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sábado, 30 de abril de 2022

Barroso estica a corda - Silvio Navarro

Revista Oeste

Ministro Luís Roberto Barroso provoca as Forças Armadas e reabre o debate sobre a segurança das urnas e o ativismo político da Justiça Eleitoral 

No último domingo, 24, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso tentou piorar a crise permanente na Praça dos Três Poderes. Ainda sob o efeito do revés imposto à Corte pelo presidente Jair Bolsonaro com o indulto ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), Barroso atacou o comando das Forças Armadas.“Desde 1996, não temos um episódio de fraude no Brasil. Eleições totalmente limpas, seguras e auditáveis. Agora se pretende usar as Forças Armadas para atacar? Gentilmente convidadas a participar do processo eleitoral, estão sendo orientadas para atacá-lo e tentar desacreditá-lo?”, disse.
 
Guerra entre os Poderes | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/PR/STF
Guerra entre os Poderes -  Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/PR/STF

Mais uma vez as declarações inconvenientes não foram feitas no plenário do Supremo nem nos autos. A exemplo do que fizera há 15 dias para a plateia da Brazil Conference, em Boston (EUA), Barroso discursava em uma palestra no exterior. Desta vez, o evento chamado Brazil Summit Europe foi realizado pela Universidade Hertie School, em Berlim (Alemanha).

“É preciso ter atenção para o retrocesso cucaracha de voltar à tradição latino-americana de [sic] ‘botar’ o Exército envolvido com política”, afirmou. “É uma péssima mistura para a democracia e para as Forças Armadas. Tenho fé de que as lideranças militares saberão conter esse risco de contaminação indesejável.”

Barroso comandou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) até passar o bastão para Edson Fachin, em fevereiro. Foi, sem dúvida, o mais falante e predisposto a se envolver em embates na Corte Eleitoral nos últimos anos. A postura contraria, inclusive, a tradição do cargo, um posto discreto e para muitos até irrelevante. Afinal, eleições só acontecem a cada dois anos.

Em 2020, por exemplo, Barroso concedeu entrevistas de hora em hora depois do fechamento das urnas para dizer que não tinha explicação para o atraso assustador na apuração municipal. O supercomputador comprado sem licitação na gestão dele falhou. 
O argumento é que só a Oracle produz esse modelo no mundo. 
Pela primeira vez, a soma dos votos foi centralizada em Brasília. 
O custo para manter a máquina é de R$ 26 milhões por um período de quatro anos. Os técnicos do TSE afirmam que o problema foi solucionado.
Dilema das urnas eletrônicas
Barroso nunca escondeu o descontentamento com o fato de o Exército integrar o grupo de transparência das eleições. Ficou ainda mais irritado quando os militares apresentaram uma lista de questionamentos sobre a segurança das urnas eletrônicas, em meio ao acalorado debate do voto impresso no Congresso Nacional. Ele não admite críticas ao sistema. Pelo contrário: avalia que se chegou à perfeição tecnológica, ainda que o mesmo modelo só seja utilizado em Butão e Bangladesh.

No mês passado, o general Heber Garcia Portella, que chefia o Comando de Defesa Cibernética do Exército, enviou um documento ao TSE com recomendações para aperfeiçoar a transparência das urnas. A lista foi elaborada por uma equipe de 70 auditores militares da área de tecnologia da informação. O TSE se recusou a divulgar o documento com as sugestões.

“TSE comete crime de responsabilidade ao não fornecer informações”

A confiança nas urnas eletrônicas é um tema que tira Barroso do sério. Ele encara a defesa do presidente Bolsonaro ao voto auditável como uma provocação. Tanto que trabalhou pessoalmente para derrubar a Proposta de Emenda à Constituição que buscava a impressão do comprovante do voto. Barroso chegou, inclusive, a se reunir com presidentes de partidos no Congresso, atitude que mais uma vez extrapolou a independência dos Poderes.

Mesmo sem conseguir aprovar a PEC, Bolsonaro mantém o tema na agenda, ao se referir à segurança das urnas em discursos e entrevistas. Uma das últimas menções foi justamente no Dia do Exército (19 de abril). “A alma da democracia repousa na tranquilidade e na transparência do sistema eleitoral”, disse. “Não podemos jamais ter eleições no Brasil que sobre elas paire o manto da suspeição.”

Reação da caserna
A reação das Forças Armadas ao ataque de Barroso foi intensa nesta semana. O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, se manifestou por meio de uma nota sem muitos rodeios.“Afirmar que as Forças Armadas foram orientadas a atacar o sistema eleitoral, ainda mais sem a apresentação de qualquer prova ou evidência de quem orientou ou como isso aconteceu, é irresponsável e constitui-se em ofensa grave a essas instituições nacionais permanentes do Estado Brasileiro”, disse. “Além disso, afeta a ética, a harmonia e o respeito entre as instituições.”

Outros militares também se pronunciaram em entrevistas e nas redes sociais. “Barroso acredita, de fato, que as Forças Armadas querem boicotar as eleições”, afirmou o general da reserva Paulo Chagas. “Mas sabe que não poderia fazer uma acusação dessas. Por isso, levou uma carraspana do ministro da Defesa.”

“Os ministros do STF ultrapassaram os limites”, afirma general Paulo Chagas

“Essa instituição é necessária. Sua história orgulha o Brasil. No entanto, os ministros atuais são populares. É o ‘populacho’. Não é assim que funciona. Os próprios ministros se intitularam como Poder Moderador — algo que não existe. Eles ultrapassaram os limites.” (Paulo Chagas)

O general Luiz Ramos, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, fez coro ao discurso de Bolsonaro. “Defender a soberania nacional é dever das Forças Armadas. Eleições democráticas e transparentes fazem de nós um país soberano, por isso, nossas Forças Armadas estarão sempre vigilantes pelo bem do nosso povo.”

Para o general Roberto Peternelli, deputado federal pelo União Brasil, foi uma manifestação desnecessária. “Toda declaração que fere a harmonia entre os Poderes não contribui para a população”.

Antes mesmo da fala de Barroso na Alemanha, alguns integrantes da caserna vinham demonstrando falta de paciência com os ministros do Supremo. O estopim foi a condenação do deputado Daniel Silveira. O Clube Militar produziu uma nota duríssima assinada pelo general de divisão Eduardo José Barbosa. “É lamentável termos no Brasil ministros cujas togas não serviriam nem para ser usadas como pano de chão pelo cheiro de podre que exalam”, disse.

“Não serei uma Jeanine”
O respaldo de Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira foi interpretado na Câmara dos Deputados como um recado claro para que as bancadas conservadoras se movimentassem. Três frentes temáticas, os evangélicos, a de segurança pública e a agropecuária, apelidadas de BBB (boi, bala e Bíblia), que reúnem mais de um terço da Casa, assinaram uma nota conjunta. No texto, os deputados Capitão Augusto (PL-SP), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) e Sérgio Souza (MDB-PR) pediram ao presidente que promovesse um ato no Palácio do Planalto batizado de Ato Cívico pela Liberdade de Expressão. “Entendemos que o momento político no país requer equilíbrio e respeito à Constituição e ao fortalecimento da nossa democracia”, dizia a carta.

Bolsonaro atendeu ao pedido. Na noite de quarta-feira 27, reuniu os aliados num evento transmitido pela TV Brasil. Mais de 20 parlamentares discursaram. “O TSE convidou as Forças Armadas para participar do processo eleitoral”, disse o presidente. “Será que esqueceram que o chefe supremo das Forças Armadas se chama Bolsonaro? Mente o ministro Barroso quando diz que [o documento com sugestões do Exército] é sigiloso. Para as Forças Armadas, se um militar mente, acabou a carreira dele”, continuou. “Não pense que uma possível suspeição da eleição vai ser apenas no voto do presidente. Vai entrar no Senado, Câmara, se tiver, obviamente, algo de anormal.”

No final, Bolsonaro relembrou o episódio envolvendo Jeanine Añez, ex-presidente da Bolívia. Ela assumiu o país após a renúncia de Evo Morales e a ausência do presidente da Câmara. Na época, o país vivia uma onda de protestos violentos porque Morales foi acusado de fraude eleitoral. Ele fugiu para a Argentina, mas iniciou uma articulação política à distância para derrubar a sucessora. Añez acabou presa por conspiração e sedição. “Alguém sabe qual foi a acusação? Atos antidemocráticos. Entenderam? É o que vivemos no Brasil. Cria-se um decreto, ato antidemocrático, e ali a pessoa faz o que bem entender”, disse Bolsonaro.

Ele ainda repetiu que não respeitará quem “jogar fora das quatro linhas da Constituição”. E encerrou com mais quatro palavras: “Não serei uma Jeanine”.

Leia também “Duelo na Praça dos Três Poderes”

Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste


quinta-feira, 28 de abril de 2022

Rússia diz que dar armas à Ucrânia ameaça a segurança europeia

O presidente russo, Vladimir Putin, disse que países que tentarem intervir no conflito sofrerão retaliações 'rápidas como um raio' 

O Kremlin afirmou nesta quinta-feira, 28, que o esforço dos Estados Unidos e seus aliados ocidentais para fornecer armas à Ucrânia, incluindo artilharia pesada, representa uma “ameaça à segurança do continente europeu”.

Devido ao aumento do contingente de armas enviadas, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, acusou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de travar uma guerra por procuração contra a Rússia.

"...  Por exemplo, a Polônia acaba de ganhar dos EUA um esquadrão inteiro de tanques novinhos. Em agradecimento, a Polônia anunciou que vai doar seus tanques velhos para a Ucrânia. Me veio à cabeça a imagem de minha avó dizendo potselui meni v sraku...."


+ Envio de armas dos EUA a Kiev é como ‘jogar gasolina no fogo’, diz Rússia

“Em si, a tendência de enviar armas, incluindo armas pesadas, para a Ucrânia e outros países são ações que ameaçam a segurança do continente e provocam instabilidade”, disse Peskov. Seu comentário veio após declarações da secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, que disse na quarta-feira 27 que os países que se opõem à invasão da Ucrânia pela Rússia devem dobrar seu apoio, incluindo o fornecimento de armas pesadas, tanques e aviões.

+ Alemanha abandona cautela com guerra e envia armas pesadas para Ucrânia

A Rússia, que matou milhares de pessoas e deslocou milhões ao invadir a Ucrânia, sempre retratou a Otan como um agressor que a obrigou a defender sua própria segurança.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse na quarta-feira que qualquer país que tentar intervir no conflito, criando ameaças estratégicas ao seu país, “está avisado que nossos ataques de retaliação serão rápidos como um raio”.

 Mundo - VEJA


quarta-feira, 27 de abril de 2022

‘Os ministros do STF ultrapassaram os limites’, afirma general Paulo Chagas

Em entrevista concedida a Oeste, o militar da reserva diz que os magistrados não deveriam estar na Suprema Corte

Os insultos do ministro Luís Roberto Barroso às Forças Armadas não foram bem digeridos pelos militares. Em seminário realizado no último domingo, 24, por alunos e ex-alunos brasileiros da Universidade Hertie School, na Alemanha, o magistrado disse que o Exército está sendo orientado para atacar e desacreditar o processo eleitoral. 

Paulo Chagas é general da reserva
Paulo Chagas é general da reserva | Foto: Reprodução/Twitter

Essas declarações constituem um crime militar de ofensa às Forças Armadas, segundo o general da reserva Paulo Chagas. “É cabível uma representação criminal para a Procuradoria-Geral da República”, afirmou, em entrevista concedida a Oeste. O militar da reserva amparou-se no artigo 219 do Código Penal Militar, que prevê que “propalar fatos, que sabe inverídicos, capazes de ofender a dignidade ou abalar o crédito das Forças Armadas ou a confiança que estas merecem” são cabíveis de pena de um mês a seis anos de detenção.

Na entrevista, Chagas também comentou as atuações dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), qualificando-as como parciais; defendeu a instauração do voto impresso auditável, como forma de garantir a transparência das eleições; e assegurou que o Exército poderá agir caso as instituições democráticas sejam corrompidas. “Quando isso sair do controle e tivermos de perguntar quem está de fato mandando no país, será necessária a ação de alguém que esteja fora desse imbróglio. Precisa ser uma instituição. E, nesse caso, o último recurso da nação sempre foram as Forças Armadas.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

— Como o senhor avalia os recentes insultos do ministro Luís Roberto Barroso às Forças Armadas?

O Exército, que possui um departamento de defesa cibernética, foi convidado pelo Tribunal Superior Eleitoral para fazer uma avaliação dos equipamentos eletrônicos. As Forças Armadas analisaram todas as vulnerabilidades dos equipamentos. Qualquer analfabeto sabe que aparelhos desse tipo são vulneráveis. Então, o Exército mostrou essas deficiências. No entanto, como a Suprema Corte está infelizmente politizada, o ministro Luís Roberto Barroso fez uma alusão infeliz. Ele disse que as Forças Armadas estavam sendo induzidas a boicotar as urnas eletrônicas. Pessoas de altíssimo gabarito foram enviadas para avaliar as urnas eletrônicas. Militares da Força Aérea Brasileira e da Marinha também participaram do processo. Esses profissionais são formados nos mais altos institutos de engenharia das Forças Armadas. Em vez de Barroso interpretar essa atitude como uma grande contribuição, resolveu tratar como um boicote. Ele quis dizer que o Exército estava querendo agradar ao presidente da República. Barroso acredita, de fato, que as Forças Armadas querem boicotar as eleições. Mas sabe que não poderia fazer uma acusação dessas, por mais que esteja convencido dessa tese. Por isso, levou uma carraspana do ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.

— O presidente Jair Bolsonaro desempenhou algum papel nessa crise?

O presidente tem por costume querer dizer para a sociedade que as Forças Armadas estão partidarizadas para o seu lado. Isso não é verdade. O Exército não possui partido. Certa vez, o general Augusto Heleno disse algo muito importante: “O partido das Forças Armadas é o Brasil”. Individualmente, posso querer votar em Bolsonaro — ou não. É um direito que tenho. Moralmente, sou obrigado a ter uma opinião. Mas as Forças Armadas pertencem ao Estado. Se outro candidato for eleito, será apoiado exatamente como está sendo apoiado o presidente Jair Bolsonaro. O Exército cumprirá seu dever constitucional.

— Barroso pode responder judicialmente pelo insulto às Forças Armadas?

Está escrito o seguinte no artigo 219 do Código Penal Militar: é crime falar mal das Forças Armadas, ou atentar contra a imagem do Exército, sem ter provas do que diz. O cometimento de um crime militar não depende de o autor ser vinculado ao Exército. O Superior Tribunal Militar (STM) será responsável por eventual julgamento desse caso. Um operador de Direito, que conhece essa área, disse-me que a conduta de Barroso poderia ser enquadrada como crime militar. Não é uma invenção minha. Agora, o Ministério Público Militar terá de analisar a situação e ver se há crime. A minha intenção é mostrar para o ministro Barroso que ele também está sujeito à lei. Devemos ter cuidado ao dizer as coisas, justamente para não cometer esse tipo de erro.

— Como o senhor qualifica a atuação do Supremo Tribunal Federal?

Não me permito falar mal do STF enquanto instituição. Trata-se de um órgão extremamente importante para a democracia. Agora, permito-me analisar a competência dos ministros, suas intenções e seus comprometimentos. As atitudes dos magistrados não são aquelas que os cidadãos esperam das pessoas que foram escolhidas para dar a última palavra em termos de justiça. Os ministros se contradizem frequentemente. Certas vezes, vão para um caminho; depois, seguem para outro rumo.

— Em quais ocasiões os ministros agiram de maneira controversa?

O caso do deputado federal Daniel Silveira é um exemplo. Em outros tempos, o ex-presidente Lula entrou com vários pedidos de habeas corpus, e tudo foi concedido. Agora, o advogado de Silveira usou esse mesmo recurso apenas uma vez e recebeu uma reprimenda. São dois pesos e duas medidas. Há 11 Constituições no Brasil. Os ministros agem de maneira monocrática. Infelizmente, os magistrados não sabem se comportar de maneira isenta — como deveria ser. Pelos discursos, pelas conferências e palestras das quais participam, percebemos que são facciosos. Eles têm um partido e não escondem isso. É péssimo para a democracia. Essas pessoas não deveriam estar lá. Elas foram colocadas na Suprema Corte por decisões políticas. Não excluo disso os dois ministros indicados pelo presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Executivo disse que, “para ser indicado como ministro do STF, teria de tomar um chope comigo”. Isso não é critério. Essa declaração diminui a importância da Suprema Corte. Essa instituição é necessária. Sua história orgulha o Brasil. No entanto, os ministros atuais são populares. É o “populacho”. Não é assim que funciona. Os próprios ministros se intitularam como Poder Moderador — algo que não existe. E ainda determinaram que, no Brasil, há um semipresidencialismo. Eles ultrapassaram os limites.

— As Forças Armadas poderiam agir, amparadas no artigo 142 da Constituição Federal, para restabelecer a ordem no país?

Apoiadas no artigo 142, não. O texto não prevê isso. Mas o Exército poderia agir, sim, amparado no juramento feito por todos os soldados. O juramento está acima da Constituição, porque diz, literalmente, que os militares estão dispostos a morrer pela pátria. 
As Forças Armadas poderão agir no momento em que perceberem uma situação de anomia social e identificarem um conluio inaceitável do Legislativo e do Judiciário contra o Executivo
Por ora, isso está acontecendo em um nível controlável. Quando isso sair do controle e tivermos de perguntar quem está de fato mandando no país, será necessária a ação de alguém que esteja fora desse imbróglio. Precisa ser uma instituição. E, nesse caso, o último recurso da nação sempre foram as Forças Armadas.

— Como o senhor avalia o processo eleitoral brasileiro?

Todos os equipamentos eletrônicos são vulneráveis às ações inteligentes dos hackers. Sempre há uma maneira de invadi-los. Não vejo nenhuma razão plausível para não ter um acessório na urna eletrônica que possa dar ao eleitor a absoluta certeza de que sua vontade será expressa no momento do voto. Muitas pessoas confundem voto impresso com impressão do voto. O primeiro deveria ser obrigatório, independentemente do modelo da urna. Se cair um raio em determinada cidade, e todos os equipamentos forem queimados, como faremos para votar? É preciso ter papel, de forma que possamos votar e inserir o documento na urna. Todas as seções eleitorais deveriam possuir uma quantidade de votos em papel. A eleição não pode ser refém de panes. A impressão do voto, por sua vez, é ainda mais simples. Isso prestigia o eleitor. Você vai lá, digita o número que quer e, antes de confirmar o voto, aperta um botão da urna para visualizar, em papel, o número do candidato que escolheu. O eleitor não terá contato direto com o documento, apenas poderá visualizá-lo e se certificar de que a urna seguiu exatamente seu comando. Esse papel ficará na urna. Não sei qual a dificuldade de fazer isso. “Ah, é muito caro!”. Não é, não. Essas maquininhas de cartão de crédito, por exemplo, custam merreca. Basta colocar um aparelho similar nas seções eleitorais. Não sei por que há tanta ojeriza à impressão do voto. Isso tornará as eleições mais transparentes.

Leia também: “A provocação do STF ao Executivo chegou ao limite”, artigo de J.R. Guzzo publicado em Oeste

 

sábado, 23 de abril de 2022

Por que Alemanha não fornece armas pesadas à Ucrânia?

Berlim se vê sob crescente pressão internacional para dar maior apoio bélico a Kiev. Mas nem todas as justificativas alemãs para negar envio de arsenal pesado se sustentam, dizem analistas.O chanceler federal da Alemanha, Olaf Scholz, tem sido alvo de críticas incessantes, acusado de procrastinar e quebrar suas promessas de fornecer armamentos pesados para que a Ucrânia se defenda do invasor russo.

Por que Alemanha não fornece armas pesadas à Ucrânia?

Berlim tem dado diversas justificativas para esse posicionamento. Ele se sustenta? A DW checa alguns fatos.

“Alemanha está simplesmente seguindo a linha de seus aliados”

Esse é o mantra de Scholz desde que a Rússia marchou sobre território ucraniano, em 24 de fevereiro. Ele afirma estar procedendo em coordenação estreita com os parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da União Europeia. “Vejam o que os nossos aliados estão fazendo, por exemplo, os nossos amigos do G7”, disse numa coletiva de imprensa na última terça-feira, afirmando que países como o Canadá, Reino Unido e Estados Unidos teriam enviado a mesma quantidade de equipamentos que a Alemanha.

Mas dois dias depois, nesta quinta-feira, os EUA anunciaram um novo pacote de ajuda militar de 800 milhões de dólares para a Ucrânia, incluindo artilharia pesada, subindo para 3 bilhões de dólares o total das contribuições americanas, desde que o presidente russo, Vladimir Putin, iniciou a guerra.

Em contraste, até o começo de abril, de quando data a informação mais recente disponível do Ministério da Economia da Alemanha, os gastos de Berlim com a defesa ucraniana circulavam pelos 186 milhões de euros, sobretudo para compra de granadas lançadas por obuses, mísseis antiaéreos, metralhadoras, munição e equipamento de proteção – mas não armamento pesado.

De acordo com o Tratado sobre Forças Armadas Convencionais na Europa, o termo “arma pesada” se aplica a todos os tanques e veículos blindados, assim como a artilharia de 100 milímetros ou mais, e a aeronaves e helicópteros.

Segundo Carlo Masala, professor de defesa e segurança da Universidade da Bundeswehr (Forças Armadas alemãs), sediada em Munique, Scholz estaria, por um lado, emitindo para os russos a mensagem de que o país ainda se contém em relação a armamentos pesados. Por outro lado, trata-se também de um sinal para sua audiência doméstica e seu Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda.

“É uma questão que está sendo agora debatida por vários grupos do SPD, e ele precisa deles no Parlamento. Ele precisa de toda essa gente que não quer entregar armas pesadas, achando que vai assim escalar o conflito e que a Alemanha se tornaria um alvo das atividades russas”, explica Masala.

Trata-se de uma ressalva justificável, porém difícil de conciliar com o tuíte da deputada ucraniana Lesia Vasylenko, na terça-feira, anunciando que diversos países ocidentais, entre os quais EUA, Reino Unido e Holanda, estavam entregando grande quantidade de armamento pesado.

Consta que também a República Tcheca se comprometeu a enviar dezenas de tanques T-72, de fabricação soviética, e veículos de infantaria BMP-1. Em meados de abril, os EUA anunciaram que forneceriam rapidamente 11 helicópteros Mi-17 produzidos pela Rússia, 200 veículos blindados M113 para transporte de pessoal e 90 howitzers (obuses de longo alcance) de 155 milímetros, com 40 mil projéteis.

“A Bundeswehr chegou a seu limite”

Segundo Scholz, não seria possível enviar mais apoio militar à Ucrânia porque a Alemanha ficaria incapacitada de cumprir suas obrigações nacionais e com a Otan: “Aqui, nós temos que reconhecer que as opções que temos estão chegando a seus limites”, declarou na terça-feira.

A Bundeswehr alega necessitar de suas armas pesadas para garantir as obrigações de defesa nacionais e da aliança de defesa. Isso se aplicaria, por exemplo, ao howitzer 2000 autopropelido ou aos veículos de combate Marder.

O sistema Marder inclui mísseis teleguiados, armas de mão e munição, exigindo treinamento intensivo. Embora esse processo possa ser abreviado, “ainda é uma questão de semanas, e o equipamento tem que ser preparado”, afirmou na quarta-feira o major-general Markus Laubenthal, vice-inspetor geral da Bundeswehr, à emissora pública ZDF.

Ele respondia assim ao embaixador ucraniano na Alemanha, Andriy Melnyk, um dos críticos mais ferrenhos da postura de Berlim: “A alegação de que a Bundeswehr não pode fornecer nada à Ucrânia não é compreensível”, acusou recentemente o diplomata.

A força dispõe de 400 Marders, dos quais 100 são usados para treinamento, podendo ser cedidos imediatamente à Ucrânia, prosseguiu. Segundo Laubenthal, contudo, “para assegurar a operacionalidade de nosso exército, precisamos de sistemas de armas”.

O especialista em defesa Masala concorda se tratar de mero pretexto do governo, pois, “se a defesa do território da Otan precisa, digamos, de 20 tanques alemães, não deveríamos nem tentar defendê-lo, pois seria desastroso”.

“As armas disponíveis não são de utilidade imediata para a Ucrânia”

O governo alemão argumenta que os soldados ucranianos só são capazes de utilizar as armas com que estejam familiarizados, o que inclui a logística para poder realizar consertos com as devidas peças sobressalentes.

Para Masala, é uma ressalva válida: “O que ocorre se houver um problema técnico com o Marder? Você não tem sobressalentes, não tem os técnicos que saibam repará-la. É preciso assegurar que haja uma linha de logística indo até a Ucrânia, com peças sobressalentes e técnicos treinados.”

Ainda assim, Masala concorda que seria mais eficaz colocar os tanques nas mãos dos ucranianos agora, e mais tarde se preocupar com logística: “Treine-os para usar o modelo, envie-os para a Ucrânia. Se eles puderem usar o Marder por três semanas, é melhor do que nada. Se ele quebrar, então, tudo bem, paciência.”

“Nesse ínterim, podemos trabalhar na cadeia logística para o abastecimento de peças sobressalentes. Então, também aqui, me parece mais um pretexto para não enviar as armas, porque é uma decisão política de não fornecer armamento pesado para a Ucrânia.”

Falando à emissora WDR na quinta-feira, o ex-general da Otan Hans-Lothar Domröse descartou as afirmativas de que seria necessário treinamento intenso para dominar os veículos de combate Marder: “Estamos falando de comandantes ucranianos experientes, em luta desde 2014. Não é preciso lhes ensinar como usá-las: quem tem usado um modelo soviético BMP-1 pode se familiarizar com o Marder em menos de uma semana e operá-lo.”

Mais dinheiro e “jeitinhos criativos” como alternativa

Segundo Scholz, Berlim estaria liberando mais de 1 bilhão de euros para a Ucrânia comprar equipamento militar da Alemanha, como armas antitanques, recursos de defesa aérea e munição. Mas não foram mencionados os tanques e aviões que o país invadido tanto vem pedindo.

O tabloide alemão Bild noticiara que companhias de defesa alemãs inicialmente se ofereceram para suprir armamentos pesados como os Marder, veículos blindados Boxer, tanques Leopard 2 e howitzers autopropelidos. No entanto esses itens teriam sido cortados da lista. “Há algumas armas pesadas na lista, mas definitivamente nenhum tanque. Então os tanques são aparentemente a linha vermelha para o governo alemão no momento. Se vamos poder manter essa linha depende muito, óbvio, de como a guerra evoluirá nas próximas semanas e meses”, observa Masala.

A crítica de que a Alemanha estaria fazendo corpo mole parece ter surtido efeito. Na quinta-feira, numa coletiva de imprensa na Estônia, a ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock, declarou que “não há tabus para nós em relação a veículos blindados e outros armamentos de que a Ucrânia precisa”.

Aparentemente, a alternativa é suprir com equipamento alemão moderno os estoques dos países aliados que têm modelos soviéticos de sobra. À medida que os estoques da Alemanha forem se esgotando, os Estados europeus ocidentais da ONU que ainda têm armas da era soviética as “disponibilizariam, como já ocorreu em diversos casos”, explica o coronel reformado da Bundeswehr Wolfgang Richter, associado do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP).

A ministra alemã da Defesa, Christine Lambrecht, confirmou na quinta-feira, na emissora privada RTL/N-TV, os planos de trocas com a Otan e União Europeia, envolvendo tanques, veículos de combate de infantaria: “São opções diferentes, que os países individuais têm e podem ceder. Estamos em conversações, e agora vai acontecer bem rápido.”

Berlim está também trabalhando num acordo de troca com a parceira da Otan Eslovênia: o país enviaria para a Ucrânia diversos tanques de batalha T-72, da era soviética, e a Alemanha compensaria com Marders de seus próprios arsenais.

Outra opção criativa está sendo negociada com a Holanda, que, segundo Masala, enviaria howitzers 2000 autopropelidos, uma arma alemã extremamente moderna, enquanto a Alemanha forneceria munição e treinaria os ucranianos, provavelmente em território alemão.

Embora essa abordagem possa reduzir parte da pressão e desviar as críticas, Masala não acredita que irá muito longe. “Nossos parceiros do Leste Europeu estão ficando sem armamentos soviéticos. E os tanques soviéticos enviados pela Polônia, Eslováquia ou Eslovênia vão ser destruídos nesta guerra. A Ucrânia também vai ficar sem armas. A um certo ponto, a questão voltará: ou treinar os ucranianos ou fornecer sistemas armamentistas ocidentais modernos.”

Deutsche Welle


quarta-feira, 23 de março de 2022

Futuro vice - General Braga Netto é garantia de amizade, discrição e confiança

Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo

O presidente Jair Bolsonaro indicou já estar escolhido o seu candidato a vice-presidente na disputa para a reeleição. Disse ser ele um ministro nascido em Belo Horizonte e que tem formação militar. Será, portanto, o general Walter Souza Braga Netto, que estudou no tradicional Colégio Militar de BH e que se formou na Academia Militar das Agulhas Negras de 1978 – Bolsonaro foi da turma de 1979.

General Walter Braga Netto, atual ministro da Defesa, é favorito para compor chapa com Bolsonaro como candidato a vice-presidente - Foto: Alexandre Manfrim/Ministério da Defesa

Recentemente, Braga Netto foi interventor federal na segurança pública do Rio de Janeiro, comandante militar do leste, chefe do Estado-Maior do Exército e ministro da Casa Civil de Bolsonaro no auge da pandemia, quando organizou um gabinete de crise que operou 24 horas por dia para atender aos estados, principalmente na crise de Manaus.

Hoje, ele é ministro da Defesa e uma garantia de amizade, discrição e confiança. Não é político, mas é uma garantia política, que dá respaldo, para o presidente Bolsonaro.
Lula ofende Congresso; Moro na Alemanha
Adversário de Bolsonaro nas eleições, o ex-presidente Lula disse que nunca viu um Congresso pior que o atual. Até achei estranho que um político experiente tenha resolvido ofender deputados e senadores que são cabos eleitorais de qualquer candidato à Presidência da República.

Estranho também é o candidato Sergio Moro que, em um momento de decisões e ajustes na sua chapa, esteja na Alemanha, distante, num congresso tecnológico. Estranha também foi a declaração da candidata do MDB, senadora Simone Tebet, que disse: "estamos doente de corpo e alma". Esse "estamos", se ela não restringir a "nós do MDB ou políticos", subentende-se que somos todos. 
Mas todos estamos doentes, de alma doente? 
Acho que não. Assim como Lula ofendeu os políticos, ela ofende os eleitores.
 
Bolsonaro pega ônibus
Nesta segunda-feira (21) foi aniversário do presidente Jair Bolsonaro e ele festejou indo de ônibus de casa para o trabalho, do Palácio da Alvorada para o Palácio do Planalto.

Foi em um ônibus movido à biometano, um gás produzido a partir da decomposição de lixões e dejetos da agropecuária, e que já está sendo usado para movimentar veículos experimentais em Ribeirão Preto (SP).

É mais um pioneirismo brasileiro, que já desenvolveu o etanol, o combustível vindo da cana de açúcar, e agora vem aí o combustível criado a partir de dejetos. E num momento em que o gás de cozinha e todos os derivados de petróleo estão muito caros.
 
China sai ganhando
Um analista palestino falando sobre a situação do Oriente Médio em função da guerra na Ucrânia disse que eles estão descontentes com os países petrolíferos e a política de Joe Biden, presidente dos EUA, sobre o petróleo. E afirmou que a Arábia Saudita convidou o presidente chinês Xi Jinping para fazer uma visita e que eles estão pensando em vender petróleo para a China em iuane, a moeda chinesa, e não em dólar.

Ou seja, é aquilo que se previa desde o início. As posições dos Estados Unidos afastam a Rússia, seus aliados e até outros países em direção à China. A sanção é um tiro saindo pela culatra.
 
 Alexandre Garcia, colunista - VOZES - Gazeta do Povo
 

quinta-feira, 17 de março de 2022

Putin diz que Rússia ‘cuspirá traidores como moscas’ e sinaliza aumento da repressão interna - O Globo

Embora nem todos os olhos sejam azuis, todo sangue é vermelho.

Fala, que fez menção a uma 'quinta coluna', ocorre em meio a prisões de pessoas que criticam a guerra e isolamento político, econômico e diplomático do país

Com a guerra na Ucrânia entrando na sua quarta semana, o presidente russo Vladimir Putin elevou drasticamente o tom de seu discurso, e além de direcionar seus ataques às lideranças de Kiev, também atacou setores da população russa que chamou de "falsos patriotas" e "escória". A fala ocorre em meio ao aumento da repressão interna àqueles que discordam da guerra iniciada no final de fevereiro contra a Ucrânia — segundo lei aprovada na semana passada, quem mencionar a palavra "guerra", ao invés de "operação militar especial", nome oficial da ofensiva, está sujeito a multa e prisão. — Qualquer povo, e ainda mais o povo russo, sempre será capaz de distinguir verdadeiros patriotas da escória e dos traidores, e simplesmente cuspi-los como uma mosca que acidentalmente entrou em suas bocas — disse Putin, durante uma reunião, na noite de quarta-feira, para discutir medidas de apoio econômico às regiões. —  Estou convencido de que uma autopurificação tão natural e necessária da sociedade só fortalecerá nosso país, nossa solidariedade, coesão e prontidão para responder aos desafios.

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Desde o início da guerra, cerca de 15 mil pessoas foram presas em protestos contra o governo, e um número ainda desconhecido de russos deixou o país rumo à Europa, EUA e outras nações da ex-URSS, como o Quirguistão e o Cazaquistão. Além do medo da repressão, muitos tentam escapar dos impactos das sanções impostas pelo Ocidente, que já começam a ter efeitos sensíveis na economia russa, em especial na inflação.

No discurso, Putin voltou a atacar os países do Ocidente, como havia feito em outro discurso a seus ministros mais cedo na  quarta, dizendo que eles "simplesmente não precisam de uma Rússia forte e soberana" e que não perdoarão o país por "defender seus interesses nacionais". Lembramos como eles apoiaram o separatismo, o terrorismo, encorajando terroristas e bandidos no norte do Cáucaso. Como nos anos 1990, início dos anos 2000, eles agora novamente, mais uma vez, querem repetir sua tentativa de nos pressionar, nos transformar em algo fraco, dependente, violar a nossa integridade territorial, desmembrar a Rússia da melhor maneira possível para eles. Não deu certo naquela época, e não vai dar certo agora — disse Putin.

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O presidente destinou ataques aos milionários russos que, hoje, vivem no exterior — alguns deles vêm se afastando do Kremlin e até criticando a forma como Putin vem conduzindo a invasão da Ucrânia. Para ele, eles são uma espécie de "quinta coluna", ou "traidores nacionais", que ganham dinheiro na Rússia e hoje gastam suas fortunas em outros países.— Não estou julgando de forma alguma aqueles que têm uma casa em Miami ou na Riviera Francesa, que não podem deixar de comer foie gras, ostras ou usufruir das chamadas liberdades de gênero. O problema não está nisso, mas  no fato de que muitas dessas pessoas estão mentalmente localizadas no exterior, e não aqui, não com nosso povo, não com a Rússia — afirmou o presidente. — Isto é o que eles pensam, que pertencem a uma casta superior, a uma raça superior.

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Nesta quinta-feira, ao ser questionado sobre as declarações do presidente, o secretário de Imprensa do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou que essa é mesmo a linha atual do governo russo.— Em momentos difíceis, muitas pessoas mostram suas verdadeiras cores. Muitas pessoas estão se revelando, como dizemos em russo, traidores — disse Peskov, em entrevista coletiva.

domingo, 13 de março de 2022

O que documentos inéditos sobre a vacina da Pfizer revelam sobre seus riscos - Gazeta do Povo

Eli Vieira

“Como se tornou o padrão”, diz de forma resignada o juiz americano Mark T. Pittman em sua decisão de janeiro, “as partes não conseguiram concordar com uma agenda de produção [de documentos] mutuamente aceitável”. 
As partes são a Administração de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA) e a organização sem fins lucrativos Profissionais da Saúde Pública e Médicos pela Transparência (PHMPT). A última forçou a primeira, via Lei de Acesso à Informação do país, a liberar documentos a respeito dos trâmites que levaram à aprovação da Comirnaty, vacina de mRNA da Pfizer-BioNTech. O processo começou em setembro de 2021.

Vacina da Pfizer
Vacina da Pfizer: documento traz informações inéditas| Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS

A FDA foi condenada pelo juiz a tornar públicas 300 mil páginas dos documentos, começando com a liberação imediata de 12 mil, seguida de 55 mil páginas por mês. Antes, em novembro, a agência havia proposto liberar os documentos no ritmo de 500 páginas por mês. Isso significa que a liberação completa levaria 55 anos ou mais. A justificativa para esse plano intergeracional é que somente dez funcionários cuidam dessa tarefa, e que já estavam ocupados com 400 outros pedidos de informação via lei de acesso à informação. É preciso, por exemplo, anonimizar pacientes nos documentos. Mas o juiz não se convenceu.

O juiz mandou que a ONG e a agência publiquem um relatório de progresso no dia 1º de abril. A primeira leva de 55 mil páginas foi liberada no dia 1º de março, perdendo atenção nas notícias para a situação na Ucrânia. A ONG reclamante selecionou 150 arquivos, equivalentes a 500 páginas (menos de 0,2% do total) e os disponibilizou em seu site.  A Gazeta do Povo traz abaixo uma seleção das informações contidas nesses documentos, com explicações e pontos de cautela.

BMJ x Facebook
Um documento traz informações previamente confidenciais de 191 locais em que foram realizados os estudos da vacina, e o pesquisador responsável por cada um.  
A grande maioria é nos Estados Unidos, mas também foram envolvidos África do Sul, Alemanha, Argentina, Turquia e inclusive o Brasil. Alguns pesquisadores ficaram responsáveis por mais de um centro. Por exemplo, a pesquisadora Laura Hammit, da Universidade Johns Hopkins, ficou com nove centros
No Brasil dois locais foram envolvidos: Cristiano Zerbini cuidou do estudo no CEPIC (Centro Paulista de Investigação Clínica e Serviços Médicos Ltda.), em São Paulo; e Edson Moreira da Fiocruz conduziu o estudo no Hospital Santo Antônio e Associação Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador.

Estão listados também quatro locais em que o estudo foi conduzido pela subcontratada Ventavia Research Group, de onde veio uma denúncia de más práticas de pesquisa pela ex-funcionária Brook Jackson publicada em novembro de 2021 na revista científica British Medical Journal (BMJ). Brook Jackson tem experiência de 18 anos em ensaios clínicos e tinha posição imediatamente abaixo de CEO na Ventavia, supervisionando a obediência da empresa às leis, regulamentos e protocolos científicos.

A publicação da BMJ foi rotulada no Facebook como “sem contexto” pela agência de checagem de fatos Lead Stories. Seguiu-se uma disputa pública entre a agência e a revista. Jackson no momento está processando a Ventavia e a Pfizer em um tribunal do Texas que liberou no mês passado um documento dos trâmites do processo.

A ex-auditora clínica alega ter observado diariamente “fabricação e falsificação de informações em amostras de sangue, sinais vitais, assinaturas e outros dados essenciais” do estudo local, acusa a Ventavia de ter incluído participantes ilegítimos, incluindo familiares, de ter mantido o imunizante em temperatura inadequada, entre outras más práticas. Importante lembrar que somente 2% dos locais de teste foram administrados pela Ventavia.

Engolir moeda, ser atingido por um raio: eventos adversos?
Particularmente interessante é o documento de título “Análise Cumulativa de Relatos de Eventos Adversos Pós-Autorização da [Comirnaty] recebidos até 28 de fevereiro de 2021”. As primeiras doses do imunizante foram autorizadas para armazenamento em 1º de dezembro de 2020, e para uso emergencial dez dias depois nos Estados Unidos. A aprovação completa veio quase um ano depois, em 21 de agosto de 2021. Portanto, os dados incluídos neste relatório vão até seis meses antes da aprovação completa da vacina da Pfizer.

A análise cumulativa foi produzida em resposta a uma requisição da FDA por um plano de farmacovigilância, como a introdução do documento mostra. Antes de discutir os resultados, é muito importante que fique clara a diferença entre evento adverso e efeito colateral.  
Evento adverso é quase literalmente qualquer coisa negativa que possa acontecer com um participante de um estudo clínico como o desenvolvimento da vacina.
 
Em um documento similar a respeito da segurança da vacina da Pfizer para crianças, disponível no site da FDA, é listado como evento adverso, por exemplo, o caso de uma criança que engoliu uma moeda (p. 45)
Já outro relatório a respeito da vacina de mRNA da concorrente Moderna lista como evento adverso sério o caso de uma pessoa idosa que foi atingida por um raio (p. 54). Ninguém em sã consciência pensaria que esses seriam efeitos de ter tomado as vacinas. A palavra efeito implica relação de causa e consequência.
 
Sabemos que a miocardite em homens jovens a uma taxa de 10 a 20 por 100 mil é um provável efeito da vacina da Pfizer. Mas isso é porque foram feitas mais investigações para ligar o evento adverso a este fator. 
É por cautela que os pesquisadores incluem todo tipo de evento adverso não só daqueles pacientes que receberam a vacina como também dos que não receberam e são do grupo controle (que não recebe nada) ou placebo (que recebe algo inócuo sem saber se é a vacina ou não). Inicialmente ao menos, os pesquisadores também não sabem quem recebeu a vacina ou não (a falta de anonimização de participantes foi um dos defeitos alegados por Brook Johnson no caso dos testes locais da Ventavia)
Além disso, ao coletar eventos adversos ativamente ou passivamente, os pesquisadores também não sabem se um evento adverso como, digamos, derrame cerebral é comparável ao caso de engolir moeda ou ser atingido por um raio, ou se é mais parecido com a miocardite masculina jovem.

Por isso, aqueles que estão usando a liberação desses documentos para alegar ou insinuar que todos os eventos adversos listados na análise cumulativa foram causados pela vacina da Pfizer estão fazendo desinformação, de forma consciente ou não.

Resultados da análise cumulativa até fevereiro de 2021
Ao atender ao pedido judicial por informação, a FDA removeu do relatório da análise cumulativa o número total de doses entregues ao redor do mundo (p. 6), mas informa que há 42 mil relatos de eventos adversos, 2% dos quais são mortes. A remoção das informações é feita com uma tarja cinza com um código em cor preta que vem da lei americana e significa que foi ocultada uma informação sensível. Pode ser sensível para o governo federal, ou uma informação comercialmente sensível para a fabricante da vacina.

Por exemplo, é ocultado o número de novos funcionários que a Pfizer contratou em tempo integral na época para lidar com os relatos de eventos adversos, que é informação privilegiada a respeito da empresa, assim como o número de funcionários que ela planejava contratar até junho de 2021. A FDA não existe para prejudicar comercialmente a Pfizer, mas para regular seu trabalho e monitorar a segurança de seus produtos. No entanto, a remoção da informação do número total de doses tem o efeito de dificultar o cálculo da incidência de cada tipo de evento adverso por dose.

Fica evidente a inadequação dos relatos de eventos adversos para fazer conclusões causais quando se analisa os 42 mil casos. Por exemplo, 71% dos relatos são a respeito de mulheres, contra 22% dos homens (o resto não tem informação de sexo). Isso não está de acordo com um dos efeitos adversos preocupantes mais bem conhecidos, que acontece mais em homens jovens. Uma hipótese que explica isso melhor é que as mulheres são mais propensas que os homens a buscar ajuda médica, são mais avessas a correr riscos. Isso exemplifica como os relatos têm ruídos de influências diversas que nada têm a ver com a real incidência de reais efeitos colaterais. No entanto, mais pessoas do grupo dos vacinados tiveram eventos adversos comparadas às do grupo placebo. A febre severa foi 14 vezes mais comum entre vacinados, por exemplo.

O tema central de muitos dos documentos liberados é justamente os efeitos adversos cobertos pela análise cumulativa de um ano atrás. Ela já está desatualizada. Temos análises envolvendo mais pessoas, com mais rigor. Uma delas, organizada por um consórcio de planos de saúde, foi publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), com a primeira autoria de Nicola Klein, do Centro de Estudos de Vacinas do plano de saúde Kaiser Permanente. O estudo monitorou semanalmente os eventos adversos em 6,2 milhões de pacientes com duas doses cada até junho de 2021, ultrapassando a cobertura de tempo da análise cumulativa da Pfizer. Aproximadamente metade desses receberam a vacina da Pfizer, metade recebeu a vacina da Moderna, também de mRNA.

Os cientistas dos planos de saúde investigaram por teste estatístico se os eventos adversos observados nos vacinados estão acima dos níveis esperados. A inflamação do coração e em seu revestimento foi observada em 34 casos, 85% deles em homens jovens.  
Esse evento esteve acima do esperado para a população em geral, o que sabemos de outros estudos, pois essa inflamação, além de ser evento adverso, é também efeito colateral
Consistentemente com outros estudos, foi leve e passou rápido na maioria dos casos. Nenhum outro evento adverso esteve mais presente entre vacinados que na população em geral.

Mais informações liberadas por via judicial

Apesar de ser uma pequena fração do que está por vir nas 55 mil páginas de informações a serem liberadas mensalmente pela FDA a respeito da vacina da Pfizer/BioNTech, já há muita informação nos 150 arquivos liberados. A principal informação é a do relatório da análise cumulativa, em torno dos quais muitos outros arquivos orbitam, sendo dados brutos. Há mais coisa digna de menção neste comentário inicial.

Na defesa da Comirnaty, especialmente contra críticas exageradas, alguns podem ser tentados a alegar que o uso pretendido da vacina é o que ela está entregando agora: diminuir o risco de um quadro de covid mais grave. Os documentos mostram que isso não é verdade e a vacina foi apresentada à FDA como “imunização ativa para prevenir a doença de coronavírus 2019 (COVID-19)”. Prevenir a doença é diferente de prevenir um pior quadro dela.

Os documentos mostram que a Pfizer já sabia, através dos modelos animais, que mais doses intensificavam efeitos adversos: “A incidência e severidade das reações foi maior depois da segunda ou terceira injeções comparadas à primeira injeção. A maioria dos animais tiveram um edema muito tênue depois da primeira dose. Depois da segunda ou terceira dose, a severidade do edema aumentou para grau moderado ou, raramente, severo.” Também é revelado que a fabricante sabia do rápido decaimento da proteção vacinal.

É confirmado pelos arquivos que o imunizante não fica no local da aplicação e se espalha pelo corpo, como já havia sido sugerido pela Agência Europeia de Medicamentos e por um relatório japonês que vazou. As nanopartículas de mRNA são encontradas em pequenas quantidades nos ovários, no baço e 16% ficam no fígado após 48 horas da injeção.

Estamos só no começo da jornada de saber o que houve nos bastidores da FDA quando a Pfizer fez seu pedido de licença para a vacina Comirnaty. Porém, como no caso do relatório da análise cumulativa de eventos adversos, muita cautela deve ser usada na hora da interpretação da novidade das informações. Circular uma lista de mais de mil eventos adversos listados no relatório como se fossem todos conhecidos como efeitos colaterais é, de fato, desinformação.

Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo - Ideias 


quarta-feira, 2 de março de 2022

Direto de Lviv, Ucrânia: a bordo do trem de guerra

Luis Kawaguti -  VOZES
 
Refugiados, jornalistas e soldados voluntários comem Kotelet (frango empanado) com kapusta (salada de repolho) em um restaurante cheio, um dos únicos abertos após às 22h no centro da pequena cidade de Przemysl, fronteira da Polônia com a Ucrânia. A poucos metros dali, centenas de refugiados ucranianos tentam encontrar espaço nos salões da estação de trem, que liga a cidade polonesa a Lviv, na Ucrânia.

Refugiados ucranianos na estação de trem que liga a cidade polonesa de Przemysl a Lviv, na Ucrânia
Refugiados ucranianos na estação de trem que liga a cidade polonesa de Przemysl a Lviv, na Ucrânia -  Foto: Luis Kawaguti

Um soldado voluntário me chama em português e começamos a conversar. Ele é Iwen Puddo, um ex-paraquedista das forças armadas de Portugal, residente na Alemanha. Ele vendeu sua moto e outros pertences para poder ir lutar na Ucrânia contra o presidente russo Vladimir Putin.

Após o jantar, andamos juntos pela praça até chegar à estação de trem, onde centenas se espremem nos ambientes de janelas e candelabros neo-barrocos. Do lado de fora do prédio está três graus abaixo de zero. Ninguém quer ficar exposto à madrugada congelante. Iwen diz a um voluntário polonês que precisa de um lugar para dormir, pois está viajando há dois dias e quer lutar na Ucrânia. Mulheres, crianças e soldados voluntários têm acesso a uma sala um pouco menos cheia que os demais para passar a noite.

Há carrinhos de supermercado cheios de roupas e sacos de dormir, doados pela comunidade. Quando Iwen começa a selecionar um saco de dormir, o voluntário polonês encarregado de ajudar a multidão diz em inglês com acento britânico:“Não, esses aí são para quem está indo embora, combatentes precisam disso aqui”. Ele oferece a Iwen um robusto saco de dormir militar polonês. “Você pode ficar com ele. Espere aqui que eu vou arrumar um bom lugar para você dormir”.

Questionado se também sou soldado, digo que sou jornalista e acabo recebendo a atenção de quem está entrando na Ucrânia por opção. Em um corredor onde montamos nossas acomodações, o voluntário polonês conversa com uma família ucraniana. “Não entrem no próximo trem, vocês vão pegar outro trem até uma cidade próxima da Alemanha. Lá terão acesso a um hotel gratuito ainda na Polônia. Podem ficar o tempo que quiserem, semanas se precisarem. Depois é só cruzar a fronteira e entrar na Alemanha.”

Fronteiras abertas
Até o ano passado, a postura da Polônia era completamente diferente. O presidente Alexander Lukashenko, da Bielorússia, convidou para seu país milhares de refugiados do Oriente Médio e prometeu a eles que poderiam cruzar a fronteira polonesa tranquilamente e chegar na União Europeia. Sua intenção, segundo disseram na época os líderes europeus, era inundar o continente com ondas de refugiados para desestabilizar politicamente o bloco. A Polônia mandou milhares de militares para a fronteira para tentar impedir a entrada ilegal dos imigrantes.

Para entrar na Polônia ou em qualquer país da União Europeia, os refugiados precisavam passar por processos de qualificação que não costumavam ser rápidos. Mas isso não é mais assim. Desde a semana passada, as fronteiras da Europa se abriram para os refugiados da guerra na Ucrânia. Na estação de Przemysl, o vai e vem de pessoas não para durante a madrugada. Acordo às 3h com o anúncio da partida de um trem para a Cracóvia (Polônia). A maioria dos refugiados é colocada nele. O local esvazia um pouco e temos que mudar para um salão próximo, para que o corredor em que estávamos seja limpo.

Não consigo mais dormir. A maioria das pessoas no salão são mulheres e crianças. Também há grupos de estudantes de origem africana. Percebo um ruído baixo e sem fim de conversas, mas as pessoas são muito contidas. Ninguém ri ou se queixa em voz alta. Apenas algumas crianças correm e falam alto. Todos estão bem vestidos e aparentam cansaço. Voluntários distribuem sopa, pão e frutas. As crianças ganham bichos de pelúcia ou carrinhos, tirados por policiais poloneses de uma grande pilha de doações.

Aliás, há aglomeração das pessoas e distribuição de alimentos, mas não porque os refugiados não possam pagar. Os hotéis e restaurantes da cidade não comportam todos. São milhares de pessoas, ao menos 50 mil por dia cruzando a fronteira polonesa neste e em outros sete pontos. As pessoas também não estão aqui para uma vida com maiores oportunidades. Elas querem salvar seus filhos dos ferozes bombardeios russos, mas depois desejam voltar para suas casas.

Me ocorre um pensamento: a guerra absoluta, termo criado pelo autor prussiano Clausewitz para descrever uma situação onde o conflito não é mais refreado por política ou travas morais, parece estar de volta à Europa. Esses refugiados são a prova disso.

Melhor ficarem com as janelas fechadas"
É manhã na estação de Przemysl. Após tomar uma sopa de tomate, me dirijo na companhia do soldado português para um pequeno prédio, onde ficam as autoridades de fronteira, a fim de pagar um trem para Lviv.Uma mulher com duas crianças avisa que temos que ter cuidado. O trem em que ela chegara há poucas horas foi atingido por tiros e duas pessoas morreram. Não consigo confirmar a informação, mas o impacto moral já está feito.

Iwen conversa com militares poloneses perto do posto de fronteira. Quando eles entendem que ele é um soldado voluntário ficam alegres, o saúdam muito e dizem: “Vocês estão no lugar errado, é só ir até a plataforma 3 e embarcar no trem ‘não oficial’. Vocês não precisam de passagem, é só mostrar seus documentos”, diz um deles.

Costumo dizer aos amigos não familiarizados com a Polônia que, mesmo antes da guerra, basta ficar cinco minutos no país para sentir o ressentimento em relação aos russos — que definitivamente não acabou com o fim da dominação soviética. Já no trem, uma oficial de imigração polonesa pede nossos documentos e diz: “Melhor ficarem com as janelas fechadas”. Antes do sinal de internet do meu chip polonês sumir, vejo um alerta de notícias da BBC dizendo que Putin havia mandado suas tropas atacarem alvos indiscriminadamente. A guerra absoluta…

Região importante estrategicamente
O trem segue seu caminho e as pessoas estão em silêncio, ouço apenas cochichos na cabine vizinha e o ronco do soldado português. Abro um pouco a janela e vejo plantações de trigo, pequenas lagoas congeladas e uma trincheira, de onde pende uma bandeira ucraniana. A maioria dos passageiros do nosso vagão parecem ser soldados voluntários como Iwen. Não da Brigada Internacional que o presidente Volodymyr Zelensky prometeu formar. Mas ucranianos comuns, que deixaram mulheres, filhos, pais e namoradas em segurança no solo polonês e retornam para defender sua pátria.

Fico pensando em cenários de guerra. Lviv é a principal cidade do oeste da Ucrânia. Há dois dias surgiram rumores de que uma tropa de paraquedistas russos foi lançada nas proximidades. Também lembro que havia uma grande unidade de tropas russas na Bielorússia, cerca de 100 quilômetros ao norte.

Os russos podem tentar impedir que os ucranianos recebam doações de armas nesta região. Foram prometidos mísseis antiaéreos stinger e drones de ataque. Quem controla o espaço aéreo são os russos, então essas armas vão ter que entrar por terra, possivelmente aqui pela fronteira com a Polônia. Isso torna a região importante estrategicamente e podem haver ataques para impedir a entrega das armas.

“Eu vim aqui para lutar"
O trem para já em território ucraniano e duas militares sobem para pegar documentos. Meu passaporte é carimbado. Iwen tem só uma carteira de identidade e isso parece não satisfazer as fiscais ucranianas. “Eu vim aqui para lutar, Putin está acabando com o país de vocês. Eu vendi tudo que eu tinha para vir e talvez não saia da Ucrânia. Não quero ser mandado para casa como um cachorro”, diz.

As militares, que aparentam ter pouco mais de vinte anos, se mostram comovidas e pedem que ele as acompanhe. Ele volta feliz, cerca de 30 minutos depois, dizendo: “tudo certo, só avisaram a embaixada do meu país. Perguntei onde posso conseguir armas. Elas riram e disseram que eu vou ter o que quiser”, diz.

O procedimento oficial seria comunicar a Ucrânia da intenção de lutar por meio de uma embaixada. Mas, na guerra dá-se um jeito.  O trem pára na estação final em Lviv e poucas pessoas desembarcam. Estamos deixando a plataforma principal quando sirenes distantes começam a soar. Os alto-falantes da estação de trem mandam milhares de passageiros, que esperam para embarcar para a Polônia, procurem abrigo nos túneis da estação, pois um ataque aéreo é iminente.

Há corre corre na estação, mas nas ruas nem todos parecem se importar. Enquanto alguns tentam entrar na estação, outros continuam seus afazeres. Minutos depois o alarme volta a soar, mas não há ataque aéreo. Ele pode ter sido disparado pela aproximação de aeronaves inimigas, que deviam ter outro objetivo. São as tensões da guerra. 

Luis Kawaguti, colunista - Gazeta do Povo - VOZES