Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador aritmética. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador aritmética. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

O que decidiu: a pandemia e George Floyd - Alon Feuerwerker

Análise Política

Donald Trump ainda não aceitou a derrota, é possível que a luta nos tribunais se arraste, mas a contagem puramente numérica dos votos aponta vantagem decisiva de Joe Biden, o presidente aritmeticamente eleito dos Estados Unidos. A surpresa foi, e ainda vem sendo, a tensão nas apurações, tensão de origem mais política que aritmética. Causada principalmente pelo ineditismo do número de votos pelo correio.Culpa” da Covid-19.

[nos parece que a pandemia foi o fator decisivo para propiciar a oportunidade de um esquerdista,  talvez,  se tornar presidente dos Estados Unidos da América.

A morte de George Floyd, teve alguma influência mas bem menos que a pandemia.

Foi a peste que tornou aconselhável a votação pelos correios e são os votos  pelos correios que sustenta a tese do presidente Trump de fraude, ensejando a judicialização.]

A luta pelo poder nos Estados Unidos interessa ao mundo, por razões óbvias. Para nós aqui, será particularmente útil tentar fazer alguma análise mais aprofundada, dado o sabido paralelismo entre as duas correntes atualmente no governo nos dois países. Saber o que aconteceu, ou não, por ali, pode dar algumas pistas de eventuais desdobramentos no Brasil nas eleições presidenciais de 2022. Em primeiro lugar, deve-se notar que Donald Trump não sofreu erosão na sua base desde que se elegeu. Ao contrário, está recolhendo algo da ordem de sete milhões de votos a mais do recebido quatro anos atrás. A maciça campanha democrata pelo voto parece, curiosamente, ter atingido positivamente também o adversário. O problema de Trump: Biden vem recebendo cerca de nove milhões de votos a mais que Hillary Clinton em 2016.

Esse é outro sinal de que Donald Trump caminhava para uma reeleição, se não tranquila, ao menos bastante provável, antes de dois acontecimentos: a pandemia da Covid-19 e a morte de George Floyd. Ambos desencadearam dois movimentos no eleitorado: uma imparável onda pelo registro eleitoral de votantes pretos e um sentimento de urgência que ajudou a convergência de todos os potenciais adversários do incumbente.

As pesquisas ao longo do ano sempre registraram uma tendência dominante de desaprovação, da ordem de 50%, mas um contingente sólido entre 40% e 45% de aprovação para Trump. Bastaria ao presidente, portanto, manter coesa sua base e impedir que a maioria desaprovadora se agrupasse em torno do adversário. Era possível, mas a maneira como enfrentou a pandemia e a morte de Floyd catalisaram com violência a convergência dos opositores.

Poderia ter acontecido sem esses dois fatos? A dúvida ficará. Há alguns meses, o Partido Democrata vinha dividido, pulverizado numa disputa interna sem luz no fim do túnel e com suas alas divididas. Ao final, convergiu para uma solução convencional, contra uma alternativa que se dizia abertamente de esquerda. Mostrou-se adequado. Teria sido assim não fossem os acontecimentos extraordinários que se seguiram? De novo, jamais se saberá.

E no Brasil? Jair Bolsonaro chegará a 2022 com um desafio parecido ao de Trump em 2020: impedir a convergência dos votos que não são em princípio bolsonaristas. Ao contrário dos Estados Unidos, a dispersão partidária por aqui ajuda. E é possível, provável, que até lá a pandemia tenha sido em grande medida controlada. E os conflitos raciais não parecem ter por aqui, até agora, o impacto eleitoral dali.Qual será o fator decisivo daqui a dois anos? Uma candidata forte vai ser a economia. Mas, como os Estados Unidos acabam de comprovar, nunca é bom subestimar o imprevisível. Ele é sempre muito difícil de prever.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

terça-feira, 29 de setembro de 2020

O tabu das estatísticas da covid-19

Recusar-se a olhar para os números do vírus é negar as evidências que eles estão mostrando

Talvez nunca tenha havido na história da humanidade um momento de tanta intolerância com os números quanto nesta época de epidemia em que vivemos hoje. Números não sentem, não pensam e não têm opiniões  apenas não mentem, nunca, desde que exista alguma disposição de examinar com honestidade o que eles estão tentando dizer. Até o momento, pelo que informam as estatísticas oficiais, cerca de 30 milhões de pessoas em todo o mundo foram contaminadas pelo coronavírus desde março, quando começaram as tentativas regulares de fazer essas contas. É menos de 0,4% da população mundial, hoje estimada em quase 8 bilhões de pessoas. Foram atribuídas à epidemia, desde então, cerca de 950 mil mortes — cujas causas reais, por sinal, ninguém jamais saberá ao certo quais terão realmente sido. (No Brasil, por exemplo, a causa mortis pode ser determinada por decreto do governador do Estado.) Ou seja: morreram por volta de 3% do total de infectados, que, como visto, representa menos de 0,5% da população do planeta.

Esses números não são bons nem ruins — são apenas o que são, não mais e não menos. Mas dizer que eles são o que são tornou-se num ato tido como imoral, politicamente perverso e contrário ao interesse da humanidade pelas forças que decidem sobre o bem e o mal nas sociedades de hoje. Não se trata, nem mesmo, de discutir se tais cifras justificam o fechamento do mundo por seis meses; o crime social está simplesmente em falar delas. A denúncia-padrão, quando se observam as realidades aritméticas da epidemia, é: “negacionismo”, ou a atitude de negar uma verdade que pode ser verificada pelos fatos ou pela ciência. Nunca se diz, entre os militantes do “distanciamento social” por tempo indeterminado, que recusar-se a olhar para os números da covid-19 é negar, aí sim, as evidências que eles estão mostrando.

O livre debate sobre a epidemia está interditado. É como se o mundo estivesse de volta à Idade Média, quando os padres proibiam as pessoas de pensar com algum realismo sobre a peste. A culpa era do diabo, dizia a  Igreja, e todo mundo tinha de ficar satisfeito com a explicação; quem quisesse saber mais do que isso, ou algo diferente disso, era acusado de desafiar os planos de Deus para os homens. Com a covid-19, na verdade, não está havendo apenas a eliminação da verdade numérica — desde o começo da epidemia há uma guerra declarada contra os números reais. No Brasil, permanece até hoje sem contestação por parte das “agências de verificação de notícias falsas” — e como um fato levado perfeitamente a sério pelas classes intelectuais — a previsão de que haveria “1 milhão de mortos” se não fossem tomadas medidas extremas de repressão para deter o vírus. Não foram tomadas essas medidas; o total de mortes no Brasil está abaixo de 140.000 [atualizando; < 150 mil]. Nem somando as mortes atribuídas à covid-19 no mundo inteiro chegou-se a esse 1 milhão, mas e daí? O candidato que se opõe a Donald Trump nas próximas eleições norte-americanas acaba de dizer que os mortos nos Estados Unidos chegam a “200 milhões”, ou quase dois terços de toda a população do país. Contanto que seja para anunciar algum horror da epidemia, qualquer um pode dizer qualquer coisa. Ninguém vai reclamar de nada.

Considera-se como ato de sabotagem à “luta pela vida” a menção a outras doenças que matam

O fato é que a covid-19 deixou rapidamente de ser uma questão da ciência — seja da matemática, da medicina ou da biologia — para se transformar numa causa que está sendo usada desde o começo deste ano  para promover ideologias de “transformação do mundo”.                        As mortes por câncer, doenças cardíacas ou complicações respiratórias, por exemplo, não são melhores ou menos sérias, obviamente, do que as mortes cuja causa é listada como “covid” nas estatísticas; 
nem os médicos especialistas em dar entrevistas para a televisãotodos eles generais na campanha para fechar o mundo, chegam a dizer isso. Mas é evidente que não causam nenhuma reação entre o partido do “fique em casa”; na verdade, considera-se como ato de sabotagem à “luta pela vida” a mera menção de que essas e outras doenças matam gente todos os dias. O motivo é que ninguém até hoje teve a ideia de aproveitar politicamente nenhuma delas para promover as suas “agendas”, como se diz. Com a covid, porém, está sendo diferente: os interessados descobriram em 15 minutos que dava para tirar proveito político do vírus — proveito de primeira grandeza, uma oportunidade que aparece uma vez na vida e não poderia ser desperdiçada.

Desde então, apostam tudo na covid. Nenhuma greve geral, quebra-quebra de black bloc ou discurseira tida como “revolucionária” chegou perto, até hoje, da eficácia que o pânico construído em torno da epidemia teve na agressão ao sistema produtivo — ou na usinagem de oposição política. Em países como o Brasil ou os Estados Unidos, aproveitaram para jogar a culpa nos governos. As mortes, por essa visão das coisas, não foram causadas pelo vírus. Ao mesmo tempo, as “autoridades locais” que cuidaram dos doentes não têm nenhuma responsabilidade em nada do que está acontecendo. Quem matou foram os presidentes Bolsonaro e Trump. No mundo desenvolvido, foi uma oportunidade caída do céu para combater o sistema econômico, social e político que “está aí”  injusto, causador de desigualdade, opressor de mulheres, racista, inimigo da diversidade, capitalista selvagem, aquecedor da calota polar e culpado pela derrubada da floresta amazônica.

No Brasil, como de costume, há um plus a mais. Enquanto se reproduzem as grandiosas ideias para melhorar a humanidade e criar “um novo estilo de vida”, há os interesses materiais de todos esses governadorzinhos a caminho do anonimatofiscais de prefeitura e a turma inteira dos ladrões de respiradores, “hospitais de campanha” e aventais descartáveis. É o Covidão em marcha triunfal. Não é o Petrolão de Lula-Dilma, porque nada jamais será parecido, mas já é alguma coisa. Pense um pouco, portanto, da próxima vez que lhe jogarem algum número em cima. A aritmética do “fique em casa” não é a mesma da tabuada.

Veia o artigo de Guilherme Fiuza desta edição, “Vacina contra ditadura” 

J.R. Guzzo, jornalista - Revista Oeste


segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Amazônia x Metade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?

J.R. Guzzo - Vozes

Boicote aos produtos do Brasil é a mais pura conversa fiadaMetade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?


 Metade da próxima safra de grãos do Brasil, que ainda nem foi plantada, já está vendida: e como fica o boicote?| Foto: Michel Willian/Arquivo Gazeta do Povo 

O noticiário tem trazido, em geral com alarme, mais um lote de notícias (ou de desejos) sobre a situação de dificuldade, perene e aparentemente  insolúvel, que atravessam ao mesmo tempo a agricultura, a pecuária e a produção geral de alimentos no Brasil. O assunto é o de sempre: a “destruição das florestas” deste país, especialmente as da “Amazônia”.

A novidade seria uma espécie de boicote mundial, ou coisa parecida, à produção rural brasileira por parte de “300 grandes empresas” e outras potências do capitalismo moderno, recentemente transformadas em mocinhas da natureza, do ar puro e da “sustentabilidade”. Em suma: se os produtores brasileiros (que foram escalados para o papel de bandidos desse filme) não pararem de desmatar a Amazônia e incendiar as florestas, o Primeiro Mundo não vai comprar mais nada que venha daqui, nem investir um único tostão no Brasil.

Absurdos construídos com capricho, falsa ciência e muito dinheiro acabam um dia, como eventualmente acaba todo o charlatanismo de vendedor de elixir em feira livre – quando se verifica, pela força dos fatos, que a mercadoria posta à venda é falsa. Até lá, porém, fazem um barulho e tanto, como é o caso da “devastação” da Amazônia pelo “agronegócio”. Paciência. Não há como convencer quem quer ser enganado – o que se pode fazer é chamar de conto do vigário tudo aquilo que é conto do vigário, esperar que o tempo passe e continuar trabalhando. Fazer o quê?

Há pelo menos uma dúzia de realidades que demonstram a inexistência de relação entre desmatamento e o avanço a agropecuária brasileira — que saiu do nada para tornar-se em 40 anos uma das duas ou três maiores do mundo. Nenhuma delas serve. Por exemplo: mais de 70% da produção brasileira de grãos saem de apenas quatro estados, três dos quais nem sequer fazem fronteira com a Amazônia. São o Paraná, o Rio Grande do Sul e Goiás. O quarto, Mato Grosso, tem apenas a metade norte do seu território dentro do bioma amazônico. Mas o movimento de defesa do planeta sustentável não trabalha com essa aritmética, nem com essa geografia; só aceita a sua própria ciência.

O que o Paraná, por exemplo, tem a ver com a Amazônia? Um produtor de soja de Ponta Grossa ou Campo Mourão pode perfeitamente passar a vida inteira sem jamais ter ido lá, por um dia que seja. Há mais paranaenses que conhecem Paris do que São Gabriel da Cachoeira; têm tanto a ver com a floresta amazônica quanto com o Polo Norte. Mas vá explicar isso para um europeu-raiz.
Missão impossível, pois o sujeito nunca viu um mapa do Brasil; não sabe onde é o Paraná, nem o Amazonas e, para dizer a verdade, nem o Brasil. Também não está interessado em aprender; só está interessado em acreditar. Se você encarar, digamos, um bom holandês, disser que o Brasil fica na Oceania e fizer uma cara bem séria, há 50% de chance do sujeito achar que é isso mesmo. Aí não há o que fazer.
Enquanto isso, no mundo das coisas reais, o Brasil já colheu neste ano mais grãos do que em todo o ano passado; 50% da próxima safra, que ainda nem foi plantada, já está vendida. Fatos são um bicho teimoso.

J.R. Guzzo, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes



domingo, 19 de julho de 2020

Os cidadãos brasileiros, por decisão judicial, são desiguais perante a lei - J.R. Guzzo


Ponto zero - O Estado de S. Paulo

O Brasil acaba de criar um princípio revolucionário no campo do Direito Público: 
a Constituição, de acordo com essa novidade, pode ser inconstitucional. 
É o que resulta da decisão do STF que proíbe a redução de salários dos funcionários públicos brasileiros, mesmo durante uma situação de emergência extrema como a atual, e sob qualquer fórmula administrativa de cálculo. E se essa possível redução vier acompanhada da redução das horas de trabalho que o servidor tem de dar diariamente ao público? Nesse caso não haveria diminuição salarial nenhuma, não é mesmo? Quem ganha menos ao trabalhar menos está, na aritmética, ganhando exatamente a mesma coisa. Não, senhor – também não pode. 
[É necessário muita ATENÇÃO e RESPONSABILIDADE ao analisar essa questão, para que a população não seja prejudicada.
Espertos já tentaram reduzir o custo do Serviço Público com a redução de funcionários - efetuada por vários meios sendo o mais utilizado a não contratação de substitutos para os servidores que se aposentam.
Os exemplos são muitos, citaremos uma das situações criadas em uma das áreas que mais prejuízos causa à população.
A REDUÇÃO CRIMINOSA, por meios não legais e não transparentes, dos servidores do INSS = resultando em atrasos no atendimento de milhares de pedidos de aposentadoria, auxílio doença, licenças, etc.
A pandemia reduziu o impacto das filas superiores a seis meses de espera para os que necessitam prorrogar uma licença, obter aposentadoria, etc - mas o impacto será maior e as filas dobrarão, logo que cesse a pandemia.
Lá reduziram a substituição de funcionários, o que por óbvio, reduziu a capacidade de atendimento.
Agora pretendem reduzir o número de horas trabalhadas, para reduzir o salários dos servidores, e a capacidade de atendimento cai. A tragédia que ocorre no INSS se espalhará por todo o Brasil.
Toda e qualquer repartição pública, terá sua capacidade de atendimento reduzida.
O resultado será menos horas de trabalho = menor volume de serviço efetuado.]

Ficamos da seguinte forma, então: os cidadãos brasileiros, por decisão judicial, são desiguais perante a lei. É isso mesmo, exatamente. É legal reduzir o salário de todas as pessoas que trabalham na iniciativa privada, sem nenhuma exceção, como ocorre na presente epidemia da covid-19. É ilegal reduzir o salário de qualquer das 12 milhões de pessoas que trabalham no setor público, também sem nenhuma exceção. O que se vai fazer, então, com o artigo 5.º da Constituição Federal? Está escrito ali o seguinte: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Mais claro que isso não é possível; em nenhum lugar está escrito que pode haver distinção de natureza salarial, por exemplo. Como o STF decidiu que é inconstitucional reduzir a remuneração dos funcionários públicos, só dá para chegar a uma conclusão: o artigo 5.º da Constituição é inconstitucional.

É nisso que dá viver em sociedades que deixam de ser governadas por leis e passam a ser governadas por pessoas, como é o caso do Brasil de hoje. Os direitos do cidadão e as liberdades civis começam a depender dos desejos, interesses e caprichos dos que mandam – passam a não valer nada, na verdade, pois o que não vale para todos por igual, e durante o tempo todo, é uma contrafação da democracia. Nenhuma nação é verdadeiramente livre se não colocar o império da lei acima de tudo. O Brasil não faz isso. O que está acima de tudo, aqui, é a vontade de onze magistrados que não foram eleitos por ninguém, e que estão no galho mais alto do Poder Judiciário, e de mais meia dúzia de políticos que operam não como atores legítimos do Poder Legislativo, e sim como chefes de gangue. A consequência é o que se vê aí todos os dias: um país intoxicado pela utilização velhaca do poder, o tempo todo, para defender os direitos de uns por meio da negação dos direitos dos outros. 

Virou um fato da vida, aceito com conformismo, covardia ou má-fé pelas elites intelectuais e seus subúrbios, que os ministros do STF escolham livremente, e sem dar satisfação a ninguém, quais das 77 garantias fundamentais estabelecidas pela Constituição Federal devem ou não devem ser aplicadas. [alguém já parou para pensar que o erro está na Constituição Federal vigente - a chamada 'constituição cidadã'?
Uma nação regida por uma constituição que confere dezenas e dezenas de direitos sem exigir a contrapartida de deveres conseguirá sobreviver?
Que consegue apresentar uma redução confusa, confusão diretamente proporcional ao excesso de detalhes inseridos e que só facilitam a judicialização, acabando com a Segurança Jurídica.
O caminho para tentar sobreviver tem que ser na base do ir levando enquanto for possível,  produzindo  motivos para que um dos dos três Poderes da União - harmônicos e independentes -passe a se considerar superior aos dois restantes e agir como tal.] 
No momento, por exemplo, acham que não está valendo a regra que garante aos advogados de um acusado o acesso a todos os documentos do processo judicial; só mostram o que o ministro fulano de tal deixa. Em compensação, os ministros atribuem a si mesmos direitos que não estão previstos em lugar nenhum da Constituição, como o de fazerem, eles próprios, um inquérito policial. Da mesma forma, os direitos do cidadão a ter sua voz ouvida pelo Congresso foram anulados pelos presidentes do Senado e da Câmaraeleitos com uma quantidade miserável de votos, por conta das depravações de um sistema eleitoral suicida, mas habilitados a colocar em votação só os projetos que interessam a eles e a seus clientes.
A democracia brasileira está chegando perto do ponto zero.

J.R. Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo



quinta-feira, 16 de abril de 2020

Uma desgraça raramente vem sozinha. É assim com o coronavírus - J. R. Guzzo

Gazeta do Povo

Uma desgraça, conforme nos ensina a sabedoria popular, raramente vem sozinha. No caso do coronavírus, mais uma vez não veio. Junto com a Covid-19 temos direito, no Brasil, a demonstrações quase diárias de agressão às liberdades públicaspraticadas por 27 governadores, 5.500 prefeitos e dezenas de milhares de fiscais, com a cumplicidade geral do Poder Judiciário.

Teremos corrupção maciça do Oiapoque ao Chuí, com a suspensão da exigência de se fazer concorrência pública em contratos dos governos – a epidemia só existe até agora em 1.000 municípios, mas cerca de 2.000 já decretaram “estado de calamidade pública”, o que lhes permitirá fazer tudo o que você imagina. Temos a transformação de uma doença, e do seu possível tratamento, em questão abertamente política: até na química se formou uma divisão entre “direita”, que é pró cloroquina, e “esquerda”, que é contra.


Leia também:  Acabar com a quarentena agora é melhor ou pior para a economia? O que dizem os especialistas

Um dos piores aspectos dessa onda de desgraças suplementares – é difícil dizer qual é realmente o pior – é a agonia em que vive hoje no Brasil a virtude da tolerância. Não se admite, de jeito nenhum, que haja pessoas com pensamentos diferentes dos seus em relação ao problema; não se aceita que outras pessoas tenham ideias que você não goste. A coisa ocorre nos dois grandes “lados” que se formaram, em termos gerais, quanto ao combate da epidemia – os que defendem o máximo rigor no isolamento das pessoas (“não saia da casa”), e os que defendem um abrandamento nas regras de controle do contágio e uma retomada mais rápida da produção e do trabalho. Os primeiros são, para não ficar encompridando conversa, contra o governo federal. Os segundos são a favor – ou simplesmente não aceitam a paralisia do país e de suas vidas.

A turma do “confinamento social”, até o momento, está levando vantagem clara, na maior parte do mundo político, das elites “pensantes” e da mídia, nessa competição para mostrar quem é mais intolerante. É proibido, aí, achar que há alguma alternativa para o isolamento radical – ou é isso ou é a calamidade. Não é permitido questionar os números de casos e de mortes divulgados diariamente; não a sua exatidão aritmética, mas a recusa dos divulgadores em fazer relações e comparações com outros números e outros aspectos da realidade. Não se admite a cogitação de que haja qualquer medicamento capaz de ajudar no combate à doença; enquanto não houver uma vacina, a única medida possível é a quarentena sem prazo de duração. [o fim da quarentena está vinculado à chegada do pico da pandemia, que é adiado em 15 dias a cada semana.]

O cidadão que imagina ter o direito de não concordar com qualquer dessas coisas é acusado, logo de cara, de ser “a favor da morte”. É um crápula que prefere o “lucro” à “vida”; acha que “a economia” é mais importante que “o ser humano”. Isso só para começar. Para continuar, pode ser acusado de “genocídio”. Com certeza vai ser excomungado como “bolsonarista” e “vendido ao governo” – além de fascista, inimigo do estado de direito e a favor da “volta dos militares”.

Tem pé ou cabeça uma coisa dessas? Não tem nem uma e nem outra, claro. Mas é assim que ficou. Da próxima vez que o Imperial College de Londres disser que o Brasil “pode” chegar a mais de 600.000 mortos, ou que a ex-presidente Dilma Rousseff prever até 1 milhão de mortes”, é melhor ficar quieto. Quem achar que talvez não seja bem assim vai ser denunciado, na hora, como inimigo do povo brasileiro.

J. R. Guzzo, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Sindicato só serve para extorquir dinheiro - Gazeta do Povo


J.R Guzzo

Faça as contas: sindicato só servia para extorquir o seu dinheiro


Nada como um pouco de aritmética, dessa mais simples, para melhorar o entendimento de uma porção de coisas na vida, especialmente no Brasil. É uma pena, realmente, que o hábito de fazer conta seja tão impopular neste país – isso ainda vai acabar com a gente, porque você pode escapar da saúva, que afinal das contas não acabou com o Brasil, mas não escapa da tabuada.

Jornalista não gosta de aritmética. Economista não gosta de aritmética. Político, então, tem horror de aritmética, o que explica, em boa parte, porque estão sempre fazendo leis para distribuir as riquezas nacionais, mas jamais se lembram de pensar se essas riquezas existem ou não. Quem se importa se existem ou não? Se não existirem, não é problema nosso: é problema do “governo”, que vai tirar dos impostos tudo aquilo que nós decidimos dar de presente.

O fato é que o Brasil fala, fala, fala – e não conta. Se contasse um pouco mais, veria a diferença para o país que algumas somas simples, ensinadas no curso primário, acabam fazendo. Muitas vezes elas explicam com perfeição, mais que cinco anos de discurso no Congresso Nacional, como o Brasil pode melhorar dramaticamente quando certos cálculos são alterados. Você tem ouvido falar, ultimamente, de CUT, Força Sindical, UGT e outras organizações de parasitas chamadas de “centrais sindicais? Não? Claro que não – e essa é uma das notícias mais animadoras que a população poderia ter. Não há mais a chantagem de sindicatos que ameaçam greves, nem a “mobilização” para extorquir isso ou aquilo da sociedade. Não há diretores sindicais vivendo sem trabalhar. Não há nada disso porque as “centrais sindicais estão acabando. E as centrais estão acabando porque, muito simplesmente, ficaram sem dinheiro.

Todas elas, como se sabe, viviam de uma infâmia chamada “imposto sindical”, que todo trabalhador brasileiro (e as empresas) tinham de pagar uma vez por ano – fossem ou não sindicalizados, quisessem ou não ser representados pela CUT ou pela “Força”. O governo Michel Temer, no que talvez tenha sido o seu melhor momento, conseguiu aprovar a abolição desse imposto – e as centrais, junto com os sindicatos, começaram a valer apenas o que valem, ou seja, a ter a força que deveriam ter por causa da fidelidade financeira dos associados. Mas, como se vê, não havia fidelidade nenhuma. Assim que o trabalhador ganhou o direito de não pagar, a maioria dos sindicatos não viu mais um tostão furado. Viraram o que são agora.

O portal eletrônico “Poder 360” divulgou há pouco alguns números bem simples. Em 2017, durante a vigência do imposto, a CUT, por exemplo, recebeu pouco mais de R$ 62 milhões extorquidos dos trabalhadores. Em 2019 recebeu um pouquinho acima de R$ 440 mil, ou 140 vezes menos – uma verdadeira miséria. A Força Sindical, que falava tão grosso na política brasileira, levou R$ 51 milhões em 2017 – e em 2019 ficou com menos de R$ 1 milhão. A UGT despencou de R$ 46 milhões para também R$ 1 milhão. Fim da linha.

Quantos tratados de ciência política é preciso ler para descobrir porque a CUT existia e porque não existe mais – não como alguma coisa que tenha um mínimo de relevância? Em vez disso, é muito mais eficaz fazer as contas acima.

J.R. GUZZO, jornalista - Vozes/Gazeta do Povo

terça-feira, 16 de julho de 2019

Santas Casas - Denis Rosenfield


"A falência ronda boa parte delas. Para onde irão seus pacientes se fecharem as portas?"

O Estado de S. Paulo 
 
As Santas Casas de Misericórdia no Brasil são verdadeiramente santas”. Prestam inestimável serviço à população brasileira, não recebendo em contrapartida, do governo federal e de outras instâncias da Federação, a remuneração correspondente ao seu trabalho e seu mérito. São “santas” ainda por continuarem prestando um auxílio indispensável aos brasileiros, sob chuvas e trovoadas que ameaçam até mesmo sua sustentabilidade.

O número de hospitais filantrópicos no Brasil é impressionante: 2.172. Sua rede estende-se por todo o País. Em 968 municípios só ela presta atendimento hospitalar, não há outra opção. Saúde ali significa presença de um hospital da Santa Casa. Atende, portanto, cidades que, sem ela, estariam totalmente ao desamparo.
Não deixa de existir aí um paradoxo. O serviço prestado é claramente público, enquanto a sua fonte de financiamento estatal é insuficiente para cobrir os seus custos. Os hospitais filantrópicos cuidam dos mais desfavorecidos de forma deficitária, enquanto o Estado se faz ausente. E, como se sabe, não são poucos os desperdícios nos hospitais públicos. Há um notório desequilíbrio.

Para ter uma ideia do problema, dos seus 170.869 leitos, 126.883, ou seja, 74%, são destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Isso faz o custo dos serviços prestados ao sistema público, em valores de 2018, elevar-se a R$ 24 bilhões, recebendo em contrapartida, mais para contra do que a seu favor, de receitas por serviços prestados, R$ 15 bilhões. O seu déficit é, portanto, de R$ 9 bilhões, aí já descontados os valores que as instituições usufruíram em isenções, sem as quais os déficits seriam ainda maiores.

O modelo é nitidamente insustentável, só podendo levar à insolvência. As crises só tendem, nesse sentido, a aumentar, por operarem esses hospitais filantrópicos com uma tabela do SUS claramente defasada. De fato, eles terminam cobrindo esse déficit, quando conseguem tal proeza, com as receitas de convênios privados e da prestação de serviço particulares. São os seus recursos próprios que estão financiando o SUS, exercendo eles uma função de Estado, enquanto este não cumpre sua própria função.

Há dois problemas em pauta. Um é o déficit de financiamento do sistema, que só pode ser resolvido com repasses públicos, principalmente por via de uma atualização da tabela do SUS que seja realista, de acordo com o atendimento público esperado; outro é a dívida acumulada pelo sistema, que só cresce se não for equacionada realisticamente, e com juros subsidiados.

O presidente Jair Bolsonaro foi sensível a esse problema. Soube receber os representantes dessas instituições, além de lhes ter prometido, em sua campanha eleitoral, atendimento especial. Pelo destino, quando recebeu uma facada, teve sua vida salva pela Santa Casa de Juiz de Fora (MG). Sem ela provavelmente não teria resistido. Pôde ele mesmo constatar a importância desse tipo de hospital filantrópico.

Agora Bolsonaro está cumprindo sua promessa com uma linha de financiamento especial, conduzida pela Caixa Econômica Federal. Seu custo é ainda relativamente alto em relação aos bancos privados, mas representa inegavelmente um avanço. Há ainda muito a fazer no que diz respeito a outras linhas possíveis de financiamento público, como o oriundo do FGTS, que, de tão altos os custos, não podem, por isso mesmo, por ora, contribuir para a solução desses problemas.

O que importa, porém, é que as discussões foram abertas, iniciativas foram tomadas e diálogos, estabelecidos. Por exemplo, o próprio presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, esteve pessoalmente visitando a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, hospital, aliás, modelo pela gestão eficiente, pela racionalização de seus serviços e por seu atendimento de alta qualidade. Foi igualmente sensível às demandas do setor e pôde constatar in loco o benefício recebido pela população e a valorização do mérito, incentivada pelo seu qualificado quadro de dirigentes.

Contudo, conforme observado, o equacionamento das dívidas é uma parte deveras importante dos problemas dos hospitais filantrópicos. Essas primeiras medidas são da maior relevância, mas constituem apenas o início do caminho. O desequilíbrio estrutural permanece enquanto não for feita uma cada vez mais necessária revisão da tabela do SUS e não for dado o devido cuidado a repasses dos Ministérios da Saúde e da Educação. Sem essas medidas a própria existência dos hospitais filantrópicos estará ameaçada. O problema não tem nenhuma conotação ideológica, é simplesmente de aritmética!


Esclareçamos melhor essa defasagem. Desde o Plano Real até 2018 a tabela do SUS foi reajustada em 93,78%. O INPC/IBGE teve uma variação nesse período de 506,49%. E a variação do salário mínimo foi de 854%. Será que as Santas Casas merecem essa posição de patinhos feios? Será que não têm nenhum valor?  Note-se, ainda, que esses hospitais têm uma taxa muito elevada de internações de alta complexidade, em torno de 59,95%, destacando-se as de cardiologia, de quimioterapia, de cirurgias oncológicas e de transplantes. Para onde irão essas pessoas doentes se as Santas Casas se virem inviabilizadas na prestação desses serviços? E essas pessoas, em sua imensa maioria, não têm outra opção.

A abnegação e a dedicação de seus dirigentes são dignas de nota, por seus valores morais e religiosos. Lutam contra uma corrente que lhes é desfavorável. Têm sabido resistir. Entretanto, a falência ronda boa parte desses hospitais, alguns sofrendo a ameaça direta de fecharem as suas portas. Leitos faltam no País! O sistema hospitalar público é notoriamente ineficiente e caro. A população brasileira muito sofre com isso. Não seria o caso de se valorizar aqueles que estão efetivamente oferecendo um serviço público de qualidade a custos notoriamente inferiores?

Opinião - O Estado de S. Paulo

 
Fonte: “Estadão”, 08/07/2019

 

sábado, 26 de maio de 2018

Criticado, Maia desabafa: ‘Problema é impopularidade do presidente, não eu [Maia falou besteira, errou até em contas de aritmética.]

A atmosfera eleitoral já havia produzido uma fenda nas relações do presidente da Câmara Rodrigo Maia com Michel Temer. Desde quarta-feira passada, quando Maia liderou a aprovação de um artigo que zerou a alíquota do PIS e da Cofins sobre o diesel, a fenda tornou-se um abismo. Para Temer e seus auxiliares, Maia patrocinou uma gambiarra canhestra, pois desconsiderou que a novidade abre um buraco de R$ 12,5 bilhões nas contas públicas. Pelo menos um operador do presidente disse que Maia conspira para derrubar Temer. O raciocínio foi ecoado pelo presidente do Senado Eunício Oliveira num diálogo privado. Nessa versão, Maia tramaria contra Temer porque quando um presidente sem vice afunda, o comandante da Câmara ascende por gravidade

Em conversa com o blog, Maia fez um desabafo.
“O problema deles não sou eu, mas a impopularidade do presidente. O problema do governo são os 86% de brasileiros que avaliam o Michel de formal terminal. Essa é que a verdade”, declarou Maia. [um conselho para o ex-quase futuro presidente - lembrando que se conselho fosse bom seria consultoria, devidamente cobrado:
deputado, Vossa Excelência deveria parar de se preocupar com a popularidade ou impopularidade do presidente Temer - seu desejo de ser presidente interino por alguns meses até que é compreensível, mas, inexequível.
O nosso conselho é que Vossa Excelência se preocupe com a sua popularidade (ou falta de) e cuide de melhorar sua votação para ser reeleito deputado pelo Rio (na última eleição o senhor obteve pouco mais de 50.000 votos.] Ele se referia ao percentual de eleitores que disseram ao Datafolha, em pesquisa divulgada no mês passado, que não votariam num presidenciável indicado por Temer. Candidato ao Planalto pelo DEM, Maia avalia que o Planalto não tem razões para cobrar-lhe lealdade. Recorda que teve a oportunidade de prejudicar Temer durante a tramitação na Câmara das duas denúncias da Procuradoria contra o presidente. Portou-se com “isenção”. Recusa-se a responder às provocações de Marun, ex-general das tropas de Eduardo Cunha. “Presido a Câmara, um Poder independente”, limita-se a dizer.

A isenção do PIS e da Cofins cobrados sobre o diesel é uma das principais reivindicações dos caminhoneiros que atravancam as rodovias em todo país há seis dias. A Câmara enfiou o refresco dentro da proposta de reoneração da folha salarial das empresas. Alegou-se que o dinheiro que o governo coletará com a volta da tributação da folha praticamente compensaria a cifra que deixará de ser arrecadada no diesel. Enviado à Câmara no dia da votação, Marun alertou que o prejuízo seria de R$ 12,5 bilhões, não de R$ 3 bilhões, como estimara a assessoria da Câmara. Os deputados deram de ombros.
Maia reconheceria no dia seguinte que o cálculo da Câmara estava errado. O deputado ainda não adotou o número trombeteado por Marun. Mas admite que a frustração na arrecadação será pelo menos três vezes maior do que o valor que a Câmara havia estimado. Coisa de R$ 9 bilhões. Ainda assim, Maia continua defendendo o fim da cobrança do PIS e da Cofins sobre o diesel como melhor alternativa para recolocar os caminhões em movimento. Aprovada na Câmara, a proposta seguiu para o Senado. Ali, Eunício Oliveira passou a ecoar as ponderações do Planalto. Ele fala em “responsabilidade fiscal” e critica o “protagonismo” de Maia.

Eunício alega ter sido surpreendido por Maia. Sustenta que havia combinado com o presidente da Câmara que a reoneração da folha das empresas seria usada pelo governo para zerar a Cide, abreviatura de outro tributo que incide sobre o diesel. O diabo é que, zerando-se apenas a Cide, o desconto no preço do diesel seria de irrisórios R$ 0,05. Repetindo: cinco centavos. Algo que os caminhoneiros sublevados acharam risível. Daí a decisão dos deputados de incluir na proposta de reoneração da folha salarial a isenção do PIS e da Cofins sobre o diesel.  “Isso gerou uma despesa extra, não prevista no Orçamento, de R$ 17 bilhões”, contabilizou o presidente da Câmara. “Mas ninguém atacou o Eunício. Eles preferem me acusar de ter criado R$ 6 bilhões de despesa adicional (na conta de Maia, o prejuízo com a isenção do PIS-Cofins, estimado por ele em R$ 9 bilhões, seria parcialmente compensado pelos R$ 3 bilhões que devem ser coletados com a volta da tributação sobre a falha salarial as empresas.).” De resto, Maia diz que o expurgo dos tributos que incidem sobre o diesel atenderia à principal demanda dos caminhoneiros.

O governo ofereceu no acordo que negociou com os caminhoneiros uma proposta alternativa. Prevê o congelamento do preço do diesel por 30 dias e a oferta de um subsídio de R$ 5 bilhões para suavizar os reajustes do combustível até o final do ano. Nessa fórmula, o Tesouro Nacional faria o ressarcimento à Petrobras da diferença entre o reajuste real do diesel e o valor camarada cobrado da clientela. Maia não enxerga senão desvantagens nessa solução. Sustenta que, além da ''intromissão'' do governo na Petrobras,  não há garantias de que o subsídio custará R$ 5 bilhões, pois o governo não tem controle sobre a cotação internacional do petróleo nem sobre a variação do dólar. “Pode custar R$ 15 bilhões em vez de R$ 5 bilhões.”
Rodrigo Maia prossegue: “É preciso levar em conta que PIS e Cofins são tributos regulatórios. Quando o preço do petróleo sobe, o governo tem que reduzir esses impostos. Eles dobraram a alíquota do PIS-Cofins no ano passado, elevando a arrecadação para R$ 20 bilhões. Foram para cima do povão. Não prejudicou apenas os caminhoneiros, que utilizam diesel. Foram prejudicados todos os trabalhadores que utilizam veículos movidos a gasolina e álcool.”

O deputado presidente da Câmara avalia que o governo não terá dificuldades para providenciar recursos capazes de compensar o alívio tributário do diesel. Estima que a União deve arrecadar “até R$ 14 bilhões de bônus e participação especial”, como é chamada a compensação financeira devida pelas concessionárias de exploração de petróleo e gás natural. Para Maia, a cifra deve ser “devolvida à sociedade.” Ele arremata: “O governo ainda não entendeu que o Brasil saiu da recessão, mas os brasileiros não.”

Blog do Josias de Souza

 

domingo, 30 de julho de 2017

Dunquerque, a vitória da civilização

‘Dunkirk' é um grande filme e conta o resgate do exército inglês, encurralado na praia francesa de Dunquerque em maio de 1940

“Dunkirk” é um grande filme e conta o resgate do exército inglês, encurralado na praia francesa de Dunquerque em maio de 1940. Barra pesada, mostra com maestria a angustia da operação.  O filme restringe sua narrativa ao que acontecia na praia, no ar e no mar. Vale a pena por si, mas está nas livrarias “Cinco Dias em Londres", do historiador John Lukacs, publicado em 2001. Juntos, são um presente para a alma. Naqueles dias, tudo parecia perdido. Hitler dobrara a França e era senhor da Europa. O povo inglês ainda não sabia, mas 250 mil soldados estavam cercados na praia de Dunquerque. O colapso dessa tropa seria o prelúdio de uma invasão da ilha.

Winston Churchill ainda não completara duas semanas como primeiro-ministro. Era um político mal visto, falastrão e pouco confiável. Seu rival no partido conservador era o ministro das relações exteriores, Lord Halifax, um inglês de anúncio de roupa, amigo do rei. Halifax queria explorar o caminho de uma paz com Hitler, usando os bons ofícios do embaixador italiano em Londres.  “Cinco Dias em Londres" conta o embate desses dois patriotas. Churchill não queria ceder e costurou sua posição no ministério, até que prevaleceu, depois de uma conversa no jardim com Halifax. (Nenhum dos dois escreveu uma só linha a respeito desse passeio.) Churchill achava que só tiraria 50 mil soldados de Dunquerque. No dia 6 de junho, a Marinha e os pequenos barcos ingleses que atravessaram o canal da Mancha resgataram 338 mil soldados, inclusive 125 mil franceses.

Christopher Nolan fez seu serviço de cineasta e é o vermute. John Lukacs, como historiador, é o gin. Quem junta os dois faz o martini e revisita uma semana que ajudou a salvar a civilização. No dia 6 de junho, Churchill, terminado o resgate, fez seu famoso discurso do “nós nunca nos renderemos". Cinco anos depois, a Alemanha rendeu-se.
Lukacs sustenta que o nazismo foi vencido em Stalingrado e no Dia-D, com o desembarque dos Aliados, mas foi em Dunquerque que Hitler perdeu a sua guerra. Ele, e muita gente boa, inclusive no Brasil, achavam que os ingleses negociariam uma paz, nos termos de Berlim.

No dia 21 de maio, Getúlio Vargas escreveu em seu diário:
“As notícias da guerra são de uma verdadeira derrocada para os Aliados. O povo, por instinto, teme a vitória alemã; os germanófilos exaltam-se. Mas o que ressalta evidente é a imprevidência das chamadas democracias liberais...”

Entre os patos de 1972 estavam os militares
Um documentário de Stefanie Dodt e Thomas Aders mostrou ao público alemão as relações promíscuas da Volkswagen com o aparelho repressivo da ditadura brasileira. A Volks não foi a única empresa a denunciar trabalhadores, mas é a única que está sendo cobrada no seu país. O problema da Volks era pedir desculpas. Agora surgiu outro: ter que se desculpar por não ter se desculpado.

Essa questão mostra a saudável relação da sociedade alemã com suas grandes empresas. Nada parecido acontece em Pindorama. A Federação das Indústrias de São Paulo, a Fiesp do pato amarelo, jamais pediu desculpas por ter organizado o caixa dois da guarnição militar de São Paulo. [não é necessário, sequer conveniente, pedir desculpas por ter sido PATRIOTA.
Vale o mesmo entendimento em relação a Volkswagen que colaborou, dentro das suas possibilidades, apoiando o combate aos porcos traidores comunistas que pretendiam fazer do Brasil uma outra Cuba.]

Uma carta do embaixador americano William Rountree ao Departamento de Estado mostra que, no início de 1972, os empresários que vinham sendo arrebanhados pela Fiesp tiveram medo de abandonar o esquema. Eles fizeram saber ao embaixador que “tinham ido muito longe para poderem recuar e achavam que se o fizessem prejudicariam seriamente suas relações com a Federação das Indústrias". Afinal era ela quem coletava o dinheiro.
A Fiesp financiou a repressão e bajulou os militares até que os ventos mudaram e criaram-se outras caixas, umas coletivas, outras individuais.

Números e grifes
O repórter Filipe Coutinho revelou que, entre 2015 e 2016, a empresa de consultoria do ministro Henrique Meirelles faturou R$ 217 milhões, ou cerca de US$ 60 milhões. Em nota, o ministro informou que nesses ganhos estavam incluídos serviços prestados ao longo de quatro anos.  Em 2011, o mundo veio abaixo quando revelou-se que Antonio Palocci faturara R$ 20 milhões com sua empresa de consultoria, num só ano. [o parágrafo abaixo destacado explica as razões do sucesso da firma do ministro Henrique Meirelles - seu sucesso no Bank of Boston, é apenas um dos fatores.
Já o presidiário Palocci um médico incompetente, um ex-prefeito medíocre, não tinha, e continua não tendo, nada que justifique o seu sucesso como consultor, sendo sua situação exatamente igual a do sentenciado Lula da Silva, um incompetente, falastrão e analfabeto.]

No vida pública, Palocci fora ministro da Fazenda de 2003 a 2006. Sua experiência anterior era a de prefeito de Ribeirão Preto.

Meirelles foi presidente do Banco Central de 2003 a 2011. Ao contrário de Palocci, fez invejável carreira na iniciativa privada, tendo presidido o Banco de Boston.

Uma das mais famosas firmas de consultoria de grife do mundo, a do ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger, não revela seus números. Em 1986, quando ele ainda estava no auge da forma e da fama, soube-se que ela faturou US$ 5 milhões.  A empresa de Kissinger tem a sua grife, mas nela estiveram craques como Timothy Geithner, o celebrado secretário do Tesouro de Obama durante a crise financeira mundial.

Cargo vago
Estão no mercado dois dos empregos mais prestigiosos do mundo, a presidência da Universidade Harvard e a diretoria do Museu Metropolitan de Nova York.  A escolha do museu é feita num mercado restrito, mas Harvard circulou um pedido de indicações. Não é nada, não é nada, o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, poderia se oferecer para indicar os nomes de alguns deputados da base governista.

Barco fujão
O beato Joesley Batista tem toda razão quando reclama das calúnias que são lançadas sobre sua imaculada pessoa. Ele diz que “mentiram que eu teria fugido com meu barco".
Tem toda razão. O iate Leonardo 100 fugiu sozinho, enquanto ele negociava o seu perdão com o doutor Rodrigo Janot. O barco saiu de uma marina em Itajaí e foi para Miami. A peça está avaliada em US$ 100 milhões.

(...)


Cármen Lúcia
A ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, não tem simpatia pelo aumento de 16,74% pleiteado pelos procuradores.
O pessoal do Ministério Público acha que pode tudo, mas deve se respeitar as leis da aritmética.
Se a ministra endossar o aumento, entrega a biografia.

Gleisi de Calcutá
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, solidarizou-se com o golpe bolivariano de Nicolás Maduro.
Se o seu discurso em defesa dos pobres e dos oprimidos fosse sério, a comissária faria alguma coisa em favor dos vinte mil refugiados venezuelanos que refugiaram-se em Roraima e vivem em condições precárias de moradia e alimentação.
Leia todas as colunas...

Fonte: Elio Gaspari, jornalista - O Globo 

 

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Dilma na nuvem

Vamos sentir saudades dela. Onde encontraremos outra tão deliciosamente inepta, magnificamente irresponsável e esplendidamente à vontade no seu sesquipedal despreparo?  



Ninguém se lhe compara na firmeza com que exerce seu desconhecimento sobre a lógica ou a aritmética mais simples. Ninguém a supera na arte de dizer sandices e, ao corrigir-se, dobrar a meta e dizer mais sandices. E ninguém faz isto num português tão tosco, singelo e de quinta. Refiro-me, claro, à ex-presidente Dilma Rousseff. [alguns preferem chamá-la de Dilma, a Afastada.]

Depois de nos brindar com enunciados inesquecíveis sobre a mandioca, o vento estocado, a mulher sapiens, as pastas de dente que insistem em escapar do dentifrício
e o meio ambiente como uma ameaça ao desenvolvimento sustentável, temia-se que seu afastamento nos privasse de novas contribuições ao nonsense. Mas Dilma não falha — é só colocar-se ao alcance de um microfone.

Sua última façanha está na internet e é facilmente acessível basta digitar "Dilma" e "nuvem". Ao saber outro dia que as acusações contra ela estão na "nuvem" uma nova forma de armazenamento incorpóreo e universal de arquivos –, soltou os cachorros em entrevista a um canal de televisão. "Pois bem", rugiu. "Inventam uma história fantástica. Que tá na nuvem. É. Tá na nuvem. Sei lá que nuvem. Sabe, eu não entendi muito bem essa história de nuvem. Tô aqui tentando apurar direitinho. Como é que uma coisa pode estar na nuvem? É muito simples estar na nuvem, não tem de provar. Que nuvem? Onde está a prova?"

A Dilma tá certa. Essa história de nuvem é mais uma tentativa de golpe contra uma mulher honesta, que fez o diabo para se eleger, digo, sofreu o diabo na ditadura. Quero ver provar. Mas o José Eduardo Cardozo [seu ministro de estimação, advogado e porta-voz] já está vendo isso. Ele vai desmoralizar essa nuvem.


Fonte: Ruy Castro - Folha de São Paulo 






sexta-feira, 1 de abril de 2016

A presidente que erra até conta que se aprende no jardim da infância merece ser cassada por insuficiência mental

"Eu acredito que sou talvez a única governante que tenha tido várias vezes as contas vistas e revistas, porque comigo não basta aprovar uma vez”, desandou Dilma Rousseff na discurseira para artistas que batem palmas para a presidente com muito mais frequência do que ouvem aplausos das plateias minguantes. “É necessário talvez aprovar duas ou três, o que é bastante interessante, é uma matemática política muito, mas muito estranha”, completou a governante que mente como quem respira. 

Dilma diz que 13 menos 4 é igual a 7

 A presença do talvez nas duas frases avisa que até o neurônio solitário anda duvidando das coisas que diz. Mas a clientela do Bolsa Cultura crê em qualquer coisa que garanta a mesada federal. Essa turma topa acreditar, por exemplo, que a aplicação de normas constitucionais regulamentadas pelo Supremo Tribunal Federal é golpe. Erra feio. Mas acerta quando berra que não vai ter golpe. O que vai ter é impeachment. Ou a cassação da chapa Dilma-Temer, que se reelegeu por ter aplicado o golpe do estelionato eleitoral.

As contas de Dilma nunca foram vistas e revistas: foram é rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União. (Há outras, ainda sob o escrutínio dos investigadores da Lava Jato.)  “Matemática política” é a inventada pelos espertalhões que tentaram esconder com pedaladas fiscais criminosas o tamanho do buraco escavado pela corrupção, pela incompetência e pela irresponsabilidade. “Muito estranha” é a aritmética que transforma prejuízo em lucro, rombo em superávit e menos em mais.

Mais estranho ainda é constatar que o Brasil é presidido há mais de cinco anos por uma nulidade incapaz de fazer contas de jardim de infância. Revejam o vídeo famoso. Quem acha que 13 menos 4 é igual a sete merece ser cassada por insuficiência mental.

Fonte: Coluna do Augusto Nunes