Estatais que dependem de socorro do Tesouro somaram prejuízos de R$ 62,5 bilhões. Mas pagaram bônus a diretores e empregados, como se fossem lucrativas
Uma
empresa estatal acumulou mais de R$ 9 bilhões de prejuízos nos últimos cinco
anos. Já recebeu um socorro de R$ 6,8 bilhões do Tesouro, mas continua perdendo
R$ 5 milhões por dia. Significa uma drenagem de R$ 3,5 mil por minuto dos
cofres públicos.
Ela
abriga dez mil pessoas na folha de pagamentos, e considera que quatro em cada
dez são “excedentes” porque perdeu 50% da receita. Muitos nem têm mais o que
fazer. Em Florianópolis, por exemplo, há uma centena à espera de demissão ou
remoção desde meados do ano passado, quando o Aeroporto Hercílio Luz passou
para a iniciativa privada.
Ainda
assim, a Infraero começou fevereiro com a nomeação de 200 novos assessores “de
confiança”. Essa estatal combalida é apenas uma das que foram entregues pelo
governo Michel Temer ao Partido da República.
O
donatário, chefe do PR, é um ex-presidiário, condenado e perdoado no caso
mensalão. Valdemar Costa Neto não tem mandato, função pública ou cargo
partidário, mas desfruta de intimidade com o poder porque administra 37 votos
no plenário da Câmara, reaberta ontem. Ele
gerencia um caixa partidário que neste ano vai engordar 256%, apenas com
transferências diretas do Tesouro. Valdemar já garantiu R$ 146 milhões para as
eleições do PR.
A
influência do partido sobre os negócios e cargos-chave em estatais, ministérios
e agência reguladoras, como a de Transportes, é parte do jogo para ampliar a
bancada em outubro. O caso do
PR de Valdemar é exemplar do loteamento governamental intensificado nos
governos Lula, Dilma e, agora, Temer. O resultado está visível nas contas
federais e de empresas como Petrobras, Eletrobras, Caixa Econômica, Infraero,
Correios e da maioria das outras 144 estatais na última década e meia. Mês
passado, técnicos da Fazenda e do Planejamento analisaram o desempenho de 18
empresas públicas que dependem de repasses mensais do Tesouro Nacional para
pagar sua existência — de salários a contas de água e luz.
Essas
estatais receberam R$ 49,1 bilhões em injeções de recursos entre 2012 e 2016. E
somaram um prejuízo líquido de nada menos que R$ 62,5 bilhões nesses quatro
anos — as perdas correspondem a 39% do rombo estimado nas contas federais deste
ano (R$ 159 bilhões). O
loteamento somado à incúria deixou empresas em situação pré-falimentar, como
ocorre com a Infraero, Correios, Casa da Moeda, Serviço Federal de
Processamento de Dados (Serpro), Empresa de Tecnologia e Informações da
Previdência Social (Dataprev) e Empresa Gestora de Ativos (Emgea), entre
outras. Em comum, elas têm as despesas crescentes com pessoal e uma contínua e
significativa redução de receitas.
A lógica
nas decisões administrativas é a de que se a empresa é pública, ela é de
ninguém. O regime de vale-tudo permite coisas como a alquimia da ineficiência
em virtude.
O
Ministério do Planejamento acaba de relatar ao Tribunal de Contas que, apesar
das perdas acumuladas, mais de uma dezena de empresas estatais dependentes do
Tesouro distribuíram gratificações a diretores e empregados sob a justificativa
de participação nos resultados.
Socializaram
o prejuízo e privatizaram um lucro que nunca existiu. Nem no papel.
José Casado, jornalista - O Globo
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