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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Teto não limita popularidade de Bolsonaro - Merval Pereira


O teto não é o limite

[aceitem, dói menos: para a popularidade do presidente Bolsonaro o céu é o limite]



Auxílio emergencial

Uma após outra, as pesquisas de opinião vão mostrando que a popularidade do presidente Jair Bolsonaro cresce à medida que os efeitos do auxílio emergencial para enfrentamento da pandemia da Covid-19 vão se fazendo sentir nas classes e regiões menos favorecidas.  E a boca fechada do presidente, que agora age em silêncio, também ajuda na melhoria de sua avaliação, evitando aquela sensação de vergonha alheia em seus apoiadores em outros estratos da população.

Ao mesmo tempo em que essa é uma boa notícia para o governo, o coloca em uma sinuca de bico, pois a continuidade desse auxílio de R$ 600 é esperada pelos que o recebem, mas também pela maioria da sociedade, como demonstra a pesquisa XP/Ipespe divulgada ontem que mostra que 70% da população são favoráveis à continuidade do programa, inclusive entre os que não têm acesso a ele. [a concessão do auxílio é uma medida humanitária, sendo desumanidade alguém ser contra;
as despesas com medidas humanitárias devem prevalecer, especialmente sobre as destinados a objetivos menores = entre elas, sem limitar os Fundos Partidário e Eleitoral.
Até os recursos a serem usadas nas eleições próximas, podem e devem  ser utilizados para ajudar as pessoas carentes, que resistiram ao coronavírus, a resistirem a forme advinda da inevitável e mundial crise econômica.
Adiar as eleições por dois anos só traria benefícios, entre eles mais recursos para combater a pandemia, coincidência de mandatos provoca redução de custos = uma eleição geral a cada quatro anos, sai bem mais barato que uma a cada dois anos.]

Assim como o Datafolha já havia constatado, também a pesquisa XP/Ipespe confirma uma melhoria na avaliação do presidente, tendência que já havia sido detectada na pesquisa de julho. O Ipesp registra os maiores níveis de aprovação ao presidente desde março de 2019, com os que consideram o governo ótimo ou bom saltando sete pontos percentuais, de 30% para 37%, enquanto os que consideram o governo ruim ou péssimo caíram de 45% para 37%, o menor índice desde agosto de 2019. 

O movimento positivo para Bolsonaro é seguido por outros indicadores, segundo o Ipespe, como o aumento expressivo dos que têm expectativa positiva para o restante do mandato, que eram 33% e ganharam mais quatro pontos percentuais, reforçados pela queda dos pessimistas de sete pontos percentuais.  A percepção do eleitorado de que a economia está no caminho certo também aumentou, de 33% para 38%, o que pode dar ao ministro Paulo Guedes argumentos para confrontar-se com os “fura-tetos”, como ele chama seus colegas de ministério que querem aumentar os gastos públicos. Mas, como no Brasil a maioria não leva em conta o binômio causa-efeito, os mesmos que consideram que a economia está certa querem manter o auxílio emergencial que quebra as contas públicas. 

Ajudou também a melhorar a avaliação do presidente o alívio da maior parte da população em relação à pandemia, (52%) que considera que o pior já passou, caindo o número dos que dizem estar com muito medo do surto (38% para 33%).  Novos dados da pesquisa Datafolha mostram um aumento da reprovação do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), consequência natural do crescimento da popularidade de Bolsonaro. Congresso e Supremo sempre foram obstáculos aos avanços dele contra a democracia e os direitos civis, e durante um tempo o puseram nas cordas.

Quando teimou em confrontar os demais poderes, recebeu muitas críticas e foi derrotado nas duas Casas. STF e Congresso são instituições, para os seguidores de Bolsonaro, prejudiciais e que o impedem de governar. Como o presidente virou o rei do Nordeste com o auxílio emergencial, é natural que seus inimigos sejam vistos com mais ressalva pelo eleitorado que o apóia. Segundo a pesquisa do Ipesp, toda melhora na avaliação do governo vem dos estratos da população com renda familiar mensal de até 5 salários mínimos, população que concentra os que requisitaram o auxílio emergencial, benefício de R$ 600 pago pelo governo durante a pandemia.

Entre os mais pobres, com renda de até 2 salários mínimos, a aprovação foi de 28% para 34% e entre os que têm renda de 2 a 5 salários mínimos, de 32% para 44%. Bolsonaro conseguiu vender a ideia de que a culpa pelas 100 mil mortes é dos outros, especialmente os governadores, como mostra a pesquisa Datafolha que registra que 47% dos brasileiros consideram que o presidente não tem culpa por sermos o segundo país com maior número absoluto de mortes do mundo.

Com todos esses registros favoráveis, Bolsonaro está na mesma batida da campanha presidencial, quando viajava pelo país sendo recebido por multidões de correligionários nos aeroportos. Ontem foi a Sergipe, e os vídeos divulgados mostram um entusiasmo popular que parece confirmar as palavras de um dos líderes do centrão, Ciro Nogueira, que diz que Bolsonaro está substituindo [com grandes diferenças a favor do Brasil e do povo] Lula no imaginário do nordestino, devido ao seu jeito de “povão” e graças ao auxílio emergencial, do qual ele não irá abrir mão, mesmo com o perigo de furar o teto de gastos. 



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