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domingo, 21 de janeiro de 2018

Alarmes falsos de mísseis evocam clima da Guerra Fria

Desde a chegada de Trump à Casa Branca, relações entre potências aprofundaram tom beligerante e trouxeram de volta temor de ataque nuclear
Dois erros de comunicação levaram o mundo à beira de um ataque de nervos nos últimos dias. No sábado retrasado, um alarme falso, fruto de uma trapalhada que seria cômica não fosse a gravidade do episódio, espalhou o pânico ao alertar que um míssil balístico fora disparado contra o Havaí. A mensagem, divulgada nos visores dos celulares dos residentes do estado americano, e confirmada por meio de rádio, TV e alto-falantes, recomendava: “Procure abrigo imediatamente. Isto não é uma simulação”.

Segundo especialistas, um míssil lançado pela Coreia do Norte levaria entre 15 e 20 minutos para atingir o Havaí. Foi com este prazo na cabeça que os havaianos buscaram abrigo. Enquanto o pânico se disseminava, a população corria pelas ruas sem saber ao certo para onde ir, escondendo-se em banheiros, garagens e hotéis. A notícia falsa só foi corrigida 38 minutos depois. Estado americano mais próximo de Pyongyang, o Havaí reinstalou alertas e sirenes da época da Guerra Fria, além de realizar testes com a população. Mas, ao que parece, um funcionário, que acabou afastado, apertou um botão errado, causando a confusão. Isto gerou dúvidas sobre a eficiência do sistema de alerta.

Alguns dias mais tarde, na última terça-feira, foi a vez da emissora pública japonesa NHK emitir um alarme falso sobre lançamento de míssil pela Coreia do Norte. O aviso foi desmentido alguns minutos mais tarde, com um pedido formal de desculpas da emissora, mas sem uma explicação sobre como ocorreu o erro.  O pânico foi certamente amplificado pela crescente troca de ameaças entre o regime norte-coreano e os EUA. Mais do que isso, ele é um exemplo de como a política externa de Trump trouxe de volta o clima beligerante da Guerra Fria.

De fato, a chegada de Donald Trump à Casa Branca, há um ano, marcou uma guinada importante não apenas na diplomacia americana, mas igualmente nas relações internacionais entre as principais potências do planeta. Ao mover uma guerra contra o legado do seu antecessor, Barack Obama, o atual presidente americano ajudou a empurrar os EUA — e o mundo — de volta ao clima de temor de uma hecatombe nuclear.

Trump também tenta minar o acordo nuclear entre Irã e o bloco de países composto por EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Rússia e China. O tratado prevê a limitação do programa nuclear iraniano à produção de energia, sujeito à inspeção internacional, em troca da suspensão do embargo econômico contra o país persa. Os EUA querem rever o acordo e voltar a impor sanções, mas enfrentam a oposição dos aliados europeus.Trump de fato enterrou a política de soft power de Obama e colocou o país pronto para usar a força. O Pentágono, por exemplo, apresentou a Trump nos últimos dias um plano de estratégia militar que prevê o uso de armas nucleares contra ataques cibernéticos de hackers. Um retrocesso perigoso.

Editorial - O Globo


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