocionar diante de uma realidade que hoje pode parecer apenas páginas de um livro de história. A verdade é que ali, uma geração inteira de homens e mulheres foi forjada no que há de mais cruel e mais completo que um ser humano pode receber
A dor, a perda, a coragem, a resiliência, o fardo, a morte, o medo, o alívio… a vitória. A divindade da gratidão plena por estar vivo e por poder voltar para as situações simples e significativas da vida.
E aí, quando desligamos a TV, quando fechamos os livros de história e caímos com os pés plantados e seguros no chão da atual realidade, o impacto é bruto. Mais brusco até do que olhar as apavorantes cenas de guerra real. O que aconteceu com a humanidade?  
Como partimos de seres humanos da estirpe daqueles que lutaram e deram a vida pela nossa vida e liberdade que temos hoje para um mundo narcisista, hedonista e cheio de invenções sem pé nem cabeça, cheio de problemas inventados por cabeças desocupadas? 
Esse mundo atual, onde tudo é problema, tudo é ofensa, tudo é protegido por um tipo de plástico bolha virtual para que ninguém se machuque com palavras… É isso mesmo que fizemos com a liberdade conquistada por soldados – RAPAZES DE 20 E POUCOS ANOS! – que fizeram o sacrifício final pelo mundo?
 
Enquanto olho as imagens do desembarque histórico nas praias da Normandia, o estômago embrulha os pensamentos de que agora não podemos mais falar que homem é homem. Mas também não podemos mais falar que mulher menstrua, que mãe é mãe, e que mulher é mulher. 
Não podemos mais falar que algo é feio e grotesco. Tudo é lindo. Porcaria é lindo. Música ruim é linda. Filme ruim ganha Oscar. Se criticar, é racismo, homofobia, misoginia, e uma lista de “ismos” e “fobias” interminável. A conclusão do que é belo é feita pelos outros, você só tem de balançar a cabeça e concordar. Não, você não tem opinião. Você não terá nada – nem opinião – e será feliz, lembra? 
Davos está aí para nos lembrar disso. Os ungidos da elite global já decidiram que o problema é o pum da vaca e o que você come. Eles se reúnem para decidir como salvar nossas vidas de nós mesmos, não apenas com o alimento do corpo, mas com o alimento da alma, e, para isso, há também os ungidos das artes, da saúde, da imprensa. 
Você não sabe o que é bonito ou saudável. Nem eu. Mas fica tranquilo, os que pintam o cabelo de roxo, que relativizam a beleza e a saúde, que cantam músicas desafinadas e que não sabem se são mulheres, homens, gays, não binários ou uma das 48 letras do alfabeto de gêneros – eles sabem o que é melhor para você e o mundo.
Tropas norte-americanas indo para Utah Beach, durante a
 invasão do Dia D, na Normandia, em junho de 1944 - 
 Foto: Shutterstock

Um dos pontos mais marcantes dessa geração de mimados, como brilhantemente expõe Jordan Peterson, psicólogo canadense e um dos maiores pensadores contemporâneos, é o fato que essa turba jacobina que quer “consertar” o mundo e que tem “todas as soluções” para isso nem sequer arruma a própria cama, o próprio quarto. No espetacular livro Podres de Mimados – As Consequências do Sentimentalismo Tóxico, Theodore Dalrymple, nosso parceiro aqui em Oeste, desmascara o sentimentalismo oculto que sufoca a atual sociedade e o debate público. Sob os múltiplos disfarces de criar bem os filhos, “cuidar dos desprivilegiados e oprimidos”, ajudar os menos capazes e fazer o bem em geral, estamos alcançando exatamente o oposto. Todo esse trabalho para com o único objetivo de nos sentirmos bem com a nossa própria sombra, e, claro, por que não aproveitar aquela sinalizada de virtude nas redes sociais e marcar uns pontinhos? Dalrymple leva o leitor a uma caminhada que mexe com as emoções públicas e o papel do sofrimento, mostrando os resultados perversos quando abandonamos a lógica em favor do culto ao sentimento. Baseando-se em sua longa experiência de trabalho com milhares de criminosos e mentalmente perturbados, Dalrymple prova que só podemos esperar fazer a diferença se começarmos a questionar esse culto ao vitimismo e ao sentimentalismo.

Outro excelente livro que aborda o assunto é Nação Dopamina, escrito pela psiquiatra Dra. Anna Lembke. No livro, recentemente lançado no Brasil, Lembke explora as novas descobertas científicas que explicam por que a busca incansável do prazer leva à dor, e como estamos vivendo em uma época de acesso sem precedentes a estímulos de alta recompensa e alta dopamina: drogas, comida, notícias, jogos de azar, compras, jogos, mensagens de texto, aplicativos de relacionamento (não deu certo com alguém? Troca. Troca. Troca…), redes sociais e seus cliques e por aí vai.

“O smartphone é a agulha hipodérmica moderna, fornecendo dopamina digital 24 horas por dia, sete dias por semana, para uma geração conectada”

A Dra. Lembke é diretora médica de medicina da Universidade de Stanford e chefe da Clínica de Diagnóstico Duplo da Stanford Addiction Medicine, e relata que seus pacientes que lutam contra o abuso de substâncias geralmente acreditam que seus vícios são alimentados por depressão, ansiedade e insônia. Mas ela afirma que o oposto costuma ser verdadeiro: os vícios podem se tornar a causa da dor – não o alívio dela. Isso porque o comportamento desencadeia, entre outras coisas, uma resposta inicial da dopamina, que inunda o cérebro de prazer. No entanto, uma vez que a dopamina passa, a pessoa geralmente se sente pior do que antes: “Eles começam a usar a droga para se sentirem bem ou sentirem menos dor”, diz Lembke.Com o tempo, com a exposição repetida, essa droga funciona cada vez menos. Mas eles se veem incapazes de parar, porque, quando não estão usando, ficam em estado de déficit de dopamina. A dopamina é um neurotransmissor que envia sinais de um neurônio para outro e é provavelmente o neurotransmissor mais importante em nossa experiência de prazer, motivação e recompensa. A dopamina é o caminho final comum para todas as experiências prazerosas, intoxicantes e gratificantes. O smartphone é a agulha hipodérmica moderna, fornecendo dopamina digital 24 horas por dia, sete dias por semana, para uma geração conectada.”

Outro dia, sentados à mesa de jantar, minha enteada “chamou nossa atenção” e “nos convidou” a refletirmos pelas palavras que dissemos. Lembrem-se, resido na Califórnia, talvez o Estado mais progressista e sentimentalista que há hoje nos Estados Unidos junto com Nova Iorque. O “crime hediondo”, cometido em um simples comentário durante o jantar, foi dizer que uma colega do time de vôlei dela estava bem acima do peso, e que isso a estava prejudicando em quadra. Na lista de “fobias” da moda, a carta “gordofobia” foi puxada para o assunto e não foi sequer levado em consideração o argumento – de dois atletas olímpicos – de que a jogadora em questão não está apenas rendendo bem menos do que o esperado, mas está em um ciclo de dois anos de contusões intermináveis e que nunca melhoram em articulações e ligamentos, claramente ligadas ao sobrepeso. Tudo isso com apenas 17 anos. A parceira de time tem o sonho de ser convidada a ingressar em uma boa universidade norte-americana através do esporte e, obviamente, sua atual condição atlética não vai colaborar para a realização desse sonho. Na atual balança do ombro amigo (situação vivida também por técnicos esportivos) é mais correto esconder a verdade com mentiras fofas sobre “aceitação corporal” e ajudar a sepultar os sonhos das boas amizades em silêncio para que, pelos menos, as palavras não machuquem.

Os norte-americanos estão cada vez mais gordos, e isso não é sobre aceitar nossa aparência, nosso corpo e nossos defeitos. Mais de dois terços dos adultos nos Estados Unidos estão acima do peso ou têm obesidade, relata o site sobre saúde Heathline.com. O CDC norte-americano, órgão governamental tão respeitado durante a pandemia, diz que entre 1999 e 2020, “a prevalência da obesidade aumentou de 30,5% para 41,9%” e a obesidade grave “aumentou de 4,7% para 9,2%”. Mesmo com esses números alarmantes, mas na onda da lacração – a chamada cultura woke, aqui nos EUA –, marcas como Victoria Secret, Calvin Klein e outras empresas de roupas tentam agora lucrar com o sobrepeso perigoso para a saúde disfarçando suas campanhas capitalistas como “tamanho inclusivo”.

É sabido, e é preciso salientar, que muitas pessoas lutam com seu peso por razões fora de seu controle – problemas de saúde, predisposições genéticas e assim por diante. E, mesmo quando o excesso de peso das pessoas é culpa delas, é claro que nunca há motivo para envergonhá-las ou discriminá-las. Mas, se sempre houve problemas de saúde e hereditários que afetam a capacidade de manter um peso saudável, então, por que o enorme aumento na porcentagem de pessoas com sobrepeso mórbido nos últimos anos, quando sabemos mais sobre nutrição, exercícios e saúde do que nunca?

Nosso padrão de vida e qualidade de vida estão melhores do que nunca. O alimento nunca foi tão abundante e nunca tivemos tantos avanços tecnológicos em várias áreas. Até o trabalho físico diminuiu drasticamente. O que realmente mudou nos últimos anos é o Grande Despertar, parte da agenda nefasta globalista de “desconstrução” do ser humano e sua alma para que percam seu livre-arbítrio, sua apreciação pelo belo, pelo sagrado, pelas tradições. E tudo isso começa pela perda do cuidado do templo mais sagrado que temos – nosso corpo.

Vivemos num mundo onde o público exige exibições vulgares de emoção em um jogo de coação contra qualquer um que não se conforme com o absurdo desse mundo paralelo criado e que é empurrado goela abaixo. As boas tradições estão sendo corroídas pela hegemonia cultural sentimental que insiste que qualquer sentimento é, por definição, verdadeiro e algo a ser nutrido. O sentimentalismo está nos destruindo. Ninguém tem o direito de ser permanentemente feliz. As crianças precisam aprender a ficar entediadas, a ouvir “nãos” e não terem todos os seus sonhos e fantasias realizados.

Por onde começar? Talvez pela história. Mostrando o que rapazes e moças fizeram por nós para que pudéssemos ter a liberdade de escolher nossos estúpidos pronomes. Mostrando que podemos escolher o que quisermos hoje em dia, mas que não podemos – jamais – fugir das consequências de nossas escolhas.

Leia também “Uma guerra espiritual”

domingo, 15 de novembro de 2020

Tempestade numa proveta - Elio Gaspari

 Folha de S. Paulo - O Globo

Um dia se saberá o que aconteceu na Anvisa entre as 15h e as 21h25m de segunda-feira, quando ela suspendeu os estudos clínicos que avaliavam a Coronavac

Instituto Butantan alertou no dia 6 de novembro que morte de voluntário não tinha a ver com o teste da vacina

Uma rede de computadores fora do ar e uma comemoração de Jair Bolsonaro transformaram um suicídio numa lastimável tempestade de proveta. [a rede de computadores fora do ar é FATO - tendo em vista invasão por hackers a diversos computadores - no DF algumas empresas do GDF para não deixar o público sem acesso aos seus serviços, tiveram que migrar do .gov.br para o .com.br;
A regra na pandemia tem sido a de seguir a ciência, os protocolos científicos e os especialistas (a estes fazemos restrições, nunca acertam nada). A ciência e os protocolos científicos estabelecem que em testes de medicamentos, especialmente vacinas, qualquer ocorrência anômala com um voluntário no programa de testes, deve implicar na imediata suspensão do programa, até que se tenha definição do que ocasionou o evento - no caso a morte de um voluntário. 
É regra, é um protocolo e tem que ser seguido - seja pela vacina do Doria, "adido comercial da China", ou um vacina defendida pelo presidente Bolsonaro (a verdade tem que ser destacada: o capitão não defende nenhuma, o que impede que o considerem adido comercial de algum país.)
 
A informação de suicídio foi atribuída a fontes policiais, burocráticas  - identificar causa mortis é competência do IML, após autópsia, especialmente não havendo marcas exteriores no cadáver - portanto, sem credibilidade oficial. 
A Anvisa agiu corretamente: evento adverso grave é causa determinante de imediata suspensão até que sejam apuradas as causas reais - caso tenham relação com os testes, mantém-se a suspensão até posteriores estudos; não havendo relação, cancela-se a proibição.
São os FATOS e por eles é que a Anvisa será avaliada. 
Nos parece que o médico Jorge Venâncio exorbitou de sua competência. ]

A polícia achou o corpo do voluntário na tarde de 29 de outubro. No dia seguinte, uma sexta-feira, o centro de pesquisas do Hospital das Clínicas informou à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, a Conep, e ao Instituto Butantan. O médico Jorge Venâncio, coordenador da Conep, disse à repórter Constança Tasch que conversou com pesquisadores “duas vezes por dia” e decidiu não suspender os testes. Ele explicou o motivo: “O voluntário tomou a segunda dose da vacina 22 dias antes, não tinha nenhum problema de saúde e chegou a fazer um check-up particular, com uma batelada de exames, pouco depois.”

Numa outra pista, correu a notificação do Instituto Butantan à Anvisa. Ela foi emitida no dia 6 de novembro, informando na sua parte conclusiva que a morte do voluntário não tinha a ver com o teste da vacina. [o Butantan é respeitado pelas vacinas que produz, especialmente o soro antiofídico, mas não é credenciado legalmente para realizar autópsias.] Segundo a Agência, seu sistema de computadores estava fora do ar e a comunicação do dia 6 não havia sido lida. Às 15h do dia 9, segunda-feira da semana passada, a Anvisa pediu ao Butantan informações sobre os “eventos adversos graves inesperados” ocorridos desde 30 de outubro.

Segundo uma cronologia divulgada pelo Butantan, às 18h13m o pedido foi reiterado e 11 minutos depois as informações que haviam sido mandadas no dia 6 foram reenviadas. Os fatos que subsidiaram a decisão da Conep estavam todos lá. Só faltava a palavra suicídio. Segundo uma linha do tempo da Anvisa, ela chegou “sem nenhum detalhe”. Às 20h47m a Anvisa convocou a equipe do Butantan para uma reunião de emergência no dia seguinte, sem agenda especificada.

No entanto, 13 minutos depois, em outra mensagem a Anvisa suspendeu os testes daquilo que Bolsonaro chama de “a vacina chinesa do governador João Doria”.  Às 21h25m a Anvisa informou que suspendera os estudos clínicos da Coronavac. Por motivos que podem ser compreensíveis, durante três dias a Anvisa ficou fora do lance, mas, como ela revelou, sabia “por meio de contato informal com o Ministério da Saúde e com a Conep” que um “evento adverso grave teria ocorrido”. Entre as 15h e as 21h25m criou-se uma crise sanitária, alavancada no dia seguinte pelo capitão, que viu na sua decisão “mais uma que Jair Bolsonaro ganha”.

Na sua entrevista de terça-feira o contra-almirante Antonio Barra Nunes, que é médico, repetiu à exaustão que fez tudo de acordo com o manual e que a decisão foi dos técnicos, funcionários de carreira. O diretor do Butantan, Dimas Covas [cabo eleitoral do Doria, demissível 'ad nutum']. reclamou: “Um telefonema teria resolvido”. Juntando-se as peças, a Anvisa revelou que soubera “informalmente” da ocorrência de um “evento”. Ela, que estivera fora do ar, decidiu suspender os testes sem não falar com o Butantan e muito menos com a Conep, que avaliara o caso. Barra Nunes fez tudo pelo manual, que não prevê telefonemas. 

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Folha de S. Paulo - Jornal O Globo - Elio Gaspari, colunista