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domingo, 18 de junho de 2023

Fazer o quê? E como? - Carlos Alberto Sardenberg

No início deste mês, dava-se como certo que a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, seria demitida nesta semana. Não foi. 
Na próxima, o presidente Lula vai para a Europa, de modo que a ministra, também deputada federal pelo Rio, pode ganhar mais alguns dias, se escapar neste final de semana
Estaria o governo avaliando a política para o turismo? 
Teria a ministra fracassado em apenas cinco meses de governo? [se desonestidade fosse critério que impedisse alguém de ser ministro, certamente a reunião 'ministerial' não  estaria sendo presidida pelo petista; o ilustre  Sardenberg esqueceu que tinha um outro para ser demitido, aquele que gosta de cavalos.]

Ingenuidade.

Há uma intensa discussão sobre o futuro desse ministério, mas ninguém, entre amigos e adversários da deputada, fala sobre programas para desenvolver o turismo interno ou para atrair mais estrangeiros para este belo país.

Tem mais. Daniela Carneiro integra o grupo político liderado por seu marido, prefeito de Belford Roxo, o Waguinho. O casal, com ligações à direita, apoiou Lula nas últimas eleições — e o presidente é muito grato. Logo, se a questão não tem nada a ver com turismo, tem muito a ver com a compensação que se dará ao grupo de Waguinho.  
Algo numa área parecida? Algo a ver com viagens? Aeroportos? Nada. Especula-se que o prefeito e sua mulher estejam interessados na gestão dos serviços de saúde do Rio. Mais exatamente, nos grandes hospitais federais. São cinco grandes. Problema: estão sob controle do PT.
De novo, não se fala de políticas para melhorar a eficiência dos hospitais, reduzir as filas de espera, coisas assim. Nos bastidores da disputa, comenta-se que essa área da saúde tem mais capilaridade e, sobretudo, muito mais verbas, contratos de prestação de serviços, compra de equipamentos e medicamentos. (Aliás, como registrou Bernardo Mello, do GLOBO, dois diretores desses hospitais, indicados pelo PT, já foram exonerados, depois de reportagens do jornal e da TV Globo, levantando questões de administração.) Repararam?  
A ministra tem apenas cinco meses de gestão. Os diretores, nem isso. Não daria para avaliar nenhuma política séria. 
 
Na última reunião ministerial, Lula disse a seus auxiliares que não queria mais saber de ideias novas, mas da aplicação de propostas já definidas. Quem tem propostas? O ministro Fernando Haddad, certamente. Tem conseguido desenvolver seus programas, mas não sem enfrentar surpresas dentro do próprio governo. Ele vinha repetindo que seu objetivo é reduzir os incentivos fiscais, quando o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, anunciou um programa de concessão de incentivos para a indústria automobilística. 
 Haddad ainda se salvou de uma goleada feita de gols contra. Conseguiu limitar o programa de Alckmin, mas teve de entregar algumas centenas de milhões de reais.
A questão dos incentivos aparece em dois temas cruciais para o governo e para o país: a reforma tributária e o arcabouço fiscal. 
Qual linha prevalecerá? É a pergunta que se fazem senadores e deputados. Na verdade, uma questão mais ampla: o governo e suas bases apoiam que projeto de reforma dos impostos? 
São dilemas que prejudicam o funcionamento do governo. Primeiro, saber quais são as propostas. Segundo, quando se sabe, qual prevalece. E terceiro, o mais importante, quem será nomeado para tocar as coisas. 
 
Considerem a disputa aberta entre ambientalistas e desenvolvimentistas. Estes querem os investimentos na indústria do petróleo, incluindo a exploração do óleo na Margem Equatorial, ao longo da foz do Amazonas, e na construção de ferrovias e estradas, de apoio ao agronegócio, que passam pela Amazônia. 
Ora, a preservação da floresta é compromisso firme de Lula, local e internacional. 
E os ambientalistas, liderados por Marina Silva, demonstram muita firmeza. Parece que o presidente tentará conciliar as posições.
 
Muitas escolhas precisam ser feitas, e logo. O governo está para anunciar uma nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento [PAC, mais conhecido como PACO em homenagem ao famoso conto do PACO - só que o PACO petista é mais nocivo  que o PACO que dá nome ao conto.] e ali deverão constar os investimentos e financiamentos prioritários. Aí veremos. 
Aliás, saberemos também o nome. PAC lembra Dilma. E está meio queimado. É outro dilema. O de menos.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista  - Coluna Opinião publicada em O Globo


sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O verdadeiro Lula - Carlos Alberto Sardenberg

O presidente Lula considera uma bobagem esse negócio de banco central independente. Diz que o sistema não está funcionando porque a meta de inflação é muito baixa, a inflação real está elevada e os juros muito altos. Arremata dizendo que no tempo do seu primeiro governo o BC não era independente e conseguiu derrubar inflação e juros.

         Confusão danada.

         Começando pelo fim: o banco central nos dois primeiros mandatos de Lula, de fato, não tinha autonomia ou independência formal. Mas Henrique Meirelles, então um deputado tucano e ex-presidente mundial do Bank of Boston, só aceitou o convite de Lula para assumir o BC se tivesse plena independência. Lula prometeu e cumpriu.

         Meirelles, também sustentado pelo então poderoso ministro da Fazenda Antônio Palocci, escolheu sua diretoria e administrou a política monetária segundo a teoria e a prática de um banco central moderno.

         Quando Palocci caiu, Guido Mantega assumiu a Fazenda e tentou derrubar Meirelles. Queria colocar no lugar Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp, com propostas opostas às de Meirelles. Quase conseguiu. Preocupado com a reação dos mercados e dos operadores da economia real, Lula manteve o ex-banqueiro.

         Desfazendo a primeira confusão: Lula reclama hoje da independência, legal, do BC e argumenta que no tempo dele funcionou bem … com independência. Só que era uma independência na prática, concedida pelo presidente. Assim como fora na época de FHC.

         Essa independência era uma fragilidade, demonstrada na gestão de Dilma. A presidente interferiu direto na política monetária, ordenando uma redução de juros quando não havia condições para isso e que veio a dar na inacreditável combinação de inflação alta, juros altos e recessão.

         Provou por que o BC deve ser independente. Fica imune às políticas eleitoreiras e/ou populistas do governante de plantão. A lei de independência do BC brasileiro foi votada pelo Congresso em 2021. Determina que o BC deve perseguir a meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional, e fixa o mandato dos diretores do banco. Assim, o atual presidente do BCB, Roberto Campos Neto, tem mandato até dezembro de 2024, para cumprir metas já fixadas.

Mas a confusão armada por Lula começa em outro ponto da política econômica, o estado das contas públicas. O presidente ataca o teto de gastos e a exigência de responsabilidade fiscal, diz que os fiscalistas são contra os gastos sociais e logo em seguida assegura que seu primeiro governo praticou a responsabilidade fiscal.

         Este último ponto é verdade. Por influência de Palocci e Meirelles, Lula cumpriu a Lei de Responsabilidade Fiscal, entregando superávits elevados todos os anos. Repararam? Lula está invocando seu passado responsável de respeito à autonomia do BC e produção de superávits fiscais – para rechaçar qualquer regra nesses itens.  
Só que agora é para tolerar uma inflação mais alta, BC à parte, e obter uma licença para gastar e produzir déficits elevados.

         O que está por trás dessa confusão?

         É que o Lula do primeiro governo não era o verdadeiro. Ele praticou políticas responsáveis, ortodoxas, por medo da reação dos meios econômicos. Tanto que começou a mudar a postura no segundo mandato, quando se sentiu mais seguro. Tudo considerado, Dilma foi o verdadeiro Lula, com a gastança do governo, suas estatais e seus bancos.

         É o que Lula quer reviver, mas as circunstâncias mudaram. No primeiro governo, Lula recebeu a casa arrumada e um presente da globalização: o mundo todo em crescimento, com o boom das comodities trazendo dólares ao Brasil.

         Agora, o mundo desacelera, os juros são altos para combater a inflação. Aqui também. Por isso Lula não precisa reclamar da meta de inflação. A inflação real e que atinge os mais pobres já está bem acima da meta.

         Pode apostar: vai sobrar para o BC independente. 

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo / Economia / Política

 

sábado, 4 de junho de 2022

Brasil no lugar da China? - Carlos Alberto Sardenberg

Brasil poderia ocupar o lugar da China?

Aqui vai só um exemplo de que como foi uma tortura o tipo de confinamento imposto aos moradores de Xangai. Ou, de como a política de covid zero faz com que muita gente grande reveja a disposição de investir na China.

História contada de fonte segura: numa fábrica de mais de 5 mil funcionários aparece um caso de Covid. No mesmo dia, todos os empregados são convocados a comparecer na empresa. E todos ficam ali confinados por sete dias. Isso mesmo, todo mundo na fábrica, de chefões a operários. Passados os sete dias, e não se verificando nenhum outro caso de Covid, todos são dispensados, mas com a ordem de permanecer em casa por sete semanas.

O lockdown de sete semanas foi imposto a toda a população de Xangai. Imposto não é modo de expressão. 
Repararam nas imagens, da semana passada, de moradores festejando a suspensão do confinamento? 
Viram como se animavam no trabalho de levantar as barricadas?

Isso mesmo – para obrigar as pessoas a permanecer em casa, foram erguidas barricadas em boa parte da cidade, bloqueando residências e prédios comerciais. Mesmo quem se dispusesse a enfrentar os policiais, não conseguiria sair. A política de Covid zero tem sido debatida em um duplo viés. De um lado, trata-se de saber sua eficiência em combater a transmissão do vírus. Na maioria dos outros países, o lockdown, mais ou menos restrito, foi uma prática auxiliar. Funcionou como um modo de ganhar tempo na busca de medicamentos e vacinas. Encontradas as vacinas, o lockdown foi relaxado na medida em que se avançava na imunização.

Isso deu certo. Tanto que agora, com o surgimento de novas variantes, menos graves, não foi necessário impor confinamentos. As populações estão vacinadas – em boa parte.

Daí, pergunta-se: e por que a China continua fazendo lockdown tão rigoroso? Caiu em Xangai, mas partes dessa cidade e outras menores continuam sob restrição. Em Xangai, essa medida se aplica em áreas residenciais ainda sob “médio ou alto risco” de contaminação.

A China criou vacinas, mas não parece que a maioria da população esteja imunizada. E dizemos “não parece” porque os dados do governo não são confiáveis. É certo, de todo modo, que milhões de idosos não foram vacinados.  
É certo também que a China não recorreu às vacinas “ocidentais”, mais modernas, e que poderiam oferecer uma eficiente combinação de imunização.

O que leva ao segundo ponto: essa política só é possível numa baita ditadura. E, de fato, o presidente Xi Jin Ping comanda pessoalmente o combate ao que ele chama de “vírus do diabo”. Para um materialista oficial colocar a culpa no demônio – é curioso.

Xi Jin Ping está no seu segundo mandato de cinco anos e se preparando para, neste ano, emplacar o terceiro. Isso rompe com a tradição de limitar a presidência a dois mandatos. Ele conseguirá fazer isso? É quase certo, pois o líder assumiu o comando do Partido Comunista e das Forças Armadas, e promoveu um expurgo nos quadros políticos e administrativos.

Manda e desmanda. Muito mais que os últimos presidentes. E manda também na economia que, convém registrar, é movida a capitais privados, nacionais e estrangeiros. Fazia tempo que as empresas, locais e internacionais, não sofriam tantas restrições como as aplicadas por Xi Jin Ping.

Resultado da falta de segurança, um exemplo de peso: a Apple está se preparando para retirar da China boa parte de sua produção. Pode levar iPad para o Vietnã e iPhones para a India.

É um sinal de que pouco a pouco a China vai perdendo sua condição de fábrica do mundo, paraíso das multinacionais. E para onde podem ir esses investimentos? Não para a Rússia, que era outro mercado emergente muito atraente, [será que para o capitalismo uma operação militar visando recuperar territórios é uma inconveniência??? desde que garanta a provisoriedade privada.] até a invasão da Ucrânia. Com a facilidade, agora perdida, de estar na Europa.

Os investidores precisam de um país grande, de economia medianamente desenvolvida, com organização administrativa e política. De preferência, uma democracia à ocidental, com regras seguras, garantidas em lei.

Pensaram no Brasil? Pois é. Pode, pode ser. Depende só daqui. [em nossa opinião um dos complicadores é a leniência da legislação brasileira, que não garante direitos nem Segurança Jurídica, por permitir interferências indevidas, especialmente do Poder Judiciário - certas situações surgidas na China e que estão espantando investidores, podem ocorrer no Brasil, bastando para tanto uma decisão monocrática de um ministro do Supremo. 
Outra agravante é que as condenações no Brasil, ainda que confirmadas em três instâncias e por vários juízes podem ser revistas em decisões monocráticas - quem garante ao investidor estrangeiro que um individuo condenado a uma pena severa, não pode, transcorrido alguns  alguns meses,  ser candidato ao cargo mais elevado do Brasil? 
Como bem diz o Sardenberg, depende só do Brasil - o que entendemos mudar sua legislação e propiciando SEGURANÇA JURÍDICA.]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista  

 

 Coluna publicada em O Globo - Economia 4 de junho de 2022

sábado, 5 de março de 2022

A Rússia é culpada – sem adversativas - Carlos Alberto Sardenberg

Como não dá a menor atenção para questões ambientais, sociais e de sustentabilidade, o presidente Putin não percebeu a enorme mudança ocorrida nas corporações privadas ocidentais: a era da responsabilidade social. E assim cometeu o maior erro de cálculo de seu ataque à Ucrânia: não imaginou que as grandes multinacionais, envolvidas em negócios bilionários com o governo e empresas russas, pudessem aderir de maneira avassaladora às sanções contra a Rússia.

Todas essas multinacionais estão perdendo muito dinheiro. A Embraer, por exemplo, informou que não vai mais prestar assistência aos 30 aviões que voam na Rússia. Nem assistência técnica, nem fornecimento de peças. Logo, deixa de receber dólares por um serviço. [nossos comentários não são narrativas, sempre refletem a verdade, comentamos o fato, não a narrativa: no exemplo, fica dificil imaginar o caos caótico produzido por 30 aviões deixarem de voar - lembrando que o prejuízo é bem maior para  a Embraer.
Outro ponto: quando alguma nação declara que vai deixar de comprar gás russo ou petróleo, surge uma pergunta inevitável: a necessidade do gás e/ou petróleo permanece - vai comprar de quem e a que preço? ]

A BP simplesmente cancelou sua participação no capital de empresas petrolíferas russas – assimilando uma perda patrimonial de US$ 25 bilhões e perdendo acesso a importantes reservas de óleo e gás. [bobagem; são insumos que não fazem falta.]

Por que fazem isso? Porque, no mundo corporativo contemporâneo contam muito os valores éticos, a responsabilidade com o público e a sociedade. [será que esses valores tão bonitos dentro do maldito politicamente correto, atendem as necessidades dos produtos dispensados?]  Muita gente dizia que isso de ESG – Environmental, social and  governance – era puro marketing. Uma enganação para parecer politicamente correto.

Mas o verdadeiro cancelamento que as multinacionais impuseram aos negócios com a Rússia tiveram efeitos devastadores. As ações das 11 maiores empresas russas listadas na bolsa americana Dow Jones viraram pó. Uma queda de 98%! Perderam riqueza empresas e pessoas russas, mas também empresas e pessoas do mundo ocidental. As sanções de governos eram esperadas. Mesmo assim foram mais fortes do que se imaginava e podem escalar com a proibição total de importação de petróleo e gás russos. A adesão tão completa das multinacionais – às vezes, mais forte do que as governamentais – é a parte nova desta história. [o complicador é que as sanções demoram a fazer efeito, apresentar resultado, já as vidas perdidas o resultado é imediato; dado a desproporção, a Ucrânia dificilmente aguenta um mês de fogo cerrado - nesse tempo ou se rende para evitar um morticínio ou o Zelenski renuncia e pede asilo - solução mais acerta,humanitária e racional. Começa o processo de reconstrução da Ucrânia e as sanções somem antes de serem percebidas na inteireza. Não é ideologia, é antecipação dos fatos.]

Assim, o isolamento global imposto à Rússia é uma atitude ao mesmo tempo geopolítica e moral. É para dizer: não, a Rússia não pode invadir a Ucrânia e ponto final. A Rússia é a criminosa, a Ucrânia, a vítima. E a ordem jurídica internacional, tal como definida na Carta da ONU, também é vítima. A Rússia viola escandalosamente o princípio de integridade territorial. São inteiramente equivocadas as análises segundo as quais a Rússia se sentiu ameaçada pelo avanço da União Europeia e da OTAN na direção do Leste europeu, dos ex-satélites soviéticos.

Sei que gente bem intencionada diz isso. Ainda assim, é um grave equívoco. E, sim, equivale a dar razão a Putin.  O fato é que a Rússia não estava sob nenhuma ameaça militar. O que estava e está se desfazendo é a ideologia sustentada por Putin, segundo a qual os valores ocidentais – liberdade individual, direitos de minorias, imprensa e partidos livres e o modo ESG – estavam em colapso.

A tremenda reação do Ocidente provou o contrário. Assim, pessoal, nada de adversativas, nada de “mas, porém”.[a ditadura da esquerda progressista estava, e ainda está, oferecendo sérios perigos aos VALORES que o Ocidente cultiva de longa data. Afinal a maldita esquerda progressista pretende destruir tudo que tem valor, tudo de bom, todo o bem, cultivado há séculos - ver que eles começam pelo incentivo ao aborto e vão em frente, em um crescente cada vez mais diabólico, sinistro e destruidor e que tem que ser contido.
O Joe Biden, uma das lideranças de tudo que a maldita esquerda pretende impor, tem como um dos seus slogans Biden também reforçou sua defesa do "direito das mulheres ao aborto".
Logo que assumiu a presidência dos EUA, expediu ordem executiva consolidando o acima destacado. ]

Compreendo que muita gente não gosta de ver que o Ocidente está do lado certo desta. Como Lula. Ele disse no México que os presidentes “envolvidos” deveriam cessar a guerra.  “Envolvidos” – eis uma expressão marota, para dizer o mínimo. Você pode estar envolvido num acidente… como vítima dele. A Ucrânia está envolvida na guerra, mas é o cúmulo do mau caráter pedir que ela, Ucrânia, cesse a guerra. E entregue tudo para Putin?

Também é equivocado e maneira indireta de dar razão a Putin dizer que é perigoso acuar o ditador russo. [logo no resto do mundo será considerado equívoco e no Brasil crime,apontar o óbvio: é extremamente perigoso acusar Putin = ele reagirá e sua reação não encontrará obstáculo - os guerreiros de palanques, de assembleias,  não terão coragem de reagir a qualquer ato praticado por Putin.Querem criminalizar o ato de falar a verdade? apontar o óbvio?] Trata-se do contrário: é perigoso para o mundo deixar que Putin execute seu imperialismo criminoso sem qualquer oposição.

Finalmente, os países do Leste europeu que aderiram ou estão aderindo à União Europeia e à OTAN o fizeram livremente. Nem precisa pensar muito para entender por que o fizeram: você preferiria aliar-se a uma Europa democrática e rica ou a uma ditadura imperialista? Também não se pode deixar de notar como as posições de Lula e Bolsonaro se aproximam. Ambos se recusam a dizer que a única culpada é a Rússia. [suprema ironia:  Quem impor a narrativa de que a Rússia é a culpada. Porém, tirem o ainda presidente da Ucrânia - parem de tratá-lo como um garoto birrento -  e a guerra acaba.]

Já não deveríamos nos espantar com isso. Só as sanções podem levar o povo russo a deter Putin. [daqui a seis meses?um ano?ainda existirá Ucrânia?]

Carlos Alberto Sardenberg, colunista 

 Coluna publicada em O Globo - Economia 5 de março de 2022


sábado, 6 de novembro de 2021

Marighella - Para ele o que importava era matar, era o cadáver

 Ato de resistência

"O que importa não é a identidade do cadáver, mas seu impacto sobre o público."

Oito motivos para ver ‘Marighella’ - Flávia Oliveira

 

Há um rol de motivos para brasileiras e brasileiros assistirem a “Marighella”, a produção cinematográfica mais esperada e perseguida dos últimos tempos. O longa-metragem, estrelado por Seu Jorge, dirigido por Wagner Moura, estreou ontem nos cinemas Brasil afora. Tive a chance de estar na pré-estreia carioca, na semana passada. Em tópicos, as razões que me fazem recomendar a obra:
 
 
[Comentários do Blog Prontidão Total:
Iniciamos justificando a razão do artigo da Flávia Oliveira se encontrar logo após um de economia.
Apenas estamos usado a matéria da ilustre repórter, como 'gancho',   para mostrar as razões pelas quais não devemos ver o filme por ela recomendado.

Um único  motivo, entre muitos, para não ver 'Marighella', difusor da regra a ser seguida pelos guerrilheiros e terroristas:   "O que importa não é a identidade do cadáver, mas seu impacto sobre o público."

O filme pretende transformar em herói nacional um assassino covarde, cruel, frio e não dava o menor valor à vida humana. Para ele o importante era matar alguém, causar impacto nos cidadãos, utilizando não a importância da vítima, o que fez, o que deixou de fazer, e sim o CADÁVER.

Marighella foi orientador de vários grupos terroristas, entre eles as Brigadas Vermelhas, Exército Vermelho e outros;

não queremos que acreditem neste Blog, transcrevemos abaixo algumas pérolas do pensamento do terrorista Marighella: ..." Pequenos ensinamentos do Manual do Guerrilheiro Urbano:  

“... não matam com raiva ................... Tampouco matam por impulso................... Matam com naturalidade, pois esta é “a única razão de ser de um guerrilheiro urbano”

Apreciação sobre Marighella: Marighella se tornou um herói da esquerda - ele matava apenas para produzir um cadáver, isto lhe bastava como razão, motivação."

Confiram e  constatarão que o acima transcrito é de artigo do historiador Marco Antonio Villa, historiador, publicado em O Globo. (o ilustre historiador escreveu a VERDADE DOS FATOS, expressa no artigo parcialmente transcrito, antes de ser 'convertido' ao maldito politicamente correto, se tornar adepto do 'quanto pior, melhor' e da supremacia de um dos poderes da República, sufocando os demais e o principio da harmonia e independência entre os TRÊS PODERES da União.
Naquela ocasião o historiador cultuava a História e certamente desprezava às narrativas.)

Procurem a íntegra do minimanual do guerrilheiro urbano.

O Blog Prontidão Total tem postado o minimanual, mas preferimos que procurem em outros sites. 

Após devidamente informados,  decidam se covardes cruéis e desumanos como Marighella, Clemente, Lamarca e outros devem ser sepultados nos esgotos da história. Adiante a sequência do artigo publicado em O Globo.

Obrigado.]

"O que importa não é a identidade do cadáver, mas seu impacto sobre o público."

1) Brasileiras e brasileiros devem assistir a “Marighella” porque é ato de resistência. Na antipolítica cultural do governo Jair Bolsonaro, artistas e produtores de cinema são atacados ao limite da asfixia. O lançamento de “Marighella” foi adiado em dois anos e meio, por censura travestida de burocracia.

2) Brasileiras e brasileiros devem assistir a “Marighella” para reencontrar a História, porque há empenho oficial em recontá-la atenuando o legado nefasto da ditadura militar. O filme retrata o ambiente de censura à imprensa e escancara a brutalidade do regime com cenas cruas — às vezes, insuportáveis — de tortura e execuções. A barbárie foi anistiada, mas está documentada. “Marighella” tampouco esconde a radicalização e a violência dos opositores, empenhados em enfrentar, enfraquecer, derrubar o regime via luta armada, mesmo sem apoio popular. Em tempos de escalada autoritária, de ameaça à democracia tão duramente reconquistada, é preciso lembrar o passado, para não repeti-lo.

3) Brasileiras e brasileiros devem assistir a “Marighella” para testemunhar a estreia de Wagner Moura na direção. O grande ator conduziu uma produção segura, a serviço do elenco. Escolheu um homem preto para encarnar o personagem principal, mestiço; fez o avesso do embranquecimento que grassa na produção cultural brasileira. Batizou personagens com o nome real dos atores, caso de Humberto Carrão, Henrique Vieira e Bella Camero, como a explicitar o compromisso de cada indivíduo com a produção. Atos políticos. A impressão é de confinamento, de segredo, tanto na ação do regime quanto dos opositores. É obra impregnada da atmosfera de tensão daqueles dias.

4) Brasileiras e brasileiros devem assistir a “Marighella” para ver Seu Jorge brilhar como protagonista. O cantor e compositor se assenta na carreira de ator ao encarnar um Carlos Marighella idealista e violento, radical e engraçado, amedrontado e amoroso, pretensioso e ingênuo, ambicioso e isolado. Humano, portanto. Luiz Carlos Vasconcelos também se destaca como Almir, o Branco, companheiro leal do início ao fim.

5) Brasileiras e brasileiros devem assistir a “Marighella”, porque a ditadura pavimentou muito do modelo de segurança pública e de abordagens policiais, ora debatidos no Brasil. Na saída do filme, encontrei Mônica Cunha, coordenadora da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, fundadora do Movimento Moleque (de mães de vítimas da violência), cujo filho Rafael foi assassinado aos 20 anos, em 2006. Ela chorava por enxergar no longa a linha do tempo que veio dar no arbítrio, ainda hoje, característico da relação do Estado com jovens negros de favelas e periferias. A narrativa de “Marighella” guarda a gênese do Capitão Nascimento, personagem eternizado pelo ator Wagner Moura num par de filmes de José Padilha.

6) Brasileiras e brasileiros devem assistir a “Marighella” para reviver a beleza de cantar com paixão o Hino Nacional, sequestrado por autodeclarados patriotas que preferem autoritarismo à democracia, radicalismo ao diálogo, intolerância à inclusão. E para ouvir versos de Gonzaguinha: “Memória de um tempo onde lutar / Por seu direito / É um defeito que mata”. São cenas comoventes do filme.

7) Brasileiras e brasileiros devem assistir a “Marighella” em reconhecimento ao trabalho do jornalista Mário Magalhães, que dedicou quase uma década a apurar e escrever a biografia do líder da Aliança Libertadora Nacional (ALN), até então condenado à invisibilidade. O filme é um corte nos cinco últimos anos de vida do guerrilheiro, ex-deputado, pai, marido, filho de Oxóssi, morto desarmado em 1969, em São Paulo, por agentes do Dops. O roteiro partiu do livro de Magalhães, Prêmio Jabuti de melhor biografia em 2013.

8) Brasileiras e brasileiros devem assistir a “Marighella” para reencontrar as salas de cinema, após o hiato imposto pelas medidas de enfrentamento à Covid-19. O setor foi dos mais prejudicados pelas restrições às atividades econômicas: primeiro a parar, último a retornar à normalidade. Diante do cenário atual da pandemia (queda de casos, internações e óbitos) e do avanço da vacinação, Vitor Mori, pós-doutorando em engenharia biomédica e membro do Observatório Covid-19 Brasil, afirmou em série de posts no Twitter: “Mesmo sendo local fechado, as pessoas se mantêm em silêncio a maior parte do tempo, e há boa aderência ao uso de máscara”. No Rio, são obrigatórios apresentação do certificado de vacinação e uso de máscara nos cinemas, medidas de segurança sanitária. Negacionistas fora.

Flávia Oliveira, colunista O Globo

"O que importa não é a identidade do cadáver, mas seu impacto sobre o público."


sábado, 11 de setembro de 2021

Falsa impressão - Carlos Alberto Sardenberg

À primeira vista, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, matou a charada. Conforme registramos aqui na semana passada, Paes acreditava que não ia acontecer nada no 7 de setembro. Muito barulho de um bando de irresponsáveis e ignorantes, e só. É verdade que não foi propriamente só barulho. Os caminhoneiros bolsonaristas interromperam estradas, provocaram algum desabastecimento, acharam que o golpe estava em curso, mas recuaram, entre perplexos e atônitos, depois da carta à nação escrita por Temer e assinada por Bolsonaro.

De todo modo, voltaram para casa. E os bolsonaristas se dividiram entre os que dizem “confiem no capitão” e os que se decepcionaram. [a maior parte destes já 'acordaram' e concluíram que a mídia militante não tendo condições de brigar com as imagens - que mostram a força do BOLSONARISMO no 7 de setembro  = tenta transformar uma jogada estratégica = recuo estratégico = em arrego. Ocorre que os bolsonaristas vacilantes descobriram, muitos ainda estão descobrindo,  que o capitão é quem dita o rumo da dança e voltarão a se alinhar, mais confiantes e seguros,  - alguns babacas que pensam estar mandando, logo perceberão que estão sendo manobrados como idiotas inúteis que são.] Afinal, na quinta-feira, o chefe deles arregou duas vezes. Primeiro, na reunião dos Brics, elogiou a China por seus esforços na confecção da vacina. Depois, divulgou a carta em que pede desculpas ao STF e, em particular, ao ministro Alexandre de Moraes – chamado de canalha apenas 48 horas antes.

O primeiro grupo acredita que Bolsonaro está fazendo uma grande jogada estratégica. O segundo ameaça desistir do bolsonarismo. Mas o fato é que nenhum deles tem capacidade de ação sem o comando de Bolsonaro e sem o uso da máquina governamental, travada por decisões do próprio Alexandre de Moraes. Acrescente-se ao quadro a manifestação de apoio à tolerância e harmonia entre poderes, feita por diversas lideranças políticas, econômicas e sociais – e pode parecer que tudo se acalmou. Bolsonaro amansado e as pautas políticas e econômicas retomadas.

Falsa impressão.

Na quinta-feira mesmo, na live, o presidente Bolsonaro já começou a voltar a ele mesmo. Atacou de novo as urnas eletrônicas e atacou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luis Roberto Barroso, como um cafajeste da mais baixa espécie. “As urnas são penetráveis, viu Barroso”, repetiu Bolsonaro, com uma expressão nervosa. [o presidente Bolsonaro abriu espaço para uma trégua que será excelente para o Brasil; não abriu mão do direito de criticar o que está errado. 
Afinal, Bolsonaro não tem pauta a cumprir. 
Tem PROGRAMA DE GOVERNO que devido a pandemia, as sabotagens e a própria estiagem, não teve condições de ser executado.
Só que os sabotadores do governo Bolsonaro se ferraram, terão que aguentar o capitão por mais quatro anos, a contar de 1º janeiro 2023.
A trégua foi firmada por cavalheiros e vai ser respeitada e expandida. As palavras e frases usadas serão críticas e, quando cabível,  elogiosas, mas de qualquer forma serão respeitosas.]

Falta pouco, muito pouco, para ele tentar de novo as manobras golpistas. Nesse ponto, pode-se dizer que o prefeito Eduardo Paes não está tão certo assim. Sim, não aconteceu nada, mas Bolsonaro tentou o golpe – e isso é a única coisa que ele tem para fazer. Sem governar, sem ter a menor noção das dificuldades econômicas que se agravam a cada dia, ele não tem outra pauta senão atacar o STF e o TSE.

É de uma estupidez monumental. Então fechar as cortes superiores vai derrubar o preço da gasolina ou fazer chover sobre os reservatórios das hidrelétricas? Na verdade, não existe um Bolsonaro não golpista. Não dando certo o golpe, tudo que lhe resta é tentar emparedar as instituições, atrasar o andamento dos inquéritos contra ele, seus filhos e aliados e adiar o impeachment.

Assim, ele cai num impasse. Se radicalizar de novo, se voltar ao golpismo, acelera o impeachment e as ações que correm contra ele e sua turma. Se assumir o figurino Bolsonaro/Temer, perde sua base de raiz e se torna um marionete nas mãos do Centrão. Isso até abril do ano que vem, quando o Centrão, vendo o desgaste de Bolsonaro, desembarcará do governo para se acomodar com as forças dominantes para as eleições de outubro, Lula incluído.

Na política, portanto, ficamos assim: Bolsonaro se enfraquecendo, voltando para o grupinho radical e medíocre de onde nunca deveria ter saído; a terceira via a cada dia se torna a segunda via, sendo Lula a primeira.[INCRÍVEL: uma rápida consulta aos arquivos mostrará que o ladrão petista que hoje está na primeira via, chegou a ser colocado no esgoto - agora que o Supremo anulou as condenações, por detalhes técnico (o petista não foi inocentado) tentam elegê-lo. Nem candidato ele será - logo algum petista em um segundo de discernimento perceberá, e dará o alarme que a coisa, lula da Silva, atrapalha mais que ajuda.]

O movimento nos próximos meses será nessa direção: Lula tentando se consolidar na esquerda e tomar uns nacos do Centrão, enquanto o grupo que reúne conservadores e liberais busca um nome viável para enfrentar o petista. Na conta, o entendimento de que Bolsonaro derrete e se chegar às eleições, chega nanico.  Enquanto isso, a economia afunda: inflação muito elevada, derrubando a renda real das famílias; juros em alta, encarecendo crédito para consumo e investimento; desemprego persistentemente elevado; dólar caro; grupos políticos avançando no orçamento.

Deu ruim. Vai ter que consertar tudo de novo.[exatamente: para consertar o que recebeu com defeito e que se somou aos danos decorrentes da peste, é que o POVO BRASILEIRO, com as BÊNÇÃOS de DEUS, outorgará mais quatro anos ao 'capitão'. RELAXE, ACEITEI que vai doer bem menos.]

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo - Economia 11 de setembro de 2021
 

sábado, 4 de setembro de 2021

O desembarque - Carlos Alberto Sardenberg

Tomara que o prefeito do Rio, Eduardo Paes, esteja certo. Ao contrário de um monte de gente que teme pelo pior com as manifestações bolsonaristas do 7 de setembro, Paes disse para a Malu Gaspar: “Posso estar absolutamente cego, equivocado. Mas a minha impressão é de que não vai ter nada. Vai ter uma cota grande de irresponsáveis, que defendem teses estapafúrdias, golpe militar, AI-5. Nem eles sabem do que estão falando, essa é a verdade”.
Seria o melhor para o país e, claro, o pior para Bolsonaro e sua turma, incluída a família. E o que seria o pior para o país? Motins de policiais militares e caminhoneiros tentando parar tudo. Se a gente lembrar que o então deputado Jair Bolsonaro já apoiou motins e baderna de caminhoneiros, parece claro que há uma chance de se realizar esse pior cenário. O presidente colabora para isso todo dia. [vale lembrar que agora o então deputado É o presidente da República, forte candidato a ser reeleito e as convocações não são para baderna, desordens e sim para reivindicar que os direitos constitucionais dos cidadãos sejam respeitados por TODAS as autoridades, independente da posição política do cidadão - alvo de medidas arbitrárias, inconstitucionais e o pior = usadas a pretexto de preservar à Constituição.
Manifestações, badernas não produzem golpe de estado, não dão golpe militar, podem resultar em guerra civil = o que não é o caso das convocadas pelo presidente da República JAIR MESSIAS BOLSONARO.]

O que fazer para impedi-lo? Primeiro, os governadores estaduais têm uma tarefa crucial: manter o controle sobre suas PMs, mandando os policiais para a rua para evitar a baderna e não para ajudar os golpistas. Parece óbvio dizer isso. E é mesmo. Mas não é também uma obviedade quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, neste caso representando outras autoridades, diz que não se negocia a democracia?

Eis o ponto a que chegamos. Presidentes de instituições da República, líderes políticos, empresários, banqueiros, membros de destaque da sociedade civil e do mundo econômico precisando vir a público para defender  a democracia e a paz entre os poderes. Isso era para ser um ambiente dado por todos. Aqui é democracia e ponto final. Os governadores mandam [sic] nas PMs e ponto final.

Mas é por causa do presidente Bolsonaro. Em vez de governar e de lidar com uma sequência de dificuldades econômicas, ele passa o tempo estimulando os seus golpistas e a  sua tropa de choque. Ainda assim, nos diversos manifestos e pronunciamentos em prol da democracia, muita gente tem medo  de dizer que se trata, sim, de uma crítica e  uma resposta explícita aos desatinos bolsonaristas. Isso vale para boa parte do PIB. A turma aqui se dividiu. Pode-se dizer que a ampla maioria já desembarcou do governo Bolsonaro e do assim chamado liberal Paulo Guedes. Parte desse grupo, entretanto, ainda não assumiu.

Sabe como é. A economia brasileira tem muito Estado e, pois, muito negócio com o governo federal e com as empresas e bancos públicos. Daí a quase irresistível tendência governista de boa parte dos representantes da produção e das finanças. Vale para qualquer governo, de Lula e Temer a Bolsonaro das eleições e dos primeiros meses. Ocorre que Bolsonaro é tão ruim para o país, a sociedade e a economia, que mesmo os mais governistas e mais temerosos estão desembarcando dessa canoa. Mas assim como os governadores precisam cumprir a tarefa básica de controlar as PMs, o PIB, a sociedade e as lideranças políticas precisam conter as loucuras do presidente Bolsonaro
[a maior parte dos que a mídia militante considera desembarcados do governo, fingem que desembarcaram, mas estão com um pé no barco do governo e o outro no vazio, mas prontos para voltar para a segurança do barco = só que grande parte desses, por excesso de prudência = ou falta de coragem = ou covardia mesmo - alardeiam que desembarcaram,  mas aguardam o resultado do 7 de setembro. 
Entendam, não defendemos golpe militar, baderna, motim, mas consideramos que o número dos manifestantes pró governo, pró Ordem e Progresso, favoráveis a que os direitos constitucionais dos cidadãos sejam respeitados, sem depender tal respeito da opção política dos cidadãos, favoráveis a que as autoridades passem a aceitar que a Constituição Federal OBRIGA a todos, sem considerar a cor política e que não pode haver duas interpretações do texto constitucional = uma para ser aplicada contra os que apoiam o governo do presidente Bolsonaro e outra de aplicação aos que são contra o governo - será essencial para fazer que os fujões voltem à segurança do barco governamental.]
Como? Primeiro, dizendo isso clara e publicamente. Segundo, recorrendo aos instrumentos disponíveis (impeachment, denúncias nos tribunais, pressão no Legislativo, campanhas etc.).[antes do inicio da execução das medidas acima, sugerimos a leitura do excelente artigo = manual prático do golpe = do jornalista J. R. Guzzo. 
Os que seguirem a sugestão ficarão mais tranquilos, constatarão que não há golpe em curso, por vários fatores, sendo o principal que um golpe é uma operação complexa e sempre tratada de forma reservada.]
Faltam três dias para o 7 de setembro e as ameaças dos bolsonaristas. Há tempo para erguer uma barreira de contenção. Necessária porque o presidente, sua família, sua tropa estão sendo cercados por diversos lados. Correm os inquéritos no STF, as investigações do Ministério Público sobre as rachadinhas, funcionários fantasmas e, pois, lavagem de dinheiro. Acrescente-se aí a CPI que a cada dia descobre mais picaretagem e roubalheira em negócios com o governo, especialmente na área da saúde. [o que de concreto contra o governo Bolsonaro, contra o presidente da República, as ações citadas e destacadas em vermelho, produziram? interpretações  do senador Aziz, do relator Calheiros, do encrenqueiro Rodrigues NÃO VALEM. QUEREMOS FATOS.
A propósito do alarde que  o Covidão tem feito, só aconteceu o indiciamento do relator Calheiros, por corrupção,  efetuado pela Policia Federal  = nada a ver com a Covidão, foi consequência de inquérito já em curso contra o relator.
O resto é só barulho. A Covidão não tem, nunca teve e nunca terá em  pegar os verdadeiros ladrões = vários governadores e prefeitos protegidos sob o rótulo de autoridades locais. 
O único objetivo dela, Covidão, já fracassado, era derrubar o Presidente da República Federativa do Brasil, JAIR MESSIAS BOLSONARO.]

Na área da saúde, gente. Ali mesmo onde se deveria encontrar uma ação organizada para conter o vírus. Em vez disso, temos o ministro da Saúde dizendo ser contra a exigência de certificado e do uso de máscaras. Passaram muito além do limite.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

Coluna publicada em O Globo - Economia 4 de setembro de 2021


sábado, 24 de julho de 2021

Os bilhões da velha política - Carlos Alberto Sardenberg

Fundo partidário tem a garantia dos bilhões da velha política

Mantidas as atuais regras, os partidos políticos brasileiros vão receber em 2022, ano eleitoral, algo perto de R$ 10 bilhões. Dinheiro do contribuinte para financiar o dia a dia dos partidos e suas campanhas eleitorais para presidente, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. [Enquanto R$ DEZ BILHÕES  são desperdiçados, os ministros Barroso, Morais & Cia., declaram guerra ao voto  impresso - alegam,com exagero, que vai custar R$ 2 bilhões = 1/5 da farra do fundão. Esquecem que "a mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta", regra  que se estende a democracia à brasileira, que é sempre usada como pretexto quando recebe uma interpretação diferente do que pensam os supremos ministros ou é usada a favor de um apoiador do governo Bolsonaro = democraticamente eleito com quase 60.000.000 de votos. A resistência do ministro Barroso ao voto impresso - as urnas eletrônicas serão mantidas e o sigilo do voto também = o eleitor não levará um papel com a cópia do voto - é tão intensa, tão  desproposital à neutralidade esperada de um magistrado, que nos leva a pensar que o atual  presidente do TSE quer realizar em seu mandato uma obra extra.  Detalhando: no Brasil ocorrem eleições a cada dois anos  - seria bem mais barato para o contribuinte, nós, se as eleições fossem a cada quatro anos, Paciência... o mandato do presidente do TSE é de dois anos, o que permite a cada presidente realizar a obra máxima em seu mandato = eleições. Se tem a impressão que o ministro Barroso quer acrescentar ao seu legado presidencial o desmonte da possibilidade do eleitor brasileiro ter certeza de que seu voto representará sua vontade soberana = indo para o candidato que escolheu.] É muito mais do que jamais receberam. É muito mais do que o país que mais gasta com financiamento público da política, a França, menos de R$ 300 milhões, feitas as devidas conversões de moedas – e conforme dados e observações obtidas por José Paulo Cavalcanti Filho, escritor, advogado.

Por aqui, será assim: o Fundo Partidário distribuirá R$ 1 bilhão. O Fundo Eleitoral, tal como aprovado na Lei de Diretrizes Orçamentárias, prevê R$ 5,7 bilhões para as campanhas. Os partidos terão ainda direito ao horário “gratuito” no rádio e tevê. É gratuito para eles, mas custa para o contribuinte, já que as empresas podem deduzir o custo do tempo cedido dos impostos que pagam. Não se sabe exatamente o valor dessa renúncia fiscal, mas não estará longe quem estimar algo entre R$ 1,5 e 2 bilhões.

Na França?
São pouco mais de R$ 200 milhões de dinheiro público para partidos que tenham tido pelo menos 5% dos votos. Há tetos: candidato a deputado não pode gastar mais de R$ 200 mil. Para a campanha presidencial, o candidato tem R$ 70 milhões no primeiro turno e R$ 90 milhões no segundo.  Admite-se doação de pessoas físicas, limitadas a R$ 30 mil por CPF.  Sim, a eleição na França é mais barata. Primeiro, porque a campanha é mais curta. Segundo, porque o voto para os parlamentos é distrital, em territórios pequenos. Aqui, o candidato a deputado tem que fazer campanha no estado no estado todo.

Mesmo assim, a diferença é absurda. E não tem alívio mesmo para agremiações tradicionais. Em baixa nas eleições, o Partido Socialista teve que vender sua luxuosa sede para pagar dívidas. Outro exemplo: na Alemanha, o governo financia na base de  quatro reais por voto, até o limite de R$ 4 milhões; depois disso, três reais. Já aqui, um partido registrado na Justiça Eleitoral recebe um mínimo anual de R$ 1,2 milhão, mesmo que não tenha um vereador sequer, como nota Cavalcanti Filho.

Há uma história recente por trás disso. A Lava Jato exibiu a enorme corrupção aperfeiçoada pelo PT para financiar partidos e campanhas com dinheiro de empresas beneficiadas com contratos do governo. Advogados e os políticos da velha guarda reclamaram: não era corrupção, mas “apenas” caixa dois, infração eleitoral (tese desmontada no julgamento do Mensalão); e a Lava Jato estaria criminalizando a política.

Com o tempo, a velha política conseguiu virar o jogo. Depois de liquidar a Lava Jato, o pessoal diz agora que o país está percebendo a necessidade de “fazer política”. Qual política? A do Centrão, que é simples assim: qualquer governo é, digamos, governo, quer dizer, tem verbas para gastar e postos para preencher. Logo, você tem que estar dentro. Foi na sequência. Primeiro, aumentaram, na surdina, o dinheiro das emendas parlamentares; depois o dinheiro das campanhas, de R$ 2 bilhões da última eleição para R$ 5,7 bilhões. Mas como se viu nos exemplos, mesmo que o presidente Bolsonaro aplique o veto e a verba volte para os dois bi, ainda assim será um absurdo, muito mais que em democracias que funcionam bastante bem.

Tem mais. Há uma razoável suspeita que o Centrão manobrou para colocar os militares bolsonaristas numa situação pra lá de desconfortável. Apareceram com um mal disfarçado jeitão de golpistas –  posição repudiada pela sociedade, pelo que sobra de boas instituições (algo no STF, por exemplo) e talvez mesmo pela maioria dos militares. Tudo considerado e tudo mantido como está, a semana marcou o triunfo do Centrão, não aquele da Constituinte, mas o posterior, que vem dos anões do orçamento.  Não é por acaso que o Brasil não cresce nem consegue desenvolver boas políticas sociais. Capitalismo de compadres só gera riquezas particulares.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista

Coluna publicada em O Globo - Economia 24 de julho de 2021


quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Na fila da vacina - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 28 de janeiro de 2021

Vamos falar francamente: ainda neste ano, mais para o segundo semestre, hospitais e clínicas particulares estarão oferecendo vacina contra a Covid-19, em caráter suplementar ao Plano Nacional de Imunização – e tudo de acordo com a Constituição.  Um pouco de história: a Constituinte de 1988 tinha um viés claramente estatizante. Por isso temos o Sistema Único de Saúde – e o “único” aí não era apenas um modo de falar. A ideia era essa mesma: um sistema estatal, universal e gratuito. E obrigatório, vetando-se a medicina privada.

Só não ficou assim por dois motivos. Primeiro, porque seria preciso estatizar hospitais, clínicas e mesmo consultórios privados. E não havia dinheiro para isso – já que não se poderia simplesmente confiscar tudo, como se fosse uma ditadura. O segundo motivo vai na mesma linha: teria o Estado os recursos necessários para esse sistema gratuito? Está lá no artigo 196: que a “saúde é direito de todos e dever do Estado” e que será garantido “acesso universal e igualitário”.

Reconhecendo isso, os constituintes incluíram o artigo 199, dizendo que a assistência à saúde é “livre à iniciativa privada”. Como isso estava em contradição com o contexto, colocaram-se  várias ressalvas: essa atuação seria “complementar” e controlada pelo SUS, seria vedada a empresas estrangeiras e se daria preferência às instituições filantrópicas em relação àquelas com fins lucrativos.

O entendimento dos estatizantes era simples: com o tempo, dada a qualidade e gratuidade do SUS, o sistema privado desapareceria ou ficaria apenas para os poucos milionários. O mundo andou e como estamos hoje? Mais de 40 milhões de contratos particulares com planos e operadoras de saúde, muitas de capital estrangeiro. E um sistema privado de qualidade internacional.  Isso já funciona no caso da Covid. Os hospitais e clínicas particulares atendem os doentes e aplicam os testes. Aliás, os altos dirigentes da República se tratam nesses hospitais.

Por que, portanto, não podem vacinar?  Por questões econômicas, éticas e políticas. Na economia: ainda há escassez de vacinas em relação à demanda mundial. As farmacêuticas que já têm o imunizante estão vendendo apenas para governos e instituições multilaterais, como a OMS. A entrada do setor privado no negócio, no mundo, aumentaria ainda mais a demanda e elevaria os preços. Assim, se cairia onde os líderes mundiais de respeito tentam evitar: que os ricos passem na frente.

Mas, para falar francamente, de novo, ricos, no cenário mundial, estão tentando passar à frente
A União Européia encomendou 400 milhões de doses à AstraZeneca, para entrega neste primeiro trimestre. A farmacêutica avisou, nestes dias, que não conseguirá entregar nem metade disso. Qual a reação de parte dos líderes da União Européia. Proibir a AstraZeneca, que tem sede na Europa, de exportar sua vacina antes de atender toda a demanda da comunidade. [são a esses democratas de araque que os traidores brasileiros querem entregar a Amazônia do Brasil. Foram comprados para vender a ideia, aos incautos, que a democracia desses países é a democracia secular. 
União Europeia, Estados Unidos e outros do mesmo naipe cultivam a democracia em que eles possuem o controle, o domínio total.]

Ainda bem que líderes como a alemã Angela Merkel se opõem ao que consideram falta de solidariedade global. Mas, veremos. A questão ética vem na sequência. Não se pode vacinar os ricos, aqui e lá fora, antes dos grupos prioritários, pobres ou não.  A questão política decorre das anteriores. Claro que os hospitais e clínicas privadas, assim como as grandes empresas, poderiam estar no mercado comprando vacinas, se é que já não o fizeram. Mas não estão querendo vacinar neste momento justamente por temor da reação da sociedade, dos clientes e dos parceiros comerciais.

Tudo considerado, no momento, no Brasil e no mundo, cabe aos governos comprar e aplicar as vacinas, seguindo a fila dos mais para os menos vulneráveis.  Não há problema onde os governos estão cumprindo isso. Não é o caso do Brasil. Como o governo Bolsonaro desdenhou da doença, está muito atrasado na busca dos imunizantes. Se não fosse o governo paulista, tudo o que teríamos seriam dois milhões de doses vindas da Índia.[não podemos esquecer:  
dois milhões de doses vindas da Índia, vacinam dois milhões de pessoas, com eficácia de 71%;  
dois milhões de doses da vacina chinesa, vacinam um milhão de pessoas, com eficácia de 51%.
Estupidamente, a turma do Doria quer usar as doses destinadas a segunda aplicação, nos que já receberam a primeira, e deixar para realizar a segunda aplicação  mais para a frente. O problema é que a bula da CoronaVac - como recomenda a Anvisa o documento que deve ser seguido - determina que a segunda dose deve ser aplica na 3ª/4ª semana. Os milhões vacinados no estado de São Paulo, correm o risco de não receberem a segunda dose a tempo e passarem à condição de semi vacinados.
Cabe perguntar: os que receberem a segunda dose com atraso, passarão à condição de imunizados, ou terão que receber outra dose?]

Saída de momento? O setor privado financiar o público e, sobretudo, apoiar na organização. Quando o Plano Nacional estiver funcionando normalmente, aí vai aparecer a vacina no sistema privado. E se o governo nem assim conseguir vacinar? Aí os mais ricos vão se vacinar à sua maneira.

Carlos Alberto Sardenberg,  jornalista