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sábado, 29 de agosto de 2020

Na pandemia, Jair age como um tecelão de oximoros - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Não surpreende que Bolsonaro aja como Bolsonaro

[Perde espaço o combate ao uso da  hidroxicloroquina no combate ao coronavírus]

"Para meditar - Brasileiros, acreditem no Brasil: 'os arautos do pessimismo anunciam, os analistas de plantão maximizam a pior das possibilidades, produzindo a verdade transfigurada, a notícia infundada, a narrativa manipulada, nos deixam a impressão de um futuro sombrio, só nos resta evocar a imagem de Caxias que também foi vítima da calúnia e lembrar que o Brasil é maior que todos que querem o fracasso.' "
No dia em que o Brasil contabilizava 115 mil mortes por Covid-19 —o que representa uma taxa de óbitos por 100 mil habitantes 47 vezes maior que a do vizinho Uruguai—, [uma única vida merecer ser preservada e não deveria receber a frieza dos números, mas já que estamos comparando, é nosso DEVER lembrar que a população do Brasil é 60 vezes a do Uruguai.]  Jair Bolsonaro promoveu um evento em que arrebanhou ministros e alguns médicos para juntos enaltecerem a cloroquina. O nome escolhido para a cerimônia foi "Brasil vencendo a Covid-19". [O evento contou com a presença de dezenas de médicos, todos acessíveis aos que lá comparecessem, todos com nome, com endereços e telefones de onde exercem a medicina. 
O evento recebeu divulgação mínima da grande imprensa,que optou por seguir a máxima do Rubens Ricupero: 'o que é bom a gente divulga, o que é ruim esconde'.
Confira aqui ou aqui e  tenha acesso a links de outras mídias confirmando.
Não pode ser olvidado que por quase seis meses,  milhões de brasileiros são 'bombardeados'  com recomendações do tipo ficar em casa, manter distância, procurar os hospitais "o maior erro de Mandetta foi ter recomendado que, ao sentir sintomas da covid, a pessoa ficasse em casa por 14 dias e só procurasse auxílio quando sentisse falta de ar".  - para não sobrecarregá-los - não usar medicação sem comprovação científica (esquecendo que a  prescrição médica é uma comprovação científica?) 
Continua a mesma lenga-lenga e vez ou outra é comentado que o índice de contágio está inferior a 1 = 0,98% = , indicando que a contaminação está caindo... 100... contamina 98, 98 contamina 96... . Não é dito que a redução do percentual é contínua =  é consequência inevitável da desaceleração do contágio = nome simplificado para este processo é  = imunidade de rebanho. ] 
É genial. Com essa, Bolsonaro conquistou um lugar no panteão dos oximoristas, as pessoas que criam nomes ou expressões que aglutinam conceitos contraditórios ou absurdos. Meu exemplo favorito é o Sacro Império Romano Germânico (a designação dada ao mosaico de Estados alemães que conviveram entre 963 e 1806), que, como observou Voltaire, não era sacro, nem era um império e também não era romano. Ao menos era germânico. Uma lista mais tradicional de oxímoros inclui: silêncio eloquente, instante eterno, crescimento negativo e inteligência militar.
Contradições à parte, não surpreende que Bolsonaro aja como Bolsonaro. O que me preocupa mais é que existam médicos que aceitam participar de uma pantomima eleitoreira que nega o método científico pelo qual a medicina deveria se pautar. De fevereiro até abril, fazia sentido depositar esperanças na cloroquina. Havia uma hipótese teórica a justificar sua ação contra a Covid-19 e alguns trabalhos indicando efetividade. Mas a ciência fez o que tinha de fazer e procedeu a testes mais rigorosos. Nunca uma droga foi alvo de tanta pesquisa.

E a conclusão a que se chegou é a de que nem a cloroquina nem a hidroxicloroquina são fármacos muito úteis contra a doença (ainda não dá para descartar que produzam efeitos muito modestos) e ainda trazem o risco de danos colaterais, que se tornam uma certeza se distribuídos a grandes populações. O médico que não aceita os resultados de ensaios clínicos controlados não entendeu como a medicina se relaciona com o método científico.

 Hélio Schwartsman, colunista - Folha de S. Paulo


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