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sexta-feira, 6 de agosto de 2021

A CPI virou um monstro - Revista Oeste

Silvio Navarro

Quem conhece Renan Calheiros e os personagens que gravitam em torno dele sabe que o circo não vai parar por aí


Em maio, a reportagem de capa da edição 61 da Revista Oeste escancarou o circo montado no Senado com o objetivo de manter a pandemia de coronavírus na crista do embate eleitoral de 2022. Quase três meses depois, o elenco liderado por Renan Calheiros (MDB-AL) vai transformando uma ópera-bufa num monstruoso espetáculo de autoritarismo. Protagonistas e figurantes seguem um roteiro que tenta cercear a liberdade de imprensa, prender quem discorda e chantagear adversários.

Um requerimento apresentado por Renan começa a espancar o idioma já em seu início. “Cumpre esclarecer que os requeridos levantamento e transferência de dados”, lê-se no segundo parágrafo. “Requer-se que as ordens de levantamento e transferência deverão cumpridas”, delira uma frase incompreensível no quarto. E sobram erros toscos de digitação. Por exemplo: “A pessoa contra quem se busca a quebra e a transferência dfe sigilo”. É melhor parar por aqui. No documento de dez páginas, Renan pediu a quebra do sigilo bancário da rádio Jovem Pan, de uma produtora de documentários e de alguns sites conservadores. O relator da CPI acusou a emissora de disseminar fake news sobre a pandemia. Causou estranheza a abrangência da devassa nas contas. Renan queria que fosse examinada a movimentação financeira a partir de 2018, quando ninguém podia prever a aparição do vírus chinês.

Neste 3 de agosto, uma terça-feira, Renan recuou. Alegou que o documento fora produzido acidentalmente enquanto estava de férias, num mea-culpa incapaz de convencer seu mais feroz aliado. Curiosamente, também subescreveu o documento o petista pernambucano Humberto Costa. “Precisaria ter uma retratação”, disse Arthur Rollo, advogado da emissora. “Não basta Renan dizer que foi um errinho. Receamos que o requerimento seja reapresentado e volte a ameaçar direitos e garantias fundamentais presentes no artigo 5º da Constituição, desrespeitada pelo senador Calheiros.”

Dois senadores governistas garantem que o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), foi quem abortou o atentado à liberdade de imprensa. “Aziz argumentou que era arriscado demais mexer com a Jovem Pan e seus comentaristas de peso”, disse um deles a Oeste. Para Thaméa Danelon, procuradora da República e professora de Direito, o pedido de Renan “não tem base fática nem jurídica”. “Não há fundamentação especificada. O senador Renan diz que, como a CPI tem matiz político, o pedido não precisaria ser bem fundamentado como ocorre no Judiciário. Isso está equivocado”, afirmou. “Como exerce poder de juiz, a CPI tem de ter as responsabilidades de um juiz. Ou seja, é preciso informar por que foi pedida a diligência e o que se busca obter com a violação de sigilos tutelados pela Constituição.”

Pedidos idênticos contra outras empresas e jornalistas foram aprovados. São eles: LHT Higgs Ltda. (a produtora Brasil Paralelo), Farol Produções Artísticas (Senso Incomum), Allan dos Santos (Terça Livre), José Pinheiro Tolentino Filho (Jornal da Cidade On-line), Paulo Enéas (Crítica Nacional) e Tarsis de Sousa Gomes (Renova Mídia). Em resposta, os veículos disseram que não temem ser investigados e, apesar da afronta à liberdade de expressão, estão prontos para ser ouvidos pela CPI uma comissão que, nas palavras de Janaina Paschoal, jurista e deputada estadual pelo PSL paulista, “precisa se reinventar a cada dia porque não há o que ser investigado”.

Renan tem método
A intimidação a políticos e jornalistas considerados rivais é uma marca da trajetória de Renan, uma das figuras mais peçonhentas dos corredores de Brasília desde a redemocratização do país. Em 2007, quando enfrentou cinco processos de cassação de mandato e estampou cinco capas da revista Veja (de maio a setembro), o senador preparou dossiês contra inimigos para forçar a absolvição.

Os principais alvos eram os colegas de bancada Jarbas Vasconcelos (MDB-PE) e Pedro Simon (RS), que ele conseguiu destituir da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na época, além do amazonense Jefferson Peres (PDT) e dos goianienses Marconi Perillo (PSDB) e Demóstenes Torres (DEM). Contra os dois últimos, incumbiu o assessor Francisco Escórcio, conhecido como Chiquinho, da busca de informações. Numa entrevista à TV Globo, Demóstenes que mais tarde seria cassado por envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira — disse que os arapongas de Renan instalaram câmeras em hangares de Brasília.

Renan viu no antibolsonarismo reinante na imprensa uma janela para tentar lavar o seu passado

Outra ação de Renan naquele ano foi encomendar a Agaciel Maia ex-diretor-geral do Senado que acabaria envolvido até o pescoço no escândalo dos atos secretos de José Sarney — um catatau com todas as despesas dos 80 senadores com verbas de gabinete: gasolina, restaurantes, aluguel de escritório, passagens aéreas etc. Desse levantamento, surgiu uma briga histórica entre Renan e Tasso Jereissati (PSDB-CE) sobre o custeio de combustível de jatos particulares pelos cofres públicos, que só explodiria no plenário dois anos depois. Ironicamente, hoje os dois estão na mesma trincheira contra o governo. Vale a pena relembrar o diálogo,  cuja sessão Sarney teve de interromper pelo risco de cenas de pugilato na TV Senado.

Renan, não aponte esse dedo sujo pra cima de mim! Estou cansado de suas ameaças.
— Esse dedo sujo infelizmente é o de Vossa Excelência. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou.
Pelo menos era com meu dinheiro. O jato é meu, não é dos seus empreiteiros.
— O dinheiro é seu?
É meu, é meu! Eu tenho pra falar, tá?
— Coronel! — respondeu Renan, fora dos microfones.
Eu, coronel? Cangaceiro, cangaceiro de terceira categoria!
— Seu m…, — rebateu Renan.

Renan nunca mudou. Salvou o mandato em 2007, reelegeu-se, fez do filho, então prefeito da pequena Murici, o governador do Estado, coleciona dezenas de inquéritos que misteriosamente não avançam no Supremo Tribunal Federal (STF) e viu no antibolsonarismo reinante na imprensa uma janela para tentar lavar o seu passado. Segundo assessores de senadores governistas, seu gabinete — assim como o de Aziz e o de Randolfe Rodrigues (Psol-AP) — funciona como uma central de distribuição de documentos pré-selecionados (alguns já estão até grifados) com cruzamentos telefônicos, dados de empresas e o passado dos depoentes. É possível que o material seja elaborado pelos 49 funcionários que Renan mantém no Senado (26 deles comissionados no escritório de apoio em Alagoas) e pelas assessorias, reembolsadas mensalmente ao custo de R$ 10.500.

A vítima mais recente da trinca Renan, Aziz e Randolfe foi Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde. A CPI pediu seu afastamento do cargo e promoveu uma enxurrada de manchetes contra ela. Médica, Mayra defende o uso de medicamentos no tratamento imediato da covid-19 que a CPI condena. “Ela é responsável pela morte de muitos amazonenses”, afirmou Aziz. “Pela morte de pessoas que eu conhecia.”

Não bastasse a tentativa de tirá-la do cargo, a defesa de Mayra ainda teve de acionar o Supremo Tribunal Federal (STF), uma vez que o bunker dos xerifes da covid no Senado passou a municiar jornalistas com dados do sigilo telefônico dela. Em algumas mensagens disparadas via WhatsApp, uma repórter da Folha de S.Paulo cobra explicações sobre 300 telefonemas para médicos e políticos que defendiam o tratamento precoce, como o deputado Osmar Terra (MDB-RS) e o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

A CPI ainda tem longas semanas pela frente, e quem conhece Renan e os personagens que gravitam em torno dele sabe que o circo não vai parar por aí. O recado, aliás, foi dado já na quarta-feira 4: “Eu sou o relator da CPI e posso produzir a prova”.

…………………

Leia também “A imprensa a favor da censura”

Revista Oeste - Silvio Navarro


quinta-feira, 22 de julho de 2021

O fato que interessa - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Arrecadação dos impostos federais prova de que a economia brasileira voltou crescer, mas classes que tomam as decisões nem notaram o que está acontecendo: continuam falando das ‘ameaças à democracia’

Muito longe das importantíssimas preocupações do Brasil oficial de hoje, que vão e voltam entre a “CPI” da Covid e o último manifesto à nação do senador Renan Calheiros, do novo regime “semipresidencialista” à nova variante “Delta” do vírus chinês, mal se registrou um desses fatos da vida real que a mídia, a classe política e a elite meia-boca desse País acham insignificante – a arrecadação dos impostos federais, neste último mês de junho, passou dos R$ 135 bilhões, um aumento de quase 50% sobre junho de 2020. Há exatos 10 anos, desde 2011, não havia tanto dinheiro no mês de junho.

O resultado é tão forte que o Ministério da Economia liberou para todos os outros ministérios o uso das verbas que estavam retidas, pelas pressões de uma economia em covid. É, simplesmente, uma mudança fundamental de rumos – se o Estado voltou a arrecadar a níveis recorde, eis a prova de que a economia brasileira voltou a produzir, a vender e a crescer. Mas as classes que tomam as decisões nem notaram o que está acontecendo; continuam falando das “ameaças à democracia”, etc. etc. etc. ou, então, dizendo que esses números podem ser uma “bolha sazonal” e não significam coisa nenhuma. É um disparate.

O que poderia haver de sazonal no mês de julho? 
E nos meses anteriores, durante os quais a arrecadação tem subido da mesma maneira?
Porque, se esse último resultado é apenas uma anomalia, a arrecadação de impostos federais chegou perto dos 900 bilhões de reais no primeiro semestre deste ano, e pode bater em 2 trilhões até o fim ano – um resultado inédito? 
Não é só na União que está entrando dinheiro. Pelas medições em tempo real do Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo, o total de impostos recolhidos no Brasil entre 1º de janeiro e 21 de julho caminha para 1,5 trilhão de reais. O fato que interessa em tudo isso é o seguinte: Brasil pode ter, neste ano de 2021, sua maior arrecadação de impostos de todos os tempos.

Qual a importância de tudo isso para a Frente Unida da Covid, do Impeachment, do Genocídio, do “Roubo de “Vacinas”, dos “Atos antidemocráticos”, do Voto Eletrônico Para Sempre e outras questões que eles acham fundamentais para o Brasil? Zero sobre zero.

J.R.Guzzo, colunista - O Estado de S.Paulo


sexta-feira, 11 de junho de 2021

Termo de declarações prestadas por Renan Calheiros - Revista Oeste

 Augusto Nunes - Colunista interroga relator da CPI
Escalado para uma reportagem sobre a CPI da Covid, este colunista solicitou uma entrevista ao relator Renan Calheiros. 
 A contraproposta chegou minutos depois: por sentir-se muito mais à vontade quando depõe em tribunais e delegacias, o senador preferia “aquela fórmula que vocês usaram com o Aécio Neves”. Assim se fez. O resultado foi o depoimento abaixo transcrito.

Aos oito dias de junho de dois mil e vinte e um, em São Paulo, às duas horas da madrugada, numa sala desta instância jornalística, compareceu José Renan Vasconcelos Calheiros, filho de Olavo Calheiros Novais e Ivanilda Vasconcelos Calheiros, com 65 anos de idade, natural de Murici, Alagoas, de cor branca, residente em Brasília, sabendo ler e escrever; aos costumes, disse nada; interpelado pelo signatário, declarou que, embora formado em Direito, é político profissional, filho de político profissional, irmão de políticos profissionais, tio de políticos profissionais, pai de político profissional e, se Deus quiser, futuro avô de políticos profissionais; que já exerceu os cargos de deputado estadual, deputado federal, ministro da Justiça do governo Fernando Henrique Cardoso (que até hoje tenta justificar a escolha com a alegação de que ignorava as três ou quatro anotações no prontuário ainda em seu começo), senador e, por duas vezes, presidente do Senado; que só não se elegeu governador de Alagoas por ter sido atraiçoado pelo ex-inimigo, então amigo, depois novamente inimigo e hoje amigo Fernando Collor; 
que tem a sensação de ser meio governador depois que o filho Renanzinho foi eleito para o cargo; que a vocação política do clã é tanta que desde 1992 um dos seus irmãos e um dos muitos sobrinhos se revezam na prefeitura de Murici, e que o povo é tão agradecido aos Calheiros que resolveu em 2020 eleger prefeito e vice-prefeito dois sobrinhos do depoente; que só maledicentes de nascença ousam atribuir ao depoente e seus familiares o recorde altamente constrangedor registrado em 2016, quando se constatou que Murici tinha o pior IDH entre as centenas de municípios nos quais a tocha olímpica fez escala; 
que todos os habitantes honestos sabem que tal equívoco resultou da presença na cidade de uma multidão de desvalidos procedentes de vilarejos vizinhos, e que essa mesma afluência dos forasteiros em busca de diversão gratuita ou de empregos oferecidos pelo Eldorado sertanejo explica a versão divulgada pelo IBGE segundo a qual 60 por cento dos moradores de Murici são pobres ou miseráveis; que os 46 óbitos por covid-19 contabilizados pelo Ministério da Saúde até 15 de maio foram provocados não pela pandemia, mas pelo presidente que utilizou um vírus chinês como pretexto para estarrecer o país e o mundo com um genocídio muito maior que o Holocausto dos judeus na Alemanha nazista, já que Jair Bolsonaro é mais cruel que Adolf Hitler e um ministro como Eduardo Pazuello transforma em amador qualquer Hermann Goering (ou Góringui, na pronúncia do depoente); que não se considerou impedido de assumir o cargo de relator por ser pai de um governador suspeito de envolvimento no Covidão amparado na certeza de que Renanzinho é tão honesto quanto o genitor; 
que a CPI não deve perder tempo interrogando autoridades estaduais e municipais supostamente metidas em ladroagens que até podem ter ampliado o patrimônio dos larápios que existem em qualquer lugar, mas não mataram ninguém, em vez de caçar culpados alojados no outro lado da Praça dos Três Poderes; que, embora não pareça, trata com urbanidade e respeito todos os convocados, convidados ou intimados, sejam do sexo masculino ou fêmeas, democratas que se opõem ao capitão golpista ou fascistas irrecuperáveis, devotos da ciência ou negacionistas, e só perde a estribeira quando é afrontado por mentirosos compulsivos, pois sempre amou a verdade acima de todas as coisas; 
que pretende aproveitar as investigações para sepultar velhas falsidades, como a história do amigo lobista a serviço da empreiteira Mendes Jr. que pagou meses a fio o aluguel do apartamento e demais despesas de Mônica Veloso, com quem o depoente teve entre 2003 e 2004 um caso extraconjugal e uma filha, ambos atribuídos pelo senador quase cinquentão a um arroubo de jovem romântico; que, conforme explicou na época, acertou todas as contas com o dinheiro obtido como único comerciante da história da pecuária que comprava e vendia gado sem ser dono de fazenda, sítio ou chácara, obstáculo que superou vendendo tão rapidamente o que comprara que os rebanhos mudavam de proprietário já na chegada a Murici, o que dispensava o senador pecuarista de providenciar terra, água e pasto; que, ao contrário do que propagam jornalistas tendenciosos e adversários inclementes, está indiciado não em 17, mas em apenas 8 inquéritos no Supremo Tribunal Federal, onde jaz um processo em que figura como réu à espera da absolvição mais do que certa, porque considera os ministros do STF mais sábios e justos do que qualquer juiz de verdade; que o implante capilar produzido por numerosas sessões numa clínica da Bahia não custou um único centavo ao Congresso, que só patrocinou o avião e o combustível a que tem direito um senador da República; que sempre retribuiu essas gentilezas involuntariamente financiadas pelos pagadores de impostos trabalhando mais de 24 horas por dia, como aliás tem feito desde a posse na gerência da CPI; 
que tamanha dedicação aos interesses da pátria explica por que o relatório ficou pronto antes que as investigações tivessem início, e já na primeira sessão restou decidido quem é culpado e quem é inocente, mostrando ao povo que, se o presidente da República fosse um dos sete senadores que controlam a CPI, a vacinação dos brasileiros teria começado antes da descoberta da vacina;  
que não vê nada de mais na escolha de um campeão de inquéritos e processos para uma CPI tão relevante, já que o presidente Omar Aziz também foi acusado de envolvimento em casos de polícia, coincidência que facilita o entendimento entre duas vítimas de calúnias e infâmias; que tem dormido bem e bastante, o que não surpreende nenhum dos colegas, pois se portadores de fichas sujas atravessassem a madrugada acordados o Congresso brasileiro abrigaria a maior concentração de insones do mundo. Nada mais disse nem lhe foi perguntado.

Leia também “Termo de declarações prestadas por Aécio Neves”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

 

terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O príncipe autoritário e a prefeita negra - Augusto Nunes

 Revista Oeste

O palavrório insultuoso de Doria tropeçou na elegante altivez de Suéllen

A jornalista Suéllen Rosim, 32 anos, é prefeita de Bauru por ter convencido grande parte do eleitorado de que estava mais preparada que os adversários para solucionar os principais problemas da cidade. O mais antigo é a escassez de água potável. Esse pode ser resolvido com verbas e métodos modernos. O mais recente é a pandemia de coronavírus. Esse é bastante complicado.

Se ainda não apareceu a estratégia perfeita para o combate à covid-19 em nenhum município, ninguém pode dizer com segurança o que deve ser feito num município cuja economia, afetada pela carência de indústrias, se ampara no vigor do comércio e do setor de serviços. É o caso de Bauru. Ao longo da campanha, Suéllen defendeu sua opção para reduzir perdas e danos: fortalecer a franzina rede hospitalar e, simultaneamente, adotar rígidas normas de distanciamento social que evitassem a paralisia por períodos extensos demais dos alicerces econômicos de Bauru. É o que ela tem tentado fazer desde 1º de janeiro, quando assumiu o cargo.

Passados 35 dias de mandato, milhares de bauruenses constataram que, neste momento, o ranking dos piores problemas enfrentados pela prefeita é liderado pelo governador João Doria e seus generais metidos na guerra em curso na frente paulista. Como sabem os espectadores da Ópera dos Farsantes, ninguém ama com tanta intensidade os brasileiros de São Paulo quanto o sumo sacerdote da seita que detém o monopólio da paixão pela vida. Ninguém enfrenta o vírus chinês com a tenacidade do líder escoltado por devotos que capricham no papel de coadjuvantes há quase 200 entrevistas coletivas. Os integrantes do alto-comando baseado no Palácio dos Bandeirantes conhecem todas as cidades paulistas muito mais que seus prefeitos. Quem ousa contestar uma única vírgula dos decretos baixados pelo chefe supremo é sumariamente remetido às galés em que gemem bolsonaristas, terraplanistas, inimigos da ciência e da vida. É lá que o clube dos adoradores sonha instalar Suéllen Rosim.

Desde o dia da posse, aflita com a expansão do coronavirus na região, Suéllen faz o que pode para conseguir os leitos de UTI que faltam há muitos meses e encontrar secretários estaduais dispostos a ouvi-la sobre as urgências e peculiaridades da cidade que governa. Em São Paulo não encontrou nenhum. Voou para Brasília e descobriu o aliado ideal: Marcos Pontes, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação e, mais importante ainda, nascido em Bauru. O único astronauta brasileiro abriu-lhe as portas de ministérios relevantes e conseguiu que fosse recebida por Jair Bolsonaro. No mesmo dia, Suéllen divulgou a foto dos dois. Os brasileiros normais viram na imagem o presidente da República e a prefeita de Bauru. O governador enxergou uma dupla de inimigos. E então emergiu a terceira e talvez definitiva versão de João Doria. É bem diferente das anteriores.

O que as feministas não teriam feito se a ofendida fosse alguma militante do PT ou do Psol?

A versão original parecia ter acabado de sair de um manual de boas maneiras. Jornalista bem informado, empresário bem-sucedido, educado, procurava controlar-se mesmo quando lidava com atropeladores de sua mais aguda obsessão: a pontualidade de matar de inveja um lorde britânico. Nem sempre conseguia. Para impedir alterações nos horários das centenas de eventos dos encontros que promovia na ilha de Comandatuba, o presidente do Lide interrompia com um apito o jogo de vôlei a dois pontos do fim, ou negava os 30 segundos a mais solicitados pelo orador do discurso confinado em três minutos. Agora está claro que o respeito à pontualidade camuflava o autoritarismo que ficou mais nítido no Doria prefeito e começa a exibir dimensões preocupantes no modelo governador.

O empresário cavalheiresco, risonho, gentil não se reconheceria no político que produziu em 1º de fevereiro a enxurrada de grosserias que deixaria constrangido até um Nicolás Maduro. “Infelizmente, existem os poucos que, como a prefeita de Bauru que, de forma negacionista, ainda faz vassalagem ao presidente Jair Bolsonaro, visitando-o no Palácio do Planalto, ao invés de proteger a população de Bauru e defender a saúde e a vida de seus habitantes”, desandou o governador que em dezembro, depois de fechar São Paulo de novo, decolou rumo às lojas de uma Miami livre de quarentenas. A prefeita acusada de negacionismo jamais fechou os olhos à pandemia de coronavírus e à necessidade de combatê-la. O que Doria reduziu a um ato de vassalagem foi uma audiência concedida pelo presidente da República à prefeita de uma grande cidade. Ainda durante a campanha eleitoral, Suéllen deixou claro que concordava com várias ideias de Bolsonaro e discordava de outras tantas. “Nunca fui vassala de ninguém”, frisou a mulher que se transformou em alvo do chilique insultuoso por ter incorrido, aos olhos de Doria, no pecado da independência e no crime de altivez.

Na semana anterior, ao receber o decreto que castigou São Paulo com outro lockdown fantasiado de “fase vermelha”, assessores da prefeita haviam editado um decreto municipal que incluiu o comércio e o setor de serviços na relação de atividades consideradas essenciais. Colérico, Doria revidou com um recurso logo acolhido pelo Tribunal de Justiça. Suéllen conformou-se com o golpe sofrido pela economia de Bauru. E reagiu ao besteirol agressivo com uma aula de civilidade, encerrada com o recado pedagógico: o governador deve tratar a prefeita tão respeitosamente quanto a prefeita trata o governador.  A  ira não cessou. No meio da semana, o decreto que abrandou a quarentena na maior parte do Estado manteve Bauru na zona vermelha. “A liberação de 120 leitos de UTI já me deixou feliz”, consolou-se Suéllen.

A elegante firmeza da moça que cuida de Bauru contrasta com o servilismo obsceno de jovens áulicos que aplaudem até escorregões do governador. Um deles é Marco Vinholi, 36 anos, secretário do Desenvolvimento Regional, que se apressou em bajular o chefe com uma nota escrita em português de colegial sem chances no Enem. “Suéllen age não apenas como uma militante bolsonarista, age como fã; e fã faz tudo pelo ídolo, inclusive ser pouco racional”, delirou Vinholi. “Num momento em que Bauru tem recorde de casos de coronavírus e 90% dos seus leitos de UTI, a prefeita passa por cima da Ciência e da Medicina, lançando mão de negacionismo.” Sempre torturando o idioma, Vinholi ameaçou instalar Bauru no fim da fila da vacinação. “Muita gente faz priorização por partido, por política ou por qualquer outro tipo de questão”, avisou em dilmês castiço. “A nossa priorização será para aqueles que respeitam a vida. Todos terão parceria, mas a prioridade serão com os gestores responsáveis.” Vassalagem é isso aí. Vassalagem e ignorância, berra esse “a prioridade serão com”. Nos anos 60, Nelson Rodrigues advertiu que os idiotas haviam perdido a vergonha e estavam por toda parte. O cronista genial talvez soubesse que, 60 anos depois, estariam congestionando os primeiros escalões do poder.

No momento da agressão a Suéllen, mulher e negra, onde estavam os movimentos feministas e antirracistas que localizam misoginia na ausência de mulheres na final da Libertadores, e enxergam um sórdido preconceito no branco das paredes nuas? O que não teriam feito se a ofendida fosse alguma militante do PT ou do Psol? Como a prefeita negra é também evangélica e conservadora, foi abandonada por esses clubes de farsantes. Para eles, gente assim não é gente. É uma não pessoa. E portanto pode ser chicoteada verbalmente por um figurão da elite branca que não consegue disfarçar o ódio a divergências e o desprezo pelo convívio dos contrários, sem o qual não existem genuínas democracias.

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

A paciência acabou - Augusto Nunes

Os brasileiros começam a reagir à cassação dos direitos individuais

A Constituição informa que o Supremo Tribunal Federal deve cuidar apenas de questões constitucionais
Hoje, o STF decide qual time de futebol foi o campeão brasileiro em alguma temporada do século passado, se o presidente da República pode preencher cargos que sempre foram preenchidos pelo chefe de governo ou se parlamentares bandidos têm o direito de deixar em casa a tornozeleira eletrônica para participar de sessões do Congresso, fora o resto. 
 
Quem conhece o Timão da Toga não se surpreendeu ao saber que também o combate ao vírus chinês, que já sobrevoava em formação de esquadrilha numerosas regiões do país, fora anexado ao vastíssimo buquê de atribuições da corte cujo codinome em juridiquês ultracastiço é Pretório Excelso.  
No fim da tarde de 15 de abril do mais estranho dos anos, o STF resolveu que caberia aos governadores e prefeitos a montagem e a execução da estratégia da guerra, a definição do que seria fechado ou continuaria funcionando enquanto durasse a crise sanitária ou como deveriam comportar-se os governados.  
Ao governo federal restaria socorrer financeiramente Estados e municípios, arranjar dinheiro para sustentar os desvalidos, não se meter em assuntos alheios e rezar para que a economia sobrevivesse à paralisia.

Os ministros nem haviam guardado no armário a capa preta e os incumbidos de liderar a guerra contra o antagonista invisível já agiam com a prepotência de quem se acha munido de superpoderes. Com a arrogância de quem convivera desde criancinha com o inimigo que ninguém conhecia, governadores e prefeitos suprimiram o direito de ir e vir por tempo indeterminado, ordenaram que todo mundo ficasse em casa, fecharam todas as escolas, públicas e privadas, bloquearam acessos às cidades que administravam, interditaram estabelecimentos comerciais e indústrias. [lembravam no agir os tempos dos fiscais do Sarney, só que se intitulavam os fiscais dos supremos e fracassaram tal qual aqueles.] Avisaram que só deveriam usar máscara os profissionais de saúde (voltaram atrás quando a Organização Mundial da Saúde mudou de ideia e inaugurou uma nova palavra de ordem: use máscara), tornaram obrigatório o uso de luvas para impedir a disseminação do vírus que acampava em qualquer superfície. Em poucas horas, o autoritarismo epidêmico contaminou os escalões inferiores e se intensificou o confisco de direitos individuais indissociáveis do Estado Democrático de Direito.  

Amedrontados com um inimigo onipresente e invisível, aturdidos com o noticiário dos jornalistas de velório [estes e estas, que possuíam algum renome, se especializaram via mestrado em contagem de cadáveres,  ´foram discretamente lembrados que quando a pandemia cessasse a permanência deles, ou delas, na função de âncora dependeria da precisão na contagem dos falecidos e do quanto  compungida fosse a 'cerimônia' do encerramento do noticioso e suas fisionomias; houve até uma suprema decisão estabelecendo como deveria ser a contagem e apresentação pelo Ministério da Saúde, dos números dos defuntos de cada dia milhões de brasileiros demoraram quase nove meses para compreender que a preservação da liberdade não é menos importante que a defesa da vida, e que o combate à pandemia pode ser travado sem que a economia se submeta à falência epidêmica. Ficou evidente que a fome e o desemprego também matam. E então a paciência do povo chegou ao fim.

Em 13 de dezembro de 1968, ao justificar seu voto contrário à aprovação do Ato Institucional nº 5, o vice Pedro Aleixo explicou ao presidente Costa e Silva que não o atormentava o uso do duro instrumento político-jurídico pelo chefe do governo militar ou por seus ministros. “O problema é o guarda da esquina”, advertiu o jurista mineiro. Faltou um Pedro Aleixo na sessão do Supremo que transformou governantes e prefeitos em tiranetes de ópera-bufa. Os guardas municipais, primos dos guardas de esquina, entraram em ação no minuto seguinte. 

Em Araraquara, atiçados pela insolência do prefeito Edinho Silva (PT, naturalmente), quatro deles protagonizaram cenas de selvageria explícita no cumprimento da missão patriótica: prender uma mulher pelo crime de sentar-se no banco de uma praça deserta sem trajes de astronauta.  
Em Niterói, duas brasileiras foram capturadas quando caminhavam na orla. 
Em Maringá, o dono de um lava-jato desmaiou depois de imobilizado por guardas municipais com um golpe conhecido como “mata-leão”. Ao recuperar os sentidos, foi engaiolado por violar um decreto do prefeito Ulisses Maia (PSD). 
Em São Paulo, Henrique Fogaça, chef do restaurante Sal, foi impedido pela polícia de distribuir marmitas a moradores de rua. Tudo isso sob o silêncio da plateia nacional.
“Cuidado”, advertiu J. R. Guzzo, colunista de Oeste. “Não é certo que lhe devolvam depois tudo o que estão lhe tirando agora.” Passados nove meses, os alvos dos surtos de autoritarismo vão enfim percebendo que as coisas foram longe demais. Cada vez mais brasileiros agora sabem que o isolamento horizontal permitiu que o sistema hospitalar em escombros se equilibrasse sobre as pernas mirradas, e livrou de congestionamentos paralisantes a rede de UTIs. Mas não reduziu significativamente o número de infecções e mortes, não deteve o avanço da pandemia
As previsões catastróficas não se consumaram: os porta-vozes de necrotério tiveram de conformar-se com um total de óbitos muito menor que o milhão de vítimas imaginado por cientistas de manicômio como Atila Iamarino. Esvaziado o baú de profecias terroristas, cresceu a multidão de brasileiros convencidos de que a sensatez recomenda a combinação de cautelas preventivas com a retomada das atividades econômicas.

Também chegara a hora de encerrar a quarentena escolar mais rigorosa, extensa e absurda do mundo. Em São Paulo, não há aulas presenciais desde março. Até recentemente, o isolamento da geração covid era defendido a socos e cotoveladas por professores e funcionários do sistema educacional, e endossado pela imensa maioria dos pais de alunos. A primeira rachadura na muralha foi produzida por grupos de pediatras e psicólogos aflitos com os danos impostos à saúde física e mental de crianças e adolescentes. 

Os ventos viraram de vez com o surgimento do movimento Escolas Abertas, criado por mães inconformadas. Amparadas em 35 mil assinaturas, e em argumentos irrefutáveis divulgados nas redes sociais e em grupos de WhatsApp, as militantes acuaram a prefeitura de São Paulo com uma ação popular. Uma vitória em primeira instância obrigou a prefeitura e o governo do Estado a apresentar um relato oficial sobre o pouco que até agora fizeram e o muito que terão de fazer para que as escolas sejam reabertas em 1º de fevereiro. A mobilização dos pais também induziu o governador João Doria a alterar o plano de combate à pandemia, permitindo que as escolas permaneçam abertas mesmo que a curva desenhada pela pandemia oscile para cima. “Nenhum país permaneceu com as escolas fechadas durante tanto tempo”, registra a empresária Lana Romani, uma das fundadoras do Escolas Abertas. “Dezenas de estudos científicos mostram que manter as aulas presenciais não aumenta a contaminação pelo vírus e que a transmissão, tanto de criança para criança quanto de criança para adulto, é muito pequena. Estamos tirando de uma geração a chance de ter um futuro melhor.” 

Em território paulista, o governador só acredita no que lhe dizem os integrantes do Centro de Contingência, formado por sumidades de distintas tribos da ciência e da medicina. Aconselhado por eles, Doria encomendou a vacina chinesa, marcou para 25 de janeiro o início da imunização e, sem revelar os estudos que medem o grau de eficácia do que chama de vacina do Butantan, passou a acusar a Anvisa de fazer o diabo para retardar a invencível ofensiva contra a covid. Foi certamente esse conselho de sábios que recomendou a Doria o endurecimento da guerra contra a pandemia. Ignora-se se também o aconselharam a anunciar a má notícia só depois das eleições municipais. “Uma definição de loucura é continuar fazendo as mesmas coisas e esperar resultados diferentes”, constata a frase atribuída a Albert Einstein. Sobram evidências de que o lockdown e as políticas de isolamento (mais ou menos severas) não ajudaram a salvar uma única vida. 

Um estudo do banco norte-americano J. P. Morgan divulgado em junho demonstrou que medidas drásticas não alteraram o curso da pandemia. “Embora costumemos ouvir que os lockdowns são guiados por modelos científicos e que existe uma relação exata entre o nível de atividade econômica e a propagação do vírus, isso não é amparado pelos dados”, afirmou o físico Marko Kolanovic, coordenador da pesquisa. “Em quase toda parte os números de infecção diminuíram após a reabertura econômica.” 
O Peru foi um dos primeiros países a adotar um radical lockdown.  
No momento, amarga a sétima posição entre as nações com mais mortes por milhão de habitantes. 
A Argentina também apostou no confinamento eterno e promoveu o mais longo lockdown do planeta. A estratégia desastrada garantiu-lhe, ao longo de outubro, a liderança no ranking das mortes por milhão.

Na contramão dos loucos por um lockdown, as autoridades japonesas abdicaram do confinamento horizontal e se dedicaram a convencer a população de que o essencial era evitar os “3Cs”. C é a inicial das três expressões do idioma japonês que, em português, significam espaços fechados, aglomerações e locais que dificultam o distanciamento. Ao percorrer o caminho do meio, a nação asiática, cuja população idosa é proporcionalmente a maior do mundo, transformou-se num caso exemplar de sucesso no controle da pandemia: 26 mortos por milhão de habitantes, de acordo com os dados registrados na terça-feira, 29. É um número extraordinariamente baixo se comparado às cifras da Bélgica (1.657), da Itália (1.190) ou da Espanha (1.066). 

Avesso a examinar com boa vontade opiniões que contrariem os especialistas de estimação, Doria avançou com determinação pelo caminho que leva ao penhasco. Dias depois de qualificar de fake news a informação correta — a quarentena para todos seria ressuscitada assim que terminasse a apuração do segundo turno —, Doria anunciou o retorno à fase vermelha de todos os municípios e comunicou que os brasileiros de São Paulo deveriam ficar em casa nos feriados do Natal e do Ano-Novo.

O descontentamento causado pela volta dessa espécie de prisão domiciliar tornou-se um pote até aqui de cólera com uma das mais curtas, mais desastradas e mais inoportunas viagens internacionais planejadas por um político. Como revelou Oeste com exclusividade, no dia seguinte ao do decreto que intensificou o confinamento o governador mandou os três filhos para Trancoso, no litoral da Bahia, e embarcou para Miami com a mulher, Bia. Pretendia ficar dez dias por lá. Voltou horas depois do desembarque, tangido pela tempestade de críticas que varreu as redes sociais. O pretexto para o regresso indesejado foi o providencial ataque de um pelotão de coronavírus ao vice Rodrigo Garcia. Num vídeo gravado já no Palácio dos Bandeirantes, Doria pediu desculpas pelo erro. Mas o estrago estava feito. A viagem que não houve favoreceu a mobilização de prefeitos que, pressionados por comerciantes e empresários locais, resolveram ignorar ostensivamente as ordens do rei nu.

Cerca de 20 governantes municipais, vários deles filiados ao PSDB, mantiveram o comércio aberto entre 25 e 27 de dezembro. E prometem reprisar o desafio de 1º a 3 de janeiro de 2021. “Nesse período, temos o maior fluxo de turistas”, justificou Alexandre Barbosa, prefeito de Santos. “E discordamos da forma como a medida foi implementada.” Prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto avalizou a discordância: “Temos uma condição diferenciada e a cidade está protegida”, afirmou. “Todas as vezes que o governo anunciou que iria mudar de fase e criar restrições aos comerciantes e empresários nós seguramos a onda.” Durante uma entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da Rádio Jovem Pan, Everton Sodario, prefeito de Mirandópolis, foi taxativo: “A população precisa e quer trabalhar”.

João Doria não foi o único a descobrir que os governados chegaram ao ponto de exaustão. Em 26 de dezembro, o governador do Amazonas, Wilson Lima (PDS), decretou o fechamento do comércio, que passaria a atender apenas por meio de delivery ou drive-thru. Na manhã daquele dia, manifestantes ocuparam as principais avenidas da capital, gritando a palavra de ordem: “Queremos trabalhar!”. “Não é justo que em plena festa de fim de ano o governador aplique um golpe desses nos comerciantes e varejistas do Centro e de toda Manaus”, resumiu Givanildo Marcos Maia, presidente da Associação dos Trabalhadores de Comércio. Wilson Lima recuou no dia seguinte. 

Sobrou até para autoridades do Judiciário. Há duas semanas, o juiz Raphael Campos, da 2ª Vara de Búzios, resolveu impor um lockdown ao município no litoral fluminense. Determinou o fechamento de estabelecimentos comerciais, limitou o acesso às praias e exigiu que todos os turistas dessem o fora em 72 horas. Imediatamente, a população foi às ruas exigir a revogação do surto autoritário, que acabou suspenso por Claudio de Mello Tavares, presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro.

O deputado Ibsen Pinheiro, que presidiu a Câmara durante a tramitação do impeachment de Fernando Collor, vivia avisando que “o Congresso sempre faz o que o povo quer, e nenhum político ousa contrariar o que o povo claramente exige”. 
 
Silenciados durante meses pela ofensiva conjunta de governadores autoritários, prefeitos insolentes e doutores arrogantes, os brasileiros vão recuperando a voz e a vez. Já não aceitam decretos imperiais; querem ouvir argumentos e ser persuadidos. Já não admitem a supressão unilateral de direitos constitucionais irrevogáveis. Perderam a paciência com donos da verdade. E vão aprendendo que todo país será o que os seus habitantes quiserem que seja.
 
Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

Colaboraram Artur Piva, Branca Nunes, Cristyan Costa e Paula Leal

 


domingo, 6 de dezembro de 2020

Ricardo Kotscho quer povo atemorizado e políticos obedientes à mídia

Cristian Derosa

Em 2003, o auxiliar de Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a articular a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, que pretendia controlar a mídia. O Conselho foi barrado no Congresso Nacional, à epoca ainda levado a sério. Logo depois, começou o Mensalão de Lula e Kotscho... Em seguida, diante da cumplicidade do STF, o Petrolão... 

Os ensinamentos de Stalin, Hitler  e Mao seguem fazendo escola.

Em defesa do medo popular e da submissão política aos grandes grupos de comunicação, o jornalista Ricardo Kotscho inverte o sentido da expressão estelionato eleitoral, subvertendo, assim, a definição de democracia.

Em sua coluna no UOL, o jornalista diz ser melhor que o povo esteja atemorizado e que os políticos eleitos obedeçam cegamente ao tom das manchetes dos grandes jornais ao invés de seus eleitores. Ele culpa a falta de medo do povo sobre o vírus chinês e um certo medo político de desagradar eleitores pela segunda onda da doença que estampam as manchetes dos grandes jornais do país. Paradoxalmente, ele chama de “estelionato eleitoral” o fenômeno em que políticos teriam receio de desagradar aqueles que os elegeram.

Na concepção do 'jornalista' lulista, a função do político seria priorizar exatamente o que o seu eleitor não quer que ele faça, sob pena de parecer oportunista ou populista. Trata-se da desilusão jornalística com a democracia, que em nome de um elitismo social, considera a sociedade incapaz de decidir por si mesma. A liberdade do povo passa a ser aquela definida nos termos dos especialistas segundo a realidade impressa nos jornais. “O povo perdeu o medo da covid-19 e os governantes relaxaram, com medo de desagradar os eleitores com novas restrições. A junção desses dois fatores ameaça levar hospitais públicos e privados ao colapso”, diz o 'jornalista', que já foi secretário da Presidência de Lula, entre 2003 e 2004.

Imaginem a seriedade do indigitado! Assessor do maior ladrão da história do Brasil!

Kotscho, assim, culpa o povo por simplesmente viver, o que a partir da cobertura pandêmica de 2020, passou a designar crime de irresponsabilidade. A um 'jornalista' experiente como ele, não escapa a distinção entre realidade midiática e a realidade social. Ao contrário do que indica essa distinção elementar, o 'jornalista' subscreve a ideologia segundo a qual cabe ao jornalismo determinar a verdade segundo as suas próprias concepções de bem estar social, independente do que diga ou pense a sociedade, base da democracia.

Em 2003, Kotscho ajudou a articular por dentro do governo a criação de um Conselho Federal de Jornalismo, que teria, segundo ele, a função de “zelar pela profissão, em defesa da própria profissão e em defesa da sociedade”.  Para ele, o jornalismo tem uma função ordenadora da sociedade, o que significa dizer que as crenças, ideologias ou concepções do universo devem ser determinadas pelo conteúdo dos jornais. Mais do que isso, do jornalismo depende o equilíbrio do universo.

Assim, o político ideal, neste sentido, seria aquele que não se preocupa com o voto de seu eleitor, aparentemente por independência, mas ao invés de seguir a própria consciência deve seguir o que está escrito nos jornais, reflexo da “inteligência nacional” manifestada pelo ídolo da “opinião pública” esclarecida. Este ideal faz parte da crença burguesa da sociedade esclarecida como guiadora moral do povo inculto e inferior. A doutrina da inferioridade popular ficou conhecida no século XX por sua relação com a eugenia, assim como o higienismo social.

Essa doutrina nunca foi tão agressiva, violenta e radicalizada ao encarnar-se na pressão política exercida pelos jornais como incentivo e suporte a condutas autoritárias da política.

A ideologia de Kotscho aparece em declarações como a do prefeito eleito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, no último Roda Viva, quando o político ameaçou fechar o comércio, fonte de sustento de milhares de pessoas, em um aparente ato de benevolência “independente”, que não leva em conta a opinião do seu próprio eleitor ou o interesse da sociedade, mas ao conteúdo sensacionalistas dos jornais. 

Busca encarnar, assim, o interesse máximo dos grandes grupos de comunicação e entidades internacionais em nome de uma doutrina neo-higienista a ser imposta à toda a sociedade. “Se estão achando que a doença acabou, eu fecho tudo de novo. E disse em alto e bom som lá na entrevista coletiva, se quando eu precisava de voto eu fechei, imagina agora que eu não preciso”, ameaçou o prefeito reeleito pelo povo de Belo Horizonte no programa transmitido ao vivo.

Estudos Nacionais - Cristian Derosa


terça-feira, 3 de novembro de 2020

Termo de declarações prestadas por Aécio Neves

No inquérito que investiga por que um deputado criminoso quer tratar como bandido quem não se vacinar contra o vírus chinês, OESTE colhe o depoimento do pai da ideia

Aos 28 dias de outubro de dois mil e vinte, em São Paulo, às treze horas, na sala desta instância jornalística, compareceu Aécio Neves da Cunha, filho de Aécio Ferreira da Cunha e de dona Inês Maria Tolentino Neves, com 60 anos de idade, natural de Belo Horizonte, de cor branca, residente no Rio de Janeiro, sabendo ler e escrever; aos costumes, disse nada; 

interpelado pelo entrevistador, declarou que é político profissional por ter nascido numa família de políticos, já que seu pai foi deputado federal e seu avô materno só não assumiu a Presidência da República por problemas de saúde; que já exerceu os cargos de deputado federal, governador de Minas Gerais e senador antes de ser rebaixado a deputado federal; 
que em 2014 disputou a sucessão presidencial como candidato do PSDB e só não venceu a eleição porque o presidente do Superior Tribunal Eleitoral era o ministro do Supremo Tribunal Federal José Antonio Dias Toffoli; 

- que se preparava para a segunda tentativa de pouso no Palácio do Planalto quando, em maio de 2017, inimigos ardilosos divulgaram o conteúdo de uma conversa telefônica que teve com o empresário Joesley Batista, gravada ilegalmente, na qual o declarante negociava com o dono da JBS um empréstimo de 2 milhões de reais, visto como propina por pessoas de má-fé cujos nomes prefere nem mencionar; que não conhecia Joesley Batista nem de vista nem de nome, embora com ele tivesse mantido meia dúzia de encontros; que a partir da publicação daquele diálogo mal interpretado sua vida piorou extraordinariamente, pois no Brasil nem reza brava consegue restabelecer a verdade se a mentira tem cara de fato e jeito de fato; que escapou por muito pouco de ser transferido do Senado para a cadeia, injustiça da qual o livrou a sensibilidade de amigos que, por caprichos do destino, também são ministros do Supremo Tribunal Federal; 

- que em 2018, por desconfiar da gratidão do eleitorado, achou melhor esquecer tanto a Presidência quanto a ideia de concorrer a mais um mandato no Senado e conformou-se com uma cadeira na Câmara de Deputados, o que pelo menos lhe garantiu a imunidade parlamentar e o foro privilegiado, especialmente úteis a quem vira caso de polícia; que ficou muito magoado com o isolamento político imposto por companheiros de partido que tentaram até expulsá-lo do ninho dos grão-tucanos; que, como sempre existe o lado bom da coisa, tal isolamento o preparou para lidar com esperteza de veterano a quarentena para todos decretada pelos comandantes da guerra contra a pandemia de covid-19; 

- que enxergou na reclusão em seu apartamento no Rio também uma boa chance de estudar com afinco e patriotismo os múltiplos aspectos da crise sanitária, inclusive, ou principalmente, a produção de vacinas; que hoje se considera um doutor em vírus chinês, portador de conhecimentos suficientes para afirmar categoricamente que todos os habitantes do País do Carnaval têm de ser vacinados, pois um único sobrevivente infectado bastará para devastar o Brasil com a segunda, a terceira, a quarta e a quinta ondas de contaminações, e nem será necessária uma sexta porque já não haverá um único e escasso brasileiro vivo; que produziu o projeto de lei objeto do presente inquérito por saber que o povo só faz o que é obrigatório se a tanto for obrigado por tiro, porrada e bomba, como diria o declarante se estivesse conversando por telefone com o dito Joesley que jura não ter conhecido nem de vista nem de nome antes do malsinado telefonema; 

- que foi por apreço à vida, a própria e a do restante da Humanidade, que o projeto de lei prescreve medonhas punições a quem ousar ignorar o que determinam artigos, parágrafos e incisos; que não sabe se Tancredo Neves endossaria uma lei desse calibre, já que, no período em que trabalhou como secretário do presidente morto antes da posse, o neto esquecia à noite o que o avô procurara ensinar-lhe durante o dia; que resolveu apresentar o projeto de lei sem esperar a chegada da vacina, muito menos os testes que vão avaliar sua eficácia, porque está na hora de o brasileiro aprender a fazer ontem o que só pode ser feito amanhã; que ainda não decidiu se vai vacinar-se já na primeira dose porque pretende primeiro saber se a imunidade parlamentar torna um deputado imune também à covid-19; 

- que não pretende fazer campanha no plenário do Congresso pela aprovação do projeto porque, embora tenha completado 60 anos só em março passado, resolveu prorrogar a quarentena no Rio por pertencer ao grupo de risco e também para servir de exemplo, como é o caso do governador João Doria, que continua usando máscara mesmo depois de recuperado da covid-19, o que o livra do risco de transmitir o vírus ou de ser novamente infectado, e além disso meio mundo sabe que o declarante gosta muito mais da noite carioca que do dia a dia em Brasília ou em Belo Horizonte; que a parte que mais aprecia no texto do projeto é a que diz que “é preciso cuidado com a possibilidade de que haja brasileiros que venham a se recusar à vacinação, seja por razões religiosas, filosóficas ou o que seja”, principalmente com esse “o que seja”, que abrange com apenas três palavras todas as desculpas e alegações possíveis, amparadas ou não em atestados médicos; que merece ser considerada “coisa de gênio” a ideia de aplicar aos recalcitrantes as mesmas penas reservadas a quem deixa de votar, com a diferença de que a abstenção eleitoral admite justificativas sumariamente negadas aos acusados de abstenção sanitária; que alimenta a esperança de conseguir no pleito de 2024, graças ao único projeto de lei que apresentou desde o desembarque na Câmara dos Deputados, uma vaga de vereador na Câmara Municipal de São João del Rei, onde nasceu o avô que morreria sem imaginar o que o neto seria capaz de fazer. Nada mais disse nem lhe foi perguntado.

Augusto Nunes - Revista Oeste

domingo, 25 de outubro de 2020

Bolsonaro aproveita eleições para abastecer clima de campanha permanente - Folha de S. Paulo

Bruno Boghossian   

Presidente alimenta antipetismo e recomenda voto contra prefeitos que aplicaram isolamento  

Depois de dizer que não se envolveria nas eleições deste ano, Jair Bolsonaro entrou nas campanhas dos 5.568 municípios que vão às urnas em novembro. Na portaria do Palácio do Alvorada, o presidente lançou sua plataforma: recomendou voto contra prefeitos que adotaram medidas de isolamento e reviveu fantasmas [ ?] ultraconservadores. Vocês têm que ver o partido em que o cara está. Esses partidos que pregam a destruição de lares, a favor de ideologia de gênero, o pessoal que apoia o MST... Vocês estão votando nesses caras”, afirmou aos apoiadores do governo, na quinta (22).

[Atitude correta do presidente Bolsonaro a recomendar voto contra os prefeitos que agiram de forma incompetente e irresponsável no combate à pandemia. Tal recomendação se estende aos governadores, devendo ser aplicada em 2022.
Aliás, todos que de alguma forma colaboraram para o desastre praticado por governadores e prefeitos no  comando das ações  desordenadas de combate ao coronavírus devem ser julgados e responsabilizados.
Quando passaram a ter o comando das ações prefeitos e governadores agiram de forma destrambelhada chegando ao absurdo de:
- um prefeito adotou medidas para criar engarrafamentos, investiu pesado na compra de urnas funerárias;
- teve governador que mandava fechar e prefeitos que mandavam abrir ou vice-versa;
- teve shopping localizado na fronteira entre dois municípios que ficou metade aberto e metade fechado.
Teve situações absurdas, chegando ao bizarro.] 

As corridas municipais representam um risco para Bolsonaro. A falta de uma máquina partidária e a incerteza sobre as disputas de 2020 poderiam produzir uma derrota em massa de seus apadrinhados. Conhecendo o perigo, ele tenta aproveitar o momento de outra maneira.

O presidente passou a explorar a arena eleitoral com dois objetivos. Na primeira trilha, ele age para politizar ainda mais o combate ao coronavírus. A ideia é desestimular o voto em prefeitos que se opuseram à cartilha bolsonarista.Vê se você concorda com as medidas que ele tomou, obrigando a fechar tudo, falando grosso, prendendo mulher em praça, fechando praia”, declarou.

De outro lado, o presidente busca as assombrações ideológicas que associou à esquerda para criar a onda de ultradireita de 2018. Antes do papo no cercadinho do Alvorada, ele já havia usado um evento oficial, no início do mês, para pedir votos em “gente que tenha Deus no coração, que tenha na alma um patriotismo”.

Dois exemplos desse método são as únicas postulantes à Câmara de São Paulo apoiadas por Bolsonaro. Tanto Sonaira Fernandes quanto Clau de Luca se referem ao coronavírus como “vírus chinês” e alimentam a pauta conservadora. Bolsonaro não teve força para lançar candidatos competitivos nas grandes cidades. Ainda assim, ele enxerga nas eleições uma oportunidade para manter seu conhecido clima de campanha permanente.

Bruno Boghossian, colunista - Folha de S. Paulo    


terça-feira, 23 de junho de 2020

A verdade por trás dos números da covid-19 - Revista Oeste

Estatísticas desencontradas e falta de critérios na consolidação de dados atrapalham a gestão pública e o dia a dia de empresas e cidadãos

O coronavírus expôs uma endemia brasileira: a precariedade na produção de estatísticas. Dados imprecisos e com atraso geram informações distorcidas para quem precisa tomar decisões importantes. Dirigentes públicos, empresários, executivos e mesmo cidadãos comuns ficam frequentemente perdidos frente aos números. Especialistas chegam a utilizar expressões como “apagão de dados” e “voo cego” para descrever a situação pela qual passa o país. Enquanto a maior parte do Brasil ainda caminha no escuro, medidas autoritárias e de isolamento severas são impostas à população. Políticos e “gestores” de vários Estados afirmam que suas decisões são amparadas pelo rigor científico, embora não exista a mais remota comprovação disso.

O cientificismo usado para justificar o #ficaemcasa escancara uma realidade: há mais dúvidas do que certezas sobre a pandemia, e a própria ciência não sabe o que fazer diante do inimigo desconhecido. Teses sobre isolamento, contaminação, vacina e medicamentos são defendidas a todo instante e desacreditadas na semana seguinte, com a mesma rapidez com que são revistas medidas que impactam a vida de todos. Notavelmente ilustrativo é o caso da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para boa parte da imprensa e para quem decide se você pode ou não sair de casa, a entidade é considerada autoridade máxima. Só que, desde a chegada do vírus chinês, o que se viu foi uma sucessão de trapalhadas por parte da OMS que só geram descrédito e desinformação em escala global. Para ficar só nos últimos acontecimentos, de modo a não cansar o leitor, em 8 de junho a médica-chefe da entidade, a epidemiologista norte-americana Maria Van Kerkhov, veio a público dizer que a transmissão do coronavírus a partir de assintomáticos era “muito rara”. Um dia depois, a OMS voltou atrás. “Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto”, disse o diretor de emergências da organização, Michael Ryan.

No caso da revista britânica The Lancet, a questão foi em torno do uso da hidroxicloroquina. Em 22 de maio, a revista publicou um estudo sem comprovação científica que indicava a ineficácia do uso da medicação em fase hospitalar, ou seja, no estágio mais avançado da covid-19. Menos de duas semanas depois, a publicação emitiu nota de retratação dos autores do estudo. Informou que, após auditoria independente dos dados, já não “poderiam mais ter certeza da veracidade do material analisado e, portanto, dos resultados obtidos”.

Outro exemplo foi o polêmico estudo do Imperial College London, divulgado em março, que prognosticou nada menos do que até meio milhão de mortes no Reino Unido caso o governo do primeiro-ministro Boris Johnson não abandonasse sua estratégia flexível de combate à pandemia. Pouco depois, o principal responsável pela previsão, o epidemiologista Neil Ferguson, admitiu a uma comissão do Parlamento britânico que novos dados o teriam induzido a modificar os números originais do estudo — que ele acabou finalmente baixando para menos de 20 mil mortes no Reino Unido.


(.....)
Fernandes explica a razão pela qual as terças-feiras têm apresentado um pico em relação aos outros dias. “Os números de mortos do fim de semana e também da segunda-feira ficam represados, acabam acumulando e elevam os números da terça-feira”, diz. 
No eixo horizontal, os dias indicam a terça-feira de cada semana e mostram o pico de mortes. A linha vermelha do gráfico é a média variável das semanas de epidemia. Neste caso, em que são consideradas as mortes acumuladas no período e não as mortes ocorridas no dia, a curva indica uma ascendente constante.

O atraso na divulgação dos dados de mortes no país gera distorções que impactam as medidas de combate ao coronavírus. Para o médico Juliano Fernandes de Lara, se um gráfico que representa o número de mortes diárias mostra uma curva de tendência estável ou em queda, esse dado pode indicar que o sistema de saúde está sob controle — portanto, medidas de flexibilização do confinamento podem ser tomadas com mais segurança. Por outro lado, “se há curvas irregulares apontando 700 mortes em um dia, 400 no outro e depois 300, é difícil entender a lógica e a tendência da curva”, pondera. Segundo Fernandes, a análise dos gráficos indica que o mês de maio foi muito mais de “consolidação e saída da pandemia” do que de intensificação e piora do quadro no país. Ou seja, desde que não haja uma segunda onda de contaminação no Brasil, o pior já passou. [Amém. DEUS SEJA LOUVADO.] 

Na Revista Oeste, MATÉRIA COMPLETA, incluindo gráficos