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domingo, 3 de novembro de 2019

É melhor ser feliz - Nas entrelinhas

No plano eleitoral, o eixo da disputa política direita versus esquerda é falso. O que estará em jogo não é um terceiro turno das eleições passadas, mas a gestão das prefeituras de milhares de municípios”


O presidente Jair Bolsonaro gastou a manhã de ontem para realizar um sonho de consumo: comprar uma moto. Glamourizadas por Hollywood em filmes como O Selvagem, com Marlon Brando e Lee Marvin, e Sem Destino, com Peter Fonda, Denis Hopper e Jack Nicholson, as motocicletas são símbolos de rebeldia e liberdade, além de um perigoso meio de transporte. Muitas empresas proíbem seus executivos de andarem de moto, hobby de fim de semana de muitos homens e mulheres de meia idade que querem se sentir eternamente jovens. Nas agruras do trânsito, eis o lema do motociclista: é melhor ser feliz do que ter razão.

Na política como ela é, a polêmica criada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) sobre o Ato Institucional nº 5, cuja reedição aventou num caso de hipotética radicalização da oposição, apesar de rechaçada pelo presidente Jair Bolsonaro, aumentou o isolamento político do governo junto aos demais poderes e à sociedade. E reforçou uma polarização política com a oposição, que antecipa o debate eleitoral de 2022, embora tenhamos apenas 10 meses do primeiro mandato do presidente da República. Essa polarização, porém, é artificial. Está descolada do processo político institucional, que se desenrola em dois níveis: as articulações do Congresso para a aprovação das reformas e a preparação das eleições municipais.

No plano político nacional, as questões mais substantivas estão se resolvendo com a aprovação das reformas pelo Congresso, no rastro de um programa de mudanças iniciado no governo Temer (nova Lei das Estatais, Teto de Gastos e a Reforma Trabalhista). A recente aprovação da reforma da Previdência pelo Congresso, abriu caminho para a reforma administrativa que o governo promete anunciar ainda nesta semana. A reforma tributária, que estava na fila para aprovação, foi engavetada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, por falta de massa crítica na própria equipe econômica sobre o que fazer.

O presidente Bolsonaro e seus filhos atuam de forma diversionista em relação à agenda que mais importa para o país. Suas polêmicas acirram a polarização direita versus esquerda; aparentemente, miram a consolidação do seu projeto de poder, no caso a reeleição, muito mais do que a necessidade de modernizar o Estado brasileiro e a nossa economia. Nesse aspecto, os políticos que lideram o Congresso, entre os quais Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e Davi Alcolumbre (DEM-AP), atuam com mais responsabilidade, em que pese a campanha permanente dos setores que desejam desmoralizar o parlamento e defendem soluções autoritárias para os problemas nacionais.

Polarização
No plano eleitoral, o eixo da disputa política direita versus esquerda é falso. O que estará em jogo não é um terceiro turno das eleições passadas, mas a gestão das prefeituras de milhares de municípios. Mesmo nas capitais, que sofrem mais influência do debate político nacional, essa polarização dificilmente ocorrerá. Quem primeiro sacou essa diferença na oposição foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo estando preso em Curitiba. O líder petista orientou seu partido a lançar candidatos em todos os lugares onde isso for possível, em vez de organizar uma frente de oposição com base nos temas nacionais. Isso reforça o velho hegemonismo petista, é verdade, porém, o futuro do PT em 2022 depende muito de seu desempenho nas próximas eleições municipais.


É difícil avaliar até que ponto a crise de Bolsonaro com o PSL, comandado por Luciano Bivar (PE), tem a ver com avaliação semelhante. O fato é que Bolsonaro não tem, ainda, uma estratégia clara para as eleições do próximo ano, mesmo nas duas cidades onde é maior a influência da política nacional. Seu rompimento com o governador fluminense Wilson Witzel, por exemplo, sinaliza um cenário adverso no Rio de Janeiro, ainda que venha a apoiar a reeleição do prefeito Marcelo Crivela (PRB). Em São Paulo, o rompimento com o senador Major Olímpio (PSDL) e a deputada Joice Hasselmann (PSDL), potenciais candidatos na capital, revela certa desorientação quanto à disputa pela prefeitura da capital.

Bolsonaro se movimenta como quem deseja ter a liberdade para apoiar candidatos com os quais se identifique ideologicamente, seu prestígio lhes garantiria a competitividade. Esse é o perfil, por exemplo, do deputado federal Hélio Negão (PSL), no Rio de Janeiro. Nesse caso, reproduziria no plano municipal a mesma estratégia que adotou na sua própria candidatura à Presidência, rejeitando alianças tradicionais para fazer uma campanha antissistema, disruptiva. Seria como adotar, nas eleições municipais, o lema do motociclista feliz. Se isso vai dar certo ou não, é outra história.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense

 

''Governo sem base sólida não dura'', diz Collor em entrevista ao Correio

30 anos depois de ser eleito para a presidência, o atual senador Fernando Collor, 70 anos, faz balanço sobre o cenário político brasileiro

[Se estivéssemos sobre outro governo e o presidente Bolsonara ou um dos seus filhos declarasse:  ''Governo sem base sólida não dura'', com absoluto certeza seriam acusados de serem golpistas e severamente criticados e execrados.]

No próximo 15 de Novembro, completam-se 30 anos da primeira eleição direta pós-ditadura de 1964. O país afundado numa crise econômica, o presidente José Sarney desgastado. Depois de uma longa campanha, com 22 candidatos, e no mano-mano com Lula, Fernando Collor de Mello torna-se o mais jovem brasileiro a tomar assento no terceiro andar do Planalto. “É claro que, quando me elegi, eu disse: 'Bom, sou um um super-homem ( …) Essa questão da eleição em que se ganha com uma disputa muito acirrada, e essa coisa toda, faz do vitorioso a primeira sensação de que: ‘não, eu posso tudo. Agora, eu sou o maioral e, agora, todos os outros têm que se submeter à minha vontade, ao meu desejo’. Isso é um erro, e está acontecendo agora”, avalia o senador Fernando Collor, 70 anos, nesta entrevista exclusiva ao Correio, 30 anos depois.    

Em quase duas horas de conversa, na última quinta-feira, o ex-presidente repete inúmeras vezes a expressão “já vi esse filme”. “Parece que está passando novamente na minha frente. Certos episódios e eventos me deixam muito preocupado, talvez não cheguemos a um bom termo sobre o mandato mal exercido pelo presidente da República — a começar por essa falta de interesse em construir uma base sólida de sustentação no Parlamento”
, diz, ao avaliar que errou ao não colocar essa construção como prioridade desde o primeiro dia de seu governo. O desfecho foi o afastamento, em 29 de setembro de 1992, quando a Câmara aprovou a abertura do processo de impeachment. Torce agora para que o mesmo não aconteça com o atual ocupante do Planalto e alerta inclusive para o uso das redes sociais, algo que não havia na sua época: “Isso é um perigo. O presidente incorre num erro grande, na minha avaliação, quando ele delimita a sua interlocução a um nicho de 15%, 20% da população, que são aqueles considerados bolsonaristas puros de origem. Eles não representam a nação brasileira”, afirma.

No Correio Braziliense, matéria com entrevista completa

 

Vivandeiras - O Estado de S. Paulo

Editorial 


Ao invocar a possibilidade de edição de um “novo AI-5”, Eduardo Bolsonaro externou o que pensa o grupo que ora está no poder, a começar pelo seu pai, o presidente Jair Bolsonaro


O arroubo do deputado Eduardo Bolsonaro, que invocou a possibilidade de edição de um “novo AI-5” para enfrentar opositores, não foi um exagero retórico. Ele externou o que pensa o grupo que ora está no poder, a começar pelo pai, o presidente Jair Bolsonaro, que passou toda a sua vida como político a lamentar o fim da ditadura. [uma análise isenta leva à conclusão de que persistindo o  estado atual de insegurança no Brasil, a tendência é que sua evolução resulte em piora, configurando a situação cogitada na entrevista: 'sequestro de aeronaves, quando sequestravam-se e executavam-se autoridades, cônsules, embaixadores, com execuções de policiais e de militares. Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar de uma resposta'. 
Tendo o parlamentar citado várias medidas possíveis, entre elas medidas nos moldes das preconizadas no Ato Institucional nº 5 - clique, leia e conclua por si.
O grande problema está em que muitos = grande parte =  temem medidas nos moldes do AI-5 pelo grande risco de atrapalhar seus negócios e muitos inocentes danam a espancar o remédio legal - que pode servir de modelo para medidas que se tornem necessárias - sem sequer ler e conhecer inteiro teor.] 


O objetivo é claro: dar vida ao que deveria estar morto e enterrado. O bolsonarismo desde sempre pretende acostumar os ouvidos da sociedade a ideias autoritárias como solução para os problemas nacionais. O método é escorar-se na liberdade de expressão e na imunidade parlamentar, dois dos pilares da democracia liberal, para acalentar a possibilidade de instalação de um regime de exceção, em que essas mesmas liberdades, entre outras tantas, são sumariamente cassadas.

De certa forma, a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República, mesmo depois de décadas defendendo reiterada e inequivocamente o regime militar, a tortura, o banimento (e até o fuzilamento) de opositores e o silenciamento da imprensa, é um preocupante indicativo de que parte da sociedade já se deixou seduzir pelo discurso antidemocrático.[o banimento, a pena de morte, foram medidas incluídas na Lei de Segurança Nacional, pela Junta Militar em 1969,e que puniam crimes graves e em situações excepcionais.

A pena de morte, nunca foi aplicada.
Foram raros os condenados, sendo um deles Teodomiro Romeiro dos Santos, que matou covardemente, pelas costas, um sargento.
Foi condenado a pena de morte, fuzilamento (quando o adequado para o seu crime covarde, vil e traiçoeiro, seria o enforcamento.) enrolaram na execução e terminou sendo trocado por inocentes sequestrados por terroristas, sofrendo a pena de benimento.
Com a anistia voltou para o Brasil,foi devidamente anistiado, indenizado e se tornou juiz do TRT de Pernambuco. 
Caso queira mais detalhes, cliqueEx-Terrorista que assassinou sargento pelas consta recebe indenização da caravana da anistia.]

Para a parcela mais radical dos eleitores de Bolsonaro, que o trata como “mito” e o segue fanaticamente, o pacto pela transição para a democracia foi imperdoável traição aos ideais da ditadura militar. Graças ao sucesso eleitoral de Bolsonaro, essas vivandeiras não se sentem mais constrangidas em demandar abertamente o fechamento do Congresso, sob o argumento de que se trata de um valhacouto de corruptos que tramam contra o Brasil; exigir a interdição do Supremo Tribunal Federal, visto como um antro de advogados que defendem petistas e minorias em geral; e torcer pela asfixia da imprensa livre, considerada veículo de esquerdismo e imoralidade. Em resumo, nutrem a esperança delirante de que o presidente Bolsonaro se aventure num golpe de Estado e consequentemente estabeleça uma ditadura.

Nesse sentido, a ordem do presidente Bolsonaro para que o filho pedisse desculpas por suas declarações não tem valor nenhum. É o presidente, afinal, quem desde sempre incita essa retórica autoritária, elogiando ditadores, fazendo apologia de torturadores e ameaçando sistematicamente a imprensa. Os filhos, entre eles Eduardo, só agem – e só existem politicamente – em nome do pai.  Não se trata de relativizar a responsabilidade do deputado Eduardo Bolsonaro por seu discurso antidemocrático – que ademais, enquanto repugna o País, serve também para desviar a atenção da ainda nebulosa menção ao nome do presidente no caso do assassinato da vereadora Marielle Franco. Trata-se, sim, de perceber que o problema vai muito além do palavrório autoritário de um político medíocre.

Há hoje no País uma atmosfera cada vez mais pesada, fruto do extremismo, à esquerda e à direita, que tenta inviabilizar a política e, consequentemente, a democracia. É contra essa ameaça, cada vez mais concreta, que as forças democráticas devem se mobilizar. Laivos golpistas não podem ser tratados como manifestações anedóticas ou inconsequentes. Devem ser denunciados de forma resoluta por todos aqueles que prezam a liberdade. Por esse motivo, é alvissareiro que as lideranças institucionais do País tenham se manifestado tão prontamente para condenar, de forma cristalina e nos mais duros termos, a manifestação irresponsável do deputado Eduardo Bolsonaro, mostrando rejeição absoluta a qualquer possibilidade de retrocesso em nossa democracia.

Que a Câmara dos Deputados, ao lidar com o caso, não reaja com a pusilanimidade demonstrada em 1999, quando apenas advertiu o então deputado Jair Bolsonaro depois que este defendeu o fechamento do Congresso, disse que “o erro do regime militar foi torturar, e não matar” e lamentou que a ditadura não tivesse fuzilado vários políticos, a começar por Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República.

Na ocasião, exatamente como agora, Jair Bolsonaro, ante a repercussão negativa, disse que havia “exagerado”. Mas a mensagem já estava dada – e, ante a complacência dos democratas, ajudou a manter vivo o ânimo reacionário que tantos votos rendeu e, lamentavelmente, continua a render aos liberticidas.



Editorial - O Estado de S.Paulo
 

CASO MARIELLE - Promotoria com Partido e - Bernardo Mello Franco

O Globo

A doutora Carmen Eliza Bastos de Carvalho já assinou um manifesto em defesa do movimento Escola sem Partido. Agora ela virou símbolo do Promotoria com Partido. Na quarta-feira, Carmen participou da entrevista sobre a confusa investigação do assassinato de Marielle Franco. Ela desqualificou o depoimento do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, que relatou uma ligação do principal suspeito para a casa de Jair Bolsonaro. [o depoimento do porteiro foi desqualificado por ser mentiroso, visto que entre várias mentiras, se destacam:
- identifica como sendo do presidente Bolsonaro a voz de quem autoriza a entrada de Élcio Queiroz no condomínio onde residia o presidente Bolsonaro - MENTIRA: atendendo consulta do MP a Câmara dos Deputados informou que no dia 14 de março Bolsonaro estava em Brasília, votando, assinando presença, sendo filmado pelas câmeras da Câmara;
- mesmo que estivesse falando a verdade - fosse do então deputado  Bolsonaro a voz autorizando o ingresso - o Élcio não foi para a casa do parlamentar e sim para a do Lessa.

Quem merece mais crédito: um porteiro fantasma (surgiu do nada, sem nome - ou uma declaração de uma das Casas do Congresso Nacional?

Quanto ao uso da camiseta pró Bolsonaro no dia das eleições, as promotoras não estando de plantão no MP, não estando a serviço da Justiça Eleitoral e não sendo do MP Eleitoral, são apenas e tão somente cidadão, com todos os direitos e deveres inerentes a tal condição - inclusive a de manifestar opção política, desde que na forma facultada pela legislação eleitoral a qualquer cidadão.]


A promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho em campanha por Bolsonaro

Na manhã seguinte, o jornalista Leandro Demori revelou a militância virtual da promotora. Durante a corrida ao Planalto, ela usou as redes sociais para fazer campanha aberta pelo dono da casa 58. Numa das postagens, Carmen posou de camiseta com a foto do capitão e a inscrição “Bolsonaro presidente”. Em outra, festejou sua vitória com mensagens como “Libertos do cativeiro esquerdopata” e “#vaificarpresobabaca”.

Em janeiro, ela voltou ao Instagram para celebrar a posse do presidente. Apontou o celular para a TV e publicou o clique com uma legenda festiva. “Há anos que não me sinto tão emocionada. Essa posse entra naquela lista de conquistas”, desmanchou-se.  Além de pedir votos para seu candidato, a promotora postou foto ao lado do deputado Rodrigo Amorim, do PSL. O bolsonarista despontou do anonimato ao quebrar uma placa em homenagem à vereadora morta. [placa colocada ilegalmente,  sem respeitar a legislação que regulamenta a denominação de logradouro públicos.]

A revelação deveria ter levado Carmen a se afastar imediatamente do caso Marielle. No entanto, ela bateu o pé e se recusou a deixar a investigação. Em reunião com a cúpula do Ministério Público do Rio, alegou que só havia exercido seu direito à liberdade de expressão na internet. Ficaria nisso, não fosse a pressão dos colegas que conhecem os limites do cargo. Afastada na sexta-feira, a promotora se disse vítima de uma “ofensiva de inspiração subalterna e flagrantemente ideológica”. O discurso só deve convencer quem acreditou no arrependimento de Eduardo Bolsonaro após defender a reedição do AI-5. [Eduardo não tem do que se arrepender, apenas elencou várias medidas que podem ser adotadas para conter sequestros, assaltos com motivação política e outros crimes, incluindo, sem limitar, medida nos moldes do AI-5, que na época de sua edição tornou possível muitas coisas impossíveis e hoje é considerado politicamente incorreto.]

A Constituição impede que juízes e promotores exerçam “atividade político-partidária”. [nada prova que a promotora  nas ocasiões que vestiu camiseta do nosso presidente Bolsonaro ou postou nas redes sociais tenha feito menção a sua condição de membro do MP ou mesmo estivesse exercendo atividade político-partidária, prática que é bem diferente do exercício dos direitos de cidadão comum.]  A proibição tem uma finalidade óbvia: preservar a imagem das instituições e a confiança no sistema de Justiça.  Na era das redes sociais, a regra tem virado letra morta. Os conselhos nacionais da Justiça e do MP já editaram manuais de conduta, mas não conseguiram frear a militância virtual. Talvez seja a hora de trocar as recomendações por punições.

Bernardo Mello Franco, colunista político - O Globo



Os BolsoLulas- Elio Gaspari

O Globo

Em um país com 12 milhões de desempregados eles brigam, aqui e alhures, para nada 

Até agora, o radicalismo da inépcia foi monopólio do governo

Em abril de 2018, horas antes de se entregar à Polícia Federal, Lula discursou para sua militância diante do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e disse: “eu não sou um ser humano, sou uma ideia”. Foi adiante: “Eu fico imaginando o tesão da Globo colocando a minha fotografia preso. Eles vão ter orgasmos múltiplos. (...) Eles têm de saber que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes que eu, e queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas, as ocupações no campo e na cidade; parecia difícil a ocupação de São Bernardo, e amanhã vocês vão receber a notícia que vocês ganharam o terreno que vocês invadiram.” 

Era sonho. Lula foi para a cadeia, ninguém foi para a rua, seu candidato a presidente foi derrotado por 55% a 45% e, em janeiro de 2019, o capitão Jair Bolsonaro tomou posse na Presidência da República. Logo o capitão, que Lula achava fácil derrotar.
Passaram-se dez meses, Lula conta o tempo para deixar a carceragem de Curitiba, e os Bolsonaros deixaram na porta da sua cela a bandeira da pacificação. Num país com 12 milhões de desempregados eles brigam, aqui e alhures, para nada. 

Se Lula vai empunhar essa bandeira, só ele sabe, mas vale a pena lembrar que há poucas semanas o PT foi para a Avenida Paulista com poucas camisas vermelhas. A deputada Gleisi Hoffmann vestia uma camiseta branca com o rosto de Lula enfeitado por flores. Em sua entrevista a Leda Nagle, o deputado Eduardo Bolsonaro disse que “vai chegar um momento em que a situação vai ser igual ao final dos anos 1960 no Brasil, quando sequestravam aeronaves, quando sequestravam-se e executavam-se autoridades, cônsules, embaixadores, com execuções de policiais e de militares. Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar de uma resposta. Ela pode ser via um novo AI-5”.[um novo AI-5, o artigo 142 da Constituição Federal, o resultado de um plebiscito - a opção da  Itália pelo plebiscito foi citada - as opções são muitas.]

Eduardo Bolsonaro corrigiu-se, e seu pai condenou a fala. Mesmo assim deve-se registrar que no fim dos anos 1960 havia também um terrorismo de direita, cujo núcleo clandestino era composto por militares e civis. Era menos letal, mas buscava estimular a tensão política. O nervo da formulação do deputado esteve na frase “se a esquerda radicalizar”. E se a esquerda não radicalizar? Até agora, o radicalismo da inépcia foi monopólio do governo. Ademais, o último atentado terrorista ocorrido no Brasil, em 1981, foi a bomba do Riocentro, mas ele saiu do DOI-Codi do I Exército.
Há radicais na esquerda, mas no Brasil o que está na vitrine é outro radicalismo tosco, demófobo e desorientado. Ele teceu a bandeira da pacificação, levou-a a Curitiba e deixou-a na porta da cela de Lula. 

Porteiros e polícia
Além do fantasma de Marielle Franco, outra assombração ronda o movimento de carros no condomínio onde viviam Jair Bolsonaro e o miliciano Ronnie Lessa no dia do assassinato da vereadora. É o risco de que acabe sobrando para o porteiro que registrou a entrada de Élcio Queiroz na propriedade.[e prestou depoimento mentiroso à polícia.]
Não se sabe o que aconteceu naquele dia, mas uma velha história ensina que polícia e porteiros produzem situações fantásticas. 

Em maio de 1976, Íris Coelho, ex-secretária do general Golbery do Couto e Silva e do presidente Castelo Branco, escreveu-lhe uma carta contando o que havia acontecido ao porteiro de seu edifício. Haviam roubado objetos de carros que estavam na garagem e ele foi preso. Com 11 anos de serviço e pai de três filhos, soltaram-no 24 horas depois: “O pobre estava todo machucado, os tímpanos perfurados. Aplicaram-lhe choque, bateram-lhe a cabeça contra a parede. Foi fichado como ladrão de automóveis e arrombador.”

Iris não era uma novata. Depois de uma audiência com o embaixador soviético, Castelo chamou-a para ditar uma minuta da conversa secreta.
Passaram-se seis meses e o governador do Rio remeteu o resultado da investigação a Golbery, o então poderoso Chefe da Casa Civil da Presidência. Resultava que depois de novos depoimentos e acareações, a polícia apurou o seguinte:
1- O porteiro disse que conversou com Iris, expressou-se mal ou ela não entendeu o que ele falou. Além disso, não a autorizou a fazer qualquer reclamação.
2- As marcas que tinha pelo corpo eram produto de uma alergia.
Íris Coelho voltou a escrever:
“Sinto muito, acredite que lastimo realmente ter sido causa de tanto trabalho e perda de tempo. Do modo como o processo se encaminhava, achei que a melhor solução seria aquela que foi dada na acareação com o porteiro.
Creia-me, aprendi uma grande lição.”
Seja qual for versão, sempre que se chega à conclusão de que o porteiro mentiu, vale a pena perguntar quem estava interessado nisso.

(...)

 
Folha de S. Paulo e O Globo - MATÉRIA COMPLETA - Elio Gaspari, jornalista 
 

sábado, 2 de novembro de 2019

Barbaridades em série: a investigação desastrosa do caso Marielle - VEJA

Depoimento mentiroso que tentava ligar Bolsonaro aos assassinos é mais um triste capítulo de um crime que completa 600 dias sem solução

A execução da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes não para de produzir notícias espantosas, a começar pelo tempo de 600 dias sem que o caso tenha uma solução, um prodígio até para os padrões indigentes de produtividade da polícia nacional. [considerando que mais de 100.000 homícidios sem solução - só de 2015 para cá, o caso da vereadora está dentro do que podemos chamar 'normalidade'.] Quem matou? Quem mandou matar? As famílias das vítimas e toda a sociedade brasileira aguardam até hoje essas respostas, em vão. Cercada de confusões de todo tipo, a investigação jogou mais dúvidas do que luzes sobre o episódio. Quando se imaginava que nada de pior poderia acontecer depois desse roteiro lamentável, eis que no último dia 29 surgiu a notícia de uma possível conexão de Jair Bolsonaro com a história. Embora essa ligação tenha sido formalizada em depoimento à polícia, ficou claro logo depois que ela não fazia sentido. Mesmo sendo mentirosa, foi suficiente para o caso do crime sem fim atingir um novo patamar em termos de polêmica e de agitação política.


O envolvimento do nome de Bolsonaro no enredo do crime surgiu em uma reportagem do Jornal Nacional, da Rede Globo. A Polícia Civil do Rio de Janeiro teve acesso ao caderno de visitas do condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste do Rio, onde têm casa o presidente e o ex-­policial militar Ronnie Lessa, acusado das mortes de Marielle e de Anderson.

No dia 14 março de 2018, às 17h10, pouco mais de quatro horas antes do crime, o ex-PM Élcio Queiroz, outro suspeito dos assassinatos, a bordo de um Logan Prata, anunciou na portaria do condomínio que iria visitar Jair Bolsonaro e acabou indo até a casa de Lessa. À polícia, o porteiro afirmou que, a pedido de Élcio, ligara para a casa 58, onde vive o presidente. E que uma pessoa que ele identificou como sendo o “seu Jair” liberara a entrada. Élcio, no entanto, dirigiu-se à casa 65, onde mora Ronnie Lessa. O porteiro, então, telefonou novamente, e o mesmo “seu Jair” teria dito que sabia para onde ele estava indo. Conforme a reportagem, no dia da visita, no entanto, Bolsonaro estava em Brasília, e não no Rio. O então deputado federal registrou a presença em duas votações na Câmara. Lessa é acusado pela polícia de ser o autor dos disparos contra Marielle e Anderson. Élcio, por sua vez, é suspeito de ser o motorista do carro que levava o matador. Os dois foram presos em 12 de março.

Bolsonaro recebeu a notícia no exterior, em meio à viagem para captar investimentos na Ásia e no Oriente Médio. Em uma live transmitida da madrugada da Arábia Saudita, negou qualquer ligação com os suspeitos dos assassinatos, reclamou do vazamento de informações de um processo que corre sob sigilo e reagiu de forma furiosa às insinuações. Seu alvo principal foi a imprensa, classificada por ele de “porca” e “nojenta”. “Vocês são patifes, canalhas, não são patriotas”, vociferou, dirigindo os ataques principalmente à Rede Globo. No momento de maior destempero, ameaçou cancelar a concessão pública da emissora, que vence em 2022, uma ameaça absurda e injustificável, mesmo levando-se em conta o momento de indignação do presidente, que tem certeza de ser vítima de injustiça e perseguição no caso.

A própria reportagem do Jornal Nacional já deixava claro um problema grave no depoimento do porteiro. Como se viu, no dia em que ele diz ter interfonado para a casa de “seu Jair”, Bolsonaro encontrava-se em Brasília. Além disso, se os suspeitos do crime agiam em conluio com o presidente, o normal seria tentar despistar essa ligação a todo custo. Dentro dessa lógica, entrar no condomínio a pretexto de ir à residência de Bolsonaro para depois se dirigir ao endereço do comparsa não faz o menor sentido. Um dia após a reportagem do Jornal Nacional, surgiu outra prova robusta contra o depoimento do porteiro. Em vídeo divulgado nas redes sociais, um dos filhos do presidente, Carlos Bolsonaro, que tem casa no mesmo condomínio, mostrou arquivos de todas as gravações das chamadas da portaria para as residências do Vivendas da Barra no dia do assassinato de Marielle. Um dos áudios revela que Élcio, ao chegar ao local, mandou interfonar para a casa 65, ou seja, a residência de Ronnie.

Na mesma quarta, conforme antecipou o site de VEJA, o Ministério Público já dava como certo que o porteiro havia mentido no depoimento.Pode ter sido um equívoco, pode ter sido por vários motivos que o porteiro mencionou a casa 58 (de Jair Bolsonaro). E eles serão apurados”, afirmou a promotora Simone Sibilio. Os áudios do condomínio passaram por perícia e foram incorporados ao processo.

Depois de classificar a notícia como “factoide”, o procurador-geral da República, Augusto Aras, anunciou o arquivamento da investigação sobre a menção ao nome do presidente no episódio do assassinato enviada pelo MP do Rio ao STF. Frederick Wassef, que é o verdadeiro advogado do presidente, classificou o episódio do porteiro como “uma armação barata e de baixíssimo nível”. “Ela foi feita e arquitetada por pessoas do Rio, que plantaram uma testemunha e pediram a um indivíduo que mentisse deliberadamente”, acusa. O próprio Bolsonaro encarregou-­se de ir mais adiante nessa suspeita, dando nome aos bois. Ao citar uma revelação feita pela coluna Radar, do site de VEJA, a de que o governador fluminense Wilson Witzel sabia com antecedência do depoimento do porteiro, o presidente acusou o político do PSC de manobrar para tentar destruí-­lo tendo como objetivo a conquista de mais espaço para se credenciar às eleições de 2022 ao Palácio do Planalto. Witzel negou, mas Bolsonaro continuou batendo na tecla ao lembrar de um encontro entre os dois ocorrido em 9 de outubro no Clube Naval do Rio. Na ocasião, segundo Bolsonaro, Witzel lhe revelou que o porteiro havia citado seu nome no depoimento.

Brasília entrou em polvorosa com a repercussão política do novo escândalo. Na quarta, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), decidiu despachar de sua residência. “Se ele fosse para o Senado, a oposição passaria o dia na tribuna explorando a crise”, afirma um dos interlocutores que foram à casa de Alcolumbre. Muitos parlamentares mantiveram cautela ao avaliar o episódio. “Nunca fui bolsonarista, mas acho que todos só devem ser ‘condenados’ se comprovado definitivamente o erro”, afirma o ex-governador de São Paulo Márcio França (PSB). O deputado Elmar Nascimento (DEM-­BA), líder da legenda na Câmara, declarou que o episódio em si foi superado, mas a preocupação continua. “O clima político está muito carregado. Afinal, alguém tentou envolver o presidente em um crime, o que é grave e precisa ser esclarecido”, diz.

A história marca o ápice de um caso repleto de confusões e trapalhadas de todo tipo. Vários mandantes já foram apontados, e houve até uma tentativa de sabotagem nos trabalhos para incriminar rivais. Boa parte das trombadas ocorre por disputas entre autoridades que deveriam trabalhar juntas, mas, na prática, atuam como concorrentes. Polícia Civil e Ministério Público se vangloriam do fato de que a investigação da morte de Marielle resultou em frutos não esperados, como a desarticulação da mais antiga milícia carioca, em Rio das Pedras, na Zona Oeste, a revelação da existência do Escritório do Crime, grupo de matadores por trás de diversos homicídios não esclarecidos no Rio, e do esquema de tráfico de armas liderado por Ronnie Lessa. Mas não é raro ouvir críticas de delegados a promotores e vice-versa: para além da discordância de métodos, há disputa intensa por protagonismo. O pedido de federalização do caso, feito pela ex-­procuradora-geral da República Raquel Dodge, embaralhou ainda mais a história. Enquanto o Superior Tribunal de Justiça não decide se o inquérito muda de competência, veio à tona, junto com o pedido, a existência de um áudio no qual um miliciano diz que a morte de Marielle foi encomendada por Domingos Brazão, conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado, junto a Élcio Queiroz e Ronnie Lessa. O problema: nem a Polícia Civil do Rio nem o Ministério Público acreditam totalmente no relato. “Não há nenhuma prova concreta que envolva Domingos Brazão”, afirma a promotora Simone Sibilio.

 Horas depois do assassinato de Marielle e Anderson, quase todos os pré-­candidatos à Presidência divulgaram notas de pesar. Jair Bolsonaro preferiu ficar mudo. Quando questionado, disse que sua opinião “seria polêmica demais”. Ao longo dos meses, entre o silêncio e declarações de menosprezo ao episódio, o clã passou a criticar a repercussão do caso Marielle em momentos pontuais — o vereador Carlos, por exemplo, criticou a Mangueira por usar o nome dela em um samba no Carnaval carioca de 2019. Em março, quando os suspeitos foram presos, circularam na internet fotos de Bolsonaro ao lado de Élcio. [Élcio e Lessa estão  presos por envolvimento com tráfico de fuzis, já que as suspeitas não justificam a prisão.] Logo também veio à tona a informação de que o atirador era vizinho do presidente. Embora demonstrem uma proximidade desagradável, essas coincidências nada provam. A filha mais velha de Ronnie Lessa, Mohana, disse a VEJA que sua família não tinha contato com os parentes do presidente: “Eu vi o Bolsonaro duas vezes indo para a praia com a filha menor e a Michelle passeando com o cachorrinho. E só”.

Colega de Marielle na Câmara de Vereadores do Rio, Carlos Bolsonaro deu um depoimento aos policiais logo no começo das investigações devido a uma discussão ocorrida antes do crime. Um assessor de Marielle andava pelo corredor mostrando o prédio a dois amigos quando, em frente ao gabinete 905, de Carlos, comentou que ali ficava o filho de um deputado “ultraconservador” que beirava o “fascismo”. O Zero Dois ouviu tudo e, aos berros, começou a discutir, até que Marielle apareceu, colocando panos quentes. Desde a briga, Carlos passou a evitar até entrar no elevador se Marielle ou assessores dela estivessem presentes. A Polícia Civil do Rio voltou a se debruçar sobre essa velha história neste mês. Pelo menos quatro ex-funcionários de Carlos foram ouvidos até agora. Mas mesmo adversários políticos não acreditam nessa hipótese. Pessoas próximas à vereadora receberam com preocupação a notícia de que essa linha de investigação havia sido reaberta, uma vez que não veem, ali, motivo suficiente para que alguém tivesse ordenado a execução. Avaliam, também, que o movimento dá indícios de que a polícia não sabe por onde seguir.

Foi nesse enredo tragicamente rocambolesco que o nome do presidente acabou envolvido. Destemperos à parte, Bolsonaro, que já sofreu uma tentativa de assassinato, agora tem razão em reclamar de que atentaram contra sua honra com base em um depoimento fajuto. Pode-se não gostar dele por sua visão simplória e paranoica de mundo, por seu gosto por ditaduras e por sua incapacidade de administrar a nação em paz, entre outros tantos motivos. A despeito dessas críticas, justas ou não, ninguém pode ser vítima de uma insinuação de tamanha gravidade sem provas muito menos a maior autoridade do país. Esse enredo triste e irresponsável tampouco faz justiça às vítimas, às famílias de Marielle Franco e Anderson Gomes e a todos os brasileiros que acreditam na busca da verdade. O Brasil não pode mais conviver com isso. Está mais do que na hora de acabar com o mistério do crime sem fim.

Publicado em VEJA de 6 de novembro de 2019, edição nº 2659

Na VEJA, MATÉRIA COMPLETA

Colaboraram Edoardo Ghirotto e Roberta Paduan


Bolsonaro diz ter prova importante do caso Marielle

Bolsonaro admite que pegou gravação da portaria do condomínio onde tem casa no Rio: 'antes que tentassem adulterar'

Jair Bolsonaro admitiu, neste sábado (02), que pegou a gravação das ligações da portaria do condomínio, onde possui uma residência no Rio de Janeiro, para que não fossem adulteradas. O presidente contou aos jornalistas durante uma visita a concessionária em Brasília, onde comprou uma motocicleta avaliada em R$ 33 mil reais.

 A manchete do título consta de matéria publicada no Yahoo! Notícias.

Acessando a manchete se chega a: Bolsonaro admite que pegou gravação da portaria do condomínio onde tem casa no Rio: 'antes que tentassem adulterar'

"Nós pegamos, antes que fosse adulterada, ou tentasse adulterar, pegamos toda a memória da secretária eletrônica que é guardada há mais de ano. A voz não é a minha", disse o presidente, reiterando que não está ligada ao assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, em abril do ano passado.

Na última terça-feira (29), a TV Globo veiculou uma reportagem que dizia que um porteiro do condomínio contou à polícia que, horas antes do assassinato dos dois, o ex-policial militar Élcio Queiroz, suspeito de participação no crime, esteve no local e pediu para ir a casa que pertence ao presidente.

Apesar do que teria comunicado na portaria, Queiroz seguiu para a casa de Ronnie Lessa, outro suspeito do assassinato, no mesmo condomínio. Naquele horário, o então deputado Jair Bolsonaro estava em Brasília e participou de votações na Câmara no mesmo dia, conforme mostram registros de presença da casa.

Na quarta-feira (30), o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou que obteve um áudio da investigação que contrariava a versão do porteiro, mostrando que foi Ronnie Lessa quem liberou a entrada de Élcio Queiroz e não alguém dentro da casa que pertence ao presidente. Queiroz e Lessa estão presos desde março deste ano por suposto envolvimento no caso. [A VERDADE: ainda que o Ministério Público do Rio, estivesse forjando provas para envolver o presidente -  o que, certamente, não ocorreu, não está ocorrendo -  Bolsonaro não está envolvido no caso.
MOTIVO DO NÃO ENVOLVIMENTO DO PRESIDENTE BOLSONARO:  se trata de um depoimento atribuindo ao presidente um ato que só poderia ter ocorrido se o presidente Bolsonaro, no dia do assassinato da vereadora Marielle, e na hora da suposta visita de Élcio Queiroz, estivesse no Rio de Janeiro.
E, COMPROVADAMENTE, ele não estava:  a prova mais fiel de que ele não estava no Rio, naquela ocasião, é provas irrefutáveis de que estava em Brasília, por volta da 17h e 20h, no plenário da Câmara dos Deputados, votando. ]

Blog Prontidão Total



Quem matou, mandou matar Marielle e tentou encobrir o crime - Blog do Noblat - VEJA

Há mais coisas entre o céu e a terra do que imagina nossa vã filosofia

Sabe quando oficialmente o Ministério Público do Rio concluiu que mentira o porteiro do condomínio onde moravam Jair Bolsonaro e o ex-policial Ronnie Lessa? No dia seguinte à edição do Jornal Nacional que fez Bolsonaro protagonizar o maior ataque de um presidente da República a uma rede de televisão.  No último dia 17, quando um grupo de procuradores, sem conhecimento do juiz que preside o inquérito sobre a morte de Marielle Franco, voou a Brasília ao encontro do ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, dava-se como possível que o porteiro pudesse ter contado verdades à polícia.

Em dois depoimentos, ele dissera que um homem pedira licença para ir à casa de Bolsonaro. O porteiro telefonou para o número que tinha da casa e “seu Jair”, segundo ele, autorizou a entrada. Em seguida, o porteiro voltou a ligar para dizer que o homem se dirigia a outra casa. E “seu Jair” respondeu que estava tudo bem. Daí a preocupação dos procuradores de informarem Toffoli a respeito. Porque nesse caso as investigações teriam que ser suspensas. Envolveriam o presidente que tem direito a foro privilegiado. Só o Supremo pode investigá-lo. E diz a lei que ele só pode ser investigado por crime cometido no exercício do cargo.


Mas aí veio a reportagem do Jornal Nacional. Aí o Ministério Público providenciou uma perícia técnica feita e concluída em menos de três horas. Aí o resto é história conhecida. O que falta conhecer é a história completa e verdadeira de quem matou Marielle, quem mandou matar e quem tentou encobrir o crime.







Moro desce mais um degrau

De Ministro da Justiça do Brasil a advogado de Bolsonaro

No balanço de perdas e ganhos, o ministro Sérgio Moro é o que sai pior até este momento no episódio do porteiro que ligou o presidente Jair Bolsonaro ao assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do seu motorista. Augusto Aras, o novo Procurador Geral da República, não se saiu bem. De cara, disse que tudo não passou de um “factoide” que só merecia ser arquivado – e arquivou. Mas Aras, por ter assumido o cargo recentemente, tem capital para desperdiçar.

As primeiras pesquisas de opinião encomendadas pelo governo mostram que não houve deserção entre os devotos de Bolsonaro que o veem como uma vítima inocente da Globo e como o santo guerreiro disposto a vencer sua cruzada contra os infiéis. Mas Moro, não – pelo menos no entendimento da parcela mais crítica dos bolsonaristas, e não somente dela. O ministro da Justiça não pronunciou uma só palavra em defesa do presidente da República e pediu a Aras que mandasse investigar o porteiro.

O silêncio em relação a Bolsonaro descontentou aqueles que esperavam de Moro uma defesa veemente do patrão. O pedido para que o porteiro fosse investigado contrariou os que acham que esse papel não caberia ao ministro da Justiça. Naturalmente, o juiz encarregado do inquérito que apura a morte de Marielle mandará – se é que ainda não o fez – investigar o porteiro para saber se ele disse a verdade, se apenas se enganou ou se mentiu. E se mentiu, por quê? Estaria a serviço de quem? [FATO: quem desmentiu o porteiro foi DECLARAÇÃO OFICIAL da Câmara dos Deputados de que no dia dos fatos, o então deputado federal JAIR BOLSONARO, estava em Brasília, votou no Plenário da Câmara por duas vezes.
Considerando que só DEUS é onipresente, ele não poderia estar em Brasília e ao mesmo tempo no Rio, atendendo o 'porteiro-fantasma' = aquele que nem o nome saiu na reportagem da Globo.]

Moro tentou dar uma de esperto, espertíssimo. Não poderá ser acusado de ter se prestado mais uma vez ao papel de advogado de Bolsonaro porque nada disse a seu favor. Ao mesmo tempo, de fato prestou-se a tal papel ao pedir para que o porteiro fosse investigado. Convidado para servir a quem se elegeu com a sua ajuda à frente da Lava Jato, Moro foi para o governo com a intenção de ser Ministro da Justiça do Brasil. Em 10 meses, viu-se reduzido à condição de Ministro da Justiça do governo e advogado de Bolsonaro. Isso pode não lhe custar um único voto por enquanto, mas corrói gravemente a sua reputação. Tanto mais se ele quiser voltar um dia à toga que abandonou por excesso de vaidade e erro de cálculo. [Bolsonaro e Moro são igual pão: quanto mais apanham, mais crescem.]

Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - O Globo
 
 

 
 

Ligações perigosas - Isto É

Depoimento de porteiro de condomínio que aproxima Jair Bolsonaro dos supostos matadores de Marielle Franco é desmentido pelo Ministério Público, mas deixa mais perguntas do que respostas 

[o depoimento mentiroso do porteiro-fantasma, foi desmentido por dados técnicos do sistema de comunicação do condomínio e também por DECLARAÇÃO OFICIAL da Câmara dos Deputados atestando que no dia dos fatos - assassinato da vereadora - Bolsonaro estava em Brasília, inclusive votando no sistema eletrônico do plenário daquela Casa.]

Não é de hoje que se sabe da relação complexa e nebulosa do clã Bolsonaro com as milícias do Rio de Janeiro, grupos marginais que se apoiam na violência para ampliar seu poder e fazer justiça com as próprias mãos. Mas, na semana passada, por causa de uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, sobre as investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, esse elo com as milícias ameaçou ganhar uma nova dimensão. A reportagem mostrou a movimentação, horas antes do crime, dos dois supostos matadores da vereadora, os ex-policiais militares Élcio de Queiroz e Ronnie Lessa, no condomínio Vivendas da Barra, onde mora o presidente. 

Um porteiro do condomínio declarou, em dois depoimentos, que Élcio, acusado de dirigir o carro de onde saíram os tiros que mataram Marielle, pediu para falar com a residência número 58, pertencente ao então deputado federal Jair Bolsonaro, e ouviu uma voz que parecia com a do “Seu Jair” liberando a entrada do visitante. No dia seguinte, o Ministério Público (MP) do estado, baseado em provas preliminares, desmentiu as declarações do porteiro. Mas o assunto passou a ser parte importante do inquérito, deixou dúvidas e ainda precisa ser melhor compreendido. Depois da citação do nome do presidente, o processo de Marielle foi enviado para análise do Supremo Tribunal Federal (STF).

O porteiro anotou no livro de visitantes que, no dia 14 de março de 2018, Élcio entrou no Vivendas, com destino à casa de Bolsonaro, no volante de um Logan placa AGH 8202. Também disse para a polícia que, ao ingressar no condomínio, o veículo se dirigiu à casa 65, de Lessa, que mora ali. Por causa da mudança de rumo, ele contou que havia voltado a ligar para o endereço de Bolsonaro e a mesma pessoa respondeu que “tudo bem”. Na quarta-feira 30, a promotora do MP do Rio Simone Sibilio, coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), deu uma entrevista coletiva e afirmou que o porteiro mentiu, para depois dizer que a informação dada por ele não é compatível com a prova pericial. “O porquê do porteiro ter dado depoimento será investigado. Saberemos se ele mentiu, se equivocou ou esqueceu”, disse. Segundo Simone, a perícia feita nas gravações do sistema de interfone do condomínio mostrou que não foi o presidente que autorizou a entrada de Élcio e sim Lessa, acusado de ser o autor dos disparos contra Marielle. Além do mais, Bolsonaro provou que não estava no Rio: registrou presença, naquele dia, na Câmara, em Brasília.

(.....)

Moro encaminhou ao Procurador-Geral da República, Augusto Aras, um pedido de abertura de inquérito para investigar o vazamento das informações, considerando o fato de que o processo de Marielle corre em segredo de justiça. “A própria reportagem esclarece que, na referida data, o Exmo. Sr. Presidente da República, então deputado federal, estava em Brasília, tendo registrado a sua presença em duas votações no plenário da Câmara dos Deputados”, diz Moro na requisição à PGR.“A inconsistência sugere possível equívoco na investigação conduzida no Rio de Janeiro ou eventual tentativa de envolvimento indevido do nome do presidente da República.” O ministro solicita investigação, em conjunto, pelo Ministério Público Federal e Polícia Federal.


Em IstoÉ, MATÉRIA COMPLETA



 


 

Memória fraca - Folha de S. Paulo

Julianna Sofia

 [porteiro fantasma]

PGR arquivou às pressas menção a nome do presidente no caso Marielle?

Às 10h49 da última quarta-feira (30), o ministro Sergio Moro (Justiça) enviou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, ofício pedindo à PGR abertura de uma investigação para apurar as circunstâncias do depoimento do porteiro que cita o presidente Jair Bolsonaro no inquérito do caso Marielle. Àquela altura do dia, o ministro-advogado do presidente da República já tinha tomado conhecimento de informação ainda ignorada: uma notícia fato encaminhada dias antes ao STF pelo Ministério Público do Rio, comunicando a menção a Bolsonaro, fora analisada e engavetada pela Procuradoria-Geral. Horas depois, o próprio Aras viria a público confirmar a decisão, por considerar a oitiva do porteiro um “factoide”.

[convenhamos que não tem, nem tinha,  o menor sentido reter um processo já moroso - apesar da insistência dos 'devotos' da vereadora Marielle para que a investigação de sua morte seja prioridade em um país como mais de 60.000 assassinatos/ano  - pela menção efetuada por um porteiro fantasma (nada se sabe sobre ele, sequer o nome) ao presidente da República - quando a Câmara dos Deputados já comprovou que a menção foi mentirosa - talvez a testemunha tenha sido comprada pelo inimigos do presidente - ao confirmar que  suposta hora do diálogo no condomínio, o presidente Bolsonaro estava em Brasília.

Sem cabimento também as restrições que o MP do Rio está criando  no que concerne a detalhes técnicos da perícia da suposta conversa - ainda que a perícia tenha sido conivente com eventual fraude (hipótese altamente improvável, especialmente por falta de interesse em adulterar o material = já que os contatos indicados pelo porteiro em depoimento à Polícia Civil foram desmentidos pela Câmara dos Deputados) a fraude se tornou desnecessária pelo cumprimento oficial e com fé pública efetuado pela Câmara dos Deputados, afirmando que no dia do assassinato da vereadora Bolsonara estava em Brasília, tendo votado por duas vezes em sessões daquela Casa.

Certo colunista alegou faltar ao porteiro motivos para mentir na tentativa de envolver o presidente Bolsonaro. Faltou questionar que interesse tinha o então presidente da República - na época com processo de candidatura à Presidência da República em crescimento - em se envolver no assassinato da vereadora Marielle?

Mas, da mesma forma que o assassinato de Celso Daniel caminha para a identificação segura do principal mandante, a tentativa contra o presidente Bolsonaro terá os mandantes devidamente identificados. É MERA QUESTÃO DE TEMPO.]

Questionado mais de uma vez, o procurador-(indicado por Bolsonaro)-geral não lembra nem sabe informar quando se deu o arquivamento. Foi amnésico ao dizer que provavelmente na própria quarta (30) ou, quem sabe, no dia anterior —na terça (29) à noite o Jornal Nacional revelara o conteúdo do depoimento com a citação. O lapso cognitivo do PGR é conveniente. Divulgar dia e hora do arquivamento, torna patente o açodamento do ato —ocorrido, quem sabe, entre a revelação do JN e o ofício de Moro do dia seguinte?
Aras o fez sem periciar as gravações registradas na portaria do condomínio do presidente, muito embora seja de pouca valia a perícia duvidosa de 2h25, feita a pedido do MP do Rio (que tinha uma bolsonarista declarada entre as promotoras do caso). A análise, comparável a um queijo suíço, tornou falso o depoimento do porteiro, diz o MP. [quem mostrou, e provou, ser falso o depoimento do porteiro foi a confirmação pela Câmara dos Deputados que no dia e hora citados pelo 'porteiro-fantasma' o presidente Bolsonaro estava naquela Casa, votando.] Aos de memória fraca, vale recordar. Em 9 de outubro, o governador Wilson Witzel confidencia a Bolsonaro a referência a seu nome no inquérito, relata o mito. No dia 16, ele se encontra com Dias Toffoli (STF), que se reúne com promotores do Rio 24 horas depois. No sábado (19), o presidente recebe Aras no Palácio do Alvorada. No mesmo dia, seus advogados lhe fazem uma visita. 
 
Julianna Sofia - Folha de S. Paulo
 
 
 

Dilemas e conflitos da América do Sul - Míriam Leitão

A América do Sul se debate novamente em protestos e conflitos, em clivagens entre direita e esquerda e, no Brasil, em afrontas à democracia. Na economia da região, o dilema é entre ajuste fiscal e investimentos para a redução da pobreza e da desigualdade, mas o único caminho certo é o que concilia os dois objetivos. Eles são complementares. No Brasil, nesses dias, visitou-se o nosso pior pesadelo pela voz do filho do presidente. A reação das instituições foi tão eloquente quando o silêncio dos militares.

Aqui temos dois problemas. O aperto fiscal erodindo políticas públicas e o pesadelo autoritário que o presidente Jair Bolsonaro e dois dos seus filhos gostam de trazer à tona. Eles não têm o poder de golpear as instituições, mas sim um insistente desejo já manifesto inúmeras vezes. É patológico.  Os militares brasileiros fizeram um longo percurso de recuperação de imagem. Agora suas lideranças envolveram-se numa relação simbiótica com o governo Bolsonaro. É o maior risco reputacional que correm em três décadas. O papel diligente com que têm exercido inúmeras tarefas requeridas pelo poder civil, ao longo dos últimos 34 anos, trouxe-lhes boa imagem. Podem perdê-la nas confusões feitas pelo atual governo, que defende uma ideologia esclerosada e torpe, e entra em confronto com vários grupos sociais ao mesmo tempo.

Os militares da ativa não podem se manifestar politicamente, mas sempre fazem saber seu ponto de vista quando lhes convêm. Os que cercam o presidente Bolsonaro falam claramente, mandam recados ao Supremo e a quem eles pensam ser adversários do atual governo. O silêncio dos militares, da reserva ou da ativa, ficou bem alto nos últimos dias. Uma palavra bastaria para que se soubesse que as saudades da ditadura são sentimentos apenas da família presidencial. Sem essa palavra, fica no ar a ambiguidade. E ela beneficia quem tem tentado intimidar o país.
A questão real que permanece na América do Sul é combater sua enorme desigualdade social. Esquerda e direita democráticas têm reflexões a fazer e pontos a corrigir. A esquerda tende a ver como de direita todas as políticas para ajustar as contas públicas como se o equilíbrio fiscal fosse conservador e condenável.

A famosa frase da ex-presidente Dilma ilustra esse pensamento: “despesa é vida”. Por outro lado, a direita tende a não ter sensibilidade para as enormes distâncias sociais que sempre foram o foco da instabilidade política e econômica da região. Entre disciplina fiscal e gastos sociais com foco nos mais pobres, o melhor é escolher os dois porque só isso tornará o crescimento sustentado e a democracia sólida. Já sabemos, até de tempo recente, que o gasto sem controle produz inflação e crise, o que fere os mais pobres, anulando o efeito das políticas sociais. Também sabemos que sem uma política ativa voltada para os mais pobres a tendência natural é que as transferências públicas favoreçam os mais ricos.

A centro-esquerda governou o Chile muito tempo e, portanto, é parte da herança que explode em revolta contra o governo de Sebastian Piñera, que, por sua vez, usou contra seu povo uma violência desmedida. A Bolívia não pode ficar prisioneira do continuísmo de Evo Morales, nenhuma democracia sobrevive ao quarto mandato do mesmo presidente. Os peronistas cometeram, na última vez que administraram a Argentina, vários erros: gasto descontrolado, intervenção em órgãos que deveriam ter autonomia, populismo tarifário. Voltaram ao poder com as promessas de sempre, mas sem dizer como pretendem enfrentar a inflação alta e a crise cambial. A Venezuela há muito tempo perdeu-se no autoritarismo mais grotesco. 


O Peru foi o mais impactado pela corrupção que o Brasil exportou. Aqui se sabe que a corrupção é duplamente perigosa: desorganiza o país e cria salvadores da pátria que proclamam valores morais que não praticam. Nos últimos dias, em alguns dos países da região, as ruas viveram cenas de revolta. Houve quem tentasse reavivar velhas assombrações. Falsos dilemas têm separado políticas públicas que, se conjugadas, poderiam reduzir o imenso fosso social que sempre mantiveram abertas as veias da América do Sul.

Blog da Míriam Leitão, jornalista - Com Alvaro Gribel - O Globo