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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

O que é ser bolsonarista? - BBC News Brasil

 Matheus Magenta - BBC News Brasil em Londres

Ilustração de duas mãos juntas com um terço com a imagem de Bolsonaro

Crédito, Daniel Arce Lopez/BBC

Na boca de defensores do presidente e do governo, o adjetivo bolsonarista é usado para ostentar uma posição política. "Quanto mais eu conheço os inimigos de Bolsonaro, mais bolsonarista eu me torno", disse o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ), num discurso na Câmara em julho de 2021.

Já para os críticos, que usam o termo com mais frequência que simpatizantes, bolsonarista beira o insulto, em um mecanismo não tão diferente do observado no uso de palavras como petista ou comunista por eleitores de direita.

Depois de quase quatro anos de governo Bolsonaro, pode parecer estranho perguntar: mas, o que, afinal, significa ser bolsonarista?

A pergunta é importante porque este conceito está ligado a um dos fenômenos políticos mais importantes da história recente do Brasil e que ainda deve gerar repercussões por muitos e muitos anos: o
 

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domingo, 12 de junho de 2022

Após afirmar a Biden que respeita eleições, Bolsonaro diz que única forma de evitar problemas é TSE falar com militares


Bolsonaro chamou o ministro Luís Roberto Barroso de "mau caráter", questionou se Alexandre de Moraes seria um "psicopata" e afirmou que Edson Fachin convidou observadores eleitorais "para dar ares de legalidade" a um processo eleitoral no qual Bolsonaro diz não confiar

Jair Bolsonaro
Reuters
Bolsonaro está em Orlando para inaugurar um vice consulado brasileiro na cidade onde vivem cerca de 180 mil brasileiros

Depois de afirmar diante do presidente americano Joe Biden que havia chegado ao poder pela via democrática e assim sairia dele e de indicar, na visão do governo dos Estados Unidos, respeito pelo sistema eleitoral atual e seus resultados, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro voltou a citar suspeitas de fraude e a atacar o trabalho do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os ministros do Supremo Tribunal Federal que compõem o órgão.

Bolsonaro chamou o ministro Luís Roberto Barroso de "mau caráter", questionou se Alexandre de Moraes seria um "psicopata" e afirmou que Edson Fachin convidou observadores eleitorais "para dar ares de legalidade" a um processo eleitoral no qual Bolsonaro diz não confiar. Na última sexta (10/6) como queria Bolsonaro, o Ministério da Defesa mandou novo ofício ao TSE em que pede para que o tribunal facilite o acesso processo de auditoria das urnas tanto para militares quanto para partidos políticos.

Questionado pela BBC News Brasil se, após a divulgação das eleições no Brasil, o país poderia viver uma situação de violência análoga à invasão do Capitólio nos EUA, em janeiro de 2021, Bolsonaro disse que "eu não sei o que vai acontecer, de minha parte teremos eleições limpas, com toda certeza nós vamos tomar providências, a própria Defesa que foi convidada, antes das eleições" e citou uma declaração recente de Ciro Gomes, candidato presidencial do PDT: "O Ciro Gomes, terceiro lugar nas pesquisas, acabou de dizer que 'se Lula ganhar, o Brasil amanhece em guerra'. A população brasileira, a maioria esmagadora, está comigo."

O presidente voltou a repetir afirmações já desmentidas pelo TSE sobre fraude eleitoral em 2014, quando a petista Dilma Rousseff foi reeleita. Sugeriu que a anulação dos processos judiciais contra Lula eram orquestrados pela Justiça para que o petista volte ao Planalto em 2023. Perguntado pela BBC News Brasil se apelaria a seus apoiadores para não haver violência no pleito, qualquer que fosse o resultado, Bolsonaro afirmou: "Ah, espera um pouquinho. Você acha que eu vou partir para isso? Entendo que a população brasileira é civilizada. Espero que os três ministros do Supremo que estão no TSE sejam civilizados também", afirmou, em referência a Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes. Na sequência, emendou: "Você está apontando uma possibilidade que pode acontecer, a gente não sabe, mas por que não evitar isso? A equipe técnica deles (TSE) conversar com a equipe técnica das Forças Armadas. Não tem outra forma de você evitar problemas. Se a pesquisa está dando aí 49% pro Lula e 30% pra mim, vamos supor que eu ganhe, esses 49% vão ficar indignados? Vão dizer que houve fraude?", disse Bolsonaro.

Segundo Bolsonaro, "ninguém tem esse poder (de evitar que apoiadores cometam atos de violência), eu menos dos meus".

Ministros dos TSE
O presidente Bolsonaro chamou Barroso de "um mentiroso, sem caráter" por ter dito, em fevereiro, que o presidente havia um inquérito eleitoral sigiloso para apoiar suas alegações de fraude nas urnas e com isso teria "auxiliado milícias digitais e hackers de todo o mundo". Na sequência, Bolsonaro emendou: "Eu não estou atacando a Justiça Eleitoral, eu estou atacando o Barroso, que não tem caráter".

Sobre Moraes, questionou: "o que esse cara tem na cabeça? O que é que ele está ganhando com isso? Quais são seus interesses? Ele está ligado a quem? Ou é um psicopata? Ele tem um problema".

Moraes conduz os inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, que resultaram em punições à base do presidente, como a condenação ao deputado federal Daniel Silveira, indultado por Bolsonaro. "Eu dei um indulto para este parlamentar e ele [Moraes] continua perseguindo, multando ele, agora bloqueando o celular da esposa dele, que é a advogada que o defende. O TSE lá do senhor Alexandre de Moraes desmonetiza páginas, derruba páginas. Isso não é democracia, É censura.", argumentou o presidente, diante da churrascaria brasileira Fogo de Chão, em Orlando, onde almoçou antes de embarcar de volta para Brasília.

Bolsonaro comparou as ações de Moraes com o processo que levou à prisão de Jeanine Añez, ex-presidente da Bolívia condenada por tramar um golpe de Estado, em 2019. Não é a primeira vez em que Bolsonaro cita Añez para comentar a preocupação com o futuro caso deixe o Planalto. "A turma dela perdeu [as eleições], voltou a turma do Evo Morales. O que aconteceu um ano atrás? Ela foi presa preventivamente. E agora foi confirmado dez anos de cadeia para ela. Qual a acusação? Atos antidemocráticos. Alguém faz alguma correlação com Alexandre de Moraes e os inquéritos por atos antidemocráticos? Ou seja, é uma ameaça para mim quando deixar o governo?", questionou.

Bolsonaro ainda criticou as ações de Fachin de convidar observadores eleitorais para acompanhar o pleito no Brasil, algo que aconteceu nas últimas eleições . "O que esses observadores vão fazer lá? Observar? Olha, a não ser que ele tenha um olhar de super-homem que possa observar programas, microchips. Qual a qualificação desses observadores?". A BBC News Brasil citou a OEA, Organização dos Estados Americanos, que desenvolve esse trabalho rotineiramente com o apoio inclusive do Brasil. "Ah, a OEA. Ah, pelamordedeus, você achar que alguém colocar um crachá da OEA tá resolvido o assunto?. Convidaram pra dar ares de legalidade. Sabe o que eu faria no lugar do Barroso, do Fachin e do Alexandre de Moraes? 'Presidente, vamos conversar'. Mas eles não querem conversar"

Na sexta, 10/6, um dia após a primeira conversa bilateral entre Biden e Bolsonaro, a porta-voz do Departamento de Estado Kristina Rosales afirmou que os EUA vem a presença de observadores internacionais como algo fundamental no processo.

A renovação dos questionamentos e críticas às eleições marcaram o encerramento da viagem do presidente Bolsonaro aos EUA. Além de se encontrar com Biden, Bolsonaro participou da 9a Cúpula das Américas. Depois, atravessou o país para inaugurar um vice-consulado em Orlando, na Flórida, para discursar na Igreja da Lagoinha, uma denominação evangélica, e para realizar uma motociata com cerca de 350 motociclistas da comunidade brasileira.

Correio Braziliense


segunda-feira, 25 de abril de 2022

Jovem conta como é viver com doença dos ossos de vidro: 'Já sofri 100 fraturas'

Beatriz Fernandes da Silva, de 20 anos, tem osteogênese imperfeita, conhecida popularmente como 'doença dos ossos de vidro'

 

BBC
Priscila Carvalho - Do Rio de Janeiro para a BBC News Brasil

Desde bebê, a estudante paulista Beatriz Fernandes da Silva, hoje com 20 anos, precisa tomar cuidado para não cair e se machucar.

Quando ainda estava na barriga da mãe, os médicos perceberam algo diferente durante o ultrassom e alertaram que a criança poderia nascer com algum tipo de osteopenia ou até nanismo.

Passado um mês do seu nascimento, sua mãe foi trocá-la e com um simples movimento quebrou seu braço. Na época, seus pais correram para o hospital e chegaram até ser questionados se a bebê estava sofrendo maus-tratos. "O médico me perguntou e eu disse que não. Veio outro, olharam para ela e viram que o branco do olho dela era azul. Foi então que descobriram a doença que ela tinha", relembra Shirlei Fernandes Serra, mãe de Beatriz.

Os médicos deram um diagnóstico de osteogênese imperfeita, conhecida popularmente como "doença dos ossos de vidro". De origem genética, a condição leva à fragilidade dos ossos, tendo como principais consequências fraturas e deformidades. Por causa disso, a estudante tem apenas 1,22 de altura e calça 32.

Tentando ser uma criança normal
Mesmo tendo algumas limitações, Beatriz tentava levar uma vida normal como qualquer criança. "Eu era arteira. Me machucava muito, andava de skate e era uma criança doida", brinca a estudante.

Sua mãe conta que tinha cuidados, mas nada ao extremo. "Nunca privei ela e criei em uma redoma. Até andar de skate, andava. Ela pegou uma habilidade incrível no skate".

Raio-x da perna fraturada de Beatriz
Arquivo pessoal
Beatriz sofreu diversas dores e fraturas ao longo da vida, certa vez, caiu sentada e quebrou a perna em forma de S

Ao longo de seu desenvolvimento vivenciou diversas dores e fraturas durante simples ações do dia a dia. Ela conta que já quebrou o dedo matando uma formiga, por exemplo. Outra vez caiu sentada e quebrou a perna em forma de S e o cotovelo ao tentar dar uma cambalhota. Nesta última, precisou colocar um pino no membro.

Mas sua pior experiência foi na escola, aos 12 anos de idade. Durante uma brincadeira no colégio, um menino tentou beijar seu pé, virou e pegou sua perna esquerda. Ao fazer isso, ele quebrou o membro e, com o susto, Beatriz também fraturou o lado direito.  "Nessa época eu tinha uma haste na canela e quebrou tão feio que entortou e precisou ser retirada. Na época, eu tinha três hastes e agora tenho duas", relembra. Depois do acidente, ela precisou correr para o hospital e realizar uma cirurgia de urgência.

O ocorrido rendeu traumas à estudante que abandonou a escola por quatro anos, comprometendo seus estudos. "Dava ansiedade de ir até o colégio. Fiquei quatros anos sem ir por causa disso. Eu chorava de todos os jeitos", conta à BBC News Brasil.

Por causa da pausa, ela mantinha uma rotina de cuidados em casa e demorou a querer voltar ao ambiente escolar. "Eu não gostava de estudar em casa, pois me lembrava do ocorrido. Eu não sabia escrever em letra de mão com 14 anos de idade", lamenta. Quando decidiu retornar aos estudos, precisou iniciar no ensino fundamental, mesmo sendo adolescente. Hoje, ela ainda cursa o segundo ano do ensino médio, no período noturno.

Tratamento difícil e desgastante
Durante a infância, a paulista era acompanhada por profissionais do SUS (Sistema Único de Saúde) e fazia o tratamento com um remédio chamado pamidronato de sódio, responsável por regular a quantidade de cálcio no organismo. Ela precisava ir à Santa Casa, em São Paulo, a cada três meses e usar a medicação por cinco dias.

Ao longo da terapia, era submetida a retiradas de sangue e picadas frequentes na cabeça. Segundo a estudante, o acompanhamento era muito doloroso e difícil. Por ser algo bem invasivo, a paulista conta que teve uma reação muito forte e faz oito anos que ela e sua mãe optaram por não seguir tratando dessa forma. "Minha mãe ficou com medo e resolveu parar. Mas hoje me sinto normal. Quando tenho alguma fratura mais grave, vou para o hospital", diz.

Além desse acompanhamento, ela também fazia procedimentos cirúrgicos quando tinha alguma fratura muito grave. "Ao todo, tenho dez cirurgias e minha mãe conta que já sofri umas 100 fraturas", diz a estudante.

Quando começou a ficar mais velha, por volta dos 14 anos de idade, a quebra de ossos começou a diminuir e ela ganhou mais qualidade de vida, conta a mãe da estudante. Atualmente, ela segue tendo apenas cuidados básicos como não andar em chão molhado e outros ambientes escorregadios para evitar quedas e fraturas severas.

Beatriz Fernandes da Silva sentada em um balanço
Arquivo pessoal
Beatriz afirma que até hoje algumas pessoas e amigos se surpreendem com o fato de ela ser uma jovem normal

Mesmo com uma estatura baixa, Beatriz conta que se vira bem em casa e "tira de letra" as tarefas domésticas. Contudo, quando precisa ir à escola e se locomover pelas ruas, sua maior dificuldade é a acessibilidade.

"Encontro o elevador quebrado e os motoristas não me ajudam a subir no ônibus. Uma vez um não parou e eu tive que fazer um boletim de ocorrência. É um direito meu", opina. Para ajudar na caminhada, ela usa uma cadeira de rodas, já que fica um pouco cansada e sente muitas dores nos pés quando percorre grandes distâncias sem o uso do aparelho.

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terça-feira, 28 de setembro de 2021

Crise migratória: EUA deportam 30 crianças brasileiras para o Haiti

Mais de 3,5 mil pessoas já foram deportadas para o país caribenho nos últimos dias

As crianças brasileiras têm, em sua maioria, até três anos de idade e estavam acompanhadas pelos pais haitianos, com quem fizeram a jornada para sair do Brasil e atravessar as Américas do Sul e Central até chegar à divisa entre México e Estados Unidos há pouco mais de uma semana. [cabe um esclarecimento: a manchete diz 'crianças brasileiras', só que as crianças estavam acompanhadas pelos pais haitianos e foram devolvidas ao país de origem dos seus pais.]

Desde que a crise estourou, cerca de 3,5 mil pessoas já foram embarcadas em voos americanos para Porto Príncipe, a capital haitiana. Ao descobrir para onde tinham sido levados, alguns haitianos reagiram com indignação e revolta e tentaram voltar à aeronave dos EUA. Além dos 30 menores de idade brasileiros deportados, 182 crianças chilenas estão na mesma condição.  "As crianças brasileiras não apresentavam qualquer problema maior, caso contrário, seriam encaminhadas para assistência específica", afirmou à BBC News Brasil Giuseppe Loprete, chefe da missão da OIM em território haitiano, que acompanha a situação dos deportados. Segundo Loprete, por terem pais haitianos, as crianças são também consideradas haitianas segundo as leis do país caribenho, embora não tivessem documentos para comprovar essa nacionalidade. "Eles podem obter documentos haitianos aqui, certidão de nascimento e carteira de identidade. As autoridades locais já informaram que irão facilitar isso. Mas enquanto eles estão fora do país, é difícil que consigam essa documentação", explicou Loprete.

Segundo a Constituição Federal, por terem nascido em território do Brasil, mesmo que de pais estrangeiros, os filhos dos haitianos são também considerados brasileiros natos. E por isso eles detinham apenas documentação brasileira ao serem encontrados e deportados pelos americanos.

De partida do Brasil
A partir de 2010, quando um terremoto devastou o Haiti e matou centenas de milhares de pessoas, o Brasil passou a ser destino de migração de haitianos. Entre 2010 e 2018, os dados da Polícia Federal apontam que em torno de 130 mil haitianos vieram ao Brasil, onde se estabeleceram e formaram família. O governo brasileiro criou um visto humanitário para atender às necessidades desses migrantes - mais tarde também estendido a sírios e afegãos.

Nos últimos anos, porém, a recessão brasileira e a desvalorização do câmbio, que achatou a renda remetida pelos haitianos aos familiares no país de origem, levaram muitos a migrarem para o Chile ou outros países da região. No ano passado, em um novo capítulo nessa jornada migratória, muitos grupos passaram a se destinar aos EUA, onde tentavam chegar atravessando mais de uma dezena de países a pé. Em março, a BBC News Brasil mostrou que o fluxo já se formava e vitimava pessoas como a haitiana Manite Dorlean, que, grávida de gêmeos, morreu afogada nas águas do Rio Grande em janeiro de 2021 depois de partir do Brasil ainda em 2019.

Esse ano, com dados ainda incompletos, o número de haitianos localizados por agentes americanos na fronteira (29,6 mil) já é 6,5 vezes maior do que o total de 2020. "Eles dizem que foram instruídos por outros haitianos que já passaram para os Estados Unidos e por isso também foram pra lá. Infelizmente, é assim que funciona", afirmou Loprete.

Em 2021, o Haiti enfrentou o assassinato do presidente do país, Jovenel Moïse, que aprofundou a instabilidade política, e um novo e potente terremoto, que deixou mais de duas mil pessoas mortas. Nesse contexto, a diáspora haitiana, tanto do próprio país quanto de outros na América Latina, se moveu para os EUA. Contribuiu para o fluxo a percepção de que a nova gestão democrata, de Joe Biden, teria uma abordagem mais simpática a migrantes.

Crise política nos EUA
A chegada em massa de haitianos, no entanto, detonou uma crise política nos EUA depois que o governo Biden, que prometia uma abordagem "humana" aos migrantes, recorreu aos mesmos instrumentos utilizados pelo ex-presidente Donald Trump para deportar rapidamente o maior contingente possível, sem dar a eles a chance de pedir por asilo ou refúgio em território americano. [a política do Biden de endurecimento do combate aos migrantes é notória, tanto que Kamala Harris, vice-presidente daquele país, foi bem clara quando em seu primeiro discurso como vice-presidente, Kamala Harris disse ao povo da Guatemala: 'Não venham para os EUA'.]

O enviado especial dos EUA para o Haiti, Daniel Foote, renunciou ao cargo em protesto contra o tratamento dispensado aos haitianos. Em uma carta pública à Casa Branca, ele disse que "não se associaria à decisão desumana e contraproducente dos Estados Unidos de deportar milhares de refugiados haitianos", citando as sucessivas crises humanitárias no país caribenho. Além disso, imagens de guardas de fronteira ameaçando avançar com cavalos sobre migrantes haitianos correram o mundo e alimentaram ainda mais críticas ao governo americano. Biden afirmou que se responsabilizava pessoalmente pelo ocorrido e determinou o fim do uso da cavalaria entre agentes de migração.

Em meio ao turbilhão, o secretário de Estado dos EUA Antony Blinken chegou a pedir ao chanceler brasileiro Carlos França, em reunião em Nova York, na semana passada, que o Brasil acolhesse parte dos haitianos que estavam na fronteira americana. O governo brasileiro, segundo um integrante do Itamaraty que esteve no encontro, recusou o pedido. "Cada um que cuide do seu Haiti", descreveu esse diplomata à reportagem, sobre o teor da resposta do Brasil aos americanos. [a crise migratória é um problema grave, cruel, mas temos que considerar que é DEVER de cada país priorizar a sobrevivência/subsistência dos seus naturais. 
O Brasil atravessa uma grave crise econômica agravada pelos efeitos nefastos da peste covid-19, que produziu graves problemas econômicos, com destaque para o desemprego herdado do  incompetente governo petista (que f . ... o Brasil por 13 anos) quase 13.000.000 e fatores naturais como crise hídrica e outros.
O Brasil não possui condições para receber emigrantes, visto que cada emprego ocupado por um emigrante equivale a MAIS UM BRASILEIRO DESEMPREGADO. Vale ressaltar que há uma certa, digamos, 'indústria' da emigração, como bem mostra o quinto parágrafo da matéria. Os emigrantes vem para o Brasil, são bem acolhidos, mas qualquer crise econômica eles partem para outros países - prática que não é utilizada pelos brasileiros, que padecem em solo pátrio as dificuldades. 
O Brasil obrigação,. até por ser um DEVER CRISTÃO, de acolher emigrantes, mas sem esquecer os brasileiros também necessitados - de nada adianta uma ação humanitária com os emigrantes e esquecer de ser humanitário com os brasileiros.]

Segundo a lei brasileira, migrantes que tenham recebido visto humanitário e ainda assim tenham deixado o país, perdem o direito a requerer novamente esse status especial.  A embaixada brasileira em Porto Príncipe já foi avisada pela OIM sobre a presença de crianças brasileiras deportadas no país, mas por enquanto não foi diretamente contatada por suas famílias.

À CNN americana, o ministro de relações exteriores do Haiti, Claude Joseph, afirmou: "pedimos solidariedade na região. Falei com minha embaixadora no Brasil e ela disse que os brasileiros estão dispostos a aceitá-los de volta com suas famílias". A BBC tentou contato com a embaixada haitiana em Brasília nesta segunda (27/9), mas não localizou um porta-voz.

Por lei, o Brasil é obrigado a repatriar - inclusive cobrindo os custos de viagem - cidadãos que estejam em risco no exterior e sem recursos para chegar ao Brasil. Reservadamente, dada a sensibilidade do tema, um embaixador brasileiro afirmou à BBC News Brasil que se as famílias dessas 30 crianças brasileiras expressarem o desejo para que isso aconteça, poderão deixar o Haiti e retornar ao Brasil. É possível que o número de menores brasileiros nessa situação aumente nos próximos dias, conforme mais aviões americanos com centenas de deportados aterrissem em Porto Príncipe.

 Mundo - Correio Braziliense


segunda-feira, 5 de julho de 2021

Seis razões que dificultam impeachment de Bolsonaro

Apesar do aumento do desgaste de Bolsonaro e da recente apresentação por partidos de oposição do que vem sendo chamado de "superpedido de impeachment", seguem presentes fatores que dificultam a abertura de um processo para cassar o presidente no Congresso

Em  meio a uma série de denúncias de possíveis ilegalidades envolvendo contratos para compra de vacinas contra covid-19, tem crescido a pressão pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro, com sucessivos protestos contra seu governo em todas as regiões do país. Mas, apesar do aumento do desgaste de Bolsonaro e da recente apresentação por partidos de oposição do que vem sendo chamado de "superpedido de impeachment", seguem presentes fatores que dificultam a abertura de um processo para cassar o presidente no Congresso.

(...)

Somam-se a isso fatores adicionais como a falta de provas que confirmem cabalmente as denúncias de pedidos de propina dentro do Ministério da Saúde, a proximidade cada vez maior das eleições de 2022, e o fato de o vice-presidente, general Hamilton Mourão, não ser visto no Congresso como uma opção interessante para presidir o país.

Entenda melhor esses seis obstáculos que hoje protegem o mandato presidencial, apesar de já terem sido apresentados 125 pedidos de impeachment.  Nessas dezenas de solicitações, os denunciantes acusam o presidente de cometer crimes de responsabilidade na condução da pandemia de coronavírus (ao promover aglomerações e demorar a comprar vacinas, por exemplo), assim como por ter participado em 2020 de atos que pediam o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF), ou ao supostamente interferir em instituições de investigação, como a Polícia Federal (PF).

1) Mais povo nas ruas
Embora os protestos de rua contra Bolsonaro tenham crescido desde maio, essas manifestações não ganharam, até o momento, a dimensão dos atos pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff em 2015 e 2016. Em um desses protestos, em março de 2016, havia 500 mil pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo, segundo estimativa do Instituto Datafolha.

Pesquisas de avaliação da popularidade do presidente também mostram que ele mantém apoio maior do que tinha a petista quando foi iniciado o processo de impeachment. Segundo recente pesquisa Ipec (instituto fundado por executivos que eram do Ibope), o governo Bolsonaro contava no final de junho com 24% de avaliação bom ou ótimo. Já em dezembro de 2015, a avaliação de positiva de Dilma era de apenas 9%, segundo pesquisa Ibope.

(.......)

A expectativa dos grupos que já estão nas ruas pelo impeachment é que o gradual aumento do desgaste que vem sendo provocado pelas sucessivas suspeitas sobre contratos de vacinas e a atuação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid atraia cada vez mais pessoas aos atos.[paciência pessoal! a CPI do Covidão é o exemplo perfeito, acabado e crescente do quanto uma CPI natimorta pode ser desmoralizada com o comando e liderança que possui.Vejam:  - relator Calheiros indiciado por corrupção e respondendo vários processos por crimes contra o erário, (+)  o presidente Omar enrolado em tentativas de fingir que sua esposa e três irmãos não foram presos acusados de corrupção em recursos da Saúde, (+) aquele senador do Acre , o 'encrenqueiro', que sempre perde,  e (+)  mais aquele senador do ES que ainda não conseguiu firmar uma posição  (+) aquele senador petista, um que foi ministro da Saúde do condenado Lula, cujo codinome é 'drácula' exatamente por envolvimento no desvio de sangue em bancos de sangue.]

A CPI estava prevista originalmente para durar até o início de agosto, mas já há apoio suficiente de senadores para que seja prorrogada por mais 90 dias. Nesta semana, estão programados depoimentos de servidores do Ministério da Saúde para dar explicações sobre as suspeitas de ilegalidade no contrato firmado em fevereiro para compra de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin e sobre denúncias de pedidos de propina.

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2) Votos insuficientes para aprovar impeachment
O instrumento do impeachment não foi feito para ser de fácil utilização: há necessidade de 342 votos dos 513 deputados federais para que Senado seja autorizado a processar o presidente. O objetivo é justamente trazer estabilidade ao mandato presidencial conquistado nas urnas. [IMPORTANTE: com a presença de 341 deputados a sessão  de apreciação do pedido de impeachment sequer é aberta.]

Hoje, o apoio na Câmara está distante desse patamar, o que deixa o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), aliado de Bolsonaro, em situação confortável para não dar andamento a pedidos de impeachment.

Na quarta-feira (30/6), partidos e parlamentares de oposição, juntos com movimentos da sociedade civil, protocolaram um "superpedido" de impeachment. No entanto, contabilizando os deputados das siglas que assinaram o pedido (PT, PCdoB, PSB, PDT, PSOL, Cidadania, Rede, PCO, UP, PSTU e PC) mais os deputados que apoiaram a iniciativa individualmente, como Joice Hasselmann (PSL-SP), Kim Kataguiri (DEM-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP), esse grupo soma pouco menos de 140 congressistas na Câmara. [se conseguirem aumentar em 150%, talvez consigam pelo menos abrir a sessão da Câmara; aproveitamos para informar que a grafia em tipos menores, é um recurso que usamos para mostrar a pouca importância das coisas e pessoas grafadas assim.]

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"Os principais fatores que impedem o impeachment são a inexistência de manifestações de rua de grandes proporções, tal como se deu no impeachment de Dilma, e falta de apoio suficiente no Congresso. A maioria parlamentar que o presidente construiu a partir de junho do ano passado não se desestruturou ainda", afirma o cientista político Antonio Lavareda.

3) A agenda própria de Lira
A ampla articulação construída por Arthur Lira para sua eleição, com apoio do Palácio do Planalto, lhe permitiu imprimir um ritmo acelerado para a aprovação de propostas na Câmara, incluindo pautas controversas. Os deputados aprovaram este ano, por exemplo, a flexibilização do licenciamento ambiental e a revisão da lei de improbidade administrativa - as duas propostas ainda serão analisadas no Senado. Além disso, as duas Casas do Congresso aprovaram a privatização da Eletrobras.

Se Lira decidisse abrir o processo de impeachment, na prática isso significaria frear essa intensa agenda de votações para que os deputados focassem na análise das denúncias contra o presidente. " Arthur Lira está tocando sua agenda e essa situação, até agora, pareceu confortável para ele", nota Lavareda.

Na semana passada, o próprio presidente da Câmara enfatizou o foco na aprovação de "reformas". "Aqui seguimos a pauta do Brasil, das reformas e dos avanços. Respeito a manifestação democrática da minoria. Mas um processo de impedimento exige mais que palavras. Exige materialidade", afirmou ao portal G1 o presidente da Câmara, após a entrega do "superpedido" de impeachment.

4) Necessidade de provas que comprovem as denúncias
Embora tenham se acumulado nos últimas duas semanas indícios de possíveis ilegalidades nos contratos para compra de vacinas, parlamentares consideram que não há ainda prova cabal de corrupção nesses negócios, nem de envolvimento direto de Bolsonaro.

O líder do MDB na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões Júnior (AL), disse à BBC News Brasil que as denúncias são graves, mas considera necessário aguardar a conclusão da investigação da CPI para avaliar se há provas de ilegalidades. Prevista para durar até o início de agosto, a comissão deve ser prorrogada por mais 90 dias.

"Não é o momento ainda de discutir isso (impeachment). Tem que ter um ambiente político, de (manifestações contra Bolsonaro nas) ruas principalmente. E o ponto principal é a comprovação de crime. Mas, pelo que me consta até agora, está em fase de denúncia, não é uma conclusão de investigação", ressaltou.

5) Governo Mourão "não enche os olhos" do Congresso
Em recente entrevista à BBC News Brasil, o ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, ressaltou como um das diferenças entre o contexto que levou à cassação de Dilma Rousseff e o contexto que preserva o mandato de Bolsonaro é o perfil bastante diverso dos seus vice-presidentes.

No caso da petista, seu vice era Michel Temer, um homem da política, que presidia até então o maior partido do país (MDB) e havia comandado a Câmara três vezes quando era deputado federal. Ou seja, era uma pessoa que sabia negociar com os parlamentares e atuou ativamente para articular o impeachment da presidente. Já o vice-presidente de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, "não é uma pessoa ligada ao Congresso Nacional", resumiu Maia.

O fato de ele ser do Exército agrada menos ainda, disse também à BBC News Brasil o deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP). Para ele, os parlamentares não tem clareza sobre o que seria um governo Mourão. "Oficialmente, estaríamos pondo os militares no poder", diz, com desconfiança. [alguém avise para esse deputado que os militares sempre estão e estarão no Poder,O Poder Militar é o Poder dos poderes.
Quanto ao general Mourão é confiável - o que não o recomenda para aliado do establishment - possui preferência política definida, que não é a da maldita esquerda ou coisa sequer parecida e condições para promover as reformas que consertarão o Brasil, reformas que devi9do a pandemia e o boicote sistemático dos que estão sempre contra o Brasil,  o capitão AINDA não conseguiu realizar na íntegras.
Mas não haverá impeachment e Bolsonaro continuará, com as bênçãos de DEUS, no elevado cargo de Presidente da República Federativa do Brasil = os inimigos do Brasil passam mal só em pensar que o cargo acima é  ocupado por JAIR MESSIAS BOLSONARO.]

6) Eleição de 2022 cada vez mais próxima
O correr do tempo também joga a favor de Bolsonaro. Quanto mais o país se aproxima da eleição de 2022, menos atraente fica a ideia de iniciar um processo para alguns parlamentares, acredita Paulinho da Força. Na sua visão, o melhor é uma frente ampla derrotar Bolsonaro nas urnas, para evitar também que ele possa assumir um discurso de "vítima de golpe", caso ocorra um impeachment.

"Acho que no momento não há clima nem voto para aprovar impeachment no Congresso. Estamos há um ano e três meses das eleições e impeachment não é um processo simples. Não é uma coisa que você instala hoje e caça o cara amanhã. Então, isso levaria a votação do impeachment lá para a véspera da eleição", argumenta.

O partido de Paulinho da Força ainda não decidiu quem apoiará em 2022, mas tende a se aliar ao PT, que deve lançar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.  Nos bastidores de Brasília, alguns questionam o real apoio do petista ao impeachment de Bolsonaro, pois consideram que Lula estaria mais interessado em manter a disputa de 2022 polarizada entre ele e o atual presidente. As pesquisas hoje mostram o petista com boas chances de vitória na próxima eleição presidencial. O ex-presidente, porém, tem se colocado oficialmente a favor do impeachment. "Parabenizo as forças de oposição ao Bolsonaro e os movimentos sociais que conseguiram unificar os mais de 120 pedidos de impeachment pra pressionar o Lira. Espero que as manifestações de rua convençam o presidente da Câmara a colocar em votação", disse Lula em sua conta no Twitter, após a apresentação do "superpedido" de impeachment.

BBC News Brasil - MATÉRIA COMPLETA


domingo, 27 de junho de 2021

IMUNIZAÇÃO - Pfizer Brasil: 'Quando chegar sua vez, tome a que estiver disponível'

O fenômeno dos "sommeliers de vacinas" está gerando reações nos próprios postos de imunização brasileiros

Quando uma empresa desenvolve um produto que ganha a preferência do público, isso geralmente é encarado como sinal de sucesso. Porém, ao falarmos de vacinas, essa "escolha" seletiva do consumidor pode trazer mais prejuízos do que benefícios.

E isso é ainda mais perigoso quando estamos no meio de uma pandemia: muitos brasileiros estão deixando de ir ao posto de saúde quando as doses disponíveis naquele local são de determinado fabricante ou de outro.

Segundo relatos publicados nas redes sociais, a vacina Comirnaty, desenvolvida por Pfizer/BioNTech, virou a "queridinha" de muita gente, que se recusa a tomar a CoronaVac (Sinovac/Instituto Butantan) ou a AZD1222 (AstraZeneca/Universidade de Oxford), as outras opções disponíveis na campanha de imunização brasileira até o meio de junho.

O fenômeno dos "sommeliers de vacinas" está gerando reações nos próprios postos de imunização. Na Unidade Básica de Saúde do Cambuci, em São Paulo, por exemplo, um cartaz fixado na entrada apela: "Enquanto você escolhe a marca da vacina, o vírus pode escolher você. Vacine-se já!"

A mensagem foi flagrada pela repórter Beatriz Manfredini, da Jovem Pan News:

Vale reforçar que esse tipo de escolha num momento tão complicado como o que vivemos não faz sentido algum e pode até ser perigoso. Quem diz isso é a própria líder médica de vacinas da Pfizer Brasil: a pediatra infectologista Júlia Spinardi entende que não é hora de pensar somente em si e nas próprias preferências, mas, sim, na proteção de toda a comunidade. "Precisamos entender que as vacinas disponíveis se mostraram seguras e eficazes e o uso de todas elas, em conjunto, é o que vai nos permitir controlar a covid-19", diz. "Quando chegar a sua vez, vacine-se com o imunizante que estiver disponível", resume a especialista.

Spinardi, que trabalha há cinco anos na farmacêutica e tem mestrado em Ciências da Saúde pela Santa Casa de São Paulo, concedeu uma entrevista exclusiva para a BBC News Brasil, na qual avaliou o desenvolvimento das vacinas, o andamento das campanhas de imunização e as perspectivas futuras de enfrentamento da pandemia.

Uma façanha global
Em meio a tantas perdas e sofrimentos, a humanidade conseguiu um feito notável: desenvolver, testar e aprovar várias vacinas contra uma doença nova num intervalo de menos de 12 meses.Repare nas datas: a observação de que um novo vírus estava provocando uma "doença misteriosa" na China começou a ser feita entre o final de dezembro de 2019 e as primeiras semanas de janeiro de 2020.

E os primeiros imunizantes para a covid-19, como a própria Comirnaty e a AZD1222, já estavam aprovados para uso em larga escala em dezembro de 2020. Para Spinardi, a façanha só foi possível graças ao investimento em biotecnologia e ao foco total dos laboratórios públicos e privados em completar essa corrida contra o relógio. "Aqui na Pfizer, tivemos um redirecionamento total de nossas equipes e investimentos para que isso acontecesse e nós criássemos vacinas no menor tempo possível", diz.

A pediatra destaca que a inovação se deu também na forma como os estudos clínicos foram conduzidos: "Etapas que antes eram feitas em sequência e demoravam meses para serem concluídas foram realizadas em paralelo, para ganhar rapidez. E isso aconteceu, claro, sem que os critérios de segurança fossem deixados de lado." Ainda na seara das novidades, a atual pandemia marcou a chegada de uma nova geração de vacinas (ao menos quando pensamos no uso em larga escala): os imunizantes de mRNA, como os produtos desenvolvidos por Pfizer/BioNTech e Moderna.

Eles são baseados num pedaço de código genético sintetizado em laboratório que, ao ser injetado no corpo, instrui nossas células a produzirem proteínas características do coronavírus. Essas moléculas, por sua vez, são reconhecidas pelo sistema imune, que cria anticorpos capazes de combater uma infecção de verdade, caso o coronavírus tente invadir nosso organismo. Essa nova plataforma tem vários pontos positivos, como a fabricação rápida e uma flexibilidade maior na adaptação da fórmula para fazer frente às novas variantes, por exemplo. "Nós não precisamos fazer o cultivo de vírus ou bactérias em laboratório, que é algo mais complicado e que exige uma série de medidas. O fato de ser uma vacina 100% sintetizada facilita muito a produção como um todo", avalia Spinardi.

Entre as desvantagens, vale citar a pouca experiência na plataforma de mRNA em larga escala e as dificuldades tecnológicas em montar fábricas capazes de fabricar esse produto: hoje em dia, o mundo depende da expertise de poucas farmacêuticas (como Pfizer e Moderna) para obter milhões e milhões de doses dessas vacinas. Outro ponto que gerou muita preocupação nos primeiros meses após a aprovação da Comirnaty foi a necessidade de armazenamento em temperaturas muito frias (abaixo de -75 °C), o que demandava equipamentos rebuscados e pouco acessíveis.

Essa seria uma dificuldade enorme num país tão grande e diverso como o Brasil: lugares com menos acesso a congeladores superpotentes poderiam ficar sem esse imunizante. Mas essa barreira caiu por terra mais recentemente: já existem caixas especiais que facilitam o transporte dos lotes e novos estudos mostraram que essa vacina permanece viável se mantida a -20 °C por algumas semanas. Outra boa notícia foi a descoberta de que as doses que serão utilizadas logo, nos próximos dias, podem ficar na temperatura de 2 a 8 °C, que já se enquadra dentro da realidade dos mais de 30 mil postos de vacinação espalhados pelo Brasil."Isso foi fundamental para que a gente conseguisse fazer a vacina chegar às diferentes regiões do nosso país", comemora Spinardi.

Desafios em tempo real
A pediatra também chama a atenção para a diferença entre eficácia e efetividade de um novo imunizante.Enquanto a eficácia é medida a partir dos estudos clínicos de fase 3, que conta com algumas dezenas de milhares de voluntários, a efetividade mede os impactos de vida real da campanha de vacinação, que envolve milhões de pessoas. A Comirnaty, que já havia demonstrado uma eficácia de 91% nas pesquisas, até superou os resultados quando aplicada em larga escala em países como Israel e Estados Unidos."Os dados de efetividade que vemos hoje das nações com a imunização mais adiantada confirmam essa taxa superior a 90% e corroboram a necessidade do esquema de duas doses para garantir o maior potencial de proteção", informa.

A despeito das negociações com o Governo Federal do Brasil e todos os e-mails e propostas não respondidos, que estão sendo apurados pela CPI da Covid, Spinardi classifica como "gratificante" poder acompanhar todas as etapas de estudos e ver a vacina finalmente chegar ao Brasil.  "O desembarque das primeiras doses no país foi um momento de muita esperança. A gente passou efetivamente a entender que podíamos fazer parte da solução para o problema que estamos vivendo", admite.

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Como já mencionado no início da reportagem, a representante da Pfizer atesta que a imunização é uma estratégia coletiva e não estamos na posição de escolher a vacina A, B ou C — seja por medo de eventos adversos ou pela busca de uma eficácia maior.  "Precisamos entender que as vacinas disponíveis se mostraram seguras e eficazes e o uso de todas elas, em conjunto, é o que vai nos permitir controlar a covid-19", diz. "Quando chegar a sua vez, vacine-se com o imunizante que estiver disponível. E incentive as demais pessoas da sua família, da sua rua e da sua comunidade a fazerem o mesmo", completa.

Ainda no universo dos fenômenos recentes, não dá pra ignorar como as vacinas contra o coronavírus viraram assunto popular e hoje aparecem em abundância nos memes. O mais famoso deles foi produzido pelo humorista e roteirista Esse Menino: num vídeo que já conta com mais de 18 milhões de visualizações e 93 mil comentários no Instagram, ele aborda a falta de respostas do Governo Federal aos e-mails da Pfizer. Termos como "beijinhos científicos" e "Pifáizer" caíram no gosto popular e geraram milhões de figurinhas de WhatsApp, fotos e outros vídeos.

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O que o futuro nos reserva
Passados os seis primeiros meses de vacinação contra a covid-19 em várias partes do mundo, a discussão sobre o fim da pandemia começa a tomar forma — ainda que esteja bastante longe de nossa realidade.Mas, para que isso venha a acontecer de fato no futuro, alguns pontos-chave precisam ser resolvidos com urgência.

O primeiro deles é a desigualdade na distribuição das doses: os imunizantes de Pfizer, AstraZeneca, Janssen e outras farmacêuticas chegaram muito mais rápido e em maior quantidade aos países mais ricos, enquanto alguns dos lugares menos desenvolvidos do planeta sequer iniciaram suas campanhas.  Até abril, os países ricos já haviam vacinado uma a cada quatro pessoas. Nas nações mais pobres, apenas um a cada 500 indivíduos havia recebido as doses contra a covid-19.

Uma alternativa para facilitar a chegada das vacinas e descomplicar as campanhas é a intercambialidade dos produtos de diferentes laboratórios. Em outras palavras, alguns especialistas propõem misturar as vacinas: a pessoa poderia tomar eventualmente a primeira dose da vacina da Pfizer e a segunda da AstraZeneca, por exemplo. Isso, inclusive, está sendo avaliado por estudos científicos em alguns países, como o Reino Unido. Por ora, as farmacêuticas parecem não levar em conta essa possibilidade. "Neste momento, não temos nenhum programa oficial para analisar a intercambialidade e nossa recomendação é seguir com o esquema que temos hoje, de usar a mesma vacina nas duas doses", esclarece a pediatra.

"É claro que isso pode acontecer no futuro, mas os dados que temos por enquanto ainda são muito limitados", avalia.  Um terceiro e último front que começou a ser atacado nas últimas semanas é a ampliação dos públicos que poderão receber as vacinas — a Comirnaty, por exemplo, recebeu aprovação para ser usada em indivíduos de 12 a 18 anos no Brasil recentemente.  "A gente entende que a prioridade agora são os adultos, especialmente aqueles com risco de desenvolver as formas severas da doença. Mas, com o passar do tempo, só iremos conseguir controlar a circulação do vírus quando incluirmos todos os grupos etários", explica.  "Os mais jovens representam 25% da população mundial e em algum momento precisaremos pensar neles também", finaliza.

Brazil - Correio  Braziliense


 

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Recém-criada Associação para atacar o presidente Bolsonaro = técnica infalivel para publicidade certa e grátis

Correio Braziliense

Famílias de vítimas da covid-19 processam Bolsonaro por conduta na pandemia

Documento aponta que Bolsonaro incentivou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, prejudicou a vacinação no Brasil, estimulou aglomerações enquanto cientistas orientavam o isolamento social e defendeu uma teoria de "imunidade de rebanho" sem qualquer respaldo científico

[A morte  de qualquer ser humano é um evento lamentável,  irreparável e que não pode ser compensado de  nenhuma forma. Nenhuma medida compensa o falecimento de alguém. Com pequenos ajustes, o mesmo entendimento vale para o adoecimento de qualquer pessoa. 
Todos, sem exceção,   possuem o direito de ter uma opinião e de expressá-la. Ninguém é obrigado a seguir a opinião seja de quem for, se decidir seguir será por sua conta e risco.
Um analfabeto, um portador de baixo nível de escolaridade, inculto, pode até alegar que seguiu a opinião por inocência, ignorância, etc.       Mas ... 
 
Incriminar alguém por um crime não ocorrido é algo com chances mínimas de êxito.  
 
Tem que ser provado que as vítimas fatais fizeram uso de medicamentos inadequados, ilegais, proibidos - no caso da hidroxicloroquina (medicamento que na opinião do presidente Bolsonaro é eficiente para o combate à covid-19) só pode ser vendido com receita médica, o que implica que um médico avalizou, prescreveu o tratamento - o  CFM atribui ao esculápio a competência de prescrever o medicamento que lhe pareça mais adequado - claro que sob sua responsabilidade.
Tem que ser provado que o paciente - nos exemplos citados pessoas cultas, bem informadas - deixaram de procurar assistência médica especializada devido terem optado por seguir a opinião do capitão. Nos parece que o senhor Bernardes teve pronta assistência médica e a senhora Italira adoeceu já sob cuidados médicos devido uma cirurgia.
Apontamos falhas em dois ou três pontos, dos cinco citados na petição do causídico, mas se o advogado Bernardes voltar aos seus tempos de iniciante no curso de Direito verá que os pontos não se sustentam - são meras deduções sobre suposições ou não violaram nenhuma lei. Vale a pena lembrar que estamos no Brasil onde o criminoso Lula - não foi inocentado, apenas dois processos foram anulados - está solto!!!
Lembrando que as provas contra o petista permanecem, apenas foram apresentadas na Vara errada.
 Não tem sentido acusar e tentar  processar um inocente, Bolsonaro,  apenas por imaginar que ele é culpado.]

No fim do ano passado, o advogado Gustavo Bernardes, de 46 anos, enfrentou duras complicações da covid-19. Ele ficou intubado por dias e os médicos chegaram a duvidar se o paciente sobreviveria. "Me despedi da minha família por ligação de vídeo, antes de ser intubado. Um médico chegou a dizer para a minha irmã que achava que eu não resistiria", diz Bernardes à BBC News Brasil.

O advogado se recuperou e recebeu alta hospitalar. Meses após viver o período mais difícil de sua vida, decidiu buscar a responsabilização daquele que ele aponta como o principal culpado pela dramática situação da pandemia no país: o presidente Jair Bolsonaro. Por meio de uma representação criminal na Procuradoria-Geral da República (?PGR), protocolada em 9 de junho, ele pede que seja oferecida uma denúncia contra Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que o presidente seja processado criminalmente pela condução da pandemia.

Bernardes é presidente da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico). Ele explica que, apesar de a medida protocolada na PGR estar em nome dele, ela representa todas as pessoas que compõem a associação e tiveram quadro grave de covid-19 ou perderam familiares para a doença. "É uma iniciativa coletiva", ressalta o advogado.  Ele assinala que a medida foi a forma que membros da Avico encontraram para fazer com que Bolsonaro seja responsabilizado pelo modo como tem conduzido a crise sanitária no país.

A representação afirma que a conduta do presidente da República diante da pandemia é uma "estratégia federal cruel e sangrenta de disseminação da covid-19, perfazendo um ataque sem precedentes aos direitos humanos no Brasil".  O documento aponta que Bolsonaro incentivou o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19, prejudicou a vacinação no Brasil, estimulou aglomerações enquanto cientistas orientavam o isolamento social e defendeu uma teoria de "imunidade de rebanho" sem qualquer respaldo científico. A reportagem questionou o Palácio do Planalto sobre os apontamentos listados na representação da Avico. Porém, não houve respostas até a conclusão deste texto.

'Não aguentava mais a falta de ar'
Em novembro passado, Bernardes enfrentou uma batalha pela vida em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital de Porto Alegre (RS). Após ser diagnosticado com a covid-19, exames apontaram que 25% de seus pulmões haviam sido afetados pela doença. Ele foi internado em 23 de novembro. Nos dias seguintes, o quadro de saúde do advogado piorou cada vez mais. "Chegou um momento em que não conseguia nem segurar o meu celular ou comer. Além disso, sentia uma falta de ar tão grande que nem conseguia dormir", relata o advogado. "Cheguei a falar para um médico que se não fizessem nada, iria desistir porque não aguentava mais a falta de ar", diz Bernardes à BBC News Brasil.

Os médicos decidiram que o advogado deveria ser intubado. Minutos antes, ele se despediu da irmã, que era o principal apoio dele naquele momento, em uma videochamada. "Foi horrível ter me despedido da minha irmã. Disse que não sabia se iria me recuperar, pedi para ela ficar bem e cuidar dos meus sobrinhos", conta. Ele, que se considera uma pessoa saudável e sem fatores de risco para agravar a covid-19, chegou a ser desenganado pelos médicos. Após complicações, o advogado conseguiu melhorar e passou pelo procedimento de retirada do tubo, após 10 dias de intubação.

Bernardes ficou quase um mês internado. Em 20 de dezembro, ele recebeu alta hospitalar e passou a lidar com as complicações deixadas pela covid-19. "Tive lapso de memória, não reconhecia meu corpo, tive dores nas articulações, taquicardia e precisei reaprender a andar. Fiquei na casa da minha família e recebi apoio para evoluir", comenta.

Enquanto Bernardes enfrentava o período de recuperação em casa, uma amiga dele, a assistente social Paola Falceta, começava a viver a fase mais difícil de sua vida.  No fim de janeiro, a mãe de Paola, Italira Falceta, de 81 anos, foi internada em um hospital público de Porto Alegre para passar por uma cirurgia cardiovascular.

Após o procedimento cirúrgico, a idosa foi encaminhada para um quarto coletivo na unidade de saúde para se recuperar. A assistente social acredita que foi justamente nesse período que a mãe foi infectada pelo novo coronavírus. "Um dos médicos testou positivo. Depois, escutamos vários outros casos de pessoas que também tinham testado positivo ali. E a minha mãe acabou pegando o coronavírus também", relata Paola.

A assistente social, que passou alguns dias junto com a mãe após a cirurgia, também testou positivo para a covid-19, assim como a irmã dela e um sobrinho. Os três tiveram sintomas, mas se recuperaram. Já Italira não resistiu às complicações da doença. Paola relata que os últimos dias de vida da mãe foram traumáticos. Na época, início de fevereiro, a região Sul do país começava a enfrentar o pior período da pandemia. Italira passou semanas em um quarto de isolamento na unidade de saúde. Não havia vaga em UTI para a idosa, em razão da sobrecarga no sistema de saúde no período.

Paola conta que os médicos disseram que dificilmente Italira sobreviveria às complicações da covid-19. Isso porque, segundo ela, os profissionais de saúde disseram que a situação da idosa era grave por causa da idade dela, por ela ter doença pulmonar obstrutiva crônica e em razão da saúde fragilizada porque ainda se recuperava da cirurgia. Os médicos avaliaram que ela não era elegível para ser intubada. "Falaram que havia um monte de gente precisando (de intubação) e, provavelmente, ela morreria. Eles acabam escolhendo pacientes que têm melhores condições de ser intubados e sobreviver", relata Paola. "Perguntaram para a gente se mesmo assim a gente queria (que ela fosse intubada) e a gente disse que sim, mas mesmo assim não ocorreu. O hospital é ótimo, o problema foi a lotação e a disputa de vida ou morte por causa do colapso da saúde. Isso foi bem nos dias em que houve colapso da saúde em Porto Alegre", acrescenta.

Após semanas, a idosa deixou o isolamento e foi encaminhada para outro quarto, pois foi constatado que ela não estava mais com o coronavírus. Nesse período, diz Paola, Italira já estava extremamente debilitada pelas complicações da covid-19 e os médicos disseram que ela sobreviveria poucos dias. No novo quarto, Paola acompanhou a mãe na noite de 1º de março. Na data, ela ajudou a dar banho em Italira e se emocionou com o quanto a mãe estava fragilizada. Horas depois, na madrugada de 2 de março, a equipe médica constatou que a idosa não tinha mais os sinais vitais. "Aquilo foi horrível. Primeiro uma técnica de enfermagem viu a situação da minha mãe, depois chamou a chefe da enfermagem. Por fim, dois residentes chegaram e confirmaram que ela havia morrido. Foi a pior cena da minha vida", relembra.

Cerca de duas semanas antes da morte da idosa, o pai de Paola, de 82 anos, foi vacinado contra a covid-19. O idoso não havia tido contato com Italira durante a internação dela, pois os filhos evitaram que ele se expusesse ao vírus. Caso a vacinação no Brasil tivesse começado antes e fosse mais rápida, acredita Paola, os pais poderiam ser imunizados antes da cirurgia de Italira. "E ela estaria com a gente até agora", diz a assistente social.

A Avico
A morte da mãe motivou Paola a buscar uma forma de responsabilizar autoridades pela conduta na pandemia no Brasil, que atualmente tem mais de 500 mil mortes pela covid-19. "10 dias depois da morte dela, percebi que precisava fazer algo. Estava muito incomodada com o que estava acontecendo", diz.

Ela conta que decidiu procurar algumas pessoas em busca de ajuda até que se lembrou que Bernardes havia sido intubado meses antes. No passado, os dois haviam atuado juntos em organizações não governamentais (ONGs) de Porto Alegre."Várias pessoas me desencorajaram. Mas quando falei com o Gustavo sobre (a possibilidade de fazer algo pelas vítimas ou familiares de vítimas da covid-19), ele me falou sobre a possibilidade de montar uma associação", lembra Paola.

Bernardes também estava incomodado com a situação da pandemia no Brasil e tinha vontade de fazer algo em relação ao tema, após o período em que passou no hospital. Ele diz que a conversa com Paola o motivou a pensar em alguma iniciativa para responsabilizar autoridades brasileiras que tenham adotado medidas equivocadas durante a pandemia. A ideia de criar a Avico surgiu após o advogado assistir a um documentário sobre a "Noi Denunceremo" (em português "Nós denunciaremos"), uma associação italiana na qual parentes de vítimas e sobreviventes da covid-19 cobram o governo local sobre omissões e ações equivocadas no enfrentamento à pandemia.

A "Noi Denunceremo" começou como um grupo de Facebook em março de 2020, no qual italianos compartilhavam as histórias de familiares vítimas da covid-19. Diante de diversos relatos de negligência de autoridades, os responsáveis pelo grupo decidiram transformá-lo em uma instituição sem fins lucrativos, que passou a coletar histórias para que elas se tornassem queixas formais ao Ministério Público.  Assim como a associação italiana, Bernardes e Paola também consideram que o principal objetivo da Avico é apoiar familiares ou as próprias vítimas da covid-19 e responsabilizar gestores que não adotaram medidas adequadas no combate à pandemia. "Fizemos uma reunião com mais três pessoas que enfrentaram a covid-19 e também participaram, no passado, da militância do movimento ligado à aids. Discutimos um estatuto e divulgamos nas redes no fim de março", relata Bernardes.

Dias depois, conta o advogado, já havia mais de 20 pessoas de diferentes lugares do país interessadas em ajudar a associação. Em 8 de abril, fizeram a assembleia de fundação da Avico. "A gente não achava que tivesse tanta repercussão, mas saiu na mídia de todo o país e fomos procurados por muita gente querendo algum tipo de orientação", diz o advogado. Segundo Paola, que é vice-presidente da Avico, há 17 pessoas, incluindo ela e Bernardes, que são consideradas fundadoras da associação. Além disso, atualmente há 125 membros de diferentes regiões do país, sendo que 45 são familiares de vítimas da covid-19 e os demais são voluntários. De acordo com a assistente social, há 210 inscrições na fila de espera para participar da associação.

A iniciativa tem dado apoio aos seus membros por meio dos voluntários. "Temos grupos virtuais que dão suporte às pessoas", explica Bernardes. Ele conta que há diversos grupos, como para suporte ao luto, para apoio jurídico, para iniciativas solidárias, para acompanhar crianças e adolescentes que perderam parentes ou foram afetados pela covid-19 e para questões relacionadas às vacinas. Há algumas semanas, a Avico deu entrada no registro do CNPJ — ainda não há prazo para a conclusão do procedimento. O cadastro será fundamental para ações futuras da associação, como para mover ações judiciais ou para receber apoio financeiro de seus associados.

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O primeiro item citado na representação é a "ineficiência na condução da vacinação". O documento menciona que por diversas vezes Bolsonaro se posicionou contra a obrigatoriedade da vacinação, por meio de sucessivas declarações sobre o tema, como quando questionou a eficácia da CoronaVac por ser uma vacina "da China".

[nos parece que o senhor Bernardes  não pode alegar no seu caso uma suposta 'ineficiência na condução da vacinação', visto que ele foi internado em 23 de novembro e as primeiras vacinas começaram a ser aplicadas no mundo - começando pelo Reino Unido - nos primeiros dias de dezembro,  assim o governo federal não tem nenhuma responsabilidade pela não vacinação daquele advogado. 
A senhora Italira Falceta, dificilmente teria sido alcançada pelos beneficios da vacina, dado que o Reino Unido começou primeiro, exatamente por ser sede da farmacêutica produtora do imunizante utilizado - sendo impossível a sua vacinação nos primeiros dias de janeiro passado.]

Ainda sobre o item, a representação cita que o governo federal "apostou em poucas vacinas" e faltou planejamento para a imunização no país. Outro apontamento é de que o Ministério da Saúde falhou em campanhas eficientes para esclarecer à população sobre a necessidade da máxima cobertura vacinal para eficiência do controle da doença.

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sexta-feira, 5 de março de 2021

Brasil é 'racista' e parece executar 'indesejados' com conivência da Justiça, diz Comissão Interamericana da OEA

Racismo e discriminação contra negros, indígenas, mulheres, camponeses, sem-teto e moradores de favelas. Trabalho análogo à escravidão e tráfico de pessoas. Presos, migrantes e LGBTs em risco. Insegurança, crime organizado, milícias, facções e uma recorrente resposta violenta do Estado. Impunidade e ataques à liberdade de expressão e de imprensa.

[Só estamos publicando essa matéria em respeito ao direito de informação de nossos leitores.
A credibilidade desses comitês, comissões, da OEA não é das melhores - certamente,muitos lembrarão que em 2018, o criminoso multicondenado Lula da Silva, foi apoiado por um relatório de uma comissão que propunha sua libertação, alegando irregularidades processuais.
O relatório do tal comitê, chamado por grande parte da mídia de 'comitê de boteco' era tão incoerente que o assunto foi desconsiderado.
O relatório aqui transcrito fornece informações truncadas, algumas contraditórias - ora acusa a polícia e em outros trechos o judiciário. 
Não pode ser olvidado que  em 2022, finalmente, acaba a nefasta política de cotas raciais e já começa um movimento em prol da prorrogação daquela política que tanto mal tem causado ao MÉRITO. E um dos principais instrumentos para tentar manter o INJUSTO e DISCRIMINATÓRIO sistema de cotas, ainda vigente, é levar para o lado do racismo, tudo que envolva afrodescendentes, indígenas, homofobia, etc.]

Estes e outros assuntos são explorados em mais de 200 páginas de um duro relatório recém-enviado ao governo brasileiro pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos), principal órgão multilateral dedicado ao tema em todo o continente. Feito com "o objetivo de aferir os principais desafios aos direitos humanos no país", o documento, ao qual a BBC News Brasil teve acesso, registra centenas de falhas do Estado brasileiro, seja por "omissão, ineficiência ou ação direta de governos" - caso, por exemplo, de episódios confirmados de mortes e impunidade ligados à violência policial em todo o país.

Só em 2019, 6.357 pessoas foram mortas por policiais no Brasil - o maior patamar desde o início dos levantamentos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2013. A título de comparação, a letalidade policial foi 5 vezes maior no Brasil do que nos EUA no mesmo ano.Em um dos momentos mais veementes do texto, a Comissão diz que a violência policial e o racismo poderiam indicar um "sistema estruturado de violência e execução de pessoas 'indesejadas' na sociedade brasileira", que contaria com a proteção da Justiça, por meio da impunidade.

O conteúdo do relatório é especialmente enfático em relação ao racismo, à discriminação e à violência de gênero no Brasil, descritos como motores de um ciclo histórico e perverso de desigualdade, pobreza e crimes. O texto, por outro lado, "reconhece que o Brasil possui um Estado de Direito baseado em sólidas instituições democráticas". "Contudo", prossegue o texto, "faz um alerta de que, recentemente, esse sistema vem enfrentando desafios e retrocessos". Procurado pela BBC News Brasil, o governo brasileiro, por meio do ministério de Relações Exteriores, informou que deve enviar comentários após a publicação da reportagem. As respostas serão incluídas neste texto.

Bolsonarismo
Braço da OEA responsável por vigiar a garantia de direitos humanos em todo o continente, a Comissão foi criada em 1959 e tem sede em Washington, nos EUA. Entre diferentes atribuições, ela apresenta casos de violações à Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA e atua frente ao tribunal em casos que envolvam crimes cometidos por Estados.Sem citar nominalmente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o texto frisa que a facilitação promovida pelo atual governo no acesso a armas de fogo será incapaz de conter ou reduzir a violência.

Ao contrário, segundo o órgão, a política armamentista deve aumentar a criminalidade, além de "minar a confiança dos cidadãos em relação ao Estado e aprofundar fissuras históricas do tecido social".

Discriminação em polícias e tribunais
O relatório critica a atuação de policiais em operações envolvendo negros, mulheres e minorias ao citar índices desproporcionais de violência contra estes grupos.
"A CIDH observa que o país tem tido grande dificuldade em assegurar o direito à segurança cidadã a um amplo contingente da sua população", diz o texto."As pessoas afrodescendentes, especialmente jovens do sexo masculino e de origem familiar pobre, figuram como vítimas preponderantes de atos de violência letal intencional, grande parte dos quais são cometidos em contexto de ação policial."

Na opinião da Comissão, "há um alto índice de impunidade desses crimes, o que, em intersecção com a discriminação estrutural, consolidam um diagnóstico de racismo institucional" no país.O texto ressalta que a "polícia brasileira é uma das mais letais no mundo, bem como a que mais tem profissionais assassinados", e aponta um processo nocivo "de militarização da segurança pública, que, por sua vez, acaba por consolidar uma lógica da guerra nos centros urbanos e rurais".

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos vai além e destaca o papel da Justiça neste processo. "Tal desigualdade é reproduzida ou mesmo ampliada pela atuação do sistema de Justiça criminal: por um lado, é crônica a impunidade dos crimes cometidos contra essas populações mais vulneráveis; e, por outro, é desproporcional o impacto do aparato repressivo do Estado contra essas mesmas populações." Ainda segundo o órgão, "permanecendo impunes, tais violações cometidas por agentes de segurança pública atingem um caráter estrutural, sistemático e generalizado em todo o país."

BBC News Brasil, MATÉRIA COMPLETA 

 

sábado, 12 de dezembro de 2020

Governador ou presidente: quem é responsável pela vacinação dos brasileiros contra a covid-19?

Nas últimas semanas, a compra de vacinas contra o coronavírus se tornou o principal ponto de tensão entre governadores de Estados e o Palácio do Planalto. 

No começo da semana, o governo de São Paulo anunciou que iniciaria a vacinação da população contra o novo coronavírus em 25 de janeiro — o anúncio foi feito antes mesmo de o governo federal lançar a versão final do seu plano de imunizações.

Em resposta, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom) publicou nota afirmando ser "populismo barato e irresponsável" anunciar a vacinação antes do imunizante ser liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — a vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, ainda não obteve o registro da agência. https://twitter.com/secomvc/status/1336392313216577536

Na manhã desta terça-feira (08), o governador tucano de São Paulo, João Doria, e o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, trocaram altercações durante uma reunião entre governadores e o ministro para tratar do processo de compra de vacinas contra a Covid-19. "O que difere privilegiar duas vacinas em detrimento de outra?", perguntou Doria. "É uma questão ideológica, política ou falta de interesse em disponibilizar mais vacinas?", criticou ele, acusando o governo federal de não ter investido na vacina do Instituto Butantan por causa de um preconceito do presidente Jair Bolsonaro.

Em outubro, Bolsonaro disse que não compraria a vacina do Butantan por ser ela desenvolvida em parceria com o laboratório chinês Sinovac. "A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população", disse o presidente — semanas mais tarde, Bolsonaro recuou e disse que o governo federal poderia sim comprar a vacina CoronaVac, caso ela se mostre segura.

Após a reunião com Pazuello, outros governadores também emitiram opiniões sobre o assunto.O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), disse que "não terá nenhuma campanha de imunização praticada por qualquer governador", e que a imunização será feita nacionalmente, pelo Ministério da Saúde.
O governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), foi pelo mesmo caminho e disse que os chefes dos Estados pediram ao Ministério da Saúde que lidere o processo de compra das vacinas. "No momento em que tiver uma vacina liberada pela Anvisa, que ela possa chegar de maneira igual para todos os brasileiros, de acordo com a estratégia de grupos prioritários, mas que nenhum brasileiro fique sem a igualdade na oportunidade de estar se vacinando", disse ele a jornalistas após a reunião.

Afinal, quem é responsável pela vacinação dos brasileiros?  
Os Estados podem distribuir uma vacina que ainda não foi liberada pela Anvisa?

A reportagem da BBC News Brasil conversou com especialistas para responder às principais perguntas sobre o assunto.

Quem é responsável pela vacinação dos brasileiros?  
Estados ou o governo federal?
Na gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), as responsabilidades são compartilhadas entre a União, os Estados e os municípios. O hospital de uma universidade federal, por exemplo, é mantido com dinheiro federal, enquanto o posto de saúde do bairro é bancado com recursos municipais.

No caso das vacinas, porém, a responsabilidade é da União.
O Brasil conta com um Programa Nacional de Imunizações, criado ainda antes do SUS, em 1975, e cuja responsabilidade é do governo federal. A compra e a distribuição de vacinas são de responsabilidade do governo federal, diz Florentino Leônidas, sanitarista pela Universidade de Brasília (UnB) e especialista em políticas públicas pelo Insper (SP).

Na prática, porém, órgãos estaduais acabam participando do processo: o Instituto Butantan, [o Instituto Butantan está instalado no estado de São Paulo, mas não é propriedade daquele Estado.] que pertence ao governo do Estado de São Paulo, por exemplo, é responsável pela produção de uma parte significativa das vacinas que são distribuídas pelo Programa Nacional de Imunizações. "Metade das vacinas que o governo federal compra são produzidas pelo Butantan. Isso já existe. As vacinas que o governo federal distribui para outros Estados são produzidas por alguns poucos centros: Manguinhos (ligado à Fiocruz), Butantan, e poucos outros", diz Daniel Dourado, que é médico pela UnB e advogado pela Universidade de São Paulo (USP). "Se acontecer (a inclusão da CoronaVac no Programa Nacional de Imunizações), o Estado de São Paulo, que é o controlador do Butantan, vai dizer 'olha, eu preciso de recursos federais para produzir mais doses'", diz Dourado — ele se especializou em direito sanitário e políticas públicas de saúde.

Sozinho, o governo de São Paulo não terá condições de vacinar toda a população, diz Florentino Leônidas. Historicamente, o Brasil tem tido sucesso nas campanhas de vacinação ao coordenar esforços entre União, Estados e municípios, diz ele. "O Brasil tem um dos mais importantes programas de imunização do planeta. Temos mostrado, ano após ano, que o caminho é uma atuação com coordenação nacional e pautada em um compromisso dos gestores de todos os entes federados", diz ele. "Campanhas estaduais de vacinação serão insuficientes, acentuarão desigualdades e potencializarão a descoordenação existente em relação à Pandemia da Covid-19. Precisamos de financiamento federal para ter vacina para todos, logística adequada e os insumos necessários", diz Florentino Leônidas.

Um Estado pode restringir a vacinação aos seus próprios moradores?
A resposta curta é: não. "Se o cidadão quiser se deslocar até São Paulo para tomar vacina, nada o impede", diz Daniel Dourado. O que já existiu em outras campanhas de vacinação no passado, diz Daniel Dourado, é a exigência de que a pessoa procure o posto de saúde mais próximo de sua casa, para fins de organização logística.
"O programa de vacinação pode incluir uma referência residencial. Que é assim: você só pode se vacinar no posto de saúde que for referência para a sua área. Mesmo sem ser cadastrado no programa de Saúde da Família, você tem que ir na UBS que fica na área da sua residência. Numa das campanhas de gripe, teve algo parecido. Então o que pode acontecer, eventualmente, é isso", diz Dourado

"Mas legalmente você não pode impedir alguém de ir lá tomar a vacina", diz Dourado.
Independentemente da compra pelo governo federal, o governo de São Paulo já disse que disponibilizará 4 milhões das 46 milhões de doses da CoronaVac para outros Estados — a ideia é que as doses sejam distribuídas para profissionais de saúde. De acordo com o governador paulista João Doria, 11 Estados já mostraram interesse em adquirir as doses: Acre, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Pará, Piauí, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Roraima.

A vacina pode ser distribuída sem autorização da Anvisa?
Normalmente, não. Mas, com a pandemia da covid-19, foram criadas exceções: uma vacina poderá ser liberada para uso no Brasil em até 72 horas, desde que seja aprovada por agências de vigilância sanitária no exterior. [Até o momento, a vacina da Pfizer é a única que foi aprovada pelo FDA o que a credencia para uso emergencial no Brasil = valendo aquele pequeno detalhe, que o 'bolsodoria' e asseclas,insistem em ignorar: - a vacina tem que estar disponível no Brasil.]

"A vacina, ou um medicamento qualquer, para ser liberado, em regra, precisa do registro da Anvisa. Só que 'registro', neste contexto, não é um nome genérico. É um procedimento administrativo específico, e que demora meses, geralmente", diz Daniel Dourado.

Agora, o que se discute é a liberação das vacinas para uso antes da obtenção do registro. "O Congresso aprovou a lei da Covid, que incluiu uma autorização excepcional (para a vacinação antes do registro da Anvisa). (...) Essa autorização, quando sair, vai ser para o país inteiro. Então, quando vier a vacina autorizada pela Anvisa, ela vai ser para o país todo", diz Daniel.

Apesar da aprovação da lei, ainda há controvérsia sobre o tema — tanto que dois deputados de oposição, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Nilto Tatto (PT-SP), [são deputados do 'perda total = pt' e o único objetivo é tumultuar o processo. São adeptos do 'quanto pior, melhor'.]apresentaram um projeto de lei para garantir o uso de vacinas antes da aprovação da Anvisa, desde que o imunizante tenha sido liberado por agências internacionais.

"A 'lei da Covid' obriga a Anvisa a realizar a autorização emergencial de qualquer vacina aprovada pelas agências de regulação japonesa, europeia, americana ou chinesa. E, em caso de não manifestação da Anvisa, em 72 horas estas vacinas seriam automaticamente aprovadas",
diz Florentino.

Além disso, a própria Anvisa já publicou duas resoluções com as regras para permitir o uso emergencial de vacinas. A última destas resoluções foi publicada nesta quinta-feira (10).

A vacinação corre o risco de ser judicializada?
Sim. Na verdade, já existem processos tramitando no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o assunto — o que não impede que haja uma nova onda de casos judiciais, no futuro.

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"Acredito que no STF pode parar algumas questões: a omissão do governo federal na oferta de vacinas; a ausência de vacinas em quantidade suficiente; o financiamento do SUS em 2021; potenciais critérios de priorização; conflitos entre entes da federação e a obrigatoriedade da vacina",
diz.

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