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sábado, 14 de maio de 2022

Bolsonaro convoca militares e civis a lutarem por "liberdade"

Fachin quer compromisso enfático de respeito ao resultado das urnas 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) mostrou que não pretende arrefecer os embates com o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com os quais tem medido forças por causa das eleições de outubro e da condenação à prisão do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ). O chefe do Executivo defendeu, ontem, as Forças Armadas e atacou novamente as duas Cortes. No mesmo dia, porém, o presidente do TSE, ministro Edson Fachin, enfatizou que não cederá a pressões. "Diálogo, sim, joelhos dobrados por submissão, jamais", frisou o magistrado.

Em evento de formatura na Academia de Polícia Militar do Barro Branco, em São Paulo, Bolsonaro afirmou que estão tentando "roubar nossa liberdade". "Nós, pessoas de bem, civis e militares, precisamos de todos para garantir a nossa liberdade, porque os marginais do passado usam hoje outras armas, também em gabinetes, com ar-condicionado, visando roubar a nossa liberdade", discursou. "Nós, Forças Armadas, nós, forças auxiliares, não deixaremos que isso aconteça. Nós defendemos a nossa Constituição, a nossa democracia e a nossa liberdade. Esse exército de pessoas de bem, civis e militares, deve se unir para evitar que roubem a nossa liberdade."

Sem citar nomes, Bolsonaro disse que há pessoas tentando coibir a liberdade de expressão, em uma referência a Daniel Silveira, condenado pelo STF a oito anos e nove meses de prisão por atos antidemocráticos e ameaças a ministros da Corte e a instituições. Menos de 24 horas depois da sentença do Supremo, o chefe do Executivo concedeu indulto ao parlamentar. As declarações do presidente também se reportam aos inquéritos das fake news e das milícias digitais, em tramitação no STF.

Desde que assumiu o governo, Bolsonaro acusa fraudes no sistema eleitoral, sem nunca ter apresentado provas. Ele insinua que a Justiça Eleitoral pode manipular os resultados das eleições e chegou a sugerir que as Forças Armadas fizessem uma apuração paralela dos votos, para dar mais "transparência" ao processo. Militares também levantaram dúvidas sobre a segurança das urnas eletrônicas ao fazerem 88 questionamentos ao tribunal sobre os equipamentos.

"Sem subterfúgios"
Horas depois, no Congresso Brasileiro de Magistrados, em Salvador, Fachin cobrou que "todos os Poderes digam, sem subterfúgios, que vão respeitar o processo eleitoral de outubro de 2022". "A nenhuma instituição ou autoridade a Constituição permite poderes que são exclusivos da Justiça Eleitoral. Não permitiremos a subversão do processo eleitoral. E digo, para que não tenham dúvida: para remover a Justiça Eleitoral de suas funções, terão que, antes, remover este presidente da sua presidência. Diálogo sim, joelhos dobrados, jamais", sustentou.

Fachin também destacou que "quem ama a democracia não propaga conflito". "As eleições são ferramentas substitutivas do conflito, por isso mesmo é mandatário que prevaleça o senso de responsabilidade institucional, que anima a base constitucional do nobre compromisso de todas as instituições, todas, sem exceção, a serviço da democracia brasileira".

O magistrado também mencionou ataques à imprensa e a atuação de milícias digitais. "Dizem que falo de fantasmas. A violência tem gênero e grau. A violência no Brasil é trágica. A desinformação tem nome e origem. Não é um fantasma. Assistimos quase incrédulos à normalização de ataques às instituições, impulsionados por práticas de desinformações", ressaltou. Na quinta-feira, Bolsonaro disse não saber "de onde ele (Fachin) tira esse fantasma de que as Forças Armadas querem intervir na Justiça Eleitoral".

Também participante do evento na Bahia, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, afirmou que a democracia passa por um "processo de erosão por todo o mundo" e disse ser preciso trabalhar para restabelecê-la. Barroso citou países como Hungria, Polônia, Turquia, Rússia, Filipinas, Venezuela, Nicarágua e El Salvador como governos autoritários, além das "turbulências" recentes nos Estados Unidos e no Reino Unido. [nos parece que o ministro Fachin considera a Coreia do Norte um modelo de regime democrático!!!]Sem citar o Brasil ou o nome de Bolsonaro, destacou que é preciso autocrítica de democratas para um restabelecimento do sistema no mundo.

"Essa ascensão de um processo autoritário e populista se dá por insuficiências da própria democracia. Por isso, os que defendem a democracia precisam identificar e trabalhar para restabelecer essa crença que une a todos", disse. "Temos de restabelecer o mínimo de honestidade intelectual, o mínimo de honestidade aos fatos. O filme da democracia brasileira é bom. Às vezes, a fotografia é assustadora, mas o filme é bom. Eu tive cuidado de não dizer nada polêmico aqui porque os tempos não estão para polêmica", acrescentou.

Política - Correio Braziliense 

 

quinta-feira, 28 de abril de 2022

A “Nova Ordem Mundial” de Biden - Revista Oeste

A imaginação globalista é espontaneamente atraída para uma perspectiva que menospreza a cultura nacional e seus valores tradicionais 

Justo quando se achava que a ideologia globalizada tinha sido fatalmente exposta como irrelevante, torna-se evidente que, para alguns, o ressurgimento do conflito geopolítico funciona como uma oportunidade para criar uma Nova Ordem Mundial.

Joe Biden | Foto: Gints Ivuskans/Shutterstock

Joe Biden | Foto: Gints Ivuskans/Shutterstock

Em um discurso recente, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, descreveu sua ambição de estabelecer uma Nova Ordem Mundial baseada em valores woke. Ele disse a um grupo de líderes corporativos norte-americanos que o mundo está mudando e que “vai haver uma Nova Ordem Mundial, precisamos estar na liderança e, enquanto fazemos isso, precisamos unir o restante do mundo democrático”.

Para Biden, a guerra na Ucrânia gera uma oportunidade para unir o Ocidente em torno de uma nova versão da Guerra Fria contra o Império do Mal 2.0. Apesar de não ter explicitado o que quer dizer com Nova Ordem Mundial, é evidente que ela guarda uma forte semelhança com a visão da Great Reset (ou Grande Reinicialização), propagandeada pelos líderes do Fórum Econômico Mundial
A Great Reset divulga uma ideologia do Novo Normal que tem como objetivo subordinar a soberania nacional e os interesses nacionais aos ditames de instituições globais supostamente neutras e generosas comandadas por especialistas e tecnocratas. Essa é uma ideologia que promove uma síntese de engenharia social com os valores do soft power norte-americano.
 
O Novo Normal costuma ser comunicado por meio da linguagem do ambientalismo. De acordo com seu dogma, a pandemia da covid-19 foi um sinal de alerta e enfatizou o perigo das viagens internacionais. 
Os ativistas verdes afirmam que a antiga forma normal de nos alimentar e organizar a vida econômica é, pelo menos indiretamente, responsável pelo surgimento da pandemia. 
 
Sua visão de um Novo Normal implica a aspiração e a atividade humanas estarem subordinadas ao dogma ideológico de uma sociedade carbono zero.
Na esfera da economia, defensores do Novo Normal argumentam que o capitalismo em si precisará ser reestruturado. Um blog do Banco Mundial prevê que corporações internacionais vão assumir uma “responsabilidade maior” em relação ao meio ambiente e vão colocar um “foco maior na sustentabilidade e nas iniciativas verdes”
A conquista da descarbonização foi desenvolvida como a ambição maior da cultura do Novo Normal. 
Essa é uma perspectiva defendida pela oligarquia globalista associada ao Fórum Econômico Mundial.

Os últimos 18 meses, lançaram uma tendência sem precedentes de medicalização da política

A ideia da Great Reset associada a essa instituição tenta gerar uma reviravolta positiva ao Novo Normal. Ela afirma que a utilização de uma nova tecnologia, sob a orientação generosa dos tecnocratas especializados, vai criar um mundo mais justo. No que diz respeito a esses especialistas, nos próximos anos o Novo Normal será muito mais tecnológico do que hoje.

Na esfera política, o Novo Normal levaria à subordinação da tomada de decisão democrática ao imperativo da governança tecnocrática. Esse sentimento se expressa de forma mais estridente por meio da demanda de agentes de saúde pública por mais voz na administração da sociedade. Os últimos 18 meses, lançaram uma tendência sem precedentes de medicalização da política. Para alguns defensores, o Novo Normal significa mais do mesmo.

Defensores de uma Nova Ordem Mundial se sentem política e culturalmente alienados de suas próprias instituições nacionais. Isso pode torná-los inconsistentes na busca por seus próprios interesses nacionais, até mesmo incertos em relação a eles. As elites consideram mais fácil fazer as coisas por redes internacionais, porque já estão cada vez mais afastadas da vida e das perspectivas dos cidadãos comuns em seus países.

Um dos primeiros comentadores a chamar atenção para a tendência à desnacionalização das elites foi o filósofo político norte-americano Christopher Lasch. Ele escreveu em 1995: “Aqueles que cobiçam fazer parte da nova aristocracia de cérebros tendem a se reunir no litoral, virando as costas para o interior e cultivando laços com o mercado internacional na movimentação rápida do dinheiro, no glamour, na moda e na cultura popular. É uma questão de eles se considerarem norte-americanos ou não. O patriotismo certamente não ocupa uma posição muito alta na sua hierarquia de virtudes”.

Lasch notou que, em contraste com a falta de entusiasmo pelo patriotismo, elas abraçam o multiculturalismo e a diversidade.

A imaginação globalista é espontaneamente atraída para uma perspectiva que menospreza a cultura nacional e seus valores tradicionais. É por isso que os membros da elite globalista e sua instituição desempenham um papel tão central na Guerra Cultural. Ao mesmo tempo, por meio das guerras culturais, o descolamento das elites em relação à vida de uma nação foi intensificado. Nessa perspectiva, as elites se sentem mais próximas de seus amigos transnacionais do que de seus concidadãos “que não pensam como nós”.

Em décadas recentes, a distância psíquica entre a visão da elite e as sensibilidades nacionais aumentou. Atraídas pelo multiculturalismo e pela sacralização da diversidade, ela se envolveu na promoção da política identitária. Esse sentimento é despertado pela doutrina da Grande Reinicialização promovida pelo Fórum Econômico Mundial. A Great Reset vislumbra um mundo pandêmico em que a política identitária LGBTQ+ substitui o antigo normal. E afirma que “a inclusão LGBT+ é o segredo para o sucesso pós-pandêmico das cidades”. Também sugere bizarramente que “existe uma forte correlação positiva entre a inclusão LGBT+ e a resiliência econômica”. É evidente que hastear a bandeira do arco-íris se tornou fundamental para a identidade do Homem de Davos.

Do ponto de vista desse Homem de Davos, os governos de nações como o Brasil, a Hungria e a Polônia são o que eles chamam de “o lado errado da história”. Governos que levam o princípio da soberania nacional a sério e se recusam a subordinar sua economia e sua sociedade aos ditames de especialistas internacionais se tornam párias na Nova Ordem Mundial de Biden.

Por sorte, as realidades geopolíticas atuais destacam a importância do Estado nação. 

A pandemia mostrou que, no fim das contas, as pessoas precisam de seus governos nacionais, e não com instituições como a Organização Mundial da Saúde. 
Com a deflagração da guerra na Ucrânia, o fracasso das organizações internacionais ficou muito claro. 
Nessas circunstâncias, as chances são enormes de que a realidade de um mundo de nações frustre a ascensão da Nova Ordem Mundial de Biden.

Leia também “A patrulha das ideias tomou conta das universidades”

Frank Furedi, colunista - Revista Oeste

[Em fevereiro 2022, o Blog Prontidão Total, total e ferrenhamente anticomunista, expressou sua opinião favorável ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, por várias razões, especialmente por ele ser mais conservador outros supostamente conservadores.
A matéria acima comprova que nossa posição, que permanece, está correta e que  Joe Biden, é pior para o mundo que Putin.
Para eventuais interessados, linkamos a matéria.
Confiram nossas razões.]
 

quinta-feira, 21 de abril de 2022

Rejeição à agenda progressista explica popularidade de Orbán - Luciano Trigo

Gazeta do Povo


Apesar da inédita frente ampla que uniu a oposição do país,
juntando partidos de esquerda e direita, o primeiro-ministro da Hungria Viktor Orbán, contrariando as pesquisas, que previam uma disputa acirrada, foi reeleito com folga neste domingo, conquistando seu quinto mandato (o quarto seguido: ele ocupou o cargo entre 1998 e 2002, voltou em 2010 e não saiu mais).

Seu partido, o Fidesz, considerado nacionalista e ultraconservador, deve conquistar mais de dois terços das 199 cadeiras do Parlamento, o que garantirá vida fácil ao premiê nos próximos quatro anos.

Orbán é frequentemente acusado de violar a democracia, enfraquecer as instituições, sequestrar o poder Judiciário, controlar a imprensa e perseguir a oposição.

A mídia ocidental o pinta como uma figura execrável, um fascista reacionário genocida heteronormativo antidemocrático etc. Uma figura execrável em todos os aspectos. E, no entanto, ele mantém altos índices de popularidade em seu país, vencendo eleição após eleição. Como pode?

A primeira explicação é econômica: a população da Hungria prefere estabilidade a mudanças - ainda mais no contexto de insegurança e risco nos países europeus provocado pela guerra na Ucrânia. Combinando uma política econômica liberal com medidas populares, como leis que beneficiam os aposentados, a Hungria vem apresentando indicadores econômicos satisfatórios e um contexto de crise.

Outra explicação é histórica: o apego da sociedade a governos de direita tem raízes na opressão soviética nos tempos do comunismo - bastando lembrar o massacre de 1956, quando tanques russos invadiram o país e milhares de civis foram executados ou presos. Ali ficou claro que qualquer dissidência seria esmagada.

(Reparem: todos os países do Primeiro Mundo que experimentaram o comunismo real valorizam mais as liberdades individuais que a narrativa coletivista socializante. As teorias da esquerda são lindas e muito atraentes para os jovens de coração puro, mas a História demonstra que a prática é bem diferente.

A teoria na práxis é outra: jamais haverá justiça social sem uma economia próspera, e jamais haverá prosperidade econômica com planejamento central do Estado. O máximo a que se pode almejar em um país socialista é a redução das desigualdades por meio da socialização da miséria. Basta olhar para a Venezuela. Simples assim.)

Em ano eleitoral, famílias relatam preocupação com aumento da doutrinação ideológica em sala de aula

Professor que constrangeu aluno em escola de SP não tem diploma por Harvard  

No embate entre progressistas e conservadores pela mudança de valores e costumes, o respeito à infância ainda é um limite que a sociedade não admite que seja ultrapassado.  Sem conhecer em profundidade as nuances da política húngara, eu me arrisco a acrescentar uma terceira explicação para o sucesso de Orbán, que está associada a outra votação que aconteceu esta semana na Hungria: ele encarna hoje em seu país a resistência a um projeto global muito sofisticado de destruição de valores associados à família.

(É um processo ao qual se assiste diariamente também no Brasil, diga-se de passagem. A eleição de Bolsonaro em 2018 também deveu muito à adesão da esquerda a uma agenda de costumes que é claramente rejeitada pela maioria da população.)

Dias antes da eleição que garantiu um novo mandato a Orbán, os húngaros também votaram maciçamente em um referendo sobre o direito dos pais de decidir como educar seus filhos
O referendo foi decorrência de uma lei de proteção das crianças aprovada pelo Parlamento húngaro em julho de 2021.

A sociedade húngara rejeitou de formal cabal, com mais de 92% dos votos, a introdução da ideologia de gênero no currículo e aulas de educação sexual compulsória nas escolas públicas do país, entre outras coisas.

O referendo também incluía perguntas sobre promoção ou divulgação de tratamentos de mudança de sexo e transição de gênero para menores de idade, incluindo a veiculação de reportagens sobre o tema nos canais de televisão. A rejeição à pauta progressista foi ainda mais acachapante: mais de 95% dos eleitores votaram “Não”.

Como era de se esperar, a militância do ódio do bem classificou o referendo como sendo prejudicial à comunidade gay. Orbán respondeu que a intenção da lei é combater a pedofilia e defender os direitos dos pais contra o que ele identifica como um poderoso lobby LGBTQIA+: “É a defesa dos direitos das crianças e dos pais, só isso”, declarou. “O futuro de nossos filhos está em jogo, então não podemos ceder nessa questão”.

Evidentemente, qualquer discriminação ou manifestação de intolerância contra minorias de gênero deve ser rejeitada e combatida. Mas o texto do referendo e a campanha em torno dele deixaram claro que não se tratava de incentivar o preconceito contra homossexuais, nem de promover a homofobia nas escolas públicas, e a sociedade húngara compreendeu issocomo demonstra o resultado do referendo. Ou será que mais de 90% dos húngaros são pessoas más, que defendem a perseguição a homossexuais?

O dever da tolerância e a luta pela igualdade de direitos são algo muito diferente de uma campanha orquestrada para implementar um experimento social nas escolas, cujas consequências só aparecerão lá na frente. No embate entre progressistas e conservadores pela mudança de valores e costumes, o respeito à infância ainda é um limite que a sociedade não admite que seja ultrapassado, na Hungria como no Brasil. 

Luciano Trigo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 7 de abril de 2022

Sérvia e Hungria: Duas vitórias eleitorais para Putin na Europa - Gazeta do Povo

Filipe Figueiredo

Aliados de Vladimir Putin saíram vitoriosos nas duas eleições europeias realizadas no último final de semana
Na Hungria, Viktor Orbán foi reeleito para mais quatro anos como primeiro-ministro, enquanto, na Sérvia, Aleksandar Vucic foi reeleito para um novo mandato de cinco anos na presidência do país. Embora por motivos diferentes e com cada país inserido em um contexto distinto, ambos os governos possuem relações próximas com a Rússia, com vitórias que acenderam alguns alertas pela Europa.

As eleições húngaras foram temas de duas colunas nos últimos seis meses aqui no nosso espaço de política internacional, incluindo a anterior. Explicamos na semana passada que um dos pontos principais da campanha entre a coalizão governista de Orbán e a frente ampla Oposição Unida era a guerra na Ucrânia. O líder da oposição, Peter Márki-Zay acusava Orbán de ser complacente com Vladimir Putin e de agir como “garoto de recados” da Rússia dentro da União Europeia e da OTAN.

O governo Orbán, por sua vez, defende as suas políticas em relação ao conflito como a defesa dos interesses energéticos do país, que importa muito de seu gás natural da Rússia, e manutenção da paz
Acusava a oposição de ser “subordinada” à “políticas belicistas” vindas do estrangeiro ao defenderem, por exemplo, que a Hungria deveria ter maior papel nas sanções contra a Rússia e na coordenação do apoio material aos ucranianos.

Favoritismo e eleitorado
Comentamos também que as pesquisas indicavam favoritismo do governo. Os resultados foram bem mais amplos. Com um comparecimento eleitoral de 69,5% do eleitorado registrado, a coalizão conservadora e nacionalista do Fidesz levou 53,5% dos votos, um crescimento de mais de 4% em relação ao pleito anterior. A oposição ficou com 34,6% dos votos, muito menos do que as pesquisas previam e 12% menos do que a soma dos partidos oposicionistas na eleição anterior.

Com 5,7% dos votos, o Movimento Nossa Pátria, de extrema-direita, vai estrear no parlamento. O partido é formado por ex-integrantes do Jobbik após esse mudar suas posições nacionalistas para uma plataforma mais moderada e pró-UE. O partido promete ser oposição à Orbán, ainda mais à direita que a plataforma do governo. E como a proporção dos votos se traduz na configuração do parlamento? A coalizão de governo terá 135 dos 199 assentos, dois a mais do que antes.

Principalmente, manterá a supermaioria de dois terços, necessária para reformas constitucionais. A Oposição Unida conquistou apenas 56 cadeiras, sete a menos do que a soma dos partidos componentes no parlamento anterior. O mais humilhante para a oposição foi o fato de que Márki-Zay foi derrotado em seu próprio distrito eleitoral, de Hódmezővásárhely, onde é prefeito. O vencedor foi János Lázár, ex-chefe do gabinete de Orbán, com 52,2% dos votos do distrito. Por ser o líder da oposição, Márki-Zay tem direito ao assento no parlamento pela lista do partido.

Fecham o Parlamento as sete cadeiras do Nossa Pátria e uma cadeira para o representante da minoria alemã. Além do início da prevista luta interna na busca por culpados, o pós-eleição foi marcado pelo discurso de vitória de Orbán. Ele afirmou que venceu as eleições lutando contra “uma enorme quantidade de adversários” e que “nunca tivemos tantos adversários ao mesmo tempo"
Dentre os adversários, listou “burocratas de Bruxelas” e o “presidente ucraniano”.

Zelensky e a OSCE
O comentário provavelmente foi o troco por declarações anteriores de Volodymyr Zelensky, afirmando que a Hungria não estava agindo como amiga da Ucrânia. O presidente ucraniano chegou a, retoricamente, perguntar “Viktor, você sabe o que está acontecendo em Mariupol?”, referência ao cerco da cidade portuária por forças russas. Já Putin parabenizou Orbán por sua vitória, afirmando que "apesar da difícil situação internacional, a continuidade da parceria bilateral atende plenamente aos interesses da Rússia e da Hungria."

Na coluna passada, foi mencionado que a Organização para Segurança e Cooperação na Europa enviou uma missão para observar as eleições húngaras. Essa foi apenas a segunda vez na História que a OSCE enviou uma missão para observar as eleições de um país integrante da UE. O relatório preliminar, de 23 páginas com 117 notas diferentes, foi publicado nessa segunda-feira, dia 4 de abril. Ele conclui que o pleito respeitou os procedimentos eleitorais, mas que a disputa não foi balanceada.

Os observadores apontam três aspectos que fizeram a disputa desequilibrada. A falta de transparência dos gastos de campanha; a falta de cobertura independente na imprensa; e, mais grave, que a modificação das regras eleitorais nos últimos anos fez o partido Fidesz se confundir com o aparato de Estado na Hungria. Outros problemas foram a denúncia de tentativa de compra de votos, especialmente visando pessoas roma e a falta de proporção demográfica no registro de candidaturas. O relatório, em inglês, pode ser consultado por qualquer um dos leitores que desejar.

Cruzando a fronteira sul da Hungria, na Sérvia, 58,7% dos eleitores compareceram às urnas e reelegeram Aleksandar Vucic para um novo mandato como presidente. Teoricamente, a Sérvia é um país parlamentarista. Na prática, entretanto, a presidência possui muitos poderes e o país funciona como um semi-presidencialismo, com a primeira-ministra Ana Brnabic indicada pelo presidente e chefiando o gabinete de ministros. O fortalecimento da presidência, inclusive, foi intensificado pelo próprio Vucic. Ele foi premiê de 2014 a 2017, quando foi eleito presidente.

Sérvia e Rússia, “povos irmãos
O candidato governista recebeu 58,5% dos votos, enquanto o segundo colocado, Zdravko Ponos, levou apenas 18,3%. Sua plataforma populista, que soma liberalismo econômico, Estado de bem-estar social e conservadorismo na agenda de costumes, sai menor das eleições, entretanto. Com 120 dos 250 assentos do parlamento, perderam 68 cadeiras comparando com 2020. A eleição foi antecipada por decisão de Vucic, que mantém a maior bancada, embora agora precise de alguma aliança eleitoral para ter maioria.

Em segundo e terceiro lugares ficaram frentes partidárias mistas de oposição, com 37 e 32 cadeiras respectivamente. Outros quatro grupos partidários terão ao menos dez assentos, incluindo a estreia parlamentar do partido conservador monarquista sérvio e um movimento de extrema-direita nacionalista que abertamente reinvidica ligações com as milícias chetniks, que colaboraram com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e cometeram diversas atrocidades durante as guerras dos anos 1990.

Putin parabenizou Vucic afirmando que “considero que suas ações como chefe de Estado continuam favorecendo um reforço da cooperação estratégica que existe entre nossos países. Sem dúvida, isso é do interesse dos povos irmãos da Rússia e da Sérvia”. Ao falar em “povos irmãos”, Putin invoca a aliança histórica entre russos e sérvios, que remonta ao século XIX e foi intensificada nos últimos anos. Principalmente após a independência do Kosovo, que a Rússia utiliza como argumento para legitimar a separação de regiões habitadas por russos em países vizinhos.

Enquanto em vários países europeus ocorreram manifestações pró-Ucrânia nas ruas, em Belgrado ocorreram as principais, das poucas, demonstrações de apoio externo ao governo russo. A torcida organizada nacionalista do clube Estrela Vermelha exibiu faixas condenando a OTAN pelos bombardeios contra a Sérvia e por sua expansão, enquanto sérvios russófilos realizaram manifestações usando a letra “Z”, associada ao exército russo na Ucrânia, e as bandeiras tricolores, de cores similares, dos dois países.

Os dois resultados eleitorais do final de semana certamente são um alento para Putin. Em meio ao conflito na Ucrânia e a crescente condenação internacional contra seu governo, acompanhada de fortes sanções econômicas, ele sabe que terá dois aliados na Europa por mais alguns anos. Um nos Bálcãs, que certamente passarão por momentos de instabilidade em 2022, com as eleições na Bósnia, e outro no seio da UE e da OTAN. Certamente não é uma situação que agrada o governo de Paris, o que lembra que os franceses vão às urnas no próximo final de semana, tema da nossa próxima coluna.

Filipe Figueiredo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 5 de abril de 2022

Os comunas estão nervosos… - Rodrigo Constantino

 

Rodrigo Constantino

Que preguiça! Já abrir a semana tendo que lidar com a choradeira forçada da esquerda radical nas redes sociais é de lascar. Mas, como são os ossos do meu ofício, lá vamos nós explicar uma vez mais a tática dessa gente previsível.

Miriam Leitão, a "respeitada" jornalista, escreveu uma coluna no fim de semana apontando o que enxerga como grande equívoco da terceira via: atribuir uma equivalência entre os dois "extremos". Até aí, estamos de acordo. Mas aí vem a revelação, para a surpresa de ninguém: Miriam está dizendo que Bolsonaro é muito pior, pois não respeita a democracia, enquanto o outro lado seria "democrata".

A militante tucanopetista já saiu de sua toca comuna: tem que votar no socialista corrupto do Foro de SP para “salvar a nossa democracia". Bolsonaro, com seus ministros Paulo Guedes, Marco Pontes, Tereza Cristina, Damares Alves, Tarcisio Freitas e tantos outros, representa uma terrível ameaça à democracia brasileira.  
Lula, com Dirceu e companhia, ao menos é um "democrata", apesar de bajular a ditadura cubana desde sempre.

Datena, Onyx, Maia e mais: os principais nomes que trocaram de partido para concorrer em 2022

Leite diz que aceitaria ser candidato a vice-presidente em chapa com Tebet

A narrativa é patética, bizarra e não se sustenta por um segundo de reflexão. Mas a esquerda radical teve um presente e tanto: 
Eduardo Bolsonaro resolveu reagir, e escreveu ter pena da cobra, numa alusão ao episódio revelado pela militante comunista de que sofreu tortura no começo do regime militar, com uma serpente colocada em sua cela.

Foi a senha para que toda a extrema esquerda bancasse a vítima, horrorizada com a insensibilidade do deputado. Até "jornalistas liberais" se uniram, pedindo a cassação de Eduardo pela mensagem. Todos enxergaram ali o pretexto para desviar o foco do que realmente importa aqui: a tentativa ridícula de "normalizar" Lula, pinta-lo como um moderado de centro, um democrata, enquanto Bolsonaro seria um fascista.

Como no clubinho ninguém solta a mão de ninguém, os pares "jornalistas" prestaram imediatamente solidariedade à colega. A militante da Folha de SP, Mariliz Pereira Jorge, que já xingou o presidente de tudo que se possa imaginar, chegou a comunicar a saída do Twitter, explicando o péssimo ambiente da rede - provavelmente diante de um espelho:
"Twitter é um lugar insuportável. Cheio de gente má, que finge ser democrata. Cheio de gente que fala em saúde mental e fode com a saúde dos outros. Tem o babaca, mas tá cheio de agressivo-passivo. Acha que é dono da verdade pq defende bandeiras importantes. Desisto. Adios"

Se é por falta de adeus...
Já o senador Alessandro Vieira, aquele com pinta de sério, mas que usou morte de ator global octogenário vacinado para atacar o governo na CPI circense, rasgou elogios ao histórico da jornalista: "A estratégia dos Bolsonaros é clara: usar falas polêmicas para desviar a atenção da fome, da miséria e dos casos de corrupção que vêm surgindo no noticiário. A última foi um ataque grosseiro e inaceitável contra a jornalista Miriam Leitão, profissional com histórico impecável". [esse senador andou pensando em se candidatar a presidente ... caiu na real e desistiu??? Insistimos que queremos toda a esquerda maldita unida contra o capitão, assim poderemos triturá-los, politicamente, derrotando-os,  como fez o Orbán na Hungria.]

Nem mesmo o ladrão conseguiu se conter. Dando muita bandeira, deixando claro a orquestra da coisa toda, o próprio Lula, um ilustre humanista, veio demonstrar repúdio aos "ataques" contra a jornalista, apenas para ter o reconhecimento do "nobre gesto" pela própria jornalista e também seu filho, o comunista que já declarou voto em Lula:

O coleguinha da GloboNews, defensor do Psol, também aproveitou para divulgar o discursinho manjado da turma: "Toda a solidariedade à Miriam Leitão, absurdamente agredida por gente que usa a liberdade só possível numa Democracia para atacar a Democracia e suas instituições. Quebra de decoro? Injúria? Acima de tudo violência gratuita, estupidez e desumanidade. #DitaduraNuncaMais"

O que seria da extrema esquerda sem essa visão estética infantil? Defensores do regime chinês fingindo que são os maiores democratas do planeta? 
Jornalistas que aplaudem a censura imposta pelo STF fingindo que defendem a liberdade de expressão? 
Militantes que passam pano para prefeitos e governadores que mandam prender quem sair às ruas no lockdown se colocando como a resistência contra o fascismo? 
É tudo uma piada de mau gosto.
 
Leandro Ruschel explicou a tática deles: O coordenador da campanha de Lula afirma que seu principal adversário lidera um movimento fascista. E tem gente que acredita num governo Lula "pacificador".... 
O que esse pessoal está fazendo é a desumanização do adversário para justificar medida ilegais contra eles. 
Um "fascista" não deve ter direito. 
Um "fascista" deve ser preso ou coisa pior. 
Qualquer violência contra "fascistas" é justificada. 
O que a esquerda faz é categorizar QUASE TODOS opositores como "fascistas", para justificar qualquer ato de censura e perseguição contra eles.
Em outro post, Ruschel questionou que democracia é essa que estaria ameaçada em nosso país: Afirmar que a "democracia está em risco no Brasil" é tapar o sol com a peneira. 
Não existe mais democracia quando certas autoridades abusam do seu poder para perseguir críticos. 
Não existe mais democracia quando uma parcela do espectro político é criminalizada.

No fundo, o que estamos vendo é certo desespero da esquerda. Nem ela acredita nas pesquisas, que já começam um trabalho de ajuste gradual. As mais recentes já dão até empate técnico entre o ladrão socialista e o atual presidente. O senador Randolfe Rodrigues, aquele com pouco voto, [além da falta de votos o senador é encrenqueiro, estridente, e sem inteligência e totalmente desacreditado - nunca teve credibilidade, mas antigamente, bem antigamente, alguns ainda acreditavam nele.] mas enorme influência suprema e midiática [esta só junto à mídia militante, aquela do consórcio de más notícias] , chegou a externar o nervosismo:  Lula precisa ser... mais "plural", seja lá o que isso significa. 


Estão tentando criar uma nova Carta ao Povo Brasileiro, um novo terno Armani de Duda Mendonça, uma nova máscara para ludibriar os otários. Alckmin serve exatamente a esse propósito na campanha do corrupto.

E não faltam "jornalistas" batendo o mesmo bumbo. Estão todos unidos contra Bolsonaro, pois odeiam tudo que não é esquerda. 

Morrem de saudades dos tempos em que a disputa era entre PT e PSDB, na estratégia das tesouras, e a grande imprensa tinha o monopólio das narrativas, sem as redes sociais para "incomodar".

Os comunas estão nervosos. Estão unidos. E isso, claro, é ótimo sinal...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 4 de abril de 2022

Orbán derrota oposição unida e conquista quarto mandato consecutivo na Hungria [ = Brasil a partir de outubro/22]

[Substituam Orbán por Bolsonaro, quarto por segundo e Hungria por Brasil]

O Globo

Partido do primeiro-ministro que mudou Constituição para concentrar poder deve manter maioria absoluta no Parlamento, segundo projeções 
 
O primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, venceu as eleições legislativas deste domingo, com os resultados preliminares mostrando uma grande vantagem de seu partido, o Fidesz, apesar de a oposição ter se unido e lançado um candidato único pela primeira vez nos 12 anos em que o expoente da ultradireita nacionalista europeia está no poder. Os opositores reconheceram a derrota logo depois de o premier declarar uma "vitória excepcional", que lhe garante o quarto mandato consecutivo.

Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, vota em seção eleitoral de Budapeste Foto: FERENC ISZA / AFP
Primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, vota em seção eleitoral de Budapeste Foto: FERENC ISZA / AFP

BUDAPESTE — Segundo projeções parciais, o Fidesz e seu parceiro de coalizão, o Partido Popular Democrata Cristão, devem conquistar 135 cadeiras no Parlamento, duas a mais do que as atuais 133, mantendo a maioria absoluta, enquanto a oposição deve ficar com apenas 56. Um partido de extrema direita, Nossa Pátria, conseguiu superar a cláusula de barreira de 5% dos votos e terá sete assentos no Legislativo. Pelos números parciais, o Fidesz obteve 53,1% dos votos em listas partidárias, e lidera em 88 das 106 disputas distritais.

— Caros amigos, obtivemos uma vitória excepcional, uma vitória tão grande que provavelmente pode ser vista da Lua, e certamente de Bruxelas — declarou Orbán, referindo-se à sede da Comissão Europeia, que abriu processos contra o seu governo por violações do Estado de direito.

Bolsonaro com o premier Orbán em Budapeste; brasileiro disse que ambos defendem 'Deus, pátria, família e liberdade' Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS
Bolsonaro com o premier Orbán em Budapeste; brasileiro disse que ambos defendem 'Deus, pátria, família e liberdade' Foto: BERNADETT SZABO / REUTERS

O direitista Orbán é admirado por Jair Bolsinaro e aliado do presidente brasileiro, que chamou o líder húngaro de "irmão"  em recente visita ao país.  

A participação na eleição ficou em torno de 67%, na média das eleições anteriores. Segundo o atual sistema eleitoral húngaro —  definido pelo Fidesz ao mudar a Constituição do país em 2012 e que favorece o partido governista   das 199 cadeiras do Legislativo, 106 são decididas por maioria simples em distritos eleitorais e as demais 93 são definidas de forma proporcional pelo voto em listas nacionais.

Ao contrário das votações anteriores, quando Orbán enfrentou uma oposição dividida, este ano os principais partidos opositores se uniram em torno do nome de Peter Marki-Zay, um político que, em 2018, surpreendeu ao se eleger prefeito da cidade de Hódmezovásárhely, considerada um bastião do Fidesz.

Ali, concorrendo como independente, Marki-Zay recebeu o apoio de todas as forças de oposição, uma estratégia replicada nas atuais eleições, mas sem obter o resultado esperado. A aliança incluiu siglas como a Coalizão Democrática, de esquerda, o Momento, liberal, e o Jobbik, um partido de extrema direita que moderou suas posições nos últimos anos.

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Para Marki-Zay, essa era uma escolha entre "o Ocidente e o Oriente", e as políticas do atual governo minaram a democracia no país. Ao votar, ele apontou o controle do governo sobre os meios de comunicação e o sistema eleitoral desenhado pelo Fidesz como obstáculos à oposição.

Segundo os resultados preliminares, o oposicionista foi derrotado até em seu distrito eleitoral. No discurso em que admitiu a derrota, ele se disse chocado com os resultados,afirmou que as pessoas "sofreram lavagem cerebral" e que recebem apenas propaganda pelos meios oficiais. Marki-Zay também não poupou adjetivos negativos ao se referir a Órban e ao modelo eleitoral.

Não quero esconder minha decepção e minha tristeza. Sabíamos que essa seria uma disputa desigual — disse o oposicionista. — Admitimos que o Fidesz obteve a ampla maioria dos votos. Mas ainda questionamos se essa disputa foi democrática ou livre.

Orbán, por sua vez, votou em Budapeste, e declarou que a eleição era uma escolha entre "a paz ou a guerra", apontando para o apoio de seu adversário a uma posição mais dura em relação a Moscou no conflito na Ucrânia. O premier, que tem laços próximos com o presidente russo, Vladimir Putin, é hoje a principal voz dentro da União Europeia contra a adoção de sanções mais duras ao petróleo e ao gás vindos da Rússia. 

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Recentemente, o premier húngaro foi alvo de críticas do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, e respondeu dizendo que os interesses da Hungria "vêm em primeiro lugar". Ao ser questionado sobre sua relação com o governo russo, repetiu esse argumento. — Vladimir Putin não está concorrendo nas eleições húngaras, então não preciso lidar com essa questão hoje, felizmente — disse Orbán. — Eu sigo os interesses nacionais húngaros, sou pró-Hungria.

Durante seus discursos, o premier afirmou que um voto na oposição seria o mesmo que arrastar a Hungria para a guerra.

Outra preocupação dos eleitores neste domingo foi o estado da economia, com a inflação acima de 8%, mesmo com um sistema de controle de preços dos combustíveis e itens básicos de alimentação. O aumento de gastos sociais e limites a aumentos nas hipotecas também ajudou a impulsionar os números do partido de Orbán na reta final da disputa.

Referendo

Apesar de não ter sido um dos grandes temas da campanha, a chamada "pauta conservadora", uma das marcas dos 12 anos de Orbán à frente do governo, esteve presente no dia da eleição: os eleitores também participaram neste domingo de um referendo sobre uma nova lei que proíbe a divulgação de conteúdos que incluam qualquer orientação sexual com exceção da heterossexual, bem como informações sobre redesignação de gênero, nas escolas ou em filmes e publicidade dirigidos a menores de 18 anos.

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Neste domingo, as cédulas traziam quatro perguntas aos eleitores:
- "você apoia o ensino de orientação sexual para crianças menores de idade em instituições de educação pública sem o consentimento dos pais?"; [NÃO]
 
- "você apoia a promoção de terapia de redesignação de gênero para crianças menores de idade?"; [NÃO]
 
- "você apoia a exposição irrestrita de crianças menores de idade a conteúdo sexual explícito que possa afetar seu desenvolvimento?"; [NÃO] - "você apoia mostrar conteúdo sobre mudança de sexo para menores de idade?".[NÃO]
 
 
O resultado do referendo ainda não foi divulgado.
[Quando for será uma  sequência de QUATRO 'NÃOs' é a única resposta natural e que engrandece a Família.]

O mundo - O Globo


quinta-feira, 10 de março de 2022

Na coleira de Putin: a dependência europeia do gás natural russo - VOZES

 Flavio Gordon

Koni estranhou a silhueta desconhecida e o som daquela voz. Em busca de compreensão, inclinou a cabeça de lado, como tendem a fazer os de sua espécie. Embora imperceptível às demais criaturas presentes, o cheiro de repolho fermentado, mais carregado no sal do que a habitual salmoura doméstica, logo excitou suas sensíveis células olfativas. Acostumado a cheirar as mãos do dono, que o contemplava com um sorriso ao mesmo tempo zombeteiro e orgulhoso, o imponente cão julgou por bem fazer o mesmo com a convidada, fonte de tão inédito olor. Esta, vítima de um ataque canino no ano de 1995, crispou-se de visíveis constrangimento e temor.

A inspeção farejadora durou pouc
o. Apenas pelas diferenças no tom da voz e postura corporal, a intuição canina dera ao animal a certeza de que o poder ali permanecia nas mesmas mãos, e que, tal como ele próprio, a nova criatura no pedaço haveria de acomodar-se gostosamente à autoridade do velho dono. Koni espantou-se apenas com o fato de, conquanto solta como ele, mas pela curiosa rigidez dos músculos, a outra mais parecesse encoleirada. Tratava-se, afinal, de um cachorro muito perspicaz, herdeiro de um centenário clã de farejadores a serviço da polícia secreta. A habilidade de farejar fragilidades emocionais e psíquicas era questão de pedigree.

 
O encontro ao qual Koni compareceu em condição estratégica, e sobre o qual, posto que nominalmente irracional, extraiu conclusões tão razoáveis, aconteceu no ano de 2007, na bela dacha de Vladimir Putin em Sochi, cidade localizada à beira-mar. Sim, o dono de Koni era o presidente russo, que então recebia para uma conversa sobre fornecimento de energia a chanceler alemã Angela Merkel – objeto dos perspicazes insights caninos. Com efeito, intimidada pela presença do labrador preto, e inteiramente submissa ao seu dono, Angela estava mesmo na coleira.

Posto que altamente simbólico do ponto de vista das relações interespecíficas envolvidas, o encontro em Sochi era apenas mais um episódio no processo de aprofundamento da dependência alemã do gás natural russo. Esse processo, que se iniciara com o filo-russo Gerhard Schröder, antecessor de Angela, agravou-se bastante com essa última, grande entusiasta da agenda anti-combustíveis fósseis da União Europeia, instrumentalizada, por exemplo, pelo Comércio Europeu de Licenças de Emissão, um dos produtos do famigerado Protocolo de Quioto. Guiada por ideólogos da “sustentabilidade”, Merkel era um dos líderes europeus para os quais a mudança para o gás natural preencheria o vácuo entre o estágio de abandono do arcaico carvão e a fase da futura consolidação das energias renováveis.

Resta que as implicações políticas dessa exaltada mudança são bem conhecidas. Quase metade do fornecimento de gás natural para a Europa provém da Rússia uma proporção que tende a aumentar caso seja retomado o projeto do gasoduto Nord Stream 2, recentemente suspenso por conta da guerra, mas nada garante que de forma permanente. E, como prevê a Eurogas, o consumo europeu de gás natural utilizado tanto para aquecimento quanto para gerar eletricidade – deve aumentar entre 14% e 23% até 2030, o que provavelmente deixará mais justa a coleira do Kremlin em torno do pescoço do Velho Continente.

Dentre as razões para o aumento do consumo de gás natural,
destaca-se, por um lado, a radical agenda ambientalista de redução de emissão de CO2, cujo fundamento está na mitologia pseudocientífica e milenarista do aquecimento global antropogênico. E, por outro, o abandono do investimento em energia nuclear, também causado por histeria e alarmismo em torno da possibilidade de acidentes como os de Chernobyl e Fukushima. No ano 2000, por exemplo, o governo alemão assinou um tratado prometendo fechar todas as usinas nucleares até o presente ano, 2022. Sem combustíveis fósseis e sem energia nuclear, resta, obviamente, o gás natural, pelo menos até que as energias renováveis se tornem menos custosas.

O problema é que o aumento da dependência de gás natural fruto de muita ideologia e pouca racionalidade coincide com a diminuição de fontes alternativas para sua obtenção, (como as do Mar do Norte), 
criando uma situação obviamente explorada pela Rússia de Putin. Diante desse contexto, nações do Leste Europeu, a exemplo da Polônia, República Checa e Hungria, mostram-se apreensivas ao constatar que se encontram tanto mais vulneráveis aos fortes ventos geopolíticos que lhes chegam do Oriente quanto mais sujeitos a uma estratégia de redução de emissões formulada a muitas léguas dali, em Bruxelas. A cruzada contra os combustíveis fósseis é particularmente nociva a países como a Polônia, no qual esses combustíveis respondem por aproximadamente 80% da produção de energia.

Com o mercado cada vez mais regulado desde cima, e na medida do crescente controle russo sobre a oferta, esses países veem o futuro de modo ainda mais tenebroso do que estados-membros mais ricos da EU, nos quais o investimento em energias renováveis é muito maior. Antes da presente guerra, enquanto a política afetava mais sensivelmente os países mais carbono-dependentes, a Comissão Europeia pressionava por mais restrições às emissões. Resta saber se, agora, com o projeto imperialista neossoviético avançando obstinadamente, a Alemanha e outras nações ricas do bloco continuarão dóceis e submissas, presas na coleira curta de Vladimir Putin.

Flavio Gordon, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 


domingo, 6 de março de 2022

Devagar, malfeito e complicado - Revista Oeste

Vladimir Putin discursa na TV sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, no dia 22 de fevereiro de 2022 | Foto: Rokas Tenys/Shutterstock
Vladimir Putin discursa na TV sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, no dia 22 de fevereiro de 2022 -  Foto: Rokas Tenys/Shutterstock

Como não houve avanço militar decisivo por parte da Rússia, a ação passou a visar mais e mais os alvos civis, e de forma mais e mais pesada — com os custos políticos que isso sempre tem. É uma situação em que o país invadido não pode ganhar militarmente do invasor, nem fazer com que ele volte para o seu próprio território. Ao mesmo tempo, os invasores não conseguiram em nenhum momento assumir o controle real do território invadido. O resultado é uma guerra que arruína os dois lados. Mais de 50 anos atrás, Israel, um país do tamanho de Sergipe, precisou de apenas seis dias de guerra para derrotar todos os seus vizinhos árabes juntos. Os russos, na Ucrânia, ficaram muito longe disso.

A Ucrânia mostrou uma resistência muito maior do que a Rússia esperava

Além dos problemas na invasão em si, a Rússia sofreu, desde que disparou seu primeiro míssil contra a Ucrânia, a maior barragem de represálias econômicas jamais lançada contra um país em qualquer época. Do ponto de vista diplomático, está sendo punida, junto com o seu líder, Vladimir Putin, com uma condenação mundial inédita em sua extensão e em sua quase unanimidade; fora a China, que decidiu falar pouco no momento da invasão, e menos ainda quando ficou claro que a Ucrânia não se rendeu de imediato, quase todos os países se colocaram contra Moscou — ficaram a favor da invasão aqueles cujo apoio só atrapalha, como a Venezuela do ditador Nicolás Maduro. 

A paisagem do equilíbrio mundial, enfim, mudou da noite para o dia. A Rússia, depois de um longo período de progressiva normalidade em suas relações junto à comunidade internacional, com a dissolução da URSS comunista iniciada há pouco mais de 30 anos e o fim da “Guerra Fria”, voltou a ser o inimigo da Europa, dos Estados Unidos e dos países próximos a eles. A “segurança da Europa”, coisa considerada do passado, voltou a ser coisa do presente. O mundo, com a invasão da Ucrânia, está de novo rachado — e parece ter pela frente uma caminhada longa, incerta e complexa para retornar ao sossego que acreditava ter conseguido.

Passada a explosão inicial, e com a partida inteira pela frente, os fatos que ocorreram com certeza, até o momento, são os seguintes:

1 – A Ucrânia mostrou uma resistência muito maior do que a Rússia esperava. Os Estados Unidos, a Europa e o resto do mundo também foram surpreendidos; manifestaram apoio aos ucranianos desde o começo, mas não acreditavam na sua capacidade de continuar de pé após os primeiros bombardeios. Para a Rússia cumprir o objetivo imediato que tinha ao lançar a invasão — liquidar as Forças Armadas ucranianas, derrubar o governo do presidente Volodymyr Zelensky e colocar em seu lugar um regime que obedeça à sua orientação e aos seus interesses —, a operação teria de dar certo em 24 horas. Não aconteceu isso — e agora é duvidoso que um governo-fantoche, imposto sem eleições livres e sem que a Rússia tenha o efetivo controle do país, consiga funcionar de verdade. A cada momento, em consequência, foi se criando a necessidade do tipo de ação militar que menos interessa à Rússia — a escalada nos ataques, que deixa o comando sem opção a não ser aumentar cada vez mais a ofensiva, sem a perspectiva de uma data para terminar as operações. Colocar em “alerta” as forças nucleares russas não impressionou ninguém — nem a convocação de Putin para os ucranianos derrubarem o seu governo, com a promessa de se entender com eles logo em seguida. Cada dia sem solução é um dia a mais de baixas militares, de sanções econômicas, de entrada de armas europeias na Ucrânia e de custos cada vez mais pesados. Virou uma guerra de desgaste na qual, tipicamente, encontrar uma saída, e encontrar logo, passou a ser mais importante do que vencer.

2 – O presidente Zelensky mostrou ser um homem de coragem, coisa pouco comum, hoje em dia, na cena internacional. Ao contrário do que fariam nove em dez presidentes latino-americanos, a começar pelos do “campo progressista”, Zelensky não fugiu. (E o primeiro-ministro do Canadá, então? Esse ficou assustado com um movimento de motoristas de caminhão.) O presidente da Ucrânia não correu para Miami ou Havana ao ouvir o barulho da primeira vidraça quebrada, nem se refugiou na Embaixada dos Estados Unidos; não aceitou, nem mesmo, renunciar a seu cargo em favor de algum “governo de união nacional”. Quando os americanos lhe ofereceram transporte para deixar a Ucrânia, disse que não estava precisando de carona, e sim de armas. Até agora, continua onde estava antes da invasão começar.

3 – Oficialmente, como dizem os comunicados de Moscou, a invasão se destina a “desmilitarizar” a Ucrânia, ou seja, a zerar a sua capacidade de atacar ou se defender militarmente. A Ucrânia, obviamente, não ameaça a segurança da Rússia, ou de qualquer outro país — não se trata, portanto, de uma ação de defesa prévia, mas simplesmente uma tentativa de incluir o território ucraniano no perímetro de “segurança” que Putin considera adequado. Esse objetivo já tinha de estar cumprido. Até o momento, entretanto, a invasão tem sido uma série de operações que não decidiram nada de essencial do ponto de vista militar. A Ucrânia, com oito dias de guerra, mantinha controle parcial de seu espaço aéreo. O tráfego na maioria das rodovias foi interrompido por bombardeios, mas uma parte do sistema ferroviário continua a operar. A central de energia elétrica da capital, uma das primeiras coisas a ir para o espaço em qualquer invasão bem-sucedida, permanece em funcionamento há mais de uma semana. Nenhuma grande cidade foi ocupada de fato. O palácio presidencial ainda não foi destruído.

Os russos esperavam que a Europa iria protestar muito e fazer pouco

A performance militar dos russos no campo de batalha, nos dias iniciais da invasão, está sendo muito inferior ao que se esperava. As tropas parecem mal treinadas, mal comandadas, mal motivadas, com logística ruim, planejamento confuso e profissionalismo deficiente. Há perdas pesadas de material e baixas acima do previsto. Segundo o governo da Ucrânia, “9.000 soldados russos” já morreram — o que pode ser propaganda, mas com certeza revela problemas sérios no campo de batalha. A expectativa era de que a Rússia, depois do desmanche de suas Forças Armadas no começo dos anos 1990, teria passado por um processo de modernização em regra, tornando seus efetivos mais tecnológicos, eficazes e enxutos. Não se viu isso até o momento.

A Rússia enfrenta os conhecidos ônus de fazer uma guerra dentro de limites — não está claro o que os oficiais e soldados podem fazer, o que devem fazer e o que estão proibidos de fazer. O certo é que o invasor tem, todos os dias, de se segurar — destrói tudo aqui, não destrói nada ali, espera ordens contraditórias e assim por diante. Os ucranianos, militares e civis, mostraram capacidade de resistir a ataques e atacar de volta, o que não estava previsto. O resultado das incertezas e da resistência é uma multiplicação diária de dificuldades — e o ataque, cada vez mais, a alvos civis. Deveria, em suma, ter sido rápido, eficaz e simples. Está sendo devagar, malfeito e complicado.

4 – A Rússia cometeu um erro de cálculo sério ao subestimar a reação dos países da Europa. Confiantes na sua vantagem como fornecedores de 40% do gás europeu, sobretudo nestes momentos de inverno, os russos esperavam que a Europa iria protestar muito e fazer pouco. Foi o contrário. Alemanha, França e Inglaterra, mais o restante da União Europeia como um todo, responderam à invasão com união inédita, extrema rapidez e intensidade sem precedentes. Mais que os Estados Unidos, que tiveram a reação vacilante, desordenada e fraca que tem marcado as ações do governo do presidente Joseph Biden, a Europa cresceu na frente da Rússia. Junto com os norte-americanos, que vieram vindo no seu embalo, cortou parte dos bancos russos do Swift, o sistema internacional de pagamentos bancários indispensável para mover dinheiro através do mundo. Limitou a movimentação que a Rússia pode fazer dos seus US$ 650 bilhões em reservas de moeda forte. Fez o rublo desabar 40% e os juros na Rússia voarem para 20% ao ano. O alvo não foi só a economia. Fechou-se o espaço aéreo da Europa e dos Estados Unidos para qualquer avião russo — inclusive os jatinhos dos milionários amigos do presidente Vladimir Putin, e uma das suas mais fiéis fontes de apoio. A UE tem mandado armas, munição e equipamento militar para a Ucrânia todos os dias. A Alemanha, principalmente, que a Rússia imaginava numa posição de quase neutralidade por sua dependência energética, tornou-se a militante mais ativa da Europa em favor dos ucranianos. Nenhum líder político europeu mostrou simpatia, compreensão ou espírito de conciliação com a Rússia; a opinião pública, da qual todos dependem para sobreviver politicamente, também é na grande maioria pró-Ucrânia. As represálias europeias e norte-americanas, na verdade, vão muito além da hostilidade econômica em si — a cada dia, elas cortam mais e mais os laços da Rússia em suas conexões com o mundo. Da suspensão de grandes projetos industriais de empresas privadas até a colaboração em programas espaciais, tudo está passando pela tesoura.

5 – A Ucrânia, claramente, não foi demolida no primeiro tiro, mas é igualmente claro que não tem condições de aguentar pelo resto da vida o castigo que está recebendo. O pior aspecto da invasão é o custo para a população civil — ameaçada nas suas vidas, na sua propriedade e nos seus direitos mínimos. Há milhares de mortos e feridos — menos que a guerra-padrão de Terceiro Mundo, mas um choque para a Europa. Faltam alimentos. Famílias estão separadas. Estima-se até agora um total de 800.000 refugiados, que só tende a aumentar a cada dia. Até o momento, curiosamente, os dois países que mais receberam refugiados ucranianos foram a Polônia e a Hungria, justo os dois regimes mais à direita da Europa; os “globalistas” como Alemanha, França e países da Comunidade Europeia em geral adotaram represálias pesadas, mas até agora não começaram a distribuir vistos de entrada. O que existe é uma proposta da Comissão da União Europeia, a ser aprovada por cada um dos membros da comunidade, para conceder aos ucranianos moradia, plano médico, escola, permissão para trabalhar e assistência social durante um período de um ano — com a possibilidade de uma extensão para dois anos, ou três.

A Ucrânia não pode vencer a Rússia no campo de batalha, mas não ficou claro até agora como a Rússia pode ganhar

6 – A opinião majoritária sobre quais as razões centrais que a Rússia teve para invadir a Ucrânia é a decisão, por parte do presidente Putin, de devolver o seu país à situação de superpotência militar e política que exibia em público até os anos 1980. Este é, segundo a maioria das análises, o objetivo estratégico de Putin, que governa com um status de presidente vitalício: uma nova Rússia, equivalente à antiga União Soviética das “15 repúblicas” — na verdade, intendências governadas por Moscou e das quais a Ucrânia fazia parte até o regime começar a se desmanchar com a queda do Muro de Berlim, em 1989. Putin quer a Rússia que alegava ter o mesmo poder dos Estados Unidos, era capaz de impor sua política aos vizinhos da Europa e exercia uma voz de influência no resto do mundo, incluindo a China.

As realidades, até o momento, indicam que esses planos estão muito mais no terreno da imaginação do que de um programa político viável do ponto de vista prático. Voltar à URSS das “15 repúblicas” é mais ou menos como pretender que a Argélia volte a ser da França, ou que a Inglaterra volte a governar a Índia — não dá mais, simplesmente, em 2022. As complicações da invasão da Ucrânia, por outro lado, mostraram os limites dessas teorias geopolíticas grandiosas. A Ucrânia não pode vencer a Rússia no campo de batalha, mas não ficou claro até agora como a Rússia pode ganhar. Mesmo que Putin realize os seus objetivos declarados, a Ucrânia não vai ser anexada de volta ao território russo. Pode perder partes do seu território, mas não voltará a ser o que era — nem o próprio Putin, em qualquer uma de suas manifestações, disse algo assim. URSS, outra vez? No momento não está dando para ter de novo nem a Ucrânia; imagine-se, então, remontar o mapa inteiro. Também não se explicou o que adianta ser uma superpotência se não dá para ganhar no ato nem uma guerra com a Ucrânia — um país pouco maior que o Estado de Minas Gerais, e com um PIB dez vezes menor que o do Brasil. Se a Rússia tem trabalho com a Ucrânia, como seria com a Alemanha, por exemplo?

Fica em aberto, junto com essas dúvidas, uma outra questão objetiva: o que a Rússia vai efetivamente ganhar com essa guerra, mesmo com vitória oficial a curto ou médio prazos. Daqui um ano, por exemplo: a Rússia estará mais forte, mais segura ou mais rica do que hoje? 
Terá mais aliados? 
Tirar um pedaço do território da Ucrânia resolve alguma coisa? 
Para a população russa, especificamente: melhora o quê, na vida real? 
Os magnatas que controlam a economia russa e fornecem uma clara base de apoio para Putin, junto com as Forças Armadas e o seu partido político, vão ficar mais milionários do que já são? 
No momento não estão mais conseguindo nem ter um time de futebol na Premier League.

7 – Invasões armadas são coisas difíceis de fazer hoje em dia. Já foi o tempo em que a Rússia invadia a Hungria ou a Checoslováquia e tudo se resolvia com a passagem do primeiro tanque. Não mais. Antes de se desfazer como URSS, por sinal, a Rússia invadiu o Afeganistão, no começo dos anos 1980; ficou lá durante anos a fio e perdeu a guerra. Ainda agora, em 2014, invadiu a mesma Ucrânia. Não resolveu nada, já que oito anos depois está tendo de invadir de novo. Guerras que se podem fazer à vontade, em nosso tempo, são apenas nos fins do mundo que não incomodam ninguém. Em países da Europa não existe mais solução imediata.

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Revista Oeste - Edição 102