A Tesla, com seus carros elétricos, já vale tanto quanto a GM e Ford. No Brasil continua-se gastando US$ 10 bilhões anuais em incentivos a um parque industrial quase todo obsoleto
O que
aconteceu? — a perplexidade estava estampada nos rostos dos senadores da
Comissão de Ciência e Tecnologia. Acabavam de ler a mensagem na tela: em 1963 o
Brasil era o país que, depois do Japão, mais registrava patentes nos Estados
Unidos, e agora ocupa um modesto 28º lugar. Singular regressão.
A
hesitação na sala foi rompida por um senador do Acre, onde vive metade das
tribos isoladas da Amazônia. Ele narrou seu assombro com o novo mundo
tecnológico prenunciado pelo carro elétrico, tema de um projeto de lei do qual
é o relator: — Outro
dia fui visitar o Nelson Piquet (tricampeão de Fórmula 1). Ele me mostrou o
carro elétrico da Tesla que comprou.
Na
garagem do ex-piloto, em Brasília, Jorge Viana (PT-AC) topou com um sedã grande
— “coisa de americano”, definiu. Viu “um posto de gasolina” composto por fio e
tomada, sem necessidade de licença estatal. — Pedi
para abrir o capô, para ver a inovação. Abri, zero de peça, só espaço vazio.
Aí, abri a traseira, podia ser motor de traseira... Nada. Cadê o motor? As
peças?
— Não
tem. O motor está nas rodas...
O senador
agachou-se para olhar, e o piloto continuou: — Tem 400
quilômetros de autonomia. Faz 100 quilômetros em segundos... Jorge, você tem
noção de quantas peças há num carro convencional?
— Claro
que não, não sou mecânico.
— Perto
de seis mil. Sabe quantas peças tem nesse? Trezentas e poucas...
O senador
percebeu que estava diante do símbolo de um novo mundo, sem gasolina, peças ou
mecânicos. A americana Tesla e seus carros elétricos não existiam há uma
década, quando o Brasil ampliou exponencialmente os incentivos às montadoras
convencionais em São Paulo, Rio, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e
Bahia.
Hoje, a
Tesla vale tanto quanto GM, Ford e Volks. E o Brasil continua gastando US$ 10
bilhões anuais em subsídios estatais no seu parque industrial, quase todo
obsoleto. O Tesouro também paga metade do investimento em pesquisa e
desenvolvimento, enquanto nos EUA, Ásia e Europa 75% desses gastos são das
empresas privadas. O “fabricado no Brasil” ainda prevalece sobre o “criado no
Brasil” .
O senador
Omar Aziz (PSD-AM) permitiu-se um desabafo sobre a Zona Franca de Manaus:
— O que é
que nós produzimos de tecnologia nossa? Absolutamente nada. Para produzirmos um
computador, tudo é trazido de fora. Chega aqui, e o pessoal solda... Então,
nada!
A
audiência seguiu com cientistas implorando para se evitar um corte de 44% nas
verbas para pesquisas em 2018. Lembravam a dimensão do retrocesso nacional. Em
1995, Brasil e Índia possuíam economias e políticas similares para ciência,
pesquisa, desenvolvimento e inovação. Nesses 22 anos, a Índia cresceu à média
de 7,3% ao ano, e suas empresas agora registram oito vezes mais patentes que as
brasileiras. Inerte na periferia, o Brasil contentou-se com crescimento médio
de 2,4% ao ano.
O que
aconteceu? Parte da resposta está na sucessão de erros do Executivo,
Legislativo e Judiciário, que resultam na anarquia da edição de 13 mil regras
tributárias por ano (250 novas por semana). Outra parte está nos autos da
Operação Lava-Jato. Eles relatam o suicídio das maiores empresas de engenharia,
que elegeram o suborno de governantes como atalho para vencer, crescer e
perpetuar no novo mundo.
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