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segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Defesa de genocídio da população de Israel mostra que stalinismo viajou de Moscou para Harvard - Estadão

J. R. Guzzo

Estudantes de três das mais sagradas universidades dos Estados Unidos defenderam assassinato em massa de judeus e diretores se recusaram a dizer que a pregação era contrária aos estatutos e aos princípios éticos das universidades

Todas as vezes em que o Brasil baixa a um novo patamar em matéria de falência moral e se ouve as pessoas dizerem “eu quero ir embora deste país”, é bom olhar um pouco para os paraísos de Primeiríssimo Mundo e os níveis superiores de civilização que lhes são atribuídos pelo imaginário brasileiro. 
Não diminui em nada os problemas do Brasil, é claro. 
Mas mostra que não estamos sozinhos em nossas tragédias, e que a miragem de um mundo ideal lá fora é apenas isso – uma miragem. 
Os avanços extraordinários que essas sociedades souberam construir e oferecer para a humanidade estão sendo desmontados por uma ofensiva sem precedentes contra os direitos fundamentais das pessoas – da liberdade de pensamento à liberdade de discordar. 
Tentam reduzir, agora, o direito à vida.
 
Grupos de estudantes de três das mais sagradas universidades dos Estados Unidos – Harvard, MIT e Penn State, com suas anuidades próximas a R$ 300 mil e os seus Prêmios Nobel estão pregando, em manifestações públicas, o genocídio da população de Israel
Dizem que é a única solução para o “problema da Palestina”. 
É chocante ver que jovens colocados nas esferas mais altas da educação mundial defendem o assassinato em massa de judeus, como na Alemanha de Hitler. 
Mas bem pior é o apoio que recebem da direção das universidades onde estão matriculados.  
Chamados a depor numa comissão de inquérito do Congresso americano, os presidentes de Harvard, MIT e Penn State se recusaram, pergunta após pergunta, a dizer que a pregação do genocídio em seus campi era contrária aos estatutos e aos princípios éticos das universidades que dirigem.
 
Se você não é contra o genocídio, qual é a dedução que se pode fazer? 
Os presidentes quiseram mostrar que são neutros; acham que podem manter uma posição isenta diante do homicídio em massa. 
É óbvio que só conseguiram provocar um escândalo – que não chegou às manchetes, é claro, mas continua sendo um escândalo. 
Em seus depoimentos à comissão, disseram e repetiram, do começo ao fim, que a condenação das propostas de genocídio contra os judeus dependia do “contexto”. Como assim?  
Pregar a morte de seres humanos pode não ser ruim, conforme for o “contexto”? 
É o que dizem os reitores. 
 
A defesa do genocídio, segundo eles, só poderia sofrer objeções se passasse do “discurso aos atos”; enquanto for uma questão de “opinião pessoal”, dizem, está tudo bem.  
Quer dizer que para receber uma sanção disciplinar o aluno teria, fisicamente, de matar um judeu? É a conclusão possível. [um comentário sobre FATOS, sem considerar nenhum aspecto ideológico - somos totalmente contrários à defesa do genocídio, mas consideramos mais  grave é que Israel pode até não defender o genocídio dos palestinos, mas o executa, quando  mata milhares de civis palestinos indefesos.]

Certos vinhos, segundo os peritos, “viajam mal”. Certas visões de mundo também. O stalinismo viajou mal de Moscou para Harvard.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Herdeiros de 1968 - Revista Oeste

Theodore Dalrymple

Cada vez mais, nas universidades do mundo ocidental, os estudantes estão dizendo: 'Vocês podem ter a opinião que quiserem, contanto que seja a nossa'

Henry Ford, o grande industrialista, disse certa vez aos compradores de seus carros: “Vocês podem pedir a cor que quiserem, contanto que seja preto”. Cada vez mais, nas universidades do mundo ocidental, os estudantes estão dizendo: “Vocês podem ter a opinião que quiserem, contanto que seja a nossa”. E esse comportamento está rapidamente se espalhando do campus para o restante da sociedade.

O Massachusetts Institute of Technology retirou recentemente o convite ao professor Dorian Abbot, da Universidade de Chicago, para uma palestra pública sobre os desenvolvimentos na ciência climática, assunto em que ele é um especialista reconhecido. Houve protestos no Twitter contra o convite, e o MIT, com a covardice que infelizmente passou a ser previsível entre as autoridades universitárias, cedeu aos manifestantes.

A razão para as queixas ao convite foi um artigo que o professor Abbot publicou questionando a sabedoria das cotas raciais na seleção de estudantes para as universidades: ou seja, ele era contra a discriminação positiva.  Existem argumentos razoáveis em favor da discriminação positiva. Não é totalmente descabido imaginar que, se um inscrito foi bem nos exames apesar de ter uma origem menos favorecida, ele pode ser tão capaz e com certeza tão determinado quanto alguém que foi melhor nos mesmos exames, mas tem uma origem mais privilegiada.

Mas também existem argumentos razoáveis contra as políticas de discriminação positiva, entre os quais está o fato de que os beneficiários dessa discriminação nunca saberão se seu sucesso subsequente foi resultado de seus próprios esforços sem ajuda ou se foi um ato um tanto condescendente de caridade: e isso pode gerar um ressentimento permanente. A discriminação positiva é inerentemente injusta, uma vez que não pode haver discriminação positiva sem uma versão negativa, e não é mais culpa de um homem ter nascido em circunstâncias privilegiadas do que ter nascido em circunstâncias não privilegiadas. Além do mais, a discriminação positiva pode reduzir ou pelo menos inibir os esforços e levar as pessoas a não fazer o máximo que puderem, só o suficiente.

Muitos de nós, talvez a maioria, leem para confirmar as opiniões que já têm

No entanto, quer o professor Abbot estivesse certo ou errado, não é a questão. Existe uma tendência humana natural de não querer ouvir argumentos que vão contra a própria opinião, e essa é uma tendência a que se deve resistir conscientemente. Em sua autobiografia, Charles Darwin conta que, sempre que deparava com uma opinião que contradizia a sua própria, em algum momento, ele a anotava, porque, caso contrário, sem dúvida iria esquecê-la. Poucos de nós são assim. Muitos de nós, talvez a maioria, leem para confirmar as opiniões que já têm. Eu sei que, no passado, comprei livros que, fundamentalmente, não me diziam nada que eu já não soubesse ou achasse, e me pego tendo de resistir a essa tentação de autoconfirmação. É muito raro que alguém mude de ideia de imediato, como em uma conversa sobre religião, mas em algum momento as evidências ou os argumentos surtem efeito, como a umidade em um prédio. É necessário se expor às opiniões contrárias.

Eu mesmo fui recentemente desconvidado pelos alunos da Universidade de Oxford, que tinham me chamado para participar de um debate. O estudante que escreveu para me fazer o convite escreveu para me desconvidar três semanas depois, com a desculpa boba de que “queremos que o debate siga outro rumo” e “queremos envolver uma gama de opiniões” — entre as quais, obviamente, não estava a minha.

Em segredo, fiquei bastante satisfeito, ainda que tenha dito a todo mundo que fiquei incomodado. Em primeiro lugar, na verdade, eu não queria fazer o esforço envolvido (ainda que sinta que tenho a obrigação de falar com a geração mais jovem se ela me chama), mas, em segundo e mais importante, fiquei lisonjeado de agora ser considerado uma pessoa tão má que minha presença não seria mais tolerada. Foi uma espécie de confirmação do trabalho de uma vida.

O feitiço, no entanto, pode por fim estar se virando contra esse fenômeno moderno polimorficamente perverso, o politicamente correto. Na Universidade de Sussex, na Inglaterra, as autoridades se recusaram a dispensar uma professora de filosofia, até então uma feminista radical, por exigência dos alunos — ou melhor, de um grupo barulhento de alunos. Ela os incomodou ao escrever que um homem não se torna literalmente uma mulher (ou vice-versa) ao fazer cirurgias e tomar hormônios. O reitor sênior da universidade se recusou a ceder à exigência dos alunos, que parecem acreditar cada vez mais que vão para a universidade para ensinar, e não para aprender. Mas vale lembrar que a geração atual de professores e administradores universitários é, ela mesma, herdeira e beneficiária da revolta dos estudantes de 1968, que tanto fez para destruir a autoridade acadêmica tradicional. Revoluções costumam devorar seus jovens, tanto que os revolucionários muitas vezes acabam se tornando reacionários, pelo menos quando não ficam estagnados em uma condição de adolescência eterna.

O último caso — de adolescência eterna — substituiu a juventude eterna como uma meta almejada, mas impossível. Em toda parte, vejo homens e mulheres de 70 anos vestidos como se ainda tivessem 19 ou 20. Existem poucas imagens mais patéticas do que astros do rock apegados ao que consideram seus dias de glória. Seus rostos costumam parecer uma alvenaria que desmoronou.

É comum dizer que a adolescência e o começo da vida adulta são períodos de idealismo na vida. Olhando em retrospecto para a minha própria — se for considerada típica, o que, claro, ela pode não ser —, não posso discordar. A juventude é mais um período de arrogância e egoísmo disfarçados de idealismo do que de idealismo em si. Quando a essa arrogância juvenil se acrescenta a arrogância do cliente que tem sempre razão, ex officio (uma vez que os estudantes nas universidades agora são clientes, em vez de jovens sentados aos pés dos velhos), é apenas natural que eles exijam a demissão, a punição e, sem dúvida, um dia a execução dos professores.

Leia também “Paulo Freire e sua pedagogia do oprimido”

e Geniais no fracasso Existem jornalistas que são excelentes guias para o mundo, contanto que você acredite exatamente no contrário do que escrevem

Theodore Dalrymple, colunista  - Revista Oeste


quarta-feira, 21 de julho de 2021

CPI da Covid - Você compraria um carro usado do deputado Luis Miranda? [NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO?]

Madeleine Lacsko

A novela Luis Miranda, a CPI e a lógica de rede social que contamina o jornalismo

Deputado Luis Miranda mostra que falar contra Bolsonaro rende engajamento [qualquer ex, qualquer esquecido em uma viela, quando tenta recuperar holofotes, adere ao esporte dos inimigos do Brasil = falar mal do presidente Bolsonaro, caluniar o capitão, ser contra seu Governo. Quase sempre se f ..., após conseguir alguns momentos de glória.

"Insanidade é fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes", disse Albert Einstein. Isso é bem mais fácil de entender do que a teoria da relatividade, mas nem por isso a gente quer entender. Quando eu vi Luis Miranda dando entrevista dizendo que tinha uma gravação do presidente, meu coração já palpitou. Eu vi esse filme antes e arrumei uma encrenca danada. [dizer que tem e não ter, é mentir; quem mente é um mentiroso. Quem falta com a verdade é um mentiroso. Deputado pode mentir? NÃO! a imunidade protege eventuais pronunciamentos (desde que não sejam favoráveis ao presidente Bolsonaro) mas, pronunciamentos mentirosos não estão protegidos. Esse deputado faltou com a verdade, quebrou a Ética e o Decoro exigidos de um deputado e tem que ser punido = cassado.]

Lembram do Joesley?  Pois é, a história toda começou com a brilhante ideia de noticiar que ele tinha uma gravação, detalhar o conteúdo da gravação mas ninguém ouvir a gravação. Na época, eu não quis noticiar sem antes ouvir a fita. Foi um bate-boca, mas meu ponto é outro: essa discussão ainda existia. Não existe mais.

> > NOVIDADE: faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram

O professor de psicologia da NYU Jay Jan Bavel diz que redes sociais e veículos de comunicação já se enredaram a ponto de virar um único modelo de negócio, o do ultraje. Os meios de comunicação conseguem audiência hoje via redes sociais e nelas, o que viraliza é quando um grupo ataca outro ou uma pessoa do outro. O caso Luis Miranda é emblemático sobre a migração desse processo para a imprensa e a mídia. 
 

 Deputado Luis Miranda de mochila

Se alguém me diz que tem uma gravação ou um documento com o potencial bombástico do que foi anunciado, eu vou ficar louca para ver. Mas eu só vou afirmar que essa pessoa tem a gravação e o documento depois de ver e me certificar de que é verdadeiro. O espaço para ficar de bravata é a rede social. Se o deputado quer mostrar a gravação e os documentos ao público, fazer uma denúncia embasada, aí sim a imprensa e o Congresso Nacional devem dar atenção. Mas, de forma prática, temos um jogo que ninguém entende.

Ainda não sabemos nem se esses documentos existem ou não, mas é clara a intenção de falar sobre eles o máximo possível. Qual seria a razão? Também não sabemos. Para isso, o deputado tem suas redes sociais caso queira só a bravata mesmo. Tem também a tribuna da Câmara, caso entenda que deve falar publicamente dos documentos mas só mostrar aos seus pares. O deputado Luis Miranda conseguiu ocupar um espaço gigantesco na imprensa nacional e nas redes sociais com uma informação que ninguém sabe se é verdadeira e nem fez esforço para comprovar. [o próprio irmão do deputado, declarou em depoimento a PF que esqueceu de gravar a conversa comentada; declarou também que trocou o telefone, no meio da encrenca, e esqueceu de fazer backup dos artigos.] Não estou prejulgando o parlamentar devido às inúmeras acusações que pesam contra ele, mas pensando no público. Como eu vou afirmar algo que eu não sei se é verdade nem por qual intenção foi dito? Isso foi feito com a maior naturalidade e em larga escala.

Agora entramos numa situação que a cada dia supera o roteiro mais mal escrito que possamos imaginar. A tal gravação ainda não surgiu. Aparentemente, o irmão do deputado trocou de celular e não tem mais as mensagens pressionando com relação à vacina. Mas daí o deputado vai nas redes sociais dele e diz que não tem é o celular, porque trocou, mas tem as mensagens. Ninguém viu as mensagens até agora. Parece incompetência ou desleixo e teríamos muita sorte se realmente fosse porque para isso já sabemos o remédio. A diretora do centro do MIT que pesquisa desinformação diz que trata-se de um processo dos últimos 20 anos. Segundo Joan Donovan, a entrada do jornalismo na internet e depois nas mídias sociais promoveu mudanças profundas na sociedade.

A primeira tentativa de que o jornalismo fosse viável economicamente na dinâmica da internet é o paywall à moda antiga. Ocorre que era a primeira vez em que você tinha uma barreira financeira até informação de qualidade e meios de produzir informação gratuita disponíveis a todos os cidadãos. Grupos que jamais tiveram voz na mídia surgem e isso é bom. Ocorre que também vêm com tudo grupos a quem jamais a sociedade dava voz porque são perigosos.

O exemplo dado pela acadêmica é da formação dos grupos antivacina, que transitam por ideologias políticas e, por isso, são um fenômeno interessante para análise. Eles vão ganhando adeptos semelhando dúvidas, um método que se tornou clássico. Não convencem de que vacinar é ruim, geram a dúvida, o pensamento sobre esta possibilidade, questionamento que não era feito.

Ao longo de 20 anos, esses grupos se consolidam, aprendem a lidar com a tecnologia e a manter suas audiências. E eles passam a gerar muito dinheiro para as redes sociais. Os 12 grandes produtores de conteúdo antivacina dos EUA ganharam US$ 36 milhões em 2020 com essa produção. As redes sociais ganharam US$ 1,1 bilhão com o conteúdo produzido por antivacinas no mesmo período. É no meio disso que está a imprensa.

Hoje, a imprensa tradicional distribui conteúdo pelas mídias sociais e ganha tráfego via mídias sociais, como observa o professor de psicologia da NYU, Jay Van Bavel. Ele explica que isso já torna dificílimo conseguir separar hoje o que é um fenômeno social provocado pelas redes e o que é provocado pela imprensa. Hoje, o conteúdo de imprensa segue a lógica do algoritmo.

A lógica do algoritmo é que vão fazer sucesso,
portanto viralizar, aqueles conteúdos em que se faz um ataque a um grupo oposto ou indivíduo do grupo oposto. A informação bem apurada não gera engajamento, a não ser que ataque alguém. Já a informação mal apurada pode gerar engajamento desde que ataque alguém. Numa indústria em transformação, parece que o caminho acaba ficando natural. Artigo comparando engajamento de mídia mainstream com mídia opinativa conservadora

Sabemos é que pouco a pouco o ultraje como modelo de negócio chega à mídia tradicional. Luis Miranda é o retrato pronto e acabado desses novos tempos. Pouca coisa dá mais audiência e causa mais frisson do que o presidente. Uma dessas coisas é alguém batendo em Jair Bolsonaro. De forma consciente ou inconsciente, essa lógica está tomando conta do jornalismo.

A questão é que esse movimento também afeta a sociedade e tem consequências na democracia. Ele interferiu no andamento de uma CPI e na forma de conduzir os trabalhos. Tem se tornado comum a coleta de depoimentos que não estão embasados em documentação, o que já foi raríssimo, mas gera um engajamento enorme. Já surgiu até uma nova geração de comentadores ao vivo de CPI nas redes sociais, interagindo com os senadores.

Eu também já achei tudo isso muito libertário e positivo um dia, sou uma otimista incorrigível. Creio que realmente será positivo quando estivermos conscientes de que não há comunicação direta com os poderosos nem liberdade de expressão em rede social. Tudo é mediado pelo algoritmo, tudo só funciona na lógica criada pelas Big Techs e não esclarecida para nós. Jogamos o jogo sem saber as regras. Ao favorecer quem se manifesta contra o grupo oposto, as Big Techs criam uma lógica social fundada no ultraje e no justiçamento. Os ciclos de notícia passam a ser o ultraje contra alguém ou algum grupo. Em seguida, ele é substituído pelo ciclo de justiçamento contra quem promoveu o ultraje e assim sucessivamente. No meio da pancadaria, a primeira vítima é a verdade.

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sábado, 29 de maio de 2021

Excesso de certezas - Eurípedes Alcântara

O Globo

O certo e o complexo

Parece cada vez mais difícil para mais gente admitir que não sabe o bastante sobre alguma coisa a ponto de ter uma opinião. As conversas sobre qualquer assunto estão ficando insuportáveis pelo excesso de certezas absolutas, antes só permitidas aos muito jovens. 
Certeza é um dos sintomas da imaturidade. 
Ser adulto é aprender a conviver com incertezas. “Não sou jovem o suficiente para saber tudo”, diz o sábio ditado ora atribuído ao poeta irlandês Oscar Wilde, ora ao primeiro-ministro britânico da Era Vitoriana Benjamin Disraeli.

Por essa régua, vivemos numa sociedade de imaturos, inseguros, buscando muletas para se apoiar. Esse ambiente favorece duas situações indesejáveis. A primeira é a tentação de delegar decisões da vida pessoal a uma ideologia, a um partido ou até a um governo. A segunda é o recolhimento ao conforto do pensamento binário simplório, com o consequente pavor da complexidade. Assustador é essa ilusão ser cultivada por jovens, principalmente das grandes cidades do Ocidente. Jovens americanos dos movimentos Antifa e Black Lives Matter, [movimentos terroristas que deveriam ser proibidos (julgamento feito em um momento em que procuramos pensar de forma mais , digamos, antiga, madura.] excluídos embora tenham recentemente começado a trocar sopapos entre si, costumam definir-se como socialistas ou mesmo comunistas.

[PARABÉNS ao ilustre articulista; matéria que deveria ser leitura obrigatória (decoreba mesmo)para a quase totalidade dos jornalistas ligados à midia militante - tal pessoal, passou a exercer o péssimo hábito de considerar seus pensamentos, suas interpretações, suas vontades,   como se fossem certezas absolutas e narrá-las como se FATOS fossem.
Um exemplo: todos sabem que o RDE - Regulamento Disciplinar do Exército honrando o próprio título, estabelece normas, procedimentos e todo o necessário para tipificar qualquer transgressão disciplinar e aplicar o tratamento cabível.
 
Só que grande parte da mídia militantes, inclusive alguns dos seus expoentes (ainda que
tenham honrado
tal título apenas no passado) Escrevem trechos dramáticos, mentem descaradamente buscando transmitir a ideia de uma crise eminente   - que só existe na cabeça dos militantes do pessimismo, do 'quanto pior, melhor'
- entre o presidente da República e o Exército Brasileiro.
Se for cabível a justificativa da transgressão atribuída ao general Pazzuelo, o RDE será cumprido.
Sendo ele condenado e o presidente da República entender conveniente revogar a punição, será revogada e o RDE também  será respeitado. 
 
Até nos EUA que,  apesar do desastre resultante da eleição do esquerdista Biden, é a maior e mais sólida democracia do mundo o presidente da República tem poderes de anistiar até condenados a morte.
E o Poder Judiciário do país norte-americano, começando pela Corte Suprema, acata a decisão do presidente.
 
A disciplina e hierarquia do Exército Brasileiro é certamente bem mais sólida do que  a democracia e a Constituição de 88 - que vez ou outra são violadas a pretexto serem preservadas.
Em tempo: o presente comentário nao foi escrito em um momento de assomo  de juventude ou de maturidade - chegar a conclusão acima, basta ler as leis que cuidam do assunto.]
 
  

“Esses moços, pobre moços (...)/ Saibam que deixam o céu/ Por ser escuro/ E vão ao inferno/ À procura de luz.” Dizem os versos de Lupicínio Rodrigues. Acabei de ouvi-los na linda voz de Adriana Calcanhotto. É um convite lírico a pensar nas lutas dos jovens militantes. Uma lei histórica mostra que ninguém milita com o objetivo de continuar oprimido quando sua causa triunfar: o militante se imagina sempre dirigente na nova ordem. É uma lei incontrastável.

Quando o objetivo da luta é obter a igualdade plena entre todos, caso a insurreição triunfe, o militante logo se arvora a ser “mais igual” que os outros, na exata observação de George Orwell no livro “A Revolução dos Bichos”. Cuidado com o que pedem, pois podem conseguir e descobrirão muito tarde não ser o coletivismo igualitário o resultado, mas a ditadura.

A segunda situação indesejável trazida pelo excesso de certeza é o medo do pensamento complexo. O mundo real não é preto e branco. A complexidade é um fato da vida. O pensamento complexo é aberto à crítica, condição obrigatória a toda formulação merecedora de atenção. É atento à sua própria obsolescência, sensível ao novo, ao desconhecido, ao estranho.

Admitir a complexidade de certos assuntos e reconhecer não ter opinião válida sobre eles é uma opção adulta, madura, em qualquer idade. Viva a complexidade! O pensamento complexo é sempre receptivo à incerteza, à contradição, à ambivalência. Como nos ensina o sábio francês Edgar Morin, são essas as qualidades de quem se propõe a escapar da arrogância e do dogmatismo.

Essas reflexões, acredito, valem para oprimidos e opressores. O espírito do nosso tempo comanda que “tudo é política”. Essa é a premissa do livro mais recente de Paul Krugman, ganhador do Prêmio Nobel de Economia em 2008 e hoje o economista com maior influência sobre o governo do presidente americano, Joe Biden. O título do livro de Krugman em português é “Discutindo com zumbis: economia, política e a luta por um futuro melhor”. Conheci Krugman quando ele ainda dava aulas no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e era um zeloso fiscalista. Agora ele incentiva Biden a imprimir dólares para impedir a recessão contratada pela pandemia de Covid-19. As certezas numéricas da juventude deram lugar à aventureira complexidade da política. Ele está certo? Não sei. Não conheço bastante a política monetária americana para dar uma opinião.

Eurípedes Alcântara, colunista - O Globo 

 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

O Governo dos Juízes e o Governo dos Generais - Folha de S. Paulo

 Marcus André Melo

Suprema Ironia: o leviatã judicial protege a democracia mas assusta os cidadãos

[os cidadãos se assustam, por lembrar a sempre incontestável frase de Rui Barbosa 'a pior ditadura é a do Poder Judiciário' ]

Em nossa história republicana era comum referir-se ao STF como "esse desconhecido"; conhecidos eram apenas os generais, ou até os tenentes. Paulatinamente as coisas se inverteram: conhecemos os ministros da corte, mas recentemente passamos a nomear quem é quem nas Forças Armadas.

Jacques Lambert, no clássico "Os Dois Brasis" (1957) argumenta que generais e juízes cumprem funções de arbitragem política; os magistrados nas democracias, os militares nos regimes autoritários. Ele referia-se às intervenções militares até 1955; não previu um regime militar.  No livro faz instigante comparação com os EUA, cuja história constitucional havia analisado, antes de aportar no Brasil em 1939, em um compêndio em três volumes. Em uma seção de "Os Dois Brasis" intitulada "O Governo dos Juízes e o Governo dos Generais", argumentava que a arbitragem judicial nas democracias pode ser conflituosa e partidarizada, mas é estável. E vir junto com certo ativismo: "Em nome da legalidade constitucional e mesmo da superlegalidade, um governo de juízes nos EUA interditara ao legislador intervenções que lhe pareciam injustas e às vezes mesmo suprira a inação do legislador. Na questão da segregação escolar nem ao menos se deram ao trabalho de baseá-la em justificativas de ordem jurídica ou constitucional."

Mas Lambert acrescenta que o governo dos juízes tem a vantagem de que os que o exercem não dispõem de força. Ele pode ser "meio durável de governo, porque no interior dos tribunais imiscuídos na política, a lei da maioria permite suprimir os conflitos". Mesmo quando fazem intervenções específicas "os juízes tiveram que tomar partido em todas as grandes questões que dividiam a opinião, tendo a corte admitido uma direita e uma esquerda".

A diversidade de opinião não oferecia grandes perigos: "se surgiam conflitos entre o juiz McReynolds e o juiz Cardozo, eles não se manifestavam senão pela forma de argumentos jurídico-sociológicos entre os adversários". Mas, quando os generais intervêm a fim de exercer arbitragem política, "dificilmente se pode evitar que as lutas de partido e as lutas ideológicas se transponham para o exército". E pior: seu monopólio sobre os meios de violência leva à escalada do conflito.

Nas democracias a Suprema Corte detém o monopólio da arbitragem política. No Brasil de Lambert, ela cumpria um papel subalterno; hoje é marcada pelo hiperprotagonismo. Sofre brutal sobrecarga; ao contrário da americana é corte criminal em um quadro em que a impunidade começa a ser rompida e o rol de réus é vasto. E enfrenta cotidianamente um executivo autoritário. Sim, o leviatã judicial protege a democracia mas assusta os cidadãos.

MarcusAndré Melo, Professor da UF-PE - Folha de S. Paulo


domingo, 7 de abril de 2019

Mourão é aplaudido de pé: "Geisel não foi eleito, eu fui"

Vice-presidente diz que Forças Armadas sairão desgastadas se governo 'errar demais'

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, foi aplaudido em pé em Harvard ao responder pergunta sobre o papel dos militares na política brasileira. Em uma pergunta sobre o histórico dos militares no Brasil e uma comparação feita com o general Ernesto Geisel, Mourão rebateu: " O general Geisel não foi eleito, eu fui."

Nessa hora, enquanto a plateia se levantava para aplaudir o vice-presidente, um manifestante gritou "ditadura nunca mais" e foi retirado pelos seguranças do evento. Mourão participa da Brazil Conference, evento organizado pelos alunos brasileiros de Harvard e do MIT. Na plateia, além de alunos e professores de Harvard, estão o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. 

Ele minimizou o papel dos militares no governo Bolsonaro e disse que os integrantes das Forças Armadas que fazem parte do governo já estavam na reserva quando foram convocados para o Executivo. "O presidente Bolsonaro é mais político do que um militar, mas carrega dentro de si, obviamente, toda formação que nós tivemos", disse Mourão. Ele disse que foi convocado por Bolsonaro na "décima hora" para a vice-presidência. "Positivo, é assim que funciona a coisa", brincou Mourão, sobre aceitar o convite.
"Os companheiros que conheciamos das Forças (Armadas) foram convocados, mas são todos da reserva, estão afastados", disse Mourão. 

O vice-presidente afirmou ainda que se o governo "errar demais", a "conta" irá para as Forças Armadas. "Daí a nossa extrema preocupação e as palavras que o presidente falou no dia 28 de outubro quando fomos eleitos. Ele olhou para mim e disse assim: nós não podemos errar", disse Mourão. 

 

 

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Bolsonaro e a previdência

A janela de oportunidade para a reforma previdenciária é inédita

Reformas da Previdência têm sido analisadas como impossibilidades: em princípio, nunca deveriam acontecer devido aos elevados custos políticos de aprovação. No entanto, acontecem —no Brasil e fora dele. Tais reformas são custosas porque implicam imposição de perdas em relação a grupos concentrados e benefícios difusos. No entanto, crises fiscais agudas —como a que aflige muitos estados brasileiros— criam janelas de oportunidade para a mudança. Uma forma de mitigar os altos custos políticos envolvidos é por meio de regras de transição. Ainda assim, os problemas podem ser consideráveis no conjunto de países que, como o Brasil, adotam sistemas de repartição (modelo Bismarckiano; ex: França, Alemanha, Itália).

É só neste modelo que as reformas são explosivas. Nele, os contribuintes ativos do sistema fazem aportes visando a manutenção da renda no futuro. O sistema é política e fiscalmente instável porque cria o imperativo de ajustes periódicos devido à elevação gradual da expectativa de vida. Nos países que historicamente adotaram pensões públicas universais a valores fixos baixos (em que as pensões foram vistas só como solução para a pobreza na velhice; ex: Inglaterra), o problema não é explosivo. E isso independe de o segundo pilar, o de capitalização, que suplementa a pensão básica, ser compulsório (quando o empregador arca com parte dos custos; ex: Holanda) ou voluntário (Japão, EUA). Pontos distintos na montagem do sistema no passado explicam a política no futuro.
No Brasil, foram criados institutos de aposentadoria de base ocupacional (para comerciários, industriários etc.). A agenda política em torno da Previdência girou inicialmente em torno da unificação dos vários regimes e da incorporação de trabalhadores informais e rurais ao sistema.A unificação dos institutos (Iapi, Iapc, Ipase etc.) e a criação do INPS (hoje INSS) ocorreram em 1966, e a aposentadoria rural veio em 1971. A permanência do regime de servidores ao lado do geral ficou como um resíduo da unificação incompleta de 1966.
A atual reforma da Previdência combina revisões paramétricas no modelo existente (completando a agenda da década de 1990) e mudanças estruturais no próprio modelo histórico. Estamos no “grupo da morte” de países onde reformas são politicamente difíceis, e a maturidade do nosso sistema joga contra, porque os custos de transição tornaram-se muito elevados. Mas a crise dos estados, o relativo consenso entre as elites burocráticas e políticas em torno da reforma e a centralidade do tema na agenda de Bolsonaro abrem uma janela de oportunidade inédita.
Marcus André Melo, professor  e ex-professor visitante do MIT e da Universidade Yale - EUA
 

domingo, 23 de dezembro de 2018

Do Palácio à prisão - Lula, sem ceia passará Natal sozinho na Polícia Federal e vai comer cardápio regular na cela que ocupa: arroz, feijão, salada e carne



Lula é o primeiro ex-presidente a ser preso por crime de corrupção


Condenado em primeira instância, pelo juiz federal Sérgio Moro, a 9 anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve sua sentença confirmada e a pena aumentada por unanimidade no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) em janeiro deste ano. Lula é o primeiro ex-presidente da República a ser condenado e preso pela Justiça por crime comum. Apesar de diversos recursos e pedidos de habeas corpus impetrados pela defesa do ex-presidente, o início do cumprimento da pena, na sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, foi inevitável. 

Sem ceia, Lula passará Natal sozinho na Polícia Federal

Preso desde abril, ex-presidente vai comer cardápio regular na cela que ocupa: arroz, feijão, salada e carne

Abatido com a derrota do PT nas eleições e a chegada de Jair Bolsonaro (PSL) ao poder, o ex-presidente Lula passará o Natal sozinho e sem direito a nenhum privilégio. A Polícia Federal (PF) em Curitiba, onde o petista cumpre pena por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, não autoriza visitas de familiares em feriados, tampouco a entrada de comidas especiais. A ceia de amanhã seguirá o cardápio padrão, com arroz, feijão, salada e um tipo de carne. Podem completar o menu comidas não perecíveis, como chocolates e frutas secas, levadas pelas visitas. 

A família do petista antecipou a celebração para a última quinta-feira. Lula recebeu os filhos um dia após a disputa entre os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, que pretendia soltar quem cumpre pena após condenação em segunda instância, como o petista, e Dias Toffoli, que cassou a liminar. O cardápio da visita foi apenas um lanche. Nesta segunda-feira (24), petistas pretendem fazer uma celebração na “Vigília Lula Livre”, pequeno espaço com tendas num terreno em frente à PF. Haverá ato ecumênico e será servida ceia. [espaço que passa a maior parte do tempo abandonado; visto que até os mais fanáticos lulopetistas começam a se convencer que Lula permanecerá preso por um bom tempo - a vergonhosa derrota do ministro Marco Aurélio, desmotivou mais ainda aquela corja, que começa a ficar ciente que mesmo que a prisão em segunda instância venha a ser revogada (difícil de acontecer, porém possível)  não facilitará a vida do presidiário, haja vista que até abril/2019 - a sentença do criminoso terá sido confirmada em 3ª Instância, STJ;

com essa situação o petista continuará preso pelo caso do triplex e com outra condenação advinda do processo do sitio de Atibaia.]  “Desde a prisão, foi definido que não deveríamos deixá-lo sozinho. Numa data dessas, é mais simbólico e importante que ele não se sinta só”, diz Luiz Marinho, presidente do PT-SP, que irá ao evento. Na noite de Réveillon, o tratamento a Lula na PF deve ser o mesmo. E os petistas pretendem fazer uma celebração. Segundo Marinho, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, deve ir ao Ano-Novo. Dirigentes do PT evitam falar em previsão de público para os atos [qualquer estimativa superior a mais de 100 pessoas se revelará ser Fake News.] . Em abril, quando Lula chegou à prisão, o entorno da PF foi tomado por centenas de barracas e dezenas de ônibus de movimentos sociais. 

Com o tempo, a mobilização esfriou. Nesse sentido, interlocutores viram a guerra jurídica que envolveu a soltura de Lula como um fato positivo. Sua imagem voltou à evidência, o que pode ajudar a reanimar seus apoiadores. Ao mesmo tempo, abriu flanco para o discurso petista de que a Lava-Jato atua de maneira arbitrária e influencia juízes de primeira instância a desrespeitarem decisões tomadas pelo STF. [a Lava-Jato não exerce nenhuma influencia sobre o Judiciário - tanto que a sentença condenando Lula foi confirmada pelo TRF4, por Turmas do STJ, por Turmas do STF, pelo Plenário Virtual da Corte Suprema e por dezenas de negativas de habeas corpus, proferidas por ministros do STF - só o ministro Fachin negou quase meia centena de HC ao condenado petista.]

No penúltimo andar do prédio da PF, onde fica a cela em que Lula cumpre a pena de 12 anos e um mês, os corredores são silenciosos. Lá, petistas costumam propagar que ele ouve dia e noite as falas dos apoiadores na vigília. Quem conhece o local pondera que só é possível escutar o som bem distante e abafado

As informações são do jornal O Globo

Relembre os fatos mais importantes sobre a prisão do ex-presidente:


O triplex
O ex-presidente foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) em setembro de 2016. Lula foi apontado como recebedor de vantagens pagas pela empreiteira OAS em um triplex no Guarujá, litoral de São Paulo. Os laudos apontam melhorias no imóvel avaliadas em mais de R$ 777 mil, além de móveis estimados em R$ 320 mil e eletrodomésticos em R$ 19,2 mil.

De acordo com o MPF, Lula teria participado conscientemente do esquema criminoso, inclusive tendo ciência de que os Diretores da Petrobras utilizavam seus cargos para recebimento de vantagem indevida em favor de agentes políticos e partidos políticos.
Nas alegações finais, a defesa argumentou que o triplex apontado pelos procuradores como sendo de Lula pertence a Caixa Econômica Federal. “Nem Léo Pinheiro nem a OAS tinham a disponibilidade deste imóvel para dar ou para prometer para quem quer que seja sem ter feito o pagamento à Caixa Econômica Federal”, declarou o advogado Cristiano Zanin Martins.
Na sentença, Moro condenou o ex-presidente a 9 anos e seis meses de prisão por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
 Segunda instância
O julgamento do recurso do ex-presidente Lula no TRF4 aconteceu no dia 24 de janeiro deste ano. Durante 9 horas, o trio de desembargadores da 8ª Turma analisou o processo e apresentou seus votos. A decisão foi unânime em concordar com a sentença de Moro e aumentar a pena fixada para 12 anos e 1 mês em regime fechado.

A defesa do ex-presidente impetrou embargos de declaração, como são chamados os recursos contra a decisão no colegiado da segunda instância, que não foram aceitos. Com a prisão iminente, sustentada pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que define que a pena deve ser cumprida após a segunda instância, a defesa do ex-presidente apresentou uma série de habeas corpus às instâncias superiores do Judiciário, mas todas foram negadas.

Prisão
No dia 5 de abril, com a negativa de todos os pedidos de habeas corpus, a 13ª Vara da Justiça Federal, em Curitiba, recebeu o ofício autorizando a prisão e o juiz Sérgio Moro, em poucas horas, determinou que o ex-presidente se entregasse na sede da Polícia Federal (PF), na capital paranaense, o que não ocorreu como fora determinado.

Após o despacho, Lula permaneceu no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), por dois dias. O local, cercado pela militância petista, teve atos políticos, discursos do ex-presidente e uma missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa Letícia, que faria aniversário de 68 anos.  Lula deixou o sindicato apenas por volta de 19h do dia 7 de abril. Ele fez exame de corpo de delito em São Paulo e chegou a Curitiba, de helicóptero, por volta de 22h.

Manifestações
O movimento de apoio ao ex-presidente montou acampamento na região da Superintendência da PF durante meses. Em julho, Vigília Lula Livre alugou um terreno há poucos metros do prédio para selar um acordo entre moradores da região e autoridades. Diariamente, o acampamento promoveu atos políticos, com a participação de autoridades do partido e convidados, programações culturais, além de ‘bom dia’ e ‘boa noite’ diariamente ao ex-presidente.
[A 'palhaçada da solidariedade' ao presidiário petista, se esvaziou - tanto que no seu último depoimento (e primeira vez em que saiu da cadeia, saindo da cela para uma viatura da PF que o conduziu até a 13ª Vara Federal de Curitiba) ocasião em que foi enquadrado pela juíza Gabriela Hardt,  não houve necessidade de esquema de segurança especial.

Atualmente, vez ou outra, alguns vagabundos lulopetistas, fazem barulho e somem.]

Paraná Portal 





quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Economia, economia. E só” e outras notas de Carlos Brickmann

Na verdade, o importante é a economia. Se o cidadão tiver emprego, puder comprar alimentos, pagar o aluguel e as contas, o governo Bolsonaro terá dado certo

Se o governo de Bolsonaro der certo, a presença maciça de militares, a redução do número de ministérios e a redução das restrições ao porte de armas serão aprovadas com entusiasmo pelos eleitores. Se o governo de Bolsonaro não der certo, os eleitores dirão que os ministérios cortados fizeram falta, que arma deve ser proibida e que lugar de milico é no quartel.

Na verdade, esses itens são secundários: o importante é a economia. Se o cidadão tiver emprego, puder comprar alimentos, pagar o aluguel e as contas, o Governo terá dado certo. Simples assim: se a economia estiver em bom funcionamento, tudo estará bem. Lembre o grande Nelson Rodrigues, para quem o Maracanã vaiava até minuto de silêncio. O ditador Médici, em cujo governo a economia cresceu, foi aplaudido. Motivo? Pleno emprego.

No caso de Bolsonaro, se a economia crescer e se aproximar do pleno emprego, anote: Ônix vira gênio político, Alexandre Frota passa a ser um parlamentar brilhante cuja vocação demorou a ser descoberta, a bancada da Bíblia recebeu uma ordem divina e a cumpriu juntando-se ao predestinado que iria salvar o país. Se a economia não crescer, o restante do Governo pode funcionar com perfeição que será sempre considerado muito ruim. Oto Glória, técnico brasileiro que levou a Seleção portuguesa ao terceiro lugar na Copa de 1966 (eliminando o Brasil de Pelé), dizia que “em futebol é fácil passar de bestial a besta”. Em Portugal, “bestial” significa “ótimo”.

A voz de Lula
Antes que comecem a insultar este colunista, quem disse que Médici era popular entre os trabalhadores e venceria uma eleição direta foi Lula. Lula corretamente atribuía a popularidade de Médici ao pleno emprego.

Bons sinais
Há bons sinais no caminho de Bolsonaro: a inflação está baixa, há sinais de confiança do mercado na recuperação da economia, o desemprego é um horror de alto, mas baixou, neste fim de ano, ao nível da época de Dilma.

Maus sinais
E há maus sinais: parlamentares dispostos a aumentar as despesas se forem contrariados, magistrados que nesta época não se preocupam com o déficit público, coordenação política do bloco governista ainda inexistente. O buraco nas contas é grande e já se fala em retomar investimentos (aliás, necessários) em obras de infraestrutura e até mesmo em Angra 3, parada há dezenas de anos. De onde sairá o dinheiro? Pergunte ao Posto Ipiranga: só o superministro da Economia, Paulo Guedes, para responder onde buscá-lo.

Educação em (bom) debate
Só feras: um debate promovido pelo MIT, Massachusetts Institute of Technology, uma das principais universidades do mundo, sobre Visões sobre o futuro da Educação no Brasil, com apoio da Fundação Lemann. “O Brasil precisa avançar na Educação para poder escapar da armadilha de renda média”, diz o professor Ben Ross Schneider, do MIT, coordenador do debate e autor de pesquisa com análise comparativa das políticas públicas educacionais e reformas na América Latina, com foco no setor privado e nos sindicatos de professores. O debate, com Schneider, Lucas Rocha, da Fundação Lemann, Ari de Sá Neto (MIT Sloan Alumni do Brasil, CEO da Arco Educação) e Samir Iásbeck, da Qranio, ocorre nesta segunda, 3 de dezembro, das 18h30 às 21h. Inscrições até dia 30 (e detalhes) neste link. Gratuito. Vale a pena: todos têm o que dizer e não entram em discussão de bobagem.

Olha o indulto!
O Supremo deve decidir hoje se o indulto de Natal assinado no ano passado por Temer vale ou não integralmente. Em liminar, o ministro Luís Roberto Barroso suspendera trechos do indulto, para excluir do benefício os presos por crimes de colarinho branco. Hoje, se a decisão de Barroso for derrotada, condenados por corrupção ficarão livres após o cumprimento de 20% das penas, e sem pagar as multas que lhes foram impostas. Barroso tinha liberado para o perdão de Temer só os condenados por crimes sem violência, com sentença de até oito anos, que já tivessem cumprido um terço da pena, sem liberação das multas e sem colarinho branco. Conforme a decisão do Supremo, Temer poderá conceder um indulto gigante.

Só?
Mais uma denúncia contra o ex-presidente Lula, esta oferecida pela Operação Lava Jato de São Paulo, sob acusação de lavagem de dinheiro em negócio na Guiné Equatorial, África. Segundo a denúncia (que, entre os papeis apresentados, traz e-mail do ex-presidente ao ditador Teodoro Obiang), Lula ajudou a empresa brasileira ARG a ganhar contrato na Guiné Equatorial, e em troca obteve propina de US$ 1 milhão (ou doação legal para o Instituto Lula). Bem, se houve propina de US$ 1 milhão, quase nada diante dos números que têm circulado, Lula será processado por dumping.


Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

segunda-feira, 10 de abril de 2017

A ministra pretende ser candidata a presidente da República, só que o desempenho da Dilma naquele cargo acende um sinal de alerta

Contraste: Dilma e ministros do STF viajam patrocinados e, Cármen Lúcia, com passagem comprada com milhas

Vejam o contraste: 
Enquanto a ex-presidente Dilma Rousseff e alguns ministros do próprio STF viajaram esta semana para Boston com passagens pagas pelos patrocinadores de um evento,  a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, embarcou agora há pouco a pouco, neste sábado,  em viagem oficial a Washington, com passagem comprada do próprio bolso e ainda pelo sistema de milhagem. 

[a presidente do STF sabe que os brasileiros, especialmente os que votaram em Lula e Dilma, se deixam seduzir por atitudes cosméticas. E abrir mão de passagens e algumas mordomias costuma favorecer em muito a imagem da autoridade que abdica de alguma vantagem, sendo extremamente conveniente para autoridades com pretensões políticas.
Convém  destacar que a viagem da ministra Cármen Lúcia é de interesse ZERO para o Brasil - devendo o mesmo valor ser atribuído ao evento que contará com a presença de alguns ministros do STF e aa ex-presidente Dilma,  cabendo apenas registrar que  a presença da ex-presidente apequena qualquer acontecimento.

UM ALERTA: as pretensões políticas que se percebe nas atitudes da atual presidente do STF nos assustam, tendo em conta que o exemplo da 'escarrada' Dilma na presidência da República não colaborou para elevar o conceito das mulheres no exercício de cargo tão importante.]

Dilma e mais de 30  personalidades brasileiras estão participando do  seminário  "Brasil Conference", organizado por estudantes da universidade de Harvard e do MIT, patrocinado pelo empresário Jorge Paulo Lemann. 

Já a presidente do STF vai falar sobre Justiça e Cidadania no Wilson Center e sobre o Primado da Lei na faculdade de Direito da American University. No segundo e último dia de viagem, visitará a Biblioteca do Congresso e será recebida na Suprema Corte americana. 
Dilma viajou acompanhada de quatro assessores e, Cármen Lúcia, apenas de um. A foto de Dilma na classe executiva de um voo para os Estados Unidos, tomando champanhe, viralizou na internet.

Fonte: Blog do Moreno - O Globo

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Dos males do antiamericanismo

A rigor, por causa disso acabamos por perder recursos e oportunidades

Na última década, fomos capazes de estreitar relações com Cuba, Iraque, Venezuela e Angola dentre outras nações vanguardistas do cenário político e econômico mundial –, mas não com os Estados Unidos. No mais emblemático dos casos desse período envolvendo uma eventual parceria com os americanos, fizemos questão de desqualificar o melhor produto, que concorria com preço competitivo. Os caças F/A-18 Super Hornet, da Boeing, preferidos pelos nossos militares, únicos testados com sucesso em combate, foram, primeiro, preteridos por causa de uma exigência de transferência de tecnologia (depois atendida pela empresa) e posteriormente, na falta de outra desculpa, por um suposto mal-estar provocado pelo vazamento de práticas de espionagem do governo americano no caso WikiLeaks.

Se não é exatamente uma surpresa os governos do PT terem certa ojeriza dos ianques, é interessante perceber que nosso sentimento antiamericano vai além dos simpatizantes das ideias socialistas e afins. Embora não difundido por toda a população, esse sentimento extrapola a classe dos nossos políticos – quase todos autoproclamados de esquerda ou centro-esquerda – e se estende principalmente pelas camadas ditas mais esclarecidas, particularmente entre acadêmicos e “intelectuais” diversos.

Há 20 anos, Alvaro Vargas Llosa, Plinio Mendoza e Carlos Alberto Montaner lançaram o Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, que trata com muita inteligência e ironia das crenças predominantes nesta região do mundo sobre as causas de nossa pobreza e nosso atraso. Nele retratam que nenhum preconceito, ressentimento ou desculpa pelos nossos fracassos é tão difundido quanto o antiamericanismo, dado que por estas bandas os americanos são considerados não apenas como a quintessência dos valores burgueses e do liberalismo, mas também do consumismo e da exploração imperialista dos fracos da Terra. 


Segundo eles, as origens dessa crença – dos Estados Unidos como fonte primal dos nossos males se encontram na cultura hispano-católica, na visão econômica nacionalista ou marxista, na história de conflitos armados entre os EUA e os países ao sul e ainda em sentimentos antagônicos de inveja e admiração.

Em nosso caso, seria cabível desprezar o elemento bélico – seguramente nunca entramos num embate com os gringos; mas talvez acrescentar aquele fator de ordem acadêmica, dada a inclinação histórica de boa parte dos nossos professores e doutores – em especial nas universidades públicas – por autores europeus. Principalmente a França, a Alemanha, a Itália e mesmo a Inglaterra sempre foram olhadas – certamente com razão – como fontes inequívocas e legítimas de teorias, conceitos, estudos e análises, sem as reservas não raramente dirigidas aos americanos. Em minha prosaica, embora longa, passagem – de 1980 a 2005 – pela Universidade de São Paulo fui beneficiado pela frequente exposição às ideias e obras de europeus, porém desproporcionais reduzidas vezes aos acadêmicos e pensadores dos Estados Unidos. Ao menos em minha vivência, essa predileção pelos europeus se fazia presente nas aulas ligadas aos mais diversos temas. Para minha sorte e melhor formação, fui orientado por um excepcional professor que não sofre e nunca sofreu desse viés, ele mesmo estudou na californiana Stanford University durante seu doutorado.

Voltando aos dias de hoje, é verdade que a prática se tem imposto ao pensamento antiamericano com significativa força: são centenas de milhares de brasileiros que estudaram e estudam nos EUA, o número de turistas brasileiros por lá é da ordem de mais de 1 milhão/ano, são também cerca de 1 milhão os brasileiros que migraram para lá e a grande maioria dos 85% de conteúdo internacional das TVs por assinatura no País vem dos Estados Unidos, apenas para citar alguns números. Por outro lado, embora ainda uma das oito maiores economias do mundo, o Brasil é destino de apenas 2% das exportações dos EUA (11.ª posição) e apenas 1% da origem das importações americanas (17.ª posição).

A rigor, com nosso antiamericanismo acabamos por perder recursos e oportunidades. Perdemos recursos porque poderíamos intensificar e tornar mais vantajosas as trocas comerciais entre os dois países e também perdemos oportunidades de desenvolvimento de nossa sociedade por deixarmos de admitir que temos o que aprender com eles em inúmeras frentes, como educação, tecnologia, economia, infraestrutura, gestão pública e cidadania.

Ninguém precisa admirar a Associação Nacional do Rifle ou gostar de Donald Trump, mas ignorar a priori todas as contribuições e os avanços americanos é um total nonsense. Seria importante que, ao menos a partir de agora, tivéssemos uma posição estruturada, institucional, constante e atuante a favor do estreitamento e fortalecimento da relação Brasil-Estados Unidos. Os primeiros sinais da nova fase do Ministério das Relações Exteriores parecem muito promissores. Que a tendência prossiga e independa deste ou daquele titular do Itamaraty.

Para finalizar, vale a pena resgatar uma história que novamente tem que ver com aviões: em 1943 e 1944, Casimiro Montenegro, militar e aviador, fez uma série de visitas ao Massachusetts Institute of Technology, o MIT, com a ideia de desenvolver a Aeronáutica no Brasil. Com a colaboração do chefe do Departamento de Engenharia Aeronáutica do MIT, Richard Habert Smith, concebeu o Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA), que viria a ser fundado em 1950. Como consequência direta da existência do ITA, e tendo-o como condição sine qua non, surgiu em 1969 a Embraer, das mãos de um grupo de iteanos liderado por Ozires Silva. Passados quase 50 anos, a Embraer é hoje uma das quatro maiores empresas de aviação civil do planeta, na companhia da americana Boeing, do consórcio europeu Airbus e da canadense Bombardier.


 
Fonte:  Fabio Biazzi - Engenheiro de produção, doutor em engenharia pela USP, diretor executivo e consultor de gestão, é professor de liderança e comportamento organizacional do MBA executivo do Insper