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domingo, 7 de agosto de 2022

Michelle Bolsonaro diz que Palácio do Planalto era 'lugar consagrado a demônios' - O Estado de S. Paulo

Discurso da primeira-dama ocorreu em culto evangélico, ao lado do presidente

A primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que o Palácio do Planalto era consagrado a demônios antes da posse do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar foi um lugar consagrado a demônios. Cozinha consagrada a demônios, Planalto consagrado a demônios. E hoje é consagrado ao senhor Jesus”, disse ela neste domingo, 7, ao lado do presidente, durante culto evangélico na Igreja Batista Lagoinha em Belo Horizonte.

 Em um discurso de pouco mais de cinco minutos, Michelle chamou muitas pessoas pelo primeiro nome, agradecendo orações feitas a favor do governo. Ela ainda disse que o momento está “muito difícil” e repetiu a frase já dita pelo presidente de que as eleições são uma “guerra do bem contra o mal” e alegou que “nossa nação é uma nação rica, uma nação próspera, ela só foi mal administrada”. “Podem me chamar de fanática, podem me chamar de louca, mas vou continuar louvando nosso Deus, vou continuar orando”, disse.

Depois de seus discursos, a primeira-dama Michelle e o presidente Jair Bolsonaro foram abençoados pelo pastor André Valadão
Depois de seus discursos, a primeira-dama Michelle e o presidente Jair Bolsonaro foram abençoados pelo pastor André Valadão Foto: Reprodução/YouTube Lagoinha

 Ela também relembrou a facada sofrida por Bolsonaro em 2018. “É uma renúncia estar do outro lado. Nós pagamos um alto preço. Até com a vida, como tentaram tirar do meu marido em 2018?.

Michelle, que falou logo após o presidente, tem intensificado sua presença nos atos de campanha do marido, como estratégia para melhorar a imagem dele junto ao eleitorado feminino e evangélico. “Eu sempre falo e falo para ele (Bolsonaro), quando eu entro na sala dele e olho para ele: essa cadeira é do presidente maior, é do rei que governa essa nação, disse a primeira-dama. Durante a fala dela, Bolsonaro demonstrou emoção e ficou com os olhos marejados.

O Estado de S. Paulo - Rubens Anater e Carlos Eduardo Cherem

 

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Tudo o que você precisa saber sobre a situação constitucional do aborto nos EUA - Gazeta do Povo

André Uliano

Em janeiro de 2018, durante a tradicional Marcha pela Vida (March for Life), realizada anualmente na capital dos Estados Unidos, o então Presidente Donald Trump afirmou categoricamente: “Na minha Administração, sempre defenderemos o primeiro direito da Declaração de Independência, que é o direito à vida”. (...)

“Estamos protegendo a santidade da vida e da família como a base de nossa sociedade.”

Quatro anos depois, é possível dizer que poucos presidentes tiveram tanto sucesso e atuaram de um modo tão efetivo sobre algum tema. Após três nomeações chave para a Suprema Corte Americana, tudo indica que os Estados Unidos estão prestes a superar uma de suas decisões juridicamente mais equivocadas e moralmente mais infames: a do caso Roe v. Wade, de 1973, quando o Tribunal fixou a tese de que a Constituição americana garantiria um suposto “direito ao aborto”, de modo que os Estados-membros não poderiam tutelar penalmente a vida intrauterina, salvo no final da gravidez e mesmo assim de modo bastante restrito.

Embora esse não seja o tema do texto de hoje, cabe aqui abrir um parêntese: quando ouvimos algum discurso de justificação do ativismo judicial, é comum que se busque legitimar tal prática como algo conveniente e até imprescindível para proteger direitos humanos. A análise histórica, no entanto, não revela um quadro tão simples. Historicamente, o ativismo judicial foi responsável por legitimar a escravidão e a opressão contra negros, dificultar o combate à criminalidade, inclusive em crimes de corrupção, e – como no caso Roe v. Wade – legalizar violações ao direito à vida. Portanto, não há nada que indique que a atuação judicial tenha seu vetor sempre voltado para uma melhoria dos direitos fundamentais e do Estado de Direito.

Mas voltando ao tema do tratamento jurídico-constitucional do aborto nos Estados Unidos, o atual panorama da matéria foi fixado, basicamente, em três precedentes: Roe v. Wade; Doe v. Bolton; e, Planned Parenthood v. Casey. Falaremos de cada um deles à frente.

Entretanto, o que é hoje mais relevante e colocou o assunto novamente sob os holofotes é o fato de que a atual composição da Suprema Corte, uma das mais brilhantes e humanistas de sua história recente, poderá reapreciar a matéria ainda em 2022, no julgamento do caso Dobbs v. Jackson. A causa já foi instruída e está pronta para ser decidida. A previsão é que isso ocorra no meio do ano.

Para compreender toda essa discussão, creio que precisamos abordar os seguintes pontos:
1)
Como era tratado o aborto nos Estados Unidos antes da decisão de Roe v. Wade;
2) Quais os casos centrais da jurisprudência americana sobre o aborto e qual o estado atual da questão;
3) Por que isso poderá mudar em breve.

Neste artigo, veremos os dois primeiros tópicos (o regime jurídico do aborto nos EUA até 1973 e no pós-Roe até os dias atuais). No artigo da semana que vem veremos por que isso, provavelmente, está prestes a mudar (pra melhor).

 Como era tratado o aborto no direito americano antes do caso Roe v. Wade?
Segundo pesquisa histórica realizada pelos professores Robert P. George, da Universidade de Princeton, e John Finnis, o qual lecionou em Oxford e Notre Dame, o nascituro já gozava de status de pessoa e proteção jurídica desde os clássicos da Common Law, sistema jurídico herdado pelos Estados Unidos a partir do direito inglês. Essa conclusão se baseou na análise de autores que figuravam como referência no período de fundação do direito americano, como Edward Coke, William Blackstone e Henry de Bracton, assim como em alguns julgamentos dos inícios do país.

Havia, no entanto, certa discussão acerca de quando iniciaria a tutela especificamente penal, ou seja, a partir de que momento da gestação se tornaria crime a ação contra a vida do nascituro. Alguns sustentavam que isso deveria ocorrer apenas a partir da sexta semana de gravidez, outros a partir do momento em que a mãe fosse capaz de sentir os movimentos da criança, o que era fixado por volta da 15ª semana. De todo modo, fora do direito penal, em outros ramos do direito, mesmo antes desses marcos temporais, o aborto já era coibido e considerado ilícito. Por exemplo: contratos para prática de abortos eram nulos e não se concediam autorizações para estabelecimentos que visassem prestar serviços de aborto.

Com o ingresso no século XIX e o avanço das ciências e da bioética, a proteção jurídica desde a concepção ganhou força e se tornou hegemônica. Como consequência, foi deflagrado um movimento por parte de médicos e juristas para corrigir todo o direito americano, fortalecendo a proteção jurídica e penal do ser humano desde quando concebido no ventre materno.

Assim, conforme estudo da historiadora do direito Mary Ziegler, da Florida State University College of Law, por volta de 1857, a American Medical Association iniciou uma campanha em favor da proteção penal da vida intrauterina, apresentando argumentos morais, científicos e práticos. A campanha fora extremamente bem-sucedida e pelo ano de 1880, todos os Estados americanos já haviam estabelecido legislações que estabeleciam forte proteção da vida intrauterina e criminalizavam a prática de abortos eletivos, com algumas poucas exceções relativas a riscos à saúde física da mãe.

Esse dado é muito importante, porque ele revela que quando os Estados Unidos adotaram a 14ª Emenda à sua Constituição, em 9 de julho de 1868, prevendo que “nenhum Estado privará qualquer pessoa da vida” (“nor shall any state deprive any person of life”), o sentido corrente da expressão (original public meaning) “qualquer pessoa” abrangia os nascituros desde a concepção. Logo, a Suprema Corte não teria como dizer – como infelizmente disse – que antes de 24ª semana de gestação não haveria interesse jurídico e respaldo constitucional para que os Estados tutelassem a vida intrauterina. Inclusive, como vimos no parágrafo anterior, foi exatamente nesse período em que a campanha pró-vida apresentava maior vigor no sentido de reformar a legislação a fim de ampliar a proteção jurídica da vida para desde o momento da concepção.

A prof. Mary Ziegler relata que esse quadro durou relativamente estável por cerca de um século. Em 1959, inicia-se um movimento contra aquele consenso. A American Law Institute começa, então, a minutar projetos de lei que flexibilizavam as regras sobre aborto, ampliando as exceções à sua criminalização, embora de modo ainda razoavelmente restrito. Alguns Estados, como Califórnia e Geórgia, chegaram a aprovar legislações que seguiam o projeto daquela organização. Mas foi em torno de meados da década de 60 do século passado, quando o movimento de contracultura atingiu em cheio o coração da América, que se iniciou um forte movimento pela ampla legalização do aborto: “feministas exigiam a revogação total de todas as restrições ao aborto, assim como membros do movimento de controle populacional (uma causa dedicada a conter o crescimento demográfico).”

Em 1970, os Estados do Havaí e Nova Iorque permitiram a prática de abortos eletivos, assim como Alaska e Washington. Essas legislações tiveram forte impacto no crescimento do número de manobras abortivas praticadas no país. Segundo dados do CDC, em 1970 foram 193.491 abortos legais praticados nos Estados Unidos, 52 para cada 1000 nascimentos. No ano seguinte, ele mais do que dobrou, chegando perto de meio milhão, sendo agora 137 para cada 1000 nascimentos. Em 1973, já era de 615.831 o número de abortos legais praticados na América, 196 para cada 1000 nascimentos. Ou seja, quase 1 a cada 5 crianças eram abortadas.

Numa crescente de aceitação na opinião pública, quando cerca de metade da população já apoiava a legalização do aborto, a Suprema Corte proferiu o julgamento do caso Roe v. Wade.
O que o direito constitucional americano diz sobre o aborto atualmente?
Como mencionado acima, o tratamento constitucional do aborto está hoje definido nos Estados Unidos, basicamente, por três precedentes: Roe v. Wade, Doe v. Bolton e Planned Parenthood v. Casey.

Vejamos cada um daqueles três casos inicialmente.
O que foi definido em Roe v. Wade?
O caso começou quando Norma McCorvey, uma jovem saudável de 21 anos, descobriu que estava grávida de seu terceiro filho. Desejando abortar, em março de 1970, litigando com o pseudônimo Jane Roe, ela processou o então Procurador-Chefe do Ministério Público do Texas, Henry Menasco Wade, requerendo que ele fosse obstado de ajuizar qualquer ação criminal em seu desfavor, caso ela de fato praticasse um aborto. Nessa época, a legislação criminal texana proibia o procedimento, exceto para proteger a vida ou a saúde da mulher. Em 1973, o caso foi julgado pela Suprema Corte americana.

O mais alto tribunal do país, no precedente que leva o pseudônimo da demandante e o sobrenome do Procurador-Chefe, Roe versus Wade, declarou inconstitucional o artigo do Código Penal do Texas que criminalizava o aborto. Mas não parou por aí: a Suprema Corte literalmente inventou um direito ao aborto. Os juízes alegaram que antes da 24ª semana de gravidez (início do terceiro trimestre) o feto não apresentaria viabilidade, assim compreendida como a "potencialidade do feto de viver fora do útero da mãe, ainda que com ajuda artificial". O critério utilizado é altamente controverso. De todo modo, partindo dessa premissa, o Tribunal concluiu que, no período de inviabilidade (dois primeiros trimestres de gravidez), a decisão sobre abortar ou não estaria resguardada pelo direito à privacidade, não havendo interesse legítimo dos Estados em proscrever a prática do aborto.

Com base em tal raciocínio,
a Suprema Corte proibiu que todos os estados americanos, assim como o governo federal, criminalizassem a prática de abortos eletivos, até a 24ª semana de gestação. O voto vencedor, que contou com a adesão de 7 dos 9 juízes, estabeleceu uma divisão da gravidez em três trimestres, e aplicou para cada um deles um regime jurídico próprio.

Em apertada síntese:
no primeiro trimestre, o aborto eletivo simplesmente deveria ser deixado sob livre decisão da gestante e seus médicos;
no segundo trimestre, o Estado poderia regular o aborto visando apenas a proteção da mãe, não do feto, implementando procedimentos razoáveis para assegurar a saúde materna;
por fim, no último trimestre (após a 24ª semana), quando se considerou que o feto já possuía viabilidade extrauterina, o Estado poderia regular e mesmo proibir criminalmente o aborto, exceto quando necessário, segundo juízo médico, para preservação da vida e saúde da mulher.

O que foi decidido, de relevante, no caso Doe v. Bolton?
Mesmo quanto ao último trimestre, no caso Doe v. Bolton, julgado no mesmo dia, mas que ficou bem menos famoso, a Suprema Corte decidiu que “os aspectos ‘físico, emocional, psicológico, familiar e de idade’ da mulher relacionam-se à sua saúde, autorizando que todos esses fatores possam ser levados em consideração para permitir o aborto após o sexto mês gestacional”.

Com isso, como bem constatou o Procurador da República Higor Rezende Pessoa:
“Na prática, a partir de 22 de janeiro de 1973, na linha dos precedentes Roe v. Wade e Doe v. Bolton, passa a América a permitir o aborto durante os nove meses de gravidez, tornando impossível a defesa da vida intrauterina por parte dos estados americanos ou do governo federal."
"Em resumo, o aborto passa a ser legal em qualquer circunstância (dificuldade financeira, conveniência social, rejeição do feto pelo sexo, por doença ou por motivo algum) durante os seis primeiros meses de gravidez; a partir do sétimo mês, o aborto é legal para resguardar a vida ou a saúde da mulher, sendo o último conceito (saúde) alargado pelo precedente estabelecido em Doe, que permite abortar até o nono mês, representando uma mudança radical no sistema jurídico de proteção da vida do nascituro nos Estados Unidos."

Quais foram as consequências dessas decisões da Suprema Corte?
O julgamento do caso Roe v. Wade chocou e polarizou a opinião pública americana.
E não foi para menos. É possível concluir com base nos dados que Roe deflagrou uma crise de violações a direitos humanos na América.

Segundo levantamento de Higor Rezende Ferreira, hoje, pelo menos 8 estados americanos permitem a realização do aborto até momentos antes do parto. A postura legislativa é tão radical que, dentre 198 países estudados no ano de 2017, os Estados Unidos encontravam-se entre um restrito grupo de 7 nações que admitiam o aborto após a 20ª semana de gestação. É importante salientar que as práticas abortivas utilizadas, especialmente em estágios mais avançados da gravidez, são manifestamente cruéis. Desde a decisão do caso Roe, mais de 60 milhões de abortos legalizados já foram praticados no país. Conforme levantamento do Instituto Guttmacher, abrangendo 7 estados americanos, “98.3% dos abortos nos EUA são eletivos, incluindo razões socioeconômicas, controle de natalidade e seleção de sexo do bebê. Os casos difíceis (hard cases) representam: em caso de estupro, 0.3%; incesto, 0.03%; real risco para a vida da mãe, 0.1%; riscos para a saúde da mãe, 0.8%; problemas de saúde dos fetos, 0.5%”.

As consequências da decisão da Suprema Corte acabaram por impulsionar fortemente o movimento pró-vida no país.

No campo jurídico, na própria década de 70, setores da sociedade e da academia, em larga medida envolvidos com movimentos pró-vida, começaram a desenvolver teorias de interpretação da Constituição mais fieis ao texto, à tradição do país e à intenção dos legisladores: é a fundação do chamado moderno originalismo. O Presidente Richard Nixon indicou o justice Rehnquist para a Suprema Corte, jurista alinhado com essa filosofia, o qual mais tarde chegou a ser Presidente da Suprema Corte e, em 1976, portanto pouco depois da decisão do caso Roe, escreveu famoso artigo crítico ao ativismo judicial.

Na década de 80, o icônico Presidente Ronald Reagan, vigoroso defensor de sociedades livres e responsáveis, e um dos principais nomes da vitória humanista contra o totalitarismo comunista, nomeou novos juízes para Suprema Corte, sobressaindo-se dentre eles o adepto das teorias originalistas e grande promotor dos direitos humanos, o conservador Antonin Scalia.

Ronald Reagan chegou a nomear outro famoso jurista conservador e originalista, Robert Bork, professor em Yale e Desembargador da Justiça Federal americana. Seu nome, no entanto, foi rejeitado pelo Senado. O presidente, então, indicou Anthony Kennedy para a vaga. Como veremos, essa substituição teria grandes repercussões para a causa do aborto no futuro.

De um modo ou de outra, as trocas na composição da Suprema Corte entre 1973 e o início da década de 90 levaram a uma forte expectativa de que o lamentável precedente do caso Roe v. Wade pudesse ser revertido. Essa expectativa cresceu quando um novo grande caso sobre o aborto chegou à Suprema Corte após a mudança em sua composição: o caso Planned Parenthood v. Casey.

O que a Suprema Corte decidiu no caso Planned Parenthood v. Casey?
O caso Casey tinha por objeto a legislação da Pensilvânia de 1982 (Pennsylvania Abortion Control Act) que impunha algumas restrições à prática do aborto: consentimento informado, com dados sobre o procedimento e os riscos do aborto a gestantes que procurassem tal serviço; período mínimo de 24 horas de espera entre a solicitação do aborto e sua prática; notificação dos pais, caso o aborto fosse solicitado por menores; e notificação do marido, caso o aborto fosse requerido por mulheres casadas.

Apesar da grande expectativa, o precedente do caso Roe foi mantido e reafirmado, embora com alterações. O voto vencedor contou com maioria apertada de 5 juízes, entre eles o justice Kennedy. A decisão manteve o critério da viabilidade da vida do feto fora do útero. A divisão rígida entre trimestres – absolutamente sem base no direito do país –, no entanto, foi abandonada.

O Tribunal, então, fixou que: antes da viabilidade, os Estados poderiam regular o aborto (por exemplo, com as restrições administrativas impostas pela legislação da Pensilvânia), mas não criminalizá-lo. E mesmo as restrições administrativas não poderiam resultar num ônus indevido (undue burden), descrito como um "obstáculo substancial no caminho de uma mulher que busca um aborto antes que o feto atinja a viabilidade". A Suprema Corte entendeu que uma das restrições da legislação analisada (notificação ao marido em caso de requerente casada) criava um ônus indevido e por isso ela foi julgada inconstitucional. Esse, contudo, foi o único trecho da legislação que acabou derrubado.

Após a viabilidade, a decisão fixou que os Estados podem proteger a vida do feto, banindo penalmente a prática de abortos não terapêuticos (eletivos).

O que aconteceu após Casey v. Planned Parenthood?
Depois do julgamento do caso Casey, houve inegável frustração por parte do movimento pró-vida. Mas também houve motivos para comemorar.

A decisão da Suprema Corte permitiu que vários estados passassem a dificultar práticas abortivas mediante regulação administrativa, ainda que não penal. A grande verdade é que a vagueza do standard utilizado (undue burden) deixou enorme margem à discricionariedade dos Estados. E o que governantes comprometidos com a causa da vida passaram a fazer desde então foi criar legislações que tornassem o aborto cada vez mais difícil, testando até onde iria a aceitação da Suprema Corte.

O movimento pró-vida seguiu crescendo nos Estados Unidos. Eles perceberam algo fundamental: “para dar um fim ao aborto, conquistar corações é mais importante do que mudar as leis”. Com as novas tecnologias que permitem a percepção da humanidade do feto desde muito cedo e com a divulgação da desumanidade dos procedimentos abortivos, o movimento pró-vida conquistou adeptos.

Desde o julgamento de Casey, o número de abortos legais caiu nos Estados Unidos, revertendo uma tendência ascendente que vinha desde o início da década de 70.

Por fim, o destino conspirou a favor. Em um único mandato, o Presidente mais pró-vida da história recente americana, Donald Trump, pôde nomear três juízes para a Suprema Corte. E ele não desperdiçou a oportunidade que o destino lhe assegurou, garantindo uma tríade de excelentes indicações.

O resultado desse movimento será objeto de nosso artigo da semana que vem.

André Uliano, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sábado, 25 de dezembro de 2021

Michelle Bolsonaro protagoniza discurso de Natal do governo

Pela segunda vez, a primeira dama, Michelle Bolsonaro falou em discurso de Natal, porém desta vez, ela foi a protagonista

Novamente ao lado da primeira dama, Michelle, o presidente Jair Bolsonaro (PL) falou durante pronunciamento de natal nesta sexta-feira (24/12). Desta vez, o destaque foi justamente dela, pois sua fala foi maior que a do marido. Essa foi a terceira mensagem de natal do mandato do presidente. O vídeo teve apenas 1 minuto e 34 segundos, gravado e transmitido em rede nacional de rádio e televisão às 20h30.
 


 [destacamos que o discurso foi em cadeia nacional de Rádio e TV - meio legal que permite ao presidente da República falar com o povo; 
assim, se algum partideco tentar impedir o acesso do presidente às redes sociais, ela pode requisitar uma cadeia nacional de Rádio e TV.]

 Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA


sábado, 21 de agosto de 2021

Os marcianos estão entre nós - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Estamos num tempo estranho em que não se busca solução de conflitos. Se investe no conflito. Duvida? Então dá uma olhada

A invasão dos marcianos narrada por Orson Welles mais de 80 anos atrás levou ao pânico parte da população norte-americana. O ator iniciou a transmissão de rádio informando que iria interpretar uma peça de teatro. Não adiantou. Parte das pessoas não ouviu o alerta porque ligou o rádio depois. Outra parte ouviu, mas acreditou assim mesmo que a Terra estava sendo tomada pelas criaturas esverdeadas do planeta vizinho. A vontade de acreditar é uma das forças mais brutas da natureza.

Hoje a humanidade está querendo acreditar numa escalada inexorável de conflito. Não só os conflitos de sempre — entre partidos, religiões, supostas ideologias, etc. A nova onda é todo mundo se engalfinhando por alguma coisa com todo mundo. Colegas, vizinhos, casais, amigos, irmãos. Meu reino por um mal-entendido.

O panorama pandemônico ajuda, mas está longe de explicar tudo. Olha em volta que você vai ver. Já há pelo menos um problemão atravessando tudo e fazendo um estrago dos grandes, mas não basta. É preciso discutir até a morte se um atleta olímpico pode desistir. Se a desistência nesse caso é respeito aos limites humanos ou concessão à fraqueza. E lá vêm as hordas com gosto de sangue na boca dispostas ao duelo sem fim. O que seria uma questão legítima já nasce com os códigos da dicotomia burra. Escolhe um lado, enche as mãos de pedras e cai dentro.

Estamos num tempo estranho em que não se busca solução de conflitos. Se investe no conflito. Duvida? Então dá uma olhada.

O importante é ter meia dúzia na plateia do Coliseu imaginário

Sabe aquele cara que falava de Proust, Baudelaire e só dava um refresco para explicar o que Vivaldi quis dizer com a inusitada dobra de compasso? Pois é. Ele hoje está por aí comentando a última do Renan Calheiros — e caprichando no veneno da flecha destinada à tribo inimiga. Não importa que seja uma flecha digital de mentirinha e que nem esteja muito claro quem é o inimigo. O importante é ter meia dúzia na plateia do Coliseu imaginário e ao menos uma alma penada passando recibo. Ele já terá colhido seu crachá de guerreiro.

Quem é maior: o Flamengo ou o Corinthians? Esquece. Mesmo no terreno dos duelos mais bobos e divertidos, onde até as cores da camisa poderiam ser evocadas cega e apaixonadamente como prova incontestável de virtude, a coisa desandou. Agora o negócio é dizer que teve um torcedor do adversário que ofendeu uma minoria, o que será rebatido com uma acusação contra o jogador do rival que não teve empatia na rede social. Mas o futebol não era bom justamente porque você podia brigar com alguém para provar que as cores do seu time são melhores que as do outro, e ponto final?

Era, mas isso acabou. A graça agora é plantar conflito de forma que você possa chegar a uma problematização ética — a ponto de alegar que o seu caráter é superior ao do seu oponente, cujas falhas você apontará implacavelmente.

Ou visto de outra forma: a discussão ética foi rebaixada a uma briga de torcida.

Aí de repente você vê num canto qualquer uma nota dizendo que o grupo Boca Livre se separou por causa da vacina. Você não tem culpa se isso te der a sensação de que estão rompendo até o que já estava rompido. Parece que um integrante achava que a picada era a salvação e outro achava que era a perdição. Aí acabou o amor. Impressionante. Com toda certeza essas bocas já foram mais livres.

O negócio é sair no tapa. Mas não se esqueça: é preciso um pretexto filosófico. 
Nada de mandar o marido dormir na sala porque está roncando alto. Expulse-o da cama chocada com o fato de que alguém possa dormir tão profundamente sabendo que as baleias estão ameaçadas de extinção.  
E se ele disser que não sabia, ameace-o com o divórcio
Você não pode viver ao lado de um alienado. 
E se ele te perguntar por que você vive há anos ao lado de um alienado, responda que é porque você é tolerante e inclusiva, mas tudo tem limite.
 
Rompa com o seu irmão porque ele se diz de esquerda. 
Rompa com a sua irmã porque ela se diz de direita. 
Vocês vivem do mesmo jeito, no mesmo lugar, sob as mesmas regras, têm até gostos parecidos, amigos em comum, conviveram até outro dia em harmonia e nenhum de vocês dois jamais disse que queria se mandar para um lugar mais afeito à sua suposta filosofia política. 
Mas agora vocês se descobriram cão e gato. Só falta escolherem deuses diferentes para adorar detestar um ao outro.

Não há mais dúvidas. Os marcianos estão entre nós. É crer para ver.

Leia também Puxando o tapete da democracia”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste


quinta-feira, 29 de julho de 2021

Sobrou para o marido? tentativa de feminicidio? stalking? IstoÉ

Joice Hasselmann nega agressão do marido, mas polícia não descarta hipótese 

A deputada Joice Hasselmann disse nesta quarta-feira (28) que não se recusou a fazer exame tecnológico e afirmou que até exame de DNA foi realizado. Joice rebateu as críticas de que teria se recusado a fazer o exame.

De acordo com o Uol, ela disse que “também fui ao IML, fiz questão de fazer. Teve uma fake news aí muito feia de dois veículos de comunicação dizendo que eu não fiz o toxicológico. Eu fiz até o DNA, que não tinha sido pedido. Eu fiz toxicológico, DNA, um exame de todos os traumas e mais um outro que eu tive que fazer com um dentista legal para ver a questão das fraturas de dentes. Agora é confiar no trabalho da polícia mesmo a gente sabendo que tem essas falhas”, afirmou em entrevista ao UOL .

A polícia ainda investiga o que aconteceu com a parlamentar, mas não descarta que o marido possa ter agredido Joice, apesar de não ter nenhum elemento que sustente essa tese.

A deputada também rebate essa versão. “Tem muita gente falando bobagem sabe? Porque as pessoas gostam de falar bobagem e as pessoas não têm a informação. Meu marido foi espontaneamente na polícia e falou ‘eu quero falar, eu preciso ajudar no máximo que eu puder’. (…) [Ele] explicou tudo para os policiais e quando a Depol perguntou ‘ah, o senhor topa fazer o corpo de delito?’, ele falou ‘agora’. A resposta dele foi ‘agora'”, disse a deputada ao Uol.

 

+ Joice Hasselmann cita “falhas de segurança” e diz que investigação irá até o fim


Entenda o caso
A deputada revelou que foi atacada no último sábado (17) em seu apartamento. Ela conta que acordou “em uma poça de sangue” com diversas fraturas pelo corpo. Hasselmann não se lembra do que aconteceu e, apesar de não descartar ter passado mal, acredita ter sido vítima de um atentado.

Uma tomografia que a deputada realizou revela que, para que as lesões fossem acidentais, ela teria que ter caído “pelo menos 6 vezes”. Foram identificados traumas no joelho, costela, ombro e nuca, além de cinco fraturas na face e uma na coluna.

Veja a publicação:

IstoÉ - Dinheiro 

 

domingo, 25 de julho de 2021

Joice Hasselmann diz que desafeto tem acesso ao prédio em que vive [alguém acredita?]

Parlamentar afirma ter indicado à polícia dois nomes de eventuais suspeitos na investigação sobre as lesões que sofreu no apartamento funcional que ocupa em Brasília. Um deles, conforme a congressista, consegue entrar facilmente no edifício 

Após acordar ferida em seu apartamento funcional na Asa Norte e identificar seis lesões na face e nas costelas, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) pediu abertura de investigação sobre o caso. A parlamentar suspeita que uma terceira pessoa tenha entrado no apartamento, onde ela estava com o marido, o neurocirurgião Daniel França, e provocado as agressões. As diligências, de acordo com a congressista, estão sendo conduzidas pela Polícia Legislativa e pelo Ministério Público.

Em entrevista ao Correio, Joice diz ser alvo de ameaças pelas redes sociais e de insinuações indiretas sobre sua segurança. Revela, também, que um desafeto tem acesso fácil ao prédio onde ela mora. No entanto, afirma não haver sinais de invasão no apartamento e não descarta que as fraturas tenha sido causadas por uma queda. Veja os principais trechos da entrevista.

A senhora contou que estava assistindo a uma série, no domingo, e adormeceu?
Eu tomo um remédio para adormecer. É o mesmo há 20 anos. Leva mais ou menos uns 20 minutos para fazer efeito. A série tem cerca de 40 minutos. Então, na metade do capítulo, tomei o remédio para conseguir terminar. Na hora em que terminei, desliguei a televisão e fui dormir. Coloquei meu tampão de ouvido, que uso por ter o sono muito leve. Então, adormeci, por volta de 1h da noite de sábado para domingo. Depois, às 7 horas e três minutos, acordei, no chão, de bruços, em volta de uma poça de sangue, com dente quebrado. Eu achei que tinha caído, que teria tido um mal súbito, batido a boca, e saído sangue do nariz. A conclusão óbvia, né? Fui buscar socorro. Eu me arrastei até o criado-mudo, peguei o celular para ligar para o meu marido. A gente dorme em quartos separados, desde sempre, porque ele ronca muito. Ele me atendeu na segunda ligação e saiu correndo, óbvio, eu ligando para ele de manhã. Saiu correndo, foi lá me atender e prestou os primeiros socorros. Inicialmente, a gente achou que fosse tombo.

Acordou no mesmo ambiente em que dormiu?
Meu quarto tem três ambientes. Tem o quarto onde fica a cama e tem um corredor, em frente, que dá acesso ao banheiro. Foi nesse corredor que acordei.

Acredita que uma terceira pessoa tenha entrado no apartamento?
É uma das hipóteses mais prováveis pelo volume de traumas e pelo fato de estar desacordada, mas eu também não descarto a possibilidade de ter caído várias vezes. O que é estranho, falando com especialistas, com os médicos, com o meu marido mesmo: quando eu acordei, estava de bruços, com o rosto no chão. Depois, descobri que estava com um galo na nuca. Para eu estar desacordada, eu teria de ter tomado uma pancada ou caído e batido a parte da nuca, a parte de trás da cabeça. Então, como eu estava de frente? Mas não é impossível que tenha acontecido isso (acidente). Porém, como é pouco provável, decidimos pedir a investigação. Até porque não é de hoje que sofro ameaças de morte. E a minha lista de desafetos políticos dá para fazer de ordem alfabética.

Chega... paramos por aqui Ler mais: clique aqui Correio Braziliense

[Opinião do Blog: a entrevista só confirma que é uma 'estória' e daquelas sem pé nem cabeça. Quanto mais se lê, menos se acredita. A deputada diz que sofre ameaças de morte, tem um lista extensa de desafetos políticos. A deputada está na metade final do seu mandato. Mandato único - quem vai perder tempo mandando matá-la? É parlamentar de mandato único - foi eleita graças ao presidente Bolsonaro. Caso tente a reeleição não terá nenhuma apoio do nosso presidente, derrota na certa.]


quinta-feira, 15 de julho de 2021

Série quer fazer você acreditar que Elize Matsunaga [fatiadora do marido] é uma vítima do patriarcado

Paulo Polzonoff Jr.

Feminismo quer transformar viúva-negra  em princesinha da Disney

Uma série em muitas partes

Sábado à tarde. Sabe como é. Depois de limpar a casa, ir ao mercado, à loja de materiais de construção, à lavanderia, ao açougue, ao sapateiro, etc., eu e minha mulher nos deitamos para assistir a um filminho. Eu queria assim ver um Tarkovsky para relaxar. Ela prefere um Godardzinho básico. Na indecisão, optamos pela minissérie “Elize Matsunaga” (que tem subtítulo de conto de fadas, “Era Uma Vez Um Crime”), disponível na Netflix.

Elize Matsunaga: feminismo tenta transformar viúva-negra em princesinha da Disney.
Elize Matsunaga: feminismo tenta transformar viúva-negra em princesinha da Disney.| Foto: Reprodução/ Netflix

Não que o mundo cão me interesse. Ele tem uma lógica própria que me escapa e que, para o bem da minha própria sanidade, não tenho vontade alguma de compreender. A princípio, pois, meu interesse pela série é mais estético. Quero ver que personagens a produção decidiu expor e quais decidiu esconder, como será feita a edição, como o roteiro conduzirá o olhar do espectador até o desfecho que, neste caso, não é nada surpreendente.

Por precaução, assim que a série documental tem início, me levanto para esconder as facas da casa. Vai quê. Conhecendo bem como conheço a mente progressista do audiovisual brasileiro, desde a primeira tomada eram grandes as chances de a diretora Eliza Capai querer me vender a ideia de que Elize Matsunaga, assassina confessa do marido, o empresário Marcos Matsunaga, é na verdade uma vítima incompreendida da sociedade.

E é justamente isso o que acontece. Avançando e retrocedendo no tempo a fim de criar um clima de suspense inexistente, e também para reforçar a imagem benevolente de Elize Matsunaga, aquela que, não satisfeita em matar o marido, cortou-o em pedaços e saiu jogando as partes do corpo pelo interior de São Paulo, a série vende a narrativa de que Elize é assim uma espécie de bom-selvagem corrompida pelo capitalismo e escravizada pelo patriarcado.

Já nos primeiros minutos o espectador mais experiente percebe qual será o rumo da prosa. A série começa resvalando no abolicionismo penal ao defender as famigeradas “saidinhas”. Foi, aliás, numa dessas férias do encarceramento que os produtores tiveram acesso à criminosa para que ela contasse sua versão edulcorada dos fatos.

Com o avançar da história, minha esperança era a de que “Elize Matsunaga” (uma série de quatro partes) seguisse o padrão Netflix de apostar em personagens secundários bizarros, daqueles que dão um colorido à história sombria. Neste caso, a produção bateu na trave. Lá estão a jornalista deslumbrada, os advogados de olhos esbugalhados e o amigo excêntrico da vítima. Nada que chegue aos pés de A Máfia dos Tigres”, porém.

O único que chega perto disso é o médico legista Jorge Oliveira, com seu visual recém-saído de “O Senhor dos Anéis” e sua visão de mundo, digamos, extravagante. Em certo momento, por exemplo, Oliveira diz que, como médico legista, você tem que perguntar ao cadáver que história ele quer contar. E confessa ter sussurrado ao que restava da cabeça de Matsunaga, pedindo a ele pistas. Antes disso, Oliveira já tinha se saído com uma pérola do humor necrológico: “As pessoas são mais bonitas por dentro do que por fora”.

Reação às escolhas alheias
Única personagem que destoa da fórmula farsesca e que confere um mínimo de dignidade ao suplício que deve ser ter na família uma assassina é a tia de Elize, Roseli Araújo. Exalando um estoicismo quase improvável, ela responde às perguntas com uma lucidez que o espectador não encontrará nas autoridades esclarecidas (advogados & jornalistas) que povoam a série. Infelizmente, essa é uma dignidade baseada num conjunto de valores conservadores que a produção não está interessada em explorar.

Nenhum apelo à comicidade involuntária ou ao melodrama canastrão, porém, consegue camuflar a intenção da série, que é a de retratar Elize como a mulher humilde que sobreviveu a um abuso sexual, virou prostituta “porque não há nada de mau nisso” e de repente, não menos do que de repente, se viu escrava do luxo, vivendo um suplício cinco estrelas, e do jugo do patriarcado. Uma mulher que, tadinha, que só queria ficar com a filha, com a cobra de estimação, com a adega de vinhos e, se calhasse, com o apartamento. Aliás, o apartamento mais cafona que o dinheiro do papai é capaz de decorar.

A série toda é montada de forma a encontrar explicações externas para o crime de Elize Matsunaga. Ela nunca tem culpa de nada. Ora são as más companhias, ora a família desestruturada, ora a abundância, ora a “cultura armamentista”, ora qualquer coisa. Os atos dela são sempre uma reação às escolhas alheias. Apropriadamente, a série aborda pela tangente os momentos-chaves em que o ser humano Elize exerceu, sim, seu livre-arbítrio, independentemente das circunstâncias. Como, por exemplo, na hora em que optou por matar e esquartejar o marido em vez de enfrentar um potencialmente sofrido processo de separação.

E, assim, a produção consegue fazer de Elize Matsunaga uma vítima do sistema prisional e uma sobrevivente de um relacionamento tóxico, quando não, pasmem!, uma heroína do feminismo. Mas isso nem é o pior. Porque a série termina com a assassina expondo seus planos perversos de manter contato com a filha, destruindo pela segunda vez a vida de uma pessoa inocente. Uma maldade que talvez não seja nada para quem teve a frieza de desmembrar o marido, mas que é de revirar o estômago do espectador decente.

Paulo Polzonoff Jr, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 2 de março de 2021

A pandemia pela cartilha do coronel - Valor Econômico

Andrea Jubé

Para Randolfe Rodrigues, últimos fatos precipitam CPI da covid

[Destacando: 
- esse senador ser contra tudo e todos, defender CPIs para qualquer coisa que renda algumas linhas de manchete,  não surpreende a ninguém. 
Felizmente, seus projetos de travar pautas, atrapalhar governos, nunca decolam.
Será surpresa se um dia ele apresentar um projeto que favoreça seus eleitores , sirva para alguma coisa e seja aprovado;
- o alerta daquela cardiologista chega a ser cômico, ridículo,  de tão desnecessário - nesses tempos de covid-19, em que qualquer um que queira opinar, especialmente se contra o Governo Bolsonaro e favorável a maximização do que já é ruim,  encontra plateia. Resultado é  o que se ouve, e se lê, de absurdos, de acacianismos, de exibição do óbvio, até Deus duvida. Até nós, temos leitores para o que escrevemos,que são: ninguém e todo mundo.]

O Coronel Emílio é um chefe político de prestígio local, cujos domínios se estendem pelas fazendas de gado e metade da vila. Certo dia, ele recebe a notícia do assassinato de Bento Porfírio, um de seus capatazes, que estava de chamego com a prima De-Lourdes, casada com o Xandão Cabaça. Quando o marido descobriu a traição, espreitou o detrator em uma pescaria, golpeou-o pelas costas com uma foice e fugiu sem deixar rastro. Ao ser informado pelo sobrinho da tragédia envolvendo um de seus empregados mais antigos, Tio Emílio reagiu com fleuma: “Boi sonso, marrada certa”.

Perplexo, o sobrinho cobrou compaixão: “O senhor que é tão justiceiro e correto, e que gostava tanto do Bento Porfírio, vai deixar isto assim?” De súbito, entretanto, o coronel bateu na testa, saltou da cadeira, e ordenou que os jagunços fossem ao encalço do fugitivo da lei. O objetivo da ordem, entretanto, não era fazer justiça à vítima. O coronel estava preocupado em mitigar danos eleitorais. “Já perdi um voto, e, se o desgraçado fugir para longe, são dois que eu perco!”, desabafou com o sobrinho.

Pela cartilha do velho coronel político, retratado por Guimarães Rosa em “Sagarana” (1946), uma vida vale um voto. No Brasil da pandemia, a impressão que se tem é que a vida não vale nem isso mais. Se valer, os políticos já perderam pelo menos mais de 200 mil votos. A diferença entre o Coronel Emílio e uma ala de políticos da vida real é que pelo menos o personagem se preocupava com a preservação da vida de seus eleitores, ainda que por razões pragmáticas.

No Brasil, a perda de centenas de milhares de vidas, vítimas da covid-19, não despertou empatia em segmentos da classe política nem em segmentos da população. As aglomerações em bares e outros locais públicos, e festas clandestinas, ocorrem à luz do dia. Políticos e populares ainda resistem à adesão aos cuidados mais comezinhos, como uso de máscaras e distanciamento social. Um dos papéis das autoridades na pandemia deveria ser a conscientização dos brasileiros quanto à relevância de seguir os protocolos sanitários para coibir a disseminação do vírus.

A pandemia está em escalada galopante, mas os números não assustam. Um ano depois, chegamos ao pior momento da pandemia, com uma média móvel de 1.208 mortes diárias. São cinco Boeings caindo por dia, pela metáfora do neurocientista Miguel Nicolelis. Contabilizamos mais de 10 milhões de contaminados, e mais de 255 mil óbitos. É como se enterrássemos de uma vez a população de uma cidade inteira do tamanho de São Carlos (SP), ou Foz do Iguaçu (PR), sem direito a velório. As UTIs estão lotadas em todos os Estados.

O comportamento dos políticos que se omitem, ou que propagam discurso negacionista, estimula a conduta de uma parcela de brasileiros que resiste a encarar a pandemia. Ontem a doutora Ludhmila Hajjar, cardiologista e intensivista da Rede D’or, alertou em entrevista à “Globonews” que estamos à beira de um colapso nacional. [se a ilustre cardiologista usar o mesmo critério de oportunidade e conveniência no atendimento aos seus pacientes, que o utilizado no alerta, é conveniente que ela deixe no mínimo de ser intensivista - até o conselheiro Acácio não emitiria tão importante e necessário  alerta.]  Ela atribuiu o quadro dramático também a uma parcela de brasileiros que se esbaldou no carnaval em festas clandestinas, favorecendo o contágio.

Na quinta-feira, quando o Brasil atingiu um recorde de mortes por covid-19 (1.582), o presidente Jair Bolsonaro criticou, sem base científica, o uso de máscaras, em um comportamento que estimula seus seguidores a imitá-lo.[foi uma resposta para compensar a asneira que aquele cientista dos Estado Unidos, Antonio Fauci, especialista em manchetes  apavorantes, quando faz propaganda da necessidade de duas máscaras -sugestão que os contadores de cadáveres já começam a divulgar no estilo de quem não quer nada.]

Ontem o correspondente no Brasil do “The Washington Post” alertou que a tragédia em curso no Brasil pode ter “implicações globais”. Ele afirmou que se o Brasil não controlar o vírus, vai se transformar no “maior laboratório aberto do mundo para o vírus sofrer mutação”, favorecendo a “disseminação de variantes mais letais e infecciosas”. [ou seja: o alarmista prepara o terreno para os contadores de cadáveres começar a veicular que o Brasil será alvo do poder de fogo das potências nucleares - incineram nosso Brasil, milhões e milhões de habitantes, tornam terra de ninguém por algumas dezenas ou centenas de anos, acabam com o vírus nas terras onde o Brasil existiu... a Amazônia e os indígenas, que tanto defendem,também acabam e???]

Em outra frente, governadores e políticos independentes, ou da oposição, buscam saídas para driblar a lentidão do Programa Nacional de Imunização, e também para cobrar responsabilidade das autoridades que podem ser acusadas de negligência. [essa cobrança de responsabilidade, de repente vai parar no TPI - Haia - Holanda e será a oportunidade de se saber quem é culpado do que? 
quem proibiu quem de fazer o que? 
Os governadores e prefeitos, agora heróis de causa que perderam, tem que lembrar que coube a eles o protagonismo das ações de combate ao coronavírus - foi decretado que o Poder Executivo da União não seria o protagonista. Iria a reboque, atuando quando recebesse permissão.
E tudo que foi dito, escrito, talvez até pensado, sobre a covid-19 está gravado em várias fontes.]

Mais da metade dos governadores enfrentam a ira de empresários, de seus opositores e de segmentos da população por adotarem “lockdown” ou medidas restritivas, como toque de recolher, no esforço de conter o vírus. Ontem o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) defendeu imediato “lockdown” nos Estados com mais de 85% de ocupação de leitos, e de um toque de recolher nacional. Sob ataque de Bolsonaro, hoje os governadores reúnem-se em Brasília com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Na base eleitoral de Lira, em Arapiraca, segunda cidade mais importante de Alagoas, causou comoção na semana passada a morte de uma enfermeira vítima da covid-19. Ela se recusou a tomar a dose da Coronavac, a que tinha direito por ser profissional de saúde, por duvidar da comprovação científica do imunizante, embora autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Lira perdeu a oportunidade de se manifestar para condenar a disseminação de “fake news”, mazela que contribuiu, pelo menos lateralmente, para a morte de sua conterrânea, quiçá eleitora. Diante dessa conjuntura, no Senado, alguns parlamentares voltam a carga contra o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), nesta semana para pressioná-lo a instalar a CPI da covid. O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirma que os fatos mais recentes sobre a pandemia “precipitam a instalação da CPI”. Ele cita, por exemplo, o depoimento modificado do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, à Polícia Federal; o embate do presidente com os governadores; a persistência do discurso negacionista.

O Coronel Emílio e uma ala de políticos da vida real têm em comum a falta de empatia pelo semelhante, ou seja, a incapacidade de se colocar no lugar do outro, de compartilhar a dor do outro. Mas, ao contrário do personagem, também falta a alguns políticos uma dose de pragmatismo para que se movimentem para salvar seus eleitores. A Justiça Eleitoral não instala urnas no cemitério.

Andrea Jubé, colunista - Valor Econômico


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Funcionária de supermercado abordada por João Alberto diz em depoimento que ele 'parecia estar furioso com alguma coisa'

G 1

Fantástico teve acesso exclusivo a relato de funcionária. Ela afirma que cidadão negro, morto brutalmente por seguranças, estava a 'encarando', que falou algo que ela não entendeu e fez gesto que a esposa dele diz ter sido brincadeira.

A funcionária abordada por João Alberto Silveira Freitas prestou depoimento como testemunha no inquérito que apura a morte do cidadão negro, espancado por dois seguranças brancos na quinta-feira (19), no estacionamento de uma unidade do Carrefour, em Porto Alegre.  O Fantástico teve acesso com exclusividade ao depoimento, prestado no sábado (21). Ela disse à investigação que João "parecia estar furioso com alguma coisa".

A mulher relatou que estava em frente ao caixa, ao lado de um dos seguranças presos pelo crime, Magno Borges Braz, quando o cliente, na companhia da mulher, Milena, passou a encará-la. Disse que o cliente deixou a mulher no caixa, passando as compras, e veio em direção a ela, que se esquivou. A funcionária afirmou que o homem disse algo, que ela não entendeu devido ao barulho e ao fato de Beto estar usando máscara.

Segundo a testemunha, Beto se aproximou novamente e fez um gesto, que a mulher não soube descrever. Para a funcionária, Beto não aparentava estar fazendo uma brincadeira quando gesticulou em direção a ela, mas que "parecia estar furioso com alguma coisa".

A mulher de Beto, Milena Borges Alves, deu outra versão: ela disse à Polícia que o marido fez um "sinal com as mãos para uma moça magrinha de roupa preta, em forma de brincadeira". Depois do contato com a funcionária, Beto aparece voltando para o caixa e, na sequência, decide esperar pela mulher no corredor, perto de Magno. Ele faz outro sinal com a mão, e conversa com o segurança.

Depois, uma fiscal de branco se aproxima e fala com ele. É quando o segundo segurança preso pela morte de Beto, Giovane Gaspar da Silva, aparece e coloca a mão nas costas do homem. A um policial militar que atendeu a ocorrência, Giovane teria dito que "resolveu dar um apoio naquela situação, pois Magno estava sozinho, para conduzir a vítima até a saída do estabelecimento". 

Beto então caminha em direção à saída e é seguido de perto por Giovane, Magno e pela funcionária de branco. Milena segue pagando as compras. Já na porta da saída para a garagem, Beto dá um soco em Giovane. A partir daí, ele começa a ser agredido pelos dois seguranças. A fiscal passa a gravar a cena, com o celular. Assista vídeo.

De dentro do supermercado, assim que termina de pagar, Milena sai apressada. Dois funcionários passam correndo por ela, na rampa. A mulher da vítima aparece 30 segundos depois e tenta socorrer o marido, mas é impedida pelos seguranças. Em depoimento, ela contou que Beto dizia "Milena, me ajuda", e que quando ela tentou socorrê-lo, foi empurrada por um dos rapazes".

Depois disso, apesar dos apelos da mulher, Giovane, Magno e um funcionário de branco continuam em cima do homem. Segundo a polícia, os seguranças ficaram sobre Beto por cerca de 5 minutos.Uma gravação obtida pelo site GauchaZH mostra que um terceiro homem diz "Sem cena, tá? A gente te avisou da outra vez", enquanto João é imobilizado. Quase três minutos depois da chegada de Milena, Beto para de se mexer.

Motoboy presencia cena
A agressão de Beto foi testemunhada por um grupo de pessoas. Um motoboy, que presenciou a cena desde o início, prestou depoimento à polícia. "Eu já tava subindo na moto quando eu vi esse rapaz tentando se desvencilhar dos seguranças. A esposa do senhor que foi agredido, ela pedia, "gente, solta ele, deixa ele respirar, deixa ele respirar". O que eles disseram é que sabiam o que estavam fazendo, os dois", disse o motoboy, à reportagem.

Ele gravou a agressão na esperança de que os agressores parassem. "Vocês viram nas imagens, espancaram ele, espancaram. Não tentaram conter, eu questionei no meu vídeo ainda, eu disse 'gente, vocês não tão contendo, você estão batendo'", afirma. O motoboy contou que vem sendo questionado sobre porque não agiu para impedir a agressão. "O estado que eles aqueles dois estavam ali, se eu fosse ali eu ia apanhar ou sabe-se lá o quê", afirma.

O entregador chegou a ser ameaçado pela fiscal de camisa branca. "Aí eu fiquei filmando e aí ela me viu. Quando ela me viu ela disse "não, não faz isso, te liga, eu vou te queimar na loja'". O motoboy afirma que fazia entregas por aplicativos no supermercado. Não faz isso, não faz isso, que eu vou te queimar na loja.O laudo preliminar da necropsia constatou que as lesões no corpo da vítima eram superficiais, e a causa mortis provavelmente é asfixia.

Para a polícia o que aconteceu ali foi um homicídio triplamente qualificado. Motivo fútil, recurso que impossibilitou a defesa da vítima e a causa da morte foi asfixia. Eles eram funcionários do Grupo Vector, uma empresa terceirizada que fazia a segurança do supermercado. Após o assassinato, o Carrefour rompeu contrato com a Vector.

Era o primeiro dia de Giovane, que também atuava como policial militar temporário, no supermercado. A empresa disse que rescindiu, por justa causa, os contratos de trabalho dos colaboradores envolvidos na ocorrência, e que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações. A delegada responsável pelo caso, Roberta Bertoldo, diz que a reação dos seguranças ao soco que João Alberto desferiu foi "desproporcional". "Esse fato foi de menor importância e jamais deveria ter uma resposta de tamanha violência que chegasse ao ponto então de causar a morte da vítima", disse.

Os investigadores seguem ouvindo várias testemunhas e analisando imagens de câmeras de segurança. Eles tentam descobrir se havia algum desentendimento anterior entre João Alberto e os seguranças ali do supermercado. As duas pessoas investigadas e que já foram inclusive ouvidas aqui pela delegacia, pelo nosso departamento de homicídios, são uma senhora que aparece de branco tentando evitar as imagens. E também outro senhor, que são funcionários então do próprio estabelecimento, que em algum momento aparece também imobilizando a vítima.

G 1 - MATÉRIA COMPLETA, inclusive vídeo

 

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Primeira-dama se queixa de 'piadas infames em redes sociais'

 Correio Braziliense

À polícia, Michelle Bolsonaro se queixa de 'piadas infames em redes sociais'

Segundo a mulher do presidente Jair Bolsonaro, tais ofensas seriam repercussão de um texto publicado sobre sua relação conjugal

[Senhora Michelle Bolsonaro: esqueça esse assunto, ignore;
são abutres e a partir do momento em que a senhora os esquecer, pararão de fuçar a carniça.
Nada tem a perder, buscam apenas fama que esperam obter envolvendo a senhora em assuntos que podem, e devem, ser ignorados.
Esquecer, não adubar, não é covardia nem confissão de culpa; apenas agir consoante a liturgia do cargo de seu marido e não dar munição as hienas.]
A primeira-dama Michelle Bolsonaro compareceu ao Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil de São Paulo na quinta, 24, para ratificar uma queixa-crime apresentada em razão de supostas 'ofensas e piadas infames em redes sociais', que teriam colocado 'em xeque sua fidelidade, integridade, correção e decoro'.

"Que conquanto as aleivosias sejam obviamente mentirosas, o dano reputacional à imagem e à honra é indiscutível e irreparável, tendo a declarante, por tais motivos, ficado extremamente abalada, assim permanecendo até os dias que correm, justamente porque esses comentários são acessados em fácil pesquisa nas redes sociais? Que quer ver processados e responsabilizados penalmente os seus ofensores tão logo sejam identificados e informa que representará contra cada qual assim que suas qualificações estiverem devidamente delineadas nos autos", registra o termo de oitiva de Michelle.

Segundo a mulher do presidente Jair Bolsonaro, tais ofensas seriam repercussão de um texto publicado sobre sua relação conjugal.

Correio Braziliense




domingo, 16 de junho de 2019

#SanatórioGeral: Desempregado em pânico - No coração do poder

Boulos entra em parafuso ao pensar no tempo terá que trabalhar - caso comece a fazer hoje o que nunca fez na vida - se a nova Previdência for aprovada


Eles dizem que reformar a Previdência vai acabar com privilégios. Exigir 40 anos de contribuição para receber aposentadoria integral é combater privilégios ou sacrificar milhões de trabalhadores? #GreveGeral”. (Guilherme Boulos, líder do MTST, no Twitter, desesperado com o tempo que terá que trabalhar — caso comece a fazer hoje o que nunca fez na vida — se a nova Previdência for aprovada)