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sexta-feira, 19 de julho de 2019

Por favor, Senado, freie o Bolsonaro! - Ruth de Aquino

O Globo

O jogo só acaba quando termina. Por isso, não vamos arriscar definir nos pênaltis ou no VAR. O que começou como um mero “balão de ensaio” – a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada do Brasil em Washington – começa a ganhar ares de verdade. O presidente ignora impedimentos, atropela críticas de juízes, peita o bandeirinha Olavo de Carvalho, refuta apitos de nepotismo e infla o passe do filho.

Jair Bolsonaro, o pai do ano, só pensa nisso. Naquilo também. Porte de armas e fuzis, trabalho infantil, desmatamento, especulação imobiliária em reservas, cortes na educação básica, agrados a infratores de trânsito e gratidão ao árbitro Dias Toffoli, presidente e plantonista do STF, por livrar o 01 Flávio de uma eventual penalidade máxima por desvios de dinheiro. Mas, senadores e cidadãos, vamos ficar só nisso, na indicação para a embaixada americana

Vamos manter o foco para não parecer biruta nos ventos do Planalto. É tudo o que Bolsonaro deseja. Desconcentrar, quebrar a resistência, arrumar emprego para a família toda enquanto é o dono da bola. Agora levou o caçula, o 04 Jair Renan, para a Argentina e se referiu a ele como “embaixador mirim”. O rapaz de 20 anos é conhecido como “Bolsokid” nas redes. Pelo menos, Bolsonaro não tem 11 filhos.
Caro presidente do Senado Davi Alcolumbre, não vamos expor o Brasil ao ridículo, combinado? Articule discretamente esse veto ao Dudu embaixador. O voto é secreto, mas há um movimento para torná-lo aberto e a nação saber quem é quem. Caso o Senado barre a esdrúxula ideia de consagrar embaixador nos EUA o 03, especialista em fritar hambúrguer, será um grande momento para o Congresso.

Senadores terão agido pelo interesse público e nacional. Além de se gabar de uma pós-graduação não concluída, Eduardo derrapa no português: num tuíte, escreveu “fundo do posso” em vez de “poço”. Mas, segundo o pai, bate um bolão no inglês.
O pai Jair premedita isso faz tempo. Em março, jogou para escanteio o chanceler na visita a Donald Trump, botou o Dudu no Salão Oval a portas fechadas, esperou os 35 anos do filho para convocá-lo. Jair defendeu o filho como um futuro “grande embaixador”. Se é amigo de Trump, deveria desistir de Washington. Porque essa amizade trava o jogo diplomático honesto. Também não sei de onde os Bolsonaro tiraram essa noção de que Eduardo é “conhecedor de relações internacionais”.

Será que foi dessa declaração de Eduardo? “São bombas nucleares que garantem a paz. Se nós já tivéssemos os submarinos nucleares finalizados, que têm uma economia muito maior dentro d'água; se nós tivéssemos um efetivo maior, talvez fôssemos levados mais a sério pelo (Nicolás) Maduro”. Sensacional. O Senado deveria explorar essas teses de Eduardo na sabatina. Ah, mas ele também conhece segurança pública. Defende “acesso às armas para que amanhã a gente aqui não fique sob os desmandos de um governo autoritário”. Pronto para assumir uma embaixada.

Bolsonaro já reclamou do Congresso e disse que o Brasil era “ingovernável”. Temia virar um presidente figurativo, uma rainha da Inglaterra. Mas quem se coloca como um bobo da corte é ele. O Congresso tem o dever de frear os delírios bolsonaristas. Tem muita gente que ainda vê o atual presidente como estadista. Afinal, 7% dos brasileiros afirmam que a Terra é plana. Então tem de tudo. Não adianta a gente se lamuriar e se desnortear. Precisamos é resistir. Com abaixo-assinados, jogo aberto e respeito a todas as regras democráticas.

Ruth de Aquino, jornalista - O Globo

 

domingo, 14 de julho de 2019

A esquerda em seu labirinto - Luiz Carlos Azedo

 Correio Braziliense- Nas Entrelinhas
“Pela natureza do animal político, digamos assim, como na fábula do escorpião e o sapo, é ingenuidade não perceber que a gana de poder de Bolsonaro é mais absolutista do que republicana”

A derrota acachapante dos partidos de esquerda na reforma da Previdência, na qual obtiveram apenas 131 votos, é a repetição de duas outras quedas históricas na Câmara: a votação do impeachment de Dilma Rousseff e a aprovação do teto de gastos no governo Temer. Qualquer estrategista político diria: tem algo errado aí! Ainda mais porque houve uma mudança de rumo na opinião pública e o vento passou a soprar a favor da reforma, inviabilizando tentativas de mobilizar trabalhadores e corporações historicamente lideradas pelos partidos de esquerda para barrar o texto. Ao olharmos o resultado das votações das emendas, que resultaram numa lipoaspiração de R$ 150 bilhões em relação ao proposto pelo relator Samuel Moreira (PSDB-SP), veremos que a esquerda somente saiu do isolamento quando se uniu aos ruralistas e à bancada da bala para barganhar a aprovação das emendas a favor do regime especial de professores e do pessoal da segurança. Pode-se dizer que isso é “fazer política”, mas não é a grande política no sentido da construção de alternativa de poder. Muita água ainda vai rolar sob a ponte até as eleições de 2022, mas as três derrotas da esquerda no Congresso sinalizam o que pode vir a acontecer: a reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

Explico: o presidente da República, com suas atitudes, perdeu o amplo apoio que obteve no segundo turno das eleições, mas entusiasma sua base eleitoral com propostas de direita, com viés reacionário em matéria de costumes. Bolsonaro mantém coerência com o discurso de campanha do primeiro turno, como se nela permanecesse, principalmente nas redes sociais. O caso da indicação do filho Eduardo para a embaixada em Washington humilhou o Itamaraty [curioso: vários presidentes nomearam pessoas estranhas à carreira diplomática para o importante cargo de embaixador em Washington e não foi denunciado que o Itamaraty foi humilhado - só é possível pensar que o escarcéu se deve a nomeação ter sido feita pelo presidente JAIR BOLSONARO - eleito com quase 60.000.000 de votos e que pôs fim a roubalheira aos cofres públicos, vigente desde 2002.
 
Até banqueiro, Walther Moreira Salles, foi embaixador na capital dos EUA.]  e chocou a opinião pública, mas é um lance claro de que pretende estreitar sua aliança com Donald Trump e transformar o filho num articulador internacional desse campo de forças de direita. Provavelmente, tentará fazê-lo uma espécie de chanceler de fato.

Em circunstâncias normais, as atitudes de Bolsonaro, com essa orientação política assumidamente de direita, permitiriam a articulação de uma ampla frente de forças políticas, unindo o centro democrático às forças de esquerda. A oportunidade é generosa, se levarmos em conta que a votação da reforma da Previdência rearticulou no Congresso as forças que ficaram de fora da disputa do segundo turno com a derrota do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Na Câmara, o reagrupamento desses setores ocorreu sob a liderança do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ); fora do parlamento, porém, ainda é uma incógnita. Está bloqueada pelo “Lula livre!” e a divisão do PSDB. O governador João Doria (SP), apesar de aliado a Maia, também enfrenta dificuldades para liderar esse bloco em razão do histórico isolamento de São Paulo em relação aos demais estados. Além disso, seu discurso modernizador mira uma alternativa de poder cuja viabilidade depende do fracasso de Bolsonaro e não do resgate da centro-esquerda perante a sociedade, deixando o campo livre para a velha política do PT.

Estorvo
É aí que Bolsonaro nada de braçada: divide o ônus da reforma com o Congresso e fatura sozinho a agenda de direita, que lhe garante ao menos um terço do eleitorado e um lugar cativo no segundo turno das eleições de 2022. Alguns dirão, mas o PT faz a mesma coisa, com sua oposição radical às reformas, o que preserva a sua base eleitoral e as alianças históricas com o PDT, PSB e PSol. Essa é a tragédia. É tudo o que Bolsonaro deseja como oposição à sua reeleição, impedindo o surgimento de uma terceira via, digamos assim, mais democrática e moderada. A estratégia petista aposta no fracasso de Bolsonaro, tanto quando a de Doria, com a diferença de que o tucano tem a opção de se retirar da disputa e buscar a reeleição ao Bandeirantes.

Há uma enorme diferença entre um governo de direita num regime democrático, com um projeto reacionário que não empolga a sociedade e acaba mitigado pelas instituições democráticas; e um governo populista autoritário, que atropela as instituições democráticas, porque seu projeto de modernização tem adesão da sociedade e apresenta bons resultados. Pela natureza do animal político, digamos assim, como na fábula do escorpião e o sapo, é ingenuidade não perceber que a gana de poder de Bolsonaro é mais absolutista do que republicana. É aí que mora o perigo da política do PT, cujo eixo continua sendo o “Lula livre!” e zero autocrítica em relação aos escândalos do mensalão e da Petrobras. O ex-presidente Lula e seu grupo político nunca se preocuparam com a estabilidade do processo democrático, nem mesmo na transição à democracia. Essa postura foi um estorvo para a aprovação da anistia, para a eleição de Tancredo Neves e a consolidação da democracia, mas não era um fator decisivo, porque havia um amplo espectro de forças políticas que sustentavam o Estado de direito democrático, com respaldo da sociedade.

Entretanto, não existia uma direita organizada no país, a velha direita havia sido liquidada pelos próprios militares. Agora há. Tudo bem, o centro político, apesar de derrotado nas eleições e sem poder de mobilização popular, exerce o papel de sempre como garantidor da democracia, entrincheirado no Congresso. Hoje, isso é suficiente para garantir o calendário eleitoral e o funcionamento das instituições sob ataque permanente dos partidários de Bolsonaro nas redes sociais, como acontece com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. [a facilidade de comunicação permite que erros sejam denunciados:
- erra um Congresso que coloca uma categoria dos seus servidores - policiais legislativos que não trabalham em funções policiais - entre os que aposentarão mais cedo;
- erra um Supremo que em um país com mais de 13.000.00 de desempregado, por baixo 40.000.000 de brasileiros na penúria, gasta milhões com iguarias para banquetes - incluindo lagosta na manteiga, bebidas de safras especiais.
As denúncias são feitas por existir o que é denunciado.] Mas, e depois, quando Bolsonaro estiver bafejado pela recuperação da economia e embalado por uma proposta de reforma política cujo objetivo será fortalecer o Executivo em relação aos demais poderes, como na Rússia, na Turquia e na Hungria?
 
 Luiz Carlos Azedo, jornalista

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Governo Bolsonaro: quem são os líderes estrangeiros que assistirão à posse?

Mesmo com a ausência dos presidentes de Venezuela, Cuba e Nicarágua, chefes de Estado latino-americanos compõem a maioria dos líderes que confirmaram presença na posse de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto nesta terça-feira, mantendo o padrão das últimas inaugurações de mandato presidencial no país. A lista de autoridades, porém, deve destoar das anteriores pela presença dos líderes conservadores de Israel e da Hungria, além da fraca presença de mandatários africanos. [relação abaixo.]



Líderes de esquerda
Integram o grupo que assistirá à posse de Bolsonaro os presidentes de sete países sul-americanos incluindo os líderes de esquerda Evo Morales, da Bolívia -[convite parte de cerimonial, ainda integrante do Governo Temer, mas, que aceita sugestões do presidente eleito, por isso Bolsonaro deveria ter recomendado que o cocalero Morales não fosse convidado]  - , e Tabaré Vázquez, do Uruguai. 

Os presidentes de Venezuela, Cuba e Nicarágua não foram convidados à cerimônia, segundo o futuro chanceler, Ernesto Araújo, que expôs divergências ideológicas com os três governos e os acusou de ditatoriais pelo Twitter.
Para Geraldo Zaran, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, a presença de grande número de líderes sul-americanos na posse de Bolsonaro e de seus antecessores evidencia a importância do Brasil na região.
Ele afirma que o protagonismo do país também explica a vinda dos líderes da Bolívia e Uruguai, cujos países mantêm fortes laços econômicos com o Brasil e teriam optado por uma postura pragmática, apesar das divergências políticas com Bolsonaro.
O Brasil é o maior importador de produtos bolivianos e uruguaios e mantém fronteira com as duas nações. 

(...)

A vinda do líder húngaro, por sua vez, sinalizaria a busca por uma aliança política e econômica com o Brasil, segundo Guedes.
"A Hungria e outros membros da nova direita europeia têm se sentido constrangidos pela União Europeia por defenderem políticas que vão de encontro às europeias", afirma. "A aproximação com o Brasil pode ser um canal de escape." 

Política externa para a África
Guedes destaca ainda a ausência, por ora, de confirmações entre líderes africanos – diferença significativa em relação às posses anteriores. Quatro chefes de Estado africanos estiveram na primeira posse de Dilma Rousseff em 2011, e três participaram da segunda, em 2014. 

Segundo o professor, as visitas refletiam a importância que a política externa petista dava à África, destino de investimentos brasileiros e vista como um baú de votos em organizações internacionais. Com Bolsonaro, porém, o continente deve passar a ser encarado apenas segundo seu potencial econômico, afirma o analista. 

Confira a lista de chefes de Estado que devem vir à posse nesta terça: 
Argentina: Mauricio Macri 
Bolívia: Evo Morales
Chile: Sebastián Piñera 
Colômbia: Iván Duque Márquez 
Hungria: Viktor Orbán
Paraguai: Mario Abdo Benítez
Peru: Martín Vizcarra
Portugal:  Marcelo Rebelo de Sousa
Uruguai: Tabaré Vázquez 


Outras autoridades confirmadas
Mike Pompeo, secretário de Estado dos Estados Unidos,e Ji Bingxuan, vice-presidente do Comitê Permanente da Assembleia Popular (Parlamento chinês). 
[Mike Pompeu e Ji Bingxuan,  representam os respectivos presidentes; 

As nações árabes não enviaram representantes com nível de Chefe de Estado, o que é normal, tendo em vista que o presidente eleito, demonstra claramente seu desinteresse em considerar  relacionamento comercial, como critério para posicionamento em outras áreas.]  


segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Brasil convidou e desconvidou Cuba e Venezuela para posse

Bolsonaro: “Ele (Maduro) com certeza não vai receber (um convite para a posse)”.


Maduro não foi convidado para posse de Bolsonaro, diz futuro chanceler

O governo brasileiro convidou e desconvidou Cuba e Venezuela para a posse do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL).  

 Em nota, o Itamaraty afirmou que recebeu a recomendação para convidar todos os chefes de Estado e de Governo dos países com os quais o Brasil mantém relações diplomáticas. Em um segundo momento, foi recebida a recomendação de que Cuba e Venezuela não deveriam mais constar da lista, o que exigiu uma nova comunicação a esses dois governos. 
"Em respeito ao povo venezuelano, não convidamos Nicolás Maduro para a posse do presidente Bolsonaro. Não há lugar para Maduro numa celebração da democracia", escreveu, pelo Twitter, Ernesto Araújo

Sem considerar o imbróglio, Bolsonaro afirmou no domingo (16) que não os convidaria.
"Ele (Maduro) com certeza não vai receber (um convite para a posse). Nem ele, nem o ditador que substitui Fidel Castro... Fidel Castro não, Raúl Castro."
Segundo o presidente eleito, a razão é a ditadura. "Não podemos admitir ditadura. O povo lá não tem liberdade."



O futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou hoje (16), em sua conta no Twitter, que o presidente venezuelano Nicolás Maduro não foi convidado para a posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro, no dia 1º de janeiro. São esperados chefes de Estado e de governo para a posse.
“Em respeito ao povo venezuelano, não convidamos Nicolás Maduro para a posse do PR Bolsonaro. Não há lugar para Maduro numa celebração da democracia e do triunfo da vontade popular brasileira. Todos os países do mundo devem deixar de apoiá-lo e unir-se para libertar a Venezuela, escreveu em um post na rede social.
Bolsonaro e Araújo já criticaram o regime do presidente Maduro em outras ocasiões, mas disseram que o Brasil vai continuar a acolher os venezuelanos que entrarem no país.

Horas após a fala de Bolsonaro, o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, publicou no Twitter as imagens do convite e afirmou que o presidente Nicolás Maduro nunca considerou participar da posse "de um presidente que é a expressão da intolerância, do fascismo e da entrega a interesses contrários à integração da América Latina e Caribe".

O Itamaraty, entretanto, destaca que a organização da posse é feita em coordenação com o governo eleito. "Os atos são formalizados pelo governo atual (até primeiro de janeiro de 2019, como previsto na Constituição), após consulta à equipe que assumirá na ocasião", diz trecho da nota.  

O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Governo já tem uma cara, a oposição ainda não

Eleito pelo voto do contra, Jair Bolsonaro não adquiriu do dia para a noite o physique du rôle de um presidente da República. Mas o principal atributo que o capitão irradiou no imaginário do seu eleitorado —a sensação de que nada seria como antes— continua presente na montagem do ministério.  Do ponto de vista econômico, o dono da aura de Bolsonaro é o liberalismo radical de Paulo Guedes. E do ponto de vista político, seu governo algemou-se ao prestígio de Sergio Moro, numa manobra cujo êxito dependerá da liberdade que o ex-juiz tiver para infundir na máquina estatal o padrão Lava Jato. Diante desse cenário pós-tsunami, a satanização de Bolsonaro perdeu relevância. Atônitos, os adversários do novo presidente demoram a perceber algo simples: ninguém se afoga por cair na água, mas por permanecer lá. Restaram à oposição duas alternativas.

Os antagonistas de Bolsonaro podem flutuar agarrados a um feixe de ideias ou ir ao fundo com o sentimento da raiva amarrado ao pescoço. Hoje, a oposição passa a impressão de que procura uma ideia desesperadamente. Mais ou menos como um cachorro que caiu do caminhão de mudança e esqueceu onde escondeu o osso.  Considerando-se que a presidência-tampão de Michel Temer é herança do petismo, a posse de Bolsonaro representará o fim de um ciclo de 16 anos. Temer foi levado ao trono graças à traição de legendas que sustentaram o PT. E manteve na Esplanada figurões que enfeitaram o primeiro escalão de Lula e da própria Dilma.

Mudança drástica e genuína ocorrerá em 1º de janeiro de 2019. Goste-se ou não, o capitão chegou ao Planalto pelo voto. O que torna despiciendo qualquer debate sobre a legitimidade do resultado. Depois da posse, o governo despejará sobre o Congresso suas propostas. E a oposição terá de informar o que quer da vida. O economista Paulo Guedes colocará sobre a mesa, por exemplo, uma proposta de reforma da Previdência. O ex-juiz Sergio Moro desembrulhará o seu pacote anticorrupção e anticrime organizado. Como votar contra o equilíbrio fiscal e o combate à roubalheira? A qualidade da oposição depende dessa resposta.

Num instante em que o PT continua embrulhado na bandeira ‘Lula Livre’ e o PSDB está em chamas, abriu-se no Congresso uma avenida para o surgimento de uma nova oposição, menos venenosa e mais ativa. A maioria do petismo quer virar a mesa, não sentar em torno dela. O tucanato prefere ficar embaixo da mesa. Terceiro colocado na disputa presidencial, Ciro Gomes já enxergou as oportunidades que a conjuntura oferece. Mas o esboço de entendimento que existe entre o seu PDT, o PSB, o PPS e a Rede está longe, muito longe de constituir uma frente sólida de oposição.

Por ora, há em Brasília apenas dois polos nítidos de oposição ao projeto de Bolsonaro: o próprio Bolsonaro e os auxiliares dele. O capitão não passa semana sem atirar contra os seus pés. O último disparo foi a indicação do trumpista Ernesto Araújo para o posto de chanceler. E alguns dos seus auxiliares dedicam-se a transformar a transição de governo numa canoa dividida —metade da tripulação olhando para um lado e metade remando para o outro.

Blog do Josias de Souza

LEIA TAMBÉM:Itamaraty buscará ‘falcatruas’ do PT na diplomacia, anuncia novo chanceler


sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Direita se organiza

A direita de Bolsonaro não é amadora

José Dirceu já entendeu que Bolsonaro ‘tem muita base social, muita força e muito tempo pela frente’

José Dirceu, o outrora super poderoso ministro de Lula, continua sendo o que melhor pensa estrategicamente no PT, mesmo com tornozeleira eletrônica e muitos anos de cadeia pela frente. Ele já entendeu que o governo Bolsonaro tem “muita base social, muita força e muito tempo pela frente. Vai transformar a segurança em pauta”. Dirceu diagnostica que, em 13 anos e meio de governo, o PT “se afastou do dia a dia do povo”.

A escolha do embaixador Ernesto Araújo para ministro das Relações Exteriores corresponde à ideia de dar ao presidente eleito Jair Bolsonaro um papel relevante entre os partidos do espectro direitista na América Latina e no mundo. Ele seria uma espécie de “Celso Amorim da direita”, em referência ao chanceler que inventou a imagem de Lula como grande líder popular no mundo, a ponto de pretender mediar o conflito do Oriente Médio e a crise dos Estados Unidos com o Irã.

Não deu certo, mas restam, principalmente na Europa, intelectuais e líderes de esquerda que ainda consideram Lula um preso político. Com uma imagem desgastada no exterior, devido a seu histórico político de radicalismos, Bolsonaro vai precisar se firmar como líder de sua tendência política, e quem está ajudando nessa tarefa é Eduardo Bolsonaro, eleito o deputado federal mais votado da história do país, e  Steve Bannon, ex-conselheiro de Donald Trump e ideólogo de uma direita internacional que projeta um grupo para reunir os partidos de direita ou extrema direita da Europa em torno de discussões políticas comuns.

A indicação de Ernesto Araújo teve o entusiasmo de André Marinho, filho de Paulo Marinho, que é suplente do Bolsonaro senador, mas só começou a ser levada a sério com o apoio de Eduardo, que pretende ser o líder intelectual da direita na região. Ele viajara aos Estados Unidos, onde morou, para manter contatos com autoridades do governo Trump, já que seu pai não pode viajar. Na América Latina, a Fundação Índigo, ligada ao PSL, partido de Bolsonaro, tentou levar o então candidato a uma reunião em Foz do Iguaçu, financiada por um Centro de Estudos em Seguridade (CES), ligado à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A ideia era que o evento fosse um contraponto ao Foro de São Paulo, que reúne representantes da esquerda de vários países, criado em parceria entre Lula e Fidel Castro, e chegou a eleger a maioria dos presidentes de países vizinhos.

A quase totalidade hoje está envolvida em corrupção no mesmo esquema com a Odebrecht que o PT exportou para a região. Quem entendeu com antecedência a ascensão da direita no país e no mundo, com pesquisas qualitativas que já prenunciavam esse comportamento conservador do eleitor brasileiro, foi o Democratas, através do ex-prefeito Cesar Maia do Rio.  Ele colocou o partido em contato com a Internacional Democrata de Centro (IDC), contraponto à Internacional Socialista (IS), que tem em seus quadros o PDT como membro efetivo e o PT como observador. Ambos boicotaram a entrada do PSDB como membro efetivo.

Mas o DEM não teve coragem de assumir uma posição direitista pura, seguindo o que diziam as pesquisas, que indicavam o eleitor médio brasileiro mais ligado a valores conservadores, família e propriedade, e também receoso com a segurança publica.
Entre os palestrantes da “Cúpula Conservadora das Américas” em Foz do Iguaçu estariam na mesa de Cultura o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, filiado ao PSL, o cientista político venezuelano Roderick Navarro, o cubano Orlando Gutierrez-Boronat, do Diretório Democrático Cubano, e o filósofo e escritor Olavo de Carvalho. Diversos representantes de países da América do Sul, como Paraguai, Colômbia, Chile, estão na relação do encontro, que foi adiado para dezembro porque Bolsonaro não quis fazer a reunião durante a campanha eleitoral, com receio dos gastos serem vetados pela Justiça Eleitoral.

Como se vê, a turma que chegou ao poder nada tem de amadora, embora ainda se ressinta de uma organização de comunicação que evite a batição de cabeças. Dirceu tem razão, e um dos projetos dos Bolsonaro é entrar no nicho eleitoral do PT no Nordeste. É a primeira vez que um governo não petista terá a oportunidade de mostrar àquela região, sustentáculo do PT com os votos que levaram Haddad ao segundo turno, que também se preocupa com os pobres.

Merval Pereira - O Globo