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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Gilmar Mendes suspende transferência de Cabral para presídio federal de MS

Ministro do STF alegou na decisão que não há justificativa para transferir o ex-governador para a penitenciária sul-mato-grossense. Transferência havia sido autorizada pelo juiz federal Marcelo Bretas.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), concedeu um habeas corpus ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) para impedir que o peemedebista seja transferido para o presídio federal de Campo Grande (MS). 


A transferência foi autorizada pelo juiz federal Marcelo Bretas, responsável pela Lava Jato no Rio, depois de Cabral mencionar em uma audiência que a família do magistrado teria entrosamento com bijuterias. Bretas repreendeu Cabral, alegando que havia se sentido ameaçado. 


Segundo Gilmar Mendes, não há justificativa para a transferência e a informacão sobre as bijuterias foi levada à imprensa pela própria família do juiz, não demonstrando a ameaça. Outro pedido semelhante foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça na semana passada. Os advogados pedem que Cabral seja mantido na cadeia pública José Frederico Marques, em Benfica, na zona norte do Rio, até o Supremo julgar o mérito do habeas corpus. 


A defesa de Cabral alegou no pedido de habeas corpus que o próprio Bretas afirmou a um jornal que sua família atuava no ramo de bijuterias e, por esse motivo, não se tratava de uma “informação privilegiada”. Ainda conforme os advogados do ex-governador, há dez presos perigosos do Rio de Janeiro abrigados no presídio de segurança máxima de Mato Grosso do Sul, dentre os quais estão transferidos por Cabral quando era governador.

O pedido ao STF

No pedido ao STF, a defesa de Cabral nega que ele tenha ameaçado Bretas ao mencionar, em "autodefesa", que o magistrado tem familiares que trabalham no ramo de bijuterias.
"Se as declarações feitas pelo beneficiário desta ordem podem ser tidas como ácidas ou polêmicas, não se pode tomá-las como desrespeitosas ou ameaçadoras, como se tem entendido, e muito menos como ensejadoras de uma condição carcerária mais gravosa para o paciente, que precisa continuar no Rio de Janeiro, como dito, para melhor se defender dos 15 processos que por lá tramitam em seu desfavor", argumentaram os advogados. 

A defesa também anexou reportagem informando que estão presos em Campo Grande 10 presos "perigosos" do Rio, um deles líder do Comando Vermelho.
"A determinação ora combatida também se mostra temerária, volte a venia, por ser público e notório que o paciente, na condição de governador do estado do Rio de Janeiro, se empenhou pessoal e institucionalmente perante as autoridades competentes, para lograr a transferência de pessoas consideradas perigosíssimas7 à sociedade fluminense, justamente para presídios federais o que, decerto, poria em risco a sua integridade física e a sua própria vida", diz o pedido. 

Fonte: G 1 


 

 

sábado, 7 de outubro de 2017

Rumo aos 100%


A situação política e pessoal do ex-presidente Lula está cada vez mais parecida com o entulho que sobrou de um prédio em demolição, à espera do caminhão-caçamba que vem buscar os detritos. Sua defesa nos processos penais a que responde tornou-se uma humilhaçãocom documentos datados em 31 de junho ou 31 de novembro, a responsabilidade de tudo jogada o tempo todo sobre a mulher morta e as suas razões reduzidas a uma afirmação só: “Eu não sabia”. Ficou oito anos seguidos na Presidência da República, mas nunca soube de nenhum crime de corrupção, nem um só, entre centenas que foram praticados e já confessados por gente de seu governo. A carta aberta de seu homem de confiança, Antonio Palocci, é feia como uma fratura exposta. Achou que a população, organizada pelos “movimentos sociais”, iria em massa para as ruas e impediria a Justiça de expedir uma sentença de condenação contra ele. Não aconteceu nada. É como se tivesse olhado em volta de si para dar a voz de comando — e não havia ninguém para comandar.

Entraram para sempre na sua biografia, no papel de aliados íntimos,
criminosos como Sérgio Cabral, Joesley Batista, Marcelo Odebrecht, Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Antonio Palocci, todos na cadeia — isso sem contar a diretorzada da Petrobras que anda com tornozeleira para não fugir da prisão domiciliar. Vive cercado de advogados criminais, puxa-sacos e gente que não manda mais em nada. Não consegue fazer alianças com ninguém. Não tem ministérios para oferecer em troca de apoio. Não manda mais na Petrobras, não pode encomendar sondas para a extração de petróleo nem prestar serviços a empreiteiras de obras públicas. Não pode mandar o BNDES e os fundos de pensão das estatais dar dinheiro à JBS e a outras empresas amigas, ou amigas das amigas. 


Em suma: a vida está dura e com viés de ficar pior. O máximo que se consegue fazer por Lula no momento, ao que parece, são pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República. O número de eleitores que pretendem votar nele nas eleições de 2018 vai aumentando à medida que sua situação na Justiça se complica; quanto mais cartas de Palocci e recibos com datas inexistentes aparecem, mais votos ele tem nas sondagens. Ao ritmo atual, deverá estar chegando perto dos 100% do total na véspera de sua próxima sentença.

A ideia, pelo que dá para entender,
é fazer com que a Justiça, diante da prodigiosa quantidade de votos para Lula que os institutos anunciam, fique com medo de alguma “convulsão social” etc., anule sua condenação atual e outras que vierem — ou, então, troque de repente o baralho e decida que ele pode ser candidato à Presidência mesmo estando condenado. Não está claro se esse é um caminho promissor. Pesquisas de opinião não costumam mudar sentenças judiciais, mesmo na Justiça brasileira. O número de votos que dão a Lula também não aparece na rua — até agora, tudo o que o seu sistema de apoio conseguiu produzir em termos de manifestação popular foi o costumeiro ajuntamento de meia dúzia de ônibus fretados, militantes profissionais e distribuição de lanches ou camisetas vermelhas. É pouco, para a revolução que pretendem fazer. Parece ter havido um grande engano na coisa toda. Lula achou que o povo ficaria indignado com sua condenação, ou possível prisão. Mas o povo em geral não fica indignado com prisão nenhuma, muito menos com a prisão de um magnata como ele — que caiu na descrição genérica de “político ladrão” aplicada pela população brasileira a nove entre dez políticos deste país. É o contrário: o povo gosta quando algum peixe gordo vai preso. Fica indignado, isso sim, quando qualquer deles é solto.

Também parecem pouco promissoras, em termos de resultados práticos, as pesquisas segundo as quais a “popularidade” do juiz Sergio Moro “está caindo” ou que afirmam que ele seria “derrotado” por Lula num segundo turno das eleições de 2018. Mas Moro não está participando de um concurso de Mr. Simpatia; também não vai, menos ainda, disputar nenhuma eleição contra Lula. De que adianta dizer isso? Não dá para esperar deste pesqueiro os mesmos resultados que se esperam das pesquisas de “intenção de voto”. Aqui é a vida real. Vai sair uma sentença no tribunal regional que julga os recursos de Lula contra sua condenação; vão sair outras sentenças. E, se o ex­-presidente acabar condenado em definitivo, o “juizinho do interior”, formado na faculdade de direito de Maringá, vai ser considerado um dos maiores heróis que o Brasil já teve, digam o que disserem as pesquisas. É a vida.


Fonte: Revista VEJA - J. R. Guzzo

 

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Rocinha em guerra e Fora Temer no Rock in Rio? Maconha e pó põem AK-47 na mão de traficante

Ah, sim: parece que, em certas áreas da imprensa do Rio, favela voltou a ser chamada de “favela”. 

Como se sabe, naqueles doces anos cabralinos, em que as UPPs eram apresentadas como um milagre, e quase ninguém na imprensa ousava dizer o contrário, as ditas-cujas passaram a ter o epíteto de “comunidade”

Acabou neste domingo a sétima edição do Rock in Rio. Quem puxou o grito “Fora Temer” em algumas apresentações foram os artistas, não o público. A imprensa deu visibilidade para os protestos “arranjados”, e o canal MultiShow, da Globosat, emprestava à coisa ares de quase revolução.  Fica assim provado ser verdadeira a frase: há mesmo gente que não aprende nada nem esquece nada.


Quiseram as circunstâncias, que têm história, que o grande evento se realizasse ao mesmo tempo em que se dá a “guerra na Rocinha”. Aqui e ali, leem-se tolices cuja síntese poderia ser esta: “Enquanto a moçada pulava no Rock in Rio, o Brasil real entrava em guerra na favela…” Por que é uma tolice? Porque as duas coisas fazem parte do Brasil real.  Ou, se quiserem, os dois países são reais. Em um deles, articulam-se com eficiência iniciativa privada e Estado; no outro, faltou o Estado oficial, e a iniciativa privada foi capturada pelo Estado paralelo do crime.

“Fora Temer”? É mesmo? Vamos ver.


“Ozartistas”, esse grupo que anseia ser, no Brasil, uma categoria de pensamento, leram as respectivas denúncias — a primeira e a segunda —, analisaram os indícios apresentados, procederam a um exame técnico e legal do material produzido pelo Ministério Público Federal? Bem, as minhas perguntas são meramente retóricas. Todos conhecemos a resposta.  O “Fora Temer”, nas circunstâncias dadas, seria um golpe. Como aquele sonhado pelo general Hamilton Mourão. Tanto ele como “ozartistas” creem em soluções radicais, rejeitam os instrumentos da democracia e do Estado de Direito e acham que, sob o império das leis que temos, não há solução. “Ozartistas”, em suma, são o general sem uniforme. E o general é a versão “heavy metal” dos que rejeitam “tudo isso que está aí”.


Enquanto gritavam o mantra, mera adesão inercial a uma agenda ideológica que desconhecem, o pau comia na Rocinha. Foi o “Dentro Temer” que autorizou a intervenção do Exército, o que permitiu, diga-se, a realização do Rock in Rio, onde se gritou “Fora Temer”. Até outro dia, note-se, “ozartistas” que ora vociferam boçalidades estavam inteiramente entregues à agenda de Sérgio Cabral. Ou não fui o único na grande imprensa, ao longo dos anos, a lastimar a política de segurança pública do agora ex-governador amaldiçoado? [sem pretensões de ser parte da GRANDE IMPRENSA este Blog PRONTIDÃO TOTAL sempre se manifestou contra a política das UPPs e aos fartos elogios feito àquela política, a grande farsa do Beltrame.



Nunca “ozartistas” perguntaram para onde iam os traficantes que, em tese, fugiam das “comunidades”, como se dizia em carioquês, ocupadas.

Nunca “ozartistas” perguntaram como era possível “pacificar” favelas sem prender os líderes do narcotráfico.

Nunca “ozartistas” perguntam como se operava a mágica de supostamente ocupar território do tráfico sem dar um tiro.

Ao contrário:, aquilo era considerado um milagre da “Cidade Maravilhosa”, sob gestão estadual não menos “maravilhosa” de Cabral. Na campanha de 2010, Dilma prometeu levar o modelo de segurança do Rio para todo o Brasil.
  

Transcrevo um trecho do discurso daquela senhora: “A gente considera que o resultado da política aqui, dessa parceria do governo federal com o governo estadual, aqui, com o governador Sérgio Cabral, ela construiu uma referência no que se refere (!!!) à… No que se refere basicamente à… estruturação de uma política de segurança através das Unidades de Polícia Pacificadora. É transformar territórios em guerra em territórios de paz (…) 

Em muitos estados, não transferiram os chefes do crime organizado para as penitenciárias de segurança máxima. Aqui foi transferido. Os daqui estão em Catanduvas, Campo Grande e Mossoró. Com isso, o que é que acontece? Você tira do presídio os líderes e os cabeças e impede que os presídios sejam transformados em plataformas do crime (…)”


Onde estavam os que gritam, agora, “Fora Temer”, enquanto o Exército, por vontade de Temer, garante a segurança possível no Rio? Bem, acho que estavam votando em Dilma. Não custa lembrar a adesão dos veículos de comunicação do grupo Globo à política cabralina, não? Um grupo de cariocas chegou a lançar um movimento para que José Mariano Beltrame, então secretário de Segurança, recebesse o Prêmio Nobel da Paz.


Por que lembrar isso tudo? Em nome da responsabilidade.

O “Fantástico”, claro!, fez reportagens sobre o último dia do Rock in Rio. Uma delas tratava dos R$ 150 milhões que o governo federal deve investir no ano que vem num calendário de 100 eventos nas áreas de cultura, turismo, esporte e negócios. O conjunto deve atrair algo em torno de R$ 1 bilhão da iniciativa privada. O objetivo é aumentar o fluxo de turistas, aumentando emprego e renda. O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, estava presente ao encontro com empresários e políticos que tratou do assunto. Não teve fala sua no “Fantástico”. O programa, aliás, também noticiou as ações do Exército na Rocinha e a tomada do “bunker” de um traficante. Os ministros Raul Jungmann (Defesa) e Moreira Franco (Secretaria Geral) foram citados. Nada de lhes dar a palavra. Mas, é claro, ganhou destaque o “Fora Temer” durante apresentação de uma banda brasileira.


Ah, sim: parece que, em certas áreas da imprensa do Rio, favela voltou a ser chamada de “favela”. Como se sabe, naqueles doces anos cabralinos, em que as UPPs eram apresentadas como um milagre, e quase ninguém na imprensa ousava dizer o contrário, as ditas-cujas passaram a ter o epíteto de “comunidade”. O termo “favela” passou a ser considerado politicamente incorreto. Não dá mais para esconder: aquela fantasia está desmoralizada, assim como o governo Cabral, e o Rio está na lona. Então a comunidade” voltou a ser “favela”.


A propósito: queimar um baseado no Rock in Rio, cheirar uma carreira ou consumir uma “bala”, gíria para o ecstasy, são ações que põem metralhadoras e fuzis AK-47 nas mãos dos bandidos da Rocinha, que aterrorizam também os trabalhadores da Rocinha, que não têm dinheiro para ir ao Rock in Rio gritar “Fora Temer”.


 

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Na Corte do crime organizado

O diagnóstico do Ministro Raul Jungmann, da Defesa, sobre o Rio de Janeiro “um estado capturado pelo crime organizado” -, sob intervenção militar, aplica-se, a rigor, a todo o país.
A começar por Brasília.

O que a Lava Jato tem exibido, há três anos, com minúcias de detalhes, não é outra coisa senão a degradação institucional decorrente da presença de criminosos, autônomos ou em quadrilhas, em alguns dos mais altos cargos da República, nos três Poderes.  Não começou com Temer, que nada mais é que a continuidade do governo anterior, do PT, em que figurou como vice.

Tal como Dilma, Temer foi imposto ao PT por Lula como o vice ideal para o avanço da obra petista. Os dois primeiros mandatos de Lula prepararam a máquina estatal, via aparelhamento, para o estágio seguinte, que seria o início do processo revolucionário.
Tudo isso está nas atas do 5º Congresso do PT, realizado em Salvador, em 2015. Lula construiu as bases da aliança com os países bolivarianos, integrantes do Foro de São Paulo, aos quais brindou com financiamentos do BNDES, para obras de infraestrutura e reaparelhamento da força militar. Preparou o ambiente.

A Força Aérea venezuelana, reequipada com verba brasileira, possui jatos russos de última geração capazes de fazer o trajeto Caracas-Brasília em 30 minutos. Os nossos fazem em 3,30 horas.  Internamente, Lula rejeitou, de início, a proposta de José Dirceu de aliança formal com o PMDB. Optou por comprar apoio no varejo, estratégia que vigeu até o advento do Mensalão, denunciado, em 2005, por um dos parceiros, o deputado Roberto Jefferson, do PTB, que se sentiu logrado na repartição do butim estatal.

Lula, apesar do escândalo, reelegeu-se. Mas aproximou-se mais do PMDB, tornando-o parceiro preferencial, passando a dispor de maior espaço na máquina estatal, da qual não mais se afastaria.  No governo Dilma, a parceria formalizou-se. E Temer, que presidia o PMDB e já havia presidido a Câmara diversas vezes, foi o ungido. Como virtuose do fisiologismo, cumpriria, como de fato cumpriu, o papel de garantir a coesão do partido.
A esse projeto se associou, com entusiasmo, o então governador do Rio, Sérgio Cabral, mais próximo de Lula e Dilma que qualquer outro governador petista. O resultado é conhecido.

O ponto fora da curva, nessa parceria que parecia indestrutível, foi o choque entre Dilma e Eduardo Cunha no segundo mandato da presidente. Nem Temer conseguiu (ou quis) contorná-lo.  Dele, resultou o impeachment e o olho gordo do PMDB em abocanhar sozinho o poder. Mas o staff do partido que serviu a Lula e Dilma é o mesmo que serve a Temer – inclusive os ministros demitidos por denúncias de corrupção: Geddel Vieira Lima, Romero Jucá, Henrique Alves, que integravam o núcleo duro palaciano.

Os que estão na marca do pênalti, citados em delações – Eliseu Padilha, Moreira Franco, Helder Barbalho -, também serviram ao PT. Sarney Filho (PV) e Gilberto Kassab (PSD), embora de outras legendas, sentem-se (e são) parte da mesma família, desde Lula. Temer é, pois, coautor da herança maldita que administra. E até o ministro que escolheu para geri-la, Henrique Meirelles, é parte do legado. O que os distingue é que o PMDB não está comprometido com a causa revolucionária do Foro de São Paulo, o que explica a fúria de seus antigos aliados. Frustrou o projeto bolivariano.

O roubo petista ia além do simples propósito de tornar os seus agentes ricos (sem, claro, deixar de atende-los). Visava, sobretudo, à sustentação de um projeto criminoso – e permanente - de poder. O roubo do PMDB é o convencional. Atende às demandas pessoais do infrator. O do PT, por ter em vista a causa revolucionária, de unir o continente pela esquerda, banalizou o milhão e o bilhão.

Chegou ao trilhão – e quebrou o país. Mas não apenas. Os vínculos com o narcotráfico, em especial as Farc, explícito nas atas do Foro de São Paulo, inaugurou um período de leniência na legislação penal e de forte estímulo ao crime organizado. O Rio é o epicentro dessa ação. No período petista, o Brasil deixou de ser apenas corredor de exportação da droga; tornou-se o segundo consumidor de cocaína do mundo e o primeiro de crack. A inteligência do Exército já detectou que o país já é também produtor, abrigando aqui gente dos cartéis vizinhos.

O ministro Jungmann informou que o Estado Maior das Forças Armadas que se instalou no Rio e deve permanecer até o final de 2018 – constatou que ao menos dois países vizinhos, cujo nome, por motivos óbvios, não pode ainda citar (mas que todos sabemos ser Bolívia e Colômbia), incorporaram o lucro do tráfico ao seu PIB.  Tornaram-se narcocracias e, como tal, tornam mais complexo o desbaratamento do crime organizado. O Brasil hoje é um imenso Rio de Janeiro, cuja capital está na Esplanada dos Ministérios.

Fonte: Ruy Fabiano, jornalista - Blog do Noblat 



domingo, 16 de julho de 2017

Cabral 'contrata' ex-personal trainer preso em Bangu

A aparência abatida de Sérgio Cabral pode estar com os dias contados. Cabral "contratou" um personal trainer informal no presídio — se existisse a expressão, seria um "prisional-trainer".
 Polícia Federal/Reprodução
Paga R$ 30 por dia a um certo Baiano, um ex-personal de uma academia da Zona Sul que atualmente passa uma temporada em Benfica.
Os aparelhos de musculação são todos improvisados.

Fonte: Lauro Jardim - O Globo 

 

 

O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) declarou que cabe à oposição, não ao Planalto, providenciar o quórum necessário à realização da sessão para votar a denúncia que acusa Michel Temer de corrupção. “Se eles não colocarem quórum... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2017/07/14/votar-a-denuncia-contra-temer-nao-e-um-problema-do-governo-declara-padilha/?cmpid=copiaecola
Votar a denúncia contra Temer não é um problema do governo, declara Padilha... - Veja mais em https://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2017/07/14/votar-a-denuncia-contra-temer-nao-e-um-problema-do-governo-declara-padilha/?cmpid=copiaecola

sábado, 15 de julho de 2017

Temer e Lula, os irmãos camaradas


Lula acha Temer inocente. Ambos se acham vítimas de perseguição política e judiciária. Ambos sonham com 2018

“Você meu amigo de fé, meu irmão camarada (...)/Me lembro de todas as lutas, meu bom companheiro/Você tantas vezes provou que é um grande guerreiro/O seu coração é uma casa de portas abertas/Amigo, você é o mais certo das horas incertas/Às vezes em certos momentos difíceis da vida/Em que precisamos de alguém pra ajudar na saída/A sua palavra de força, de fé e de carinho/Me dá a certeza de que eu nunca estive sozinho.”

Essa letra de Roberto Carlos, composta há 40 anos em homenagem a Erasmo Carlos, me lembrou a camaradagem recente e de ocasião entre Lula e Temer. No fim de junho, Lula defendeu Temer para uma rádio do Acre: “Se o procurador-geral da República tem uma denúncia contra o presidente da República, ele primeiro precisa provar. Tem de ter provas materiais. Falo isso porque já cansei de ser achincalhado sem ninguém apresentar nenhuma prova. Não adianta dizer que a pessoa cometeu um erro. Até agora Temer é inocente. O Janot não provou nada”.

O ex-presidente Lula acaba de ser condenado por corrupção passiva a nove anos e meio de prisão e vai recorrer. O atual presidente Temer acaba de comandar manobras imorais na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para tentar se livrar da investigação mais grave já aberta contra um governante na história do Brasil. Ambos se consideram vítimas inocentes de delações ilícitas e mentirosas. Ambos se sentem vítimas de conspirações políticas e judiciárias, sem provas materiais.

Os brasileiros, no íntimo, não acreditam que a condenação de Lula pelo tríplex do Guarujá ou futuramente pelo sítio de Atibaia acabe resultando em prisão, mesmo que ele seja impedido de, como réu, se candidatar em 2018. Nem o juiz Sergio Moro ousou decretar prisão preventiva. E Lula já se prepara para sair em caravana no Nordeste. Os documentos sobre o tríplex e o sítio continuam a ser pouca coisa diante da corrupção na Petrobras e da escandalosa promiscuidade com empreiteiras como a Odebrecht e a OAS, envolvendo valores muito mais altos.

Os brasileiros, no íntimo, também não acreditam que o plenário da Câmara, no dia 2 de agosto, contrarie a CCJ e acabe mandando a denúncia contra Temer para o Supremo Tribunal Federal. É que, no íntimo, não se acredita mais em nada. São necessários 342 votos de deputados a favor de ao menos se investigar Temer. Ignorar a delação de Joesley Batista e tudo que circundou esse encontro – de malas de dinheiro a favores – desmoraliza a Lava Jato. Mas nossos representantes nem estão aí.

A camaradagem entre o PT e Temer já havia sido selada por Dilma Rousseff, quando o peemedebista foi escolhido para vice em 2014. Vale a pena ver de novo os vídeos de Dilma no palanque: “Eu tenho um companheiro de chapa, um vice que é uma pessoa experiente, séria (abraços, sorrisos, aplausos de todos e de Lula), que tem uma tradição política, que eu tenho certeza que saberá somar e me substituir à altura quando nós tivermos de viajar para fora do Brasil. O meu vice não caiu do céu, não é um vice improvisado. É uma pessoa competente e um homem capaz”. Lula ergue o punho, Temer também, junto com Dilma. “Um homem capaz de dialogar, de fazer consenso, sobretudo um homem leal, um grande brasileiro. Agradeço a meu parceiro de todas as horas, meu vice Michel Temer.”

Quem estava colado a Lula nesse palanque? Sérgio Cabral, outro amigo de fé e irmão camarada, rindo e fazendo coraçãozinho para a plateia. O mesmo que, agora, preso, enfrenta mais uma acusação, de chegar a ter US$ 120 milhões numa conta no exterior. Em depoimento formal à Justiça, chamou de “uma maluquice essa história de 5%” de comissão em cima de obras no Rio de Janeiro.

O “perseguido” Cabral disse ao juiz Marcelo Bretas, em tom de deboche: “Eu não matei Odete Roitman”. Uma alusão à novela da TV Globo Vale tudo, que conquistou o Brasil em 1988 e 1989. A morte de Odete Roitman (a vilã interpretada por Beatriz Segall) registrou 81 pontos no Ibope. A trama abordou “até que ponto valia ser honesto no Brasil”, disse um de seus autores, Gilberto Braga. Continua valendo tudo, menos ser honesto.

Todos os personagens do nosso presidencialismo de cooptação – e que se incluam aí Aécio Neves, seu relator de estimação da CCJ Abi-Ackel e o resto dos tucanos, bichos em extinção em cima do muro –, amigos de fé, irmãos camaradas, todos eles mataram Odete Roitman.  Mataram nossa crença em algum resquício de ética política. Se a Justiça, com suas instâncias e seus braços, da Procuradoria ao Supremo, não punir de verdade os ladrões de verba pública, que as urnas façam a limpeza em 2018. Que espanem a velha política do conchavo e da propina institucionalizada. Que a camaradagem passe a ser do bem.

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Bomba H na Lava Jato

Depoimento do petroleiro Renato Duque reduz a cinzas castelo de areia movediça das miragens de Lula

Ainda de acordo com essa teoria conspiratória em que o delírio se reúne à arrogância, à desfaçatez e ao cabotinismo em graus extremos, causam essa raiva feroz desses agentes do Estado as conquistas que favoreceram os pobres brasileiros nos oito anos das duas gestões de Lula e nos cinco anos, quatro meses e 12 dias dos desgovernos de sua afilhada, protegida e gerentona fiel Dilma Vana Rousseff Linhares. 

Esses podres burgueses teriam armado o golpe que apeou madame presidenta do poder federal por não suportarem mais pobres andrajosos viajando de avião como se fossem abastados e os métodos implacáveis contra a corrupção reinante na relação entre capital e burocracia estatal desde os tempos da colônia. Pois teriam passado a ser combatidos sem dó nem piedade pela Polícia Federal (PF) dos tempos em que era considerada republicana até o momento em que deixou de ser comandada pelo causídico Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça no primeiro mandarinato do máximo chefe.

A verdade dos fatos é que as divisões internas da PF, que vêm dos tempos da queda da ditadura militar com a eleição de Tancredo Neves e a posse de José Sarney na Presidência da República, de fato, a tornaram inexpugnável a ordens de cima. Até hoje, o órgão se divide entre os tucanos ligados ao delegado e ex-deputado federal Marcelo Itagiba; os petistas que prestaram inestimáveis serviços a José Dirceu e seus comandados petistas na documentação usada pelas bancadas do Partido dos Trabalhadores (PT) no impeachment de Collor e na demolição da boa imagem conquistada por Fernando Henrique no comando da maior revolução social da História, o Plano Real; e as viúvas de Romeu Tuma, o ex-diretor do Dops paulista que foi guindado a diretor da instituição e nela deixou marcas e devotados herdeiros. A verdade é que de Sarney até hoje nenhum presidente da República exerceu completo controle sobre a PF. Graças a essa divisão, não foram paralisadas investigações dos agentes federais por ordens de cima sob a égide do mensalão nem muito menos agora na Lava Jato.

A conjuntura internacional favoreceu tal “republicanismo”. O trabalho da polícia americana para desvendar a sofisticada engenharia financeira para tornar viável o atentado do Al Qaeda que demoliu as Torres Gêmeas em Nova York e quase fez o mesmo com o Pentágono acordou os ianques para a realidade de que não seria possível combater o terrorismo sem abrir guerra contra a disseminação da corrupção. Daí, fez-se um pacto internacional para combater a corrupção e caçar corruptos onde quer que eles estivessem. 

Foi nesse contexto que Fernando Henrique e seu ministro da Justiça, Renan Calheiros, assinaram a lei autorizando a colaboração com a Justiça, que seus alvos e sequazes apelidaram, talvez de forma irreversível, de “delações premiadas”. Dilma Rousseff e seu advogado de confiança no Ministério da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, não tiveram como não assinar o aperfeiçoamento dessa forma que se tem mostrado muito eficaz para identificar e processar larápios, de vez que a lei resulta de acordos internacionais que não tinham como não ser firmados. A repatriação de capitais no exterior obedece a uma lógica similar.

A chamada Ação Penal 470 foi o primeiro esforço para investigar, processar e prender criminosos do colarinho branco. Ao perceber que a velha regra da época dos coronéis conforme a qual só vão para o inferno prisional nacional os três pêspobres, prostitutas e pardos – começava a ser demolida. A arraia miúda festejou e aplaudiu. Tornou Joaquim Barbosa, relator do mensalão e depois presidente do STF, seu herói da vez. Só agora é possível perceber que, de fato, esse senhor tinha motivações ideológicas que permitiram que os verdadeiros mandantes da roubalheira continuassem intactos. 

O resultado final é lastimável. Mofam na prisão o operador Marcos Valério e alguns empresários privados do segundo time, enquanto toda a cúpula do primeiro governo Lula está à solta, pois um indulto da companheira Dilma foi tornado perdão da pena por seus amiguinhos do STF. Diante do petrolão, o mensalão é uma farsa de iniciantes nas artes cênicas. Até Zé Dirceu, condenado por ter delinquido enquanto respondia à Justiça preso na Papuda, acaba de ser liberado, graças à ação conjunta da trinca da tolerância formada pelos maganões do Direito torto Gilmar Mendes, Ricardo Lewandoswki e Dias Toffoli. Dos chefões políticos do mensalão na cadeia resta o insignificante e abandonado Pedro Corrêa.

Apesar do talento, da expertise em lavagem de dinheiro e da lisura do comandante da Lava Jato, o juiz Sergio Moro, não tem sido fácil encontrar provas que incriminem o chefão de todos os petistas, pilhados saqueando todos os cofres da República. A revista Época desta semana, em completa reportagem de capa de Diego Escosteguy, reproduz copiosa documentação que dá conteúdo às delações ditas premiadas que fundamentam os cinco processos penais e as seis citações de Luiz Inácio Lula da Silva na lista dos 78 da Odebrecht, que virou de Janot e, depois, de Fachin. No entanto, não falta quem o defenda dizendo que não bastam a coincidência e a lógica dos depoimentos para incriminá-lo. “Faltam provas”; teimam, insistem, persistem, não desistem e repetem.

O depoimento de Renato Duque é demolidor em todos os sentidos. Por sua origem, por exemplo. Quando Paulo Roberto Costa era o vértice das delações dos ex-diretores da Petrobrás, o ilibado professor Ildo Sauer, da USP, espírito de santo de orelha de Lula em matéria de energia e ex-diretor de gás da apodrecida cúpula da Petrobrás saqueada, garantia, em entrevista à revista de sua grei acadêmica e, depois, ao Estadão, que naquele corpo diretivo só havia dois dirigentes acima de suspeita, Renato Duque e ele próprio. E demolidor também pelas revelações feitas perante o juiz testemunhando que Lula sabia de tudo e tudo comandava e que Dilma Rousseff, a afilhada e sucessora, se preocupava com a hipótese de algum diretor da Petrobrás nas gestões dela ter dinheiro em contas no exterior.

Não vai ser com seu castelo em cima de areia movediça que Lula abalará a consistência das revelações de Duque. E mais: é possível que ainda haja material explosivo pronto para detoná-lo. O que não terão a dizer Eike Batista e Antônio Palocci que possa comprometê-lo? Lauro Jardim, em sua coluna no Globo, garante que Sérgio Andrade, dono da Andrade Gutiérrez, até agora protegido pelo sócio Otávio Azevedo, está negociando a própria “delação premiada”. Ele também terá muito a dizer, não só a respeito de Sérgio Cabral, em cujo processo depôs, ou aos investigadores das Operações Zelote e Lava Jato. E ainda a respeito da bilionária guerra das teles, assunto que até agora ninguém abordou. Como não está preso, não foi indiciado e mora em Lisboa, sua decisão desmonta a tese fundamental da defesa de Lula, Dilma, Palocci et caterva: a de que negociam redução de penas e, por isso, mentem. E agora, Luiz?

Fonte:  José Nêumanne - Transcrito da Coluna do Augusto Nunes - VEJA

 

 

domingo, 9 de abril de 2017

ENTENDA: Serra, Odebrecht, caixa 2 sem contrapartida e ação do MP

Outro trecho vazado da delação de Pedro Novis, ex-presidente do grupo, diz que recursos foram doados também à campanha de Serra ao governo de SP, em 2006

Reportagem de Bela Megale e Mario Cesar Carvalho afirma que Pedro Novis, ex-presidente do grupo Odebrecht, disse em delação premiada ter repassado € 2 milhões de caixa dois a José Serra entre 2006 e 2007. Mas sem contrapartida — vale dizer: não se trataria de propina em razão de algum benefício prometido ou proporcionado por Serra.

Já vazara que delatores da Odebrecht haviam repassado a uma campanha de Serra outros R$ 22 milhões, mas aí para a disputa de 2010. Nota: em 2006, o tucano disputou o governo de São Paulo e se elegeu no primeiro turno. Em 2010, foi derrotado por Dilma Rousseff na disputa pela Presidência. Também nesse segundo caso, não teria havido contrapartida. O senador nega irregularidades no caixa de campanhas nas duas disputas.

A doação de 2010, segundo Novis, foi depositada na Suíça nas contas dos empresários tucanos Ronaldo Cezar Coelho e Márcio Fortes. A de 2006 teria sido direcionada para a conta de outro empresário: José Amaro Pinto Ramos. Este, por sua vez, nega que o dinheiro recebido da Odebrecht tenha ido para a campanha de Serra. Diz que se tratava de pagamento de comissão por ter apresentado o grupo brasileiro à estatal francesa DCNS.

A questão da contrapartida
A ser verdadeiro, no que diz respeito a Serra, o conteúdo das delações, confortável, para ele, a situação não é, certo? Mas cumpre não cair na farsa, muito influente hoje em dia, de que todos os citados na Lava Jato são iguais. A menos que surjam evidências em contrário — e nenhum vazamento sugere isso — e sempre dando de barato que a acusação seja verdadeira, o fato é que Serra não é Sérgio Cabral. Aquele, com efeito, é acusado, em várias circunstâncias, de fazer negociata com interesses do Estado. E para o enriquecimento pessoal também.

A questão da “contrapartida” é fundamental e remete a um dos debates mais candentes no âmbito da Lava Jato. Como se sabe, inventou-se uma cascata de que o Congresso poderia querer votar uma anistia ao caixa dois. Trata-se de uma impossibilidade lógica. Não se anistia o que não é tipo penal — e, pois, não se anistia o que oficialmente não é crime. A questão só existe porque setores do Ministério Público pretendem tomar o caixa dois como sinônimo de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, peculato etc.

Leitura prática
Façamos uma leitura prática, objetiva, do “caso Serra”. Já sabemos que o Ministério Público não poderá denunciar o senador ao Supremo por “crime de caixa dois” — porque, reitere-se, não é tipo penal. Teria de optar por um dos outros crimes. Mas aí será preciso apresentar as provas ao tribunal, mas não as de que o caixa dois existiu, e sim as de que os outros tipos penais foram praticados. Se a tal “contrapartida” não ficar evidenciada, não se pode, por óbvio, tomar como prova a ausência de prova.

Até aqui ao menos, o caso Serra não se iguala ainda à relação do PT com a Odebrecht. Novis, segundo o vazamento, disse em delação que Serra não deu nada em troca do dinheiro do caixa dois. Pois é. Com os companheiros, era diferente, né? Marcelo Odebrecht confessou que R$ 50 milhões de estimados R$ 150 milhões de caixa dois para a campanha de Dilma, em 2014, eram uma contrapartida de uma Medida Provisória assinada por Lula, em 2009, que concedeu benefícios tributários à Braskem, do grupo Odebrecht, da ordem de R$ 2 bilhões.

Se isso for mesmo verdade e se comprovar, a denúncia por “caixa dois” também não pode ser feita. Mas é evidente que se está diante de um caso de corrupção passiva e peculato (no caso de quem era agente do estado) e corrupção ativa (o grupo empresarial). Nessa situação, o caixa dois foi o instrumento empregado para a prática daqueles crimes.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - VEJA


 

 

sábado, 8 de abril de 2017

Em delação, Eike vai dizer que deu propina a Lula e citar suborno a Sérgio Cabral

Lista Pronta

Eike Batista já entregou ao MP um breve resumo do que pretende delatar. No tópico mais explosivo, cita o pagamento de 2,5 milhões de reais como propina ao ex-presidente Lula, em troca de facilidades junto à Sete Brasil.

O empresário confessa ainda o suborno de 16,5 milhões de dólares a Sérgio Cabral. Em troca, o ex-governador atendeu a pleitos diversos de Eike.

Fonte: Radar On-Line 

 

 

quarta-feira, 8 de março de 2017

O doce purgatório do caixa dois

O andar de baixo faz suas declarações de Imposto de Renda e o de cima cria um atalho

Durante dois anos o PT ralou na sua descida pelos nove círculos do inferno. Tudo bem, porque tinha direito a essa excursão. Agora, às vésperas de uma nova lista do Janot, na qual brilharão estrelas do PDMB e do tucanato, aparece uma visão do purgatório, e ele se chamará caixa dois.

A melhor descrição do fenômeno do caixa dois veio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, numa nota em que defendeu sua prole tucana:  “Há uma diferença entre quem recebeu recursos de caixa dois para financiamento de atividades político-eleitorais, erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido, daquele que obteve recursos para enriquecimento pessoal, crime puro e simples de corrupção.”

São “dois atos, cuja natureza penal há de ser distinguida pelos tribunais.” Admita-se que os tribunais descobrirão uma maneira de distinguir a natureza penal do destino dado ao dinheiro. Em tese, o magano comprovaria com notas fiscais como gastou em sua campanha o milhão que a empreiteira lhe deu pelo caixa dois. Fora essa hipótese, só com mais uma verdade alternativa de Donald Trump.

A construção do purgatório mora na primeira ponta do argumento exposto por FHC. É preciso punir o uso do caixa dois, mas deve-se distinguir o que foi grana para a campanha ou para o próprio bolso. A ideia tem a beleza de um arco-íris, com sua mágica. Nele estão todas as cores, mas nunca se pode dizer quando uma acaba e a outra começa. O caso extremo de Sérgio Cabral é fácil. Usando dinheiro de propinas e achaques, fez-se um nababo e azeitou a máquina de corrupção que ainda hoje domina a política do Estado do Rio. Daí em diante, começam as nuances. Há até mesmo uma distinção essencial na classificação da fonte pagadora. O dinheiro pode vir da atividade legítima de uma empresa que usou mecanismos contábeis ilegais para esconder o dinheiro que deu ao candidato. Noutra vertente, o dinheiro pode derivar de uma propina. Entre esses dois extremos estão as cores do universo.

Todos os políticos apanhados nas listas das empreiteiras dirão que o dinheiro foi para o caixa dois de suas campanhas. Salvo nos casos mais grotescos, como o de Cabral, será difícil provar o contrário. Como o crime é amplo, geral e irrestrito, algum tipo de anistia votada pelo Congresso resolverá a questão, e assim safamo-nos todos. FHC diz que o caixa dois é um “erro que precisa ser reconhecido, reparado ou punido”. O primeiro passo para isso seria o reconhecimento, pelos próprios beneficiados, de que receberam pelo caixa dois o dinheiro já exposto pelos empresários. Feita a confissão, cada doutor pagaria uma multa proporcional à estimativa do que embolsou. Finalmente, o cidadão informaria que não incorporou ao seu patrimônio um só tostão, comprometendo-se a pagar pela mentira. Caso a Polícia Federal e o Ministério Público venham a provar a falsidade, ele vai para Curitiba.

Esse caminho preenche as condições postas por FHC de que o erro precisa ser “reconhecido, reparado ou punido”. Segundo um cidadão que entende de leis e põe gente na cadeia, não há como fazer isso sem tornar inelegível o candidato que confessou. A ver.
Terrível época para se criar o purgatório do caixa dois. Não se deram conta de que a turma que vive no caixa um está preenchendo suas declarações de Imposto de Renda.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista

 

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A lei e a irresponsabilidade social

Flor do jardim da responsabilidade fiscal, Paulo Hartung jogou luz sobre o valor de outras responsabilidades

Somando-se todos os seus mandatos, Paulo Hartung governou o Espírito Santo por dez anos e trabalhou duro no seu saneamento financeiro. Encarnou o respeito à Lei da Responsabilidade Fiscal e aquilo que chama de “o caminho capixaba”. O motim da Polícia Militar do estado mostra a necessidade da busca de algo impossível, uma lei da responsabilidade social. O prometido paraíso fiscal levou o Espírito Santo a viver dias de inferno social. 

Enfrentando o motim da PM, o governo de Hartung seguiu um modelo comum aos governadores que esticam a corda e, quando despertam, pedem socorro às Forças Armadas. Em 2012, num motim muito parecido com o capixaba, o governador Jacques Wagner chamou o Exército. Seis governadores já chamaram a tropa, e 22 unidades da Federação já expulsaram policiais militares e bombeiros. Parecem grandes defensores da lei e da ordem, mas é tudo teatro. Entre 2011 e agosto passado, o Congresso votou duas anistias para policiais e bombeiros que se meteram em pelo menos 33 greves e motins. Nas duas, o PMDB de Temer e Hartung apoiou as iniciativas. (Curiosidade: um militar que sofreu uma sanção disciplinar enquanto sua tropa federal estava mobilizada para conter um motim continua com a ficha suja. O PM foi anistiado.) Noutro motim, o dos bombeiros do Rio, o governador Sérgio Cabral foi o paladino da lei e da ordem. Hoje, ele está em Bangu. Pezão, seu vice e herdeiro, também chamou o Exército, depois de detonar a responsabilidade fiscal, a social e, quem sabe, a penal.

Hartung sustenta que não atende às reivindicações da PM, pois não tem dinheiro. Algum dia se saberá quanto custou a mobilização da tropa federal de três mil homens. A desordem que acompanhou o motim custou dezenas vidas e cerca de R$ 500 milhões à economia. Esse aspecto fiscalista das desordens não é o único.  Nesses motins e na forma como os governos estaduais reagem há uma irresponsabilidade social, impossível de ser legislada, mas possível de ser percebida. Os governadores não se previnem e, quando o caldo entorna, chamam o Exército. Quando tudo volta ao normal, deixam a anistia passar no escurinho do Congresso.

A doce figura de Milton Campos (1900-1972) governava Minas Gerais quando estourou uma greve provocada por salários atrasados, e um de seus secretários anunciou que mandaria um trem com soldados para a área.Não seria melhor mandar o trem pagador?”, perguntou o governador. Seria um exemplo de tibieza, mas esse adjetivo jamais poderá ser associado ao general Ernesto Geisel. Em 1975, ele enfrentava uma greve de fome de presos políticos por melhores situações carcerárias, e dois dos seus generais cuspiam fogo. (Entre os presos estavam dois condenados à prisão perpétua, três sequestradores e um dos terroristas que mataram um marinheiro inglês cujo navio visitava o Rio de Janeiro.) Geisel estudou a situação e informou: “Ceder a uma greve é duro, mas eu prefiro ceder.”

Se fosse possível redigir uma lei da responsabilidade social, os governantes seriam punidos quando criassem situações caóticas. Em nome da responsabilidade fiscal, Hartung acha que faz o certo, assim como Michel Temer acredita que deve reformar a Previdência e a legislação trabalhista de acordo com as tabelas de seus sábios. Planilha de Excel qualquer um faz. Administrar uma sociedade é bem outra coisa.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista

sábado, 4 de fevereiro de 2017

A nova rotina de Eike Batista

O duro e complicado dia a dia do empresário, que já foi o homem mais rico do Brasil e a sétima fortuna do mundo, no presídio de Bangu

Um homem precisa de um travesseiro. O travesseiro apoia-lhe a cabeça para dormir, o travesseiro aquieta-lhe o espírito justamente quando ele, o próprio espírito, agita-se e não deixa o homem dormir. Essa é a história da nova vida (nada boa) de um homem e de seu travesseiro de branca fronha.

Essa não é a primeira vez que um bilionário da lista daForbes” acaba na cadeia, mas é a primeira vez que a cadeia de Bangu recebe um bilionário da lista da “Forbes”. Como prisão jamais sobe de categoria, seja o seu hóspede pobre, rico ou remediado, é o nosso prisioneiro em questão quem despencou no status social e econômico. Eike Batista, eis o nome do homem do travesseiro. E do preso. Sob a acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e pagamento de propina de US$ 16,5 milhões ao ex-governador Sérgio Cabral, desde a segunda-feira 30 Eike é um dos três ocupantes da espremida cela 12 da galeria A da unidade prisional Bangu 9, no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro. A cela tem onze metros quadrados. Vale a conta do irrespirável: menos de quatro metros quadrados para cada preso. Bem diferente, mas bem diferente mesmo, da mansão de três mil metros quadrados na qual ele morava na zona sul carioca. Mais contas: cabem 272 celas na casa onde vivia. Agora, sobrevive. Como se disse, é irrespirável.

Em 1987, quando a revista “Forbes” estreou o seu rol dos homens mais ricos do mundo, entre eles figurava o megatraficante colombiano Pablo Escobar, fortuna estimada em US$ 3 bilhões. Como se sabe, Escobar e prisão viraram sinônimos. Em 2012 Eike brilhou na lista como a sétima fortuna mundial, riqueza com um zero a mais: US$ 30 bilhões. Só por curiosidade (ah, as coincidências do mundo), foi justamente no mesmo ano em que a “Forbes” soltou a sua primeira relação de bilionários que se começou a construir o Complexo de Bangu. Nada disso, é claro, atinge a reputação da publicação: ela existe há três décadas e somente dois famosos que a frequentaram derraparam tão feio.

Visita íntima, não já
Sérgio Cabral também está em Bangu, na unidade 8, destinada a quem tem curso superior. Eike não possui diploma, então foi alocado no pavilhão 9, que segundo as autoridades não abriga gente de facção – inimaginável pensar em cadeia no Brasil sem pensar em facções, mas fique-se com a explicação oficial. Que ninguém imagine, no entanto, que lá não é chapa quente: Eike vai conviver com milicianos, presos de grupos de extermínios e matadores de aluguel. São duras as duas horas diárias de banho de sol com tais pessoas, cuja atitude mais gentil é responder “bom dia por que?” a quem educadamente as cumprimenta. E Eike Batista, que já foi o homem mais rico do País quando comandava seu império “X”, é extremamente educado e gentil. Há outras diferenças da cela de Cabral para a do empresário, devido à ausência de diploma de curso universitário: no cubículo de Eike não tem chuveiro, só o cano que despeja água gelada; e não há vaso sanitário, apenas o buraco no chão, que os presos chamam de “boi”.


Como Eike Batista chegou a Bangu no meio da tarde, às seis horas já estava na cela e aprendeu o que se chama “confere”: ficar em pé para ser contado pelos agentes penitenciários. A contagem geral de presos “bateu”, 422 detentos, o empresário já incluído (a capacidade da unidade é para 541 homens). As sete da noite, impreterivelmente, as celas são trancadas. Assim aconteceu na segunda-feira, e nesse momento Eike foi informado que as sete horas da manhã elas são abertas e ocorre então outro “confere”. Eike dormiu mal na primeira noite, na cama (beliche) de alvenaria, em meio a uma Bíblia, sacos plásticos, garrafa d’água e outros objetos. Tudo ainda improvisado, mas já de uniforme. Na manhã seguinte tomou café com leite e pão, almoçou arroz, feijão, farofa e salsicha – o cardápio de Bangu, dependendo do dia, tem macarrão ou carne vermelha ou frango ou peixe, verdura, doce ou fruta. Como se vê, as refeições são na base do ou e não do e. É uma coisa ou outra. O tempo das mesas fartas evaporaram.

Eike tem direito a um ventilador de 30 centímetros de diâmetro e televisão de catorze polegadas, desde que a família os leve e apresente as notas fiscais. Aliás, falando em família, dentro de duas semanas ele poderá receber visitas todos os dias, menos às terças-feiras (três visitantes por vez); visita íntima, essa só bem mais para frente, e tem de ser autorizada pelas assistentes sociais. Já na semana passada, no entanto, veio-lhe apoio: seus filhos Olin e Thor, a esposa, Flávia, e a ex-mulher Luma de Oliveira postaram mensagens nas redes sociais, demonstrando-lhe toda solidariedade. Em uma das mensagens repetiam as frases de Eike que estão deixando muita gente com cabelo em pé: puro pavor de que ele tenha insinuado uma possível delação premiada quando declarou no aeroporto JFK, em Nova York, que “é hora de as coisas serem passadas a limpo, vamos mostrar como as coisas funcionam”. Voltemos, entanto, ao sono que mal veio na primeira noite, noite que lembra desconforto – e estranho e duro e áspero travesseiro.
A cabeça e o travesseiro
Sim, Eike tinha travesseiro, mas não o travesseiro no qual dormiu profundamente na classe executiva da aeronave da American Airlines, que o trouxe dos EUA para a cadeia. O travesseiro do voo era o dele, íntimo dele, leve e de pluma. Tornou-se companheiro constante, seguiu com o empresário para o IML, para o presídio Ary Franco e, de repente, quedou-se capturado na portaria de Gericinó. Eike, por onde passou, o levou, mas o acessório do bem-estar da cabeça e do espírito foi barrado em Bangu. Tinha sido a única exigência de Eike levar o travesseiro de plumas. Não conseguiu. É proibido. Presidiário tem de se contentar com o travesseiro da prisão quando joga o corpo na “comarca”, expressão que entre as grades significa cama. Até a cabeça de Eike se acostumar com esse travesseiro, até esse travesseiro pegar o jeito de sua cabeça, é natural que leve algum tempo.


Também algum tempo passará para que ele se habitue ao novo visual. Em algum momento, é bem provável que tenha pensado: “se era para alguém desfazer, porque que é que eu fiz?” Refiro-me não à riqueza, mas sim à perda de seus cabelos, implantados pelo caríssimo método Tricosalus. Deve ter doido muito, assim como perder o travesseiro, perder os cabelos artificiais que lhe davam até topete. Doeu voltar à calvície. Sejamos francos: ele não está sequer calvo, está mesmo é com careca de preso. O leitor talvez se pergunte por qual motivo colocou-se na história o detalhe da fronha. Simples: travesseiro de presídio, em todo o Brasil, é sem fronha porque é fácil usá-la para sufocar desafetos ou camuflar o rosto em rebeliões.

Fonte: Isto É

 

sábado, 28 de janeiro de 2017

A segunda queda de Eike Batista

A saga de Eike Batista, o empreendedor que sonhou em ser o homem mais rico do mundo fazendo negócios escusos em parceria com o ex-governador Sérgio Cabral 

>> Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana

Até quatro anos atrás, quando começou a desmoronar o império financeiro de Eike Batista, o empresário era visto como um caso raro de bilionário generoso no Brasil. Com aparente desprendimento, destinava parte de sua fortuna a causas ecológicas, hospitais e atrações culturais. Assim, ganhou fama de benevolente e passou a receber uma avalanche de pedidos das mais diversas ordens. Eike, mineiro de Governador Valadares, era particularmente mão-aberta em relação ao Rio de Janeiro, lugar que escolheu para morar. No total, desembolsou quase R$ 60 milhões na campanha para a cidade sediar a Olimpíada, no programa de despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas e no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A fama de empreendedor bem-sucedido de Eike já havia caído. 

Agora, o pedido de sua prisão, feito na quinta-feira, dia 26, pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal, fez com que caísse também a máscara de benfeitor desapegado. Como mostra a Operação Eficiência, um dos desdobramentos da Lava Jato cuja etapa anterior levou à prisão o ex-governador Sérgio Cabral e alguns de seus colaboradores, por trás do altruísmo de Eike havia um pesado jogo de interesses e ilicitudes. Ele adulava o Poder Executivo para obter vantagens – e vice-versa. Eike é um dos nove nomes cuja prisão preventiva foi determinada pelo juiz Bretas.


Na verdade, a relação estreita entre o empresário e o ex-governador do Rio era um espúrio toma lá, dá cá. No depoimento dado ao Ministério Público Federal (MPF) pelos irmãos doleiros Renato e Marcelo Chebar, que tiveram Cabral como cliente, Eike está envolvido nos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro. Na delação premiada dos irmãos Chebar, sai de cena o empreendedor dinâmico e emerge o operador de propina. Segundo Renato, há sete anos ele foi procurado por Carlos Miranda, homem de confiança do ex-governador, e pelo ex-secretário Wilson Carlos – ambos presos pela Lava Jato – para viabilizar o pagamento de US$ 16,5 milhões (R$ 52 milhões) de Eike para Cabral. Os delatores relatam com detalhes a manobra engendrada para a lavagem do dinheiro. Numa reunião na sede da EBX, holding do magnata, Flávio Godinho, àquela altura executivo da empresa de Eike e hoje vice-presidente de futebol do Flamengo, sugeriu que fosse feito um contrato de fachada para intermediação da compra de uma mina de ouro entre uma empresa de Eike e outra pertencente ao delator. Concluída a operação, o dinheiro pousou numa conta de Cabral no exterior.

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Leia também: >> Procuradoria acusa Eike de pagar propina a “agentes públicos”, no plural


 

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Sérgio Cabral não toma banho há quatro dias

Cena chocante 

O presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, visitou na semana passada o ex-governador Sérgio Cabral no conjunto penitenciário de Bangu.

Encontrou-o, naturalmente, muito abatido e desesperado. Cabral o recebeu assim: — Pelo amor de Deus! Peça pro Pezão mandar de novo um caminhão-pipa para cá. Quando tinha água em abundância, eu era festejado pelos outros presos. Agora, com água racionada, há quatro dias que não tomo banho com medo de ser fisicamente molestado por eles.

Fonte: Blog do Noblat - Jorge Moreno

 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

‘Je suis’ Sérgio Cabral

O detento de Bangu 8 ficará marcado pela corrupção, mas a essência de seus males estava na demofobia

O repórter Ruben Berta informou que em 2010 o então governador Sérgio Cabral mimou seu vice, Pezão, durante as festas de fim de ano hospedando-o no hotel Portobello, em Mangaratiba. As diárias saíram por R$ 5.600. O salário do anfitrião era de R$ 13,4 mil, mas isso não tinha importância.

Aquele réveillon poderia ter sido uma festa qualquer, mas durante o dia 31 de dezembro de 2009 uma chuva matou 46 pessoas na região de Angra dos Reis e outras 21 no estado.
Cabral estava na sua casa de Mangaratiba, a 60 quilômetros dos locais da tragédia. Seria uma viagem de poucos minutos em seu meio de transporte preferido, o helicóptero, mas só botou o pé na lama no dia 2, com uma frase emblemática: “Você jamais vai me ver fazendo demagogia”.

A demofobia foi a marca de sua passagem pelo Rio.  Em 2007 ele defendeu o aborto porque na sua opinião a favela da Rocinha era “uma fábrica de produzir marginal”. (Citou estatísticas erradas, mas deixa pra lá.)  Dois anos depois propôs que onze favelas do Rio fossem cercadas por muros de três metros de altura. (A voz solitária contra essa maluquice veio de um português, o Prêmio Nobel José Saramago.) Vendeu a ilusão de uma pacificação dos morros, quando sua única iniciativa foi a militarização do cotidiano nessas comunidades. (O fracasso do conjunto dessa obra foi reconhecido neste ano pelo seu marechal-de-campo, o secretário de segurança José Mariano Beltrame.)

No morro do Alemão, ocupado com uma coreografia digna da tomada das praias da Normandia no Dia D, ficou o teleférico, símbolo da conjugação da demofobia com a corrupção. Custou R$ 210 milhões num cenário de concorrências viciadas e desde outubro está parado. Foi lá que madame Christine Lagarde, diretora do FMI, sentiu-se “no Alpes”.

Graças à Polícia Federal e ao juiz Marcelo Bretas, Sérgio Cabral está em Bangu 8, vestindo uma camiseta verde. Carnavalizaram-se os deslocamentos do detento com faixas, fogos e festas. De uma hora para outra, Sérgio Cabral tornou-se o estuário de todas as reclamações. Vá lá, mas Cabral pareceu ser solução. Em 2010, 5,2 milhões de eleitores (66%) deram-lhe um segundo mandato. Quatro anos depois ele elegeu Pezão, o hóspede no hotel Portobello. O “Je suis Sérgio Cabral” foi um grito popular, tanto no andar de baixo como no de cima.

A declaração demófoba de 2010 foi amplamente noticiada (e até admitida).  Nem todo mundo sabia a extensão de suas relações com o empreiteiro Fernando Cavendish (o do anel da Van Cleef), mas os deputados da CPI do contraventor Carlinhos Cachoeira sabiam muito bem o que estavam fazendo ao blindá-lo.

O estouro das verbas de obras públicas foi exposto episodicamente. Era como se todo mundo soubesse que o bicho tinha quatro patas, orelhas imensas e tromba, mas achava-se que o elefante era bonitinho. Era, mas não deixava de ser um elefante, daqueles que comem 125 quilos de folhagem (verdinha) por dia.  A manada do PMDB comeu a lavoura do Rio, jantou no Alain Ducasse de Mônaco, quebrou o estado e fechou os restaurantes populares. O doutor era a peça reluzente e modernosa de uma máquina que sobrevive, intacta.  Cabral está em Bangu por corrupção porque demofobia não é crime. Para muita gente, é virtude.


Fonte: O Globo - Elio Gaspari, jornalista