Só terremoto salva
Ascânio Seleme - O Globo
[nosso anseio de ajudar nos leva a dois comentários e um conselho:
- 38% agora, no meio de uma pandemia que, graças a DEUS, já atingiu a imunidade de rebanho e começa a cair o número de contágio e mortes;
- ainda no final deste ano, quando a economia começar o processo de recuperação, os números pró Bolsonaro subirão juntos.
De tudo isto, não resistimos e aconselhamos: aceitem, que dói menos.
Ou aquele mais radical: já que o ....... ... inevitável...... r....... e g...]
Fernando Henrique Cardoso pode até não admitir, mas no fundo deve estar arrependido por haver se empenhado tanto pela aprovação do princípio da reeleição em 1997. Com o falso objetivo de consolidar o Plano Real, criou um monstrengo que atrapalha governos e confunde eleitores. Por sua causa, governantes em primeiro mandato trabalham principalmente para ganhar o segundo, e os eleitores acabam sendo enganados ao julgar os mandatários com base em suas “bondades”. Todos os presidentes foram reeleitos desde a aprovação da emenda, mesmo os enrolados.
[nosso anseio de ajudar nos leva a dois comentários e um conselho:
- 38% agora, no meio de uma pandemia que, graças a DEUS, já atingiu a imunidade de rebanho e começa a cair o número de contágio e mortes;
- ainda no final deste ano, quando a economia começar o processo de recuperação, os números pró Bolsonaro subirão juntos.
De tudo isto, não resistimos e aconselhamos: aceitem, que dói menos.
Ou aquele mais radical: já que o ....... ... inevitável...... r....... e g...]
Fernando Henrique Cardoso pode até não admitir, mas no fundo deve estar arrependido por haver se empenhado tanto pela aprovação do princípio da reeleição em 1997. Com o falso objetivo de consolidar o Plano Real, criou um monstrengo que atrapalha governos e confunde eleitores. Por sua causa, governantes em primeiro mandato trabalham principalmente para ganhar o segundo, e os eleitores acabam sendo enganados ao julgar os mandatários com base em suas “bondades”. Todos os presidentes foram reeleitos desde a aprovação da emenda, mesmo os enrolados.
A primeira prova de que o princípio torna nebulosa a gestão do
postulante a um segundo mandato foi dada pelo próprio FH, que em 1998
segurou artificialmente o câmbio para não atrapalhar sua reeleição e,
quando teve de soltá-lo em janeiro do ano seguinte, causou um tsunami na
economia. O governante usa sem escrúpulos a máquina administrativa para
se reeleger, mesmo que disso resultem quebradeira de empresas e
escalada do desemprego. E ainda há um outro elemento que torna
praticamente imbatível um presidente candidato, a admiração
incondicional do brasileiro médio por homens poderosos.
A reeleição de Lula é um caso já estudado e explica essas premissas. O
ex-presidente se valeu tanto da imagem de pai generoso quanto da de
gestor poderoso, que distribui dinheiro entre os mais necessitados.
Dinheiro público, claro. Lula estava envolvido até o pescoço no
escândalo do mensalão, embora tenha dito que “não sabia” das
movimentações criminosas do deputado cassado José Dirceu. O PT pagava a
partidos e parlamentares pelo apoio que eles davam ao governo. Mais uma
vez, era dinheiro público que remunerava os aliados. Um escândalo desse
tamanho não foi o suficiente para impedir seu segundo mandato.
Dilma foi reeleita mesmo tendo feito um primeiro governo antipolítica. A
ex-presidente passou quatro anos torpedeando partidos, especialmente o
MDB do seu vice Michel Temer. Foi tão omissa que acabou permitindo a
eleição de seu algoz Eduardo Cunha para presidente da Câmara, no início
do segundo mandato. Na economia, expandiu gastos desordenadamente e
reduziu juros na marra, resultando no aumento da inflação e do
desemprego. Em janeiro de 2013, para combater o monstro que havia
criado, pediu aos prefeitos de Rio e São Paulo que não dessem aumento de
ônibus. O preço represado da passagem foi majorado em junho, e o que se
viu em seguida virou história. Mesmo assim, Dilma foi reeleita.
E então chegamos a Bolsonaro. O presidente colecionou erros grosseiros
nos seus primeiros 18 meses de governo. Os mais óbvios foram menosprezar
o Congresso, ultrajar o Supremo e incentivar manifestações
antidemocráticas. O país assistiu abismado àquela famosa reunião
ministerial em que Abraham Weintraub disse que, se dependesse dele,
“prendia estes vagabundos”, apontando para a Praça dos Três Poderes, “a
começar pelo Supremo”. [reunião reservada, cuja divulgação não era planejada.
O ministro se empolgou e ao expressar um pensamento, um desejo, ofendeu os alvos do desejo.] Além disso, os filhos do presidente, sua mulher e suas ex-mulheres estão envolvidos numa rede de gastos com dinheiro vivo de origem mal explicada, muito provavelmente das rachadinhas praticadas por toda a família.
O ministro se empolgou e ao expressar um pensamento, um desejo, ofendeu os alvos do desejo.] Além disso, os filhos do presidente, sua mulher e suas ex-mulheres estão envolvidos numa rede de gastos com dinheiro vivo de origem mal explicada, muito provavelmente das rachadinhas praticadas por toda a família.
O presidente ainda ignorou agressões ao meio ambiente e alertas globais. Mais adiante, fez pouco caso da epidemia de coronavírus, debochou das
mortes por ela causadas e gerenciou mal o combate. O grande momento da
sua presidência, e ainda assim dependendo do ângulo que se olhe, foi a
aprovação da reforma da Previdência. Mas, como ele não se mobilizou a
seu favor, a reforma deve ser atribuída ao Congresso. Seu único e
verdadeiro mérito foi ter se mantido calado nas últimas cinco semanas.
Não poderia haver um cenário pior para um presidente. E, mesmo assim,
pesquisa revela que 38% dos brasileiros querem reelegê-lo.
Para agravar o quadro, não há no horizonte sinal de entendimento entre
os diversos matizes da oposição. Lula caminha solitário à esquerda. Moro
bate cabeça à direita. O centro não tem vigor nem empatia. Você pode
dizer que é cedo, tudo bem. Mas, se não houver mudança radical nesse
cenário já, somente um terremoto poderá evitar a reeleição de Bolsonaro.
Ascânio Seleme, colunista - O Globo
Ascânio Seleme, colunista - O Globo
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