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quarta-feira, 13 de abril de 2022

Eleições 2022: a virada da direita na imprensa

Gazeta do Povo  - Caio Coppolla

Análise - Há 100 dias, veículos alardeavam vitória de Lula no 1º turno

Datafolha: Lula venceria no 1º turno com 48% dos votos” a fonte pode ser duvidosa, mas a data é certa: 16 de dezembro de 2021. De lá pra cá, uma reviravolta: os mesmos veículos que há 100 dias manchetavam a volta do PT à cena do crime, agora se veem obrigados a reconhecer a possibilidade, cada vez maior, da derrota de Lula – um fato que contraria a linha editorial de muitas redações por aí...

Coube à Folha de S. Paulocom o perdão do trocadilho – decretar o alerta vermelho: “Esquerda e centro precisam de votos da direita para vencer Bolsonaro: estudo sobre influência dos pleitos municipais na eleição federal aponta vantagem ideológica da direita neste ano”.

O artigo faz referência à análise histórico-comparativa desenvolvida pelo cientista político Antonio Lavareda a partir dos resultados de todas as eleições desde a redemocratização. O trabalho concluiu que, sem exceção, as tendências verificadas nas eleições municipais deram o tom das eleições estaduais e federais subsequentes. 
Uma péssima notícia para os petistas, que desde 2014, com a devassa em suas práticas corruptas, amargaram uma queda vertiginosa em suas votações, perdendo centenas de prefeituras e dezenas de cadeiras na Câmara Federal. 
Além disso, segundo o estudo, o número de votos mais à direita se ampliou em 2020: 59,2% entre vereadores e 54,3% entre prefeitos, com preferência do eleitorado pela reeleição, o que se verificou em 63% dos casos. Vejamos: quem é o pré-candidato à presidência com ideias mais alinhadas à direita em busca da reeleição?

Outro fator que prenuncia tempos difíceis para Lula e sua laia é a dança das cadeiras parlamentares durante esta última janela partidária. Em comparação com o dia da posse, o PL, legenda que agora abriga o Presidente da República, ganhou o reforço de 40 deputados federais, tornando-se a maior bancada da Câmara, com 73 parlamentares
Outras siglas que apoiam a reeleição de Bolsonaro também cresceram:  o PP recebeu 12 deputados e o Republicanos outros 15. No total, são 67 novos quadros no esforço da reeleição presidencial.

Por outro lado, o PT filiou apenas 2 novos parlamentares e a esquerda saiu enfraquecida dessa ciranda partidária: o PSB perdeu 7 deputados, o PDT perdeu 8, o PC do B perdeu 2 e o PSOL perdeu 1. O malogro da chamada 3ª via nas pesquisas também se refletiu no esvaziamento dos partidos de centro: o União Brasil – fruto da junção mal-arranjada de DEM e PSL, que juntos somavam 81 parlamentares no 1º dia de mandato – perdeu 34 deputados federais, o Podemos perdeu 3, o PSDB e o Solidariedade perderam 2 e Cidadania perdeu 1. Na contramão desse êxodo parlamentar, o MDB ganhou um deputado e o PSD, do articulador-mor da República, Gilberto Kassab, ganhou 8. Ainda assim, o saldo é negativo tanto para esquerda, quanto para o centro.

Mas não é apenas o prognóstico que é desfavorável ao lulopetismo,
o diagnóstico também não é dos mais animadores. Conforme os prazos eleitorais vão se exaurindo, as pesquisas de opinião se aproximam da realidade observável nas ruas (e nas redes) e Bolsonaro se estabelece como o adversário mais forte contra Lula. Projeções para o 2º turno apontam que, paulatinamente, o atual presidente vem diminuindo a diferença em relação ao ex-condenado. Pra ficar em um exemplo, em setembro de 2021, a PoderData colocava Lula 25 pontos percentuais à frente de Bolsonaro; agora essa vantagem caiu para 12 pontos.

Considerando fatores como a superação da crise hídrica, a queda do dólar, a geração de milhões de empregos nos último meses, os investimentos bilionários em infraestrutura, o bom momento do mercado de ações e o incremento na distribuição de renda via Auxílio-Brasil, a tendência é que a avaliação do governo melhore e se traduza em maior intenção de voto a favor de Bolsonaro nos próximos meses.

Prognósticos e diagnósticos à parte, até outro dia, o discurso predominante na velha imprensa era de que a reeleição do Presidente da República era uma causa perdida e sua derrota para Lula, o candidato alérgico a calçadas, se daria já no 1º turno. A julgar pela despiora [sic] da economia, pelas movimentações no Congresso e pelo histórico de erros grosseiros do jornalismo de torcida nas eleições, talvez seja hora do consórcio começar a fazer ajustes e criar saídas honrosas para suas narrativas: “resultados de 2020 apontam a necessidade de candidatos da esquerda e do centro atraírem o voto da direita para que tenham chance contra Bolsonaro” parabéns à Folha pelo pioneirismo.
 
Caio Coppolla, colunista -  Gazeta do Povo - VOZES

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Como terminou a briga entre Flávia Arruda e Ciro Nogueira no Planalto

Robson Bonin - Radar 

Criar espaço exclusivo de pilates no TCU ‘era um erro’, diz ministro

Tribunal diz que a licitação foi cancelada por 'erro no edital'; a presidente da Corte, ministra Ana Arraes, ainda avalia se retomará o processo

Vice-presidente do TCU, o ministro Bruno Dantas classificou de “erro” a tentativa do tribunal de criar um estúdio exclusivo de pilates para servidores e autoridades nas dependências da Corte, como revelou o Radar.  Erros devem ser corrigidos. Essa licitação era um erro”, disse Dantas nas redes. 

O tribunal informou ao Radar que a licitação foi cancelada por “erro no edital” e disse que a presidente da Corte, ministra Ana Arraes, ainda vai avaliar se retomará o processo que pretende gastar 216.000 reais com a criação do espaço.

Briga entre Flávia Arruda e Ciro Nogueira no Planalto

Como o Radar mostra na edição de VEJA, dupla de ministros de Jair Bolsonaro brigou ao tratar da destinação de verbas para a base aliada

Na edição de VEJA que está nas bancas, o Radar mostra que Flávia Arruda e Ciro Nogueira tiveram um fim de ano turbulento no Planalto.

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A dupla de ministros políticos de Jair Bolsonaro brigou ao tratar da destinação de verbas para a base aliada. Nogueira queria prioridade para repasses ao Piauí, mas não conseguiu convencer a ministra da Secretaria de Governo a consumar alguns acordos feitos por ele.

A briga acabou na imprensa, com aliados de Nogueira pedindo a cabeça de Flávia. Passado o desentendimento — Bolsonaro garantiu a permanência de Flávia no governo –, a briga terminou como tudo termina no centrão: abraços e juras de amizade.

Ciro e Flávia já voltaram aos bons tempos. São aliados, afinal, e sabem que a campanha está chegando. Não é preciso criar uma guerra a três meses da reformulação do governo, quando muitos ministros deixarão o governo para disputar as eleições de outubro, inclusive Flávia.

Radar - VEJA


domingo, 14 de novembro de 2021

O que está por trás da “volta” da PEC que dá o cargo de senador vitalício a ex-presidentes

Rodolfo Costa

Fato ou boato? O que está por trás da "volta" da PEC do senador vitalício

Nos bastidores do Congresso circula a informação de que PEC vai tentar garantir uma cadeira vitalícia na Casa para ex-presidentes

A possibilidade de apresentação e discussão de uma proposta de emenda à Constituição (PEC) que cria o cargo de senador vitalício para ex-presidentes da República voltou a circular nos corredores do Congresso. Nos bastidores, especula-se que seria uma tentativa de blindar o presidente Jair Bolsonaro depois que ele deixar o cargo, garantindo-lhe o foro privilegiado. Governistas, porém, afirmam que a informação está sendo plantada na imprensa pela oposição para desgastar Bolsonaro. E, ao menos neste momento, é improvável que uma PEC com esse teor consiga avançar no Congresso.

O Congresso já discutiu publicamente, por várias vezes, a possibilidade de dar o cargo de senador vitalício a ex-presidentes, sem que eles precisem ser eleitos para o Senado. Desta vez, ninguém a defende abertamente.

Mas a informação que foi publicada em alguns veículos de imprensa é de que a PEC é uma ideia do Centrão para proteger o presidente Jair Bolsonaro de ser julgado na Justiça comum após deixar o a Presidência. Tornando-se senador vitalício, ele manteria o foro privilegiado pelo resto da vida. Seria um um trunfo em caso de derrota ou de uma eventual desistência dele da disputa pela reeleição em 2022.

Mas, além de beneficiar Bolsonaro, a PEC também garantiria uma cadeira vitalícia no Senado (e o foro privilegiado) a outros cinco ex-presidentes: Fernando Collor (Pros, que atualmente já é senador eleito), Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

O senador Otto Alencar (PSD-BA), que é de oposição a Bolsonaro, disse ao site O Antagonista haver "conversas de bastidor" para propor a PEC. "Tem essa conversa, sim. Não vou citar nomes, mas deputados do Centrão estão com essa conversa. Eu já ouvi em reuniões no Congresso. A alegação de alguns é a de que a Presidência da República expõe muito e, depois, a pessoa perde o foro privilegiado e fica muito exposta", disse.

Já a Gazeta do Povo ouviu duas lideranças do Centrão na Câmara, um deputado da ala mais ideológica de apoio a Bolsonaro, um senador e dois interlocutores do Palácio do Planalto. Todos afirmaram desconhecer a PEC ou negaram o interesse do governo e de partidos do Centrão em encampar uma proposta com esse teor. "De gente séria, que eu respeito, eu não ouvi isso. Eu ouvi esse papo em elevador, coisa de rádio fofoca de corredor, mas de pessoas em quem não confio. Tem muita coisa que escutamos que entendo ser informação plantada na imprensa", disse um dos deputados. "Essa movimentação específica eu li na imprensa. Neste momento, penso que é mais um jabuti para tentar tumultuar", afirmou outro parlamentar.

Quais as chances de aprovação de uma PEC do senador vitalício
A ideia de criar o cargo de senador vitalício é um tema controverso e antigo no Congresso. O tema foi discutido em várias ocasiões: em 1996, 2001/2002, 2005, 2015 e 2018. E a proposta sempre produziu polêmica.

Por esse motivo, o autor de uma nova PEC – ou autores, caso fosse apresentado por mais de um parlamentar – precisaria enfrentar o desgaste com a opinião pública às vésperas de um ano eleitoral apenas ao propor a matéria. Além disso, há juristas que consideram que essa proposta é inconstitucional.

Por se tratar de uma PEC, é preciso ainda um apoio maciço de parlamentares para ser aprovada: pelo menos 308 votos dos 513 deputados e 49 dos 81 senadores, em dois turnos de votação nas duas casas legislativas. "É um cenário inimaginável [aprovar a PEC], ainda mais às vésperas das eleições", disse uma liderança do Centrão na Câmara. "E, no Senado, isso nem seria aprovado, ainda mais tendo o [presidente da Casa] Rodrigo Pacheco [PSD-MG] como pré-candidato [a presidente da República]." O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, disse em diferentes entrevistas que essa pauta representaria "acomodação política" e disse ser contrário a conceder um cargo vitalício a ex-presidentes.

Já interlocutores palacianos disseram que não existe chance de o governo encampar uma proposta dessas por entender que passaria a imagem de fragilidade de Bolsonaro ao tentar obter foro privilegiado vitalício.

 MP defende “ritual” indígena que incluiu assassinato de menor com espingarda

Um vice-líder do Centrão insiste que a pauta foi "plantada" por opositores do governo, embora reconheça que foi discutida em outras legislaturas. "Neste governo nunca ouvi alguém tratando disso. Acho até ridículo. De toda a forma, o PT trabalhou isso na [gestão] Dilma, e o MDB trabalhou isso na [gestão] Temer. Ninguém pode dizer também que é uma invenção de Bolsonaro; o assunto não é novo na Casa", afirmou.

O parlamentar confirmou, inclusive, ter participado de conversas sobre o cargo de senador vitalício nas gestões Dilma e Temer. "Nesses dois governos eu ouvi isso e até participei de conversas. Foi estudado o regimento, se os ocupantes do cargo teriam ou não direito a voto e quais seriam as garantias e uma série de outras prerrogativas", disse o parlamentar.

Como foram as discussões anteriores no Congresso
Antes mesmo dos governos Dilma e Temer, a proposta de conceder o cargo de senador vitalício a ex-presidentes chegou a ser discutida oficialmente no Congresso. Os defensores da PEC que cria cargos "eternos" a ex-presidentes da República sustentam que eles merecem manter prerrogativas que os valorizem como ex-chefes de Estado. Também sugerem que o intuito em tratá-los como senadores tem por finalidade reconhecer sua experiência e tê-los como espécie de conselheiros.

Em 1996, quem apresentou uma PEC nesse sentido foi o então deputado Arthur Virgílio (PSDB-AM) – hoje pré-candidato a Presidência. O texto foi assinado por outros 171 parlamentares, incluindo o então deputado Jair Bolsonaro – que à época era filiado ao PPB, o atual PP, o principal partido do Centrão.

Pela proposta, os senadores vitalícios não teriam direito a voto no Senado. Mas teriam quase todas as demais prerrogativas do cargo de senador, como imunidade parlamentar – e, consequentemente, o direito a ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O número de senadores com direito a voto continuaria sendo três por estado.  "Trata-se de medida justificável em se tratando ex-presidentes da República, homens públicos de larga experiência política e administrativa, muitas vezes também legislativa, afeitos à prática de atos de chefia de Estado, de governo e de administração, e, portanto, ao trato de relevantes questões nacionais", diz um trecho da justificativa da PEC 316, de Arthur Virgílio. O presidente da República à época era Fernando Henrique Cardoso (PSDB), correligionário de Virgílio.

A proposta do tucano foi relatada pelo deputado Regis de Oliveira (PSDB-SP), que apresentou parecer defendendo a inadmissibilidade da PEC. Esse parecer foi aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em novembro de 1996; e a PEC acabou sendo arquivada.

Em 2001, o então presidente do PTB, deputado José Carlos Martinez (PR), apresentou uma redação em moldes semelhantes, a PEC 445/2001. Diferentemente da proposta apresentada em 1996, a PEC 445 chegou a ser aprovada na CCJ em novembro de 2002 , mas foi arquivada nos termos do artigo 105 do regimento interno da Câmara, que determina o arquivamento de pautas ao término da legislatura, que se encerrou no começo de 2003. O texto não voltou a tramitar.

Em 2005, o então senador Aloísio Mercadante (PT-SP) sugeriu a Arthur Virgílio, então senador pelo PSDB, que reapresentasse sua proposta de 1996. O presidente à época era Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A articulação causou polêmica e o tucano acabou declinando em meio à polêmica causada à época.

A vitaliciedade a ex-presidentes voltou ao debate em 2015, na gestão de Dilma Rousseff (PT), na discussão da reforma eleitoral votada à época. O então deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) apresentou uma emenda à reforma que previa que, ao final de um mandato, um ex-presidente eleito pelo voto direto se tornaria senador vitalício. Sem acordo, a emenda foi rejeitada em plenário por unanimidade: 404 votos a zero.

Em 2018, a ideia foi defendida por emedebistas que se articularam para manter o foro privilegiado ao então presidente Michel Temer (MDB). Deputados e senadores chegaram até a se reunir na casa do presidente do Senado à época, Eunício Oliveira (MDB-CE). A ideia era que ex-presidentes atuassem como consultores do Congresso e do governo em troca da blindagem.

 Rodolfo Costa, colunista - Gazeta do Povo - República


quarta-feira, 22 de setembro de 2021

O DISCURSO NA ONU E A MÍDIA MILITANTE - Percival Puggina

Escrevo tomado por uma dúvida matinal. Devo acreditar no que percebi e entendi pessoalmente enquanto o presidente lia seu discurso na ONU, ou no que me estão a repetir os grandes meios de comunicação do país a partir daquele momento?

O alinhamento geral com determinada causa política cria e cristaliza em nossas comunicações sociais situações que deveriam constranger consciências profissionais bem formadas.

Seria ridículo, não fosse tal conduta vista, internamente, como atividade missionária, quase religiosa, pastoral, dever de ofício por motivações supostamente nobres... Embora sejam o inverso disso. Chega-se ao absurdo de criticar a fala presidencial por não apontar mazelas do país, o que significaria reproduzir o discurso da mídia, da oposição, ou da maioria petista no STF, cotidianamente servido aos desavisados. Talvez desejassem que a tarefa de falar pelo Brasil fosse cedida a um editorialista do Estadão ou da Folha, ou a Bonner, ou ainda ao garoto Felipe Neto. Aí sim, na perspectiva da mídia, o Brasil teria cumprido seu papel perante a nação e o mundo.

Arre! Não estou exagerando. Descrevi exatamente o que essa mídia militante desempenha de modo cotidiano, em favor de sua causa e contra a imagem do país. O presidente fala, a bolsa sobe e o dólar cai, mas a mídia vai ouvir operadores do mercado para os quais esse movimento nada tem a ver com a fala presidencial. Igual ao que faz sempre que busca algum “perito” ou “cientista para opinar sobre assuntos a respeito dos quais os veículos já têm opinião formada e alinhada com sua própria militância.

Foi demais para esse tipo de jornalismo ouvir um discurso bem feito, tanto para o público interno e externo, apresentando o Brasil de modo positivo (coisa que tinha o dever institucional de fazer!).  
Havia consistentes razões para Bolsonaro assim se manifestar. E nenhum para fazer o contrário. 
Muitos outros chefes de Estado e de governo e diplomatas também são manipulados pela desinformação que cerca o Brasil desde que a esquerda, a contragosto de sua parceria mundial, perdeu a hegemonia aqui.

Durante oito anos, tive a privilegiada experiência de escrever inúmeros discursos para governadores aqui no Rio Grande do Sul. Sei, portanto, como se constroem esses pronunciamentos a partir de predeterminados objetivos externos e, por vezes, internos. A fala do presidente foi muito bem estruturada. Sintético, conteve o essencial. Mostrou o que mais mudou, de quem nos aproximamos e de quem nos afastamos, em que direção vamos e o que proporcionamos aos interessados, sejam migrantes ou investidores.

Deixou à imprensa a semeadura do desânimo, a roupa suja e a tarefa cotidiana de falar mal do Brasil.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 31 de julho de 2021

Um país no passado - Ascânio Seleme [Bolsonaro não sofrerá impedimento]

O Globo

O Brasil, que está parado desde janeiro de 2019, corre o risco de ver sua democracia destruída ao recuar pelo menos 30 anos em direção ao passado se o presidente não for impedido 

A imagem que a Secom escolheu para homenagear o agricultor brasileiro, a silhueta de um homem carregando uma espingarda em meio a uma plantação, remete o espectador a um passado sombrio da História do campo brasileiro. Da mesma forma, a live abusiva de Jair Bolsonaro desta quinta-feira mostra o caminho que nos joga de novo nos anos 1980. Trata-se de passos calculados para levar o Brasil de volta às trevas. A ideia absurda mas visível que está por trás de cada um desses movimentos é terminar o ciclo fechando o país, o Congresso e o Supremo, suspendendo direitos políticos, calando a imprensa, baixando o porrete.
O agricultor armado lembra os piores momentos da guerra no campo, com a criação da União Democrática Ruralista, a UDR. Formada em 1985 como grupo de lobby para defender os interesses do setor na Constituinte, a UDR acabou se transformando no principal polo de disseminação da violência. [atualizando: a violência no campo é produto nefasto de uma quadrilha de bandidos denominada mst = movimento dos "trabalhadores"sem terra (as aspas se justificam já que os marginais do mst são tudo que não presta, só não são  trabalhadores); a UDR precisa voltar com mais força, mais forte e em condições de coibir invasões de terras -  o direito à propriedade é garantido na Constituição Federal e precisa ser exercido em sua plenitude, o que impõe a necessidade dos proprietários e dos verdadeiros trabalhadores agricultores ter disponível  armamento moderno e eficiente.  
O invasor de uma propriedade deve ser preso e, se necessário, em caso de confronto e para preservação da vida dos legítimos proprietários e dos seus empregados,  a neutralização total do invasor encontra amparo nas leis vigentes. ] Jagunços armados nas fazendas do interior do país se transformaram na imagem agora revivida pela Secom. Ataques contra líderes do movimento dos sem-terra, padres e sindicalistas rurais deixaram um rastro de mortes no país cujo maior símbolo foi o seringalista Chico Mendes.

A defesa tão intransigente quanto obtusa do voto impresso feita por Bolsonaro também joga luz sobre o Brasil dos coronéis do interior, que carregavam os eleitores em caminhões para votar e depois contavam seus votos, um a um. [para mostrar aos leitores que o voto auditável, também chamado voto impresso, não acaba com a urna eletrônica e não traz de volta a cédula de papel, sugerimos o vídeo: xeque mate no TSE - voto auditável em três minutos.] E ai de quem não votasse em quem o coronel mandou. Os mais velhos vão se lembrar das apurações das eleições que antecederam o voto eletrônico. As urnas eram abertas e as cédulas espalhadas em mesas. Cada uma delas composta por mesários, os contadores oficiais de votos, e representantes de todos os partidos. Uma algazarra, um ambiente para lá de propício para a fraude. Imagine este quadro hoje, com mais de 30 partidos ao redor das mesas de apuração.

O desembarque do Centrão no governo Bolsonaro é outro elemento que manda o país de volta para o passado. Claro que agrupamentos fisiológicos ocorrem no Parlamento brasileiro desde o Império. Evidentemente eles circulam o Poder Executivo e dele muitas vezes fazem parte sempre com o objetivo de garantir brasa sob as suas sardinhas. Mas o modelo “É dando que se recebe” explícito foi concebido no governo de Fernando Collor. Já existia sob Sarney, mas cristalizou-se no processo que acabou com o primeiro impeachment de presidente no Brasil.

As pautas de costumes, que muitos enxergam como um mal menor do extremista Jair Bolsonaro, comportam outras barbaridades que podem ajudar a tornar o Brasil um país ultrapassado. Entre elas estão a ampliação do porte de armas; o homeschooling, que permite que crianças sejam educadas em casa pelos pais; a criação do estatuto da família, proibindo a união estável de casais homoafetivos; a proibição total do aborto, mesmo para gestação de fetos anencéfalos; e o endurecimento da lei de drogas. Além, claro, da redução do rigor em casos de atentados aos direitos humanos e a aprovação do infame excludente de ilicitude. [se são contra o combate ao aborto, se são contra o endurecimento do combate ao tráfico de drogas, que Brasil querem?                                  - um Brasil com as FAMÍLIAS desestruturadas?
- um Brasil com o comércio de drogas livre?
- um Brasil com bandidos armados com fuzis e pistolas x a polícia armada com revólveres e o cidadão sem armas?
- um Brasil no qual seres humanos inocentes e indefesos são mortos na barriga das próprias mães?
- um Brasil em que os bandidos - os 'manos' possuem todos os direitos e os HUMANOS DIREITOS não possuem nenhum?
- um Brasil em que o policial ao chegar ao local de uma ocorrência já chega na condição de criminoso e o bandido na condição de trabalhador, de pessoa de bem?
- um Brasil em que o artigo parágrafo 3º do artigo 226 da Constituição Federal e o artigo 1° da Lei nº 9278 - ambos os dispositivos em plena vigência - são desrespeitados, ignorados, violados?
                          Redação atual  dispositivos legais citados:
"Constituição Federal:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
...§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

Lei nº 9.278, de 10 de maio de 1996.                                                        Art. 1º É reconhecida como entidade familiar a convivência  duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família." ]

Nem os brasileiros que ainda insistem em apoiar Bolsonaro merecem um retrocesso desse tamanho. O país, que está parado desde janeiro de 2019, corre o risco de ver sua democracia destruída ao recuar pelo menos 30 anos em direção ao passado se o presidente não for impedido. Se não agora, pelas mãos dos congressistas confortavelmente aboletados no governo, que seja em outubro do ano que vem, pelo voto livre, soberano, secreto e eletrônico.

...

Cuba em crise
Desde o início do ano, a guarda costeira dos Estados Unidos recolheu 512 cubanos no mar da Flórida. Durante todo o ano passado, apenas 49 foram abordados.

A CPI vem aí
Na semana que vem, na medida em que Rebeca, Rayssa e Ítalo forem saindo de cena, Aziz, Randolfe e Renan voltam a ganhar os holofotes.[algum deles vai ser preso? ou todos? algemados no estilo Jader Barbalho?  A Covidão voltará mais desacreditada do que quando entrou em recesso - o que torna a volta inútil para atrair holofotes.]  A CPI está de volta para a alegria de muita gente e para o pânico do capitão. Na TV, é só subir um canal, do 539 para o 540.

Um ano de solidão
Uma pesquisa sobre o uso do tempo revelou que, em média, o norte-americano passou 57 minutos a mais sozinho a cada dia do ano passado em razão da pandemia de coronavírus. No caso dos adolescentes entre 15 e 19 anos, a solidão subiu de 4,5 horas para 6 horas diárias.
 

quarta-feira, 21 de julho de 2021

CPI da Covid - Você compraria um carro usado do deputado Luis Miranda? [NÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO?]

Madeleine Lacsko

A novela Luis Miranda, a CPI e a lógica de rede social que contamina o jornalismo

Deputado Luis Miranda mostra que falar contra Bolsonaro rende engajamento [qualquer ex, qualquer esquecido em uma viela, quando tenta recuperar holofotes, adere ao esporte dos inimigos do Brasil = falar mal do presidente Bolsonaro, caluniar o capitão, ser contra seu Governo. Quase sempre se f ..., após conseguir alguns momentos de glória.

"Insanidade é fazer a mesma coisa esperando resultados diferentes", disse Albert Einstein. Isso é bem mais fácil de entender do que a teoria da relatividade, mas nem por isso a gente quer entender. Quando eu vi Luis Miranda dando entrevista dizendo que tinha uma gravação do presidente, meu coração já palpitou. Eu vi esse filme antes e arrumei uma encrenca danada. [dizer que tem e não ter, é mentir; quem mente é um mentiroso. Quem falta com a verdade é um mentiroso. Deputado pode mentir? NÃO! a imunidade protege eventuais pronunciamentos (desde que não sejam favoráveis ao presidente Bolsonaro) mas, pronunciamentos mentirosos não estão protegidos. Esse deputado faltou com a verdade, quebrou a Ética e o Decoro exigidos de um deputado e tem que ser punido = cassado.]

Lembram do Joesley?  Pois é, a história toda começou com a brilhante ideia de noticiar que ele tinha uma gravação, detalhar o conteúdo da gravação mas ninguém ouvir a gravação. Na época, eu não quis noticiar sem antes ouvir a fita. Foi um bate-boca, mas meu ponto é outro: essa discussão ainda existia. Não existe mais.

> > NOVIDADE: faça parte do canal de Vida e Cidadania no Telegram

O professor de psicologia da NYU Jay Jan Bavel diz que redes sociais e veículos de comunicação já se enredaram a ponto de virar um único modelo de negócio, o do ultraje. Os meios de comunicação conseguem audiência hoje via redes sociais e nelas, o que viraliza é quando um grupo ataca outro ou uma pessoa do outro. O caso Luis Miranda é emblemático sobre a migração desse processo para a imprensa e a mídia. 
 

 Deputado Luis Miranda de mochila

Se alguém me diz que tem uma gravação ou um documento com o potencial bombástico do que foi anunciado, eu vou ficar louca para ver. Mas eu só vou afirmar que essa pessoa tem a gravação e o documento depois de ver e me certificar de que é verdadeiro. O espaço para ficar de bravata é a rede social. Se o deputado quer mostrar a gravação e os documentos ao público, fazer uma denúncia embasada, aí sim a imprensa e o Congresso Nacional devem dar atenção. Mas, de forma prática, temos um jogo que ninguém entende.

Ainda não sabemos nem se esses documentos existem ou não, mas é clara a intenção de falar sobre eles o máximo possível. Qual seria a razão? Também não sabemos. Para isso, o deputado tem suas redes sociais caso queira só a bravata mesmo. Tem também a tribuna da Câmara, caso entenda que deve falar publicamente dos documentos mas só mostrar aos seus pares. O deputado Luis Miranda conseguiu ocupar um espaço gigantesco na imprensa nacional e nas redes sociais com uma informação que ninguém sabe se é verdadeira e nem fez esforço para comprovar. [o próprio irmão do deputado, declarou em depoimento a PF que esqueceu de gravar a conversa comentada; declarou também que trocou o telefone, no meio da encrenca, e esqueceu de fazer backup dos artigos.] Não estou prejulgando o parlamentar devido às inúmeras acusações que pesam contra ele, mas pensando no público. Como eu vou afirmar algo que eu não sei se é verdade nem por qual intenção foi dito? Isso foi feito com a maior naturalidade e em larga escala.

Agora entramos numa situação que a cada dia supera o roteiro mais mal escrito que possamos imaginar. A tal gravação ainda não surgiu. Aparentemente, o irmão do deputado trocou de celular e não tem mais as mensagens pressionando com relação à vacina. Mas daí o deputado vai nas redes sociais dele e diz que não tem é o celular, porque trocou, mas tem as mensagens. Ninguém viu as mensagens até agora. Parece incompetência ou desleixo e teríamos muita sorte se realmente fosse porque para isso já sabemos o remédio. A diretora do centro do MIT que pesquisa desinformação diz que trata-se de um processo dos últimos 20 anos. Segundo Joan Donovan, a entrada do jornalismo na internet e depois nas mídias sociais promoveu mudanças profundas na sociedade.

A primeira tentativa de que o jornalismo fosse viável economicamente na dinâmica da internet é o paywall à moda antiga. Ocorre que era a primeira vez em que você tinha uma barreira financeira até informação de qualidade e meios de produzir informação gratuita disponíveis a todos os cidadãos. Grupos que jamais tiveram voz na mídia surgem e isso é bom. Ocorre que também vêm com tudo grupos a quem jamais a sociedade dava voz porque são perigosos.

O exemplo dado pela acadêmica é da formação dos grupos antivacina, que transitam por ideologias políticas e, por isso, são um fenômeno interessante para análise. Eles vão ganhando adeptos semelhando dúvidas, um método que se tornou clássico. Não convencem de que vacinar é ruim, geram a dúvida, o pensamento sobre esta possibilidade, questionamento que não era feito.

Ao longo de 20 anos, esses grupos se consolidam, aprendem a lidar com a tecnologia e a manter suas audiências. E eles passam a gerar muito dinheiro para as redes sociais. Os 12 grandes produtores de conteúdo antivacina dos EUA ganharam US$ 36 milhões em 2020 com essa produção. As redes sociais ganharam US$ 1,1 bilhão com o conteúdo produzido por antivacinas no mesmo período. É no meio disso que está a imprensa.

Hoje, a imprensa tradicional distribui conteúdo pelas mídias sociais e ganha tráfego via mídias sociais, como observa o professor de psicologia da NYU, Jay Van Bavel. Ele explica que isso já torna dificílimo conseguir separar hoje o que é um fenômeno social provocado pelas redes e o que é provocado pela imprensa. Hoje, o conteúdo de imprensa segue a lógica do algoritmo.

A lógica do algoritmo é que vão fazer sucesso,
portanto viralizar, aqueles conteúdos em que se faz um ataque a um grupo oposto ou indivíduo do grupo oposto. A informação bem apurada não gera engajamento, a não ser que ataque alguém. Já a informação mal apurada pode gerar engajamento desde que ataque alguém. Numa indústria em transformação, parece que o caminho acaba ficando natural. Artigo comparando engajamento de mídia mainstream com mídia opinativa conservadora

Sabemos é que pouco a pouco o ultraje como modelo de negócio chega à mídia tradicional. Luis Miranda é o retrato pronto e acabado desses novos tempos. Pouca coisa dá mais audiência e causa mais frisson do que o presidente. Uma dessas coisas é alguém batendo em Jair Bolsonaro. De forma consciente ou inconsciente, essa lógica está tomando conta do jornalismo.

A questão é que esse movimento também afeta a sociedade e tem consequências na democracia. Ele interferiu no andamento de uma CPI e na forma de conduzir os trabalhos. Tem se tornado comum a coleta de depoimentos que não estão embasados em documentação, o que já foi raríssimo, mas gera um engajamento enorme. Já surgiu até uma nova geração de comentadores ao vivo de CPI nas redes sociais, interagindo com os senadores.

Eu também já achei tudo isso muito libertário e positivo um dia, sou uma otimista incorrigível. Creio que realmente será positivo quando estivermos conscientes de que não há comunicação direta com os poderosos nem liberdade de expressão em rede social. Tudo é mediado pelo algoritmo, tudo só funciona na lógica criada pelas Big Techs e não esclarecida para nós. Jogamos o jogo sem saber as regras. Ao favorecer quem se manifesta contra o grupo oposto, as Big Techs criam uma lógica social fundada no ultraje e no justiçamento. Os ciclos de notícia passam a ser o ultraje contra alguém ou algum grupo. Em seguida, ele é substituído pelo ciclo de justiçamento contra quem promoveu o ultraje e assim sucessivamente. No meio da pancadaria, a primeira vítima é a verdade.

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Cassação da chapa é o labirinto mais curto - Valor Econômico

Maria Cristina Fernandes


Se cabo, soldado e Centrão deixarem, bastam quatro votos no TSE

Das saídas constitucionais para o fim do governo Jair Bolsonaro, a da cassação da chapa pelo Tribunal Superior Eleitoral é aquela que parece mais simples. Não carece de convencer o capitão a renunciar, nem de alargar o funil dos 343 votos necessários à chancela parlamentar para um processo de impeachment. Bastam quatro votos. [uma mudança constitucional via imprensa?] O caminho para esta maioria pró-cassação, porém, é de um sinuoso labirinto.

São seis os processos que correm no TSE. Tem de tudo lá, mas nenhuma das acusações agrega maior apelo hoje do que o disparo de mensagens falsas. Andam com o vagar próprio dos processos da Justiça Eleitoral, mas podem ser pressionados por duas investigações em curso. A primeira é aquela que apura a manipulação da investigação do desvio de verbas no gabinete do senador Flávio Bolsonaro na campanha de 2018. Não tem repercussão processual para o TSE mas joga água no moinho da percepção de que um gol de mão contribuiu para o resultado eleitoral. Foi esta, aliás, a tese que prevaleceu no processo de impeachment de Richard Nixon, abreviado por sua renúncia.

[é general Mourão, estão querendo cassar o senhor de qualquer forma;
os inconformados com a não existência de um terceiro turno e cientes, ainda que traumatizados pelo inconformismo, de que com as bençãos de DEUS  a pandemia vai passar e o presidente Bolsonaro vai recuperar o rumo, intensificaram seus esforços idiotas e estúpidos para cassar o Chefe do Poder Executivo,
Pior ainda, sabem que não possuem, nem possuirão,  os 342 votos para abrir um processo de impeachment e caso conseguissem, caso o processo fosse aprovado e o presidente Jair Bolsonaro fosse impedido, o senhor assumiria. 
Para eles, que vivem em devaneios, é importante que o senhor não assuma e assim querem cassar o presidente e o vice-presidente.
A eles não importa que o senhor não tenha nenhuma culpa, tão pouco o presidente da República - agora tentam, em um gesto se imbecilidade típica do  'apedeuta' ex-presidente petista - associar suposto crime do senador Flávio Bolsonaro ao pai e associar o presidente ao vice.
O pior é  que ainda estão prontos a tentar fazer para tirar o presidente Bolsonaro,agora querem levar o senhor na mesma espanada.
Tudo começou com uns, mais apressados e imbecis,  tentando a solução 'adélio bispo', tentaram outras que sequer merecem uma citação, e agora chegam a solução estender culpabilidade do filho para o pai e do pai  para o vice-presidente.
Não causa surprese que enquanto aguardam um resultado, fiquem em pé sobre milhões de desempregados e milhares de cadáveres.
Abutres se sentem bem em tal ambiente.]

A segunda investigação é aquela conduzida, no Supremo Tribunal Federal, sobre a máquina de notícias falsas. Este inquérito pode vir a compartilhar provas com a Justiça Eleitoral, a exemplo do que aconteceu no processo que julgou a chapa Dilma Rousseff/Michel Temer. O inquérito é conduzido, a sete chaves, pelo ministro Alexandre de Moraes. Apesar de dispor de policiais federais para as investigações, apenas os juízes auxiliares e o delegado da Polícia Civil de São Paulo lotados em seu gabinete têm acesso ao conjunto de provas colhidas. O comando é de um ministro que, de tão obcecado por investigações, fez fama em São Paulo por chegar às 4h da manhã na sede da Secretaria de Segurança Pública, sob seu comando, para participar de operações policiais.

Com a saída da ministra Rosa Weber, na segunda-feira, Moraes assume um assento no TSE. Comporá, junto com Edson Fachin e Luís Roberto Barroso, que presidirá o tribunal, a trinca de ministros do Supremo que atuarão como juízes eleitorais no restante do mandato presidencial. A nova composição do TSE impulsionou a campanha de 100 entidades que atuam no campo da corrupção eleitoral (reformapolitica.org.br) pela agilização dos processos que hoje correm no TSE. Esta campanha pode dar amplitude ao que hoje está restrito a alguns gabinetes brasilienses. É uma articulação ora favorecida pela reaproximação de antigos adversários, como os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso, ora contida por espantalhos como o artigo do vice-presidente Hamilton Mourão atacando as instituições.

Ao contrário do que se passou por ocasião do julgamento da chapa Dilma/Temer, em que a cassação foi derrotada por 4x3, os carpinteiros da tese da separação da chapa, hoje estão de quarentena. Se for para cassar, que seja o presidente e seu vice. Por isso, o artigo de Mourão assustou.  Ao proteger o titular do cargo e bater em todas as demais instituições da República, o vice-presidente, na leitura dos artífices da “saída TSE”, buscou blindagem das Forças Armadas contra qualquer desfecho que o alije. A ocupação do Ministério da Saúde e a negociação com o Centrão hoje são vistos como um sinal de que, seja com Bolsonaro, seja com Mourão, os militares não pretendem arredar pé.

As dúvidas não se limitam à reação da farda em relação à cassação da chapa. Estende-se à composição do TSE. Ao contrário do tribunal que inocentou Dilma e Temer, aquele que estará empossado a partir de segunda-feira, conta com três ministros do Supremo que não são de sentar em cima de provas. Três ex-ministros do TSE, em anonimato, concordam que o quarto voto não viria de nenhum dos dois ministros do Superior Tribunal de Justiça com assento na Corte eleitoral. O mandato do atual relator, Og Fernandes, se encerra em agosto. Como Fernandes também é o corregedor da Casa, o processo ficará com o futuro ocupante do cargo, o também ministro do STJ, Luis Felipe Salomão, que passará a ter, como colega, também no TSE, Mauro Campbell. Nenhum dos dois desfruta, em Brasília, da mesma reputação do independente Herman Benjamin, o ministro relator do processo Dilma/Temer que votou pela cassação. Sobre Salomão pesam ainda as expectativas de que ambiciona uma vaga no Supremo, situação que o deixaria em pé de igualdade com o procurador-geral Augusto Aras na condição de personagens-chave a quem o presidente poderia buscar atrair com as duas vagas que terá a preencher até julho de 2021.

Ainda que ambos venham a jogar no time anti-cassação, o quarto voto poderia ser buscado nos dois advogados do tribunal. A expectativa de recondução ao cargo, prerrogativa do presidente da República, pode vir a inibir um deles (Sergio Banhos), mas é inócua em relação ao segundo (Tarcísio Vieira), que está no último mandato na Corte. Somados os quatro votos, restaria ainda a dúvida sobre o prosseguimento do processo com um relator que venha a se mostrar desinteressado no desfecho. Os percalços não param por aí. A lei diz que se a chapa é cassada no primeiro biênio do mandato presidencial, faz-se nova eleição. Se for no segundo, convoca-se eleição indireta, em até 90 dias. “Na forma da lei”, diz a Constituição. Lei esta que não existe. Teria que ser formatada e votada em pontos sensíveis, como desincompatibilização e filiação partidária, em meio ao caos de uma pandemia que, além de vidas, também vitima o bom combate da política.

E, finalmente, o processo de escolha de um presidente-tampão seria conduzido pelas futuras mesas da Câmara e do Senado, a serem escolhidas num Centrão repaginado pelo bolsonarismo, visto que os mandatos de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre se encerram em fevereiro. A pergunta de um ex-ministro do TSE resume o drama: “Quanto custaria esta eleição”? Se a pedreira é tão grande, por que a “opção TSE” continua sobre a mesa? Porque todas as demais saídas parecem tão ou mais difíceis. A ver, porém, se os percalços permanecerão em pé se o país, no balanço dos milhares de mortos e milhões de desempregados, decidir que não dá para seguir adiante sem afastar o principal culpado.

Maria Cristina Fernandes, colunista - Valor Econômico