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sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A esperança de nada ser como antes

Bolsonaro depende mais de Moro do que de Guedes


Desde Deodoro da Fonseca, não houve presidente assim. Jair Bolsonaro ganhou sem alianças e montou um ministério excludente. Exceção ao titular da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, de origem cearense, não há nordestinos em um primeiro escalão com quatro paranaenses, quatro gaúchos, quatro fluminenses, dois políticos do Mato Grosso do Sul e um colombiano.
[a Constituição Federal determina:
"... Art. 84 - Compete privativamente ao Presidente da República:
I - nomear e exonerar os Ministros de Estado;..."


"...Art. 87. Os Ministros de Estado serão escolhidos dentre brasileiros maiores de vinte e um anos e no exercício dos direitos políticos. ..]

[as exigências constitucionais para ser nomeado ministro de Estado foram rigorosamente cumpridas.

O fato de não ser exigido que os brasileiros sejam 'natos' permite a nomeação do colombiano.]
 
Mesmo que se desconte a falta de equilíbrio regional, é uma pasta que não lança pontes para quem não votou em sua chapa no segundo turno. [não há razão para oferecer amizade aos que não votaram; 
se estes, fazendo o seu 'mea culpa', procurarem os vencedores poderão até ser recebidos e se merecerem, por competência, poderão até serem agraciados com um cargo.]
 
Bolsonaro é visto por alguns como um presidente tutelado, mas a rigor cedeu pouco. Arquitetou o governo como se propôs, atendendo fartamente aos setores que sustentaram sua campanha: militares da reserva, com vínculos importantes na caserna, e radicais da internet. Foi obrigado [será que foi???] a manter o Ministério de Direitos Humanos, e o entregou a uma pastora pentecostal. Teve que deixar o Ministério do Meio Ambiente e o destinou para um aliado da bancada ruralista.

Paulo Guedes é fiador de um contrato estabelecido quase um ano antes da eleição, mas há aí uma relação de interdependência. Uma agenda como a que o futuro ministro da Economia pretende engatar necessita de um presidente popular que consiga administrar expectativas. Não há outro modo de implantar um ajuste fiscal amargo sem explosão social.  O principal gesto de Bolsonaro para o mundo exterior, não irrelevante, frise-se, foi convidar Sergio Moro. Bolsonaro não poderá ter o anticomunismo, ou mesmo o antipetismo, como seu principal lastro, à medida que Paulo Guedes e Onyx Lorenzoni forem gerando agendas negativas com reformas econômicas amargas e pactuações no Congresso.
É Moro que sinaliza para a esperança de nada ser como antes. Da sua capacidade de gerar fatos positivos dependerá parte do sucesso de Bolsonaro e do próprio Paulo Guedes.

Fim de ciclo
“A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram”, disse Ulysses Guimarães no discurso de promulgação da Constituição de 1988, já no final de sua fala, na hora dos agradecimentos. Era um discurso que procurava situar a importância daquele momento histórico como um dos últimos atos de encerramento de um ciclo, o do regime militar. Ulysses proclamou que a elite política de então, reunida na Assembleia Nacional Constituinte, tinha “ódio da ditadura, ódio e nojo”.

A releitura deste discurso em um dia como o de ontem, quando se completou 50 anos do AI-5 e se divulgou a notícia da morte da viúva de Paiva, tem um sabor arqueológico indisfarçável. Estamos em outra era. Ulysses desmoralizava a era passada do ponto de vista objetivo e moral. O país hoje está cheio de ódio e nojo, e o grupo político que soube empalmar o poder aproveitou-se disso, mas claramente não é à ditadura. O manifesto de Ulysses em 1988 era abrangente como o é a Constituição em vigor, luz de estrela já extinta. No mesmo discurso em que bateu o prego no caixão de 1964, o deputado falecido em 1992 afirmou que “a corrupção é o cupim da República. República suja pela corrupção impune tomba nas mãos de demagogos que, a pretexto de salvá-la, a tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, por na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública”.

Primeiro mandamento. Ulysses parecia perceber onde claudicava a nova ordem que se abria, produto de uma transição rara na América Latina, em que os militares se retiraram sob o manto de uma anistia que liberou a todos de qualquer autocrítica sobre o que havia se passado nas décadas anteriores. A corrupção e o asco que ela desperta nunca foram um fator irrelevante no jogo político brasileiro. É preciso lembrar que a imagem do regime militar em seu encerramento neste aspecto também estava comprometida. A do regime democrático que se encerrou em 1964 também.  Toda ruptura foi marcada pela esperança do saneamento, invariavelmente frustrada.

Ao tomar o poder com a revolução de 1930, lá estava esta semente plantada no discurso de Getúlio Vargas: “Comecemos por desmontar a máquina do filhotismo parasitário, com toda a sua descendência espúria. Para o exercício das funções públicas, não deve mais prevalecer o critério puramente político. Confiemo-las aos homens capazes e de reconhecida idoneidade moral”, afirma, em uma fala onde prometeu extirpar ou inutilizar os agentes da corrupção “por todos os meios adequados”.  Getúlio é um exemplo longínquo, os mais recentes dispensam maiores apresentações, como o de Janio Quadros e Collor.

Ódio e nojo em relação ao que passou sempre marcam os fins de ciclo, seja a uma elite que não entregou o que prometeu, seja a uma ditadura brutal, que provocou e mascarou assassínios em seus porões, como foi a de algumas décadas atrás. Jair Bolsonaro está às vésperas de tomar posse esforçando-se para explicar as nebulosas movimentações que aconteciam no gabinete do filho na Assembleia Legislativa, mas portador de uma grande esperança, como mostrou a pesquisa de ontem do Ibope.

Um contingente poderoso de eleitores acha que Bolsonaro não vai roubar e não vai deixar roubar e pensa que este deveria ser de fato o primeiro mandamento. No levantamento encomendado pela CNI, 64% dos entrevistados acham que Bolsonaro será um bom ou ótimo presidente e 37% pensam que a corrupção é um problema que será atenuado sob seu governo.

Saúde e o desemprego vêm na frente da corrupção como o problema mais citado, mas o conjunto dos dados induz a pensar que o eleitor intui que Bolsonaro terá desempenho melhor em outras áreas. Os eleitores que acham que os males da saúde serão suavizados é de 31%.

Cesar Felicio - Valor Econômico

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

O triunfo do Bolsonarismo

Como os eleitores criaram o maior partido de extrema direita da história do país

Até o início do horário eleitoral, a visão dominante sobre as eleições de 2018 era a de que repetiria os padrões dos pleitos anteriores. Nem PT nem PSDB acreditavam no fenômeno Bolsonaro.  No sábado, véspera do primeiro turno das eleições, fui a uma festa de família em Nova Friburgo, minha cidade natal. Durante o dia, no inevitável passeio pela avenida principal da cidade, deu para perceber os sinais de campanha presidencial, o que não tinha ocorrido em nenhum momento no Rio de Janeiro: dezenas de cabos eleitorais balançando bandeiras, muita gente vestindo a camisa amarela com a foto de Bolsonaro estampada.

Em conversa com familiares, comecei a dimensionar a força do bolsonarismo na cidade. No grupo de 25 pessoas que jogam vôlei com a minha irmã, apenas ela e mais três disseram que não votariam no candidato do PSL; no grupo de vinte que jogam a tradicional pelada de fim de semana com o meu cunhado, apenas ele e mais quatro não iam votar em Bolsonaro. O mais inesperado foi ouvir relatos sobre antigos colegas de colégio, figuras silenciosas e discretas, que tinham se transformado em virulentos defensores de Bolsonaro nas redes sociais. Adotando uma “tática de enxame”, eles se especializaram em conjuntamente atacar páginas do Facebook de amigos que postassem qualquer crítica ao capitão.

Friburgo é uma cidade conservadora, mas saí de lá com a sensação de que Bolsonaro estava muito mais forte do que eu imaginava. De volta ao Rio, ao votar no primeiro turno, encontrei uma situação muito mais equilibrada. Meu passatempo, durante a longa espera, foi tentar identificar o voto dos eleitores das filas vizinhas. Alguns, atendendo ao pedido da campanha de Bolsonaro, chegaram com a camisa da Seleção brasileira. Vi muitos com adesivos de candidatos do PSOL e de Ciro Gomes. Será que as urnas em geral estariam mais próximas da maré bolsonarista vista em Friburgo ou do cenário mais equilibrado das filas de uma escola de Botafogo?

(...)
 
. Afinal, quais eram as bases do sistema partidário que teria sido destruído no primeiro turno do pleito de 2018?
Vale a pena voltar no tempo e lembrar a grande instabilidade que marcou a primeira década da vida partidária após a redemocratização. Cinco partidos foram fundados ainda no regime militar: PDS, PMDB, PT, PDT e PTB. Entre 1985 e 1994, nada menos do que 68 partidos foram organizados e disputaram pelo menos uma eleição. Dentre esses, destacam-se o PFL, o PSDB, o PL, o PCdoB, o PSB e o PRN.

Mais do que pelo grande número de legendas, o período foi caracterizado pela crise que afetou os partidos tradicionais. Nas eleições presidenciais de 1989, os candidatos do PMDB e PFL – os dois partidos responsáveis pela vitória na eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral – tiveram um desempenho pífio. Ulysses Guimarães, presidente da Assembleia Constituinte que encerrara seu trabalho um ano antes da eleição, obteve 4,7% dos votos. Aureliano Chaves, ex-vice-presidente da República, alcançou apenas 0,9%.

A vitória de Fernando Collor pelo PRN, legenda à qual se filiou apenas para concorrer à Presidência, e o subsequente governo de Itamar Franco, presidente que se desfiliou do PRN e governou sem estar vinculado a nenhuma legenda, ilustram bem o quadro de crise do sistema partidário nos primeiros anos da década de 90.


Para além do sucesso eleitoral, um aspecto que sempre chamou a atenção no PT foi a sua capacidade de organização. Enquanto os outros partidos mantiveram uma estrutura organizacional tênue, com baixo envolvimento dos filiados em suas atividades, o PT inovou ao apostar em uma estrutura capaz de mobilizar milhares de quadros para as suas fileiras.
Os cientistas políticos David Samuels e Cesar Zucco, no livro Partisans, Antipartisans and Nonpartisans: Voting Behavior in Brazil (2018), mostraram como a divisão PT/anti-PT foi importante na escolha dos eleitores. Caso raro, o principal concorrente do PT não foi outro partido, mas um sentimento genérico com nome próprio: antipetismo.

(...)

Numa eleição de tantas surpresas, nada foi mais espantoso do que a votação obtida pelo Partido Social Liberal para a Câmara dos Deputados. O partido obteve 11,3% dos votos e 10,1% das cadeiras. Havia conseguido eleger apenas um deputado federal nas quatro das cinco eleições que disputou antes de 2018. Era um dos partidos a serem barrados pela cláusula de desempenho. A filiação de Bolsonaro e de seus seguidores ao PSL, em março desse ano, mudou inteiramente a sorte da legenda.

O PSL foi o partido que teve o maior crescimento desde as eleições de 1990, quando é possível comparar com a primeira eleição do regime democrático, em 1986. Em 1990, o PRN do então presidente Collor obteve 8,3% dos votos, enquanto o estreante PSDB recebeu 8,7%. Ambos já contavam com um grande número de deputados e tinham o apoio de importantes lideranças regionais. Outra característica singular do PSL é o grande número de eleitos que disputam um cargo pela primeira vez.

(...) 

Escrevo as linhas finais desse texto poucos minutos após a confirmação de que Bolsonaro é o novo presidente do Brasil. Escuto muitos gritos, panelas batidas e fogos para celebrar a vitória. O volume se assemelha ao das manifestações contra a ex-presidente Dilma Rousseff. Numa eleição de tantas novidades cabe registrar mais essa. Pelo menos no Rio de Janeiro, nunca tinha visto uma vitória eleitoral ser tão celebrada.

Ainda vou passar muitas semanas analisando os dados das eleições de 2018. Mas como não podia deixar de ser, começo observando o que ocorreu em Nova Friburgo: no primeiro turno, Bolsonaro obteve 63% dos votos válidos, Ciro Gomes, 16% e Haddad, 10%. No segundo turno, Bolsonaro obteve 73%. Já na minha zona eleitoral, no Rio, o quadro foi bem mais equilibrado no primeiro turno: Bolsonaro obteve 44% dos votos, Ciro, 30% e Haddad, 13%; no segundo turno Bolsonaro chegou aos 54%.
Olho os números e me dou conta de como Bolsonaro foi bem votado em outras áreas da cidade do Rio de Janeiro. Enquanto isso, os gritos pró-Bolsonaro e contra o PT continuam a ecoar lá fora. Realmente, estamos diante de um fenômeno eleitoral diferente de tudo que eu já tinha visto.

Matéria na íntegra, Revista Piauí
 

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O ego de Lula


Lula não consegue soar democrático nem quando isso poderia favorecer o campo petista. Sua carta é uma reafirmação das mistificações que fazem de Lula um dos demagogos mais perniciosos da história nacional

Por mais que o PT tenha se esforçado para fingir que seu candidato à Presidência, Fernando Haddad, não é um mero preposto de Lula da Silva, há algo que nenhum truque de marketing será capaz de mudar: o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que o ego de Lula. Na reta final da campanha eleitoral, justamente no momento em que Haddad mais se empenha para buscar apoio fora da seita lulopetista, o demiurgo de Garanhuns, decerto inquieto na cela em que cumpre pena por corrupção, resolveu divulgar uma carta para exigir - a palavra adequada é essa - que todos reconheçam a inigualável grandeza de seu legado como governante e que votem no seu fantoche se estiverem realmente interessados em salvar a democracia brasileira, supostamente ameaçada pelos “fascistas”.

O tom da mensagem é o exato oposto do que seria recomendável para quem se diz interessado em angariar a simpatia daqueles que, embora não tenham a menor inclinação para votar em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente, tampouco gostariam de ver o PT voltar ao poder. Para esses eleitores, somente se o PT reconhecesse, de maneira honesta e sem adversativas, seu papel preponderante na ruína econômica, política e moral do Brasil nos últimos anos, cujos frutos mais amargos foram o empobrecimento do País e a desmoralização da política, talvez houvesse alguma chance de mudar de ideia. Mas isso é impossível, em se tratando de Lula da Silva, que se considera o mais importante brasileiro vivo e o maior líder que este país jamais terá.

Na carta em que diz que “é o momento de unir o povo, os democratas, todos e todas em torno da candidatura de Fernando Haddad, para retomar o projeto de desenvolvimento com inclusão social e defender a opção do Brasil pela democracia”, Lula não reserva uma única vírgula ao desastre econômico do governo de Dilma Rousseff, outra de suas inesquecíveis criações. Ao contrário: afirma que Dilma sofreu impeachment em razão de uma imensa conspiração de “interesses poderosos dentro e fora do País”, incluindo “todas as forças da imprensa” e “setores parciais do Judiciário”, para “associar o PT à corrupção” - omitindo escandalosamente o fato de que Dilma foi cassada exclusivamente por ter fraudado as contas públicas com truques contábeis e pedaladas. O petrolão, embora tenha sido motivo mais que suficiente para que o PT fosse defenestrado do poder para nunca mais voltar, não foi levado em conta no processo.

Como jamais teve compromisso real com a democracia - que pressupõe respeito a quem tem opinião divergente, para que seja possível o consenso - e também nunca reconheceu a legitimidade de nenhum governo que não fosse o seu ou de seus títeres, Lula não consegue soar democrático nem quando isso poderia favorecer o campo petista. A carta, ao contrário, é uma reafirmação de todas as mistificações que fazem de Lula um dos demagogos mais perniciosos da história nacional.

Lá estão as patranhas que tanto colaboraram para fazer do antipetismo um movimento tão sólido e vibrante, conforme atestam as pesquisas de opinião. Lula, sempre no plural majestático, diz que “fizemos o melhor para o Brasil e para o nosso povo” e por isso “tentam destruir nossa imagem, reescrever a história, apagar a memória do povo”. O sujeito desse complô, claro, é indeterminado, mas unido no que Lula chamou de “ódio contra o PT”. Tudo porque, diz Lula, “tiramos 36 milhões de pessoas da miséria”, porque “promovemos o maior ciclo de desenvolvimento econômico com inclusão social”, porque “fizemos uma revolução silenciosa no Nordeste” e porque “abrimos as portas do Palácio do Planalto aos pobres, aos negros, às mulheres, ao povo LGBTI, aos sem-teto, aos sem-terra, aos hansenianos, aos quilombolas, a todos e todas que foram discriminados e esquecidos ao longo de séculos”. Nada mais, nada menos.

Esse panegírico só serve para mostrar que Lula é mesmo incorrigível - e que seu arrogante apelo para “votar em Fernando Haddad” e assim “defender o estado democrático de direito” contra a “ameaça fascista que paira sobre o Brasil” não vale o papel em que está escrito.

Editorial - O Estado de S. Paulo

 

sábado, 20 de outubro de 2018

Pesquisas antecipam o fim da hegemonia de Lula


Nas últimas quatro sucessões presidenciais, Lula mandou e, sobretudo, desmandou no poder federal. Elegeu-se duas vezes. E transformou Dilma Rousseff num conto do vigário no qual o eleitorado caiu um par de vezes. Esse poder hegemônico de Lula, informam todas as pesquisas, está com os dias contados. Acabará no próximo dia 28 de outubro.

Deve-se o infortúnio de Lula ao próprio Lula, que conseguiu converter Fernando Haddad, seu segundo poste, em candidato favorito a transformar Jair Bolsonaro no próximo presidente da República. Lula escolheu seu próprio caminho para o inferno ao imaginar que poderia prevalecer impondo uma nova solução doméstica petista.

Preso, Lula sabia que sua foto dificilmente estaria na urna de 2018. Poderia ter transferido eleitores para um candidato fora dos quadros do PT. Tinha em Ciro Gomes uma versão livre do contágio da Lava Jato. Mas preferiu a aposta mais arriscada. Ao lançar um poste do PT, descobriu que o antipetismo é, hoje, mais forte que o lulismo. Lula chega ao fim da sua era como cabo eleitoral da ultradireita.

Blog do Josias de Souza

LEIA TAMBÉM:  Caso WhatsApp revoluciona pensamento do PT

........................ ilegalmente o envio massivo de mensagens anti-PT via WhatsApp revolucionou o pensamento do Partido dos Trabalhadores sobre as prisões, as delações e o trabalho da imprensa. Em menos de 24 horas tudo o que o partido considerava como afronta ao Estado Democrático de Direito nos quatro anos e meio de duração da Lava Jato passou a ser legal, necessário e urgente.
.......................................


 

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Recluso, Lula perdeu o pulso das ruas; não se deu conta de que Bolsonaro havia capturado o antipetismo

É claro que o PT paga o preço de uma estratégia, e eu já tratei do assunto aqui, que teve a sua eficácia, mas que deixou sequelas. O partido misturou dois domínios que deveriam ter permanecido separados: o da eleição e o do processo contra o ex-presidente Lula. Foi uma escolha, que fique claro!, do próprio Lula. Preso na Superintendência da Polícia Federal do Paraná, o líder petista está distante da temperatura das ruas e certamente não recebeu o briefing adequado do que ia pelos bares e breus das tocas, como diria o esquerdista Chico Buarque. Jair Bolsonaro há muito já havia capturado os corações curtidos no antipetismo. 

Boa parte desses capturados repudia o PT por bons motivos. Ou que fale, então, o desastre a que Dilma Rousseff, uma das escolhidas de Lula — para estupefação, à época, de muitas lideranças do partido — conduziu o país. 

Mais: a mesma Lava Jato que encarcerou Lula havia devastado não apenas a reputação do PT, que, convenham, resistiu com poucas escoriações na comparação com outras legendas. A política como um todo foi reduzida a quase cinzas. E o “capitão” vinha se oferecendo havia pelo menos dois anos como o porta-voz dessa indignação.

Continua aqui

Blog do Reinaldo Azevedo

LEIA TAMBÉM:  Lula era a fortaleza, mas também a fraqueza do PT; a transferência de votos se deu, mas…



sábado, 13 de outubro de 2018

O piloto sumiu

“Haddad não esperava que a transferência de votos do petista batesse no teto tão cedo, bem abaixo da rejeição que fez Bolsonaro subir ainda mais e quase vencer no primeiro turno”


O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, volta ao horário eleitoral repaginado, vestido de verde-amarelo e com um discurso paz e amor. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu mentor intelectual e chefe político, desaparecerá da propaganda do petista. Resta saber se a dissimulação, que atende aos apelos dos setores “golpistas” que querem apoiá-lo como “um mal menor”, trará votos suficientes para vencer o pleito ou se a tática tipo “o piloto sumiu” confundirá ainda mais os eleitores. O tracking de ontem mostrava que Bolsonaro continua subindo e Haddad, caindo: a distância entre os dois seria de 18 pontos percentuais, com 10% de nulos e brancos.

Haddad mudou completamente a linha de campanha. Para chegar ao segundo turno, o PT alimentou a tática do ódio nas eleições, com o discurso “nós contra eles”, pois Lula considerava Bolsonaro o adversário ideal a ser batido no segundo turno. Quem eram “eles”? Os “golpistas neoliberais”, claro. Um post do petista Breno Altman, do site Opera Mundi, nas redes sociais, intitulado “Quem é o inimigo principal?”, no momento em que essa linha política passou a ser questionada internamente no PT, ilustra como Haddad chegou ao segundo turno: “São diferentes os alvos da primeira e da segunda volta, a meu juízo. No primeiro turno, os inimigos principais são os partidos e candidatos que comandam o bloco golpista, a começar por Geraldo Alckmin, mas se estendendo a Meirelles, Alvaro Dias, Amoedo e Marina Silva. A centro-direita deve continuar a ser destroçada por sua cumplicidade com o impeachment e a agenda antipopular, antidemocrática e antinacional do governo Temer. Sua destruição política é fundamental para a regeneração do país. Caso haja alguma chance, em algum momento, de levantar a cabeça, toda artilharia possível deve ser voltada para aniquilar os aliados de Temer.”

Intérprete fiel da lógica política petista, Altman antecipava o que viria depois: “No segundo turno, por óbvio, o inimigo principal será o neofascismo representado por Jair Bolsonaro. A inversão de objetivos táticos é tudo o que deseja o partido do golpe para buscar um caminho que enfraqueça a polarização entre Haddad e o capitão reformado, dando algum fôlego para uma candidatura de centro que possa ser apresentada como ‘mais viável’, ‘mais moderada’, para derrotar o neofascismo.” Haddad manteve a rotina de visitas semanais a Lula, vestiu a camiseta vermelha da campanha Lula livre e chegou ao segundo turno sem mudar o discurso. Não esperava, porém, que a transferência de votos do petista batesse no teto tão cedo, bem abaixo da rejeição que fez Bolsonaro subir ainda mais e quase vencer no primeiro turno.
“Aconteça o que aconteça, na delícia ou na dor, um objetivo estratégico terá sido alcançado nessas eleições: a destruição da centro-direita, do centro golpista, como alternativa viável para o comando do país”, disparou Altman, quando isso aconteceu. “A soma do arco Alckmin-Marina, somando Amoedo, Meirelles e Alvaro Dias, mal chega a 20% das intenções de voto. Essa é uma vitória importante do campo popular, que pavimenta o segundo turno e a marcha rumo ao triunfo em 28 de outubro.” Essa estratégia, porém, se tornou uma maldição para Haddad. A maioria dos partidos derrotados no primeiro turno optou pela neutralidade, alguns já se posicionam para permanecer em oposição, outros para aderir ao novo governo, vença Bolsonaro ou Haddad. Por ora, acompanham o jogo da arquibancada.

Tática do medo

Entretanto, ninguém morre de véspera numa eleição tão disputada, ainda mais para presidente da República. Desde a reeleição de Lula, o PT tem uma fórmula eficaz para disputar o segundo turno: a tática do medo. Não será diferente agora, com a ajuda de atitudes fascistas dos partidários de Bolsonaro. Poderia ter sido usada antes, mas isso não interessava, porque o objetivo era o atual confronto. O problema de quem vende a alma a Mefistófeles, como Dr. Fausto, é que o Diabo quererá o seu corpo no inferno. Foi o que aconteceu com Haddad. Bolsonaro é acusado de machista, misógino e homofóbico, isso despertou os maus instintos das profundezas de uma sociedade traumatizada pela violência, pela corrupção e pela desestruturação das famílias. Essa narrativa até agora não foi capaz de superar a força do antipetismo, porque o partido governou como uma espécie de erva daninha.

Bolsonaro, porém, sentiu a pressão em relação a temas que atingem diretamente a população mais pobre. Nas eleições de 2006, quando Lula foi reeleito, Alckmin foi derrotado porque se disseminou que ele venderia a Petrobras e o Banco do Brasil e acabaria com o Programa Bolsa Família, que abriga 13 milhões de famílias. A tática se repetiu contra José Serra, em 2010, e Aécio Neves, em 2014. Agora está sendo usada novamente. Não foi à toa que Bolsonaro anunciou que não pretende privatizar as estatais e vai criar o 13º do Bolsa Família. A radicalização e a disseminação do ódio nas redes sociais, por uma militância que não mede as consequências do que escreve, já evoluem para confrontos físicos, que precisam ser contidos, porque isso a sociedade não suporta. Não fazem parte do jogo democrático, são atitudes realmente fascistas.

Nas Entrelinhas -  Luiz Carlos Azedo - CB

sábado, 6 de outubro de 2018

Efeitos, não causas

Se tivesse escolhido Doria, PSDB talvez não desse a chance de Bolsonaro se apropriar do antipetismo que domina o país


Mais uma das esquisitices desta eleição é a evidência de que os dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais ou não representam a maioria dos seus apoiadores, como é o caso de Bolsonaro, ou são meros prepostos do verdadeiro líder, o caso de Fernando Haddad.  Nenhum deles estaria com um pé no Palácio do Planalto por méritos próprios, mas são consequência de uma situação política que não controlam.

Bolsonaro foi beneficiado pelo desmonte dos partidos políticos tradicionais, que deveriam ter canalizado o desencanto do brasileiro para apresentar soluções menos traumáticas.  Especialmente o PSDB, que perdeu a conexão com a sociedade ao se converter a um pragmatismo que o colocou no mesmo rol dos partidos fisiológicos.
Todo o mundo político sabia que o fisiologismo do MDB colocava em risco seus parceiros e, no limite, a democracia, mas o PT não se furtou a chamá-lo duas vezes para vice de Dilma, assim como o PSDB formou a base de apoio do novo governo.

Ao apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma e, em consequência, a assunção de Temer ao poder, o PSDB estava atuando dentro da democracia, da mesma maneira que fez no governo Itamar. Mas quando Temer perdeu sua legitimidade, em consequência da revelação da conversa nada republicana com o empresário Joesley Batista, os tucanos deveriam ter debandado, colocando-se como oposição a um governo fisiológico, refém de um passado comprovadamente corrupto, que não se emendou.  Da mesma maneira que o PT, os tucanos passaram a mão na cabeça de seus membros envolvidos em escândalos de corrupção, e carregaram o peso das negociações secretas de seu ex-presidente Aécio Neves com o mesmo Joesley, ou com o presidente Temer nas noites do Palácio da Alvorada, ou ainda da condenação de outro ex-presidente do PSDB, o ex-deputado Eduardo Azeredo.

Se não tivesse se descredenciado como representante de uma parte ponderável da sociedade brasileira, inclusive com votações demagógicas, como quando apoiou o fim do fator previdenciário, o PSDB poderia ser o receptáculo dos votos de quem buscava soluções para nossas mazelas.  Sem uma alternativa viável, com projeto menos radicalizado que o de Bolsonaro, esse eleitor ficou sem opção para tentar impedir a voltado PT ao governo, ainda mais agora que o ex-ministro José Dirceu explicitou o plano de “tomar o poder ”, não apenas ganhar a eleição. Até mesmo a definição de Alckmin como candidato à Presidência da República demonstra uma miopia em relação ao momento político que vivemos.

Se tivesse escolhido o ex-prefeito João Doria, não por seus méritos ou defeitos, mas por seu perfil antilulista, mais coadunado coma exigência de uma batalha política radicalizada, talvez não tivesse dado a chance de Bolsonaro se apropriar do antipetismo que domina a sociedade brasileira.  Provavelmente, Bolsonaro ficaria confinado a ser um candidato nanico, representante do baixo clero, se grande parte do eleitorado que hoje vota nele tivesse outra opção, mais civilizada. Da mesma maneira, o PT errou ao escolher seu candidato de acordo com os caprichos e vontades de seu grande líder, o ex-presidente Lula, imaginando que ele, mesmo estando na cadeia, e com vários processos em andamento, comandaria as massas.

Comandou o partido, mantendo sua candidatura até a undécima hora, e designou Fernando Haddad para representá-lo nas urnas, imaginando que o simples fato de saberem que Haddad é Lula levaria a uma vitória retumbante.  Uma parte dos votos que supostamente Lula teria —chegou ater 39% nas pesquisas—foi para Haddad, mas, diante da rejeição maciça que o lulismo provoca, hoje não dá nem mesmo para afirmar que Lula, acossado por tantas denúncias, ganharia fácil a eleição.

É claro que não se deve subestimar o carisma do ex-presidente, e sua capacidade de comunicação, mas a rejeição a Haddad se deve a Lula. Provavelmente, o erro de Lula foi não ter apoiado Ciro Gomes como candidato, numa coalizão do PT como PDT. Ao não abrir mão de liderar a esquerda brasileira, sem dar espaço dentro do PT, nem em outras agremiações, para novas caras, Lula manteve sua liderança incontestada, sua hegemonia pessoal. Mas pode ter sido o responsável pela derrota da esquerda que se avizinha.
Se, numa reviravolta, conseguir eleger seu preposto, se consagra.
Se tivesse escolhido Doria, o PSDB talvez não desse a chance de Bolsonaro se apropriar do antipetismo que domina o país.


Merval Pereira - O Globo


quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Ibope 1: Conversa de que Bolsonaro caminha para vencer no 1º turno é, por enquanto, sonho de inverno; os número estão bem longe disso

A turma de Jair Bolsonaro (PSL) espalha o boato de que está em curso uma vitória já no primeiro turno. Por enquanto, considerando os números do Ibope, isso é uma quimera. São estratégias para enfrentar os 18 dias que nos separam do primeiro turno. Vamos ver.

A pesquisa Ibope, divulgada nesta terça, que traz Jair Bolsonaro em primeiro lugar, com 28% das intenções de voto, e Fernando Haddad, com 19%, parece indicar um segundo turno entre o candidato do PSL e o do PT. Na simulação, os dois aparecem rigorosamente empatados, com 40%. No dia 20 de agosto, segundo números do instituto, Bolsonaro tinha 20% das intenções de voto. Um mês depois, tem 28%, um crescimento de 40%. No período, Haddad foi de 4% para 19%, um salto de 375%. [4% para 19% causa um certo impacto, no crescimento do percentual;
mas, considerando o pouco representado pelos quatro por cento em números absolutos, se constata que os dezenove por cento não é um número tão expressivo quanto parece.
Quarenta por cento sobre vinte por cento é,  em números absolutos, várias vezes superior aos 375%.Isso significa que o ungido de Lula vai ultrapassar o adversário? Não! Isso quer dizer que está em curso uma transferência maciça de votos de Lula para aquele que assumiu o seu lugar na chapa — e numa velocidade superior à imaginada pelos petistas e pelos adversários.

O que escapa pelas margens da antevisão do partido é a resiliência de Ciro Gomes, que, agora, no Ibope, fica num terceiro lugar já distante, mas com ainda apreciáveis 11%, e o fraco desempenho de Geraldo Alckmin. Não deixa de ser curioso, mas a marca muito baixa do tucano é que preocupa os petistas neste momento porque, por óbvio, ele não cresceria sobre votos que iriam para Haddad. O que se esperava é que capturasse eleitores de outros candidatos conservadores e que tomasse alguns de Bolsonaro. Dados os números do Ibope, no entanto, isso não aconteceu.

Em uma semana, Alckmin oscilou de 9% para 7%, e o candidato do PSL, de 26% para 28%. Três outros candidatos conservadores oscilaram para baixo no período: Henrique Meirelles (PMDB), João Amoêdo (Novo) e Álvaro Dias (Podemos) foram de 3% para 2%. Há que se ficar atento a esse trânsito. Ainda que esses dados tenham se movido na margem de erro, que é de 2 pontos para mais ou para menos, notem que os nomes à direita perderam cinco pontos (incluindo os dois de Alckmin), mas Bolsonaro ganhou apenas 2. Na semana em questão, no entanto, Haddad disparou incríveis 11 pontos.  Ocorre que a diferença de Haddad em relação a Bolsonaro é considerável: nos extremos da margem de erro mais favoráveis ao PT, pode ser de 5 pontos; nos mais desfavoráveis, de 13. Se o PT tivesse como, daria um jeito, hoje, de turbinar a candidatura de Alckmin para que arrancasse votos de Bolsonaro.

Vitória no primeiro turno? Está longe! A conversa de que Bolsonaro pode ganhar no primeiro turno é, por enquanto, um sonho de inverno. Levando-se em consideração os números do Ibope, que aponta 14% de votos brancos e nulos, Bolsonaro estaria hoje com 32,5% dos válidos. Ainda que, em razão da margem de erro, os inválidos sejam 16% e que Bolsonaro tenha 30%, chegaria a 35,7%.

Há outros elementos a considerar. É possível que a transferência de votos para Haddad diminua de ritmo, mas tudo indica que ainda não tenha acabado. O petista avançou em todas as regiões, mas em especial no Nordeste: passou de 13% para 31% em um mês. Ocorre que Lula chegou a ultrapassar a marca de 50% na região. O petista também cresceu no Sudeste: de 6% para 15% — mas, nesse caso, fica bem atrás de Bolsonaro, que tem 29%. Entre os que ganham cinco salários mínimos ou mais, o candidato do PSL está com com 41%, mas conta com apenas 12% entre os que recebem até um mínimo.  De todo modo, o PT passou a ficar atento ao risco de uma disparada do adversário. E chegou à conclusão de que a amenização do discurso para não empurrar eleitores do centro para a órbita de Bolsonaro terá de ser operada já no primeiro turno.

Blog do Reinaldo Azevedo


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E Bolsonaro? Por enquanto, não há sinais de que o candidato esteja disposto a amenizar o discurso. Embora o alto-comando tenha se surpreendido com o ritmo da ascensão de Haddad, o núcleo duro da campanha avalia que ele pode ser positivo se isso tornar o deputado o desaguadouro do antipetismo. Por enquanto, a avaliação e que o “risco PT” acabará por elegê-lo.."

 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Onda furada

Fala-se de 'virada' à direita como se algum dia o Brasil tivesse sido de esquerda

Concluídas as eleições, inicia-se a fase das conclusões. No geral, apressadas quando se trata de fazer projeções. A mais difundida no momento é a que põe nas mãos do governador Geraldo Alckmin a legenda do PSDB para concorrer à Presidência da República em 2018, como consequência da vitória em primeiro turno de João Doria para a Prefeitura de São Paulo, da conquista de importantes cidades no Estado e da derrota do candidato do senador Aécio Neves à prefeitura de Belo Horizonte.

Nesses casos de A + B=C, somam-se bananas com laranjas e trata-se a política como se fosse ciência exata ou como algo que funcione no piloto automático. No meio, entre um acontecimento e outros há os fatos, há as circunstâncias e há gente, espécie humana, categoria instável, sujeita aos efeitos da chuva e das trovoadas.  Experiente no tema, Alckmin tratou anteontem de declarar algo que certamente não pensa: que, no momento, a disputa de 2018 não está na agenda dele nem do PSDB. É claro que está, mas é daquelas coisas que o político precavido não assume. Entre outros motivos para não se queimar e ver se consegue atravessar a distância entre uma eleição e outra com chance de sucesso na tarefa de ultrapassar obstáculos.

São inúmeros. Na seara tucana há dois com nomes e sobrenomes: José Serra e Aécio Neves. Sem contar os respectivos aliados internos e externos. O primeiro é chanceler e um interlocutor privilegiado no PMDB. Importantíssimo para a eventualidade da conquista desse apoio caso o partido de Michel Temer não concorra ou não chegue ao segundo turno em 2018. O segundo é senador e presidente do PSDB; tem a máquina, portanto. Ambos contam com visibilidade garantida, além de não terem seus destinos ligados ao êxito ou fracasso de alguém, como Alckmin precisa de que João Doria corresponda às expectativas do maior eleitorado do País.

Além disso, a própria história de eleições fornece milhões de exemplos de desconexão entre resultados bons e maus. Dois deles: em 2008, Geraldo Alckmin não chegou ao segundo turno na eleição municipal em São Paulo, disputada entre Marta Suplicy e Gilberto Kassab, o vitorioso; em 2014, Aécio Neves teve menos votos que Dilma Rousseff em Minas Gerais, seu reduto principal, mas por pouco não ganhou dela na final pela Presidência.

Vamos a outro caso de conclusão apressada que, aliás, dá título a este texto: a tal da onda conservadora que supostamente varre o País. Por causa da derrota ampla, geral e irrestrita do PT? Pela eleição de Marcelo Crivella no Rio de Janeiro? Pela vitória de Doria?
Ora, o fiasco do PT não tem nada a ver com ideologia. Tem a ver com corrupção e desatino na administração da economia. Ademais, quem disse que os petistas detém o monopólio do pensamento de esquerda? Governou com e para a direita atrasada, tratou os mais pobres como consumidores – algo típico do coronelato arcaico dos grotões. Além disso, seu líder máximo quando sindicalista declarava não ser de esquerda. Lula vestiu essa roupagem quando precisou dela para construir um partido.

Doria venceu em São Paulo por ter sabido encarnar com eficiência o antipetismo. Crivella ganhou no Rio em boa medida pela autossuficiência do prefeito Eduardo Paes que insistiu em apoiar um candidato eleitoralmente inviável. De onde o segundo turno entre o bispo aposentado e um candidato visto como representante de uma esquerda amalucada. Marcelo Freixo, convenhamos, não chega perto de ser um Fernando Gabeira, que, aliás, perdeu de pouco para Paes em 2008 quando, pela régua dos arautos da onda conservadora, o Brasil era de esquerda.
Em momento algum o País teve a prevalência da corrente de esquerda. Não nos esqueçamos: Lula só ganhou a eleição quando adaptou seu discurso ao centro e fez uma Carta aos Brasileiros jurando fidelidade à política econômica qualificada pejorativa e equivocadamente como neoliberal.


Fonte: Dora Kramer - O Estado de S. Paulo

terça-feira, 2 de junho de 2015

O Senado reage aos jabutis mas não avisou ao Romero Jucá

Negócios e política 

Reação do Senado aos ‘jabutis’ na rotina legislativa talvez leve o deputado Eduardo Cunha a perceber que o poder da presidência da Câmara tem limite — o do interesse público

O Senado resolveu exterminar jabutis. Não se trata dos répteis da ordem dos quelônios, heroicos em narrativas de tom silvestre colecionadas por Câmara Cascudo. No Congresso, o bicho é referência de proposta alheia ao tema principal e contrabandeada num projeto de lei ou medida provisória. Os senadores anunciaram barreiras à frequência de jabutis na rotina legislativa, a maior parte procriada em gabinetes na Câmara dos Deputados.

Na quinta-feira, por exemplo, o Senado tinha na pauta uma medida provisória (número 668). O texto publicado pelo governo continha quatro artigos que aumentavam tributos sobre produtos importados, para consertar uma distorção prejudicial à indústria nacional. Em 15 semanas no Congresso recebeu 107 emendas. Dessas, 80 privilegiavam alguns setores da economia com novas isenções, parcelamentos e até perdão de dívidas com o Erário, numa época de esforço coletivo para reequilíbrio das finanças públicas. Autêntica farra fiscal.

O senador Romero Jucá (PMDB-RR), por exemplo, quis impor ao Tesouro a concessão de até R$ 400 milhões por ano em subsídios a empresas exportadoras. O valor representaria 66% do que o governo previa ganhar no aumento da tributação sobre importados.  Houve recuo em 79% das propostas. O projeto de quatro artigos ficou com 27. Entre eles, a iniciativa do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, liberando parcerias público-privadas no Legislativo. Ele sonha construir um centro comercial anexo ao palácio dos deputados, o “parlashopping”.

Senadores reagiram. “Isso é um estupro”, qualificou Cristovam Buarque (PDT-DF). “Afronta à consciência nacional, e eu me sinto injuriado”, completou Tasso Jereissati (PSDB-CE). “Gastar R$1 bilhão é um escárnio ao povo”, acrescentou Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). Para Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), a Câmara “já é um balcão de negócios, agora vai se transformar num mercado persa.” Até Jader Barbalho (PMDB-PA), que há 15 anos foi preso e renunciou ao mandato sob acusação de desvio de dinheiro público, protestou: “Não vou ficar aqui assistindo negociata lá do outro lado. Ele (Eduardo Cunha) que vá construir o que quiser, mas não à custa do conceito das instituições. É um absurdo esse balcão de negócios.”

Seis anos atrás viu-se algo semelhante na Câmara. Cunha ampliara o acesso ao caixa da Eletrobras, em projeto pouco transparente. “É a desmoralização, é a instituição da propina”, saiu gritando no plenário um de seus antigos aliados no governo Collor, o deputado Humberto Souto (PPS-MG). “Inconstitucional”, repetia José Carlos Aleluia (DEM-BA), “e imoral”, completava Chico Alencar (PSOL-RJ).

Cunha aprendeu a decodificar o poder pelas lentes do empresário Paulo César Farias, o PC Farias, o falecido “caixa” do ex-presidente Collor, para quem política e negócios eram sinônimos. Deve-lhe seu primeiro cargo público relevante, o comando da extinta Telerj.  Impetuoso, superou o mestre, consolidou-se como referência do antipetismo e avança na costura de uma aliança para emparedar a presidente Dilma Rousseff, cuja capacidade de iniciativa política se esvai. Na semana passada, porém, Cunha talvez tenha começado a perceber que o poder da presidência da Câmara tem limite — o do interesse público.

Fonte: José Casado - O Globo
 

segunda-feira, 9 de março de 2015

Em lugar de tentar explicar sua ignorância e mentiras, Dilma deveria ter lido sua carta de renúncia e privilegiado os brasileiros com sua ausência definitiva



Grupos a favor do impeachment proliferam na internet
Após pronunciamento da presidente, o Senador Aécio Neves usou as redes sociais para dizer que Dilma deveria ter feito um 'pedido de desculpas'
Com sua fala de domingo a noite, a presidente Dilma fez convocação para os protestos do próximo domingo

As primeiras grandes manifestações de junho de 2013 foram convocadas pelo Movimento Passe Livre, um grupo formado majoritariamente por estudantes universitários de esquerda. Em pouco tempo, os protestos cresceram com adesões espontâneas oriundas de uma corrente de insatisfação generalizada pelas redes sociais. Com bandeiras difusas e vagas - e sem orientação ideológica -, milhares de pessoas foram às ruas em todo o País e derrubaram os índices de popularidade da classe política.

A onda que parecia grande quebrou antes das eleições, mas começou a se formar novamente no 2º turno da sucessão presidencial de 2014. Desta vez, porém, o "contra tudo que está aí" foi substituído pelo antipetismo. E pela primeira vez em sua história o PSDB colocou milhares de pessoas nas ruas em defesa da candidatura de Aécio Neves (PSDB).

Foi logo depois do 2º turno, com a vitória da presidente Dilma Rousseff sobre Aécio numa eleição apertada, que as primeiras organizações virtuais antipetistas começaram a ganhar status. Nas duas manifestações do ano passado depois do 2º turno, eram apenas três os grupos que comandavam os atos com carros de som: Vem pra Rua, Brasil Livre e Revoltados On Line; um quarto grupo defendia a intervenção militar.

Agora, já são pelo menos 20 grupos diferentes, entre eles um chamado "Onda Azul", que é diretamente ligado ao PSDB. Entre outros estão Acorda Brasil, Brasil Melhor e Quero me Defender. O foco atual desses grupos é realizar um grande ato de rua para o dia 15 de março.

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na IstoÉ