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segunda-feira, 9 de agosto de 2021

Presidente da COP 26 reconhece práticas sustentáveis do agro brasileiro e Brasil recordista em energia renovável

Durante visita a Embrapa Cerrados, o britânico pediu que o Brasil divulgue o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta para o mundo 

Em vídeo publicado no Twitter, Alok Sharma, presidente da Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 26), disse que a tecnologia dos sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta aplicados no Brasil é o tipo de inovação que o mundo precisa. Estou falando aqui da Embrapa Cerrados, nos arredores de Brasília, onde tecnologias inovadoras e de baixo carbono estão ajudando a aumentar a produtividade agrícola brasileira ao evitar o desmatamento prejudicial e criando empregos verdes para os brasileiros”, afirma.

Leia mais: “Tereza Cristina: ‘Agropecuária brasileira é solução para desafios da produção sustentável’”

Durante visita ao centro de pesquisas, Sharma esteve acompanhado por Peter Wilson, embaixador do Reino Unido; por Fernando Camargo, secretário de Desenvolvimento Rural e Inovação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa); por Celso Moretti, presidente da Embrapa; e por Sebastião Pedro da Silva Neto, chefe-geral da Embrapa Cerrados.

O britânico, que irá presidir a Cop 26 em outubro e novembro deste ano em Glasgow, na Escócia, também pediu “ao Brasil que apresente este trabalho pioneiro e traga outros países para esta jornada”. A fala reconhece as ações realizadas pela agropecuária brasileira e a estratégia do governo federal, por meio do Mapa, para divulgar as técnicas de produção de baixa emissão de carbono do país.

Brasil atinge dezena de recordes na produção de energia renovável
Pela primeira vez, força gerada pelos ventos foi capaz de abastecer 102% da Região Nordeste durante 24 horas. O Brasil bateu dez recordes de produção de energia de fontes renováveis na Região Nordeste no último mês. Os dados foram divulgados nesta segunda-feira, 9, pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Foram quatro recordes de geração eólica média e quatro de geração instantânea, além de dois recordes de energia solar.

Leia mais: “Termoelétricas de biomassa podem fazer ofertas adicionais de energia”

O Ministério de Minas e Energia destacou o índice registrado em 22 de julho, quando, pela primeira vez, a força gerada pelos ventos foi capaz de abastecer 102% da Região Nordeste durante 24 horas. Só naquele dia foram produzidos mais de 11 mil megawatts médios de energia eólica. De acordo com o ONS, esse tipo de energia hoje representa 10,9% da matriz elétrica brasileira, e a expectativa é que chegue a 13,6% ao fim de 2025.

Já em 30 de julho, foi registrado o novo recorde de geração de energia solar, com o acúmulo de 682 megawatts médios em apenas 24 horas. Essa quantidade corresponde a 5,8% da demanda da Região Nordeste. Atualmente, a energia solar representa 2% da matriz nacional, com expectativa de atingir 2,9% até o fim deste ano.

Com informações da Agência Brasil

 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Brasil está no alvo do novo imposto verde da Europa e dos EUA José Casado

VEJA

Decisões de tributação de produtos importados de países sem políticas ambientais restritivas deixa exportadores preocupados com a vulnerabilidade brasileira. 

Empresas de comércio exterior, bancos e indústrias têm relatado ao governo e ao Congresso sua crescente preocupação com decisões dos Estados Unidos e da União Europeia de avançar na tributação extra de produtos importados de países sem políticas ambientais restritivas.

Há duas semanas, os europeus definiram um plano (“Mecanismo de Ajuste de Fronteira”) com previsão inicial de impostos sobre empresas estrangeiras fornecedoras de commodities como petróleo, gás e carvão, e produtos cuja fabricação é intensiva na emissão de poluentes, como aço, alumínio, concreto e fertilizantes, entre outros.

O objetivo é proteger os fabricantes domésticos em transição tecnológica para cortar emissões de poluentes, principalmente o dióxido de carbono (CO2), um gás liquefeito, incolor, inodoro, não inflamável, levemente ácido, mais pesado que o ar e é solúvel em água. Eles disputam mercado com importadores de produtos adquiridos em países que não adotam restrições ambientais equivalentes às da União Europeia. Nas palavras de Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, “o princípio é simples: a emissão de CO2 deve ter um preço, um preço que incentive consumidores, produtores e inovadores a escolher as tecnologias limpas, a ir em direção a produtos limpos e sustentáveis.”

Os Estados Unidos resolveram avançar na mesma direção. Semana passada, com aval da Casa Branca, o Partido Democrata apresentou um esboço de legislação para arrecadar US$ 16 bilhões por ano com um imposto verde sobre importações da China, Brasil e outros países que não estariam agindo com eficácia para reduzir emissões de poluentes que contribuem para o aquecimento global.[dois aspectos a considerar: 1) a China deve estar ardendo em preocupação com esse imposto; 2) os autores da ideia esquecem que o preço final do produto - incluindo custo de produção, transporte, impostos, lucros, se somam e produz o preço final que é bancado pelo consumidor final - que com certeza não é o Brasil,nem a China. Até a mudança tecnológico pretendida (parágrafo adiante) os habitantes dos países impostores (EUA,União Européia e outros) vão ter maiores despesas. Imposto subiu = custo final mais alto = produto mais caro para o consumidor final.]

Como no caso europeu, essa nova tributação nas fronteiras equivaleria aos custos assumidos pelas empresas americanas na mudança tecnológica prevista em regulamentações federais e estaduais para diminuição das emissões de gases de efeito estufa na queima de combustíveis fósseis. Inicialmente, seria aplicável a 12% das importações realizadas pelos EUA.

A previsão é de aprovação do imposto ainda neste ano, dentro do novo orçamento, para cobrança já a partir de 2024. Em tese, a maioria parlamentar democrata pode fazer isso acontecer até novembro, antes da Conferência do Clima na Escócia, promovida pela ONU. Cerca de duas centenas de nações, inclusive o Brasil, subscreveram o Acordo de Paris, em 2015, concordando em cortar as respectivas emissões de poluentes. Mas não há uniformidade em critérios, nem nos prazos.

Essas iniciativas europeia e americana tendem a desestabilizar o comércio global baseado nas regras atuais de organismos multilaterais, como a Organização Mundial de Comércio. Além de conveniências políticas domésticas, no aspecto protecionista, não existem parâmetros comuns definidos para se determinar um preço do carbono por cada produto-alvo de um imposto verde.

É parte do jogo de pressões da Europa e dos EUA para induzir países como a China a acelerar sua política de redução de gases de efeito estufa, o que resultaria em aumento de custos na mudança tecnológica de toda a base produtiva. O Brasil pode ser considerado alvo secundário, mas não menos relevante por causa dos sucessivos recordes de devastação florestal na Amazônia — 51% de aumento na área desmatada (8,3 mil km2) nos últimos 11 meses, segundo dados oficiais. O país já foi um protagonista do acordo climático global, agora é percebido como vilão ambiental.

José Casado, jornalista - Blog VEJA 


 

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Acreditar em sexo biológico se tornou um crime? Joana Williams, da Spiked

Foto: Shutterstock 
 

Essa é a única explicação possível para o que aconteceu com Lisa Keogh, estudante de direito na Universidade Abertay, em Dundee, na Escócia. No momento, Keogh está enfrentando um processo disciplinar e possível expulsão do curso. Seu crime? Ela cometeu uma transgressão. Ousou questionar um ponto central da ideologia progressista — que o sexo não passa de um rótulo arbitrariamente atribuído no nascimento e que a autodeclaração de gênero é o mais importante.

Keogh está sendo investigada por afirmar, durante um seminário sobre estudos de gênero, feminismo e direito, que as mulheres têm vagina e não são fisicamente tão fortes quanto os homens. Ela disse ao The Times: “Eu não pretendia ofender ninguém. Estava participando de um debate e apresentei minhas opiniões sinceras. Fui agredida e xingada por outros estudantes, que me disseram que eu era uma ‘típica garota branca e cis’”. Por causa dessa blasfêmia, a ambição de Keogh de se tornar advogada pode estar arruinada.

Submeter uma aluna a processo disciplinar por comentários como esse faz pouco sentido do ponto de vista educacional. Ela disse algo falso? Supostamente, a universidade pode chamar os professores de biologia para arbitrar e, no processo, ensinar um pouco de ciência aos estudantes. Ou foi o fato de que ela disse algo não aceito pela doutrina progressista corrente? Muitas feministas radicais também acreditam que mulheres têm vagina e que as diferenças entre os sexos são reais. Então toda uma linha de pensamento feminista foi banida pelo que se entende hoje por estudos de gênero e feminismo? O governo lançou diversas investigações sobre a legislação relacionada ao reconhecimento de gênero. Então os estudantes de direito agora estão impedidos de discutir essas importantes questões legais?

Qualquer professor digno do cargo teria usado os comentários de Keogh como oportunidade para ensinar. Ela levantou pontos importantes para uma discussão que permitiria que a sala toda aprendesse mais sobre ciência, teoria feminista e direito. Em vez disso, a aluna está sendo investigada por seus comentários “ofensivos e preconceituosos”, e também por discordar de colegas de classe sobre o uso de “generalizações redutoras”, como “todos os homens são estupradores”. De novo, que ótima oportunidade para demonstrar a importância da clareza linguística ao discutir a lei.

As faculdades policiam o que pode e o que não pode ser dito em palestras e seminários

Estudantes de direito que se encolhem diante de argumentos discordantes levarão um susto enorme quando confrontados com a realidade de um tribunal adverso. Se eles consideram algumas palavras ofensivas demais para ser utilizadas, não vão conseguir lidar com os crimes reais que as pessoas que aparecem nos tribunais são acusadas de cometer. 
Se os estudantes não conseguem discutir a possibilidade de os homens serem mais fortes do que as mulheres na segurança de um seminário acadêmico, como vão lidar com os detalhes gráficos de um assassinato ou um estupro num tribunal?

O debate deveria estar no centro do ensino superior. Keogh sabe disso melhor que seus professores. “Você precisa ser capaz de expressar opiniões divergentes; caso contrário, não é um debate”, diz ela. Mas na universidade descolada a discordância é proibida. Espera-se que os estudantes entrem na linha ou fiquem quietos. Durante um seminário, que foi realizado por Zoom, o palestrante responsável supostamente cortou o microfone de Keogh e a impediu de participar. Quando é tão fácil silenciar os estudantes, não constitui surpresa que tão poucos professores estejam exigindo um retorno às aulas presenciais.

As universidades estão menos preocupadas com o ensino superior e mais com a doutrinação dos alunos na ideologia progressista. Os estudantes são submetidos a aulas de consentimento, treinamentos sobre diversidade e códigos disciplinares que policiam o que pode e o que não pode ser dito em palestras e seminários. Os alunos podem sair da universidade tendo lido pouco, discutido menos ainda e incapazes de formular um pensamento crítico. Mas serão fluentes no vocabulário descolado que muda o tempo todo e saberão exatamente que expressões usar para cancelar os blasfemadores.

Talvez essa fosse a lição. A definição da Universidade Abertay de conduta imprópria inclui “uso de linguagem ofensiva” e “discriminação de questões de identidade de gênero”.  
Essa linguagem repete boa parte da legislação nacional sobre a Lei de Igualdade, o registro dos incidentes de ódio que não são crimes e a Lei de Comunicações Maliciosas. 
A definição generalizante de “ofensivo” também se reflete em locais de trabalho pelo país. Ao silenciar e investigar Lisa Keogh, tragicamente, a Universidade Abertay está fazendo exatamente o que instituições de ensino superior em toda parte parecem considerar seu papel principal: preparar jovens adultos para um local de trabalho em que relacionamentos pessoais e profissionais sejam estabelecidos com base nos códigos progressistas. No processo, os estudantes sob seus cuidados estão se tornando não liberais, intolerantes e ignorantes.

Para o bem de todos, precisamos que as universidades acordem para a importância da liberdade acadêmica, para que elas não doutrinem outra geração para a visão de mundo descolada.

Leia também “Universidades sob o comando de tolos militantes”


Joanna Williams é colunista da Spiked e diretora da Cieo, onde publicou recentemente How Woke Conquered the World.

Transcrito da Revista Oeste

 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Adeus, União Europeia - Nas entrelinhas

“É a primeira vez que alguém abandona o bloco econômico, interrompendo o processo de construção de uma ‘casa comum’ na Europa, que parecia irreversível, depois do fim da URSS”

Dominada pelos conservadores, a Câmara dos Comuns aprovou, ontem, a saída definitiva do Reino Unido da União Europeia, depois de três anos de impasses, desde a aprovação do Brexit no plebiscito de 24 de junho de 2016. Sob a liderança do primeiro-ministro Boris Johnson, o Partido Conservador garantiu a aprovação do afastamento, que obteve 330 votos, contra os 231 da oposição, liderada pelo Partido Trabalhista. O texto depende ainda do endosso da Câmara dos Lordes para ter a assinatura da rainha, o que deve ocorrer na próxima semana. O Brexit deverá ser ratificado também pelo Parlamento Europeu, em sessão marcada para 29 de janeiro, dois dias antes do prazo final para a saída do bloco.

Há três anos, o adeus britânico à União Europeia surpreendeu o mundo, pois ninguém esperava que o nacionalismo emergisse no Reino Unido com força tão avassaladora, a começar pelo então primeiro-ministro David Cameron, que havia convocado o plebiscito. Líder do partido conservador, fez intensa campanha contra o Brexit, mas foi derrotado de forma surpreendente e acabou tendo que renunciar ao cargo. Foi sucedido por Teresa May, também do Partido Conservador, que acabou renunciado por outro motivo: a maioria dos deputados rejeitou suas propostas de acordo por três vezes. Foi sucedida por Boris Jonhson, que virou a mesa e, nas últimas eleições, conseguiu formar ampla maioria no Parlamento. Brexit é uma junção das palavras em inglês “British” e “exit”, que significa “saída britânica”.

Desde sua criação, em 1993, é a primeira vez que alguém abandona o bloco econômico, interrompendo o processo de construção de uma “casa comum” na Europa, que parecia irreversível, principalmente depois do fim da União Soviética e da derrocada do comunismo no Leste Europeu. A hegemonia da Alemanha e da França nesse processo nunca foi bem digerida pelos britânicos, que foram os grandes artífices do atual processo de globalização, com a política neoliberal da ex-primeira-ministra conservadora Margareth Tatcher.

Economicamente, a retirada será muito traumática no curto prazo para os cidadãos britânicos e europeus. Muitas leis vigentes no Reino Unido perderão a validade. Para evitar “buracos” na legislação, a ex-primeira-ministra Theresa May havia proposto que o Reino Unido absorvesse todas as normas da UE e, após um período de transição, cada uma delas seria avaliada, atualizada ou revogada — mas sem necessariamente consultar o Parlamento. A proposta foi derrotada três vezes, mas agora acabou aprovada por Boris Jonhson, com modificações.

Problemas
Em contrapartida, cerca de 1,3 bilhão de euros deixarão a UE com a saída do Reino Unido, que é um dos três pilares da economia europeia. Agora, a estabilidade da economia europeia dependerá, sobretudo, da Alemanha, porque a França de Macron anda muito convulsionada. O Reino Unido será forçado a pagar uma multa, estimada entre 60 e 100 bilhões de euros, o que também não será muito fácil para os britânicos. A Escócia majoritariamente preferia permanecer na União Europeia e ainda tem o problema da fronteira entre as duas Irlandas, pois a do Norte preferia também permanecer na União Europeia. A Irlanda permanecerá na União Europeia, com uma fronteira de 500km sem aduanas. Durante 30 anos, houve violentos conflitos entre as duas Irlandas.


O Reino Unido tem uma aliança estratégica com os Estados Unidos, em todos os níveis, e mantém fortes laços com a chamada Comunidade Britânica (Commonwealth of Nations), integrada por 53 países, a grande maioria ex-colônias, dos quais 16 ainda reconhecem a rainha Elizabeth II como chefe de Estado, como o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, que são economicamente os mais importantes. Nenhum outro país da União Europeia reúne as mesmas condições para sair do bloco. Mesmo assim, o Brexit fortalece e desperta correntes nacionalistas em todo o continente europeu. O pior desse processo é que essas correntes são muito xenófobas, reagindo fortemente à presença de imigrantes africanos e árabes, o que pode agravar as tensões políticas em vários países, inclusive na Alemanha, onde a primeira-ministra Angela Merkel sempre se destacou pela defesa dos imigrantes e forte oposição às manifestações racistas, de triste memória, devido ao Holocausto.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense

 

sábado, 21 de dezembro de 2019

Até que enfim: Brexit aprovado e Boris Johnson consagrado - VEJA - Mundialista


Por Vilma Gryzinski

Pelo menos até o Natal, com muita boa vontade até o Ano Novo, a vida sorri a quem deu duro para selar o divórcio; depois, vem o choque de realidade


Boris Johnson merece seu momento de glória, Jeremy Corbyn merece ser tripudiado, a rainha Elizabeth merece um descanso – ainda mais agora, com o marido hospitalizado.  Com o espírito de boa vontade que cerca o período natalino – sem contar o recesso geral –, o primeiro-ministro que conseguiu o aparentemente impossível terá um respiro.

Bem curto. Fazer o Parlamento aprovar o acordo de separação com a União Europeia, mesmo com dificuldades internas que pareciam insuperáveis, vai acabar parecendo a parte fácil, com o passar do tempo. E o tempo vai passar muito depressa. Romper as infinitas florestas de regulamentos, empreendimentos comuns e entendimentos comerciais que uniam a Grã-Bretanha à União Europeia é algo que nunca foi feito antes na história. Nem o mais ardente partidário do Brexit pode achar que vai ser fácil.  Aos primeiros resultados negativos – que, inevitavelmente, existirão – e muito antes que os resultados positivos comecem aparecer, as animosidades voltarão a aflorar.

É por isso que ele já se antecipou e prometeu um “Governo do Povo”, no discurso, uma retribuição aos eleitores que abandonaram em massa o Partido Trabalhista e votaram nos conservadores, dando ao partido de Boris a acachapante maioria de 80 parlamentares que destrancou o Brexit. Na prática, significa fazer o que o povo gosta de ver o governo fazer: gastar e gastar mais um pouco, preventivamente, para contrabalançar potenciais impactos do Brexit. Na compreensível embriaguez das vitórias sucessivas, e nada, nada fáceis, o círculo mais ligado ao primeiro-ministro já está falando numa era de dez anos com o conservadorismo renovado no poder.
Aí, evidentemente, mora um dos muitos perigos.

Boris Johnson costumava dizer, antes de virar um conservador populista, que era capaz de recitar, de cor, os cem primeiros versos da Ilíada, em grego, claro para isso servem os estudos clássicos em Oxford.  Conhece, portanto, perfeitamente, o significado profundo de hubris, a palavra grega que mistura o excesso de confiança dos vitoriosos com a arrogância, sempre resultando em tragédia.
Quando Theresa May foi eleita primeira-ministra pelo Partido Conservador e prometeu que ia fazer o Brexit exatamente como o povo havia votado no referendo, convenceu muita gente. Sua popularidade disparou.
Parecia competente, equilibrada, durona, capaz. Na realidade, não foi nada disso, talvez pela dificuldade interna em fazer algo em que não acreditava.

Existe, portanto, um exemplo muito próximo de como popularidade e ventos a favor podem durar pouco, pouquíssimo, em política.
A vitória eleitoral de Boris Johnson reverberou muito além da Grã-Bretanha por colocar em choque dois adversários representativos dos tempos atuais.
Jeremy Corbyn é exatamente o que a esquerda de manual, renascida em Marx, depois da fase de se aproximar do centro e abraçar o racionalismo econômico, hoje deseja.
Só esqueceu de combinar com os eleitores tradicionais do Partido Trabalhista, especialmente os fartos da enrolação do Brexit e com o orgulho nacional ferido pelos desaforos da União Europeia.

Falar em orgulho nacional no bioma esquerdista convencional, obviamente, é tabu. E vale, logo de cara, um “fascista”.
Deu no que deu.
Com cara de ódio mal disfarçado, Jeremy Corbyn ainda se deu ao desfrute de não renunciar imediatamente e acompanhar todos os rituais parlamentares dos últimos dias.
Para piorar, sua falange mais próxima deu de culpados os próprios eleitores – burros, ignorantes, onde foi mesmo que já ouvimos isso – pelo fracasso da liderança do partido.

Ter um trabalhismo enfraquecido apenas amenizará, inicialmente, as dificuldades de Boris, um típico integrante das castas privilegiadas que ainda bebe nas raízes profundas do conservadorismo inglês, mas é antenado com as elites em matéria de comportamento. E ainda tem uma namorada 24 anos mais jovem, a primeira companheira não casada a morar em Downing Street.  Agora, ele vai ter que mostrar serviço em áreas quase conflitantes: comandar o Brexit (e levar a culpa por tudo que não der certo); ser um conservador preocupado com o povão (ou que pareça como tal); aplacar as elites da bolha, os inconformados com o divórcio europeu; reinventar o potencial comercial independente do Reino Unido.
E mantê-lo unido – os independentistas da Escócia saíram reforçados da eleição e os anti-unionistas da Irlanda do Norte também estão loucos para aproveitar a brecha do Brexit.

Ser conseguir, ainda que em parte, terá alguns anos em Downing Street – quantos, é impossível dizer.
E talvez seu discurso cheio de otimismo que a rainha leu no Parlamento tenha sido um dos últimos, ou até o último, do longo reinado de Elizabeth II.
Pelo menos, um final digno.
Já pensaram se a rainha tivesse que ser um discurso preparado pela ala marxista-corbinista?

Blog Mundialista - VEJA - Vilma Gryzinski

segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Supremos tribunais: urubus de toga ou excelsos imparciais? - Veja Mundialista

Por Vilma Gryzinski

Em geral, nem uma coisa nem outra, mas a politização exacerbada prejudica a imagem e as funções dos juízes constitucionais em vários países

Piadinha americana:
“Um juiz dirige-se aos advogados que representam as partes litigantes de uma causa.”
“‘Vejam bem’, diz ele. ‘Ambos os doutores me deram uma propina’. Os advogados fazem expressão constrangida.”
“‘O doutor Leon me deu 15 mil dólares. E o doutor Campos me deu 10 mil dólares’.”
“O juiz põe a mão no bolso e tira um cheque. Entrega-o ao doutor Leon.”
“‘Agora que devolvi cinco mil dólares, vamos decidir a causa puramente com base no mérito jurídico’.”
Isso é coisa de juízes caipiras, claro, lá dos cafundós dos Supremos tribunais e adjacências.
Mas a atuação dos togados das altas esferas, os guardiães dos guardiães, é atualmente debatida com muito mais do que o calor natural provocado pela interpretação da lei e da constituição.

Em lugares bem diferentes, com tradições diversas sobre o papel dos supremos tribunais, como Estados Unidos, Grã-Bretanha e Peru, para não mencionar as chamas que ardem na Praça dos Três Poderes, a chapa ferve. Politização, captura de poderes legislativos, choques com o executivo, entre outros focos de incandescência, fogem espetacularmente da serenidade e da glacial imparcialidade associadas ao peso da toga mais honorável.

O caso do Peru, com a casquinha de institucionalidade e a instabilidade inerentes à América Latina, é quase alucinante. Resumo rapidão: para começar o capítulo atual, tudo está ligado ao modelo de corrupção exportado pela construtora Odebrecht em parceria público-privada com a máquina comandada pelo apenado e influencer de Curitiba.  Como o modelo investigativo e de amplo uso da delação premiada também foi exportado, a Lava Jato peruana capturou todos os presidentes dos últimos vinte anos. Problema: o Congresso tem maioria, numa formidável surpresa, de representantes ligados aos partidos investigados. Tentou uma manobra latina, ou ladina: nomear “gente sua” para as seis vagas do Tribunal Constitucional, que funciona no Peru em sistema rotativo e não vitalício.

Dez dos onze indicados são carne, unha e sabe-se lá que outras partes corporais com os partidos majoritários – fujimoristas e apristas.
Adivinhem qual seria sua missão principal.
O presidente, que era vice, Martín Vizcarra, dissolveu o Congresso e antecipou novas eleições. O Congresso declarou-se não dissolvido e deu posse, no lugar dele, a Mercedes Araóz, que de segunda vice tinha passado a primeira.
Mercedes viu o tamanho da encrenca, “renunciou” e a encrenca ficou do mesmo tamanho. Governo e fujimoristas agora estão negociando eleições antecipadas de comum acordo.

TAPETES LUXURIANTES

(...)
 


Brenda Hale, que tem título de baronesa e faz um estilo a hora do espanto, incluindo broches enormes em formato de insetos, virou ícone da esquerda.
Quase uma Ruth Bader Ginsburg, a juíza que continua incrivelmente viva aos 86 anos e vários cânceres, à qual antitrumpistas mais exaltados oferecem doar órgãos só para não “dar” a Donald Trump mais uma vaga na Suprema Corte americana.
Escrevendo na Spectator, Charles Day disse que a decisão da baronesa Hale, que logo vai deixar o cargo, e companhia foi um “escândalo constitucional”, especialmente num país onde foi gestado o direito anglo-saxão, com tradição de não maximizar o papel de advogados e juízes.

Nos países da linha do direito romano-germânico, ou Civil law, “os advogados são respeitados e os juízes reverenciados. Estão no topo da constituição. Antes do experimento de Tony Blair com uma Suprema Corte, os Lordes Juízes viviam num corredor apertado em cima do Parlamento e dividiam uma secretária.
“Não tinham juízes auxiliares para servi-los nem tapetes luxuriantes para deleitá-los e sabiam que seu lugar era fora da política. É difícil enxergar alguma melhoria com o novo sistema.”

(...)

ATIVISMO JUDICIÁRIO
O sistema de uma Corte Suprema foi criado pela constituição americana, com o conhecido objetivo dos fundadores da nação de equilibrar os três poderes de forma a que todos vigiassem todos justamente para evitar abusos. Desde o início deu confusão. Um dos primeiros processos de impeachment do novo país foi aberto contra um juiz da Suprema Corte, Samuel Chase.

Não um juiz qualquer, mas um dos signatários da Declaração de Independência dos Estados Unidos, nomeado por ninguém menos do que George Washington.
E encrencado com ninguém menos do que Thomas Jefferson, outro pai da pátria.
Motivo: ativismo judiciário. E dos bravos. Chase e colegas entraram em choque com o Congresso e com Jefferson por desejo de aumentar os próprios poderes.
Impulsivo e falastrão, Chase também foi acusado de deturpar politicamente julgamentos importantes. Mesmo com fama nada boa, acabou vencendo no Senado, a instância final dos processos de impeachment.

Foi somente durante algumas décadas que prosperou a ideia de juízes de grande e reconhecido saber jurídico, espetacularmente imparciais, aprovados pelos dois partidos, com zero influência dos presidentes que os haviam indicado para a Suprema Corte, quando não votando “contra” eles. A politização progressiva atingiu o ápice com a última nomeação, a de Brett    Kavannaugh. Acusado de um abuso sexual quando era adolescente, o juiz foi pintado como um monstro brutal pela oposição e a imprensa antitrumpista.

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sábado, 25 de maio de 2019

Com saída de May, dúvida é só sobre o tamanho do desastre no Reino Unido





Theresa May fez o esperado: renunciou ao comando do Partido Conservador, o que implica que vai deixar o cargo de primeira-ministra. Uma coisa implica a outra. A maioria dos veículos de imprensa do Reino Unido e dos analistas políticos afirma que Boris Johnson é favorito para sucedê-la no partido. Sem novas eleições, ele assumiria o país; com elas, se os conservadores vencerem, idem. Ninguém sabe o que pode vir depois. May não conseguiu aprovar o seu plano de saída do Reino Unido da União Europeia e se recusou a pensar na hipótese de um rompimento unilateral. Johnson foi uma das principais vozes em favor do Brexit e anuncia que o desligamento se dará com ou sem acordo. Vamos ver.



Tudo indica que esse caso entrará para a história como exemplo do desastre a que pode conduzir a fantasia nacionalista bocó. Uma maioria apertada fez uma escolha que necessariamente vai encolher o país — encolhimento que tem grande chances de ser também territorial. Abre-se de novo a vereda para um referendo que pode levar à independência da Escócia.



terça-feira, 30 de janeiro de 2018

‘Queridos companheiros’



Lula lamentou não poder reencontrar velhos amigos no fim de semana em Adis Abeba, líderes de dinastias cleptocratas que sustentam longevas ditaduras

Horas depois de ser condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, estava pronto para atravessar o Atlântico e participar de uma reunião sobre... a luta contra a corrupção.  A viagem de dez mil quilômetros à Etiópia (14 horas em voo direto) foi abortada pela Justiça na sexta-feira. “Vejam que absurdo” — contou em vídeo na página do PT. “Eu estava com a mala pronta, quando recebi um recado em casa: um juiz bloqueou o meu passaporte.”


Protestou: “Nós vivemos um momento de ditadura de uma parcela do Poder Judiciário, sobretudo o Poder Judiciário que cuida de uma coisa chamada Operação Lava-Jato, que vocês já devem ter ouvido falar aí na África.”  Lula iria à cúpula da União Africana em Adis Abeba, capital de um país onde o “estado de emergência” é decreto recorrente, e a opinião pública não pode ser expressa nem em particular. Queixou-se por não poder estar com “o querido companheiro” Hailemariam Desalegn, primeiro-ministro etíope, cuja polícia matou mil opositores nos últimos 16 meses e recolheu outros 21 mil a “campos de reabilitação” — informa a Human Rights Watch em relatório deste mês.


Organismo comunitário, a União Africana foi erguida nos anos 90 pelo falecido ditador líbio Muammar Kadafi, na época isolado porque patrocinava atentados como o da bomba num avião da Pan Am, que espalhou 270 cadáveres sobre uma vila da Escócia. Kadafi apoiou Lula na campanha de 2002, segundo o ex-ministro Antonio Palocci, preso em Curitiba. Eleito, Lula foi a Trípoli. 

A visita a Kadafi para “negócios” , como definiu, está contada em livro dos repórteres Leonêncio Nossa e Eduardo Scolese. 

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui



sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Globalismo e Bioética: a desumanização dos serviços públicos de saúde

“A vida que professar será para benefício dos doentes e para o meu próprio bem, nunca para prejuízo deles ou com malévolos propósitos. Mesmo instado, não darei droga mortífera nem a aconselharei; também não darei pessário abortivo às mulheres’’.
Juramento de Hipócrates

Alfie Evans corre o risco de ter o mesmo destino trágico de Charlie Gard.

A pergunta que fazem: Por que tratar um doente dispendioso se é possível matá-lo?
Quantas vezes, no Brasil e no mundo, sob o jugo de um sistema unificado de Saúde, nos deparamos com hospitais mal geridos e postos de saúde burocratizados e sem estrutura, nos quais a medicina é colocada sob provas extremas? Quantas vezes, nas últimas décadas, não nos defrontamos com situações limítrofes, nas quais a dor causada pelo indiferença criminosa e pelos e maus tratos, notórios pela evidente negligência do Estado, se contrapoem aos princípios inspiradores de Hipócrates, o pai da medicina ocidental? Quantas vezes, no decorrer destes sombrios anos que marcam a escalada do socialismo, assistimos a morte ser exaltada em detrimento da vida, por parte de defensores de supostos “direitos humanos”, por meio de cânticos carregados de traição àqueles a quem juram salvaguardar e proteger?


Densas razões estratégicas de longo prazo
É a demografia, estúpido, a única questão importante. A Europa no final do século será um continente depois da bomba de nêutron. As grandes construções ainda estarão lá, mas as pessoas que as fizeram terão desaparecido”.
Mark Steyn, analista político canadense.


O National Health Service (NHS), o sistema de saúde britânico, maior sistema público de saúde e o mais antigo do mundo, é designado pelos globalistas como ‘’a solução da saúde para o mundo’’. Implantado no Reino Unido, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, chegou a ser homenageado de forma enigmática na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, no verão de 2012.  Ele forma a base dos cuidados médicos do Reino Unido. É interessante observar que os NHS foram criados por legislações separadas e começaram a funcionar em 5 de julho de 1948, logo após a Segunda Guerra Mundial. Seu slogan é : “Somos o Número Um”. ( “NHS ranked ‘number one’ health system”). Conforme o atual secretário de saúde da Inglaterra, Jeremy Hunt, “é motivo de orgulho e seu modelo é “classificado como o melhor sistema de saúde dentre 11 países ricos”. Para Hunt, “esse resultado excelente é um testemunho da dedicação da equipe do NHS. ”

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Doentes graves acumulam-se em filas intermináveis sem receber tratamento. Em certa ocasião, Paul Corriggnan, secretário do então primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, declarou que para o NHS corrigir  seus problemas agudos no tratamento de doenças crônicas, teria que contratar serviços externos, algo tão grandioso (ou seja impossível), segundo ele, e que seria notado por todos. Sem recursos suficientes, os tratamentos não estão sendo  realizados. Uma suposta correção para o problema, que foi a pauta de intensas discussões, e que parece ter sido implementada, foi disposta por meio três ações necessárias. Primeira, financiamento; segunda: hospitais eficientes e dedicados a tratar especialidades; terceira, e a mais crítica: reduzir a procura de tratamentos desnecessários, através de uma melhoria da saúde pública unida a cuidados individuais.
 
Passados quase um ano das supostas soluções apresentadas e perante os casos gritantes dos bebês ingleses (Charlie Gard e Alfie Evans, entre outros, que foram abandonados em hospitais sem receber tratamento algum), a verdade veio à tona.

Ao analisarmos o histórico ocorrido com Charlie Grad, torna-se patente que o NHS optou por reduzir essa “terceira ação”. Sobretudo no sentido de abandonar todo e qualquer investimento em pesquisa, medicina experimental, e o caminho do progresso científico. Por motivos econômicos, optou por designar todos seus doentes crônicos como desnecessários.
Kate Andrews, do Instituto Economic Affairs, expressou, publicamente: “O NHS está longe de ser a inveja do mundo”; “não são apenas aos trabalhadores pobres que recebem cuidados precários; a provisão de cuidados do NHS é igualmente precária para todos, independentemente da renda”.
A verdade é que o Reino Unido tem uma das taxas mais elevadas de mortes evitáveis ​​na Europa Ocidental e dezenas de milhares de vidas poderiam ser salvas a cada ano se os pacientes do NHS em condições graves fossem tratados por sistemas de seguro social de saúde em outros países, ou ainda em cooperação mútua.

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