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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Rússia envia bombardeiros à Venezuela para exercícios militares

A Rússia enviou dois bombardeios Tu-160, um avião de transporte An-124 e um avião de passageiros Il-62 para participar de manobras militares na Venezuela, cujo governo denuncia constantemente planos dos Estados Unidos para derrubar o regime “socialista” do presidente Nicolás Maduro. 

Cinco dias após um encontro em Moscou entre os presidentes Nicolás Maduro e Vladimir Putin, as quatro aeronaves pousaram no Aeroporto de Maiquetía, na região de Caracas, para exercícios conjuntos cuja duração não foi precisada.  O ministro venezuelano da Defesa, general Vladimir Padrino López, declarou que as manobras visam a garantir a defesa do seu país diante de ameaças externas.

“Devemos dizer ao povo da Venezuela e ao mundo inteiro que assim como estamos cooperando em diversas áreas de desenvolvimento para ambos os povos, também estamos nos preparando para defender a Venezuela até o último palmo quando for necessário”, disse Padrino, ao receber uma centena de pilotos e pessoal russo.
“Vamos fazer isto com nossos amigos porque temos amigos no mundo que defendem as relações respeitosas de equilíbrio, de equilíbrio entre os Estados”, acrescentou. [será que a Rússia tem conhecimento do que o ministro venezuelano está dizendo?
será que concorda e autorizou com a bazófia?
O número de aeronaves russas é insuficiente para provocar tantos arroubos.]

Padrino lembrou que estas aeronaves já estiveram na Venezuela em 2013, mas que agora se trata de uma nova experiência.  O general não detalhou quanto tempo os exercícios vão durar, os quais definiu como “intercâmbios de voos operacionais (…) para elevar o nível de ‘interoperacionalidade’ dos sistemas de defesa aeroespacial” dos dois países.

No aeroporto internacional de Maiquetía, Padrino destacou que as manobras se enquadram na cooperação binacional, como parte da qual a Rússia vendeu à Venezuela centenas de milhões de dólares em equipamento militar nos últimos anos.  “Que ninguém no mundo tema a presença destes aviões logísticos caça-bombardeiros estratégicos que  chegaram a território venezuelano, nós somos construtores da paz e não da guerra”, disse.
O general Serguei Ivanovich Kobulash, comandante de aeronaves de longo percurso das forças aeroespaciais da Rússia, declarou que o resultado esperado “é um intercâmbio profundo de experiências dos pilotos e do pessoal técnico”.

Padrino recordou que outros países da região criaram “desequilíbrios políticos e militares” diante dos quais o governo venezuelano não pode ficar de braços cruzados, em referência à vizinha Colômbia, que Caracas acusa de abrigar bases militares americanas.  No domingo, Maduro denunciou que Washington – que o chama de “ditador” – colocou em andamento um plano para derrubá-lo, com o apoio da Colômbia.

No final de 2016, a Venezuela comprou 24 caças Sukhoi 30 russos e acertou a aquisição de 53 helicópteros MI-24 e de 100 mil fuzis Kalashnikov, entre outros equipamentos.
Caracas também adquiriu da Rússia mísseis Top-MI.

IstoÉ
 




sábado, 8 de dezembro de 2018

Crise obriga venezuelanos a enterrar parentes no quintal de casa em cova improvisada

Familiares cobrem corpos com lençol ou improvisam caixão de cartolina 

Reflexos da crise humanitária em que está mergulhada a Venezuela são sentidos até na hora de os venezuelanos enterrarem os parentes. “Levei cinco dias para juntar dinheiro para recolher o corpo do meu pai do necrotério, outros sete para achar um espaço no cemitério. Quando não tinha mais como pedir dinheiro a parentes e amigos para mais nada, decidi que faríamos, com meus irmãos, um caixão com cartolina. Mas foi tudo com muito amor e oração, sei que ele agora finalmente está em paz.”
O relato comovido de Willy Olmedo, 25, do município de Sucre, na região metropolitana de Caracas, à Folha, resume alguns desses percalços.“Aqui mesmo já vi alguns sendo enterrados em lençóis, coisa que só tinha escutado que estava acontecendo no interior, agora chegou aos subúrbios de Caracas”, diz. Ele conseguiu enterrar o pai em um cemitério convencional, mas para os mais pobres isso ficou fora do alcance. Em outra parte do município de Sucre, moradores que não conseguem pagar pelo enterro em um local legalizado passaram a sepultar seus parentes em um terreno baldio, sem licença.
Se entre os estratos mais pobres da população falta dinheiro para tirar o corpo de um necrotério público —trâmite antes gratuito, mas hoje sujeito à cobrança de subornos—, conseguir espaço num cemitério e até comprar um caixão simples, entre os de classe média ou mais endinheirados o problema passa também por outros procedimentos, como cremar ou embalsamar. Muito comum também se tornaram as profanações de sepulturas, atrás de objetos de valor, e o roubo das placas de ouro ou bronze.
“Tiraram as placas com o nome de todos os meus familiares. Tivemos de reunir os parentes aqui para fazer um mapa baseado em nossas lembranças para lembrar quem está onde. Foi muito doloroso, como reviver cada funeral”, diz Norma Herrera, 52, ao mostrar à reportagem o lote da família, com buracos nos locais das placas, no tradicional Cementerio del Este. 
Se no começo as cremações passaram a ser comuns, por conta dos custos de um funeral tradicional, agora nem estas podem ser feitas em todos os estados do país. Em Zulia, por exemplo, como reportou a Reuters, Angelica Vera, 27, não pôde cremar o pai, por falta de gás no cemitério local. “Essas coisas fazem que a tragédia da morte continue acentuando a tristeza da ausência de um parente”, conta Herrera, enquanto mostra, caminhando pelo cemitério caraquenho, algumas sepulturas com o cartaz: “Esta aqui já foi violada”.
“Quase coloquei um cartaz assim na nossa. Porque não basta recolocar as placas, reformar sepulturas, se você pode ter de enfrentar isso tudo de novo”, disse Herrera.
Com a inflação projetada pelo FMI em 1.000% para este ano e a crise gerada pela falta de papel-moeda no mercado, há uma busca extra por metais e pedras preciosas. Além da migração para as regiões de mineração do país, outra fonte para obtê-los é por meio do roubo de joias, pedras preciosas, bancos que guardam ouro e, por que não, violação de sepulturas e roubos de placas em lápides.
 
 


terça-feira, 6 de novembro de 2018

Brincando com fogo

Bolsonaro condena a política externa ideológica do PT e não deve incorrer nesse erro


Quem brinca com fogo pode se queimar, mas quem está saindo chamuscado das propostas do presidente eleito Jair Bolsonaro não é ele, mas o Brasil. O duro artigo do governo da China e o duríssimo cancelamento de uma visita oficial do chanceler brasileiro ao Egito devem acender o sinal amarelo no QG de Bolsonaro, que tem uma grande vantagem: sabe recuar. Pois é hora de recuar.  Política externa é “de Estado”, não “de governo”, mas é óbvio que novos presidentes têm direito de fazer ajustes, calibrar o tom e deixar a sua marca nas relações com o mundo. Só não podem dar cavalo de pau, porque política externa se faz com credibilidade e estabilidade, para não atrair retaliações imediatas ou perda de imagem do País a médio prazo.

Aliás, se Bolsonaro condena a política externa ideológica do PT, ele não pode incorrer no mesmo erro, com uma política externa igualmente ideológica, no sentido inverso. Também não convém ignorar que o governo Temer já promoveu uma guinada de pragmatismo, reaproximando Brasília de Washington e afastando de Caracas.  Entre as bombas acionadas pelas falas de Bolsonaro na área internacional destaca-se a transferência da embaixada de Tel-Aviv para Jerusalém, rompendo décadas de neutralidade do Brasil no Oriente Médio, a favor de Israel e contra os Países Árabes, que têm fortes laços comerciais e culturais aqui.

O Egito – um dos árabes mais moderados – já chutou o pau da barraca, cancelando o convite para o chanceler Aloysio Nunes Ferreira ir ao país nesta semana com dezenas de empresários que, inclusive, já estavam no Cairo. E tudo por um voluntarismo de Bolsonaro. Mudar a embaixada para Jerusalém não muda absolutamente nada a favor do Brasil. Muito ônus para zero bônus. Aliás, só a Guatemala e os EUA de Donald Trump fizeram isso. O Paraguai, que tinha feito, já voltou atrás.

Outra bomba de Bolsonaro é acenar para Taiwan e dizer que “a China pode comprar no Brasil, mas não comprar o Brasil”. Em texto pouco usual no Daily News, seu porta-voz extraoficial, o governo chinês ameaçou retaliar e lembrou que a China é o nosso principal parceiro comercial, com um superávit mais do que favorável ao Brasil, e os dois países não competem entre eles, ao contrário, têm economias e interesses complementares.

Está em pauta a extradição de Cesare Battisti, que agrada a Itália e depende do STF, mas Bolsonaro já desativou três outras bombas: não fala mais em retirar o Brasil da ONU, que seria um escândalo; romper com o Acordo de Paris, no qual o Brasil defende não só os interesses do mundo, mas os seus próprios, inclusive do agronegócio; e unir Agricultura e Meio Ambiente, que foi um susto para a União Europeia, forte importadora de carne e soja e ciosa da sustentabilidade do planeta.

Quanto à ameaça de Bolsonaro de simplesmente romper relações com Cuba, ela não pareceu tão absurda assim para experientes diplomatas brasileiros, que ridicularizam a “grande democracia cubana” boicotando o Brasil em defesa do PT. Afinal, foi Havana quem retirou sua embaixadora de Brasília após o impeachment de Dilma Rousseff e jamais concedeu agrément para o embaixador Fred Meyer, um amigo de Cuba.

Fora isso, Bolsonaro está causando tanto ruído, à toa, por três motivos: desconhecimento de política externa, aliança com os evangélicos e um alinhamento, mais do que político, quase psicológico, a Trump. Vale dizer que, afora pequenos hiatos, o Brasil jamais teve alinhamento automático com nenhum parceiro, nem com a grande potência.  “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, diz o bordão de Bolsonaro. Em política externa, é “o interesse do Brasil acima de tudo e de todos”, inclusive das ideologias que, assim como vêm, também vão.

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo

 

domingo, 19 de agosto de 2018

Vivendo sem dinheiro

A hiperinflação desvalorizou as notas de bolívar, e a falta de papel as tirou de circulação. A saída está nas transferências eletrônicas

Toda vez que um governo imprime mais dinheiro do que a economia do país comporta, a inflação aumenta de um lado e o valor da cédula despenca do outro. Resultado: pilhas de notas para comprar coisas mínimas, situação famosamente retratada em imagens da Alemanha entreguerras, em que as pessoas iam às compras levando carrinhos de mão cheios de dinheiro. Na crise surreal por que passa a Venezuela, entretanto, até essa verdade é relativa. A hiperinflação, que deve chegar a 1 000 000% neste ano, desvalorizou as notas de bolívar, como era de esperar. Mas a falta de papel em geral, e de papel-moeda em particular, tirou-as de circulação. Nos caixas eletrônicos, quase nunca há dinheiro disponível. Nas calçadas de Caracas os bachaqueros, ou camelôs, vendem dinheiro em espécie, via transferência, pelo dobro do valor de face. O metrô não cobra passagem desde maio, por falta de troco e de tíquetes.


Reciclagem - Artesanato: venezuelanos refugiados na Colômbia fazem bolsas com notas de bolívar que perderam valor (Juan Torres/NurPhoto/AFP)
[para nossa felicidade o lulopetismo acabou e com isso estamos livres deles reassumirem o governo e criar o Bolívar Real, cujo destino seria o mesmo das notas acima.]
Nos últimos seis anos, a porcentagem de notas de bolívar no montante de dinheiro em circulação caiu de 27% para 3%. A desvalorização favorece o artesanato por vias tortas: na fronteira com a Colômbia, refugiados de posse de cédulas sem valor as usam como matéria-prima para a confecção de bolsas. Nesse contexto, as transferências bancárias vêm sendo a saída para pagar e receber — e aí o presidente Nicolás Maduro encontrou mais uma ferramenta de controle da vida dos venezuelanos. O governo vem usando a plataforma digital para beneficiar os integrantes de sua base de apoio, estimada em 3 milhões de pessoas, em uma população de 31 milhões.

Em janeiro de 2017, o presidente lançou o “cartão da pátria”, que identifica o cidadão que o possui com um código QR. Trata-se de um documento indispensável para providências básicas, como pedir empréstimo ao banco, ser atendido no hospital, pleitear moradia e até receber a cesta básica, uma caixa de papelão com alimentos produzidos em boa parte no México. Na segunda-feira 13, Maduro anunciou mais uma utilidade do cartão: a compra de gasolina subsidiada é exclusiva de seus detentores. O problema é que os cartões só foram distribuídos aos venezuelanos que compareceram a postos de atendimento temporários instalados em bairros escolhidos a dedo. Há cerca de um ano, os últimos postos foram fechados e não há mais como obter o cartão — sem falar na parcela da população que nem se deu ao trabalho de solicitar o seu, por não querer submeter-se ao controle implícito do governo. “Maduro dividiu o país em dois, como se tivéssemos duas moedas em circulação. Ele usa a economia como um instrumento de discriminação política”, critica o economista venezuelano Oscar Torrealba, diretor da consultoria Opuntia Economists, em Caracas.


Nas dezenas de datas comemorativas inventadas pelo chavismo, Maduro costuma distribuir bônus que são creditados diretamente nos cartões da pátria. Só que é preciso correr — quando o dinheiro chega, a hiperinflação já lhe corroeu quase todo o valor. Em meados de julho, ele anunciou que daria 10 milhões de bolívares a cada policial para incentivar o comprometimento da tropa. Com essa quantia, equivalente a 3 dólares, não dá para comprar mais do que 1 litro de refrigerante. Apelando para o recurso clássico dos países de moeda desvalorizada, do qual o Brasil também abusou em seus tempos de inflação nas alturas, o governo Maduro deve introduzir, na segunda-feira 20, uma nova moeda, o bolívar soberano. Sua estreia estava prevista para junho, quando a proposta era cortar três zeros. Como a entrega das cédulas foi atrasada em dois meses, os zeros a ser extintos aumentaram — agora serão cinco. Parte das novas cédulas está sendo produzida pela Casa da Moeda do Brasil. Os dias de desgraça da Venezuela, a caminho do precipício, agora sem dinheiro, parecem não ter fim.

Publicado em VEJA de 22 de agosto de 2018, edição nº 2596

 

terça-feira, 22 de maio de 2018

A crise venezuelana


Engana-se quem pensa que o regime bolivariano cairá num passe de mágica. Não há a menor chance disso acontecer enquanto os militares venezuelanos apoiarem Maduro


Integrante do Grupo de Lima, formado por 14 países das Américas, o Brasil anunciou ontem que não reconhece a legitimidade das eleições presidenciais na Venezuela, em que Nicolás Maduro foi reeleito presidente. Argentina, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru e Santa Lúcia também condenaram a reeleição
Cuba, Bolívia e Rússia;  a China foi pelo mesmo caminho, enquanto os Estados Unidos anunciaram a adoção de duras sanções econômicas.  As eleições venezuelanas foram marcadas por dois tipos de oposição: o não comparecimento às urnas de 54% do eleitorado (8,6 milhões de eleitores) e uma das mais baixas votações do chavismo, 5,8 milhões, ou seja, 67% dos votos. Também emergiu das urnas uma dissidência do chavismo, que reiterou aquilo que a oposição já antevia ao boicotar o pleito: houve uma fraude escandalosa nas urnas. Os candidatos derrotados, Henri Falcón, que obteve 21% dos votos, e Javier Bertucci, com 11%, ambos chavistas, não reconhecem o resultado e pedem novas eleições.

Em reação ao pleito, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, proibiu o envolvimento de cidadãos norte-americanos em negociações de títulos da dívida da Venezuela e de outros ativos. Segunda a Casa Branca, o objetivo é impedir que oficiais venezuelanos corruptos façam negócios e lavem dinheiro de propina. Desde maio, 62 pessoas e 15 entidades venezuelanas estão com bens congelados e proibidos de fazer negócios nos Estados Unidos, que consomem um terço do petróleo da Venezuela. As petroleiras americanas não podem mais negociar dívidas públicas do país ou comprar petros, a criptomoeda criada por Caracas.

Entretanto, a China ainda aposta alto no regime de Maduro. Recentemente rebateu as acusações do Tesouro dos Estados Unidos de que estaria ajudando o governo venezuelano com investimentos suspeitos envolvendo empréstimos em troca de petróleo. Em Pequim, o porta-voz da chancelaria chinesa, Geng Shuang, destacou que o país auxiliou a construção de mais de 10 mil casas de baixo custo, a geração de eletricidade e o gasto com eletrodomésticos para três milhões de lares venezuelanos de baixa renda.

A Venezuela vive uma crise humanitária, com mais de um milhão de venezuelanos em fuga pelas fronteiras com a Colômbia e o Brasil. A situação tende a se agravar com as novas sanções. Mas se engana quem pensa que o regime bolivariano cairá num passe de mágica. Não há a menor chance disso acontecer enquanto os militares venezuelanos apoiarem Maduro. A única tentativa de rebelião militar, no Forte Paramacay, no ano passado, foi um fracasso. A probabilidade maior é o regime endurecer ainda mais, expurgando a oposição interna, que passará a ser tratada como a antiga oposição liberal e social-democrata. Do ponto de vista das relações internacionais, Maduro ainda tem aliados poderosos, tanto do ponto de vista econômico quanto militar.

Armas
Militarmente, a Venezuela aparece em 45º lugar no mundo. Na América Latina, ocupa o sexto, atrás da Colômbia (40º), Peru (39º), Argentina (35º), México (34º) e o Brasil, que ocupa a 17ª posição do GFP (Global Firepower, compilado pelos Estados Unidos). Não existe nenhum risco de crise militar entre os países da região que possa resultar numa guerra com a Venezuela a curto prazo; na verdade, a tensão externa serve como biombo e pretexto para o endurecimento do regime, que já pode ser caracterizado como uma ditadura disfarçada.

O regime de Maduro não seria o que é hoje sem a passagem do coronel Hugo Chávez pela Presidência. Ele operou com destreza o alinhamento do alto-comando militar das Forças Armadas com seu projeto político, dando aos militares grande poder na economia, seja na gestão das empresas, seja no direcionamento dos negócios, principalmente petrolíferos. Além disso, modernizou o equipamento militar, com a aquisição de aviões, tanques e mísseis russos. Também formou uma milícia com 500 mil voluntários em todo o país, nos moldes cubanos, que pode ser mobilizada e prontamente armada pelo Exército.

Maior do que o risco de guerra com um país vizinho, que a Venezuela hoje não pode bancar sem entrar em completo colapso, a não ser que receba ajuda direta e maciça de Cuba, da Rússia ou da China, o que impensável sem uma escalada de tensões com os Estados Unidos, é a possibilidade de desestruturação progressiva de suas forças armadas, que já não têm condições de atender necessidades elementares. São cada vez mais frequentes os casos de militares venezuelanos doentes ou feridos que buscam socorro médico atravessando, sem se identificarem como tal, a fronteira com o Brasil. O maior problema são armas de mão e mísseis que podem ser transportados e lançados por um só homem, armamentos que podem ser vendidos ou contrabandeados por oficiais corruptos ou soldados em dificuldades financeiras para manter as respectivas famílias.

Nas entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB


 

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Estereótipos e privilégios

Os servidores públicos tornaram-se objeto do ódio invejoso de uma nação em crise

Por inércia, a opinião pública vai-se habituando a chamar de “privilégio” a aposentadoria do servidor público, enquanto, de outra parte, dedica o mais reverencial silêncio às dinheiramas que são transmitidas por herança, praticamente livres de impostos, aos descendentes dos milionários. Se os filhos de ricos não são os maiores privilegiados deste país, os mais protegidos pela estrutura que pereniza a desigualdade, quem, então, é o privilegiado? Um professor que leciona e pesquisa por 30 ou 40 anos para depois se aposentar com proventos à altura do salário? O que dizer de quem herda bilhões sem nunca ter trabalhado, pagando uma ninharia de imposto?

Privilégio? Tomemos cuidado com as palavras. Elas são signos ideológicos, ensinava Bakhtin. Todas as palavras. Exemplos não faltam. Quando chamamos de “vândalos”, “baderneiros” ou “criminosos” os mascarados que atiram pedras nas vitrines no calor das manifestações de rua no Brasil, enquanto, de outra parte, chamamos de “jovens rebeldes” os também mascarados que praticam os mesmíssimos atos nos protestos em Caracas, quem fala em nossa fala é a ideologia, e nós não nos damos conta (a ideologia tem disso: ou é inconsciente, ou não é ideologia).

Cuidado com as palavras. Uma trama de escolhas se esconde sob a superfície do léxico e o falante fala sem saber o que fala. A vida é assim. Há quase um século, o jornalista Walter Lippmann fez o diagnóstico preciso: nós nos comunicamos por estereótipos, que funcionam como rótulos simplificadores, mais ou menos como caricaturas, pelos quais a língua vai definindo as coisas de forma rasa, opaca, chapada e altamente eficiente. Palavras como “folião”, “torcedor”, “evangélico” e “sem-teto” são estereótipos. Servem para resumir os tipos humanos. Ao mesmo tempo, reduzem e apequenam a descrição desses mesmos tipos humanos. Não há como ler o mundo sem a ajuda dos estereótipos, mas, ao mesmo tempo, quem vê o mundo pela lente dos estereótipos, e só por ela, perde de vista as contradições que estão por baixo da superfície, ou seja, perde a visão do todo.

Agora um novo estereótipo vem sendo martelado nos meios de comunicação para enxovalhar o funcionário público. As palavras “privilégio” e “privilegiado” são os alicerces de uma campanha de desmoralização do funcionalismo. A campanha é oficial. Trata-se de uma ação deliberada de ninguém menos que o governo federal. Isso mesmo: os servidores brasileiros são caluniados pelos seus superiores hierárquicos (os governantes). Estamos diante de uma infâmia.

Sabemos todos que reformar a Previdência é uma agenda inadiável e imprescindível. Ninguém de posse da razão deixará de reconhecer essa verdade. O problema está, mais do que nas propostas mal costuradas, na propaganda insidiosa pela qual o governo alega defender a causa da reforma. O discurso oficial – endossado, estimulado, emulado e patrocinado por amplos setores do capital e da sociedade civil escalou para o papel de vilão os funcionários públicos, que aparecem na foto como os causadores da “conta que não fecha”. Segundo a campanha, é preciso acabar com os “privilégios” que travam o desenvolvimento do Brasil. Não, o governo e seu coro não se estão referindo aos faraós do nosso crony capitalism de abadá, nem às celebridades hiperempreendedoras viciadas nas mamadeiras do BNDES. Para o governo, “privilegiados” são os que fizeram carreira no serviço público e se aposentaram.

Temos, enfim, que o funcionalismo é o novo vilão nacional. Mas que vilão é esse? São brasileiros comuns, que sobrevivem medianamente e um dia acreditaram na promessa do Estado de que, se topassem trabalhar recebendo proventos limitados, sem os altos benefícios e os bônus elevados que podem ser alcançados na iniciativa privada, teriam, no final da vida, uma aposentadoria digna. Agora, o mesmo Estado, que antes pedia renúncias no presente em nome da segurança futura, o mesmo Estado que afirmava, com base na lei, que a aposentadoria um pouco melhor era um direito, passa a estereotipar seus servidores como “privilegiados”.

Isso não está certo. Por mais que existam distorções algumas aviltantes – nos holerites do funcionalismo, essa generalização não é justa. Em nome do respeito humano e da honestidade intelectual, temos o dever de questionar os bordões dessa campanha. O governo federal, secundado por seus corneteiros, que orientam, reverberam ou multiplicam a campanha, está conseguindo pregar na testa dos servidores o rótulo de sanguessugas, aproveitadores, parasitas; está conseguindo substituir o velho estereótipo do funcionário público, que já era muito ruim – o estereótipo do “barnabé”, do incompetente, do acomodado –, pelo novo estereótipo de chupim endinheirado. Chegamos, com isso, ao arremate caprichoso de um processo industrial de fabricação de estereótipos que consagrou uma certa ideologia – ela mesma um estereótipo obtuso que só vê o Estado como fator de atraso e só vê virtude no mercado sem lei.

Ninguém aqui vai negar que o serviço público acomoda rapinagens inaceitáveis, como essa gambiarra criptojurídica, mal disfarçada sob a rubrica esperta de “auxílios” (auxílio-moradia, auxílio-livro, auxílio-isso, auxílio-aquilo), cujo propósito é burlar o teto constitucional. Essas distorções têm de acabar, é claro. Mas essa campanha corrosiva não quer acabar com as distorções. O propósito dela é outro: ela quer acabar com a respeitabilidade do servidor público no Brasil. Para quê? Talvez para esconder a real responsabilidade pelo rombo que aí está, responsabilidade que é dos governos e dos legisladores, sempre omissos, e não do funcionalismo.

E o truque está dando certo. Por obra de uma prestidigitação publicitária paga com recursos públicos, os servidores estão levando a culpa e se converteram no objeto do ódio invejoso de uma nação em crise. Onde está o privilégio?

Eugênio Bucci é jornalista, é professor da Eca-Usp (e, portanto,servidor público)

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Agentes da Venezuela fizeram brasileiro preso ficar nu em cela

Jonatan Diniz relata terror psicológico que sofreu na cadeia em publicação nas redes sociais

O brasileiro Jonatan Diniz, que foi expulso da Venezuela por dez anos após dez dias preso em uma sede do Serviço Nacional de Inteligência Bolivariana (Sebin), relatou nesta terça-feira os abusos que sofreu enquanto esteve detido. Em publicação nas redes sociais, o jovem de 31 anos conta que os agentes do governo o fizeram ficar nu em frente aos oitos detentos com quem compartilhou uma cela de 8 metros quadrados. Morador de Los Angeles, onde está desde que saiu da Venezuela, Jonatan conta que sofreu acusações falsas de ter ligação com rebeldes opositores ao governo do presidente Nicolás Maduro, como Óscar Pérez, piloto venezuelano que em junho de 2017 roubou um helicóptero e supostamente atacou prédios públicos em Caracas num ato contra o chefe de Estado. "Me fizeram ficar nu não sei quantas vezes e (nem) com quantos celulares tiraram fotos minhas. Inclusive, me mandaram ficar nu na frente de todos os detentos sem a mínima lógica na noite que cheguei", contou Jonatan. "O chefe-geral do lugar falou para todos os detentos que eu tinha ligação com Óscar Pérez e o grupo da Resistência da Venezuela (mais uma falsa acusação) para incentivar os presidiários a me odiar, já que os mesmos são contra atos de Óscar Pérez". 

Jonatan realizava trabalhos filantrópicos na Venezuela quando foi preso sob acusação de promover atividades contra o governo chavista. O brasileiro nega que os seus trabalhos no país tivessem ambições políticas, embora tenha se indignado com a repressão das forças de segurança durante os vários meses de manifestações do ano passado. Conforme o GLOBO antecipou no domingo, Jonatan confirmou que não sofreu nenhum abuso físico ou sexual enquanto estava preso. O catarinense contou que foi preso em 26 de dezembro enquanto estava em um momento de descontração com amigos na praia de Camino Macuto, no estado venezuelano de Vargas. Um homem armado que se identificou como policial o retirou do local e fez ameaças contra ele:
"Ele fez diversas acusações falsas a meu respeito dizendo que eu era da CIA, que eu estava lá usando fotos de crianças da Venezuela para ganhar dinheiro à custa de outros, que era mentira que eu tinha chegado com a America Airlines na Venezuela", escreveu o jovem na rede social, destacando que o suposto policial à paisana não sabia que a companhia aérea americana faz voos para o aeroporto de Maiquetia, no estado de Vargas.

Jonatan disse que haverá uma apresentação na quarta-feira na sede da OAB de Balneário Camboriú para apresentar a organização de caridade pela qual trabalhou voluntariamente na Venezuela. Ele disse que tenta formalizar a instituição, chamada "Time to Change the Earth", desde novembro passado.

SEM COMIDA DO GOVERNO
Em seu texto, Jonatan descreve as condições precárias da cela em que ficou detido. Ele diz que nos 11 dias em que ficou preso só recebeu alimentos do governo por dois ou três dias. Nos outros dias, ele contou com a gentileza dos outros detentos, que compartilharam a comida com o brasileiro.
"De 11 dias presos, me deram comida somente 2 ou 3 dias, os outros 8 presos que estão lá há quase 3 anos não recebem nenhuma comida, tendo a família deles que viajar todos os dias para levar algo para eles sobreviverem. E foi da comida de meus colegas de cela que me alimentei, porque se fosse depender do Sebin eu tava fu****", escreveu ele nas redes sociais. "Dormíamos em 6 pessoas em colchões no chão e mais 3 em um triliche caindo aos pedaços... O vaso sanitário era na cela, sem privacidade alguma, e não existia chuveiro. Banhávamos em um cantinho com pote e depois secávamos o local. (Para) Fazer as 'necessidades' tinha que ser na frente de todos, e o cheiro nem sempre era dos melhores pela cela ser muito pequena e com tanta gente e quase nenhuma ventilação". 

'AGENTE DA CIA'
O brasileiro também relata as ameaças que sofreu, citando a acusação pública contra ele feita por Diosdado Cabello, membro da Assembleia Nacional Constituinte venezuelana e figura de peso dentro do chavismo. Os agentes de segurança não o deixaram sair da cela, apenas para assinar documentos que o chamavam de "estafador e agente da CIA". Ele não pôde receber visitas em momento algum:  "Tentaram colocar terror psicológico falando que eu poderia ficar lá tanto 1 como 1000 dias, que ninguém havia me procurado e que ninguém nem sequer sabia de minha prisão", escreveu. "Diosdado Cabello, braço direito de Nicolas Maduro, fez pronunciamento em rede nacional a meu respeito acredito que dia 27/12/2017 me acusando de terrorista e ligação com grupos criminosos, de verdade, essas pessoas estão com tanto medo de perder o poder que já estão alucinando".


Em mensagem na internet no domingo, Jonatan havia dito que chegou a odiar muito o presidente Maduro devido ao sofrimento que vivenciou junto aos venezuelanos enquanto esteve no país durante os protestos que mataram mais de 120 pessoas no ano passado. Nesta terça-feira, se explicou:  "EU JÁ ODIEI MADURO, verbo no passado! Isso não quer dizer que continue o odiando ou que estou ajudando qualquer um dos lados a ganhar o poder, porque sinceramente em meu ponto de vista pessoal, nem direita e nem esquerda são capazes de tirar Venezuela do buraco, para mim a verdadeira revolução bolivariana e a solução deve nascer da força do povo fazer a mudança com as próprias mãos e não esperar que os governos façam", defendeu. 

No domingo, o ativista usou suas redes sociais para fazer um longo desabafo sobre toda a sua experiência na Venezuela. Segundo o relato, ele visitou a região pela primeira vez em 2016 como mochileiro e acabou se encantando pelo lugar. Apaixonou-se também por uma venezuelana e viveu no país por três meses, entre maio e agosto de 2017, desenvolvendo trabalho filantrópico voltado para a população empobrecida. A ideia do seu projeto era doar roupas, comida, brinquedos e “o que fosse necessário para quem estava precisando”.

O Globo



domingo, 31 de dezembro de 2017

“Pensando o impensável” e outras notas de Carlos Brickmann

Se a recuperação da renda dos consumidores se acelerar um pouco, estaremos diante de um cenário hoje improvável: um candidato do MDB à Presidência

A economia cresceu pouco, 0,1% no terceiro trimestre, mas acima do previsto. Prevê-se que em 2018 a produção cresça até 3% — nada espetacular, mas bem mais do que os números habituais. Os shopping centers, que tiveram queda de vendas nos dois últimos Natais, venderam 6% a mais neste ano. O Indicador Serasa-Experian teve o melhor desempenho desde 2011: na semana de Natal, as vendas subiram 5,2%. São números baixos, que partem de um patamar baixíssimo; não vão deixar consumidor algum com a sensação de que ficou mais rico. Mas podem deixá-lo com a sensação de que não ficou mais pobre.

E daí? Daí, nada. Mas há a queda dos juros básicos do Banco Central, que algum dia deve se refletir nos juros cobrados no crediário. Não é mais possível tomar mil reais emprestados e ficar devendo dez prestações de mil reais. Se a recuperação da renda dos consumidores se acelerar um pouco, se a inflação se mantiver baixa, estaremos diante de um cenário hoje improvável: um candidato do MDB à Presidência. Um candidato viável.

Quem? Há tempo até 2018. Pode ser, apesar da idade e das acusações, Michel Temer (para ele, ótimo: mais um tempo com foro privilegiado). Ou Henrique Meirelles, dono da política econômica. É do PSD, já foi do PSDB e do Governo Lula e, se precisar, muda de sigla. Tem carisma zero; mas tem como pagar a própria campanha. Pode emplacar? [Não; e se emplacar a candidatura será derrotado. Temer tem mais chances.] Resposta em 2018.

Através do espelho
Naquela antiga frase sobre o que pode sair da cabeça de juiz e de bunda de nenê, em geral se esquece o terceiro elemento imprevisível: boca de urna. Há uma foto clássica de eleições americanas em que o presidente Harry S. Truman, recém-reeleito, segura um jornal que anuncia a vitória de seu opositor Thomas Dewey. Jânio Quadros ganhou a Prefeitura de São Paulo pela primeira vez contra o favoritíssimo Francisco Antônio Cardoso; e pela segunda contra o ainda mais favorito Fernando Henrique Cardoso. Erundina, uma semana antes da eleição, era a terceira colocada. Virou o jogo e bateu o grande favorito Paulo Maluf. Duvida de Meirelles? Depois de bem-sucedida temporada como banqueiro no BankBoston, voltou ao Brasil e se elegeu deputado federal por Goiás. E Temer vem se elegendo, embora sempre com votação baixa, desde 1986. Bem ou mal, já chegou lá.

Portas abertas
Claro, Temer e Meirelles não são as únicas surpresas que podem ocorrer neste ano (nem as mais prováveis). Alckmin chefia um partido forte, com boas raízes no Centro-Sul. Dória já surpreendeu uma vez (embora nenhum de seus possíveis padrinhos vá se surpreender de novo). Há os corredores paraguaios Marina e Ciro – e se um deles acertar o ritmo? Álvaro Dias, Arthur Virgílio? Este colunista não apostaria em nenhum deles, nem em Bolsonaro ou Lula (mas também não apostaria contra eles). Joaquim Barbosa? [outro sem chance; jogar um tostão furado no Barbosão é perder.] Tantos candidatos só indicam que não há candidato nenhum. [Há um candidato com chances: JAIR MESSIAS BOLSONARO - a dúvida é: leva já no primeiro turno ou precisa haver um segundo? Lula, mesmo que presidiário pudesse ser candidato, não teria nem 20% dos votos. E condenado não vota nem pode ser votado.]

Um país sem patrão
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, classificou o embaixador do Canadá em Caracas como “persona non grata” – ou seja, indesejável. O Canadá imediatamente expulsou de Ottawa o embaixador venezuelano – a retaliação tradicional diante do tipo de agressão cometido pela Venezuela.

Um país “mais compreensivo”
A Venezuela também declarou “persona non grata” o embaixador do Brasil, informando que a medida é um protesto pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff. E o Brasil? Tão atrasado quanto os maduros, que só agora descobriram que Dilma foi afastada, o Governo brasileiro só retaliou a Venezuela na terça. Tem motivos – o Governo venezuelano vem atrasando o pagamento de compras no Brasil – e armas terríveis: basta liberar as confissões de empreiteiros brasileiros sobre a realização de obras por lá. Mas parece a ocupação militar da refinaria da Petrobras na Bolívia: protegemos ao máximo regimes que se dedicam a usar à vontade o dinheiro do Brasil.

Exemplo
A Unidade de Coordenação Central do Tesouro Espanhol acusa “o melhor jogador de futebol do mundo”, Cristiano Ronaldo, de ter sonegado aproximadamente € 15 milhões (pouco mais de R$ 60 milhões), e pede sua prisão. O centro-avante do Real Madrid alega que paga “a peso de ouro” os especialistas que declaram seu imposto de renda, e portanto não tem culpa de eventuais erros. Caridad Gómez, a chefe da Receita espanhola, diz que contribuintes “com acusações muito menos graves” estão presos e que Cristiano Ronaldo usou testas-de-ferro e paraísos fiscais para sonegar. É famoso? Melhor: sendo preso, serve de exemplo aos sonegadores.

Desapega!
Luislinda Valois saiu do PSDB mas não quer deixar sua Secretaria, onde é mal avaliada. Mal avaliada por que? Ela não fez nada — nem de errado!

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

 

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Um imbecil governando a Venezuela

Maduro mobiliza Forças Armadas contra ameaça de Trump

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou às Forças Armadas que realizem exercícios militares nos dias 26 e 27 de agosto, em todo o país, em resposta à ameaça de Donald Trump de usar a “opção militar” contra seu governo.  A uma multidão de partidários reunida diante do Palácio Miraflores, no centro de Caracas, Maduro pediu aos venezuelanos que se prepararem “para defender a paz, com os tanques, os aviões, os mísseis”.
“Vamos derrotar a ameaça militar do imperialismo norte-americano”, disse Maduro, ressaltando que “ninguém pode intimidar o povo venezuelano” e que está “decidido a enfrentar os supremacistas, os racistas dos Estados Unidos”.

Vestido de vermelho, assim como seus simpatizantes, Maduro assegurou que na convocação do “Exercício da soberania bolivariana 2017” participarão não somente as Forças Armadas, com seus 365.000 homens, mas também civis. “Trump go home, que se escute até Washington”, gritou Maduro, em coro com milhares de simpatizantes.  Mais tarde, em um ato com embaixadores de vários países, Maduro reiterou seu pedido para realizar uma “cúpula presidencial a portas fechadas” para abordar “a paz na Venezuela” e a ameaça de Trump.  “A ameaça da guerra só pode ser dissipada com diálogo”, disse.

Em visita à Colômbia, parte de uma viagem à América Latina, o vice-presidente americano, Mike Pence, advertiu no domingo que os Estados Unidos não aceitarão “uma ditadura” na Venezuela, mas matizou a advertência de Trump, o que, entretanto, não acalmou o governo venezuelano. “Não ficaremos esperando enquanto a Venezuela desmorona, mas é importante ressaltar, como disse o presidente, que um Estado falido na Venezuela ameaça a segurança e a prosperidade do hemisfério”, afirmou nesta segunda-feira.
Pence disse que seu país está decidido “a usar todo o poder econômico e diplomático americano” até que seja “restaurada” a democracia na Venezuela.

Os Estados Unidos impuseram recentemente sanções financeiras e jurídicas contra Maduro e vinte de seus funcionários e ex-colaboradores, acusando-os de ruptura da ordem democrática, de corrupção e de violação de direitos humanos.

– “Um presente para Maduro” –
A advertência de Trump gerou forte rejeição internacional, precisamente quando vários governos vinham aumentando sua pressão contra Maduro, após a instalação – há uma semana – de uma Assembleia Constituinte que rege o país com poderes absolutos. “Isso tornará mais difícil a ação multilateral na Venezuela. Dará crédito à denuncia de que os Estados Unidos ameaçam sua soberania e planeja uma invasão. É absurdo, mas será usado politicamente pelo governo. É um presente para Maduro”, disse à AFP Michael Shifter, presidente do centro Diálogo Interamericano, com sede em Washington.

O analista Diego Moya-Ocampos, do IHS Markit, com sede em Londres, opinou que “servirá para que os altos escalões civis e militares radicais do governo se unam mais no curto prazo sob uma narrativa de possível ameaça externa”. “O presidente Trump acabará sendo, sem querer, o melhor patrocinador político do presidente Maduro”, opinou o analista político Luis Vicente León.

A psicóloga social Colette Capriles disse à AFP que a advertência “se encaixa muito bem com a imaginação arcaica do regime de Maduro e do próprio Trump, cuja política externa não parece ter rumo definido” e está “sob extrema pressão para dar um sentido ao papel dos EUA na geopolítica global”.  Este balão de oxigênio surge em meio a uma severa crise econômica e política, com protestos contra Maduro que em quatro meses deixaram 125 mortos.

– “Desmascarado” –
A aliança opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) rejeitou no domingo “a ameaça militar de qualquer potência estrangeira” contra a Venezuela, sem mencionar Trump, o que despertou críticas do governo sobre seus adversários.  Maduro pediu nesta segunda à Assembleia Constituinte que abra uma investigação contra os “entreguistas” que, segundo o presidente, apoiariam uma suposta “intervenção” militar dos Estados Unidos.  “Peço à Comissão da Verdade, pela justiça e pela paz, que por favor inicie um processo sobre os ‘entreguistas’ que pediram a intervenção da Venezuela e que apoiam a ameaça de Donald Trump contra a paz da República”, argumentou Maduro.

“Presos, presos, presos!” – gritava a massa reunida em frente à sede do governo.
Durante uma sessão no Palácio Legislativo, sede do Parlamento de maioria opositora, os 545 constituintes da Assembleia se declararam “dispostos a tudo” caso se concretize uma intervenção militar.  “Os fuzis chegariam a Nova York, senhor Trump! Os fuzis chegariam à Casa Branca!” – clamou o constituinte Nicolás Maduro Guerra, filho do presidente venezuelano.

Rodeado de tanques de guerra e centenas de soldados armados no complexo militar de Fuerte Tiuna, em Caracas, o ministro da Defesa, general Vladimir Padrino López, classificou de “delirantes” e “loucas” as ameaças de Trump.  “Aparentemente se esgotaram todas as vias, todos os métodos do golpe suave (…) e o império norte-americano deixou cair a máscara para ir pela via direta da agressão militar”, disse Padrino López.


Fonte: Isto É


 

 

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Por que Temer pode sobreviver

O presidente forjou a aliança do atraso e da corrupção com o oportunismo de um pedaço do andar de cima

Os números não mentem: 81% dos entrevistados pelo Ibope acham que a Câmara deveria permitir que Michel Temer seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal. O mesmo Ibope mostrou o que todo mundo sabe: o governo tem o maior índice de rejeição dos últimos 31 anos. O presidente foi beneficiado por um erro palmar que acompanha o grito de “Fora Temer”. Tudo bem, “fora”, mas para botar quem no lugar? 

Em 2016, milhões de pessoas foram para a rua gritando “Fora Dilma” ou “Fora PT”, sabendo que no lance seguinte Temer iria para o Planalto. Muita gente não fez essa conta ou preferiu não fazê-la. Era o jogo jogado, pois os bois tinham nome. Hoje, o quadro é outro, há o “fora”, mas não há o quem.  Nas três grandes crises da segunda metade do século passado, só uma guardou uma semelhança constitucional, quando Getúlio Vargas matou-se e o vice Café Filho assumiu. Nas outras, seis patetas no comando das Forças Armadas decidiram melar o jogo, tentando impedir a posse de João Goulart em 1961 e, oito anos depois, defenestrando o vice Pedro Aleixo. Levaram o país para a beira da guerra civil num caso e produziram um período de anarquia militar no outro. Nos dois episódios, o defeito era o mesmo, faltava identificar o substituto.

Se a Câmara der a licença para que Temer seja processado, assume por seis meses Rodrigo Maia. Ganha uma viagem a Caracas quem for capaz de ir para a rua pedindo “Rodrigo já”. Admitindo-se que Temer seja condenado, o Congresso deveria eleger outro presidente. Volta a pergunta: quem? 

O tamanho da crise política e econômica recomendaria o aparecimento de um ou dois nomes. Nada. Temer administrou esse vácuo, cavalgando uma plataforma mambembe de reformas. A da Previdência está baleada. A trabalhista está na frigideira, com a articulação de um novo imposto sindical, capaz de preservar a banda pelega do corporativismo de patrões e empregados. Admita-se, contudo, que essa plataforma seja saudável. Não é pelas reformas que Temer articula sua bancada.

Nela não há um real interesse por mudanças. Pelo contrário, é uma maioria regressista, que busca na permanência de Temer uma vacina contra o prosseguimento da Operação Lava-Jato, em defesa do balcão de verbas e do loteamento da máquina do Estado. Tudo deve continuar como está, para estancar a sangria e, se possível, piorar. A Lava-Jato expôs o conluio do andar de cima, que faz política com as melhores teorias econômicas e as piores transações de caixa dois. Nos últimos anos, esse mando oligárquico foi alvejado e parecia encurralado. Com a maestria de seus movimentos, o Planalto recompôs a aliança tradicional do atraso, piorando-a. Juntou a Federação das Indústrias de São Paulo, a Confederação Nacional da Indústria, Aécio Neves, mais a tropa de Eduardo Cunha. Tanto é assim que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso manteve-se longe da geleia.

O Temer que substituiu Dilma Rousseff não foi o que a acompanhou na campanha de 2014. O Temer que vier a ser mantido pelo coletivo que formou depois da exposição do grampo de Joesley Batista e da mala de Rodrigo Rocha Loures também será outro. Pior.

Fonte: Elio Gaspari,  jornalista - O Globo

quinta-feira, 27 de julho de 2017

O sofrimento dos manifestantes presos na Venezuela

Pele pressionada por alicates, golpes de martelo: quatro dias de prisão deixaram em Luis cicatrizes indeléveis. Seu consolo é ter sido libertado, enquanto centenas de venezuelanos detidos em protestos contra o presidente Nicolás Maduro enfrentam longas condenações.

Luis – nome fictício para preservar sua identidade – é uma das 4.000 pessoas que, segundo a Procuradoria, foram capturadas em quatro meses de manifestações pela saída do presidente Nicolas Maduro. “Diziam que iriam nos matar, cortar em pedaços e jogar no rio Guaíra”, relata à AFP esse auxiliar administrativo de 30 anos, detido em 4 de julho por militares na capital, Caracas.

Ele afirma que, entre socos e chutes, um soldado beliscou sua barriga e braços com um alicate, enquanto o chamava de “terrorista”. Também foi agredido com um martelo nos joelhos e cotovelos.  “Torturava escondido de alguns, enquanto outros eram cúmplices”, assegura.

A ONG Foro Penal, que estima em 4.500 o número de detenções, afirma que cerca de mil pessoas continuam presas, incluindo 300 por ordem de tribunais militares. A procuradora-geral Luisa Ortega denuncia os abusos cometidos pelas forças de segurança, às quais atribui cerca de 20 das 104 mortes registradas durante os protestos. Há um “terrorismo de Estado”, afirma essa chavista histórica que rompeu com Maduro. O presidente e seu ministro da Defesa, Vladimir Padrino, alertaram que não vão tolerar abusos, mas denunciam os “atos de barbárie” da oposição para derrubar o governo. O defensor público Tarek William Saab nega que os tratamentos cruéis sejam uma prática generalizada das forças venezuelanas.
– ‘Pai, me tira daqui!’ –  Um tribunal civil libertou Luis sem condenação, mas muitos outros não tiveram a mesma sorte.
Aos 18, Abraham Quiroz pode ser condenado por um juiz militar a 18 anos de prisão.
“Pai, me tira daqui! Estou passando mal. Não consigo respirar”, pediu Abraham, aos prantos, ao pai, Nicolás, em um breve telefonema da cadeia de segurança máxima onde está preso.  O jovem foi detido em 2 de julho, em Maracay (centro), com outros 26 jovens.
“É uma injustiça bárbara”, declarou Nicolás, denunciando que seu único filho foi atingido com força nas costelas.

No dia da detenção, militares e manifestantes entraram em confronto perto de uma universidade pública, onde um grupo de jovens decidiu se refugiar e passar a noite.
Cerca de 40 homens encapuzados e armados invadiram o local durante a madrugada e os levaram.  “Foi um sequestro”, denuncia à AFP Isva Vera, líder estudantil, acusando grupos civis chavistas, chamados de “paramilitares” pela oposição.

– Tribunais militares –
A diretora do Centro de Direitos Humanos da Universidade Metropolitana, Andreína Santa Cruz, denuncia manobras para atrasar os processos.  Apesar da ausência de provas, Luis passou 96 horas preso, ao invés das 48 horas estabelecidas por lei.  Os julgamentos em tribunais militares são mais complicados e “obscuros”, explica Santa Cruz. Os jovens de Maracay são acusados de “incitação à rebelião” e “violação de zona de segurança”.
Os homens (21 no total) foram enviados para prisões de segurança máxima, enquanto cinco mulheres e um jovem deficiente estão em prisão domiciliar.  “É muito doloroso pensar no que estão passando”, lamenta Naileth, mãe de Joneiker Grajirena, de 19 anos.

Abraham, Joneiker e outros nove estão na prisão de El Dorado, no estado de Bolívar, ao sul do país, junto com criminosos de alta periculosidade.  O governo justifica esses julgamentos, afirmando que os manifestantes cometem delitos de natureza militar como “ataques” a quartéis.  As condições de reclusão pioram as coisas. Luis relata que a pequena cela onde esteve chegou a ter 18 pessoas e sequer tinha banheiro.

A ONG Una Ventana a la Libertad denuncia que, somente nos centros de detenção preventiva, a lotação supera 400%. Após ser solto, o medo fez Luis não querer sair de casa por 15 dias.  “As feridas físicas cicatrizaram”, afirma, mostrando a lesão na barriga. “Mas as marcas mais difíceis são as psicológicas”, desabafa.

Fonte: AFP
 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Documento relata invasão armada e insegurança em consulado brasileiro em Caracas

Um prédio sem segurança adequada, com cortes de água que chegaram a durar dez dias e relatos de invasão de homens armados: é assim que a cônsul-geral do Brasil em Caracas, Elza Moreira Marcelino de Castro, descreve as instalações do consulado na capital venezuelana. Em telegramas obtidos pelo UOL, com base da Lei de Acesso à Informação, ela cita ainda casos de sequestros de funcionários do posto consular.



Foto tirada de dentro do consulado em fevereiro de 2013 mostra parede de tijolos construída nos portões
Na comunicação enviada em 28 de junho de 2016, a diplomata afirma que o consulado não possui "sistema de câmeras de ampla cobertura e dotado de tecnologia que assegure melhor resolução de imagens; detector de metal; ou portões eletrônicos com dispositivos para impedir a entrada de indivíduos mal-intencionados".


Como exemplo, ela cita um incidente registrado em 2014, quando "bandidos adentraram as instalações deste CG [consulado geral] para roubar à mão armada um dos usuários do serviço consular. O incidente provocou um alarmante estado de pânico entre os funcionários e o público presente".

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sábado, 17 de outubro de 2015

CONTRATO MILIONÁRIOS de LULA com a ODEBRECHT


R$ 4 milhões pelo lobby: os contratos milionários de Lula com a Odebrecht


ÉPOCA obteve contratos assinados entre o ex-presidente e a empresa. No papel, dinheiro para “palestras”. 

Na prática, dinheiro para alavancar os negócios da empreiteira no exterior 

No final da manhã de quinta-feira, 15 de outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava bem-humorado. Por iniciativa própria, ['INICIATIVA PRÓPRIA' para evitar a convocação - sendo convocado como testemunha Lula não poderia mentir (o que mais sabe fazer) - e se apresentando espontaneamente não está obrigado a prestar compromisso de dizer a verdade, toda a verdade, nada mais que a verdade - só em pensar ter que falar a verdade Lula já tem um AVC.] prestava um depoimento reservado ao Ministério Público Federal, em Brasília, para explicar sua atuação ao lado da empreiteira Odebrecht. Em vez de ir ao prédio da instituição, Lula foi ouvido em uma casa no Lago Sul, de forma discreta. Foi seu único pedido ao procurador, para escapar ao assédio de jornalistas


Ao seu estilo sedutor, Lula fez piadas com o procurador da República Ivan Cláudio Marx, ao dizer que o Corinthians, seu time, será campeão brasileiro. Na hora de falar sério, disse que não fez lobby, mas sim palestras no exterior com a missão de explicar a receita brasileira de sucesso em países da África e da América Latina. Procurou defender-se na investigação, revelada por ÉPOCA em maio, que apura se ele praticou tráfico de influência internacional em favor da empreiteira Odebrecht. Lula disse que não é lobista, que recebeu “convites de muitas empresas e países para ser consultor”, mas não aceitou porque “não nasceu para isso”. Num termo de declaração de quatro páginas obtido por ÉPOCA, ele sustenta que todos os eventos para os quais foi contratado estão contabilizados em sua empresa L.I.L.S. – um acrônimo de seu nome. Foi por meio dela que Lula ficou milionário desde que deixou o Palácio do Planalto, em 2011.

ÉPOCA obteve cópia dos contratos privados, notas fiscais e descrições das relações entre o ex-presidente e sua principal contratante. Nomeado projeto “Rumo ao Caribe”, as viagens de Lula bancadas pela Odebrecht inauguraram um padrão de relacionamento do ex-presidente, poucos meses após deixar o Planalto, com a empreiteira-chave da Lava Jato.  Ao longo dos últimos quatro anos, a L.I.L.S. foi acionada para que Lula desse 47 palestras no exterior, muitas a convite de instituições. Sua maior cliente é, de longe, a Odebrecht. 


EFICIENTE
Lula com Hugo Chávez em Caracas, em 2011, e trechos de seus contratos com a Odebrecht (abaixo). Após uma palestra de Lula, o governo venezuelano pagou uma dívida com a Odebrecht
(Foto: Jorge Silva/Reuters)
 
A construtora que lidera a lista das patrocinadoras de Lula pagou quase R$ 4 milhões para o ex-presidente fazer dez palestras. Além disso, bancou os custos das viagens para países em que possui obras financiadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), como Angola e Venezuela. Esses gastos de R$ 3 milhões, ao câmbio da época, incluem transporte e hospedagem em hotéis “5 estrelas ou superior”, com dormitório com cama king size, sofás, frutas, pães, queijos, frios, castanhas, água, refrigerantes normais e do tipo “zero” e, em alguns casos, fora do contrato, bebidas alcoólicas. As contratantes eram responsáveis por fretar aeronaves particulares. Ter Lula como palestrante custava caro. Mas, na maioria das vezes, valia muito a pena. 

O “Palestrante” Lula (grafado desse jeito pela própria empresa em seus papéis internos) passou a ser mobilizado para atuar em locais onde a Odebrecht enfrentava pepinos em seus contratos. Em 1º de maio de 2011, Lula se comprometeu, por R$ 330 mil, a desembarcar na Venezuela no início de junho para falar sobre os “Avanços alcançados até agora pelo Brasil”. A descrição das atividades que constam da cláusula 1.1 do contrato dizia que o “Palestrante” não participaria de qualquer outro evento além daqueles descritos “exaustivamente” no anexo 1. O tal anexo, no entanto, possui duas linhas que mencionam apenas que o ex-presidente ficaria hospedado no Hotel Marriott de Caracas. Quando superposto aos documentos do Instituto Lula sobre o mesmo evento, vê-se que Lula se encontrou com o empresário Emílio Odebrecht, pai de Marcelo Odebrecht, hoje preso em Curitiba, e com o então presidente venezuelano, Hugo Chávez, morto em 2013. Era um momento de tensão entre o governo venezuelano e a empreiteira, que cobrava uma dívida de US$ 1,2 bilhão.


 Telegramas sigilosos do Itamaraty sugerem que Lula e Chávez trataram sobre a dívida. A Odebrecht construía, desde 2009, a linha II do Metrô de Los Teques e a linha 5 do Metrô de Caracas. Fruto de uma negociação entre Lula e Chávez, o projeto foi irrigado com US$ 747 milhões (R$ 1,2 bilhão, em valores da época) em empréstimos do BNDES. A pressão de Lula surtiu efeito. Quatro dias após a visita do ex-presidente a Caracas, Chávez se encontrou com a presidente Dilma em Brasília. Naquele momento, a dívida com a Odebrecht já estava acertada. As duas obras são investigadas pelo Ministério Público Federal e pelo Tribunal de Contas da União. A principal suspeita, conforme revelou ÉPOCA em maio, é que os recursos tenham sido utilizados de forma irregular e de maneira antecipada sem o avanço do projeto – o dinheiro chegou, mas a obra não andou.

Em alguns casos, as viagens de Lula eram sucedidas por concessões de empréstimos do BNDES para obras de infraestrutura no país. Angola é um exemplo disso. Desde 2011, a Odebrecht foi a que mais recebeu financiamentos do BNDES no país africano, que está no topo da lista de recursos destinados pelo banco para exportação. Entre abril de 2011 e abril de 2014, foram liberados US$ 3,1 bilhões dos cofres do BNDES para a Odebrecht. 

Nos dias 30 de junho e 1o de julho de 2011, Lula foi contratado pela Odebrecht para dar uma palestra na Assembleia Nacional em Luanda, capital da Angola, sobre “O desenvolvimento do Brasil – modelo possível para a África”. Em seguida, Lula se reuniu por 40 minutos com o presidente do país, José Eduardo dos Santos. Após a conversa, Lula se encontrou com Emílio Odebrecht e com diretores das empreiteiras Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Lula aterrissou em São Paulo no dia 2 de julho, à 0h30. No dia 28 de julho de 2011, o BNDES liberou um empréstimo de US$ 281 milhões (R$ 455 milhões, em valores da época), tão aguardado pela Odebrecht, para a construção de 3 mil unidades habitacionais e desenvolvimento de infraestrutura para 20 mil residências em Angola.

No dia 6 de maio de 2014, Lula e Emílio Odebrecht voltaram a se encontrar em Angola. O ex-presidente viajou, numa aeronave cedida pelo governo angolano, de Luanda para a província de Malanje, onde visitou a usina de açúcar e etanol Biocom, sociedade entre a Odebrecht Angola e a Sonangol. Em depoimento de sua delação premiada, o lobista Fernando Soares, o Baiano, disse que se associou ao empresário José Carlos Bumlai, amigo de Lula, para viabilizar a palestra do ex-presidente em Angola. Baiano atendia a um pedido de um general angolano, interessado no negócio. Lula estava a todo momento acompanhado por Emílio Odebrecht, pela ex-ministra do Desenvolvimento Social Márcia Lopes e pelo ex-deputado federal Sigmaringa Seixas, além de autoridades angolanas.

 Na manhã do dia seguinte, o ex-presidente teve uma reunião de cerca de uma hora com o presidente de Angola, José Eduardo dos Santos. Nesse encontro, discutiram, entre outros assuntos, a linha de crédito do BNDES para a construção da hidrelétrica de Laúca, segundo telegramas do Itamaraty. Em dezembro do ano passado, sete meses após a visita de Lula, o ministro de finanças de Angola, Armando Manuel, assinou o acordo de financiamento com o BNDES. Em maio deste ano, o presidente do banco, Luciano Coutinho, deu o último aval para a liberação de um empréstimo que pode chegar a US$ 500 milhões (R$ 1,5 bilhão). Questionado pelo Ministério Público, Lula disse que “nada foi referido sobre o financiamento do BNDES para a construção da hidrelétrica de Laúca e que o presidente José Eduardo nunca tratou desses temas”, embora documentos oficiais do Itamaraty mostrem uma versão diferente. “Não passa de uma ilação, porque o comunicante (do Itamaraty) não teria participado da reunião”, disse Lula.

Em suas viagens pela América Latina e pela África, Lula era acompanhado de perto pelo diretor de relações institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, apontado como o lobista da construtora na Operação Lava Jato. Após quatro meses preso, o executivo foi libertado na sexta-feira por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki, após quatro meses preso em Curitiba, no Paraná. O contrato original, que selou a parceria da Odebrecht com Lula, leva a assinatura de Alexandrino e de Paulo Okamotto, braço direito do ex- presidente. Lula e Alexandrino se conhecem desde os tempos de Lula no Planalto. 

A proximidade entre eles era tão grande que se cumprimentavam com um beijo no rosto. Essa intimidade se intensificou após 2011, quando Lula passou a defender, ao lado de Alexandrino, os interesses da Odebrecht no exterior. Um relatório de perícia do MPF sobre os movimentos migratórios de Lula e o ex-funcionário da Odebrecht aponta que os dois companheiros compartilharam ao menos cinco voos juntos nos últimos quatro anos, de acordo com dados extraídos do sistema de tráfego internacional da Polícia Federal. Nesta semana passada, no depoimento ao Ministério Público, Lula manteve uma distância olímpica do amigo ao dizer que “Alexandrino era representante da Odebrecht, não sabendo precisar o cargo; que só tinha relação profissional com Alexandrino”.

Leia mais em ÉPOCA - http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/10/r-4-milhoes-pelo-lobby-os-contratos-milionarios-de-lula-com-odebrecht.html

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