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sexta-feira, 29 de março de 2019

O prisioneiro 126125

O prontuário do ex-ministro Geddel Vieira Lima revela que ele é indisciplinado, encrenqueiro e já foi punido por tentar subverter a ordem na Papuda


As visitas aos presos do bloco 5 do centro de detenção provisória da Papuda, em Brasília, começam às 9 da manhã, todas as quartas e quintas-feiras. Detido preventivamente há quase 600 dias, o ex-ministro Geddel Vieira Lima já conhece bem o protocolo. É permitido receber comida, bebida, alguns itens de higiene pessoal e até 150 reais em dinheiro por semana. Em 26 de junho do ano passado, um irmão de Geddel, Lúcio Vieira Lima, então deputado federal, lhe fez uma visita. Os dois se encontraram na sala do chefe de pátio, conversaram por uma hora e, emocionados, despediram-se com um abraço, como de costume. Lúcio dirigiu-se à saída, enquanto Geddel caminhava em direção à cela. Nesse momento ele foi informado de que seria submetido a uma revista íntima — procedimento em que o preso é obrigado a se despir completamente para que os carcereiros verifiquem se ele esconde algo no corpo. Ged­del protestou, indignado com o tratamento humilhante e injustificado. O episódio terminou em confusão.

Descontrolado e aos gritos, o ex-ministro tirou a camisa e a bermuda e, nu, avançou em direção a um dos agentes: “Quer ver meu pinto, seu p…?!”. Houve correria no pátio. Lúcio, que estava de saída, voltou para ver o que acontecia. Nervoso, o ex-ministro foi contido por um segundo carcereiro, vestiu-se e foi levado para o seu pavilhão, onde ficam os presos considerados vulneráveis, como políticos, idosos e os que são alvo de algum tipo de ameaça. Mas a confusão não terminara. A direção da penitenciária, informada sobre o episódio, determinou que Geddel fosse levado a uma delegacia de polícia e orientou os agentes a registrar queixa contra ele por crime de desacato à autoridade. Quando soube disso, o ex-ministro pediu desculpas aos carcereiros e propôs encerrar o assunto sem o boletim de ocorrência. Não foi atendido. Geddel ficou ainda mais irritado, avançou novamente sobre os carcereiros e acabou algemado.

Na delegacia, o ex-ministro preferiu ficar em silêncio. Disse que só daria sua versão sobre a acusação de desacato na presença de um advogado. A polícia abriu um inquérito. O salseiro ainda teria mais um desdobramento. De volta à Papuda, Geddel soube que seria punido com dez dias de isolamento, sem acesso à cantina, sem poder ver televisão e proibido de receber visitas. Em protesto contra a penalização, decidiu iniciar uma greve de fome. Alegou que não podia ingerir a mesma comida que os demais presos. Precisava comprar suas refeições na cantina. “O interno insiste em ter acesso à cantina”, registraram os agentes em relatório encaminhado à direção da penitenciária. Os carcereiros anotaram: “Como o fato narrado é incomum na rotina carcerária, fizemos um documento de controle de entrega de refeições e solicitamos que o interno o assinasse para que ficasse registrado que ele se recusa a receber a alimentação”. Geddel não assinou o documento e também rejeitou o banho de sol.

A história, contada no prontuário do ex-ministro, ao qual VEJA teve acesso, mostra a vida conturbada que ele tem levado na prisão. As 250 páginas que trazem anotações sobre a rotina do detento número 126125 compõem um dossiê com casos de indisciplina, como o descrito acima, laudos médicos e psiquiátricos, conflitos com outros internos, decisões judiciais, pareceres do Ministério Público, petição de advogados, movimentações e até um histórico das aulas frequentadas pelo ex-ministro. Geddel, de acordo com os carcereiros, tem problemas em lidar com a hierarquia e não costuma aceitar ordens. Com comportamento rebelde, vive metendo-­se em confusões. Em março do ano passado, ele estava na fila da cantina quando recebeu um esbarrão de um detento. O ex-ministro reclamou, disse que aquilo era desnecessário e que bastaria o colega pedir licença que ele o deixaria passar. O detento não gostou da lição de bons modos, voltou e deu outro empurrão em Geddel — e, depois, pediu licença. “Agora está bom?”, perguntou, em tom desafiador. O desentendimento quase terminou em briga. De novo, o caso foi parar na delegacia, onde o ex-­ministro acabou por não registrar a queixa de agressão, com a justificativa de que recebera um pedido de desculpa.

(...)

“Os documentos que recebi revelam que Geddel vem demonstrando comportamento inadequado, inclusive com fortes indícios da prática de crime e da tentativa de subverter a ordem e a disciplina penitenciárias.”
Leila Cury, juíza da Vara de Execuções Penais
 
Em outra anotação do prontuário, um agente conta ter percebido que o ex-ministro estava agindo de maneira estranha na cela. Por prevenção, decidiu-se fazer uma inspeção no local. Foram encontrados onze tipos de medicamento, mais de 200 comprimidos ao todo. Havia relaxantes musculares, calmantes, remédios para insônia e antidepressivos. Um laudo médico anexado ao dossiê constatou que “se todas essas substâncias fossem ingeridas em sua totalidade poderiam causar a morte”. O ex-ministro chegou a ser levado ao Instituto de Medicina Legal para ser submetido a um exame, mas não permitiu ser periciado por “determinação de seu advogado”. Com isso, não foi possível saber se seu comportamento estranho tinha alguma relação com a ingestão exces­si­va de medicamentos, como suspeitaram os carcereiros. Os remédios foram recolhidos, e até hoje não se tem conhecimento de como eles chegaram à cela.

(...)

“Geddel vem se comportando de forma indisciplinada e vem se recusando ao recebimento de parte das quatro refeições diárias (…), insistindo em ter acesso à cantina.”
Leila Cury, juíza da Vara de Execuções Penais
 
No fim do ano passado, a defesa de Geddel tentou pela última vez conseguir sua liberdade. Alegou que, com o término da instrução da ação penal, a prisão preventiva não mais se justificava. A procuradora-geral Raquel Dodge manifestou-se contra: “Para evitar o cumprimento da pena só lhe restaria a fuga, exatamente como fez recentemente o italiano Cesare Battisti, e essa opção não é mera conjectura, notadamente porque Geddel Quadros Vieira Lima já deu mostras suficientes do que, em liberdade, é capaz de fazer para colocar em risco a ordem pública e vulnerar a aplicação da lei penal”. O pedido de habeas-­corpus foi negado pelo Supremo Tribunal Federal. Nas alegações finais no processo, a procuradora-geral pediu que Geddel seja condenado a oitenta anos de prisão. A multiplicidade de atos criminosos de lavagens revela uma personalidade voltada ao crime, à lesão à moralidade, à administração da Justiça e da própria ordem econômica”, escreveu Dodge.

Médicos constataram que Geddel, ao ser avaliado no fim do ano passado, esta­va “muito deprimido e sem perspectivas de futuro”. Diante desse diagnóstico, a direção da Papuda retirou-o do isolamento absoluto e o colocou na cela com mais um detento. Há duas semanas, em sua aparição pública mais recente, Geddel, mais magro e abatido, prestou depoimento sobre um processo de improbidade administrativa. Ao todo, seus advogados já impetraram cinco pedidos de liberdade na Justiça, argumentando que a prisão do ex-ministro é abusiva e ilegal. Enquanto aguarda uma decisão da Justiça, Geddel passa o tempo lendo e concluiu um curso profissionalizante de “vendedor”. Parece ter melhorado. Foi aprovado em disciplinas como “relacionamento interpessoal”, “autocontrole”, “marketing” e “mala direta”. Sua nota foi acima da média: 8.

Publicado em VEJA de 3 de abril de 2019, edição nº 2628
 
 

sábado, 26 de maio de 2018

Empresário afirma ser dono dos R$ 51 milhões de apartamento em Salvador

Valor é parte de um montante de R$ 65 milhões pagos como propina, segundo o empresário baiano

Se até hoje, quase nove meses depois da apreensão pela Polícia Federal de mais de R$ 51 milhões em dinheiro em um apartamento em Salvador, os irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima não reivindicaram a propriedade nem deram explicações sobre a origem da fortuna, tem quem o faça. Diferentemente da Procuradoria-Geral da República, que afirma em denúncia que o dinheiro tem origem em propinas da construtora Odebrecht, o empresário baiano Carmerino Conceição de Souza acha que é dele.
Bunker - A Lava-Jato continuou produzindo cenas impressionantes em 2017: a Polícia Federal apreendeu 51 milhões de reais escondidos em um apartamento usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima, que está preso em Brasília (Policia Federal/Divulgação)


E diz mais: os R$ 51 milhões apreendidos no âmbito da operação Tesouro Perdido, em setembro, seriam parte de um montante de R$ 65 milhões que ele afirma ter repassado em dinheiro a um intermediário de Geddel – e do qual não recebeu a contrapartida acertada com o ex-ministro, uma carta-fiança da Caixa Econômica Federal para fundamentar um pedido de financiamento no valor de R$ 110 milhões junto ao BNDES. “Até hoje, não houve a aplicação”, disse.  Segundo Carmerino, a negociação foi acertada pessoalmente com Geddel “no final de 2012 ou início de 2013”, quando o ex-ministro era vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa.

Ele relata que o dinheiro foi entregue por um de seus sócios entre os meses de outubro e dezembro de 2015 na superintendência de Pessoa Jurídica na Bahia. À época, Geddel não estava mais na Caixa. Ele foi exonerado em dezembro de 2013.  Segundo o empresário, foram “mais de dez” entregas. “No total, foram 225 envelopes cheios de notas de R$ 50 e R$ 100, guardados em 19 malotes”, disse, citando as mesmas características do dinheiro apreendido pela Polícia Federal.

Carmerino afirma “acreditar” que tenha os recibos dessa transação. “De qualquer forma, deve ter imagem de câmeras de segurança mostrando as entregas dos malotes. Já pedi isso à Caixa, mas eles não me atendem. Quando chego lá, parece que sou um fantasma.”
Ele nega que a transação com Geddel tenha sido pagamento de propina. “Não tem por que pagar propina. Dei o dinheiro para receber a aplicação”, disse. Afirmando conhecer Geddel há pelo menos 20 anos, Carmerino disse não acreditar que o ex-ministro tenha agido de má-fé. “Se ele guardou esse dinheiro, é porque não tinha nenhuma maldade”, afirmou.

Segundo ele, os pagamentos “à Caixa” foram feitos em dinheiro porque é assim que suas empresas recebem da maioria de seus clientes. “Tratamos com muita gente ‘negativada’, que não podem usar a conta bancária. Por isso recebíamos muito em dinheiro. Mas estamos mudando isso”, disse.  O empresário se apresenta como presidente do grupo Polocal, holding que reúne mais de 30 empresas em 19 Estados, com cerca de 300 funcionários. As atividades do grupo vão da manutenção predial à venda parcelada de veículos. O faturamento anual, segundo ele, é de cerca de R$ 300 milhões.

Busca
Carmerino disse que após a apreensão dos R$ 51 milhões e a posterior prisão de Geddel, iniciou uma verdadeira peregrinação atrás do dinheiro. Procurou a PF em Salvador e pediu para visitar o ex-ministro, que está preso desde setembro no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília.  A PF o orientou a procurar a defesa de Geddel, o que foi feito diversas vezes e insistentemente, segundo o advogado Gamil Foppel. Em petição enviada à PF, cujo conteúdo foi revelado pela coluna Satélite, do jornal Correio, de Salvador, Foppel informa que o empresário “tem insistido em buscar contato com este peticionário e demais advogados do escritório, passando a proferir expressas ameaças contra a defesa técnica”.
“A insistência do referido senhor já tem causado estorvo ao normal funcionamento do escritório diante do número absolutamente elevado de ligações diárias (que superam o total de duas dezenas)”, escreveu o advogado.

Em resposta, Foppel orientou o empresário a procurar a PF “para que, perante a autoridade policial, ele pudesse esclarecer os fatos que julgasse pertinentes, notadamente sobre a sua alegada propriedade”. Ao jornal O Estado de S. Paulo, o advogado disse que as alegações do empresário, “são absurdamente mentirosas”.

Carmerino diz que também tem procurado o deputado Lúcio Vieira Lima (MDB-BA) e a Caixa, igualmente sem resposta. Sua intenção, diz, é apenas reaver o dinheiro ou receber a carta-fiança. “Só preciso que Geddel diga: ‘foi fulano de tal que pegou e, se esse dinheiro não aparecer na Caixa, esse cidadão vai ter de explicar o que fez com ele”.
“Com relação à denúncia apresentada, a Caixa Econômica Federal esclarece que irá apurar internamente as declarações do empresário e, se necessário, acionará os órgãos competentes”, afirmou a Caixa em nota. Procurado pela reportagem, o deputado Lúcio Vieira Lima não retornou os contatos.

O Estado de S. Paulo - Veja

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O que faz de Temer campeão em trapalhadas nos ministérios

Cristiane Brasil, Geddel Vieira Lima, Romero Jucá são algumas das nomeações polêmicas do presidente Michel Temer, segundo Augusto Nunes

O colunista de VEJA Augusto Nunes comenta no ‘Estúdio VEJA’ sobre as nomeações feitas pelo presidente Michel Temer que geraram polêmica. A mais recente foi a da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) para o Ministério do Trabalho. “Para um presidente que entende de Congresso, Temer é campeão em trapalhadas nos ministérios”, diz o jornal

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Jogos que exploram escândalos da política ganham adeptos no Brasil

Na vida real, aprende-se desde cedo que dinheiro não cai do céu. Mas, na realidade virtual, o dinheiro pode cair do alto de um prédio enquanto você tenta recolher todas as notas para encher sua mala com milhões de reais. Só tem uma questão: se não pegar a grana toda, você acaba em cana. Para seu alívio, neste caso, o xadrez também é virtual.
O jogo “Recupere o dinheiro de Geddel” tem como inspiração a intrincada situação jurídica do ex-ministro Geddel Vieira Lima, acusado pela Polícia Federal de ser o responsável por manter R$ 51 milhões em espécie em um apartamento em Salvador. Geddel nega envolvimento com esquema criminoso.

O game, lançado no final de setembro para o sistema Android e em breve para IOS, é criação de três jovens baianos: o analista de sistemas Ricardo Schimid, o designer Victor Hugo Castro e o músico Daniel Castro Barbosa. Na aventura eletrônica, depois de ser informado que a polícia descobriu seu “bunker” monetário, o personagem Gededel corre para tentar salvar o dinheiro. Start.

Para evitar a prisão de Gededel, o jogador deve resgatar todo o dinheiro, que cai em montantes variados, começando com moedas que valem R$ 5 mil e chegando até malotes com R$ 3 milhões. Além disso, é preciso desviar de objetos arremessados por vizinhos indignados com a corrupção – até um gato vira projétil.  As referências políticas não acabam aí: a trilha sonora em 8 bits, típica de games antigos, lembra a melodia do jingle de Geddel Vieira Lima, ecoado à exaustão na Bahia em todas nas suas candidaturas à Câmara. O original versava que o ex-ministro era “um nome forte no cenário nacional”. O criminalista Gamil Foppel, advogado de Geddel, atualmente preso, afirmou que enviaria uma nota sobre o game, o que não ocorreu até o fechamento da reportagem.  “Sou ligado em games desde criança. Na faculdade, comecei a criar jogos. Agora, estávamos desenvolvendo outro game quando surgiu esse caso. Paramos tudo pra fazer isso e a recepção foi ótima”, conta Ricardo Schimid, que tem 27 anos e diz que, até pouco tempo atrás, jamais dera muita atenção à política.

Agora ele dá – e acha que a sátira é a melhor forma de tratar do tema. “A política no Brasil virou comédia. É só ver como os programas de humor abordam a política. Nem precisam criar grandes roteiros, as histórias já são piada”, opina.


Política virtual
O game inspirado pelo imóvel-cofre atribuído a Geddel Vieira Lima, que em pouco tempo foi baixado por aproximadamente 5 mil usuários, é apenas um exemplo recente de jogos que ironizam personagens da política nacional, boa parte deles envolvida em denúncias de corrupção. [os jogos sempre atraem os políticos, especialmente os envolvidos com corrupção; foi através de uma empresa de fundo de quintal e que produzia games - gamecorps, de Lulinha, filho do Lula, que a família da Silva recebeu sua primeira propina;  quando a TELEMAR, atual OI, investiu na empresa do filho do presidente US$5.000.000,00 e com isto conseguiu que Lula modificasse um decreto, permitindo que a ex-TELEMAR comprasse a Brasil Telecom. SAIBA MAIS, CLIQUE AQUI] Entre aplicativos para dispositivos móveis e jogos para navegador da web, existem opções de games a mirar políticos das mais diversas legendas e ideologias. Um exemplo de diversidade surgiu da parceria entre os pequenos estúdios Nebulosa e Black Hole. Em 2016, eles lançaram o jogo de navegador “Super Impeachment Rampage”, que passou da marca de 500 mil jogadas.
  
STF também inspira jogos
“Ficamos torcendo pra virar febre, com ovadas em políticos de todos os partidos. A gente poderia sempre lançar uma versão atualizada do game”, caçoa Leal, que se diz “sem lado” e acha possível brincar com todas as vertentes políticas. “Com nossos políticos, o que não falta é inspiração. Ainda não brinquei com o Judiciário, mas bem que estão pedindo”.


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sábado, 7 de outubro de 2017

Rumo aos 100%


A situação política e pessoal do ex-presidente Lula está cada vez mais parecida com o entulho que sobrou de um prédio em demolição, à espera do caminhão-caçamba que vem buscar os detritos. Sua defesa nos processos penais a que responde tornou-se uma humilhaçãocom documentos datados em 31 de junho ou 31 de novembro, a responsabilidade de tudo jogada o tempo todo sobre a mulher morta e as suas razões reduzidas a uma afirmação só: “Eu não sabia”. Ficou oito anos seguidos na Presidência da República, mas nunca soube de nenhum crime de corrupção, nem um só, entre centenas que foram praticados e já confessados por gente de seu governo. A carta aberta de seu homem de confiança, Antonio Palocci, é feia como uma fratura exposta. Achou que a população, organizada pelos “movimentos sociais”, iria em massa para as ruas e impediria a Justiça de expedir uma sentença de condenação contra ele. Não aconteceu nada. É como se tivesse olhado em volta de si para dar a voz de comando — e não havia ninguém para comandar.

Entraram para sempre na sua biografia, no papel de aliados íntimos,
criminosos como Sérgio Cabral, Joesley Batista, Marcelo Odebrecht, Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Antonio Palocci, todos na cadeia — isso sem contar a diretorzada da Petrobras que anda com tornozeleira para não fugir da prisão domiciliar. Vive cercado de advogados criminais, puxa-sacos e gente que não manda mais em nada. Não consegue fazer alianças com ninguém. Não tem ministérios para oferecer em troca de apoio. Não manda mais na Petrobras, não pode encomendar sondas para a extração de petróleo nem prestar serviços a empreiteiras de obras públicas. Não pode mandar o BNDES e os fundos de pensão das estatais dar dinheiro à JBS e a outras empresas amigas, ou amigas das amigas. 


Em suma: a vida está dura e com viés de ficar pior. O máximo que se consegue fazer por Lula no momento, ao que parece, são pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República. O número de eleitores que pretendem votar nele nas eleições de 2018 vai aumentando à medida que sua situação na Justiça se complica; quanto mais cartas de Palocci e recibos com datas inexistentes aparecem, mais votos ele tem nas sondagens. Ao ritmo atual, deverá estar chegando perto dos 100% do total na véspera de sua próxima sentença.

A ideia, pelo que dá para entender,
é fazer com que a Justiça, diante da prodigiosa quantidade de votos para Lula que os institutos anunciam, fique com medo de alguma “convulsão social” etc., anule sua condenação atual e outras que vierem — ou, então, troque de repente o baralho e decida que ele pode ser candidato à Presidência mesmo estando condenado. Não está claro se esse é um caminho promissor. Pesquisas de opinião não costumam mudar sentenças judiciais, mesmo na Justiça brasileira. O número de votos que dão a Lula também não aparece na rua — até agora, tudo o que o seu sistema de apoio conseguiu produzir em termos de manifestação popular foi o costumeiro ajuntamento de meia dúzia de ônibus fretados, militantes profissionais e distribuição de lanches ou camisetas vermelhas. É pouco, para a revolução que pretendem fazer. Parece ter havido um grande engano na coisa toda. Lula achou que o povo ficaria indignado com sua condenação, ou possível prisão. Mas o povo em geral não fica indignado com prisão nenhuma, muito menos com a prisão de um magnata como ele — que caiu na descrição genérica de “político ladrão” aplicada pela população brasileira a nove entre dez políticos deste país. É o contrário: o povo gosta quando algum peixe gordo vai preso. Fica indignado, isso sim, quando qualquer deles é solto.

Também parecem pouco promissoras, em termos de resultados práticos, as pesquisas segundo as quais a “popularidade” do juiz Sergio Moro “está caindo” ou que afirmam que ele seria “derrotado” por Lula num segundo turno das eleições de 2018. Mas Moro não está participando de um concurso de Mr. Simpatia; também não vai, menos ainda, disputar nenhuma eleição contra Lula. De que adianta dizer isso? Não dá para esperar deste pesqueiro os mesmos resultados que se esperam das pesquisas de “intenção de voto”. Aqui é a vida real. Vai sair uma sentença no tribunal regional que julga os recursos de Lula contra sua condenação; vão sair outras sentenças. E, se o ex­-presidente acabar condenado em definitivo, o “juizinho do interior”, formado na faculdade de direito de Maringá, vai ser considerado um dos maiores heróis que o Brasil já teve, digam o que disserem as pesquisas. É a vida.


Fonte: Revista VEJA - J. R. Guzzo

 

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O que fará Raquel Dodge com as delações?

Conheça casos que serão revisitados pela procuradora. Governo teme o que dirá Geddel; Cunha quer negociar. Nova PGR monta grupo para fiscalizar todas as delações

É grande a expectativa no Planalto e na oposição quanto ao tratamento que Raquel Dodge dará a delações premiadas ainda no forno da Lava Jato. Os dois lados não sabem como a futura procuradora-geral da República tratará do assunto.  Para os colegas, a nova chefe já criticou a forma como o atual procurador, Rodrigo Janot, vinha conduzindo as delações. Ela chegou a anunciar que montará 1 grupo para fiscalizar o cumprimento dos acordos. Mas também tem se declarado uma defensora desse instrumento de investigação.

A procuradora-geral tem dito que, assim que assumir, na 2ª feira (18.set.2017), checará algumas delações acertadas por Janot. Serão revisitados os casos da Odebrecht, do ex-senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) e do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

DELAÇÃO DA J&F
Às vésperas de deixar o cargo, Rodrigo Janot anulou as delações de Joesley Batista, principal acionista da J&F (dono do frigorífico JBS-Friboi), e Ricardo Saud, executivo do grupo. O PGR ressaltou que a decisão não impede o uso de provas por eles apresentadas. Em tese, mesmo essa decisão poderá ser revista pela nova comandante da PGR.


DELAÇÕES NA FILA
Após o anúncio de Dodge como procuradora-geral da República, houve uma corrida de advogados para fechar delações premiadas. Há receio sobre como ela se comportará. O operador Lúcio Funaro foi 1 dos que conseguiram. Mas há outros ainda na fila:

  • Geddel Vieira Lima— preso junto com o ex-ministro, o advogado Gustavo Ferraz iniciou negociações com a Lava Jato. Já informou que pegou em São Paulo uma das malas de dinheiro encontradas no apartamento de Geddel. A PF acredita que, com sua colaboração, Geddel acabará delatando. O Planalto tem calafrios com essa hipótese;
  • Antonio Palocci— o ex-ministro da Fazenda negocia sua delação há meses. Começou disparando flechadas contra o PT e os ex-presidentes Lula e Dilma. Tem potencial para abrir fogo contra bancos e empresas ainda não arroladas na Lava Jato;
  • Ricardo Saud— o executivo da JBS é alvo da desconfiança dos donos da empresa desde que o grupo começou a perder os benefícios da delação premiada. Pode entregar todos os passos ainda desconhecidos de Joesley e Wesley Batista;
  • Eduardo Cunha— espera Raquel Dodge para voltar a negociar. É uma esfinge. Pode ajudar Michel Temer a desmontar a delação do operador Lúcio Funaro. Ou se tornar o tiro de misericórdia contra o Planalto.
 Fonte: FAP - Por Tales Faria, do Poder 360

domingo, 10 de setembro de 2017

Campeãs nacionais de corrupção

O depoimento de Antonio Palocci e as malas de dinheiro de Geddel Vieira Lima são voz e imagem do capitalismo de compadrio brasileiro. Como podemos nos livrar dele? 

O governo escolhe algumas empresas – as campeãs nacionais. Franqueia facilidades a essas empresas. Em geral, contratos milionários com estatais ou empréstimos camaradas de bancos do governo. Parte do dinheiro, invariavelmente, sai do Tesouro – do contribuinte. Em troca, as campeãs nacionais financiam as campanhas do governo, que assim se perpetua no poder. Em cinco frases, pode-se resumir assim o capitalismo de estado da era PT-PMDB. A academia americana já tem um nome para esse fenômeno: crony capitalism – em português, capitalismo de compadrio. Acrescentando-se a essa fórmula a vasta circulação de propinas, talvez os historiadores do futuro resumam a era Lula-Dilma-Temer em três palavras: capitalismo de compadrio corrupto.

Nos primeiros anos, parecia que o governo Lula seria lembrado pelos historiadores como um ciclo modernizador. De um lado, preservava as conquistas do período anterior – estabilidade da moeda e responsabilidade fiscal. De outro, aperfeiçoava aquilo a que, na era Fernando Henrique, se chamava de “rede de proteção social”, tornando-a mais eficiente e mais focada. Tudo isso respeitando a democracia tão duramente conquistada. O que o filósofo Renato Janine Ribeiro definiu como o tripé modernizador do Brasil – democracia, inclusão social, estabilidade econômica – parecia um consenso nacional.

Em algum momento do segundo governo Lula começou o retrocesso. Talvez tenha sido, como sugeriu o ministro Antonio Palocci em seu depoimento esclarecedor na quarta-feira (6), na descoberta do pré-sal. O governo viu aí a oportunidade de gerar dinheiro não apenas para melhorar a situação social do país, mas também para se perpetuar no poder. A troca de favores entre poderosos, tão típica do Brasil antigo, voltou a ser prática corrente. As malas de dinheiro encontradas no apartamento de Geddel Vieira Lima – que ocupou cargos de confiança nos governos Lula, Dilma e Temer – são imagem simbólica do capitalismo de compadrio corrupto.

Poucas vezes as entranhas de tal sistema ficaram tão expostas quanto nesta Semana da Pátria, em que os nomes das campeãs nacionais de corrupçãoOdebrecht e JBS – voltaram às manchetes. Como o país pode se livrar dessa cultura perniciosa? A Operação Lava Jato, que pela primeira vez na história brasileira processa e pune os grandes corruptos, é um começo. Mas não se trata apenas de um caso de polícia. É preciso acabar com os mecanismos que possibilitam o capitalismo de compadrio corrupto. O governo não pode ter tantos instrumentos para fazer escambo com empresas, nem tanta facilidade para burlar pareceres técnicos. Menos campeões nacionais e mais foco na inclusão social com estabilidade econômica. Menos empresas estatais, menos bancos estatais, menos bolsa-empresário e mais educação, saúde e segurança para os cidadãos. Eis um bom tema de debate para a campanha presidencial do ano que vem.

Fonte: Revista Época
 

 

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Guardar R$ 51 mi em dinheiro, comprar joias e gado ou ter conta na Suíça?

Quando a Polícia Federal estourou um ”cativeiro” em Salvador, libertando mais de R$ 51 milhões (R$ 42.643,500,00 e US$ 2.688.000,00) que estavam presos em caixas e malas, nesta terça (5), veio à tona uma preocupação importante destes tempos insanos: como manter a salvo o dinheirinho pelo qual muito político vendeu a alma, rifou o país e até suou a camisa?
 Foto - Divulgação
Foto: Divulgação... - Veja mais em https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2017/09/06/guardar-r-51-mi-em-dinheiro-comprar-joias-e-gado-ou-ter-conta-na-suica/?cmpid=copiaecola%20.&cmpid=copiaecola

A pergunta, claro, não tem uma resposta única. Depende do perfil do envolvido. O imóvel onde ocorreu a maior apreensão de dinheiro na história do país seria usado, segundo investigação da Polícia Federal, por Geddel Vieira Lima. Acusado de corrupção e cumprindo prisão domiciliar, foi ministro de Temer e de Lula. Ele faz o estilo ”cara-de-pau”, do tipo que nem pisca quando vai a um protesto gritar contra a corrupção, mas há opções para todos os gostos. Umas mais cômodas que outras, outras mais fáceis de esconder.

Manter dinheiro em espécie: Não é tão simples, uma vez que o valor máximo de uma nota no Brasil é de R$ 100,00. Pode ser, portanto, um trabalho hercúleo transportar a carga se ela estiver na casa dos milhões. Cuidado: pilhas de garoupas e onças-pintadas sempre rendem boas fotos para estampar a primeira página de um jornal de circulação nacional. Ou pior: a escalada de notícias do Jornal Nacional. João Batista Ramos (R$ 10,2 milhões), então deputado federal e bispo da Igreja Universal, e Roseana Sarney (R$ 1,3 milhão), então governadora do Maranhão, que o digam.

Guardar joias e ouro: Mais prático, é uma das principais opções do naco da elite brasileira que quer mandar riqueza para fora ou trazê-la para dentro sem despertar muitas suspeitas. Como existe um comércio ilegal desses produtos, há uma certa liquidez do ”investimento” – no que pese ele perder muito o seu valor assim que é retirado da loja. É a opção do coração de Sérgio Cabral, que teria gasto R$ 11 milhões com a aquisição de 189 joias. O ex-governador do Rio de Janeiro refuta a tese de lavagem de dinheiro e diz que os mimos foram comprados com sobras de campanha. O problema é que sempre tem uma H.Stern pronta para bater com a língua nos dentes e confirmar que vendeu sem nota fiscal.

Comprar gado: Bois têm sido, há muito, uma excelente saída para quem quer guardar dinheiro sujo. Primeiro, porque nosso sistema de controle de comércio de animais permite fraudes na compra e venda de animais. Além do mais, o boi é uma lavanderia de dinheiro ambulante, ou seja, dá para transferir para uma fazenda vizinha se ocorrer uma fiscalização ou tocar o investimento até outra cidade. Um exemplo de fã de explicações bovinas é o senador Renan Calheiros. Em 2007, para justificar-se diante das denúncias de que recebia recursos de um lobista de empreiteira para pagar a pensão a uma filha, ele apresentou documentos frios de que havia recebido esse valor através da venda de gado. O suposto comprador disse, contudo, que isso era história para boi dormir. O risco é, durante a engorda do gado, acabar sendo pego por usar trabalho escravo ou desmatamento ilegal.

Contas na Suíça: É muito mais fácil e prático passar um cartão, emitir um cheque ou fazer um DOC/TED do que buscar dinheiro em apartamentos e vender bois ou joias. Mas é preciso ressaltar que o país do chocolate, dos picos nevados e dos escritórios da ONU já não é mais tão seguro para isso – o Ministério Público de lá tem sido menos tolerante com recursos de origem criminosa. O grande exemplo de usufrutuário desse modelo é o ex-presidente da Câmara dos Deputados e hoje presidiário Eduardo Cunha que, um dia após ter dito que não possuía contas no exterior, recebeu um passa-moleque do MP suíço que mostrou que mentira tinha perna curta.

Mas comparado com o montante que o eterno Paulo Maluf mandou para contas na Suíça e na Ilha de Jersey, desviado da Prefeitura de São Paulo, as cadernetas de Cunha, as caixinhas de Geddel, as joiazinhas de Cabral e a vaquinhas de Renan são pó. Estima-se em mais de US$ 1 bilhão degredados e que esperam, um dia, poder voltar para casa. Assim também esperamos nós, paulistanos, que estamos com saudades deles.

Enfim, não precisa se preocupar. Para quem deseja privacidade a fim de curtir uns momentos íntimos com seu dinheiro, há várias formas de guarda-lo longe do olho gordo do povo. Se ele estivesse beneficiando seus devidos proprietários, o povo, estaria sendo torrado em loucuras, como garantir leite para crianças, pagar salários atrasados de professores, adquirir remédios para postos de saúde ou manter as bolsas de pesquisadoras que fazem nossa ciência.

Melhor que fique, portanto, bem guardadinho, nas mãos de quem vai transformá-lo em luxo, usá-lo para fazer mais dinheiro ou comprar algo que realmente importa, ou seja, outro político.



terça-feira, 4 de julho de 2017

Decisão de juiz que mandou prender Geddel viola a lei e a língua portuguesa. Infelizmente!

Leitura que o juiz Vallisney de Souza Oliveira faz do Artigo 312 do Código de Processo Penal está entre as coisas mais exóticas que já li. O juiz ainda manda um ”haverem provas”... Estamos fritos!

Vamos fazer um acordo, leitor amigo? Você se compromete, goste ou não do meu texto, a ler o despacho do juiz Vallisney de Souza Oliveira, que determinou, a pedido do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, a prisão preventiva de Geddel Vieira Lima. Acho que se trata de expressão de desespero, compatível com outras maluquices que estão por aí. Afinal, Rodrigo Janot havia prometido que ainda lançaria algumas flechas com o bambu de que dispõe. Obviamente, trata-se de uma tentativa de atingir o presidente Michel Temer, já que o preso do dia foi seu ministro.

Bem, vamos lá. Geddel é investigado na Operação Cui Bono, que o acusa, quando ocupava a Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, de ter atuado na liberação manipulada de empréstimos, em conluio com Eduardo Cunha, Lúcio Funaro e Fábio Cleto.  Notem que não direi uma palavra sobre a acusação e a investigação. Não disponho de elementos para afirmar se Geddel é culpado ou inocente. Tampouco o juiz Vallisney está a julgar o ex-ministro. Uma coisa é certa: dada a íntegra do seu despacho (aqui), a prisão preventiva é escancaradamente ilegal. A menos que haja elementos que desconhecermos a justificá-la.

Atenção! Reitero: eu não estou dizendo que Geddel é inocente. O que sustento, e o fará qualquer pessoa que emita um juízo técnico, é que a prisão é injustificada. “Ah, e se for mantida pela segunda instância?” Bem, meus queridos, subir o erro um andar não o torna um acerto.

Existem quatro motivos, e apenas quatro, para se decretar a prisão preventiva de alguém: a) risco à ordem pública; b) risco à ordem econômica; c) no interesse da instrução criminal (para preservar provas e testemunhas); d) garantia de efetividade da lei penal (evitar a fuga). É o que dispõe o Artigo 312 do Código de Processo Penal. O juiz vê a presença das quatro condições. Será mesmo?

Atenção! O que quer dizer “risco a ordem pública e econômica”? A evidência de que o investigado está cometendo, no presente, novos crimes. E isso o que diz Vallisney sobre Geddel? Vamos à sua decisão? “mesmo após a saída da Vice-Presidência exercida na CEF, o investigado GEDDEL VIEIRA LIMA continuou a interferir na Caixa Econômica Federal indevidamente, utilizando-se de sua influência política e que prosseguiu em negociações ilícitas em desfavor da referida empresa pública. No ponto, relata LÚCIO BOLONHA FUNARO: ‘Que a última operação de crédito viabilizada pelo declarante foi de uma linha de crédito no valor de R$ 2,7 bilhões para a compra da ALPARGATAS ocorrida em dezembro de 2015; QUE nesta época GEDDEL já havia saído da vice-presidência, mas continuava controlando-a’ Ou seja: em data recente, mesmo fora do cargo na CEF, GEDDEL VIEIRA LIMA demonstrou poder de influenciar as operações bancárias, estando presente a necessidade da prisão para assegurar a ordem pública.”

Só não direi que é coisa inédita porque não há mais ineditismo na Lava-Jato em matéria de desmando. Ora, se o que se diz sobre Geddel é verdade é se, mesmo fora da CEF, ele continuou a interferir no banco público, que isso seja considerado na hora da sentença e na dosimetria da pena. Afirmar que ele segue sendo um risco à ordem pública hoje porque continuou delinquindo em 2015 é de exotismo teórico ímpar. Parece mesmo que PF, MPF e setores do Judiciário estão dispostos a testar os limites das instituições.

O juiz avança e diz que Geddel, se solto, pode procurar escamotear o dinheiro irregular que teria arrecadado, caracterizando risco à ordem econômica. Seria cômico se não fosse trágico — e é trágico para o direito. A operação Cui Bono foi deflagrada no dia 13 de janeiro, há quase sete meses. Geddel deixou a diretoria CEF em dezembro de 2013. E PF e MPF vêm dizer agora, com a concordância de Vallisney, que, solto, o ex-deputado e ex-ministro pode maquiar o produto das ações ilícitas? Ora, a essa altura, a coisa já estaria feita. De novo: seria elemento a agravar a sua pena.

Geddel também estaria pondo em risco a instrução criminal. Como? Ao telefonar para a mulher de Lúcio Funaro. E Vallisney recorre ao testemunho do bandido preso, a saber: “QUE estranha alguns telefonemas que sua esposa tem recebido de GEDDEL VIEIRA LIMA, no sentido de estar sondando qual seria o ânimo do declarante em relação a fazer um acordo de colaboração premiada; QUE também chamou a atenção do declarante o monitoramento feito do seu estado de ânimo dos escritórios de advocacia…”

Geddel ameaçou a mulher de Funaro? Há evidências disso? Se há — e não está no despacho do juiz —, existe motivo para a preventiva. O simples telefonema não significa absolutamente nada. Geddel não estava sob medida cautelar nenhuma que o impedisse de telefonar para quem quer que fosse.

O juiz não tem dúvida: se Geddel ligou para a mulher de Funaro e, reitero, o conteúdo da ligação não é revelado —, então é sinal de que ele pode ameaçar familiares de outros envolvidos na operação. A peça, com a devida vênia, sobe alguns graus na escala do delírio.

Estupro à língua
Achando que o estupro ao direito era pouco, o juiz também resolveu violar a língua portuguesa e mandou brasa:
“Todas essas circunstâncias apontadas convencem-me de que a prisão de GEDDEL LIMA é medida que se impõe, por haverem provas, até o momento, de sua participação no supramencionado esquema ilícito, havendo o perigo de que se permanecer solto possa atrapalhar as investigações na Operação Cui Bono e, indiretamente, no Processo n. 60203-83.2016 (Operação Sépsis)  (…)

Bem, meus caros, algo de realmente grave se passou com o Brasil quando um juiz com a importância de Vallisney detona, sem piedade, a gramática do verbo “haver”, que, no sentido de “existir”, coitadinho!, é impessoal. Assim, obriga a gramática que o juiz escreva., “por haver provas”, nunca “por haverem provas”.

“Ah, Reinaldo, prefiro um juiz que viole a língua a uma que viole a lei”. Ora, se me fossem dadas apenas essas alternativas, eu também preferiria. Ocorre que o despacho de Vallieney viola das duas.  E não se enganem: um juiz federal escrever “haverem provas” indica um estágio de leitura — inclusive das normas do direito. E também indica que podemos estar todos fritos. Inclusive os honestos.

 Leia também:  Juiz Vallisney, o Sérgio Moro do B, manda prender Geddel. É uma das flechas de bambu de Janot

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
 

terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Confissões da Odebrecht

É na Bahia, onde há nove décadas o grupo constrói sua identidade, que se espraiam os efeitos mais corrosivos das delações entre famílias, amigos e vizinhos

É na Bahia onde se espraiam os efeitos mais corrosivos das confissões da Odebrecht, validadas ontem pelo Supremo — consequência natural da identidade baiana construída há nove décadas pela família controladora do grupo. Salvador, capital da colonização escravocrata, concentra ansiedade pública pelas revelações dos Odebrecht e seus executivos sobre corrupção. Prevalece a convicção de que devem se refletir em mudança de rumos da política e dos negócios no estado. 

O clima é similar ao observado em Brasília. Com agravantes derivados da atenção pública aos ruídos de embates familiares, entre eles, os do patriarca Emílio, herdeiros e o filho Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba. Repete-se no condomínio praiano de Interlagos, onde partilham a beira-mar o ex-diretor da Odebrecht em Brasília, Cláudio Melo Filho, o ex-ministro do governo Temer Geddel Vieira Lima e os publicitários das campanhas de Lula e Dilma, João Santana e Mônica Moura. 

A relação Cláudio e Geddel, contou o executivo à Justiça, “era muito forte”, bem além da simples vizinhança: “Geddel recebia pagamentos qualificados, e fazia isso oferecendo contrapartidas claras.” Conversavam bastante — contaram-se 117 ligações num único ano. Geddel era “Babel” na planilha de pagamentos.  Vizinhos deles na praia, os publicitários João e Mônica também compartilhavam a folha Odebrecht. Receberam US$ 24 milhões nas campanhas de Lula (2006) e Dilma (2010 e 2014), confessou Vinícius Borin, responsável pelos repasses no Meinl Bank, em Antígua. 

O casal foi recompensado com outros US$ 5 milhões por Eike Batista, preso no Rio. Eike pagou-os pela conta panamenha da Golden Rock, que também usou para repassar US$ 16,5 milhões ao ex-governador do Rio Sérgio Cabral. Nesse circuito sobressaem expoentes de uma elite republicana moldada em vícios típicos do Brasil colonial, descrito pelo poeta Boca do Inferno, o advogado Gregório de Matos, na Salvador onde tudo se permitia aos amigos do rei: 

“Furte, coma, beba e tenha amiga,
Por que o nome d’El Rei dá para tudo
A todos que El-Rei trazem na barriga.” 

Desde então, sob o manto do foro nobre, multiplicam-se histórias de impunidade. Nele pouparam-se, entre outros, fidalgos como Fernão Cabral, que lançou viva na fornalha de seu engenho uma escrava grávida do “gentio do Brasil”, conta o historiador Ronaldo Vainfas.

O resguardo em foro especial, atenuante na Justiça e na Igreja da Colônia, prossegue. Ano passado, Dilma aplicou-o a Lula, levando-o à Casa Civil, no lugar de Jaques Wagner.
Ex-governador da Bahia, Wagner seria “Polo” na folha da Odebrecht, com US$ 11 milhões recebidos. Do total, US$ 8 milhões sustentariam a eleição do sucessor, o governador Rui Costa, segundo Melo Filho. Em troca, “Polo” pagou à empresa uma fatura pendente de US$ 85 milhões, valor sete vezes maior. 

Na sexta-feira 20 de janeiro, o governador Costa fez Wagner secretário de Desenvolvimento. No mesmo pacote nomeou o engenheiro Abal Magalhães para a Companhia de Desenvolvimento Urbano. Precisou demitir Magalhães 24 horas depois. Descobriu que ele militava em redes sociais qualificando Wagner como integrante de “quadrilha” do PT financiada pela Odebrecht. E repetia: “#lulanacadeia”, “#dilmanacadeia”

Fonte: José Casado, jornalista - O Globo
 

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Operação da PF envolvendo a Caixa mira ex-ministro Geddel Vieira Lima



Ele era vice-presidente do banco e mantinha ligações com o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha 

Operação deflagrada pela Polícia Federal nesta sexta-feira (13), denominada "Cui Bono", que investiga irregularidades na concessão de empréstimos feitos pela Caixa, tem com um de seus alvos o ex-vice-presidente do banco e ex-ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima. A operação só não foi deflagrada antes porque, como ministro, Geddel tinha foro privilegiado. 

A  identificação de mensagens telefônicas entre o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e Geddel deu origem à investigação. 

Fonte: Época

Leia também:  Ex-ministro ainda está inconformado com demissão

 

 

domingo, 20 de novembro de 2016

Calero deixa a Cultura atirando contra Geddel; acusação é grave, e governo está obrigado a dar uma resposta

Segundo o ministro que sai, aquele que fica o pressionou a ignorar um parecer técnico do Iphan tendo como principal argumento o interesse pessoal

As polêmicas todas que envolveram Marcelo Calero, já ex-ministro da Cultura, eram irrelevantes e tinham, na verdade, uma raiz ideológica. A pasta lida com artistas, grupo em que se encontram as pessoas mais, como posso dizer?, “mobilizadas” politicamente. A pena que a gente sente é que a ignorância específica da turma costuma ser proporcional às suas crenças genéricas. Calero, então, levou uma vaia aqui, outra ali; ouviu alguns gritinhos de “golpista” e tal. Ah, sim! Houve também a importantíssima questão da vaquejada… Seria ou não uma “manifestação da cultura nacional”?

Há assuntos a que a preguiça existencial me impede de chegar. Nem deu tempo de saber se Calero funcionaria ou não na pasta. Fez um bom trabalho no Rio quando secretário da área e é um homem inteligente e educado. Mas está fora. Por que razão?  Não havendo outro motivo conhecido, devemos levar a sério o que diz: o motivo principal foi um desentendimento com Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), que não é conhecido por ser muito tolerante com quem não faz o que ele quer. Também é notória a sua, digamos, “assertividade”, que mais de uma pessoa já definiu, e o ministro que sai também o faz, como truculência. O caso é grave, sim.

Segundo Calero, Geddel queria que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão subordinado à Cultura, aprovasse um projeto imobiliário chamado “La Vue Ladeira da Barra”, nos arredores de uma área tombada em Salvador, base política de Geddel. A abordagem, inicialmente, teria assumido a roupagem de interesse social e econômico. Mais adiante, Geddel teria revelado: havia comprado um apartamento do empreendimento. Assim, cuidava também do próprio interesse.

O Iphan da Bahia, controlado por Geddel, havia liberado o empreendimento, mas o Iphan nacional acabou vetando, ao menos na forma planejada pela empreiteira. A torre de 30 andares teria de ser reduzida para 13. Segundo Calero, o titular da Secretaria de Governo usou, então, um argumento de impressionante rigor técnico: “Já me disseram que o Iphan vai determinar a diminuição dos andares. E eu, que comprei um andar alto, como é que eu fico? E as famílias que compraram aqueles imóveis? Eu comprei com a maior dificuldade com a minha mulher”.

Pois é… A pressão de Geddel teria chegado até a presidente do Iphan, Kátia Bogéa. Relata Calero à Folha:
“Eu chamei a Kátia e falei o que estava acontecendo, mas disse que, ao contrário do que ele pediu, eu queria uma solução técnica. Uma preocupação que eu tive foi a seguinte: eu sou um cidadão de classe média, servidor público, diplomata de carreira. O único bem relevante que eu tenho na minha vida é a minha reputação, a minha honra. Fiquei extremamente preocupado de eu estar sendo gravado e, no final das contas, eu poder estar enrolado —imagina!— com interesse imobiliário de Geddel Vieira Lima na Bahia. Pelo amor de Deus! Fiquei preocupado de estar diante de uma prevaricação minha, podia estar diante de uma advocacia administrativa, para dizer o mínimo. Pensei em procurar o Ministério Público, a PF. Depois de conversar com Kátia, fui ao ministro Geddel, com quem eu tinha um despacho, e ele falou que o pleito dele era plausível e eu dizia: “Vamos ver” e que a decisão seria técnica. Depois disso, eu disse para a Kátia: “Tome a decisão que tiver de tomar. Se eu perder o meu cargo por isso, não há problema. Eu saio. Eu só não quero meu nome envolvido em lama, em suspeita, qualquer que seja, de que qualquer agente público possa ser supostamente beneficiado pelo fato de que ele exerce pressão sobre mim”.

Governo tem de se pronunciar
A acusação é grave, sim, e o governo tem de se pronunciar. Alguém poderá objetar que divergências sobre um projeto imobiliário na Bahia não têm tanta importância. Errado! O ministro que sai está acusando aquele que fica — tido como homem forte da área política — de exigir que se ignore um parecer técnico em nome de uma conveniência que nem chega a ser política: é apenas pessoal.

Não pode ficar assim.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo

 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

Primeira juíza negra se torna secretária após divisão do movimento negro - Juíza é acusada de racismo após dizer que estupro faz parte da cultura negra


A nomeação hoje no Diário Oficial da primeira juíza negra do Brasil, Luislinda Valois, para a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial sofreu resistência de parte do movimento negro — em especial do Rio Grande do Sul, que pedia a Eliseu Padilha que fosse um gaúcho o nomeado.
Prevaleceu o apadrinhamento de Geddel Vieira Lima pela baiana Luislinda.

Caso aconteceu na África do Sul, país onde a discriminação racial era legal até 1994

Uma juíza da África do Sul está sendo acusada de racismo após ter supostamente dito em redes sociais que o estupro faria parte da cultura dos negros. Segundo petição on-line que pede o afastamento de Mabel Jansen, ela teria afirmado que estupros coletivos bebês, garotas e mulheres eram vistos como “prazerosos” no passado.  “Na cultura deles, a mulher está lá para o prazer. Ponto. É visto como direito absoluto e o consentimento da mulher não é necessário”, teria afirmado a juíza em sua conta no Facebook. Em outra postagem, Mabel teria dito que “assassinatos não são tão graves” para homens negros e “estupro coletivo de bebês, garotas e mães eram prazerosos no passado”.

A discriminação racial era considerada legal na África do Sul até 1994. Nos últimos meses, o debate acerca do tema tem se acalorado no país, sobretudo por causa de publicações em redes sociais, tanto que o governo local afirmou que pretende endurecer as leis contra o racismo. A juíza se defende, afirmando que suas declarações foram tiradas de contexto. Ela alega que as publicações foram feitas em uma conversa privada com a produtora de filmes Gillian Schutte, numa tentativa de conseguir apoio para vítimas de — Eu estava me referindo a casos específicos — disse a juíza à emissora local News24. — É muito ruim quando você é atacada dessa forma. Eu não sei o que ela está tentando fazer.

Também pelo Facebook, Gillian afirmou que tornou as declarações públicas para “expor o pensamento de uma pessoa diretamente responsável pelo julgamento de pessoas a quem ela percebe como monstros e vítimas — desumanizados”. O caso foi encaminhado à Comissão do Serviço Judicial, órgão responsável indicação de pessoal para o judiciário. “É para ilustrar como o discurso colonial ainda é empregado na narrativa branca — e facilmente mobilizado para minar movimentos negros e indivíduos que constituem uma ameaça para o status quo em detrimento das mulheres que são vítimas de estupros”, afirmou Gillian.

Fonte: O Globo