Desde a chegada de Trump à Casa Branca,
relações entre potências aprofundaram tom beligerante e
trouxeram de volta temor de ataque nuclear
Dois
erros de comunicação levaram o mundo à beira de um ataque de nervos nos últimos
dias. No
sábado retrasado, um alarme falso, fruto de uma trapalhada que seria cômica
não fosse a gravidade do episódio, espalhou o pânico ao alertar que um
míssil balístico fora disparado contra o Havaí. A mensagem, divulgada nos
visores dos celulares dos residentes do estado americano, e confirmada por meio
de rádio, TV e alto-falantes, recomendava: “Procure abrigo imediatamente.
Isto não é uma simulação”.
Segundo
especialistas, um míssil lançado pela Coreia do Norte
levaria entre 15 e 20 minutos para atingir o Havaí. Foi com este prazo
na cabeça que os havaianos buscaram abrigo. Enquanto o pânico se disseminava, a
população corria pelas ruas sem saber ao certo para onde ir, escondendo-se em
banheiros, garagens e hotéis. A notícia falsa só foi corrigida 38 minutos
depois. Estado americano mais próximo de Pyongyang, o Havaí reinstalou
alertas e sirenes da época da Guerra Fria, além de realizar testes com a
população. Mas, ao que parece, um funcionário, que acabou afastado, apertou um
botão errado, causando a confusão. Isto gerou dúvidas sobre a eficiência do
sistema de alerta.
Alguns
dias mais tarde, na última terça-feira, foi a vez da
emissora pública japonesa NHK emitir um alarme falso sobre lançamento de míssil
pela Coreia do Norte. O aviso foi desmentido alguns minutos mais tarde,
com um pedido formal de desculpas da emissora, mas sem uma explicação sobre
como ocorreu o erro. O pânico foi certamente amplificado pela crescente
troca de ameaças entre o regime norte-coreano e os EUA. Mais do que isso, ele é
um exemplo de como a política externa de Trump trouxe de volta o clima
beligerante da Guerra Fria.
De fato,
a chegada de Donald Trump à Casa Branca, há um ano, marcou uma guinada importante não apenas na diplomacia americana, mas
igualmente nas relações internacionais entre as principais potências do planeta.
Ao mover uma guerra contra o legado do seu antecessor, Barack Obama, o atual
presidente americano ajudou a empurrar os EUA — e o mundo — de volta ao
clima de temor de uma hecatombe nuclear.
Trump
também tenta minar o acordo nuclear entre Irã e o bloco de países composto por
EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Rússia e China. O tratado prevê a limitação do
programa nuclear iraniano à produção de energia, sujeito à inspeção
internacional, em troca da suspensão do embargo econômico contra o país persa.
Os EUA querem rever o acordo e voltar a impor sanções, mas enfrentam a oposição
dos aliados europeus.Trump de fato enterrou a política de soft power de Obama e
colocou o país pronto para usar a força. O Pentágono, por exemplo, apresentou a Trump nos últimos dias um plano de estratégia
militar que prevê o uso de armas nucleares contra ataques cibernéticos de
hackers. Um retrocesso perigoso.
Editorial
- O Globo
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