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terça-feira, 25 de agosto de 2020

115 mil ‘bundões’? - Eliane Cantanhêde

O Estado de S.Paulo

Bolsonaro: ‘tem de enfrentar o vírus como 'homem’  e ‘bundão’ tem mais chance de morrer


Tardou, mas não falhou. O Jairzinho Paz e Amor jogou a toalha e, no domingo, emblematicamente à entrada da Catedral de Brasília, foi o que ele nunca deixou e nunca deixará de ser: Jair Messias Bolsonaro, sempre no ataque, beligerante, grosseiro, despejando sua ira nos repórteres que deixam famílias e amores em casa e enfrentam a covid-19 para cobrir as atividades do presidente-candidato até aos domingos. E ele não deixou barato. Ontem, voltou à carga.

Um repórter fez uma pergunta não só válida, mas obrigatória, e Bolsonaro reagiu à la Bolsonaro: “Vontade de encher a tua boca de porrada”. Pior para ele. A pergunta viralizou, replicada em mais de um milhão de posts em português e outras línguas – “Presidente, por que sua esposa Michelle recebeu R$ 89 mil do Fabrício Queiroz?”. [convenhamos que a pergunta foi extremamente provocativa, intenção do repórter que a apresentou e que fez questão de enfatizar;
a intenção do jornalista era um ganha-ganha:
- se Bolsonaro respondesse, o interrogador conseguiria um 'furo  jornalístico;
- se o presidente perdesse as estribeiras - o esperado, considerando considerando o 'pavio-curto' do presidente e a provocação contida na pergunta - o repórter pegaria carona na viralização = afinal, provocar o  presidente tira qualquer um do ostracismo.
Notem que até o 'bolsodoria', governador do Estado de S. Paulo,esqueceu que está enrolado e criticou o presidente pelo desabafo.]  
De boca calada, Bolsonaro some das manchetes e sua popularidade sobe. [convenhamos que o presidente Bolsonaro tem um controle sobre a situação, que muitos invejam.] Quando fala, volta às manchetes, choca o País e passa vergonha no mundo.

Apoiadores registraram o golpe e, na tentativa de se contrapor ao tsunami da internet, editaram o vídeo, sem a pergunta do repórter e deturpando a fala de um feirante. Ele convidava Bolsonaro para visitar “a feirinha na catedral”, mas a legenda diz que é para visitar “a filha na cadeia”. Daí a reação do presidente. Feirante, filha, feira, cadeia... Uma lambança. Mas há quem acredite!
Brasil - Vencendo a Covid - 19
Bolsonaro continuou sem explicar os depósitos e não cogitou pedir desculpas ao jornalista, mas poderia ao menos ficar calado. Até ficaria, não fosse Bolsonaro. E, assim, um evento ontem no Planalto virou um festival de vexames. Começa pelo nome: “Vencendo a covid-19”Vencendo o quê? [a pandemia, graças a DEUS, caminha para ficar sob controle = basta olhar os números, de contaminados e mortos (estranhamente o de recuperados, que cresce a cada dia em percentual superior ao de novos contaminados, não é informado com destaque)  que são sempre crescentes, já que é uma soma do total anterior com o total de novos casos =para se notar a queda, lenta mas com viés crescente.] Com mais de 115 mil mortos e 3,5 milhões contaminados, o Brasil é o segundo País mais atingido pela pandemia no mundo e virou referência de erros, descaso e falta de coordenação federal. Até o “amigão” Donald Trump já disse isso mais de uma vez.


Segundo: como fazer um evento sobre a pandemia sem dar uma palavra sobre os muitos milhares de mortos? Sem conforto para as famílias e amigos? Sem solidariedade aos que pegaram o vírus, muitos com sequelas graves? A quem o presidente pensa que está enganando ao esconder a realidade? Aliás, ele continua enganando e se enganando quando diz que “sempre foi um atleta das Forças Armadas”. [além do desempenho como atleta no EB, o presidente Bolsonaro foi pára quedista, especialidade que exige preparo físico acima do normal.]  “Sempre”? Como assim? Ele foi do Exército [PQD] há bem mais de 30 anos e saiu pela porta dos fundos, depois de alucinações com bombas em quartéis.

Numa cerimônia de derrotados para comemorar uma vitória imaginária, não poderia faltar cloroquina. [confiram] Catados a dedo, compareceram bolsonaristas dispostos a corroborar o constrangedor “Vencendo a covid-19”, badalar um medicamento que não tem comprovação contra esse vírus em lugar nenhum do mundo e dizer amém a qualquer outra barbaridade do presidente. 

A ameaça de “dar porrada” foi diante da Catedral de Brasília e o título do vídeo deturpado, sem a pergunta do repórter sobre o “Queiroz”, é um versículo da Bíblia: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Nada mais apropriado ao momento que vive o Brasil. A verdade está aí, escancarada, à vista de todos. Pena que milhões se recusam a admiti-la e a se libertar.

Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo


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