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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

Como presidente, Lula deveria ler mais a Constituição - Alexandre Garcia

Gazeta do Povo - Vozes

Garimpos

O presidente Lula, falando sobre os Yanomami e os garimpeiros, perante o chanceler alemão, disse que seu governo não vai permitir mais nada, não vai dar licença pra ninguém fazer garimpo, e que não vai haver mais por parte da agência de Minas e Energia autorização para alguém fazer pesquisa em qualquer área indígena.

Eu sei que todos nós brasileiros deveríamos ler a Constituição. 
Mas principalmente um presidente da República deveria ler a Carta Maior, até porque ele jurou cumprir a Constituição [comentando: imagine a estafa que acometeria o atual presidente se decidisse ler a Constituição; por não conseguir ler de 'carreirinha', teria que soletrar e, qualquer frase com mais de uma linha exigiria que a leitura fosse reiniciada  na metade, devido a incapacidade de memorizar o sentido do agrupamento das dez ou quinze palavras lidas. Quanto a bobagem da frase abaixo, o Congresso Nacional autorizando a pesquisa e/ou aproveitamento,ela será efetuada .]
Porque ele está dizendo que a agência de energia não vai mais dar licença para fazer pesquisa, que ele não vai mais permitir garimpo em terra indígena.

Congresso Nacional
Isso não é de agora, é de 1988, da Constituição, artigo 231, parágrafo 3º. "O aproveitamento de recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais, em terras indígenas, só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional”, é o que diz a Constituição. O presidente, seja ele Jair Bolsonaro ou Lula, não tem esse poder de autorizar ou proibir. O Congresso Nacional, portanto, é quem pode fazer isso.

Aliás, tem uma lei sancionada por Dilma em 2013, que o Partido Verde descobriu agora. O partido foi ao Supremo para ver se cancela uma parte dessa lei, que afirma que deve ser presumida a legalidade do ouro de quem está vendendo. E presumir a boa-fé de quem está comprando. O Partido Verde – parece que o PSB também entrou na ação – está dizendo que isso facilita o garimpo.
Veja Também:

    Uma eleição decisiva no Senado

    Lei Rouanet vai financiar até projetos da Disney

    Um outro lado sobre a questão dos Yanomami

Garimpos 
Outra coisa: alertado pelo ex-ministro de Lula e de Dilma, o ex-presidente da Câmara e o relator do Código Florestal, Aldo Rebelo, questionou se, como falaram em tirar todos os garimpeiros, se vão tirar os índios que garimpam, inclusive em associação com garimpeiros.  
E os Cintas Largas da Reserva Roosevelt que garimpam diamante? 
Uma coisa é a essa realidade midiática, e a outra coisa é a realidade amazônica.
 
Creches ou Disney?
Algumas creches aqui do Distrito Federal com quem eu tenho contato, centenas de creches, milhares de crianças que precisam das creches até para comer, porque as mães trabalham e não têm recurso, vivem de benfeitores. 
Então eu comparo essas creches, onde mil reais por mês faz diferença porque alimenta um determinado número de crianças, com a Lei Rouanet. Foram R$ 3,8 milhões para um show da Disney; R$ 3,9 milhões pra outro show da Disney; R$ 3,7 milhões para show de rock; R$ 5 milhões pra uma artista brasileira e fico comparando com o dinheiro das creches pras crianças.  
E então eu fico pensando nisso quando um político fala em “justiça social”.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


terça-feira, 20 de dezembro de 2022

O recado de Ives Gandra sobre ação do STF para tirar Bolsa Família do teto

Um dos maiores especialistas sobre a Constituição brasileira alerta que decisão sobre orçamento não deveria ser tomada pela corte

A decisão de Gilmar Mendes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), de retirar os recursos destinados ao pagamento do Bolsa Família do teto de gastos não foi bem digerida. 
 O jurista Ives Gandra Martins, um dos maiores estudiosos da Constituição brasileira, entende que os únicos poderes que poderiam opinar sobre o tema são o Executivo e o Legislativo. “Eu ainda sou de uma corrente clássica do constitucionalismo de que todo poder Legislativo, todo poder de fazer a Lei, pertence exclusivamente ao Executivo, por leis delegadas e medidas provisórias, e ao Legislativo, de forma permanente”, afirma ele ao Radar Econômico.

O jurista alega, no entanto, que a Constituição abre uma possibilidade para a decisão do ministro Gilmar Mendes, pautada pelo princípio da dignidade da pessoa humana. “Eles interferiram e decidiram furar o teto de gastos considerando que o Bolsa Família poderia ser enquadrado numa interpretação amplificada do direito de dignidade de pessoa humana”, explica. “Eu, pessoalmente, entendo que o Bolsa Família não poderia ser alterado por decisão da corte, mas o Gilmar Mendes é que tem o poder da caneta, e ele entende que pode ser feito, de tal forma que a minha interpretação da Constituição nada vale e a dele é a que tem o poder absoluto”.

A decisão referendada por Mendes atende a um pedido do partido Rede. Enquanto isso, aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentam conseguir a mesma liberação por meio da chamada PEC da Transição, que tramita no Congresso.

Radar Econômico - Revista VEJA


domingo, 20 de novembro de 2022

Viagem dos ministros do STF bancada por Doria viola Constituição e leis federais

Revista Oeste

Legislação proíbe que magistrados recebam presentes ou tenham viagens custeadas por particulares

Ministros do STF foram a Nova Iorque com despesas pagas por grupo empresarial | Foto: Reprodução/YouTube
Ministros do STF foram a Nova Iorque com despesas pagas por grupo empresarial | Foto: Reprodução/YouTube

Na semana passada, cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) viajaram para Nova Iorque e tiveram as despesas de passagens e estadia pagas pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), do ex-governador de São Paulo João Doria.

De acordo com juristas entrevistados pelo jornal Gazeta do Povo, esse pagamento afronta leis federais, como o Estatuto do Servidor Público, a Lei Orgânica da Magistratura Nacional, os códigos de ética da Magistratura e dos Servidores do Supremo, e até mesmo a Constituição Federal, que estabelece os princípios da impessoalidade e da moralidade, a serem seguidos pelo servidores e magistrados. Todas essas normas proíbem ocupantes de cargos públicos de receber presentes ou vantagens em razão do cargo.

Os ministros Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e Dias Toffoli foram a Nova Iorque para dar palestra na Brazil Conference, realizada entre os dias 14 e 15 de novembro. À exceção de Toffoli, os outros quatro também participaram de um jantar de luxo pago pelo Banco Master, investigado na Lava Jato sob o antigo nome de Banco Máxima. O proprietário da instituição financeira é Daniel Vorcaro, que também foi alvo de um mandado de prisão em 2019 por suspeita de desvio de recursos em fundos de pensão de servidores públicos municipais.

O inciso XII do artigo 117 do Estatuto do Servidor Público, estabelece que é proibido ao servidor público “receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições”.

O Código de Conduta da Alta Administração Federal (CCAAF) proíbe o recebimento de presentes por autoridade pública, conforme consta do artigo nono: “É vedada à autoridade pública a aceitação de presentes, salvo de autoridades estrangeiras nos casos protocolares em que houver reciprocidade”.

O Código de Ética da Magistratura é explícito ao dispor, no artigo 17, que “é dever do magistrado recusar benefícios ou vantagens de ente público, de empresa privada ou de pessoa física que possam comprometer sua independência funcional”.

Já o Código de Ética dos Servidores do Supremo Tribunal Federal lista, entre as “vedações ao servidor do STF”, a de “receber benefícios de transporte, hospedagem ou quaisquer favores de particulares que atentem contra os princípios elencados neste código”.

Para o advogado Afonso Oliveira, ouvido pela Gazeta, as empresas investigadas na Lava Jato “certamente têm interesse em obter decisões favoráveis em muitos dos processos que estão respondendo perante o STF”, o que se configura como afronta à lei. Além disso, receber presentes em razão do cargo viola os princípios constitucionais da moralidade e impessoalidade.

O advogado Alessandro Chiarottino, e doutor em Direito pela Universidade de São Paulo, afirma que esses “mimos” poderão gerar conflito, futuramente, se algum dos ministros tiver de julgar processos relacionados a essas empresas ou empresários. Qual vai ser a isenção deles para julgar casos em que ela [a empresa] esteja envolvida?”, questionou, na entrevista à Gazeta.

O advogado Carlos Alexandre Klomfahs, protocolou uma petição no STF, pedindo mais informações sobre as despesas dos ministros na viagem aos EUA. Ele argumenta que o “órgão de cúpula do Poder Judiciário exige observância de ética e transparência”. Na petição, escreve que condutas como essa “sem as respectivas prestações de contas podem abrir um precedente perigoso para cumprimento dos deveres institucionais do Supremo Tribunal Federal, violando vários princípios republicanos”.

 [- em nossa opinião, as infrações decorrentes das violações aos dois estatutos - estado do servidor público e Código de Ética dos Servidores do Supremo Tribunal Federal - os supremos ministros tiram de letra = é recorrente, sempre que qualquer regramento para SERVIDORES traga alguma desvantagem para suas excelências, eles alegam que NÃO SÃO SERVIDORES e SIM MEMBROS DO PODER JUDICIÁRIO - sempre cola; 

- já as infrações  aos outros códigos: Código de Conduta da Alta Administração Federal Código de Ética da Magistratura, se livrar é mais dificil, não conhecemos as punições, mas certamente uma delas será devolver o que as empresas pagaram com despesas de estadia,passagens, mimos, hospedagens, etc - um amigo nosso, que foi servidor do STF por quase trinta anos, assegura que uma coisa que aborrece de adoecer qualquer ministro é ter que devolver, mediante desconto no contracheque, qualquer valor
São tão ciosos com as finanças pessoais, o popular pão duro, que a tarefa de conferir os contracheques executam pessoalmente, não delegando aos seus aspones;
- sem certeza, aventamos provável uma pena disciplinar tipo censura, etc.
Essencial é que todo o procedimento corra no TCU - Tribunal de Contas da União - tem servidor do TCU que quando recebe uma missão dessa natureza, vai com a faca nos dentes
A CONFERIR.
 
Redação - Revista Oeste 
 

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

STF e TSE violam a Constituição em nome da ‘democracia’ - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

O alto judiciário se convenceu que a legalidade é coisa secundária, que tem de ser ignorada se isso ajudar na queda de Bolsonaro 

O Brasil está ficando cada vez mais viciado no consumo de uma droga perigosa passou a acreditar que é possível, e recomendável, defender a democracia violando a Constituição e as leis do país. É o que faz quase todos os dias o sistema STF-TSE: impôs a ideia e a prática de que a “democracia”, tal como é definida por seus ministros-proprietários, é um valor que está acima de qualquer outra consideração, incluindo toda a legislação em vigor, as liberdades públicas e os direitos individuais

A partir daí, vale tudo: se um ministro decide, sozinho ou com seus colegas, que a “democracia” está sendo posta em risco por isso ou por aquilo, ele dá a si próprio poderes de fazer o que bem entende para “salvar o país”. O resultado é que não há mais lei no Brasil. Há, unicamente, o que o STF-TSE decide; a lei, hoje, é a vontade de quem está lá dentro.

Não há sinais de cura para isso. Ao contrário: os ministros são cada vez mais incentivados pelas classes intelectuais, as almas “equilibradas-moderadas-civilizadas” e a elite que se considera “progressista”.  
Recebem aplausos públicos a cada ilegalidade que praticam – quanto mais grosseira a ilegalidade, maior o aplauso. São louvados em manifestos de defesa das “instituições” e do “estado de direito”. 
 
Impuseram, em flagrante desrespeito à Constituição, a censura à imprensa; receberam, em resposta, uma proclamação de apoio de milhares de jornalistas um caso único no mundo. Eliminaram a liberdade de expressão nas redes sociais, mantém preso há mais de um ano um chefe político de direita, sem culpa formada e sem data para julgamento, e bloqueiam rendimentos financeiros legítimos de comunicadores que entram na sua lista negra de “inimigos da democracia”. 
 A cada uma dessas coisas foram saudados como heróis da pátria. 
Por que, nesse caso, haveriam de parar?
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Bolsonaro diz que trará para as ‘quatro linhas’ da Constituição quem ousa ficar fora delas -= O Estado de S. Paulo

Em discurso após desfile na Esplanada, presidente afirma que ‘hoje todos sabem o que é o Supremo’ e volta a repetir o mote eleitoral da ‘luta do bem contra o mal

 O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, usou seu discurso durante o desfile de 7 de setembro na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para repetir motes de campanha e fazer um ataque velado ao Supremo Tribunal Federal. “A voz do povo é a voz de Deus”, disse Bolsonaro enquanto a multidão de apoiadores vaiava a Suprema Corte brasileira. “Hoje todos sabem que é o Poder Executivo, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal. Todos sabem o que é o Supremo Tribunal Federal”, disse ele. “Todos nós mudamos. Todos nós nos aperfeiçoamos e podemos ser melhores no futuro.”

Bolsonaro também falou que a festa é mais do que o Bicentenário da Independência: 'É a democracia, a liberdade de um povo.' Foto: Wilton Junior/Estadão

“Com a reeleição, traremos para as 4 linhas todos os que ousam ficar fora delas”, disse o presidente da República, que no entanto evitou atacar frontalmente a Corte e os ministros. Durante o breve discurso, Bolsonaro também repetiu bordões de sua campanha eleitoral, como a suposta luta do bem contra o mal. Também fez críticas ao PT. “Sabemos que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. Um mal que perdurou por 14 anos no nosso País, que quase quebrou a nossa Pátria e que agora deseja voltar À cena do crime. Não voltarão! O povo está do nosso lado. O povo está do lado do bem. O povo sabe o que quer”, disse.

 “Pode ter certeza, pela graça de Deus, que me deu uma segunda vida, e pela graça de comandar o País, que atingiremos o nosso objetivo”, disse. “Começamos a mudar nosso Brasil. Veio a pandemia, lamentamos as mortes. Veio a errada política do ‘fique em casa’ e a economia a gente vê depois”. “Quando parecia estar tudo perdido para o mundo, o Brasil ressurge pungente. Com uma das gasolinas mais baratas do mundo”, frisou o presidente.

O presidente e a primeira-dama se beijaram em alguns momentos do pronunciamento.

O presidente e a primeira-dama se beijaram em alguns momentos do pronunciamento. Foto: Evaristo Sá/AFP

Assim como a primeira-dama Michelle Bolsonaro antes dele, o presidente deu conotação cristã ao discurso.Somos uma pátria majoritariamente cristã, que não quer liberação das drogas, que não quer legalização do aborto, que não admite a ‘identidade de gênero’, que respeita a vida desde a sua concepção”, disse ele.

“Podemos fazer várias comparações. Até entre as primeiras-damas. Não há o que discutir. Uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida. Não é do meu lado, muitas vezes está na minha frente”, afirmou.[com todo respeito ao nosso presidente, lembramos que ele erra na comparação; afinal,  a 'Janja', casada com o descondenado petista, é primeira-dama do que ou de quem? não é, nunca foi, nem nunca será.] A referência é a uma postagem antiga da mulher do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a socióloga Rosângela da Silva, Janja, na qual ela aparece ao lado de ícones representando entidades da umbanda.


                                                 @RenatoCGC

André Shalders e Vinícius Valfré - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Análise: Rejeição da Constituição no Chile é surra que desafia Boric e fortalece direita - O Globo

O presidente do Chile, Gabriel Boric, prestes a colocar na urna o seu voto para aprovar ou rejeitar uma nova Constituição Juan Carlos Avendano/ATON CHILE/AFP [o presidente chileno já foi processado por furto em supermercado.]

A aliança de governo deverá encarar uma provável reforma de Gabinete e uma inevitável negociação com a direita. Tudo isso, num contexto de desgaste da imagem presidencial. O panorama é preocupante para o Palácio de la Moneda, e alguns analistas em Santiago admitem que a violência poderia voltar às ruas do país.

Chilenos rejeitam por ampla margem nova Constituição com viés de esquerda

Chilenos rejeitam por ampla margem nova Constituição com viés de esquerda

Desinformação e erros
Como se chegou até aqui? Erros na comunicação, tanto do governo quanto da agora desativada Convenção Constitucional, desinformação, pouca autocrítica e demora em reconhecer os erros cometidos no processo. Os quatro fatores explicam, nas palavras da advogada Tammy Pustilnick, uma das independentes que integrou a Convenção, a crônica de uma derrota anunciada por todas as pesquisas que circularam nas últimas semanas. Ontem, senadores socialistas lembravam em redes sociais que “nós avisamos, e não nos ouviram”. Está claro que o até agora expressivo poder do poder do Partido Comunista, parte da coalizão de Boric, será questionado.

Numa fala sincera e angustiada, Tammy, mãe de dois filhos pequenos e uma das poucas integrantes da Convenção Constitucional que recebeu elogios da mídia e dos opositores do projeto, admitiu que está exausta e que os chilenos precisam, desesperadamente, de certezas. Ela lamentou que o conteúdo do projeto não tenha sido bem e detalhadamente explicado à sociedade. Até a véspera da votação, pessoas lhe perguntavam se a propriedade privada estava em risco e até mesmo se poderiam continuar indo à igreja. Houve ataques descontrolados e falhas graves.

A campanha de desinformação promovida pelos defensores da rejeição ao projeto foi feroz, na mídia e, principalmente, em redes sociais. Mas os erros dos defensores da aprovação também foram grandes. Isso fez, concluiu Tammy, que muitos chilenos tenham votado com medo e favorecido um resultado que está na contramão do que quase 80% dos que participaram no plebiscito a favor de uma nova Constituição demandaram. Uma consulta popular que foi possível graças à onda de manifestações que sacudiu o país em 2019.

Está claro que o projeto precisa de mudanças. Tanto que o próprio governo do presidente Gabriel Boric instalou o lema "aprovar para reformar". 
Os que pregaram a rejeição pegaram carona na campanha governista e promoveram, numa jogada inteligente, o "rejeitar para reformar".

Mundo - O Globo - MATÉRIA COMPLETA


domingo, 14 de agosto de 2022

Fascismo de araque - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

Dispostos a tudo para salvar a democracia, os heróis da resistência já mostraram que é preciso cortar o mal pela raiz. Nem que para isso seja necessário rasgar a Constituição 

Fascistas do mundo inteiro estão furiosos com o presidente brasileiro. Ele deu uma entrevista de cinco horas para um canal independente, falando abertamente sobre todos os assuntos, com uma audiência instantânea de meio milhão de pessoas. Assim não há fascismo que aguente.

Jair Bolsonaro em entrevista para um canal independente | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Jair Bolsonaro em entrevista para um canal independente | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Mas a resistência democrática no Brasil continua firme. Composta de banqueiros sensíveis, ladrões honestos, egoístas solidários, carreiristas conscientes, juízes partidários, lobistas empáticos, liberaloides iluminados e subcelebridades revolucionárias, a frente de resistência contra o fascismo deixa claro em seu manifesto (o documento mais importante desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem): o perigo permanece.

Dispostos a tudo para salvar a democracia, os heróis da resistência já mostraram que é preciso cortar o mal pela raiz. 
Nem que para isso seja necessário rasgar a Constituição, atropelar as leis, barrar a liberdade de expressão, instigar um novo atentado contra o presidente em filmes, discursos e performances —, impedir a atualização do sistema eleitoral e instaurar inquéritos ilegais para perseguir pessoas. Vale tudo para salvar a democracia do fascismo.
 
Mesmo assim, o comando planetário da ordem fascista está preocupado com o Brasil. A entrevista de cinco horas do presidente foi a gota d’água.  
Pegou muito mal nas altas esferas totalitárias essa história de ficar dando assunto para entrevistador. “Porra, isso é coisa de democrata!”, teria esbravejado o CEO da Fascismo S.A. 
A chapa esquentou mais ainda quando alguém informou que o líder da oposição democrática — que esteve preso por causa da ladroagem de um amigo dele não dava entrevistas quando era presidente.

“Isso desmoraliza o fascismo”, teria dito uma alta fonte da conspiração ditatorial. Alguém tentou amenizar, dizendo que o tal ex-presidente até dava uma entrevista ou outra, se fosse para jornalista amestrado. Isso não dissolveu, no entanto, o mal-estar no comando internacional fascista. Uma outra fonte logo assinalou que a entrevista de cinco horas do atual presidente não foi um fato isolado: ele era reincidente, já tendo cometido uma série de deslizes do tipo.

Alguém tentou amenizar, dizendo que o tal ex-presidente até dava uma entrevista ou outra, se fosse para jornalista amestrado

O que mais chocou os desavisados foi a revelação de que o presidente brasileiro instituiu uma rotina de cafés da manhã com toda a imprensa. “Isso é um escândalo!”, bradou uma alta fonte nazifascista, defendendo a imediata eliminação do traidor. Surgiu a ponderação de que o ritual tinha sido interrompido, e a alta fonte furiosa quis saber se o presidente do Brasil tinha então finalmente fechado os veículos de comunicação.

Com a informação de que o café da manhã foi suspenso porque as palavras do presidente ganhavam sentidos exóticos nas manchetes, mas que toda a imprensa do país continuou funcionando normalmente, sem qualquer interferência, o clima ficou ainda pior. E tinha mais.

Caiu como uma bomba a descoberta de que, durante três anos e meio, o governante brasileiro tinha sofrido ataques públicos em série — incluindo ameaças à sua vida — e não tinha censurado ninguém. “Onde esse homem está com a cabeça?!”, bradou irado o primeiro-secretário da Internacional Fascista. Alguém respondeu: “Ele está com a cabeça servindo de bola para encenações da sua decapitação”. “E os delinquentes já estão presos?”, quis saber o dirigente fascista. O interlocutor respondeu baixinho que ninguém tinha sido preso, nem punido.

A indignação da cúpula totalitária já estava batendo no teto, quando surgiu a informação de que, como se não bastasse, o chefe de Estado brasileiro tinha negociado suas medidas e reformas com o Parlamento sem uma única imposição autoritária. Aí o caldo entornou. “Esse cara vai desmoralizar o fascismo!”, explodiu uma alta fonte da Onda de Ódio. “Temos que substituí-lo já. Existe algum político no Brasil disposto a controlar a mídia, subjugar o Parlamento usando o Judiciário e sujeitar o mercado às rédeas do Estado?” “Tem o líder da oposição democrática”, respondeu encabulado um assessor. “Ok. Então vamos com ele.”

Leia também Lobby da seringa ataca a infância”

Guilherme Fiuza, colunista, Revista - Oeste

 

sábado, 30 de julho de 2022

O resgate do juiz - Rodrigo Constantino

Revista Oeste 

Antonin Scalia, magistrado da Suprema Corte dos EUA, nunca teve a pretensão de saber mais do que as leis 

Antonin Scalia, ex-juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons
Antonin Scalia, ex-juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos | Foto: Reprodução/Wikimedia Commons
 
Antonin Scalia foi juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos de 1986 até a sua morte, em 2016. 
Nomeado pelo presidente Ronald Reagan, Scalia foi descrito como a âncora intelectual do originalismo e do textualismo na interpretação da Constituição dos Estados Unidos. 
Eis aí alguém que os nossos “magistrados” do STF deveriam ler. “Enquanto os juízes mexerem com a Constituição para ‘fazer o que as pessoas querem’, em vez do que o documento realmente comanda, os políticos que escolherem e confirmarem os novos juízes, naturalmente, quererão apenas aqueles que concordam com eles politicamente”, disse Scalia. O juiz constitucionalista, afinal, não está ali para “empurrar a história”, mas, sim, para proteger a Constituição.

Se você for um juiz bom e fiel, você deve se resignar ao fato de que nem sempre vai gostar das conclusões a que você chega. Se você gosta delas o tempo todo, provavelmente está fazendo algo errado”, constatou Scalia. O juiz não está lá para impor a sua visão de mundo, mas, sim, para se ater ao que diz a lei.

Scalia foi o primeiro justice de origem italiana, e era um conservador originalista, ou seja, levava muito a sério a intenção dos “pais fundadores” ao legarem a Constituição como espinha dorsal da lei no país que criaram, em vez de considerar o documento um “organismo vivo” a ser moldado pelo modismo, ou pela “voz das ruas”. “As palavras têm significado. E o seu significado não muda”, dizia.

O juiz não está lá para impor a sua visão de mundo, mas, sim, para se ater ao que diz a lei

Católico, amante de ópera, dono de refinado bom humor e com uma postura de cavalheiro, Scalia foi casado por meio século com Maureen, com quem teve nove filhos. Scalia morreu aos 79 anos de idade, em 2016, num rancho no Texas, onde estava com outros membros de um grupo de caça. Um de seus filhos, Christopher, reuniu inúmeros discursos do pai, com a ajuda de um assessor, no livro Scalia Speaks, que engloba reflexões não só sobre o Direito legal, mas sobre a fé e uma vida bem vivida.

O prefácio foi escrito por Ruth Ginsburg, que também foi juíza da Suprema Corte e de inclinação “progressista”. As divergências ideológicas não impediram a amizade e o respeito mútuo entre ambos, algo que já serve como primeira lição para os tempos atuais, em que qualquer desacordo político já é pretexto para romper relacionamentos. Boas pessoas podem chegar a conclusões diferentes, e as instituições podem se beneficiar de tal pluralidade.

Além disso, o próprio Scalia gostava de desafiar crenças estabelecidas. Não por ser do contra, mas por entender que era fundamental inspirar nos outros a dúvida, o desejo de questionar suas premissas e de buscar a verdade. O processo de procurar a resposta, de pesquisar, é aquele que estimula a mente. Novas analogias ocorrem, novas avenidas se abrem, e os insights surgem por meio desse processo.

De origem italiana, Scalia também foi um grande patriota, e identificava os principais valores que representavam a América. Tinha humildade para reconhecer que os melhores de hoje, os mais bem-sucedidos, subiram em ombros de gigantes do passado. Ele entendia como é difícil criar uma grande sociedade, enquanto é muito fácil, por meio de intrigas bobas internas ou do fracasso de confrontar ameaças externas, perdê-la. A América merece ser preservada.

E quais seriam esses valores que fazem dela uma grande nação, e que os italianos teriam colaborado para alimentar? Em primeiro lugar, a capacidade de trabalhar duro; em segundo lugar, o amor pela família; em terceiro lugar, o amor pela igreja, ou a fé religiosa; e, por fim, como resultado dos demais, um amor pelos prazeres físicos simples da existência humana, como boa comida, música e, claro, vinho.

Scalia gostava de desafiar crenças estabelecidas. Não por ser do contra, mas por entender que era fundamental inspirar nos outros a dúvida

Com isso em mente, Scalia se sentia orgulhoso da herança cultural italiana, e mesmo assim se sentia 100% norte-americano. Imigrantes jamais deveriam ser ingratos com a América. Se trouxeram contribuições, também receberam muita coisa em troca. A começar pela tolerância para com essas diferenças, algo um tanto único nos Estados Unidos, um “caldeirão” cultural. E o que faz alguém norte-americano não é o sangue, o local de nascimento ou o nome, mas, sim, a crença nos princípios da liberdade e da igualdade de todos perante as leis.

Um dos pontos mais fortes da nação, para Scalia, é justamente o fato de pessoas com credos distintos, etnias diferentes, origens diversas, unirem-se em prol de ideais comuns e aprenderem não só a tolerar, mas a respeitar o outro. Mas nada disso pode ser tomado como garantido. Scalia lembrava que o progresso moral não segue o material, e que a Alemanha que produziu o nazismo foi a mesma que se destacava nas ciências, na filosofia, na música ou na educação pública. O fato de que o Holocausto ocorreu nesta nação deve servir sempre como alerta aos que confundem avanço científico ou material com valores morais ou espirituais.

Por mais que a América seja fruto do legado da Europa, Scalia também gostava de destacar as diferenças entre ambos, apontando valores que os norte-americanos tinham e estavam ausentes no continente europeu. A Constituição escrita pelos fundadores tinha como meta justamente impedir muitos dos equívocos que enxergaram no Velho Continente. A começar por um ceticismo bem maior em relação ao governo, buscando criar mecanismos de pesos e contrapesos para mitigar o potencial estrago causado pelo Estado.

Os meios para perseguir os fins é que variam bastante, e o diabo está sempre nos detalhes. Os norte-americanos demonstraram ao longo do tempo um apreço maior pela defesa das liberdades individuais, pela liberdade de expressão e religiosa, garantida na Primeira Emenda, pelo direito de ter armas, garantido na Segunda Emenda e que visava à proteção do povo contra o risco de tirania do governo.

O aspecto religioso também difere; enquanto a Europa se torna cada vez mais secular, os norte-americanos seguem conscientes daquilo que seus “pais fundadores” sabiam: que um povo livre precisa de um arcabouço moral, e que este depende da religião. John Adams, Benjamin Rush e George Washington enfatizaram inúmeras vezes a importância desse pilar para a sobrevivência da República.

Por fim, a importância vital do “rule of law”, um Estado de Direito em que todos devem responder às mesmas regras. Scalia citava em seus discursos um trecho de O Homem que Não Vendeu a Sua Alma, filme de Robert Bolt sobre Thomas More, em que o santo justifica o benefício legal até para o diabo. A passagem é memorável, pois More faz uma defesa incrível do império das leis dos homens, lembrando que não é Deus para julgar acima delas, e que atalhos ilegais para punir quem se sabe ser uma pessoa ruim colocam em risco o próprio arcabouço que protege os inocentes:

“Oh? E quando a última lei caísse, e o Diabo se virasse para você — onde você se esconderia, Roper, as leis estando todas abaixo? Este país está enraizado com leis de costa a costa — as leis do homem, não as de Deus — e, se você as derrubar — e você é o homem certo para isso —, você realmente acha que poderia ficar de pé contra os ventos que soprariam então? Sim, eu daria ao Diabo o benefício da lei, para minha própria segurança”.

Isso sim era um juiz de verdade! Scalia era um pilar do conservadorismo na Suprema Corte dos Estados Unidos. Ele nunca teve a pretensão de saber mais do que as leis, e jamais misturou sua importante função de aplicá-las com aquela dos legisladores, que as criam. Tal humildade demonstrava enorme força, ao contrário da arrogância autoritária de alguns ministros supremos brasileiros, que expõe somente sua fraqueza moral.

Leia também “A seita da urna eletrônica”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste


sábado, 2 de julho de 2022

Vitória tripla: contra ativismo judicial, em defesa da vida e da Constituição - Gazeta do Povo

Vozes - Cristina Graeml

Ativismo judicial, um dos maiores problemas atuais do Brasil, não é preocupação exclusiva nossa. 
Nos Estados Unidos, o aparelhamento da Suprema Corte com juízes progressistas, e a atuação claramente ideológica dessa ala do Judiciário, vinha minando a confiança na Justiça e atingindo em cheio a democracia.

 

Roe vs. Wade: juízes conservadores mudam jurisprudência abortista nos EUA

Mais do que isso: por causa de uma decisão equivocada do passado, movida a ativismo judicial na Suprema Corte americana, a vida humana estava entregue a mercenários abortistas e à imensa massa de feministas insensíveis e apoiadores do feminismo radical.

Durante quase cinco décadas, a turma regida pelo mantra "meu corpo, minhas regras" agiu livremente, matando a vida intra-uterina com o aval da Justiça, como se não houvesse no ventre daquelas mulheres em desepero com uma gravidez indesejada o corpo de um ser humano em formação.

Usaram e abusaram do "direito" de assassinar seus bebês por estarem, supostamente, garantidas por uma decisão judicial (Roe vs. Wade), num país onde os poderes, assim como no Brasil, deveriam ser independentes (jamais o Judiciário deveria legislar), onde leis estaduais têm mais força do que normas federais e, em muitos estados, o aborto é proibido.

Roe vs. Wade: ativismo judicial
O famoso caso judicial conhecido por "Roe vs. Wade" foi uma batalha judicial entre Norma McCorvey (nomeada Jane Roe no processo), contra Henry Wade, promotor no condado de Dallas (Texas), onde a mulher residia.

Grávida, Roe não aveitava ser criminalizada por matar o próprio filho, embora morasse num estado onde o aborto era proibido por lei. O promotor (Wade), defensor da vida, levou o processo adiante. A decisão, em 1973, coube à Suprema Corte, que achou uma brecha, numa entrelinha obscura da enxuta Constituição americana, e deu ganho de causa à mãe abortista.

Os juízes da época acabaram atingindo em cheio o direito à vida de várias gerações de americanos, além de ferir gravemente a Constituição do país e a própria democracia.   
Os Estados Unidos, como o próprio nome diz, são uma federação de estados. 
Lá cada estado tem suas leis e até mesmo uma Suprema Corte estadual. Mas o caso Roe vs. Wade, um clássico do ativismo judicial, reinou absoluto sobre a legislação e governou a questão do direito de matar bebês na barriga da mãe no país inteiro.

Na semana passada, em novo julgamento, a decisão foi revisada e o aborto, proibido. Na verdade, o recado dado pela composição atual de juízes da Suprema Corte americana, eminentemente conservadora, foi um sonoro "não" ao ativismo judicial, "sim" à vida e à Constituição.
Agora o Legislativo volta a legislar e os estados voltam a ter autonomia para decidir como querem tratar a vida intrauterina: como um amontoado de células sem direito a se desenvolver e virar um ser humano ou como um ser humano propriamente dito, uma vida em potencial, com direitos garantidos, a começar pelo direito de nascer.

Leis-gatilhos, discussões nos legislativos estaduais: os próximos passos depois de Roe vs. Wade cair     

Disputas pelo selo de “candidato do Bolsonaro” movimentam pré-campanhas nos estados

Cristina Graeml, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 9 de junho de 2022

Golpe nas eleições: ministro da Defesa cita artigo 142 da Constituição

Questionado sobre o assunto, na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, Paulo Sérgio Nogueira, apenas citou o artigo

O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, se limitou, nesta quarta-feira (8/6), a ler o Artigo 142 da Constituição quando questionado se as Forças Armadas apoiariam um eventual golpe orquestrado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).

 (crédito: Billy Boss/Câmara dos Deputados)

 (crédito: Billy Boss/Câmara dos Deputados)

Nogueira participa de uma audiência na Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, onde presta informações sobre temas polêmicos envolvendo militares.

Confira o artigo 142 citado pelo ministro:

“As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.”

Mais cedo, Paulo Sérgio Nogueira afirmou que as compras de viagra e de próteses penianas pelas Forças Armadas "atenderam todos os princípios de eficiência da Administração Pública".

"Como qualquer cidadão, os militares, seus pensionistas e demais usuários dos sistemas de saúde das Forças Armadas, têm direito a atendimento médico especializado. Assim, possuem acesso a consultas de qualidade e procedimento médico, hospitalar e dentário, para o qual contribuem mensalmente, e coparticipam de despesas em caso de procedimentos, exames e internações", afirmou o ministro da Defesa.

Política - Correio Braziliense


quarta-feira, 25 de maio de 2022

Afinal, Lula é inocente? - Gazeta do Povo

Thaméa Danelon

Um olhar sobre a corrupção - Ex-presidente

Todos os dias nos deparamos com informações paradoxais: por um lado, alguns jornalistas, políticos e “influencers” afirmam que o ex-presidente Lula foi inocentado pelo STF; de outra sorte, indivíduos afirmam que ele não foi absolvido pela Suprema Corte, logo, ele não seria inocente. Mas qual lado estaria com a razão?

Vamos recapitular os fatos: o ex-presidente foi processado criminalmente pelo MPF, em setembro de 2016, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, envolvendo o caso do tríplex do Guarujá. Em julho de 2017, ele foi condenado pelo ex-juiz Sergio Moro a 9 anos e 6 meses de prisão. Em janeiro de 2018, a condenação foi mantida pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) e sua pena foi elevada para 12 anos e um mês.

Posteriormente, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação, em abril de 2019. Um novo processo criminal foi aberto em maio de 2017, no caso do sitio de Atibaia, e Lula também foi condenado pela juíza Gabriela Hardt, em maio de 2019, a uma pena de 12 anos e 11 meses de prisão, sendo que essa condenação também foi mantida pelo TRF-4. Mais duas ações penais foram abertas contra o ex-presidente, e diziam respeito ao Instituto Lula.

O primeiro processo, do tríplex do Guarujá, galgou os quatro degraus de julgamento chegando ao Supremo e, em abril de 2021, o STF anulou esse caso e os outros três. Contudo, o STF não absolveu o ex-presidente Lula, ou seja, a Suprema Corte não afirmou que ele era inocente. Apenas desconsiderou o processo por supostas irregularidades formais ao entender que a Justiça da 13ª Vara de Curitiba não tinha competência (territorial) [tipo CEP errado.] para julgar os casos e também que Sergio Moro não seria um juiz imparcial.

Desta forma, constata-se que não houve a declaração de inocência do ex-presidente, logo não se pode afirmar que ele foi absolvido e nem que ele é inocente. 
Assim, a qualificação jurídica dele seria alguém que teve seus processos anulados por questões formais, e não a de um absolvido pelo sistema. Quem afirma que Lula foi inocentado se distancia da verdade, pois ocorreram condenações em três instâncias no caso do tríplex e em duas instâncias de julgamento no caso sítio de Atibaia.

Para entendermos melhor essa questão é necessário analisarmos o princípio da presunção de inocência. A nossa Constituição dispõe em seu artigo 5º, inciso LVII, que somente será considerado culpado aquele indivíduo que for condenado em última instância, ou seja, desde que haja o chamado trânsito em julgado. E o que seria isso? Significa que formalmente e juridicamente falando uma pessoa será considerada culpada quando houver uma condenação contra ela e não restar a possibilidade de oferecimentos de recursos no processo.

Contudo, eu entendo que esse princípio não é o mais adequado, e deveria ser reclassificado para “princípio da presunção de não culpabilidade”.  
Embora o nome seja um pouco mais complexo e por vezes incompreensível, vamos traduzi-lo. 
Imagine a seguinte situação hipotética: um policial presencia um indivíduo empunhando uma arma de fogo para uma senhora de 75 anos, exigindo que ela lhe entregue seu celular. 
Suponha que após a entrega do aparelho, o indivíduo armado desfira coronhadas na cabeça dessa senhora e ela, ao cair ao chão, é alvejada pelo mesmo agressor com três tiros vindo a falecer.
 
Ao testemunhar esse crime, o policial realiza a prisão em flagrante do indivíduo.  
Diante disso, eu formulo a seguinte questão: esse agressor é um inocente? Evidentemente que não!  
Embora ainda não haja uma investigação contra ele, nem um processo, nem mesmo uma condenação transitada em julgado, não se pode afirmar que é um inocente. 
Caso fosse inocente, não seria justo que ele fosse preso em flagrante, certo?

Por outro lado, também não podemos afirmar categoricamente que ele é formalmente um culpado, pois, de acordo com a Constituição, somente o seria após a existência de uma condenação transitada em julgado. Porém, sem dúvida, não é um inocente.

Em relação ao ex-presidente Lula, embora seus quatro processos tenham sido anulados, ainda que no meu entendimento não haja base legal para essas anulações, as provas da prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro não desapareceram.  
A anulação decretada pelo STF não apagou essas evidências. Os crimes de corrupção e lavagem de dinheiro praticados pelo ex-presidente não deixaram de existir, pois de fato eles ocorreram no passado.

A prova disso é que o ex-presidente foi  novamente processado na Justiça do DF pelos mesmos fatos. Contudo, o processo não teve início diante da ocorrência da prescrição desses crimes e não por conta de eventual não cometimento dos mesmos. 

 Assim, sendo esclarecida a questão, eu respondo ao título dessa coluna: não, Lula não foi inocentado.

Thaméa Danelon - Procuradora da República (MPF), coluna na Gazeta do Povo - VOZES 

 

 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

"Constituição exige que haja impessoalidade"

Alexandre Garcia 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acaba de se manifestar sobre as dúvidas e sugestões dos militares, que visavam a mais segurança, transparência e confiança no processo de apuração. 
Especializados em guerra cibernética sabem que não há segurança absoluta no mundo digital —, militares convidados pelo TSE para integrar uma comissão de transparência das eleições não permaneceram como espectadores passivos apenas para servir de avalistas do processo, mas fizeram muitas perguntas e sugeriram muitas ações que podem afastar as desconfianças de eleitores de quaisquer dos candidatos.

O TSE permanecera em silêncio sobre as sugestões, e até recusou pedido de um deputado para torná-las públicas. Semana passada, o ministro da Defesa sugeriu que tudo fosse divulgado. Apuração é um ato da administração pública e, como tal, precisa ter a publicidade exigida pelo artigo 37 da Constituição.

Nas respostas, o TSE burocraticamente negou tudo o que fora proposto. Coisas simples foram negadas com teimosia adolescente. Certamente frustrou os militares, que aceitaram o convite do Tribunal como uma oportunidade de ajudar.

O calor do ano eleitoral afeta os espíritos e as emoções exacerbam as posições a respeito. De um lado, o presidente da República a advogar transparência no processo, citando os precedentes da eleição Dilma Rousseff x Aécio Neves, e do passeio do jovem hacker português no sistema do TSE. Do outro lado, ministros do TSE, como Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, a não aceitar modificações num sistema que defendem como seguro.

As respostas de agora negando ações simples que dariam mais confiança a eleitores e candidatos, refletem um jogo de cabo-de-guerra. Entre os milhões de eleitores, formam-se torcidas de um lado e de outro, muitas vezes estimulando posições cada vez mais radicais. E os militares, de instituições permanentes de estado, estão no meio dessa corda, querendo e podendo ajudar.

As duas partes aparentemente antagônicas têm o mesmo senhor: o povo brasileiro. É possível que os personagens da contenda tenham em mente que estão servindo ao povo, e sabem que eleição é uma das ações mais sagradas do processo democrático. Para que não pairem dúvidas, como as que subsistem desde que o PSDB não conseguiu auditar os resultados de 2014, cada eleitor precisa entender como seu voto é contado e computado.

Por isso, foi sugerido um teste aleatório num maior número de urnas, inclusive as do modelo mais recente; que os TREs apurem nos estados, para não centralizar tudo num só lugar; e que o Legislativo fiscalize, que haja medidas para o caso de irregularidades e que se tenha o número de abstenções e brancos por seção. Nada disso foi aceito.

Questões pessoais, antipatias, não podem ser consideradas nessa disputa, mesmo porque a Constituição exige que haja impessoalidade. Tensões precisam ser esfriadas para que, racionalmente, se perceba que segurança e transparência interessam a todos que não estejam mal-intencionados.

Não parece que as respostas do TSE tenham vindo para aliviar as tensões. As sugestões dos militares que, embora sob o comando supremo do presidente da República foram convidados pela própria Justiça Eleitoral a participar da Comissão de Transparência, aparecem como uma oportunidade de solução para uma corda esticada.

O que pode distensionar a corda e dar aos brasileiros um fiador de alta credibilidade popular aos resultados das urnas.

Alexandre Garcia, colunista -  Correio Braziliense