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domingo, 18 de agosto de 2019

O embaixador Eduardo Bolsonaro - Elio Gaspari


O essencial é o julgamento da relação que papai Bolsonaro quer ter com os EUA 

[os dois parágrafos abaixo, mostram que laços de parentesco não significam, necessariamente, competência ou incompetência;

de qualquer forma, não é qualquer embaixador que tem um cacife de mais de 1.800.000 obtidos em 2018, em que foi candidato a deputado federal - é o recorde dos recordes.]

Jair Bolsonaro é um mágico. Baixa o nível do debate dos assuntos públicos, trata de cocô e não discute os 12 milhões de desempregados. É ajudado pela oposição que aceita sua agenda ilusionista. Um bom exemplo desse fenômeno é a qualidade do debate em torno da indicação de seu filho 03 para a embaixada do Brasil em Washington. É nepotismo? Sem dúvida. O que isso quer dizer? Pouco. O ditador nicaraguense Anastasio Somoza nomeou o genro, Guillermo Sevilla Sacasa para Washington. Um craque, tornou-se decano do Corpo Diplomático e atravessou os mandatos de oito presidentes. O Xá do Irã mandou para os Estados Unidos um cunhado, e Ardeshir Zahedi foi um grande embaixador. As monarquias do Golfo mandam seus filhos para Washington e, com a ajuda do poder de petróleo, eles se desempenham com mais sucesso que outros embaixadores árabes.

Há o nepotismo das ditaduras e há compadrio das democracias. Bill Clinton mandou Jean Kennedy Smith (irmã do falecido presidente) para a embaixada na Irlanda e Barack Obama mandou Caroline Kennedy, (filha de John) para a do Japão. (Uma meteu-se em encrencas, a outra foi irrelevante.) Isso, para não falar de Pamela Harriman, mandada por Clinton para a França. Seu mérito foi ajudá-lo na campanha. Fora disso, foi uma cortesã, mulher do filho de Winston Churchill e colecionadora de milionários, de Averell Harriman a Gianni Agnelli, passando por Ali Khan, Elie de Rothschild e Stavros Niarchos.  Juscelino Kubitschek nomeou Amaral Peixoto embaixador em Washington. Genro de Getulio Vargas, tornara-se um cacique na política nacional. “Alzirão” saiu-se bem no cargo. Como ele, Eduardo Bolsonaro ganhou a embaixada depois de ter chegado ao Congresso pelo voto popular. Amaral Peixoto falava pouco e nunca disse bobagens do tipo “fritei hambúrgueres”.

A indicação do 03 para a embaixada foi aplaudida pelo presidente Donald Trump. Como muita gente não gosta de Trump nem dos Bolsonaros, isso foi visto como um demérito. Na realidade, 03 conseguiu algo que nenhum embaixador brasileiro teve, pois o aplauso do governante do país para onde vai o novo representante é tudo o que se quer. Não se pode ver defeito nessa trumpada. A Inglaterra gostava de saber que John Kennedy era grande amigo do embaixador David Ormsby-Gore. (Mais tarde, ele quase casou com a viúva.) Se Trump perder a reeleição, pode-se trocar o embaixador, zero a zero e bola ao centro. 03 será sabatinado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ali, todos poderão mostrar suas qualificações.

Os senadores perguntando e o deputado respondendo. Afinal, se “diplomacia sem armas é como música sem instrumentos”, ele vai para Washington tocar chocalho. Nepotismo e trumpismo serão aspectos subsidiários. O essencial é o julgamento da relação que papai Bolsonaro quer ter com os Estados Unidos. Em 2015 o plenário do Senado rejeitou o embaixador Guilherme Patriota, designado por Dilma Rousseff, mas esse resultado teve mais a ver com a fraqueza do governo do que com a capacidade do diplomata. Pamela Harriman foi aprovada por unanimidade na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, viveu feliz em Paris, teve um derrame na piscina do hotel Ritz e morreu dias depois.

Palocci em 2002 e 2008
O comissário Antonio Palocci prestou 23 depoimentos à Polícia Federal e agora conhece-se o resumo de suas confissões. Se cada fio da meada tivesse sido puxado (ou se vier a ser puxado) o efeito dessas revelações poderia ter sobre o andar de cima de Pindorama a consequência de dez Lava-Jatos. Nas confissões de Palocci entrou todo mundo. Provas, até agora, nada, salvo nas traficâncias de sua consultoria de fachada. O juiz Sergio Moro começou a Operação Lava-Jato puxando um fio que saía de um posto de gasolina, mas dificilmente a proeza se repetirá. Uma das confissões do ex-ministro ilustra a resiliência da impunidade do andar de cima.
No seu 13º depoimento, Palocci contou que em 2008 sua empresa embolsou R$ 100 mil por ter ajudado a empresa Parmalat a liberar um crédito no Banco do Brasil.
Seis anos antes, quando Antonio Palocci era prefeito de Ribeirão Preto, justificou a exigência de latas de “molho de tomate refogado e peneirado com ervilhas” numa licitação para a compra de 40.500 cestas sociais, informando que ele era produzido por uma empresa-companheira, mas também pela Parmalat. Era uma mentira conveniente para quem conduzia uma licitação viciada.

Àquela altura Palocci era o coordenador da campanha de Lula, pois o titular, Celso Daniel, havia sido assassinado. [Celso Daniel, um cadáver que apavora os mandatários petistas - por onde anda Gilberto Carvalho, ex-seminarista de missa negra? pau para toda obra.]

No telhado
Do alto do telhado, o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, poderá avaliar o tamanho do tombo que arrisca tomar.
Bolsonaro não poderia ter sido mais claro: “Por enquanto está muito bem.”

(...)

Diplomacia
Em menos de um ano, a diplomacia bolsonariana já arrumou encrencas nos seguintes países, por ordem alfabética:
Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Chile, Cuba, França, Irã, Israel, Paraguai, Noruega e Venezuela.

Folha de S. Paulo - O Globo

Elio Gaspari, jornalista


domingo, 28 de julho de 2019

Nego - Blog do Noblat

Veja - Por Gustavo Krause

“Paraíba”


As palavras têm uma extraordinária força mobilizadora. A experiência histórica confirma: em Jesus, Buda e Sócrates o verbo sequer fora escrito, senão pelo seus discípulos e seguidores. Neles, as revelações não literais permitem interpretações que seguem iluminando os caminhos da humanidade. A virtude original das ideias decorre da legítima autoridade dos autores, sejam líderes políticos, sejam líderes religiosos.  É correto, pois, afirmar que a força das palavras tem uma energia mobilizadora a partir da posição, do lugar onde se encontra o emissor da mensagem. Vale dizer, a palavra de um Chefe de Estado, inevitavelmente, terá consequências reais e simbólicas, unindo ou separando, suavizando ou ferindo, encorajando ou desesperando.

Neste sentido, não faltam exemplos. Arrisco destacar o discurso de Winston Churchill, em maio de 1940, ao assumir o cargo de Primeiro-Ministro da Inglaterra, sob bombardeio devastador das forças nazistas, perante o Parlamento: “Eu diria a Casa, como disse a aqueles que se juntaram a este governo: nada tenho a oferecer senão sangue, trabalho, lágrimas e suor”. Após cinco anos de intenso sofrimento, a tragédia totalitária fora derrotada pelos valores da civilização ocidental. Com efeito, aquele momento histórico ratificaria que o discurso, corajoso, franco e visionário, opera efeitos na medida em que fala a autoridade politicamente legitimada. Portanto, todo cuidado é pouco ao disparar palavras como setas envenenadas. Elas não retornam.

Neste sentido, em recente episódio, o Presidente da República usou a expressão discriminatória e depreciativa de “paraíba”, extensiva a todos os nordestinos. Fez o oposto do que deveria na condição de Presidente eleito pelos brasileiros de todas as regiões que é buscar a união.De outra parte, a expressão não faz justiça ao Estado da Paraíba que, entre outras virtudes, representa, também, o espírito ladeirento da gente nordestina como atesta sua bandeira composta pelos seguintes elementos: o negro como sinal de luto pela morte de João Pessoa, um dos estopins da Revolução e 30; o vermelho, cor da Aliança Liberal; e a palavra NEGO, para traduzir a rejeição ao candidato Julio Prestes, apoiado pelo Presidente Washington Luís.

Seria redundante registrar a preciosa contribuição do Nordeste na formação brasileira e, como pernambucano, correria o sério risco de ser traído por um fútil bairrismo. Limito-me, portanto, a dar voz a um trecho do poema de João Cabral de Melo (Pernambuco em mapa) que cabe como resposta comum aos nordestinos: (…) até mandacaru que dá vitalícia banana a todos que do sul olham-no do alto da mandância”.

Blog do Noblat - Veja

quarta-feira, 27 de março de 2019

O pesadelo do sono de Bolsonaro

Presidente que dorme mal acorda irritado, Bill Clinton tomou jeito, mas a soneca de Churchill era sagrada


Foi o presidente Jair Bolsonaro quem contou. Durante uma de suas internações os médicos conferiram a qualidade do seu sono e registraram 89 breves alterações por hora. Nas suas palavras: "Um recorde. Os médicos disseram: 'Como é que você consegue raciocinar?'".  Sono é assunto sério. Donald Trump diz que dorme de quatro a cinco horas por dia num quarto onde tem três televisões. Talvez isso explique muita coisa. Os primeiros meses da Presidência de Bill Clinton foram uma calamidade. Irritava-se, não conseguia prestar atenção nos outros. Era a noite maldormida. O primeiro-ministro britânico Winston Churchill regulava com o horário de Trump, mas sua soneca da tarde era sagrada.
Em dezembro do ano passado Bolsonaro sentiu-se mal porque se confundiu com os medicamentos e teve uma sonolência. Dormindo pouco, ou mal, ele compromete seu desempenho nas horas em que fica acordado, sobretudo se tiver um celular à mão. Nesse caso, o disparador de mensagens produz no meio político o efeito letal do revólver que mantém ao alcance mesmo quando está na cama.  Desde que entrou no Planalto, Bolsonaro descumpre uma das normas que regem o funcionamento do prédio. Ele se destina a diminuir o tamanho dos problemas. Alguns presidentes, como Fernando Henrique Cardoso e Lula, foram amortecedores de encrencas e crises. Nos seus 16 anos de poder a crise entrava no palácio e saía menor. Outros, como Dilma Rousseff e João Figueiredo, foram propagadores de dificuldades. Ambos perderam o controle de seus governos.

À primeira vista, Bolsonaro continua em campanha. Isso explica que vá a Washington condenar o "antigo comunismo" e que tenha obrigado o presidente chileno, Sebastián Piñera, a considerar "infelizes" algumas de suas opiniões. Campanha é assim mesmo, quanto mais tensão se puser na mesa, melhor, sobretudo numa disputa como a eleição brasileira do ano passado.  Governo é outra coisa e Bolsonaro sabe que a campanha terminou, mas procura afirmar-se produzindo tensões. À falta do "antigo comunismo", não tendo Lênin nem Fidel Castro para desafiar, encrencou com Rodrigo Maia. Ganha um fim de semana em Cuba quem souber por que ele se desentendeu com o presidente da Câmara. [comentário 1: a encrenca começou quando o Rodrigo Maia resolveu tomar a frente da oposição ao governo Bolsonaro, mas por trás do palco - fingindo ser pró quando é contra;

o primeiro aborrecimento surgiu quando Maia criou uma Comissão para estudar o pacote de Moro - atraso de 90 dias, prorrogável, com risco de refletir também no andamento da reforma da Previdência - e Bolsonaro percebeu que ele fingia empurrar quando na realidade puxava para trás.


O mais grave é que a oposição sistemática ao nosso presidente Bolsonaro - por grande parte do Congresso (notadamente a Câmara, vide votação relâmpago de ontem à noite), grande parte da imprensa, parte do Senado e os adeptos do 'quanto pior, melhor' - faz lembrar Collor.

Que também tentou governar sem o Congresso e confrontando a 'velha política', fizeram uma oposição danada e conseguiram razões para seu impeachment;
Bolsonaro é um pouco mais complicado de derrubar, o governo pode até ainda estar travado, mas não conseguiram e não  vão conseguir motivos para seu 'impeachment'.

Com Collor foram bem sucedidos, conseguiram arrumar pretextos para acusá-lo de corrupção, crime de improbidade, sobras de campanha e com isso foi acusado de 'crime de responsabilidade' etc - pretextos, visto que Collor foi absolvido pelo Supremo das acusações - com Bolsonaro a coisa é mais dificil, até agora não conseguiram acusá-lo, apesar de algumas tentativas fracassadas, de nenhum ato de improbidade, roubalheira, etc.

Tentaram atingi-lo,  via seus filhos - o caso Queiroz é o mais evidente - mas, nada conseguiram. Seus filhos podem até atrapalhar o governo mais que ajudar, são aloprados, mas nada desonesto foi provado contra eles.

E, caso algo fosse encontrado algo contra os filhos do presidente, o CPF de cada um deles é diferente do CIC presidencial.]

Há duas semanas anunciou-se que o presidente da República teria um almoço com os presidentes dos dois outros poderes para um encontro harmonizador. Não era bem assim. O que poderia ter sido uma conversa de três pessoas virou um churrasco ao qual compareceram 15 ministros. Uma assembleia geral, enfim. Maia não reclamou, mas registrou. Fabricar tensões é mau negócio para governante. Como ensinou Tancredo Neves, presidente tem que dar as cartas, não pode ficar o tempo todo embaralhando-as.

Nos últimos meses Jair Bolsonaro teve uma vida dura, com um atentado, três cirurgias e longas internações. Em poucos meses passou pela tensão da montagem do governo e, desde janeiro, chefia uma equipe que pretende mudar a estrutura e os métodos da administração. Em alguns setores, como nos ministérios da Agricultura e da Infraestrutura, a coisa está funcionando. Em outros, como na Educação, o clima é de gafieira. [comentário 2: a Educação tem conserto, basta demitir o atual ministro, nomear um outro - pessoas competentes e BRASILEIROS não estão faltando e começar a trabalhar.

Bolsonaro teve umas quatro ou cinco ideias ruins, desde que foi eleito, uma das piores foi nomear o Velez.]
Quando os médicos de Bolsonaro surpreenderam-se com a má qualidade do seu sono, eles sabiam do que estavam falando. Uma das consequências mais mencionadas desse distúrbio é a irritabilidade. Pode parecer bobagem, mas David Gergen, conselheiro de Bill Clinton, contou que as coisas melhoraram quando o presidente passou a dormir direito.


Elio Gaspari, jornalista - O Globo


terça-feira, 15 de janeiro de 2019

"Ainda a roubalheira do PT"


Há muito a investigar, punir e ressarcir o erário dos bilhões subtraídos do patrimônio público pelos gestores corruptos das gestões Lula, Dilma e Temer e que não podem cair no esquecimento

Por: José Nêumanne



A recente notícia de que a Petrobrás concluiu haver sofrido prejuízo de US$ 16 bilhões (cerca de R$ 58 bilhões) na política de “nacionalização” de equipamentos da estatal trouxe à tona o que se sabia, mas sempre vale a pena recordar para não repetir: o Partido dos Trabalhadores (PT) montou uma organização criminosa multidisciplinar de dimensões inimagináveis.



Até agora, verdade seja repetida, muito pouco dos crimes de corrupção que depauperaram o Estado brasileiro na era federal petista foi apurado.  O esquema era enorme e ainda tem muito por vir, delações premiadas serão fechadas e outras servirão de base para abertura de novos inquéritos. Recentemente foram noticiadas a busca e apreensão na casa do ex-ministro da Ciência e Tecnologia, na gestão Temer, Gilberto Kassab, que, por causa disso, pediu licença da chefia da Casa Civil do governo João Doria, no Estado de São Paulo. E na casa da mãe do senador Aécio Neves. O ponto de partida dessas investigações foi a delação premiada do grupo J&F, dos irmãos Batista de Anápolis (GO). Isso sem falar nos 1.829 candidatos a político e 28 partidos citados na delação do mesmo grupo empresarial e constantes da lista do ministro Edson Fachin com 108 alvos dos 83 inquéritos que a Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) com base na delação dos 78 executivos da Odebrecht.


Em entrevista ao Estado, Roberson Pozzobon, procurador da Justiça da força-tarefa da Operação Lava Jato, de Curitiba, disse que o esquema da Petrobrás se repetia nos Estados e que haverá novidades até o carnaval. Como todos sabemos, ainda não soaram as cornetas de Momo. 

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

O estilo teatral de Bolsonaro




Muita gente acha que Trump tem um estilo e isso é verdade, mas ele é acima de tudo um mentiroso 

Como diria Lula, nunca na história deste país um presidente trombou tantas vezes com seu próprio governo em tão pouco tempo. Não foram trombadas de conceitos, mas de fatos.  Ao contrário do que dissera, Bolsonaro nunca baixou a alíquota do Imposto de Renda nem subiu a do IOF. Como sempre acontece na história deste país tentou-se remendar o efeito das trombadas com juras de fé e coesão.  Em tese, o presidente vale-se de sua capacidade de comunicação, comprovada na construção de uma candidatura vitoriosa. Na vida real, campanha é uma coisa, governo é outra. 

[comentários de um analfabeto em economia, jornalismo e política:
- o primeiro erro de Bolsonaro é o excesso de comunicação sem rumo = excesso de entrevistas (nada contra a Imprensa e o jornalista tem o direito, até mesmo o dever, de procurar a notícia - entendo ser desaconselhável fazer reportagem baseada em indícios e não deixando claro a inexistência de provas); 

qualquer fato menor, rumor, o jornalista faz um pergunta e logo o presidente sufocado por microfones concede uma entrevista = muitas vezes sem organizar as ideias o que pode o desconforto de falar algo que contradiz o que disse em outra entrevista de dois minutos antes - quanto menos o presidente fala, mais credibilidade tem, menos contradições comete e diminui o risco de falar sobre algo que não entende (não saber tudo é inerente ao ser humano, que começa a ficar sábio - começa - quando aprende que 'só sabe, que nada sabe'):

- o Presidente da República precisa estar atento à 'liturgia' do cargo; 

- o ideal é que haja um porta-voz diretamente vinculado ao presidente da República e organize as ideias, os fatos e uma ou duas vezes por dia converse com a imprensa, fornecendo informações autênticas, consistentes; 

- cada ministro deve falar, exclusivamente, sobre assuntos da pasta que dirige - se o tema exige o concurso de dois ou três ministérios, que os titulares se organizem e o assunto vá para o porta-voz;

- quando determinada matéria exigir uma manifestação do presidente - ao juízo dele e não da Imprensa -  que seja convocada uma entrevista coletiva.

- cá entre nós e com o devido respeito ao presidente Bolsonaro - sou Bolsonarista de raiz - tem sentido uma medida dessa natureza ser tratada com destaque especial? Para dizer o mínimo, a segurança do ministro é prestada pela PF, que é comandada por Moro.

Quanto ao Trump tem dado umas escorregadas, cabeça dura, mas, tem tempo de se corrigir e não será surpresa um segundo mandato - às vésperas de sua eleição Trump se tornar presidente era considerado algo irrealizável e agora ele é o presidente.

No concernente ao alegado aumento do IOF,  Bolsonaro se empolgou, visto ser comum quando o Governo perde alguma receita e mesmo assim decida manter sinecuras (Sudam e Sudene são exemplos apropriados, são de meados do século passado  - naquela ocasião tais instrumento poderiam ser, ou parecer, viáveis - e nada fazem de útil para a consecução dos objetivos para os quais foram criadas) aumentar a alíquota do IOF, que pode ser decretado por Decreto, sem depender do Congresso.]

Novamente em tese, ele faz o que fez Donald Trump, dirigindo-se diretamente ao povo que gosta de ouvi-lo. Novamente na vida real, o estilo de Trump é irrelevante porque ele é acima de tudo um mentiroso. Calcula-se que minta cinco vezes por dia.  As curtas mensagens de Trump podem inspirar Bolsonaro, mas o meio não é a mensagem. Jânio Quadros comunicava-se por bilhetinhos que hoje enfeitam o folclore de sua Presidência, Ninguém ri dos adesivos de Winston Churchill ordenando “Ação, hoje”. Isso porque as coisas aconteciam.

As trombadas de Bolsonaro parecem-se mais com o “campo de distorção da realidade” do genial Steve Jobs. Misturando carisma e segurança, ele se julgava capaz de convencer as pessoas de qualquer coisa.  Bolsonaro pode ter convencido muita gente de que o Brasil precisa se livrar do socialismo, mas quem acreditou na necessidade de colocar o Ministério do Meio Ambiente dentro da Agricultura enganou-se.  O “campo de distorção da realidade” pode funcionar na iniciativa privada, pois diante de um conflito o gênio prevalece ou vai embora. 

Foi isso que aconteceu com Jobs em 1985, quando ele deixou a empresa que fundou. (Ele voltou à Apple em 1997, para um desfecho glorioso.) No exercício de uma Presidência, o negócio é outro. Trump ficou em minoria na Câmara e corroeu boa parte do prestígio internacional de seu país.  O governo de Bolsonaro tem três campos de distorção da realidade. Um está na segurança. A ação do crime organizado no Ceará mostrou que não existe pomada para tratar dessa ferida.  [o combate exitoso ao crime organizado no Ceará não aceita pomada - o único remédio é extirpar de forma definitiva o tumor maligno representado pelos criminosos - confira aqui.] Outro fica no mundo dos costumes e tem funcionado como um grande diversionismo. O terceiro, aquele que parecia demarcado com a delegação de poderes ao posto Ipiranga, foi onde se deram as trombadas. 

Isso porque os ministros Sergio Moro e Ricardo Vélez podem dizer o que quiserem. No mundo da economia a sensibilidade é imediata e por isso a primeira trombada teve que ser logo remendada.  A eficácia da teatralidade de Bolsonaro mostrou seu limite em menos de um mês. Isso aconteceu antes mesmo que o Congresso reabrisse seus trabalhos.  Dois presidentes deram carta branca a seus ministros da Fazenda. Num caso, com grande sucesso, Itamar Franco sagrou Fernando Henrique Cardoso.  No outro, com retumbante fracasso, o general João Figueiredo manteve Mário Henrique Simonsen no governo. Com o tempo viu-se que Itamar acreditou no que fez, enquanto Simonsen preferiu ser enganado. Não se sabe o que está escrito na carta branca de Paulo Guedes, mas essas cartas nada têm de brancas.

O simples murmúrio de que o secretário da Receita, Marcos Cintra, está na frigideira é um mau sinal. Ele deveria ter pensado duas vezes antes de botar a cara na vitrine desmentindo o presidente, mas o doutor estava certo, e Bolsonaro, errado. Era uma questão factual, o decreto do IOF não havia sido assinado. Como ensinou o senador americano Daniel Moynihan, “todo mundo tem direito à sua própria opinião, mas não aos seus próprios fatos”.

Elio Gaspari - O Popular


domingo, 2 de dezembro de 2018

O agronegócio não é uma 'bancada do boi'


Nessa frente há trogloditas que querem queimar matas e invadir terras alheias


Contaminado por um setor paleolítico, o agronegócio brasileiro paga pelo que não é e não consegue mostrar o que é

Contaminado por um setor paleolítico, o agronegócio brasileiro paga pelo que não é e não consegue mostrar o que é. Prova disso é que a defesa dos seus interesses é atribuída ao que denomina "bancada do boi". Nessa bancada há trogloditas que querem queimar matas, calotear dívidas e invadir terras alheias. Defendendo-os, Jair Bolsonaro chega mesmo a acreditar que os quilombolas são um problema nacional.
Dois renomados historiadores —Herbert Klein, de Columbia e Stanford, e Francisco Vidal Luna, da USP— entregaram à editora da Universidade de Cambridge o texto de "Feeding the World" ("Alimentando o Mundo"), em que contam a história da revolução ocorrida na agricultura brasileira nos últimos 50 anos, acelerada neste século. O livro sairá em dezembro e a tradução, no ano que vem. O que houve foi uma revolução de verdade. De país atrasado, o Brasil tornou-se o maior exportador de soja, carnes processadas, laranjas e açúcar. É o quinto maior produtor de cereais. Enquanto a indústria nacional patinou depois da abertura da economia, o agronegócio adaptou-se, expandiu-se e adquiriu competitividade internacional.

Entre a década de 1980 e os últimos oito anos, a produtividade das áreas plantadas cresceu 150%. Essa revolução juntou empreendedores e uma elite técnica formada com vigor chinês. Em 1999 o Brasil tinha 6.000 estudantes de agronomia. Em 2007 eram 48 mil (40 mil dos quais em instituições públicas). Entre 1998 e 2017 foram produzidas 8.000 teses de mestrado e 3.000 dissertações de doutorado. No pico desse êxito está a Embrapa, que se tornou um dos melhores centros de pesquisas agrícolas do mundo. Hoje o Brasil tem a terceira maior indústria de sementes.

Klein e Luna não deixam assunto sem análise, inclusive os problemas de pobreza e atraso, mas expõem uma revolução que está acontecendo. Ela é descrita em São Paulo, no Sul, e surpreende no Centro-Oeste. Uma migração espontânea, selvagem no início, transformou Mato Grosso num celeiro. Em 1970 lá existiam 600 tratores; 15 anos depois eram 20 mil. Em 1980, quando chegou a soja, cultivaram 7.000 hectares. Em apenas nove anos, chegaram a 1,7 milhão de hectares. As taxas de fertilidade e mortalidade infantil caíram, enquanto a expectativa de vida subiu cerca de 20 anos desde 1960. Hoje Mato Grosso tem um dos mais altos índices de terras tituladas (77%).  O agronegócio carrega entre 20% e 25% da economia nacional porque é moderno. A contaminação paleolítica obriga-o a ser ouvido como um Yo-Yo Ma tocando num violoncelo rachado. Carne? Joesley Batista. Meio ambiente? Jair Bolsonaro e seus conselheiros do agronegócio durante a campanha eleitoral.


(...)
 

Cuidado, Moro
Numa das encruzilhadas do caminho de Sergio Moro para o Ministério da Justiça há uma grossa macumba. O Conselho Nacional de Justiça tem 17 representações contra ele, e o julgamento está marcado para o dia 11. Muitas são referentes ao mesmo assunto, como no caso da divulgação do grampo de Lula fora do prazo legal. O CNJ pode arquivá-las, no entendimento de que, tendo-se exonerado, deixou de ser juiz. Esse seria um caminho natural, mas pode-se também deixar algumas representações na frigideira.

Numa outra esfera, há sinais de que se articula uma forma de recurso junto ao Supremo, buscando o impedimento da posse de Moro. Isso seria feito buscando-se uma analogia meio girafa com a decisão tomada quando Lula foi impedido de assumir a Casa Civil. As chances de essa manobra dar certo são poucas, a menos que se queira apenas produzir uma barafunda.  [não pode dar certo; será a desmoralização mais completa da Justiça - no caso de Lula se tratava de impedir que um bandido se tornasse ministro de Estado para ganhar foro privilegiado.
A prova incontestável da diferença entre o EX-juiz Sérgio Moro e o presidiário Lula é que Lula já completou o oitavo mês de cadeia e já se cogita (com atraso, destaque-se) da transferência do condenado petista para uma prisão comum = político preso = preso comum = penitenciária comum, com direito ao uso do boi.]

(...)
 

Bolsonarômetro
A equipe de Jair Bolsonaro incorporou alguns nomes com reconhecida experiência na administração pública civil. Por exemplo: Joaquim Levy (BNDES), Mansueto Almeida (Tesouro) e Waldery Rodrigues (Secretaria da Fazenda).
Contudo, aceitando-se uma definição do banqueiro Gastão Vidigal, faltam nomes ligados à produção: "Produto é aquilo que se pode embrulhar. Pregos, por exemplo". Nessa categoria, até agora há apenas duas indicações relevantes, as da ministra da Agricultura, Tereza Cristina Corrêa da Costa, do agronegócio, e a de Roberto Castello Branco, futuro presidente da Petrobras, que passou pela Vale.

Na equipe, entrou o empresário Salim Mattar, que vai cuidar das privatizações. Ele não tem experiência na administração pública e nunca produziu um prego, mas teve uma bem-sucedida experiência na iniciativa privada, criando a Localiza, uma empresa de serviço de locação de carros.


O sapo otimista
Diante do otimismo disseminado às vésperas do novo governo, aqui vai uma história que Winston Churchill contava em 1940, quando a guerra parecia perdida e a Inglaterra esperava ser invadida:
"Dois sapos caíram numa jarra de leite. Um, assustado, afogou-se. O otimista passou a noite batendo as pernas. Não sabia para que, mas era um otimista. De manhã, estava numa jarra de manteiga, deu um pulo e foi-se embora".


Venezuela
A diplomacia romântica de Jair Bolsonaro corre o risco de se meter numa parceria suicida com os Estados Unidos em relação à Venezuela.
Valeria a pena que seus estrategistas consultassem a documentação do Itamaraty para resgatar um episódio ocorrido em 1982.

O presidente Ronald Reagan decidiu invadir o Suriname, onde ocorrera um golpe de oficiais esquerdistas, e mandou a Brasília o diretor da CIA, William Casey, para buscar apoio.
Sem alarde, 
o presidente João Figueiredo informou que não entraria na aventura. O projeto da invasão com apoio do Brasil só foi revelado décadas depois, pelo próprio Reagan.



Elio Gaspari - O Globo

domingo, 4 de novembro de 2018

O avanço da direita

Por que essa ideologia política, que inevitavelmente guarda em si o conservadorismo social, ganhou força em diversos países e agora chega ao poder no Brasil

Um tsunami de conservadorismo social e de ideologia política de direita cobre atualmente boa parte do mundo e o Brasil, pela democrática soberania da vontade popular, acaba de ingressar justamente nesse cenário com a eleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República. Entre os países que formam tal bloco, independentemente de suas localizações geográficas, há particularidades advindas da formação e do desenvolvimento de cada sociedade. Todos eles, no entanto, guardam um ponto em comum: a falência de regimes democráticos. Isso é cíclico na história da humanidade, e impõe-se, aqui, a lembrança do estadista britânico Winston Churchill (ícone antifascista que Bolsonaro diz admirar) e da historiadora americana Barbara Wertheim Tuchman, autora do clássico “The Guns of August”. Churchill dizia que a “democracia é o pior dos regimes políticos, exceto todos os demais” — exercendo o inteligente e seco humor dos ingleses, ele criticava, assim, as recaídas dos povos em regimes que pendem para a extrema direita. Barbara preferiu referir-se a tal pêndulo histórico como a “marcha da insensatez”. Por que insensata? Porque é sempre um salto de alto trapézio. Pode-se ou não ouvir rufar de tambores. Mas nunca há rede de proteção.
PASSADO E PRESENTE Seguindo o conservadorismo europeu, Jânio Quadros proibiu o biquíni nos desfiles de misses e também nas praias, mandando multar as mulheres que o usassem, a exemplo do que ocorria no litoral de Rimini, na Itália. Como o moralista Jânio, Bolsonaro será um delegado de costumes? (Crédito: Divulgação)

O joguinho da esquerda
Mesmo em uma rápida viagem pela União Europeia, como será a nossa viagem nesse momento, vemos civilizações (antigas civilizações) optando claramente pelo ideário de direita no campo político e pelo conservadorismo na área do comportamento social. O exemplo mais recente nos vem de uma das mais ricas e prósperas regiões da Alemanha, a região da Baviera, da qual se irradia efeitos políticos para todo o país. Desde o término da Segunda Guerra Mundial havia no país uma espécie de blindagem contra a ideologia de direita. O escudo se tecia com a aliança entre a União Social Cristã e a União Democrata Cristã, partido da atual chanceler Angela Merkel. Era na Baviera que tal aliança não poderia se romper. Foi na Baviera, com a ida da população às urnas, que a aliança se rompeu. Pela primeira vez o partido radical de direita Alternativa para a Alemanha, empunhando a bandeira da anti-imigração, conseguiu cadeiras no Legislativo. A União Social Cristã já não tem maioria, faz-se imperioso negociar com os extremistas. Angela Merkel, ela sabe e admite, está a um passo de cair. Na terça-feira 30, anunciou que não será candidata a mais uma gestão.

Ainda com a proposta de que imigrante bom é imigrante barrado na fronteira, países como Hungria, Áustria, Dinamarca, Suécia, França e Itália seguem o mesmo caminho político — o do nacionalismo exacerbado que toma corpo como xenofobia e se torna o ventre dos extremismos populistas. [o Brasil seguindo o politicamente correto, aceita receber venezuelanos e os encaminha para empregos - nesse gesto populista, finge esquecer que o Brasil tem mais de 12.000.000 de desempregados e cada emprego conseguido por um imigrante venezuelano é um emprego perdido por um brasileiro.
Seria ótimo se o Brasil tivesse uma economia exuberante que propiciasse condições de empregar todos os venezuelanos que ingressassem em território nacional.
Mas, não tem. O que torna obrigatório, humano e aceitável que se priorize os brasileiros.] É esse mesmo sentimento de onipotência nacionalista e de isolacionismo que move o Reino Unido na direção de abandonar a União Europeia, provavelmente em março de 2019, e mergulha a Espanha numa grave crise institucional, a partir da onda separatista da Catalunha.

Falou-se acima sobre o fato de cada país ter suas particularidades. Pois bem, voltemos ao Brasil. Não foi, é claro, a questão imigratória que colocou, pelo voto, Bolsonaro no poder. [UM dos fatores que elegeu Bolsonaro foi o medo de grande parte dos brasileiros de mais um governo petista transformar o Brasil em uma imensa Cuzuela([o risco de ser eleito um governo petista foi o que motivou o uso do da palavra CUZUELA que seria transformar o Brasil na soma de Cuba com Venezuela e com um fator agravante: para onde os brasileiros, fugindo da miséria que mais um período de governo do PT criaria, iriam fugir? procurar empregos?)]   Um dos motivos é que o povo brasileiro cansou (e olha que demorou!) do joguinho que a esquerda, representada pelo PT, e a social-democracia, encarnada no PSDB, faziam o tempo todo. 

Quando precisava conquistar eleitor do centro, o PT movia-se nesse rumo, mas ai de quem o rotulasse como não sendo de esquerda. Quanto ao PSDB, ao carecer de votos da direita, pedia-os envergonhadamente, mas também ai de quem não o chamasse de social-democrata. Junte-se a isso a bandalheira da corrupção. Nesse vaivém de posicionamentos, o PSDB não soube mais fazer oposição e, em decorrência, também não soube mais como enfrentar o PT. Já o Partido dos Trabalhadores, quando esteve no poder, tirou a máscara de democrata e de centro, apostando pesado na esquerda stalinista e aparelhando partidariamente o Estado. Formou-se a república do patrimonialismo e do compadrio. Melhor: a república da organização criminosa.

Delegado de costumes
Em nome do rigor histórico é preciso reconhecer um fato: desde a bem-vinda redemocratização do País, que fundou em 1985 a Nova República, os governantes civis, exceto Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, frustraram a expectiva da Nação. Não estamos afirmando com isso que a ditadura militar foi melhor, ela foi péssima. Ditaduras civis ou militares têm de ser banidas. Democracia sempre! O que se quer dizer é que o governo de José Sarney foi mal na economia, o de Fernando Collor desaguou em seu impeachment sob a acusação de corrupção, as gestões de Lula deram no que deram (ele está preso em Curitiba por lavagem de dinheiro e corrupção), Dilma Rousseff acabou afastada e também sofreu impeachment por tratar do erário sem o devido zelo. Era portanto inevitável que uma nova direita, que PT e PSDB supunham ou fingiam supor que não existia — ao se julgarem os únicos e eternos agentes no cenário político nacional — mostrasse o seu rosto.

Com o pensamento liberal de Bolsonaro o Brasil poderá se estabilizar economicamente? Deus queira que sim. No terreno comportamental o Brasil avançará? Não, não mesmo. E corremos o risco de termos um presidente que atuará também como uma espécie de delegado de costumes, a exemplo do que foi Jânio Quadros no início dos anos 1960 — Jânio preocupava-se sobretudo em mandar multar quem trajasse biquíni nas praias (imitando o que ocorria na Itália), jogasse no bicho ou apostasse em briga de galos. O Brasil recuará na questão da legalização do aborto e o Estatuto do Desarmamento vai para o museu. [liberar o aborto é algo tão absurdo que sequer deve ser cogitado - o correto é aumentar as penas, tanto para a mãe assassina, quanto para todos os envolvidos no processo de assassinato de um ser humano inocente e indefeso.
O Estatuto do Desarmamento precisa urgentemente ser adaptado e com isso se evitando só policiais e bandidos possam portar armas - um detalhe: o atual 'estatuto' estabelece que só podem portar armas, os maiores de 25 anos, o que cria uma situação absurda: um policial, civil ou militar, digamos, com 21 anos, durante o serviço pode portar qualquer tipo de arma, efetuar prisões, trocar tiros com bandidos;
só que na hora de ir para casa NÃO pode portar armas - ficando mais fácil para algum bandido que já foi preso por ele, matar o policial que o prendeu.]  

Mas Bolsonaro não poderá ser criticado por nada disso, ele foi eleito democraticamente deixando mais do que claro que esses dois pontos constavam de seu programa. Aliás, em referendos, a maioria dos brasileiros já se mostrou contrária à interrupção da gravidez e a favor de possuir uma arma em casa para usá-la em legítima defesa da vida. Bolsonaro nada mais fez do que encampar tais consultas populares. E o povo, agora consultado sobre ele, o colocou no Planalto.

PT e PSDB se julgavam os únicos e eternos agentes no cenário político nacional. Imaginavam, ou fingiam imaginar, que a direita não existia 

IstoÉ

 

sábado, 3 de novembro de 2018

Uma dúvida sobre Moro, outra sobre Bolsonaro

Jurista ou soldado? Em tempos de guerra ou vitória?

Os caminhos de Sergio Moro e Hamilton Mourão se cruzaram notadamente em 2 de outubro do ano passado, quando o juiz teceu comentários sobre a ditadura apenas dezessete dias depois de o general ter previsto a intervenção militar como "iminente".
Na ocasião, Moro afirmou que as Forças Armadas tinham sido importantes para a formação e a história do país, mas que a ditadura militar iniciada em 1964 tinha sido "um grande erro". Num evento em que recebia homenagem, o magistrado ainda disse que a única saída para os males democráticos, como a corrupção, era o "aprofundamento da democracia".

Podem não ser frases de um Churchill, mas, neste governo de clara fixação em soluções verde-oliva, trata-se de uma enorme vantagem ter um "superministro" comprometido com as liberdades civis garantidas pela Constituição. Talvez seja o único lado bom na entrada dele no ministério de Jair Bolsonaro. No mais, a leitura indiscutível do momento é negativa para a Lava-Jato: o presidente eleito nomeia como ministro o juiz que prendeu (e que posteriormente manteve preso) seu maior rival, Lula, como noticiou o Times londrino. [Moro mandou prender, mas, quem o manteve preso - negando mais cem ações para soltar o presidiátio petista - foram desembargadores do TRF4, ministros do STJ, ministros do STF - estes em decisões monocráticas e também plenárias.
O Times londrino deveria ter a precisão britânica como norma em seus comentários.]
A tentação é chamar Moro de cabo eleitoral de Bolsonaro, quando o mais provável é que Moro tenha sido a onda a ser surfada. No momento em que foi eleito super-herói dos descontentes com o PT, magnetizou toda a casta de políticos que ainda restava de pé. Álvaro Dias, do Podemos, tinha lançado a ideia de Moro como ministro da Justiça. Mourão admitiu que o convite ao juiz, por parte do PSL, foi feito durante a campanha eleitoral. Se o magistrado tivesse se filiado a um partido e se candidatado, talvez estivéssemos falando de um outro sucessor de Temer.

A presença de Moro no gabinete de Bolsonaro, porém, representa um desafio para ambos. Se Moro realmente defender "o respeito aos direitos e à Constituição", como diz em sua nota, será um freio para boa parte dos projetos controversos do presidente eleito. Poderá ser um tremendo embaraço às ambições de Bolsonaro na primeira resposta que der sobre a excludente de ilicitude – aquela carta branca para policiais matarem bandidos, sem serem julgados – , ou mesmo sobre o abominável projeto da Escola Sem Partido, que cria espaços hipervigiados nas salas de aula, impermeáveis ao debate, repletos de paranoia e francamente contrários à livre expressão. [a única solução para não tolher o trabalho de repressão aos bandidos é a exclundente de ilicitude;
se Moro for contra a mesma - em vez de usar seu conhecimento jurídico para reforçar a legislação que já ampara aquele recurso - estará declarando sua incapacidade para exercer o cargo de ministro da Justiça, assim, deverá apresentar seu parecer contrário acompanhado de uma renúncia ou pedido de demissão.]

Diante dessas perguntas com claro risco de atrito, Moro vai ter que se posicionar. Saberemos em breve se como jurista ou como soldado.

Vitorioso no domingo, Jair Bolsonaro exibiu quatro livros sobre a mesa durante a live em que se apresentou como presidente eleito. Uma Bíblia na tradução Mensagem de Deus, bastante difundida entre os evangélicos; uma coletânea de artigos do filósofo e influenciador digital Olavo de Carvalho; um exemplar da Constituição de 1988; e as Memórias da Segunda Guerra, do ex-premiê britânico Winston Churchill. O político abre seu livro com uma epígrafe que seria a "Moral do Obra":
"Na guerra: propósito.
Na derrota: ousadia.
Na vitória: magnanimidade.
Na paz: boa vontade."

Diante de suas entrevistas na última segunda-feira, ainda é impossível dizer se o eleito Bolsonaro se considera na primeira etapa ou na terceira.


Márvio dos Anjos, editor de Esportes  - Época

Fundamentos do recurso excludente de ilicitude:

Excludente de ilicitude
O que é: Bolsonaro quer que toda vez que um policial  mate alguém em combate seja aplicado automaticamente o princípio da legítima defesa, sem a investigação das ocorrências. [se existe a reação do bandido, o que caracteriza o combate, inclusive com apreensão de armas em poder do abatido, a legítima defesa, o estado de necessidade e  o estrito cumprimento do dever legal se comprovam de forma automática - o o estrito cumprimento do dever legal gera o estado de necessidade e os dois se fundem na legítima defesa.] 
Como fazer: O presidenciável e seu filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) apresentaram na Câmara três projetos de lei que tratam do tema.
Consequências: A PGR já adiantou que deve questionar a medida, caso ela seja aprovada. Especialistas consideram o projeto inconstitucional, por dar carta branca a policiais e violar o direito à vida. [o direito a vida do bandido é violado;  já o direito do policial à vida,   que se defende do injusto e ilegal ataque do bandido, não é violado? isso é o que se chama parcialidade a favor do bandido.] 
 
 
 

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Trabalho escravo x saboneteiras


A história contada por Temer sobre saboneteiras ofende agentes do Estado

Michel Temer deve um pedido de desculpas aos servidores públicos que batalham no combate ao trabalho escravo. Numa entrevista ao repórter Fernando Rodrigues, ele disse o seguinte: "O ministro do Trabalho me trouxe aqui alguns autos de infração que me impressionaram. Um deles, por exemplo, diz que se você não tiver a saboneteira no lugar certo significa trabalho escravo". Se uma empresa foi autuada só por isso, a arbitrariedade foi gritante e o argumento usado pelo presidente da República justificaria uma revisão das normas existentes.

A história era bem outra. Em 2011, a construtora MRV sofreu 44 autos de infração pelas condições de seus operários num canteiro de obras em Americana (SP). A empresa atrasava salários e retinha carteiras de trabalho (golpe velho). Nos seus alojamentos, faltavam colchões e água potável. Sem saboneteiras, os banheiros eram inadequados. 

O caso foi para a Justiça, a MRV foi condenada a pagar uma indenização de R$ 10 milhões por danos morais e, em 2014, fez um acordo, pagando R$ 2 milhões. O que foi apresentado pelo presidente como prova de um absurdo, era justo o contrário, uma demonstração de que a fiscalização punia maus empresários. O acordo assinado pela MRV coroava a eficácia da legislação.

Dias depois, perguntado sobre o caso, Temer justificou-se, lembrando que as informações lhe haviam sido dadas pelo seu ministro do Trabalho. Quando o repórter Ricardo Mendonça lembrou-lhe que havia outras infrações no processo, esquivou-se: "Ah, aí eu não sei".
Trapalhadas acontecem e às vezes são produzidas por assessores ou ministros. 

Winston Churchill sentou-se a uma mesa de almoço com o filósofo Isaiah Berlin, supondo que ele era o compositor Irving Berlin. Em outros casos, são apenas produto da distração. Temer estava na Noruega quando anunciou que ia se encontrar com o rei da Suécia, Ronald Reagan estava em Brasília quando saudou "o povo da Bolívia" e Lula disse que Napoleão foi à China.

As chamadas "gafes" de Temer são de dois tipos. Umas são chatas, porém banais. Outras, como a da saboneteira, traem um propósito e sugerem que o presidente tem uma propensão para construir convenientes realidades paralelas. No capítulo das banalidades desastrosas, estão as falas em que associou a relevância das mulheres à capacidade que elas têm de acompanhar os preços nos supermercados, ou quando ele se encontrou com o governador Pezão, restabelecido de um tratamento quimioterápico e disse: "Você está até mais bonito, acabou sendo uma coisa útil". 

A segunda família das "gafes" tem a ver com a capacidade dos poderosos de dizer o que querem, confiando na credulidade de quem os ouve. Ele ainda era vice-presidente e cabalava a deposição de Dilma Rousseff quando foi ao ar um áudio no qual apresentava um programa de governo. Explicou que foi um acidente. Vá lá. No discurso de posse, lembrou-se que em um posto de gasolina havia uma faixa dizendo: "Não pense em crise, trabalhe". O posto Doninha fechara havia anos.

Temer pode acreditar no que quiser, mas a Presidência da República pede que nela esteja uma pessoa em quem se acredita. "Ah, aí eu não sei" é coisa de vendedor de pomada milagrosa.

Fonte: Folha de S. Paulo - Elio Gaspari