Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Bolívia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bolívia. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Vendavais ao sul da América - Fernando Gabeira

Os ventos que sopram na Bolívia e no Chile são surpreendentes para quem se detém apenas em números de crescimento econômico. Tento entendê-los com minhas lembranças antigas e os dois últimos trabalhos que fiz nesses países. E algumas leituras.  Na Bolívia cobri para o Estadão uma crise singular no governo Evo Morales. Um choque com sua própria base de sustentação. O tema era a estrada Atlântico-Pacífico, financiada pelo Brasil. Ela iria atravessar um território indígena e houve grande reação. Cruzaria não apenas o território indígena, mas também o Parque Nacional Isiboro-Secure.

Mas ao longo desse tempo a política econômica de Evo Morales conseguiu grandes índices de crescimento e reduziu a pobreza, incluída a extrema pobreza. A política ambiental nunca foi muito bem. Lagos secando e um tratamento leviano com as queimadas, que acabaram se tornando um drama nacional neste ano. Quando vejo o desenrolar da experiência do Movimento ao Socialismo, acabo suspeitando de que as variáveis econômicas e ambientais foram secundárias como estopim. O nó estava na política, na vontade de Evo Morales se perpetuar no poder. A Constituição não permitia. Ele fez um referendo em 21 de fevereiro de 2016. Perdeu e, em seguida, ganhou no tapetão da Justiça Eleitoral e da Suprema Corte. Isso ficou engasgado na garganta dos eleitores.

Baseio-me no relato de repórteres que cobriram a campanha de Evo. Registraram gritos de “o povo disse não” quando ele passava.  Vieram as eleições, a súbita suspensão das apurações, laudo da OEA denunciando irregularidades. Quando Evo aceitou uma nova eleição, era tarde. A polícia já havia cruzado os braços, o Exército pediu sua renúncia, como o fez com Sánchez de Lozada no passado. Lembro-me, no exílio, de que a Bolívia representava para nós um símbolo de instabilidade. Quando os bolivianos voltaram um pouco antes de nós para seu país de origem, costumávamos brincar: levem o carnê mensal do metrô, pois podem ter de voltar antes do fim do mês.

Agora é com tristeza que vejo o país mergulhar de novo na instabilidade. Alguns temas do passado afloram de novo, como a tensão entre brancos e indígenas, com lances racistas e violência nas ruas. Apoiadores de Evo Morales achavam que ele era o único capaz de unir um país dividido. Não o foi para sempre. E certamente perdeu essa condição no referendo. A outra parte se sentiu lograda, daí os gritos de “não somos imbecis!” nas manifestações.

Fui ao Chile, também pelo Estadão, para cobrir uma revolta estudantil. Uma das muitas, mas essa mais longa. Também com base nessa experiência, compreendi como era importante para os chilenos uma educação gratuita de qualidade. Apesar dos arroubos da juventude, o movimento estudantil tinha o apoio de grande parte da sociedade. Quando ouço dizer que o Brasil terá algo como no Chile, a primeira coisa que me vem à mente é a diferença entre os movimentos estudantis chileno e brasileiro. E ainda há a precária situação dos aposentados.

Não quero dizer que o Brasil não tenha problemas, apenas que são situações diferentes. No Chile houve uma fermentação na sociedade e uma revolta, guardados proporções e contextos, com características parecidas com o que aconteceu no Brasil em 2013.  Isso é o que me leva a afirmar como é vazia essa discussão sobre exortar os brasileiros a se rebelarem como no Chile e as ameaças de Lei de Segurança Nacional, AI-5 e outras maneiras de endurecer. Na minha opinião, tanto o líder que conclama como os que o ameaçam com a punição trabalham com a falsa ideia de que esses movimentos nascem de cima para baixo, não dependem de uma voz de comando nem mesmo do sistema partidário.

Na minha opinião, repito a fórmula, porque não quero envolver ninguém nessa fórmula, os ventos que sacodem a América do Sul refletem um grave desequilíbrio, que, por sua vez, nasce em algo maior: as ilusões do socialismo e do liberalismo.  O modelo econômico boliviano começava a declinar, o déficit subia, era evidente a necessidade de um reajuste que vai abalar a taxa de investimento. No caso chileno, uma visão radical do liberalismo com pouca sensibilidade social. Em governos de esquerda como o da Venezuela, uma irracionalidade econômica gritante.
Integrar racionalidade econômica e sensibilidade social e ambiental é um desafio. 

Mesmo porque é um programa aparentemente modesto, poucas chances de empolgar as massas ou produzir um líder popular. Mas a julgar pela experiência de outros países, como Portugal, com toda a sua modéstia, a coisa parece funcionar.
Aqui a cena está dominada por sonhadores, glorificando o Estado ou o mercado com ideias acabadas sobre nosso futuro, quase sempre incomodados com a democracia quando ela entra em choque com seus sonhos. Vivemos muito nessa atmosfera onírica. Acontece um desastre, discutimos se o óleo é de esquerda ou de direita, em vez de conjugar esforços nas ações de emergência.

Um caminho que talvez nos ajudasse seria examinar, de forma mais profunda do que fiz aqui, os erros e acertos que levaram às crises da Bolívia e do Chile. Mas como fazer isso, se os lados já têm uma explicação antecipada para os fatos? Já tentei me aproximar disso no passado, imaginando os bolcheviques derrotados em Paris culpando seus adversários ou os alemães reclamando que o Muro de Berlim não caiu porque os comunistas não deixaram. Apesar de todas as porradas que vêm dos extremos, o esforço para entender ainda anima muita gente. Dizem que a fé move montanhas, mas para quem tem expectativas mais modestas não há saída exceto analisar com alguma frieza, reconhecendo que, ao menos na nossa América, a realidade costuma atropelar os sonhos.
Bolívia e Chile nos passam uma complexa lição de casa. É preciso decifrá-la antes que nos devore.

Blog do Gabeira -  Fernando Gabeira, jornalista
 
Artigo publicado no Estadão em 15/11/2019




terça-feira, 12 de novembro de 2019

Fogo no circo - O Estado de S.Paulo

Eliane Cantanhêde

A polarização do Brasil extrapola fronteiras e incendeia a região

A Bolívia ia bem à esquerda, o Chile era um exemplo na centro-direita e, de repente, os dois regimes implodem, com o povo na rua, a oposição fortalecida, os governos acuados. O que há em comum entre eles? A insatisfação crônica da sociedade, que agora usa o poder das redes sociais e cria falsos mitos para por fogo no circo.   Foi-se o tempo dos movimentos que se alastravam em ondas e na mesma direção na América do Sul. Hoje é de cada um por si, com eleições incertas no Uruguai, a volta do nefasto kirchnerismo na Argentina e protestos grandiosos no Chile, Bolívia, Equador e Peru. Sem falar na estraçalhada Venezuela.

O mundo abriu os olhos. E, quando se olha para a América do Sul, depara-se com o Brasil, o maior, mais rico e mais populoso país da região, o que costumava dar as cartas e agora vive suas próprias tensões internas, sujeito aos reflexos das crises ao redor. Aqui também se dá, como nos vizinhos, mas sem confrontos de rua, tiros e mortes, o grande embate entre a velha esquerda e a nova direita, entre o populismo de Lula e um Bolsonaro que tenta se equilibrar entre o seu reacionarismo e o neoliberalismo de Paulo Guedes.

Os 13 anos de Evo Morales na Bolívia trouxeram desenvolvimento e inclusão social. Enquanto o Brasil passou por dois anos seguidos de recessão e patinou em 1% de crescimento ao ano, a pequena Bolívia, país mais pobre da região, atingiu a média de 4,9%. E, se o Brasil atravessa governos e regimes à direita e à esquerda sem efetiva inclusão social, organismos internacionais atestam que a Bolívia reduziu a miséria à metade. [por favor, considerem que a Bolívia tem uma população pouco acima dos 10.000.000 de habitantes, número inferior ao total de desempregados no Brasil.]

Então, o que deu errado? O grande erro de Evo Morales, o mais pragmático dos “bolivarianos”, foi institucional. Foi a crença de que só ele é capaz de “salvar” o país. Foi assim, seguindo os passos de Hugo Chávez, que ele driblou a decisão popular contra um quarto mandato e ganhou num Judiciário amigão o direito de concorrer. Daí à denúncia de fraude foi um pulo. [oportuno ter presente que o Brasil, diante da generosidade do STF, tem um condenado, temporariamente em liberdade, que também se julga capaz de salvar não apenas o Brasil e,  sim todo o UNIVERSO - pior, tem alguns milhares de pessoas, número com viés de queda,  - que acreditam nele.]

A sociedade reagiu dando palanque para os líderes de oposição e pedindo a interferência ainda velada das Forças Armadas. Mas a guinada começa mal. Além do gesto da renúncia, Morales pediu aos adversários que pacifiquem a nação, mas o oposicionista Luís Camacho radicalizou, exigindo a prisão dele e seus aliados. Para que? Se Morales, o vice, o governo e a cadeia sucessória ruíram por inteiro, isso só serve para acirrar os ânimos. Vitoriosos devem ter grandeza.

No Chile, como já explorado, a questão não foi política e social, na medida em que os indicadores iam bem, mas o povo ia mal. Diz-se que quem tem fome tem pressa. E quem está na base da pirâmide grita que as fórmulas de crescimento não estão gerando igualdade e inclusão.   Os ingredientes e as palavras de ordem já pipocavam no Brasil e emergem com força quando Lula sai da cadeia atacando os três pilares do governo: Bolsonaro, Guedes e Moro. O governo contra-ataca com uma arma válida contra Cristina Kirchner na Argentina, mas é acessória no Chile e na Bolívia: o combate à corrupção. Lula acusa o regime Bolsonaro de antipovo, Bolsonaro e Moro martelam que Lula é “condenado” e “criminoso”. [o criminoso petista usa uma ideia - aliás, ele próprio se considera um ideia - para acusar o governo Bolsonaro, já Moro e Bolsonaro apontam um fato: o condenado não foi inocentado, as sentenças continuam válidas - uma delas corroborada pelo STJ - e os demais processos penais contra o nefasto líder petista continuam válidos e em curso, e todos os crimes estão sobre as costas do sentenciado petista.]

Não se trata de um debate sobre o que é melhor para o País e para todos, mas uma guerra de acusações e de desconstrução de adversários, em que vale tudo, principalmente o jogo sujo das fake news. Isso piora muito porque Lula precisa de Bolsonaro para reanimar sua tropa e Bolsonaro usa Lula para reaglutinar o bolsonarismo.   A reunião dos Brics começa hoje em Brasília com a Rússia acusando a direita de ter dado um “golpe” na Bolívia e os investidores pisando no freio. Quem quer investir numa confusão dessas, que vem de fora para dentro, mas encontra campo fértil dentro do próprio Brasil? [O Brasil possui em sua Constituição mecanismos que podem ser utilizados pelo presidente da República pra o pronto restabelecimento da lei e da ordem.]



Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo



domingo, 10 de novembro de 2019

Sob pressão da oposição e dos militares, Evo Morales anuncia renúncia; vice denuncia 'golpe de Estado'

O Globo

[Chefes militares sugerem ao cocalero Morales a renúncia e sugestão é acatada - certas sugestões são irrecusáveis.]

Mais cedo, presidente havia concordado em convocar nova eleição, depois que OEA apontou irregularidades no pleito em que foi reeleito em 20 de outubro

O presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou sua renúncia em pronunciamento pela TV, sob pressão de líderes opositores e dos militares. Renuncio ao meu cargo de presidente para que [Carlos] Mesa e [Luis Fernando] não continuem perseguindo os dirigentes sociais — disse Morales, referindo-se respectivamente ao ex-presidente que ficou em segundo lugar na contestada eleição presidencial de 20 de outubro e ao líder da oposição radical, que comanda o Comitê Cívico do departamento (estado) de Santa Cruz.
Ao lado de Morales, seu vice Álvaro García Linera, que também anunciou sua demissão, afirmou que "o golpe de Estado se consumou". 

Cerca de uma hora antes, o comandante das Forças Armadas da Bolívia, Williams Kalima , "sugeriu" que Morales renunciasse "para pacificar" o país, juntando-se ao coro de líderes opositores que pediam a saída do chefe de Estado. Mais cedo, Morales havia anunciado a convocação de novas eleições, depois que o relatório preliminar de uma auditoria realizada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) apontou irregularidades nas eleições de 20 de outubro, nas quais o presidente foi declarado vencedor no primeiro turno. "Diante da escalada de conflito que o país atravessa, zelando pela vida, a segurança da população, a garantia do império da Constituição Política do Estado, em conformidade com o artigo 20 da Lei Orgânica das Forças Armadas e depois de analisar a situação conflitiva interna, sugerimos ao presidente do Estado que renuncie a seu mandato presidencial, permitindo a pacificação e a manutenção da estabilidade, pelo bem da nossa Bolívia", diz um comunicado  lido por Kalima. "Também pedimos ao povo boliviano e a setores mobilizados que cessem as atitudes de violência e desordem entre irmãos, para não manchar com sangue, dor e luto nossas famílias", continua o texto.

O comandante geral da Polícia, general Vladimir Yuri Calderón, se somou à pressão do chefe militar: "Nos somamos ao pedido do povo boliviano de sugerir ao senhor presidente Evo Morales que apresente sua renúncia para pacificar o povo da Bolívia", declarou.

Enquanto isso, o líder da oposição radical Luis Fernando Camacho , empresário sem cargo eletivo que dirige o Comitê Cívico do departamento (estado) de Santa Cruz e na última semana tomou a frente dos protestos contra Morales, entrou no palácio de governo em La Paz e se fez fotografar ajoelhado diante da bandeira boliviana e de uma Bíblia.

Morales vinha despachando do hangar presidencial da base da Força Aérea em El Alto, cidade vizinha a La Paz, desde sexta-feira, quando policiais se amotinaram e deixaram de fazer a segurança do palácio. Camacho havia pedido a renúncia do presidente e convocado policiais e militares a se amotinarem para depô-lo.

A fuga de Morales ocorreu em meio a uma onda de violência que se intensificou na semana passada, com a radicalização de grupos opositores anti-Morales. Nos últimos dias, houve ataques às casas de dirigentes do Movimento ao Socialismo (MAS), sigla de Morales, incluindo o governador de Oruro, Victor Vásquez; o ministro da Mineração, César Navarro; e o presidente da Assembleia Legislativa Plurinacional, Victor Borda. Os três anunciaram sua renúncia neste domingo para preservar sua integridade física.

O ministro de Hidrocarbonetos, Luis Alberto Sánchez, também anunciou sua renúncia, alegando que "o curso dos acontecimentos vai contra meus princípios pessoais, assim como meus valores espirituais e democráticos, e me impedem, portanto, de continuar na direção da pasta". 

Eleições controversas
Morales, que chegou ao poder em 2006, foi declarado vencedor em primeiro turno das eleições, nas quais concorreu a um controvertido quarto mandato. De acordo com o resultado anunciado pelo Tribunal Supremo Eleitoral, ele teve 47,08% dos votos, contra 36,51% do ex-presidente Carlos Mesa — na Bolívia, para vencer no primeiro turno, são necessários 40% dos votos, com uma diferença de 10 pontos sobre o segundo colocado.

No entanto, a margem pequena para a vitória em primeiro turno e problemas no processo de apuração levaram a oposição a denunciar fraude e a convocar os protestos. Em resposta, o presidente fez um acordo com a OEA para a auditoria dos votos, comprometendo-se a respeitar seu resultado. A organização divulgou o relatório na manhã desta quinta-feira, recomendando a anulação das eleições de outubro após constatar "irregularidades que variam entre muito graves e indícios", gerando questionamentos "sobre a integridade dos resultados". Segundo a OEA, é estatisticamente improvável" que Morales tenha conseguido a diferença de 10 pontos percentuais necessária para evitar um segundo turno.

Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA

Em mau estado - Folha de S. Paulo

Janio de Freitas

Não há Estado de Direito onde o poder militar quer definir o destino judicial

“Lula livre” se insere em momento muito particular da difícil batalha pela democracia na América Latina. O povo chileno explode como uma bomba de retardamento contra a opressão econômica, e inovações justiceiras são inevitáveis. No Equador, o eleitorado traído de Lenín Moreno tomou-lhe as forças e cobra a dívida multissecular.
Na Argentina renasce uma ideia de solidariedade latino-americana contra a sufocação imposta pelas políticas econômicas elitistas. O México reencontra com López Obrador uma concepção de soberania real e sentido de democracia. Esse tabuleiro parecia ter uma casa reservada para Lula, em lugar estratégico.
[IMPORTANTE LEMBRAR:  os quase 60.000.000 de eleitores brasileiros que elegeram JAIR BOLSONARO presidente da República Federativa do Brasil, assim procederam exatamente para evitar que o CAOS, a DESORDEM, a BAGUNÇA, o DESRESPEITO à FAMÍLIA,  aos VALORES MORAIS, à ORDEM e ao IMPÉRIO DA LEI triunfem.
 
Assim, o presidente Bolsonaro tem um mandato outorgado em eleições gerais, livres e democráticas,  para restabelecer os valores citados e combater, usando os meios necessários, tudo que conspire contra a soberania daqueles valores.
O Brasil, sob Bolsonaro, não será um Chile, uma Venezuela, um Equador, Uma Bolívia, etc.]

Até onde permanecerá a liberdade de Lula é a primeira incógnita que sua nova condição propõe. [para evitar eventuais mal entendidos vale enfatizar: nova condição devido o condenado se encontrar, momentaneamente, fora da cadeia.
No mais, sua condição permanece a de CRIMINOSO CONDENADO em dois processos, destacando que em um deles teve a CONDENAÇÃO CONFIRMADA plo STJ.  - SEUS CRIMES CONTINUAM PESANDO SOBRE SUAS COSTAS.]  Não só pela combinação de pendências judiciais e má disposição de parte do Ministério Público e do Judiciário quanto a esses processos, e outros imagináveis.

O bolsonarismo, no Congresso e fora dele, teve uma derrota que afinal lhe contrapõe um obstáculo na paisagem política, até aqui verdejante, da sua perspectiva. Além disso, duas manifestações (duas até a elaboração deste texto) transmitem a contrariedade do segmento militar com a nova situação que também o derrota. A liberdade de Lula tem inimigos ativos. O comentário do vice e general Hamilton Mourão ao restabelecimento do princípio constitucional da presunção de inocência, até que completado o trâmite do processo penal, foi claro na mensagem e no destinatário: “O Estado de Direito é um dos pilares da nossa civilização, assegurando que a lei seja aplicada igualmente a todos, mas hoje, 8 de novembro de 2019, cabe perguntar: onde está o Estado de Direito no Brasil? Ao sabor da política?”.

A resposta é simples: o Estado de Direito está no texto da Constituição. Só nele, em letras. E não em qualquer outra parte mais. Não há Estado de Direito onde um general (Eduardo Villas Bôas) pressiona e intimida a corte suprema do país, contra decisão com eventual benefício a um político preso —por deduzido e improvado crime comum, não por tentativa ou golpe contra a Constituição, como tantos já fizeram aqui tantas vezes. Nem há Estado de Direito onde o mesmo porta-voz, colhido o efeito desejado na primeira investida, volta à mesma pressão intimidatória antes de nova decisão da corte maior.

Não pode haver Estado de Direito onde o poder militar, poder armado, pretende definir o destino judicial e cívico de um político. Não ao sabor da Constituição. “Ao sabor da política?” Não. Ao sabor da força das armas, fornecidas pelo restante da população para a defesa da nação  [missão que abrange defesa dos inimigos externos e internos e atualmente os internos exigem mais atenção, eficiência e presteza na sua neutralização.
O general Eduardo Villas Bôas, ao se manifestar exerceu um direito de cidadão - ou será que no 'estado democrático de direito' citado pelo ilustre colunista, os militares são cidadãos de segunda classe?]  —esta fusão fascinante de povo, Constituição, leis, território, cultura, costumes, história—, e não só do capital privado.

No Estado de Direito em vão procurado pela pergunta acabamos de saber que ao começar o ano já eram 13,5 milhões os miseráveis, 50% a mais sobre os 9 milhões de quatro anos antes. [doze milhões herdados por Temer da desastrada e escarrada ex-presidente Dilma Rousseff.
O mais repugnante dos crimes praticados pela organização criminosa comandada pelo lulopetista é roubarem dos miseráveis.
De cada centavo roubado pela corja lulopetista, uma fração faz falta aos 'miseráveis'.] Diz o levantamento que são pessoas vivendo com menos de R$ 145 por mês. Menos de. Dispõem em média, portanto, no máximo R$ 4,83 por dia. Como comem, essas pessoas? Como se aguentam por todo um dia, por todos os dias, com a miséria de comida a que têm acesso? É insuportável pensar nisso. É insuportável pensar no tratamento dado aos pedintes, no descaso com esses farrapos de vida. Não vivem em Estado de Direito, estão condenados ao estado de miséria.

Bolsonaro proíbe a queima do maquinário de mineradores clandestinos na Amazônia. Já está claro: há um pedido dele para formulação de medida que legalize essa atividade. No Estado de Direito não se legalizaria o crime. Tanto mais por haver indícios fortes de que o controle dessa mineração está em milícias, com policiais e ex-policiais, não sediadas só na Amazônia. É o novo poder em expansão. Contra o direito do Estado e o Estado de Direito. [o maquinário precisa, deve ser conservado para ser utilizado em atividades legais, que podem incluir a exploração legalizada de minérios na Amazônia - exploração realizada de forma sustentável e após ajustes nas reservas de forma a evitar que os índios sejam os maiores latifundiários do Brasil.]

Na sessão do Supremo que reconheceu a Constituição e contrariou os defensores, na dura acusação do decano Celso de Mello, prática “própria de regime autoritário e autocrata”, Dias Toffoli puxou uma rodada de informações e considerações, muito impressionantes, sobre a criminalidade, a impunidade e a situação prisional no Brasil. Mas não precisariam ser todos tão caudalosos. Bastaria lembrar que nem o clamor público, interno e internacional, foi capaz de vencer a barragem entre o assassinato de Marielle e Anderson e o que seria a investigação honesta do crime, seus antecedentes e envolvimentos pessoais: corrupção, milícias, vários crimes, poder, todos vasculhados e revelados.
Sem o Estado de Direito, o que viceja é o Estado de direita. [continuando o trocadilho: o Estado de Direita, endireita o Estado.]
 
Jânio de Freitas, jornalista - O Estado de S. Paulo 
 
 

sábado, 2 de novembro de 2019

Dilemas e conflitos da América do Sul - Míriam Leitão

A América do Sul se debate novamente em protestos e conflitos, em clivagens entre direita e esquerda e, no Brasil, em afrontas à democracia. Na economia da região, o dilema é entre ajuste fiscal e investimentos para a redução da pobreza e da desigualdade, mas o único caminho certo é o que concilia os dois objetivos. Eles são complementares. No Brasil, nesses dias, visitou-se o nosso pior pesadelo pela voz do filho do presidente. A reação das instituições foi tão eloquente quando o silêncio dos militares.

Aqui temos dois problemas. O aperto fiscal erodindo políticas públicas e o pesadelo autoritário que o presidente Jair Bolsonaro e dois dos seus filhos gostam de trazer à tona. Eles não têm o poder de golpear as instituições, mas sim um insistente desejo já manifesto inúmeras vezes. É patológico.  Os militares brasileiros fizeram um longo percurso de recuperação de imagem. Agora suas lideranças envolveram-se numa relação simbiótica com o governo Bolsonaro. É o maior risco reputacional que correm em três décadas. O papel diligente com que têm exercido inúmeras tarefas requeridas pelo poder civil, ao longo dos últimos 34 anos, trouxe-lhes boa imagem. Podem perdê-la nas confusões feitas pelo atual governo, que defende uma ideologia esclerosada e torpe, e entra em confronto com vários grupos sociais ao mesmo tempo.

Os militares da ativa não podem se manifestar politicamente, mas sempre fazem saber seu ponto de vista quando lhes convêm. Os que cercam o presidente Bolsonaro falam claramente, mandam recados ao Supremo e a quem eles pensam ser adversários do atual governo. O silêncio dos militares, da reserva ou da ativa, ficou bem alto nos últimos dias. Uma palavra bastaria para que se soubesse que as saudades da ditadura são sentimentos apenas da família presidencial. Sem essa palavra, fica no ar a ambiguidade. E ela beneficia quem tem tentado intimidar o país.
A questão real que permanece na América do Sul é combater sua enorme desigualdade social. Esquerda e direita democráticas têm reflexões a fazer e pontos a corrigir. A esquerda tende a ver como de direita todas as políticas para ajustar as contas públicas como se o equilíbrio fiscal fosse conservador e condenável.

A famosa frase da ex-presidente Dilma ilustra esse pensamento: “despesa é vida”. Por outro lado, a direita tende a não ter sensibilidade para as enormes distâncias sociais que sempre foram o foco da instabilidade política e econômica da região. Entre disciplina fiscal e gastos sociais com foco nos mais pobres, o melhor é escolher os dois porque só isso tornará o crescimento sustentado e a democracia sólida. Já sabemos, até de tempo recente, que o gasto sem controle produz inflação e crise, o que fere os mais pobres, anulando o efeito das políticas sociais. Também sabemos que sem uma política ativa voltada para os mais pobres a tendência natural é que as transferências públicas favoreçam os mais ricos.

A centro-esquerda governou o Chile muito tempo e, portanto, é parte da herança que explode em revolta contra o governo de Sebastian Piñera, que, por sua vez, usou contra seu povo uma violência desmedida. A Bolívia não pode ficar prisioneira do continuísmo de Evo Morales, nenhuma democracia sobrevive ao quarto mandato do mesmo presidente. Os peronistas cometeram, na última vez que administraram a Argentina, vários erros: gasto descontrolado, intervenção em órgãos que deveriam ter autonomia, populismo tarifário. Voltaram ao poder com as promessas de sempre, mas sem dizer como pretendem enfrentar a inflação alta e a crise cambial. A Venezuela há muito tempo perdeu-se no autoritarismo mais grotesco. 


O Peru foi o mais impactado pela corrupção que o Brasil exportou. Aqui se sabe que a corrupção é duplamente perigosa: desorganiza o país e cria salvadores da pátria que proclamam valores morais que não praticam. Nos últimos dias, em alguns dos países da região, as ruas viveram cenas de revolta. Houve quem tentasse reavivar velhas assombrações. Falsos dilemas têm separado políticas públicas que, se conjugadas, poderiam reduzir o imenso fosso social que sempre mantiveram abertas as veias da América do Sul.

Blog da Míriam Leitão, jornalista - Com Alvaro Gribel - O Globo

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Grupo de Puebla: Nova estrutura substitui o Foro de São Paulo para a retomada do Poder - DefesaNet

Nova Organização da esquerda que substituiu o Foro de São Paulo é montada para coordenar uma Guerra Híbrida Continental

Nova Organização da esquerda que substituiu o Foro de São Paulo é montada para coordenar uma Guerra Híbrida Continental . Na foto sentados Haddad e Mercadante. Foto Grupo de Lima 

Discretamente, 10 dias antes da XXV Reunião do Foro de São Paulo, realizada em Caracas, na cidade de Puebla, México, foi criada a nova organização, que substituiu o carcomido Foro de São Paulo.  Criado em 1990, na cidade de São Paulo, para buscar formas de apoiar financeiramente Cuba, após o debacle Soviético, serviu de base para que a esquerda tomasse o poder na maioria dos países da América Latina, em especial os mais relevantes, incluiu: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Venezuela.

Após a perda do poder na maioria dos países e sem fontes de financiamento, que provinham do Chavismo com os petrodólares da Venezuela e do sistema de corrupção montado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil a esquerda trabalhou uma nova estrutura.

O Relatório Otálvora, publicado neste Sábado (19OUT2019) detalha:

 
“De acordo com sua primeira declaração, o Grupo de Puebla pretende "construir um novo projeto comum, aprendendo com nossos erros e recuperando nossa vocação de maiorias e de governo".

A escolha do local, é icônica pois marca os 40 anos da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (27JAN a 13FEV1979), realizado em Puebla de los Angeles, México.   A Conferência de Puebla teve forte influência do Cardeal Aloisio Loscheider,  arcebispo de Fortaleza, e então presidente da CNBB e também presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano.   A Conferência de Puebla marcou a participação da igreja católica na política da da América Latina nas próximas décadas. Realizado logo início do pontificado de João Paulo II este pouco pode fazer para bloquear o avanço da Teologia da Libertação. A Teologia da Libertação foi banida da Igreja Católica, em 1984.

Entre os fundadores do Grupo de Puebla há políticos da América Latina e da Espanha:

- México - Cuauhtémoc Cárdenas;
- Argentina - Alberto Fernández (atual candidato à presidência), Jorge Taiana e Felipe Solá;
- Chile -  Marco Enríquez-Ominami, Alejandro Navarro e José Miguel Insulza;
- Brasil - Lula da Silva, Dilma Rousseff, Fernando Haddad e Aloizio Mercadante;
- Colômbia - Ernesto Samper e Clara López;
- Paraguai -  Fernando Lugo;
- Equador  - Rafael Correa e Gabriela Rivadeneira;
- República Dominicana - Leonel Fernández, e .
- Espanha José Luis Rodríguez Zapatero,
Para Otálvora, o PT brasileiro, o Kirchnerismo argentino, o correismo equatoriano e os socialistas chilenos são o centro do Grupo de Puebla
.

O pesquisador venezuelano Pedro A. Urruchurtu publicou uma longa thread em sua conta do twitter (@Urruchurtu),  que vale a pena ver, publicamos alguns pontos:

 (...)





- Se pronunciaram contra Duque, contra Bolsonaro, contra Lenín Moreno e tem negado a possível ativação do TIAR no conflito venezuelano. Sua ações vão direto contra o Grupo de Lima e o bloqueio democrático na OEA. Seu fim e extermirnar ambos.

- Debe-se referir a este grupo e também mencionar o Foro de Sao Paulo? Muitos percebem como substituição do Foro e o  rejuvenescimento do mesmo, para preparar o retorno da esquerda ao Poder
 
Aquí o grande diferencial do Grupo de Puebla. É uma organização que está adaptada para agir em todos os campos: publicamente, nas sombras e em especial na mídia. Os recentes “conflitos sociais” no Equador e no Chile já mostram o perfil traçado para a organização.  No Brasil estão alinhadas as tradicionais publicações da esquerda: DCM, Brasil 247 e Carta Capital entre outros. No exterior relevantes: o espanhol El Pais, a bolivariana TeleSur e o sistema Russo de Guerra Hibrida baseado no RT e Sputnik.

Analistas internacionais têm alertado DefesaNet que a Rússia não planeja abandonar e menos ainda mudar o status em relação com o Venezuela.  Portanto “o Grupo de Puebla” será uma engrenagem na máquina de desinformação (Fake News) do Kremlin na região. Ao mesmo tempo introduz na região a GUERRA HÍBRIDA, queiram ou não os militares, o Sistema Brasileiro de Inteligência e a catatônica Escola Superior de Guerra (ESG).

(....)

Qualquer adaptação cabocla de grupos criminais agindo com motivação política seria uma realidade dantesca impossível de ser avaliada.  Fontes policiais do RJ e SP mencionam, que os grupos ligados ao tráfico, chamam a sí mesmo como “tropa” e se portam como “paramilitares”. Funkeiros e MCs adotam o termo em suas composições. Surge também em um campo inédito a Justiça, incluindo o Lawfare, o uso do sistema judicial como arma de guerra poítica e económica. O Grupo de Puebla criou o “Consejo Latinoamericano de Justicia y Democracia” (CLAJUD), para reestabelecer a Justiça Social e o Estado de Direito. O protagonismo do Supremo Tribunal Federal (STF) cumpre atualmente a parte que lhe cabe nesta nova estrutura seguindo as instruções emanadas desde o Grupo de Puebla, via Curitiba.
 

Alberto Fernández, caso eleito presidente na Argentina, será líder do grupo e por isto convocou a próxima reunião em seu país. Assim, retirará a Argentina do Grupo de Puebla, assumirá posições alinhadas ao México e Uruguai no caso da Venezuela e representará a nova esquerda.  Por último como financiar uma organização tão sofisticada e drenadora de recursos como o Grupo de Puebla?

 No ítem 7 Princípios de Ação, da
Declaración de Puebla consta:
“diseñar iniciativas efectivas para acabar con el narcotráfico, brindando seguridad y protección a la ciudadania con políticas que promuevan la integración y la convivencia como base para la paz social.”

O que é evidentemente uma falácia. Logo um dos maiores obstáculos ao “Grupo de Puebla” no momento é o Ministro Sergio Moro. Uma das felizes equações inesperadas e que surpreendeu foi a performance do Ministro Sergio Moro como executivo e coordenador das atividades dos órgãos policiais. Está implodindo as rotas do narcotráfico assim como contrabando e ilícitos. Por isso o CENTRÃO, a imprensa protegida pelo STF e áreas narcotistas do Judiciário necessitam do urgente afastamento do Ministro Sergio Moro.

O atual governo não tem estratégias mínimas para enfrentar ao proposto pelo Grupo de Puebla:
-  Lawfare
-  Guerra Híbrida
-  Guerra Informacional
-  Ações de Gangues criminais organizadas com objetivo político
-  Entorno geográfico hostil politicamnete
-  Manter ruma estratégia frente à Rússia
-  Qual a posição em relação à China

Para a Declaração da Formação do Grupo de Puebla acesse:



Em DefesaNet, leia MATÉRIA COMPLETA

 

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Mensagens que a crise do Chile envia- Editorial


O Globo

Protestos violentos refletem um perigoso mal-estar social, apesar de avanços econômicos

A América do Sul costuma viver em ciclos. Houve o das ditaduras militares, vive-se agora o da bem-vinda redemocratização, em que se revezam governos à direita e à esquerda, com pedigree populista ou não. O importante é que os regimes garantam eleições minimamente livres, o que não acontece na Venezuela. 

Nos últimos meses, têm ocorrido manifestações violentas que denunciam um perigoso mal-estar social. No Peru, a sociedade acompanhou a desarticulação de um ramo do petrolão brasileiro, desvendado pela Lava-Jato, e as ruas serviram de campo de guerra durante um choque institucional entre o Executivo e o Legislativo; no Equador, a violência foi detonada pela revogação de uma só vez de subsídios aos combustíveis, e a Bolívia entrou na lista de crises, com a suspensão da contagem de votos da eleição em que Evo Morales tenta se reeleger pela quarta vez consecutiva. 

[a causa maior dos choques que estão ocorrendo nos países citados, incluindo o Chile, é que todos vem, ou passaram por algum processo, tentativas de consolidação da esquerda e esta contamina qualquer nação, o que exige as providências mais efetivas para a neutralização da esquerda.
A maior parte das nações começam, ainda que de forma gradativa,  a ter governos de direita - o predomínio da esquerda, felizmente sustado - só trouxe mazelas para as nações. A esquerda é um mal, uma erva daninha que tem que ser erradicada. Só assim o mundo entrará em um processo de melhora.
Os conflitos na América Latina não são exceção, apenas estão mostrando em primeiro lugar, o resultado da tragédia que é ser governado pela esquerda.]


O destaque é o Chile, cuja economia tem índices de razoável desenvolvimento. Por exemplo, um PIB per capita de US$ 25.200, contra US$ 16 mil do Brasil (calculados no conceito de “paridade do poder de compra”). Superadas uma hiperinflação e a violenta ditadura militar de Pinochet, o Chile foi conquistando avanços. 

O reajuste de tarifas de transporte público deflagrou a violência em Santiago e em outras cidades. Pela primeira vez desde 90, os militares saíram dos quartéis, agora chamados pelo poder constituído para restabelecer a ordem, dentro do estado de emergência decretado pelo presidente Sebastián Piñera. Também como qualquer outra explosão desse tipo, há causas que fermentam no subsolo social.

No momento, o Chile cresce pouco mais de 3%, abaixo da meta do governo, que é de 5% a 6%, mas, ainda assim, encontra-se em situação bem melhor que o Brasil. Apesar disso, há severas desigualdades na sociedade chilena.  A violência da crise chilena não deve servir para mais do mesmo: acirrar os conflitos entre “direita” e “esquerda”. A América Latina precisa deixar de ser prisioneira do pêndulo entre governantes que destroem as contas públicas em nome do combate à pobreza e os que fazem o necessário ajuste sem preocupações com salvaguardas sociais. 

No momento em que o Brasil executa reformas, deve-se provar que é possível ter responsabilidade fiscal e ao mesmo tempo dar aos mais pobres espaço para ascensão social. O controle da inflação já é uma condição imprescindível para o enfrentamento da pobreza. 

A construção de um projeto que distribua renda e oportunidades depende, porém, do enfrentamento de fortes corporações que atuam nos Três Poderes, para manter privilégios de toda sorte. Os recursos que são desviados por força de lei para esses grupos precisam ser aplicados em infraestrutura, educação, saúde, em setores que melhorem a qualidade de vida de toda a população. E pode ser feito sem populismos.

Editorial - Jornal O Globo, 24 outubro 2019


O ciclo da frustração - William Waack

O Estado de S.Paulo

As crises nos vizinhos sul-americanos têm poderoso e perigoso denominador comum

Não é difícil encontrar um denominador comum para as sucessivas e paralelas crises que tomaram conta (por ordem alfabética) de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela, para ficar apenas com a América do Sul. O “ciclo” atual desses países é o da “era do descontentamento”. Ou da era da frustração, como preferir.
Em seu conjunto, os países desta região só se comparam aos do Oriente Médio quanto ao número de seus habitantes que declaram ter vontade de seguir a vida em outro lugar (no Brasil, alcança a faixa dos 30%; fonte é o Gallup). São os países nos quais existe a mais aguda percepção no planeta de que seus regimes políticos são tomados pela corrupção. E os de mais baixo desempenho econômico na comparação com todas as outras regiões.
Tomados individualmente, cada um desses países teria razões próprias, locais, culturais e históricas para os períodos de crise econômica, turbulência e instabilidade políticas. Mas há algo comum a todos: um sentimento difuso de frustração trazido pela demora em romper a perceptível estagnação que caracteriza um conjunto de nações preso à armadilha da renda média, e cuja distância em relação aos países mais avançados continua praticamente a mesma de uma geração atrás.
A punição a quem está no poder é quase imediata, não importa se de esquerda ou direita. Na Argentina, no Chile ou no Brasil, recentes resultados eleitorais dividem um mesmo pano de fundo: um acentuado desejo de mudança trazido menos pela esperança num futuro melhor e muito mais pela indignação com a corrupção, medo com a criminalidade e profunda desconfiança na capacidade do “sistema” de resolver problemas agudos – “sistema” passa a ser tudo, da administração pública à imprensa, passando (claro) pelo Judiciário. Ganha quem prometer derrotar o “sistema”.

Acabam sendo literalmente catapultados para o centro de decisões figuras de políticos de personalidades e biografias bastante diversas (como são Bolsonaro, Macri e Piñera, para ficar apenas nos casos de Brasil, Argentina e Chile), mas todos herdeiros de contextos políticos caracterizados, de um lado, por ausência de claras maiorias parlamentares. E pela presença, por outro lado, de bem constituídos grupos de interesses e corporações dentro da máquina do Estado (Brasil e Argentina), por delicadas situações fiscais que obrigam os governos a reduzir ou acabar com subsídios em setores como combustíveis ou transporte (Chile), no que acaba sendo entendido como afronta a uma população já atravessando graves dificuldades.
Todos apresentam um quadro muito semelhante de desequilíbrio, concentração e desigualdade de renda. É consideravelmente distinto o apego de faixas da população a postulados ideológicos quando se compara o Chile (onde há um espectro clássico de “social-democracia” versus “democracia cristã”), Argentina (e seu peronismo, que dificilmente encontra comparações) e o Brasil (no qual impera uma maçaroca ideológica). Em geral, porém, parcelas significativas da população, embora não detenham conhecimento exato das respectivas taxas de crescimento de suas economias, têm uma noção clara do fato do prometido futuro tardar tanto a chegar.
A questão, portanto, não é a do “contágio” ao qual vozes do governo brasileiro se referiram quando, finalmente, perceberam a gravidade do que acontece em vizinhos como Argentina e Chile. Muito menos se trata de alguma “conspiração” (o “esquerdista” Evo Morales está sendo contestado assim como os “direitistas” no Chile e Argentina). A questão é levar adiante reformas amplas e profundas que rompam um ciclo de estagnação. Que, ao se transformar em ciclo de frustração, cobra altíssimo preço político.
 
William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Witzel chama violência no Rio de genocídio e diz que vai acionar a ONU

O Globo - Rayanderson Guerra

Em coletiva do Rock in Rio, governador diz que vai pedir providências ao Conselho de Segurança das Nações Unidas

Governador Wilson Witzel em coletiva de imprensa na Cidade do Rock Foto: Pedro Teixeira / O Globo
Governador Wilson Witzel em coletiva de imprensa na Cidade do Rock Foto: Pedro Teixeira / O Globo
O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), disse na tarde deste domingo que pretende pedir a ajuda dos países que integram o Conselho de Segurança da ONU para enfrentar o que chama de "genocídio" que está em curso no estado. Segundo ele, a violência nas comunidades cariocas e no estado é resultado do comércio ilegal de armas e de drogas por traficantes. Segundo o governador, a ONU poderia "retaliar" países como Paraguai, Bolívia e Colômbia, e até determinar o fechamento da fronteira com o Brasil, caso não haja uma política para barrar o tráfico. [governador seu problema está no Rio e o senhor pode e deve resolver - está no bom caminho; 
mas, fechar ou abrir fronteiras internacionais é assunto do Poder Executivo Federal.
 
Em tempo: nada impede o senhor de intensificar o controle das fronteiras estaduais do Rio - entrou alguns metros no território do Rio, o assunto passa a ser estadual e o senhor pode e deve impedir entrada de armas e drogas.
Nada impede que o senhor também controle o que sai e entra dos aeroportos e mesmo do mar - áreas de marinha são de competência federal, mas, no momento em que sai daquela área o assunto passa a ser estadual.
 
E o senhor sabe que pode contar com o apoio do Presidente Bolsonaro.
 
Controle rígido das fronteiras é importante mas, no momento, não há condições logísticas para um controle total e assim fica bem mais fácil o controle das fronteiras interestaduais.] 


Witzel afirmou está trabalhando para diminuir o número de homicídios no estado e que chegou a chamar o ministro da Justiça, Sergio Moro, para juntos apresentarem a situação da violência no Rio à ONU. —  Estamos trabalhando para não acontecer mais ( homicídios ). Todas essas ações: trabalhando para tirar as armas, trabalhando junto às Nações Unidas, levar realmente a causa do genocídio do Rio de Janeiro, que não é o governador — disse. — Eu tentei através do Ministério da Justiça, o ministro Moro, que ele viesse comigo, estou aguardando. Mas, se não vier, nós vamos sozinhos, porque o Rio de Janeiro vai fazer o seu trabalho junto à Organização das Nações Unidas e ao Conselho de Segurança da ONU. Já pedi para entrarem em contato com o Conselho de Segurança da ONU nesta semana para que a eu possa expor o que está acontecendo no Rio de Janeiro e pedir providências junto a esses países.

'Quem tem que ser crucificado é quem vende essas armas'

O governador cita a entrada de contêiners de armas de forma ilegal no Brasil como uma das causas da violência nos morros cariocas e em toda a cidade. Para ele, o Conselho de Segurança da ONU poderia retaliar os países vizinhos "no que diz respeito às armas".

O próprio conselho pode tomar essa decisão: retaliar Paraguai, Bolívia e a Colômbia.  Países que vendem armas para esses países têm que ser proibidos de fazê-lo, sob pena de continuar esse massacre, essa situação sangrenta que vivemos nas comunidades do Rio de Janeiro. E fechar fronteira.
Witzel voltou a defender sua política de segurança e afirmou que "muita gente em volta do Rock in Rio poderia estar morta" caso ele não estivesse fazendo nada. O governador afirmou que a polícia do Rio não deve ser "crucificada" pela violência na cidade:
— Quem tem que ser crucificado, digamos assim, é quem vende essas armas de forma ilícita, passando por países soberanos, para que a comunidade no Rio de Janeiro fique sangrando. O Rio precisa enfrentar de verdade quem está matando os nossos policiais e pessoas inocentes que ficam no meio desta troca de tiros. 

Menina Ágatha
Ao ser questionado se seu governo seria marcado pela morte da menina Ágatha Felix, de 8 anos, atingida por um tiro nas costas quando voltava de um passeio com a mãe, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, Witzel afirmou que a oposição tem usado a morte dela como "palco político": 
— Eu vejo que a oposição perdeu discurso. Eles deveria estar discutindo agora como melhorar a educação, mas nós ( o governo ) estamos fazendo com a educação algo que nunca foi feito, com a saúde algo que nunca foi feito, e com a segurança, a mesma coisa, algo que nunca foi feito. Querer fazer palanque de uma criança, ou de quem quer que seja, como palco de político, é uma indecência da oposição. Quem embarca nessa história... Nós temos que respeitar a diversidade, mas quem embarca nessa história está dando eco a uma política perversa contra algo que está sendo bem feito.

Na sexta-feira, primeiro dia do festival, a cantora Lellê, ex-vocalista do Dream Team do Passinho, interrompeu o show que fazia Espaço Favela para pedir uma salva de palmas para Ágatha. — Eu quero celebrar a vida, não quero celebrar a morte. Vamos agir de forma muito rigorosa contra o tráfico de drogas e armas — respondeu o governador.



O Globo - Cultura

domingo, 15 de setembro de 2019

Sínodo da Amazônia no fogo das polêmicas - Dom Odilo P. Scherer

O Estado de S. Paulo

Não se justifica a suspeita de que a ação da Igreja Católica sirva a interesses estrangeiros

As imagens das queimadas e da fumaça na Amazônia foram amplamente divulgadas nas mídias nacionais e internacionais nas últimas semanas. Além dos preciosos pedaços da floresta tropical destruídos, o fogo também esquentou a cabeça de alguns governantes, a ponto de levar ao nível das ofensas pessoais e de chamuscar relações internacionais. Não é para menos. A maior floresta tropical do mundo, da qual fazem parte nove países da América do Sul, interessa muito a cada um desses países, especialmente ao Brasil, que detém sozinho cerca de 60% desse bioma extraordinariamente pródigo em vida, água e riquezas do subsolo.

Mas os interessados não são apenas esses nove países, prontos a levantar a voz em defesa da sua soberania sobre esses territórios. Muitos outros países estão de olho na Amazônia. Talvez tenha passado pela cabeça de algum governante saudoso dos tempos coloniais a hipótese inaceitável de uma “soberania relativa” dos países amazônicos sobre seus territórios [com certeza um governante teve (ou tem) esse devaneio - que,  se persistir, poderá se tornar na materialização de um pesadelo do sonhador: presidente Macron, da França que mantém uma colônia na América do Sul: Guiana.
Ao ensejo, lembramos que incêndios ocorrem todos os anos na Amazônia, como consequência do clima nessa época.] . Em geral, porém, o mundo está interessado na Amazônia pelo fato de reconhecer que se trata de um bem extraordinário e único, que tem importância para todos os habitantes do nosso planeta.

A preocupação geral diante das ameaças reais de destruição do ecossistema amazônico é compreensível e não se precisaria pôr logo em xeque a soberania nacional. Há interesse no cuidado da Amazônia e os países da área, além de fazerem o possível para cuidar bem da Amazônia, poderiam aceitar a ajuda de outros países dispostos a fazê-lo. E até tirar vantagem desse interesse geral, compartilhando, de alguma forma, o ônus do bom cuidado desse “bem para todos”, sem que se questione a soberania dos países da área.

Até mesmo o Sínodo para a Amazônia, convocado pelo papa Francisco ainda em 2017, acabou na mira dos ânimos mais aquecidos. Esse sínodo é um evento da Igreja Católica com o objetivo de refletir sobre o conjunto da realidade amazônica, envolvendo o homem, o ambiente natural e a missão da própria Igreja na grande Amazônia. Para o sínodo foram convocados os bispos das dioceses amazônicas dos nove países: Brasil, Bolívia, Equador, Peru, Colômbia, Venezuela e as três Guianas. [por tabela a França foi convidada, visto que uma das Guianas, é colônia francesa.]
 
O papa Francisco não é contrário à soberania nacional nem à autodeterminação de nenhum país, nem convoca bispos para tramarem contra os legítimos interesses de cada povo e cada país. Não se justifica a suspeita, levantada no ambiente aquecido das paixões nacionalistas, de que a ação da Igreja Católica na Amazônia sirva a interesses estrangeiros. A esse propósito convém lembrar que os missionários estão nos rincões mais retirados da Região Amazônica desde o século 17 e para lá não foram para escravizar indígenas, levar embora suas riquezas e devastar a natureza. Muito ao contrário, por muito tempo eles foram os únicos a tomar a defesa dos povos originários da Amazônia contra a ganância de quem ameaçava sua liberdade, suas terras e culturas.

Em vez de retirarem navios de riquezas, eles carreavam para a Amazônia recursos humanos e materiais em quantidades nunca calculadas nem alardeadas, cuidando da saúde, da alfabetização e da promoção humana e cultural das populações indígenas e ribeirinhas. Quanto suor, quanto sangue e quantas lágrimas oferecidos de maneira silenciosa e incansável pela dignidade e pelos direitos humanos daquelas populações, longamente esquecidas pela sociedade e pelo Estado! E se no século 18 o marquês de Pombal não tivesse expulsado os jesuítas das missões da Amazônia, o desenvolvimento humano, social e cultural da região estaria bem mais avançado do que se encontra atualmente.

A preocupação da Igreja Católica com a destruição da Amazônia e com os problemas ambientais daí decorrentes não se iniciou com o atual governo do Brasil, como bem recordaram os participantes do encontro preparatório do sínodo da Amazônia, em agosto, em Belém (PA). Em carta divulgada, eles expressaram novamente sua preocupação diante das questões ambientais da Amazônia e das ameaças contra a ação da Igreja naquela região. Recordaram que desde 1952 os bispos da área vêm tomando posição diante desses problemas. Em 1972, o papa Paulo VI fez um forte apelo em favor da Amazônia. “Cristo aponta para a Amazônia”, disse ele, indicando que a Igreja devia inserir-se mais e mais naquela realidade.

Em 1990 os bispos da Amazônia emitiram o documento Em defesa da Amazônia, chamando a atenção para o desastre ecológico iminente, com consequências catastróficas para todo o ecossistema mundial. Os apelos em favor da Amazônia também aparecem no documento final da 5.ª Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizada em Aparecida em 2007: a natureza deve ser protegida contra toda forma de depredação e destruição irracional. Cabe-nos uma responsabilidade moral diante das ameaças à Amazônia (cf. n.ºs 470-475).

No manifesto de Belém, acima referido, os participantes denunciaram mais uma vez o envenenamento de rios e lagos, a poluição do ar com as queimadas, a pesca predatória, a invasão de terras indígenas por mineradoras, garimpos e madeireiras e o comércio ilegal dos produtos da biodiversidade. “Defendemos vigorosamente a Amazônia (…). A soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia é para nós inquestionável. Entendemos, no entanto, e apoiamos a preocupação do mundo inteiro em relação a esse macrobioma, que desempenha uma importantíssima função reguladora do clima planetário.” E concluíram:
“Todas as nações são chamadas a colaborar com os países amazônicos e com as organizações locais empenhadas na preservação da Amazônia, porque dessa macrorregião depende a sobrevivência dos povos e do ecossistema em outras partes do Brasil e do Continente”.


O Estado de S. Paulo - Dom Odilo P. Scherer - Cardeal-Arcebispo de São Paulo

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Crepúsculos precoces - Fernando Gabeira

[ o presidente Bolsonaro se confundiu com os países e incorreu no mesmo erro de Cristiano Ronaldo - craque na bola e perna de pau em matéria de meio ambiente.]


De uma certa forma, tento falar disso há muito tempo: Bolsonaro não tinha noção das forças que enfrenta quando está em jogo o futuro da Amazônia. É algo que acontecia também com seu ministro Onyx Lorenzoni. Ele disse que não iria ver as queimadas na Amazônia porque há coisa mais importante para fazer. Como assim? Pareciam ignorar até mesmo a repercussão internacional dessas queimadas. Grande parte do planeta preocupada com o tema; Onyx subestimava. Por muito menos, nas queimadas de Roraima, ministros se deslocaram para lá. Ver o que estava sendo feito, o que era preciso fazer. [Optamos por começar registrando nossa posição  contra as queimadas - realizadas de forma descontrolada.
Agora enfatizamos que salvo inesperada mudança de rumo, as queimadas não vão produzir o 'escândalo' que grande parte da imprensa e os inimigos do presidente Bolsonara desejam e esperam.

Óbvio que as queimadas devem ocorrer de forma controlada, mas, quem dita o que ocorre no Brasil não são os gringos - o que inclui o ritmo das queimadas.
E os franceses não se destacam pela credibilidade/confiabilidade - o que fizeram com os argentinos da Guerra das Malvinas, na qual venderam mísseis EXOCET para os 'hermanos' e ao mesmo tempo passavam os códigos de controle para os ingleses. Fácil deduzir qual país foi o traidor e qual foi o traído. 
O Macron quis ser o xerife do mundo, mas, não foi aprovado - antes tem  resolver os problemas internos, o que inclui os COLETES AMARELOS.
 
Da mesma forma que o Brasil precisa vender seus produtos agropecuários a outros países estes também precisam comprar do Brasil.
É um jogo complicado - só que é mais fácil enfrentar por algum tempo a falta de dólares, euros, etc do que a falta de comida - especialmente em países em que os que passam fomes são uma minoria.]
Isso numa semana intensa, em que o crepúsculo precoce em São Paulo intrigou a população. Era resultado de queimadas, possivelmente da região de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Mas, de uma certa maneira, realçaram a preocupação com queimadas.

O secretário-geral da ONU se diz preocupado. Macron também se diz preocupado, embora use uma foto antiga e repita o mito da Amazônia pulmão do mundo.
Bolsonaro não inventou as queimadas. Existe uma estação anual do fogo. Mas sabotou muitas formas de combatê-la. Inicialmente, anunciou sua oposição às multas do Ibama, proibiu que fossem destruídos equipamentos clandestinos na mata, questionou os dados do Inpe, demitiu o diretor, rompeu com o Fundo Amazônia, hostilizou a Alemanha e a Noruega. Que, por sinal, financiam a prevenção às queimadas.

O nível de desmatamento sempre aumenta quando diminui a fiscalização. E todos que conhecem um pouco da Amazônia sabem da importância do fator subjetivo. Os desmatadores leem atentamente os sinais do governo. Bolsonaro sinalizou com enérgicas bandeiradas permissivas.  Caminhamos agora para uma grande turbulência. A ideia de refugiar-se no nacionalismo acaba fazendo do Brasil que deseja manter a floresta de pé uma parte da conspiração estrangeira para entregar a Amazônia. Bolsonaro tende à aventura isolacionista. O caminho é reconhecer a importância planetária da Amazônia, conjugar esforços internacionais para preservá-la e valorizá-la pelo conhecimento.

Num programa de TV, o cientista Carlos Nobre mencionou o açaí, um caso de sucesso rendendo por hectare dez vezes mais que a pecuária. Nos Estados Unidos, o açaí virou moda e seu consumo certamente inspira pesquisas para melhorar e encarecer o produto.Há pelo menos 400 plantas amazônicas que poderiam ser desenvolvidas, centenas com propriedades medicinais a serem pesquisadas.
Grandes equívocos ambientais são provocados pela busca da riqueza. A política amazônica do governo é um equívoco provocado pela busca da pobreza. Ameaça destruir a biodiversidade em busca de minério, ignorando que o maior valor está sendo destruído.

Se tudo se desse apenas num espaço da economia, já seria um erro. Diante dos olhos do mundo, o governo Bolsonaro se comporta como um aprendiz de feiticeiro. Inclusive com respostas patéticas. Bolsonaro divulgando vídeo de caça à baleia na Dinamarca e acusando a Noruega. [Bolsonaro incorreu no mesmo erro de Cristiano Ronaldo, craque na bola e perna de pau em matéria de meio ambiente:
- Divulgou fotos de um incêndio no Rio Grande do Sul como se fosse na Amazônia e o Macron divulgou como foto de agora, uma tirada por um fotógrafo falecido em 2002 - mais detalhes, aqui. Aproveite e veja um vídeo do ORLANDO VILLAS BOAS, já falecido, mas um dos maiores especialistas em índios e Amazônia, que mostra as razões do interesse dos que se julgam 'donos do mundo' em tomar posse da Amazônia.
O fato é que a Noruega mata baleias de forma cruel no Ártico, onde também explora petróleo.]  Onyx afirmando que a pressão europeia se deve a interesses econômicos, sobretudo porque a esquerda no Pós-Guerra abraçou a ecologia. 
Macron não é de esquerda; muito menos Angela Merkel. O secretario-geral da ONU?
Desde o princípio, sabia que isso ia ser problemático para o Brasil. Bolsonaro não percebeu que, além das ONGs e dos políticos mundiais, existem milhões no planeta que consideram a Amazônia um bem da Humanidade.

Importante que saibam também que existem brasileiros contra a política de Bolsonaro. Mesmo porque depositam nas costas do brasileiro no exterior um fardo que não é dele. De alguma forma, é preciso mostrar que a visão do governo não é a visão do Brasil. Considerando as condições históricas, a política de Bolsonaro é apenas um desvario. Ela contraria até as forças que o apoiaram, como os setores do agronegócio.
No quartel, ouve-se às vezes o grito “meia-volta, volver”. De um modo geral, vem do oficial superior. Quem vai gritar “meia-volta, volver” para Bolsonaro será uma grande parte da Humanidade. Vamos testar o seu ouvido. Infelizmente, já existe um desgaste para a imagem internacional do pais. É hora de reduzir os danos.

Blog do Gabeira

Artigo publicado no Jornal O Globo em 26/08/2019