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terça-feira, 4 de maio de 2021

Recorde histórico na balança comercial. Que venham os empregos

Exportações

Nós, brasileiros, somos um povo muito especial. Com toda essa pandemia e campanha para puxar o país para baixo, nós batemos um recorde histórico em abril: a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 10,349 bilhões. É o melhor saldo para um mês em 33 anos, segundo o Ministério da Economia. Nós exportamos US$ 26,481 bilhões e também compramos muito do exterior, importando R$ 16,132 bilhões em bens e produtos. Isso significa que a atividade econômica está aquecida. Agora, é esperar a abertura de vagas de emprego e a melhoria da renda dos brasileiros.

Nós vendemos principalmente soja, algodão, café, petróleo e minério de ferro. E quem mais comprou? A China, claro. Os chineses precisam comprar da gente 
Não adiantou o pessoal do contra, que puxa para baixo, tentar vender a ideia de que haveria uma espécie de retaliação da China contra o Brasil. Isso não existe, porque a China também precisa da gente. E nós compramos fertilizantes, defensivos, produtos acabados…  porque a gente está precisando e a economia está andando.

Que coisa boa falar sobre isso, desse país resiliente, que não dá ouvidos para a “bolha”. Empresários, empreendedores, empregadores, todos aqueles que têm iniciativa, que estão no país real, estão tocando a vida, a despeito de tudo. Não tem outra solução.

Ativismo judicial ataca de novo
O ministro Ricardo Lewandowski, do STF, ameaçou responsabilizar os administradores públicos que não aplicarem a segunda dose da vacina contra Covid-19 por improbidade administrativa. Foi em um despacho que atendeu um recurso da Defensoria Pública do Rio de Janeiro contra o uso da vacina reservada para segunda dose para imunizar policiais e professores. [nobre ministro: talvez o excesso de demandas sobre saúde que aportam à mesa que o senhor pilota, tenha levado a esquecer um fato: os acusadores precisam indicar nos autos, com documentos sérios, válidos, onde estão as vacinas que os administradores públicos precisam dispor para cumprir o supremo decreto de Vossa Excelência; e provar que estavam lá e os gestores públicos não quiseram aplicar.]

Mas pensem comigo: é preferível ficar com um estoque de vacina parado até vencer o prazo de dar a segunda dose ou vacinar logo quem ainda não recebeu nenhuma dose? [tendo em conta que a disponibilidade de vacinas depende de vários fatores - alguns dependem da vontade de nações independentes que ignoram olimpicamente os prazos determinados pela Suprema Corte do Brasil, entendemos ser bem bem mais sensato guardar parte para a segunda dose. Vai que por razões inúmeras, as doses faltantes não chegam e o Brasil fica sem completar, aplicando a segunda dose,  a imunização dos que receberam a primeira dose  e não tem para aplicar a primeira nos demais - e os prazos máximos admitidos entre a primeira e a segunda dose não são tão elásticos quando a interpretação de alguns buleiros, especialistas em nada, querem fazer crer.] .

E pelo menos vai ter a primeira dose, que já é metade da proteção. E logo vai chegar mais estoque para a segunda dose. Mas o ministro Lewandowski mandou parar tudo. É mais uma interferência do Supremo em assuntos administrativos do poder Executivo.  Por causa de situações como essa é que já há uma reação grande de parlamentares contra o ativismo judicial, conforme relata reportagem da Gazeta do Povo. Trata-se de uma ação de defesa da independência do Congresso Nacional.

Depois que o Supremo prendeu um deputado e deu ordem para abrir uma CPI, os parlamentares estão selecionando todos os projetos que estão lá para dar um jeito de frear esse ativismo judicial. [só que a covardia da maior parte desses parlamentares, faz com que um simples pigarro de um supremo ministro, ou uma olhada por baixo dos óculos, sejam mais que suficientes para o parlamentar esquecer que foi eleito para representar o povo e não para sempre apoiar decisões do STF.]   Cada vez o STF se mete mais na vida dos outros poderes. Passando por cima do segundo artigo da Constituição, que fala na Independência e harmonia entre os poderes; eles estão provocando é desarmonia.

 
Vacinação em massa gera expectativa
Houve uma experiência muito interessante na cidade paulista de Serrana, que fica perto de Ribeirão Preto. Foi feita uma vacinação em massa lá contra a Covid-19 com o uso da Coronavac. Começou no dia 17 de fevereiro e terminou no dia 11 de abril. Ao todo, 95,7% dos maiores de 18 anos de Serrana estão vacinados com as duas doses, o que dá 60% da população. Agora é esperar para observar os resultados.

Como todos sabemos, as vacinas ainda estão em fase experimental, e Serrana pode ser o primeiro caso a comprovar na prática a eficiência e a segurança da Coronavac. Os resultados devem aparecer agora, a partir de maio/junho, porque está todo mundo cadastrado para relatar tudo o que aconteceu no pós-vacinação.

Alexandre Garcia, colunista - VOZES - Gazeta do Povo

 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Como a soja colhida no interior do RS põe em risco o equilíbrio ecológico do ‘planeta’? - O Estado de S. Paulo


Macron e a soja

O presidente da França, Emmanuel Macron, não gosta do Brasil, nem dos brasileiros, nem do presidente que eles elegeram dois anos atrás. Mais do que qualquer outra coisa, Macron não gosta da agricultura e dos agricultores brasileiros; sempre faz questão, nos cinco minutos por ano em que pensa alguma coisa em relação ao Brasil, de repetir que a produção de soja por aqui (sem falar no milho, carne, frango e todo o resto) está destruindo a floresta amazônicae, com isso, tirando o oxigênio que a França, a Europa e o mundo precisam para respirar. Não há o que fazer a respeito: o homem não muda de ideia e não muda de assunto. Vai continuar assim. 

O problema com esse tipo de noção é a sua absoluta falta de conexão com a realidade dos fatos. A Amazônia, como pode ser verificado em não mais que dez minutos de pesquisa básica, não tem nada a ver com a soja brasileira, nem com o milho ou com os demais grãos. 
Mais de 70% da produção brasileira vem de quatro EstadosRio Grande do Sul, Paraná, Goiás e Mato Grosso. O Mato Grosso ainda tem uma parte do seu território, apenas uma parte, na chamada “Amazônia Legal”uma ficção burocrática que não tem nada a ver com a geografia, e sim com truques fiscais para se pagar menos imposto.  
Mas todo o restante da área cultivada está fora de lá – a maioria dos agricultores do Paraná, por sinal, provavelmente passa a vida inteira sem jamais botar os pés na Amazônia. Além disso, ninguém precisa derrubar uma única árvore para produzir produzir mais a cada ano, aliás, ocupando o mesmo espaço de terra, por força da tecnologia e do aumento na produtividade. 
A Amazônia, inteirinha, responde por 10% da produção rural do Brasil – só isso. Como, então, a soja colhida no interior do Rio Grande do Sul pode estar pondo em risco o equilíbrio ecológico do “planeta”? Não pode, e não vai poder nunca. 
O presidente Macron, e quem quer pensar como ele, acha o oposto: nunca lhe ocorreu que nos 8,5 milhões de quilômetros quadrados do Brasil possa existir algum tipo de atividade rural fora da Amazônia, nem que o produtor brasileiro conheça o trator, métodos de irrigação e as noções elementares de agronomia. Colheu um cacho de banana? Então é porque está destruindo “a floresta”. 

Macron, se tivesse algum interesse nas realidades, poderia perfeitamente saber disso tudo consultando um dos 5,5 milhões de funcionários públicos franceses que vivem à sua disposição; é impossível que ninguém saiba, nessa multidão toda, como se produz soja no Brasil. Também poderia perguntar sobre o assunto a uma das maiores e mais antigas empresas da própria França, a Louis Dreyfus, que trabalha no agronegócio brasileiro há 80 anos, tem 11 mil funcionários no Brasil e opera ativamente em toda a área rural, da soja à laranja, do café ao milho. Mas quem é que está interessado em coisas chatas e sem nenhum proveito político como a busca de fatos? O presidente da França, com certeza, não está. 

Sua última ideia a respeito do assunto é acabar com a “dependência” que a França teria da soja brasileiraindispensável para a sua produção de proteínas. Disse que estava sendo “coerente”: quem defende a Amazônia e o meio ambiente tem de ser contra o Brasil e a agricultura brasileira. 
Do que ele está falando? O Brasil produziu 135 milhões de toneladas de soja em sua última safra; 
a Europa inteira mal chegou às 3 milhões. Como vai resolver isso? Não vai e, pelo jeito, não está preocupado com os aspectos físicos dessa história toda. Como se sabe, existem dois tipos básicos de ignorância: a involuntária e a voluntária. A primeira tem remédio. Para a segunda não se conhece solução. 
 
J R Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo 17 janeiro 2021
 

*JORNALISTA

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

De bem com o teto - Nas entrelinhas

 Correio Braziliense

Parece incrível, a velha política de conciliação começa a dar o ar de sua graça novamente, nas articulações de bastidor, envolvendo o governo Bolsonaro, o Congresso e o Supremo 

Um dos períodos mais turbulentos da História do Brasil foi o regencial, entre a abdicação de D. Pedro I, em 1831, e o Golpe da Maioridade de D. Pedro II, então com 15 anos, em 1840. Os liberais reivindicavam a ampliação da autonomia dos governos provinciais e a reforma de alguns aspectos contidos na Constituição de 1824; os conservadores eram favoráveis à manutenção da estrutura política centralizada e à preservação dos poderes reservados ao imperador. Foi um período em que a integridade territorial do Brasil e a monarquia andaram ameaçadas por rebeliões sangrentas: Cabanada (1832-1835), em Pernambuco; Farroupilha (1835-1845), no Rio Grande do Sul (República Rio-grandense) e em Santa Catarina (República Juliana); Cabanagem (1835-1840), no Pará; Revolta dos Malês (1835); Sabinada (1837-1838), na Bahia; Balaiada (1838-1841), no Maranhão.

Nesse ambiente, ao assumir o governo, o jovem imperador D. Pedro II foi apoiado e prestigiou a presença de liberais no ministério, mas os escândalos de violência e corrupção nas eleições provocaram a dissolução do gabinete liberal e convocação dos conservadores de volta ao poder. Como as disputas entre ambos continuaram, a alternativa foi D. Pedro II buscar uma posição de equidistância e formar um gabinete com figuras ilustres das duas correntes políticas. Foi assim que nasceu o Ministério da Conciliação, em 1853, encabeçado pelo mineiro Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês de Paraná. Apesar de ter-se extinguido formalmente em 1858, esse sistema de alianças se manteve até a década de 1870, marcando o apogeu do período imperial, financiado pelos recursos advindos da exportação do café. As pressões decorrentes da Guerra do Paraguai (1864-1870) e o crescimento das lutas pela abolição da escravidão levariam à ruptura da conciliação, resultando na criação do Partido Republicano por setores liberais mais radicais, em 1870.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, artífice de uma aliança improvável entre o PSDB e o antigo PFL nas eleições de 1994, juntamente com o falecido deputado federal Luiz Eduardo Magalhães (PFL-BA), recomendava a seus ministros e aliados a leitura de Um Estadista no Império, de Joaquim Nabuco, que exalta a política de conciliação como uma estratégia fundamental para consolidação do Brasil como nação e sua governabilidade. Era uma resposta às críticas que sofria por parte de lideranças de seu próprio partido e da esquerda de modo geral, por causa das alianças que fez com os setores conservadores, principalmente os políticos que representavam as oligarquias do Norte e do Nordeste.

Pacto fiscal 
Desde o Império, não foram poucos os momentos em que a política de conciliação renasceu das cinzas. A eleição de Prudente de Moraes, por exemplo, na sucessão de Floriano Peixoto, em 1894, foi um deles, pois conseguiu pacificar o Rio Grande do Sul, negociando o fim da Revolução Federalista (1893-1895). Outro momento importante foi o governo de Juscelino Kubistchek, eleito com base numa aliança de pessedistas, trabalhistas e comunistas. No governo Jango, o regime parlamentarista foi uma tentativa de conciliação, encabeçada por Tancredo Neves e San Tiago Dantas, que acabou frustrada pela volta do presidencialismo, em 1962, aprovado em plebiscito, e o radicalismo da esquerda, que não queria a volta de Juscelino, nas eleições previstas para 1965, em razão de sua política de “conciliação com o imperialismo”.

Por mais incrível que possa parecer, a velha política de conciliação começa a dar o ar de sua graça novamente, nas articulações de bastidor, envolvendo o governo Bolsonaro, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). É um pacto conservador, que está sendo urdido a churrascos, pedaços de pizza, uísque, café e tubaína, mas ninguém pode negar que o primado da política está se restabelecendo. Se a oposição está perplexa e imobilizada com o que está acontecendo, a extrema-direita bolsonarista, mais ideológica, está esperneando e se sentindo traída. Os fatos estão mostrando uma mudança de estratégia do Palácio do Planalto, além de um reposicionamento de outros atores políticos, que sempre foram influentes no Congresso.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, por exemplo, que andavam se digladiando em público, selaram um pacto em defesa do teto de gastos, em nome da responsabilidade fiscal. O grande padrinho do encontro foi o senador Renan Calheiros (MDB-AL), por intermédio do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Bruno Dantas e do seu atual presidente, José Múcio Monteiro, uma velha raposa política pernambucana, que patrocinaram um jantar entre ambos, que teve como madrinha a senadora Kátia Abreu (MDB-TO). Isso quer dizer que tudo está pacificado? Longe disso. O senador Márcio Bittar (MDB-AC) ainda não conseguiu arrancar da equipe econômica de Guedes uma fonte de pagamento para o Renda Cidadã, cujo relatório ficou para a próxima semana. Enquanto isso, o presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e o líder do Centrão, deputado Arthur Lira (PP-AL), disputam o controle da Comissão de Orçamento da União.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


terça-feira, 28 de julho de 2020

Uma ‘fake news’ amazônica - J.R. Guzzo

O agronegócio não devasta a floresta. O Brasil, sozinho, tem mais vegetação nativa que a Rússia, cujo território é duas vezes maior, e mais que Estados Unidos e Canadá

[ao final, republicação de matéria que desmascara a pirralha sueca - que já anda meio esquecida.]

Os grandes concorrentes mundiais do Brasil na produção e no comércio de produtos agrícolas, todos big business de Primeiríssimo Mundo — a gente mais capitalista, trilionária e praticante da desigualdade social, racial ou de qualquer tipo que se possa imaginar —, estão com um problema sem solução no terreno das disputas honestas. O Brasil vai ter em 2020, mais uma vez, uma safra recorde de grãos: cerca de 255 milhões de toneladas. Mas a área plantada para colher essa produção toda praticamente não cresceu, como vem acontecendo há anos — em 1975, quase meio século atrás, era de 40 milhões de hectares, para uma produção que não chegava nem aos 40 milhões de toneladas; hoje, está por volta de 65 milhões de hectares, ou pouco acima de 50%, para uma produção que é mais de seis vezes maior. Não é preciso ser nenhum gênio em cálculo integral para perceber o seguinte: o agronegócio brasileiro não depende de mais terras para crescer. Produz cada vez mais no mesmo espaço.

Como impedir um concorrente como o Brasil de continuar batendo recordes de produção a cada ano, de arrecadar bilhões e de ganhar mercados, se a extensão física da terra aproveitável não é um limite para os agropecuaristas brasileiros? E onde pode ir parar essa história, quando se considera que há no Brasil 500 milhões de hectares, ou 60% de todo o território nacional, que não estão ocupados até hoje por nenhum tipo de estabelecimento rural? Há países que não podem mais crescer, por maiores que sejam os seus índices de produtividade, pela pura e simples falta de espaço. Tudo o que dá para ser aproveitado já foi — sem contar com fatores como escassez de água, topografia desfavorável, solo de qualidade limitada e tantas outras variáveis que bloqueiam a expansão, mas por aqui não são problema. A resposta às perguntas feitas acima é simples. Não há como parar o crescimento do campo no Brasil. Ou melhor: não dá para deter o agro brasileiro se quiserem fazer uma disputa de cavalheiros. 
Mas há um mundo de coisas a fazer para quem está interessado em cuidar de si, e não em concorrência honesta. 
Danem-se a moral, a ciência e os fatos — nesse caso, a única coisa que realmente interessa é que a agricultura e a pecuária brasileiras, mais a possante indústria que se está construindo em volta delas, parem de avançar. Ou, melhor ainda, que andem para trás.

A receita clássica para negar essas realidades é atribuir tudo à “imaginação” nacionalisteira, ao complexo de inferioridade que faz germinar teorias de conspiração ou à propaganda do agronegócio e da “bancada do boi”. Os fatos mostram que há outros pontos de vista a ser considerados. Pouco antes de 1970 — ou seja, não na Guerra do Paraguai, mas já em plena vida de milhões de brasileiros que estão aí no dia de hoje —, a imprensa brasileira falava, alarmada, no perigo próximo e real da “escassez alimentar”. Essa desgraça iria paralisar a “industrialização do país”, pela “falta de divisas” — não haveria dólares para importação de equipamento industrial, nem de um único barril de óleo diesel, pois nossos recursos em moeda forte estariam sendo desperdiçados na compra de alimentos no exterior. Havia coisa pior: até alguns anos antes, menos de 2% de todas as propriedades agrícolas brasileiras tinham algum tipo de trator, ou qualquer objeto mecanizado. 

Hoje é a indústria que precisa do campo para sobreviver. O Brasil produz por ano alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas, ou cinco vezes a própria população. Tornou-se o maior produtor de comida do mundo, ou um dos dois ou três maiores, segundo os diferentes critérios utilizados para fazer essa contabilidade. É hoje o maior exportador mundial de soja, carne, frango, açúcar, café. 
A produtividade está entre as maiores do mundo. Colhem-se três safras por ano. O agro brasileiro, em suma, não era nada. Hoje é uma potência. Na verdade, é o único setor — mas o único, mesmo — em que a economia do Brasil, a oitava maior do mundo em volume, é realmente competitiva.
Jovens mimados não estabelecem nenhuma relação entre o ato de comer e o trabalho de produzir comida.

Cada um é livre, naturalmente, para acreditar que tudo isso possa ter acontecido, em tão pouco tempo, sem causar nenhum incômodo a ninguém, em nenhum lugar do mundo. A experiência, porém, indica que é pouco provável que os competidores se comportem com essa benevolência. O agronegócio brasileiro prejudica, sim, interesses materiais definidos, e eles estão reagindo. É um bonde que carrega muita gente, além de mamutes do universo de negócios. Estão nessa viagem deputados europeus que só sobrevivem com os votos dos eleitores “verdes” — cada vez mais assustados pela propaganda e pela superstição ecológica em massa, que lhes garantem que o Brasil vai acabar com o oxigênio do planeta e envenenar o mundo com “agrotóxicos”. Há milhares de ONGs que precisam de causas para receber financiamento. Há fundos financeiros trilionários que compram apólices de seguro moral dando dinheiro para ajudar a salvação “da natureza”. Há os fazendeiros dos países ricos, em peso, que vivem dos trilhões de dólares que recebem dos governos em subsídios de todo tipo — e que não querem a importação de produtos agrícolas mais baratos do que os seus. Há as classes intelectuais. Há os jovens nascidos neste século, mimados e protegidos, que acreditam que a humanidade pode se alimentar de produtos orgânicos, e que não estabelecem nenhuma relação entre o ato de comer e o trabalho de produzir comida. Há muito mais gente metida nisso — a lista completa consumiria o espaço de uma antiga lista telefônica.

A arma mais utilizada por todos eles na busca de seus objetivos, e com agressividade cada vez maior à medida que passa o tempo, é dizer ao mundo, todos os dias e em todas as oportunidades, que “a floresta da Amazônia” está sendo destruída — ou por queimadas ou pelo desmatamento, ambos promovidos pelos interesses do agronegócio brasileiro. Ultimamente, empresas internacionais importantes julgaram conveniente fazer pressões públicas contra o Brasil; se “o país” não parar com essa “destruição”, vão cortar investimentos, fazer boicotes ou declarar guerra comercial contra a produção rural brasileira. Em apoio à sua campanha, utilizam vídeos e fotos que estão em circulação há anos, uns mais profissionais e bem-feitos, outros amadores e grosseiros, mostrando incêndios na mata e pilhas de toras de madeira. Referem-se, também, a estudos e estatísticas que apresentam como coisa séria; quase sempre esses números são citados sem nenhuma fundamentação técnica, junto com o nome de alguma universidade ou instituto de ciência.

Trata-se, muito simplesmente, de um conto do vigário em escala planetária. A realidade, tal como ela pode ser observada com os recursos da ciência e da tecnologia, é o exato oposto da pregação “pró-florestas”. O Brasil é o país que mais preserva sua vegetação nativa, fato comprovado por imagens indiscutíveis, e não por comunicados de empresas de relações públicas. O Brasil tem mais florestas que Estados Unidos, Canadá e Rússia, cujo território é o dobro do brasileiro. A área de matas preservadas no país é duas vezes a média mundial. A Amazônia real não a “legal”, que é apenas uma ficção administrativa mantém 98% da sua vegetação natural intocada há séculos. Os agropecuaristas brasileiros, sem exceções e sem nenhuma contrapartida do Estado, são obrigados por lei a manter intactos 20% de suas propriedades; isso não existe em lugar algum do mundo.


O agronegócio brasileiro precisa tanto da Amazônia quanto da Groenlândia
A realidade, quando vista como ela é, e não como aparece em vídeos de ONGs financiadas por multinacionais, é que não há na Terra nenhuma área de florestas tão protegida e tão preservada como a Amazônia brasileira. As queimadas que ocorrem ali, em geral, são fenômenos naturais — surgem segundo a época do ano, como acontece regularmente, e com efeitos muito mais devastadores para a vida humana, na Califórnia, na Austrália, na Rússia e no resto do mundo. (As imagens da divisão da Nasa que registra, por satélite, as queimadas das últimas 24 horas em todo o planeta mostram incêndios de tamanho XXXXL na bacia do Rio Congo, no centro da África, no dia 17 de julho. Na Amazônia, não há nada.) Fora os incêndios naturais, há os ilegais — que, junto com o desmatamento, são fruto da miséria, da ilegalidade e do crime, do garimpo descontrolado e do corte clandestino de madeira, e não da ação proposital do Estado brasileiro ou de quem trabalha na lavoura. São pragas sociais — unicamente isso. A destruição ocorre, na verdade, pela ausência do governo; 
se não consegue deter a criminalidade no Rio de Janeiro, como poderia fazer isso na Amazônia, uma área de tamanho equivalente a mais da metade da Europa inteira?

O agronegócio brasileiro, exatamente ao contrário do que diz a propaganda de guerra em prol da salvação da humanidade, não tem nada a ver com a degradação da floresta. Como demonstrado acima, os produtores de grãos, de carne e de outras riquezas rurais têm utilizado cada vez menos terra para produzir cada vez mais, por força da tecnologia, do investimento e das modalidades mais modernas de trabalho no campo. A verdade pura e simples é que, para crescer e ganhar dinheiro, precisam tanto da Amazônia quanto da Groenlândia. É apenas lógico. Nem o agropecuarista brasileiro, nem nenhuma pessoa mentalmente equilibrada, iria plantar soja, criar frangos ou montar uma usina de açúcar no meio de um dos lugares mais inóspitos para o ser humano que existem no mundo.

Nada disso, naturalmente, tem a menor relevância para os militantes da ecologia. Na verdade, são militantes contra o agronegócio e, como até uma criança de 10 anos de idade pode perceber, contra a livre-iniciativa no campo — apresentada como “o atual sistema econômico de produção de alimentos”. Se os fatos vão contra os seus desejos, pior para os fatos. O que vale é apresentar uma visão única do mundo, que exclui todas as outras e determina que você obedeça a um novo Alcorão no qual há um mandamento acima dos demais: o principal inimigo atual da humanidade é o agronegócio. Ele faz você comer a comida errada, envenena o seu organismo, sequestra o oxigênio do mundo, destrói florestas, produz terremotos, enchentes e outros desastres, está criando uma “bomba de carbono”, enche o planeta com boi demais, frango demais, alimento demais. Não se sugere nenhuma providência prática para sustentar os atuais 7 bilhões de habitantes da Terra

Uma ofensiva recente dessa guerra santa aproveita a epidemia da covid-19 e, com a ambição de propor um novo sistema de virtudes ideológicas para o ser humano, sustenta que está tudo errado com a maneira como você vive. A normalidade, segundo um dos vídeos de denúncia que fazem parte da campanha ora em execução, “não é aceitável” — temos de mudar tudo, se quisermos continuar vivos depois que a doença passar. O pecado capital do mundo de hoje, diz a acusação, é o “elemento antidemocrático” que orienta o atual “sistema de produção de alimentos”. Ele está “fora de controle” e ameaça a Terra de extinção. Seguem-se, aí, as habituais três modalidades de mentira: as grandes, as pequenas e as estatísticas, como lembrou há pouco o ex-ministro Aldo Rebelo, figura histórica do Partido Comunista do Brasil, ao comentar as notícias falsas em torno da destruição da Amazônia. A avicultura e a pecuária, sozinhas, seriam responsáveis por “80%” do desmatamento no mundo. A locutora do vídeo parece indignada com o fato de existirem, segundo os seus números, 500 milhões de bois e 23 bilhões de galinhas no mundo — não se conforma, particularmente, com a quantidade de galinhas, “três para cada pessoa”. Acusa os bichos de ocupar mais terra que a destinada à produção de “alimentos para os seres humanos”; não há menção ao fato de que eles são criados unicamente para alimentar as pessoas.

A conclusão, naturalmente, é que tudo é culpa da busca “do lucro” — como se fosse possível produzir alimentos, ou qualquer outra coisa, buscando o prejuízo. O agronegócio, enfim, seria o responsável por “destruir a saúde” da humanidade, tanto quanto o coronavírus. Não se sugere nenhuma providência prática para sustentar os atuais 7 bilhões de habitantes da Terra. Louvam-se os “pequenos produtores”, que mal conseguem produzir para o próprio sustento. Bom, segundo a campanha, era a agricultura orgânica e natural do passado, quando não se utilizavam “agrotóxicos” e o mundo morria de fome.
Pense um pouco nisso tudo, da próxima vez que vierem lhe dizer que a Amazônia está em chamas e que o Brasil vai acabar com o mundo.

J. R. Guzzo convida você a ler os artigos que publicamos dos colunistas da Spiked, a principal revista digital conservadora do Reino Unido:
“Não, silêncio não é violência”, de Mick Hume
“A tirania da cultura do cancelamento”, de Brendan O’Neill
“Sereias levam as crianças pelo caminho trans”, de Jo Bartosch


J.R. Guzzo, jornalista - Coluna na Revista Oeste

[Aproveitamos o excelente artigo para republicar matéria que desmascara a pirralha sueca:
"Greta Thumberg, a ativista sueca sedenta por holofotes, foi desmascarada numa mentira que revela o seu caráter.
A garota postou em seu Twitter que estava "viajando em trem superlotado de volta pra casa", com a ilustração de uma foto sentada no chão do veículo, cercada por malas.

Pouco tempo depois, a empresa de trens Deutsche Bahn AG desmascarou a menina, usando também o Twitter para questioná-la acerca daquela fake news e informar que Greta Thumberg viajou na Primeira Classe de seus trens naquele dia, ao lado de toda equipe de assessores."

A mentira da Greta virou notícia nos grandes jornais da Alemanha, como o WELT. Basta conferir: https://www.welt.de/politik/deutschland/article204333576/Greta-Thunberg-Deutsche-Bahn-kontert-Sitzplatz-in-der-1-Klasse.html
No Brasil, profundo é o silêncio sobre o caso.

A opção da grande mídia é continuar vendendo essas falácias de marketing.


Blog Prontidão Total

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Não existe crise econômica de verdade num país com esse desempenho no seu agronegócio -J.R.Guzzo

Vozes - Gazeta do Povo

O Brasil da política, dos grandes “meios de comunicação” e das classes intelectuais-civilizadas mais uma vez não está prestando atenção, mas isso não muda em nada um elemento crucial das realidades brasileiras. Enquanto esse Brasil da bolha urbana se aflige com “o Queiroz” e prevê só Deus sabe que novas hecatombes para soterrar o país nas próximas horas, o Brasil de verdade, que gira em torno de um eixo separado, está bombando como nunca: acaba de bater, mais uma vez, todos os recordes nacionais na produção agrícola.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Força do campo - Brasil é país agrícola: aceita que dói menos - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo 

Produtos do agronegócio do Brasil alimentam um bilhão e meio de pessoas no planeta.

Meu primeiro prémio no jornalismo foi resultado da cobertura do escoamento da safra de soja para o porto de Rio Grande, na boleia de um Fenemê. Foi em 1972. De lá até hoje, a área plantada não chegou sequer a dobrar, mas a colheita quintuplicou, numa invejável produtividade, que compete com o meio-oeste americano. Um bilhão e meio de habitantes do planeta podem ser alimentados pelo trabalho e tecnologia de 5 milhões de produtores rurais brasileiro. Produzem quase uma quarta parte do PIB e respondem por metade das exportações. Somos campeões mundiais em açúcar, café, suco de laranja, soja, carnes. A produção da terra passa de 1 bilhão de toneladas. O agro, com toda sua cadeia econômica, gera 40% dos empregos no Brasil. Um sucesso absoluto. [e ainda tem brasileiros que defendem reservas indígenas, intocáveis, na razão de milhares de hectares por indígena.
Os indígenas tem direitos a reservas, enquanto indígenas, dentro de limites razoáveis, mas não os exageros defendidos e que os tornam os índios os maiores latifundiários do Brasil.
A agricultura precisa de terra... a pecuária também... a mineração, idem..... os amigos do Macron, da pirralha estão entre os que acreditam que o leite é provém de fábrica, os cereais são plantados no ar.......etc.... Aterra, incluindo a Floresta Amazônica precisa ser explorada com equilíbrio...... e a SOBERANIA do Brasil inclui aquela Floresta. ] 

Naqueles anos em que eu iniciava o jornalismo nas páginas de economia do Jornal do Brasil, a ênfase era para o sonho de o Brasil tornar-se um país industrializado. O mundo desenvolvido tinha por sinônimo a industrialização. A agricultura e pecuária pareciam atividades do passado. Hoje a indústria patina nos números, na renovação, na atualização. Vai bem a indústria voltada para o campo e lavoura – moderna, digitalizada.

Veja Também: Quanto você pagou para Lula visitar o papa em Roma – e viajar livremente pelo Brasil
[só para que tenham um ideia ele levou na viagem três assessores = ASPONES. Imagine quem pagou as despesas dele e dos aspones = nós e todos os babacas brasileiros = contribuintes.
Quer mais... ele foi para Paraty, relaxar e levou oito aspones. Nós também bancamos esta e outras.]
Mas o setor industrial foi ultrapassado pela agropecuária na participação do PIB. Enquanto os produtores rurais pensam para o futuro e vivem o futuro, com todas as dificuldades de escoamento e embargos tributários e trabalhistas, a indústria parece presa a um ritmo discreto e lento.

O mundo urbano parece não se dar conta da riqueza do agro. Há quem pense que o alimento aparece na prateleira do supermercado vindo de alguma indústria. Já ouvi uma repórter falar em “fábrica de leite”. Esclareci a ela que fábrica de leite se chama vaca. Já fui visitado por um menino carioca que nunca havia visto uma galinha com penas e cacarejando no galinheiro; só o frango depenado e limpo no balcão frigorífico. E há os que combatem os que produzem no campo, sem saber que seu prato farto e acessível a cada refeição é produto do entusiasmo dos produtores rurais. O agro foi o que nos fez respirar, equilibrando nossas contas externas, quando os anos Dilma nos afogavam em recessão.

Hoje no campo, insumos essenciais já são o computador e a conectividade. O campo está digitalizado. Há milhares de produtores trabalhando com defensivos naturais e buscando fertilizantes que diminuam a dependência dos importados. E tudo isso ocupando apenas uns 8% do território nacional. Os ruralistas do brasilzão real estão dando exemplo de desenvolvimento e progresso, mesmo com o emaranhando de normas, que parecem ser de um país masoquista, que quer ser pobre mas tem um tremendo potencial para ser riquíssimo. O potencial de produzir cada vez mais o mais essencial dos produtos, que é o alimento.

Alexandre Garcia - Vozes - Gazeta do Povo


sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Sexta-feira 13, 51 anos depois - Míriam Leitão

O Globo

Numa sexta-feira 13, há exatamente 51 anos, o AI-5 caiu sobre o país como um viaduto. O Brasil era outro. Dos brasileiros de hoje, 76,21% não haviam nascido. São 160,2 milhões de brasileiros nascidos depois daquele dia. Pelo tempo passado e pela renovação populacional, esse deveria ser um assunto esquecido e pacificado. Mas o AI-5 foi um dos assuntos mais falados no país este ano, em função do estranho sonho autoritário de pessoas que hoje ocupam posição de poder.

Há vários mitos sobre a ditadura que andam sendo repetidos numa demonstração de que é preciso voltar a falar do assunto. Os militares chegaram dizendo que ficariam pouco tempo e ainda hoje alguns grupos defendem que o regime foi brando. Não existe ditadura suave e a dinâmica do caminho autoritário é incontrolável. O general Castello Branco dizia que o regime seria temporário e ele durou 21 anos. O primeiro Ato Institucional foi apresentado como sendo o único e houve 17. O AI-5 duraria um ano, durou 10. O SNI seria apenas um pequeno serviço de inteligência e, como registra Elio Gaspari, virou um “monstro” na definição do seu próprio criador, Golbery do Couto e Silva. No final tinha seis mil funcionários, escritórios em cada ministério, em cada órgão estatal, envolveu-se em inúmeras maracutaias, do garimpo na Amazônia às negociatas com café.

O país não estava “indo para o comunismo”, mas sim vivendo um governo de muita instabilidade e que se aproximava do seu final. No ano seguinte haveria uma eleição em que se enfrentariam Juscelino Kubitschek e Carlos Lacerda, com grande chance de vitória do primeiro. Os dois se juntaram depois na Frente Ampla, que incluiu também João Goulart, uma aliança impensável entre o golpista Lacerda e o presidente deposto. Eles passaram por cima das diferenças pela causa comum do retorno à democracia. A frente foi proscrita pelo governo no interminável ano de 1968.

Na economia, a ditadura começou fazendo um plano anti-inflacionário e de ajuste das contas públicas. Através do PAEG, a inflação foi reduzida com um mecanismo de correção salarial pela média dos 24 meses anteriores e que levou a uma redução de salário real. Após o ajuste, o país acelerou o crescimento do PIB. Se o país estava crescendo, isso deveria ter desanuviado o clima político, mas a direita no poder decidiu radicalizar.
A coincidência entre o melhor momento da economia e o pior período da repressão é até estranha. O crescimento acelerado, em qualquer país, produz uma taxa maior de aceitação do governo. O PIB cresceu em média 11,2% de 1968 a 1973, segundo André Lara Resende no livro “130 anos da República”. Os militares queriam mais que apoio, ambicionavam a unanimidade. Para calar todas as vozes discordantes foi disparada a violência desmedida do Ato Institucional que fechou o Congresso por quase um ano, estabeleceu a censura prévia contra alguns órgãos de imprensa, suspendeu todas as garantias constitucionais, cassou parlamentares, expulsou estudantes e professores das universidades e expandiu a máquina de tortura e morte.

O crescimento do país era desigual. Segundo Pedro Ferreira de Souza, a parcela da riqueza nacional apropriada pelos brasileiros que estavam entre os 1% mais ricos subiu de 17,7% para 25,8% entre 1964 e 1970. Oito pontos percentuais em seis anos. O tempo de forte alta do PIB é apenas uma parte dos 21 anos. Ficou restrito ao final dos 60 e começo dos 70. Houve o período de recessão, inflação, dívida externa e bagunça fiscal. “Quando, na segunda metade dos anos 1970, os desequilíbrios das contas externas e as pressões inflacionárias reapareceram, agora combinados com a correção monetária, estava montado o quadro para quase duas décadas de estagnação e aceleração inflacionária”, escreve Lara Resende.

Não deveria ser preciso dizer que o AI-5 abriu um tempo maldito que jamais pode provocar saudosismo nos governantes. Mas também não deveria ser preciso dizer que torturador não é herói e que presidentes não falam, com naturalidade, sobre instrumentos de tortura. Não deveria ser necessário dizer que os problemas da democracia só podem ser corrigidos com mais democracia. Contudo, ainda é preciso lembrar como foram terríveis aqueles dias, aqueles anos, que começaram numa sexta-feira 13, há 51 anos.

Blog da Míriam Leitão, colunista - Com Alvaro Gribel de São Paulo - O Globo



domingo, 22 de setembro de 2019

A vida, a morte e os impostos - Veja

Por Gustavo Krause  - Blog do Noblat

“Somos obrigados a pagar e se não pagar, é bronca!"

Uma cena prosaica: café da manhã na véspera de um feriado prolongado. Família de classe média: o pai, pequeno empresário com garra de empreendedor; a mãe, trabalhadora da área de saúde, chefe de enfermagem de um grande hospital; os filhos, casal de adolescentes, estudantes da rede privada. Suco de laranja, sanduíche misto, uma xícara de café, cardápio para vencer um trânsito insuportável e atender ao gentil convite de fraterno amigo, proprietário de um flat na famosa praia de Porto de Galinhas.

De repente, o garoto, perguntou: “Pai, o que é reforma tributária, que tanto se fala na escola e nos noticiários”? Mesmo premido pelo tempo, ele não se fez de rogado e com paciência didática: “Aqui, sanduíche, pão, café, água, bujão de gás, eletricidade, a roupa que você está vestindo, automóvel, combustível, dinheiro ganho e gasto por nós, este apartamento, material da construção, enfim, tudo paga imposto e…muito, sendo que os pobres pagam proporcionalmente mais do que os ricos”.
“E a gente é obrigado a pagar? “Somos obrigados a pagar e se não pagar, é bronca! De tudo que se produz no Brasil, cerca de 35% vai para os governos”. 

O menino arregalou os olhos e exclamou: “Tudo isso! E o que é que o governo faz com tanto dinheiro? O pai não conteve a faísca de indignação e complementou a perguntaDeveria fazer, mas não faz. Nos últimos trinta anos, só fez aumentar impostos/tributos e deveria retribuir à sociedade segurança, saúde, educação de boa qualidade, facilitar a vida de quem produz”. 

 Aí foi a vez de a mocinha apimentar a conversa: “Por isso que a mãe diz que ‘tem que apertar o cinto’ por conta dos planos de saúde e das mensalidades escolares”.
“É isso aí meus filhos, concluiu o pai, os governos são eficientes em aumentar e cobrar impostos, ineficientes para prestar serviços à população, perdulários e, não poucas vezes, corruptos com o uso do dinheiro que pertence a todos nós”.

Fez-se um silêncio constrangedor diante do tom da indignação do cidadão calmo e paciente. “E a reforma, Pai? “Não faltam propostas. Só espero que a emenda não venha pior do que o soneto”.
Interveio, então, a mulher, com pragmatismo e sabedoria: “Tudo pronto? Simbora, na vida, só existem duas coisas certas: a morte e os impostos, disse um célebre americano”.

Blog do Noblat - Veja
 
Gustavo Krause foi ministro da Fazenda 

quarta-feira, 19 de junho de 2019

O capitão prometeu uma alegria


Bolsonaro quer baixar imposto de importação de computadores 

Atraso domina mercado tecnológico

Num de seus últimos tuítes, o presidente Bolsonaro anunciou: “Para estimular a competitividade e inovação tecnológica, o governo estuda (...) a possibilidade de reduzir de 16% para 4% os impostos sobre importação de produtos de tecnologia da informação, como computadores e celulares.” É o caso de se sentir o alívio da diretora de futebol da seleção feminina da Tailândia, que chorou ao ver o gol de seu time depois de tomar 13 x 0 contra os Estados Unidos e de ralar um 5 x 1 contra a Suécia.

Tomara que o capitão emplaque essa. Como seus tuítes fazem parte de uma realidade paralela, ficaria de bom tamanho se passasse a revelar todos (repetindo, todos) os obstáculos que aparecerão no caminho. Os computadores, bem como os tablets e os celulares, custam caro no Brasil. A inovação tecnológica da indústria é desprezível, e esse mercado é dirigido pela mão invisível do atraso. Em 1975, quando a China vivia as trevas da Revolução Cultural que descambou até para casos de canibalismo, em Pindorama uma aliança de militares e burocratas começou a erguer barreiras contra a importação de computadores. Nascia assim uma das maiores ruínas produzida pela ditadura, a chamada reserva de mercado da informática. Era mais fácil trazer um quilo de cocaína do que passar pela Alfândega com um computador. A ideia era criar uma tecnologia nacional, copiando patentes estrangeiras.

Em 1984, quando o Congresso sacramentou a maluquice, um grupo de engenheiros chineses fundou a empresa Lenovo. Ela ralou, mas hoje é a maior vendedora de computadores do mundo. É a China que monta os iPhones, e seus celulares estão entre os melhores. Os chineses disputam com os americanos a dianteira na tecnologia da informática. Os campeões nacionais brasileiros atolaram. Deve-se ao então presidente Fernando Collor a quebra do monopólio do sonho, ao qual juntaram-se grandes bancos e empresários. A reserva de mercado acabou, mas a mão invisível continuou agindo no escurinho de Brasília. Reciclou-se, beneficiando-se de incentivos fiscais, franquias de importação y otras cositas más. O resultado desse contorcionismo está aí: os celulares e os tablets são caros, e os computadores competem graças ao imposto de importação de 16%.

O tuíte de Bolsonaro poderá ser uma baforada, como foi o “peso real”. Se ele contar, passo a passo, por que a ideia não vier a avançar, prestará um grande serviço. As guildas empresariais já anunciam que uma redução do imposto provocará a fuga de indústrias. Nesse caso, um dos motivos que mantêm essas empresas em funcionamento é a barreira tarifária. Restará discutir se ela faz sentido. Sempre será bom lembrar que a Abolição da Escravatura destruiria a produção do café. Era lorota.

No final do século passado, quando o Brasil começou a abrir sua economia, a indústria fortificou-se na defesa de sua proteção. Isso para não se falar na venda de ilu$ões, como o plano de construção naval. Noves fora alguns trogloditas, a agricultura e a pecuária tomaram o caminho inverso, modernizando-se. Surgiram dezenas de centros de pesquisas agrícolas, e hoje o agronegócio empurra a economia. Enquanto isso, as guildas industriais continuam dando jantares para autoridades. Uma indústria pode crescer protegendo-se dos concorrentes, mas definha quando se protege dos consumidores.