Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador anticorpos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador anticorpos. Mostrar todas as postagens

sábado, 19 de dezembro de 2020

Quem vai pagar a conta? - O Globo

Ascânio Seleme 

Quem pagará a conta de quem se negar a tomar vacina contra Covid?

Custos serão altos, mas ainda mais grave é o número assustador de mortes que a doença continuará produzindo, por causa e entre os negacionistas

Não se preocupe, se você se vacinar direitinho, tomar as duas doses como recomendado, não vai ser infectado por negacionistas, seja um vizinho, um parente, um amigo ou um desconhecido com quem esbarrar na rua. [não pode ser omitidos: e não estiver naquele percentual de ineficácia da vacina.
Calma! somos a favor da vacina e logo que esteja disponível, vamos nos empenhar para receber a imunização. A maior parte do nosso pessoal foi devidamente vacinado contra umas dez moléstias e nunca fomos contraímos nenhuma delas.
O que nos entristece mesmo é que abundam supremas decisões sobre a vacina, são feitas críticas e ameaças contra e a favor e a VACINA NÃO APARECE.
Também sentimos um certo desconforto quando constatamos que milhares e milhares de vidas continuam sendo perdidas para o infarto, AVC, câncer e outras moléstias e parecem valer menos do que as vidas ceifadas pela covid-19.] Você estará imune. Do ponto de vista da sua saúde ou da sua família, não precisa fazer mais nada, embora seja conveniente manter o uso de máscaras por ainda algum tempo. Também não custa nada lavar sempre as mãos com bastante água e sabão. Seu problema será outro e terá natureza financeira. Você vai solidariamente pagar a conta que os que se negaram a tomar a vacina contra a Covid acabarão gerando para os cofres públicos. E ela não será pequena.

Imagine o cenário final, pós-vacinação. Neste momento, 46 milhões de brasileiros, ou 22% da população, não estarão imunizados e continuarão a exercer pressão sobre a rede pública de saúde. [importante: qual a duração do efeito imunizante da vacina? é algo ainda incerto, devido a doença ter menos de um ano e a vacina um ou dois meses. Se o efeito for inferior a dois anos, antes de terminar a vacina de uma fase, outra terá que ser iniciada. Temos que rogar a DEUS para que a imunização seja permanente.] Se hoje os leitos dos hospitais estão quase 100% ocupados por pacientes com Covid, no futuro terão 22% da sua capacidade tomada por pessoas infectadas por uma doença que poderia ser evitada. Quem vai pagar esta conta? Você e eu. Na verdade, este volume pode ser maior, se os planos de saúde corretamente se recusarem a pagar internações hospitalares e remédios de quem se recusou a se vacinar. Se a doença era evitável, os planos vão recorrer e os pacientes com planos poderão acabar na rede pública.

Se a Justiça acabar obrigando os planos de saúde a pagar as contas dos negacionistas, o que sempre é possível, mesmo assim você e eu arcaremos com um custo adicional. Ninguém aqui é bobo, claro que os planos repassarão a conta para toda a sua clientela. Nós.

Haverá ainda outros custos indiretos gerados pelos negacionistas mas que serão arcados por nós. Primeiro, calcule o impacto que terão sobre a cadeia produtiva quando o mundo voltar ao normal. Se uma gripezinha de influenza afasta uma pessoa por dois ou três dias do trabalho, uma infecção pela Covid pode tirar o funcionário por até 14 dias da linha de produção, quando não o afastar definitivamente. Isso tem um custo que as empresas pagam e repassam aos preços dos produtos e serviços que você e eu iremos consumir.

Os não vacinados vão também compor uma nova estatística de morbidade no Brasil. Com a vida de volta ao normal, os 22% de não vacinados serão eventualmente contaminados e muitos vão morrer. Aos números. Mantida a média de 1.000 óbitos por dia, morrerão então 220 negacionistas a cada 24 horas. Em um ano, serão 80 mil. Mais do que os 12 mil que falecem a cada ano por câncer de próstata ou mama, os 44 mil que morrem em razão de doenças hipertensivas ou os 54 mil que são acometidos de diabetes. Trata-se de índice igual ao de mortes por infarto, que também somam 80 mil por ano. [morreram de infarto, AVC e outras doenças vasculares, este ano, de 1 janeiro a 15 outubro 2020, 350.000 brasileiros e o câncer tem que ser somado os vários tipos.

Só a soma das doenças citadas neste parágrafo (excluídos os negacionistas que não se pode estimar quantos serão - ainda não existe tais vítimas e nada garante que vão existir) - ultrapassa em muito as da covid-19. Lembrando que não estão incluídas as de mais de uma dezena de tipos de câncer não citados.]

Sim, há os que já foram infectados e dizem que não vão se vacinar porque já têm anticorpos, como afirma o magnífico Jair Bolsonaro. Estes ignoram a potencialidade da reinfecção ou o surgimento de cepas diferentes que podem lhes acometer. Vejam o caso da gripe influenza, que já exige quatro vacinas diferentes para ser obstruída. Na rede pública, as vacinas aplicadas são as trivalente, que imunizam contra até três variações da doença. Na rede privada já estão sendo aplicadas as tetravalente.

Claro que os custos serão altos, mas ainda mais grave é o número assustador de mortes que a doença continuará produzindo depois da vacinação em massa, por causa e entre os negacionistas. E elas ocorrerão por todos os lados, mas serão maiores nos grotões bolsonaristas. São os seguidores fiéis de Sua Excelência que mais se rebelam contra a vacina. Seguem o líder cegamente, como ratos ao flautista de Hamelin, mesmo que seja em direção ao hospital ou ao cemitério.

Rebanho

O que vai acontecer com aqueles que se recusarem a ser vacinados? 
Certamente perderão alguns direitos, como o de frequentar escolas, academias e clubes. Devem também perder o acesso a bolsas e outros auxílios oficiais, o direito de participar de concursos públicos e de votar. Podem ainda ser proibidos de viajar de avião e ônibus. E também não serão imunizados. Serão apenas parte do rebanho.

Eles erram
Presidentes erram. Sarney errou na economia, mas foi o presidente que avalizou a reabertura democrática. [avalizar a tal reabertura = embrião da 'nova República' = foi um erro maior do que todos os erros que cometeu na economia.]  Collor errou ao confiscar a poupança dos brasileiros e ao permitir que seu contador PC Farias trocasse influência por dinheiro, muito dinheiro. Mas é verdade também que abriu a economia brasileira para o mundo.  

(..........)

O Globo - MATÉRIA COMPLETA - Ascânio Seleme, jornalista



 

domingo, 13 de dezembro de 2020

O que (ainda) não sabemos sobre a vacina - Laryssa Borges

Diário da Vacina - VEJA

Aprendemos muito nas últimas semanas de pandemia, mas existem outras inúmeras perguntas por ora sem respostas

13 de dezembro, 8h03: Faltam pouco mais de 48 horas para eu retornar à clínica onde recebi, ainda em novembro, uma dose da vacina experimental da Janssen-Cilag. Na tarde de terça-feira serei submetida a novos testes de sangue para detectar se já desenvolvi anticorpos contra a Covid-19 ou se, para azar meu, nada mudou e corro o risco de ter tomado placebo. Como voluntária em uma pesquisa científica em busca de um imunizante contra o novo coronavírus, assumi compromissos com os cientistas, como deixar que coletem 52,5 mililitros de sangue (cerca de quatro colheres de sopa) e utilizem essas informações também para pesquisas genéticas futuras – todas relacionadas à Covid.

Aprendemos muito nas últimas semanas de pandemia, e vacinas já estão sendo aplicadas em pessoas no Reino Unido, Rússia, China e, em breve, nos Estados Unidos. Mas existem outras inúmeras perguntas que, por ora, estão sem respostas. Vamos a algumas delas:

  1. A proteção das vacinas: Quando um imunizante anuncia a taxa de eficácia (acima dos 90% nos casos da Sputnik V, Pfizer e Moderna), isso significa que os pesquisadores atingiram um número estatístico (chamei de número mágico no Diário) para mostrar que a vacina é segura e funciona, mas não se sabe por quanto tempo o antígeno garante a imunização. Muitas das pesquisas em busca de vacina se contentam em conseguir que o produto pelo menos diminua a gravidade da doença, e não necessariamente previna que a pessoa seja infectada pelo novo coronavírus.
  2. Idosos e indígenas:    ...........                                               Outro grupo alvo de atenção especial são os idosos e, neste ponto, mais dúvidas: a vacina do consórcio Oxford/AstraZeneca, por exemplo, não conseguiu atestar ainda se o imunizante que desenvolveu é eficaz em outro grupo, o dos idosos.
  3. Tempo de imunização:
  4. Transmissão por vacinados:
  5. Crianças e adolescentes: As vacinas experimentais cujas pesquisas estão em desenvolvimento no Brasil (Oxford, Janssen, CoronaVac e Pfizer) recrutaram voluntários a partir de 18 anos, mas crianças e adolescentes, que são importantes vetores da doença, ainda não foram alvo de estudos aprofundados.
  6. Grávidas: “Se você engravidar terá de interromper o estudo em busca da vacina”, me disse o pesquisador do ensaio da Janssen no dia que iria receber a minha dose do imunizante em teste. A razão da ressalva é porque não existem estudos suficientes que descartem riscos ao feto e tampouco se sabe
  7. Risco mínimo de a vacina agravar a doença: “Há uma pequena possibilidade de você apresentar um efeito adverso à vacina ou de a vacina agravar a sua doença, caso você contraia a Covid-19”. O alerta está no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, documento que reúne o passo a passo da jornada do voluntário, e existe porque em pesquisas científicas passadas não relacionadas à Covid-19 houve casos de vacinados que depois de infectados pelo organismo causador da doença tiveram piora no quadro clínico. Não se sabe se isso vai acontecer agora também.

 Blog Diário da Vacina - VEJA - MATÉRIA COMPLETA


 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

O melhor presente de Natal: vacina pronta, testada, em produção - Vilma Gryzinski

Mundialista - VEJA

Os pesquisadores “pulam de alegria”, as bolsas bombam e o mundo comemora os bons resultados da vacina da Pfizer, pronta para ser distribuída

Ela não vai ser a única, mas tem chances de ser a primeira, se for descontada a vacina russa, até agora com pouco sucesso no mercado. A vacina da Pfizer usa uma nova tecnologia para dar “uma pancada dupla” no vírus da Covid-19, ativando  simultaneamente anticorpos e as células de defesa do organismo, segundo descreveu o chefe de pesquisas do laboratório, o sueco Mikael Dolsten.

A imunização demanda duas doses e não sai barata. Em julho, o governo americano “encomendou” 100 milhões de doses da vacina, ainda em fase inicial de testes, por 1,95 bilhão de dólares. Ou seja, 19,50 dólares cada.  Depois do acordo, a Pfizer começou a produção da vacina num laboratório em Puurs, na Bélgica. Todas as grandes farmacêuticas estão usado o mesmo método de fabricação simultânea aos testes, para acelerar os processos.

A Grã-Bretanha também já reservou 40 milhões de doses da vacina da Pfizer, sendo a primeira leva de 10 milhões antes do fim do ano. A explosão de otimismo, medida, entre outros índices, pela reação das bolsas, foi tamanha que o primeiro-ministro Boris Johnson, um dos vários políticos cujo destino está atrelado à pandemia, precisou lembrar dos “obstáculos” ainda no caminho da aprovação final.

 A perspectiva de que o horrível ano de 2020 termine com uma vacina começando a chegar na época de Natal, como nos filmes, desafia qualquer advertência de cautela.

A parte principal do anúncio da Pfizer, que desenvolveu a vacina em conjunto com o laboratório alemão de biotecnologia BioNTech, é que os testes indicaram 90% de eficácia sete dias depois da segunda dose. Vacinas com até 70% ou menos de eficácia já são consideradas factíveis num caso como a pandemia que matou até agora 1,25 milhão de pessoas.

O resultado da vacina da Pfizer vem da primeira análise dos testes com 43 538 participantes. A metade recebeu placebo. O processo de imunização demora ao todo 28 dias. “Hoje é um grande dia para a ciência e para a humanidade”, comemorou o presidente da Pfizer, Albert Bourla. Nascido numa família judia de Tessalônica, na Grécia, ele começou como veterinário, e estava exultante, obviamente, com a boa notícia.

É sempre recomendável que as expectativas otimistas não ultrapassem os dados da realidade. Mas  se a perspectiva de que a imunização em massa seja alcançada já no começo do segundo semestre do ano que vem tirou os cientistas dia Pfizer do sério e deixou os envolvidos “pulando de alegria”, segundo Mikael Dolsten, o resto da humanidade também tem o direito a sonhar com um presentão de Natal.

Blog Mundialista -  Vilma Gryzinski - VEJA

 

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Vacina contra covid-19: Os primeiros efeitos colaterais: ‘Atropelada por um caminhão’, diz repórter voluntária

Após receber a dose no estudo clínico, a dúvida: tomei vacina ou placebo?

17 de novembro, 19h43: Saí da clínica há menos de uma hora. A
cabeça lateja.
Será que já era o primeiro dano colateral?
Será que efeitos adversos surgem assim tão imediatamente?
Faço um retrospecto do dia em que tomei a vacina e percebo que almocei meio omelete quase dez horas antes. É fome.

Pouco antes, fiquei 15 minutos sentada dentro da clínica onde realizo os testes, o Instituto Brasileiro de Pesquisa Clínica (IBPClin), sendo monitorada. Os médicos queriam saber se eu desenvolveria uma reação alérgica ou um efeito adverso qualquer logo após ter recebido a dose com o princípio ativo (ou placebo). Nada. Até o minuto em que o relógio marcou 19h43.

(.........)

18 de novembro, 00h03: Estou convencida de que tomei um placebo. Nada acontece, não tenho febre, dor, cansaço, náusea. Nada. O local de aplicação da dose é imperceptível. Três horas antes, minha temperatura corporal era de 35,5ºC. Placebo, certeza.

Vou dormir com uma certa carga de frustração. Deito virada para o lado esquerdo, o mesmo que recebeu a aplicação, com o braço onde ministraram a potencial vacina prensado no colchão. Se isso significar alguma coisa vou descobrir em breve.

9h36: A cabeça parece que vai explodir. Uma dor forte na base da nuca, nos braços, antebraços, coxas. O braço direito, que não foi onde tomei a dose da vacina, dói tanto ou mais do que o esquerdo, local da aplicação. A lateral direita da cintura dói de um jeito estranho (nem sabia que poderia existir dor naquela região). Placebo que nada. Eu tomei a vacina!

(.............)

Depois das primeiras reações colaterais posso jurar que dentro de mim foi injetada uma solução com adenovírus 26 e um pedaço da proteína do espinho do coronavírus, a vacina real que busca induzir meu corpo a produzir anticorpos. Se vacina ou placebo só saberei mesmo dentro de 25 meses, quando os pesquisadores abrem os dados confidenciais dos estudos e informam os voluntários se eles receberam doses com princípio ativo ou uma substância sem nenhuma eficácia clínica.

(...........)

Acordo e levanto devagar com medo de os efeitos terem piorado. 

No Blog Diário da Vacina - VEJA - MATÉRIA COMPLETA

 

 

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Novas batalhas de Itararé - Fernando Gabeira

In Blog

sábado, 25 de julho de 2020

87% dos mortos por covid no DF tinham outros males; veja os mais perigosos

Quase 90% das pessoas mortas por complicações da covid-19 no Distrito Federal apresentavam doenças preexistentes. O tratamento e o controle dessas enfermidades podem evitar óbitos de pacientes

Desde o primeiro caso confirmado da covid-19 no Distrito Federal, em 5 de março, mais de mil brasilienses morreram devido à doença. Além disso, a quantidade de infecções, que cresce diariamente, ultrapassa os 90 mil registros. Dados da Secretaria de Saúde mostram que quase 90% das vítimas do novo coronavírus da capital tinham doenças preexistentes, que complicaram o quadro clínico dos pacientes. 
Cardiopatas e acometidos por distúrbios metabólicos, como a diabetes, são os que mais vieram a óbito. Especialistas ouvidos pelo Correio explicam como o vírus age em conjunto com essas enfermidades e que o controle e o tratamento delas podem evitar mortes.

O Distrito Federal atingiu a marca de 1.133 pessoas mortas pela covid-19 ontem. Dos óbitos registrados, 992 tinham comorbidades, ou seja, 87,6% das vítimas da capital apresentavam doenças preexistentes. A mais comum, segundo monitoramento da Secretaria de Saúde, é a cardiopatia. No total, 701 pacientes que perderam a vida para a covid-19 tinham a enfermidade. Em seguida, estão distúrbios metabólicos (447), pneumopatia (173) e obesidade (130).

André Moraes Nicola, médico e professor de imunologia médica da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), explica que o coronavírus pode agir diretamente em outras partes do corpo, além dos pulmões. “O vírus tem uma ação direta de infectar as células e atrapalha o funcionamento de outros órgãos. Caso eles estejam doentes, aumentam as chances de eles pararem de funcionar. É o caso de enfermidades cardíacas e pulmonares”, detalhou.

Segundo o especialista, outro motivo que pode provocar a morte de pacientes é a inflamação. “O que mata não é o dano que o vírus causa, mas a resposta do sistema imune, que provoca dano no pulmão e leva a pessoa à morte”, explicou. O médico acrescenta que algumas doenças causam o aumento desse fator no corpo, como a diabetes. “Um diabético tem um nível de inflamação que pode aumentar as chances de a pessoa ter uma resposta muito forte contra a covid-19, o que causa complicações”, alertou.

Nicola comenta que estudos sugerem condições como hipertensão e doenças cardíacas como capazes de aumentar a produção de uma proteína na célula, que é receptora do vírus. “Devido a esse fator, a covid-19 consegue entrar mais rapidamente. É como se fosse uma fechadura em que a chave do vírus se encaixa para entrar na célula”, exemplifica.

Idade
Outro fator de risco para o novo coronavírus é a idade. No Distrito Federal, 823 pessoas — 72% do total de óbitos — tinham mais de 60 anos. O grupo etário que mais registrou mortes é o de pessoas com mais de 85 anos (181). O segundo lugar revela-se de pacientes entre 80 e 84 anos (140), e o terceiro, entre 75 e 79 (138). No total, 62 pessoas com menos de 39 anos faleceram por complicações da covid-19.

O parasitologista do Instituto de Biologia da Universidade de Brasília (UnB) Jaime Santana explica que crianças, adolescentes e jovens adultos, dificilmente, têm problemas com o novo coronavírus. De acordo com ele, a covid-19 é uma doença inflamatória e, como qualquer processo desse tipo, o corpo começa a produzir substâncias para destruir o agente invasor e o ambiente onde ele está. “Essa reação natural é importante, porque passa uma informação ao sistema imune para a produção de anticorpos. É como se fosse uma vacina”, comentou.

Entretanto, segundo Jaime, quanto mais avançada a idade, mais processos inflamatórios são encontrados no corpo: as placas de gordura vão se depositando nas placas de artérias e veias, como no coração e nos pulmões. “Esse processo ocorre a partir dos 30 ou 40 anos e vai se agravando. Por exemplo, pessoas entre 70 e 80 anos têm vasos sanguíneos muito entupidos. Quando chega o coronavírus, ele provoca outra reação inflamatória no corpo humano, o que gera uma exacerbação, que pode comprometer os órgãos”, salientou.

Devido a esses riscos, o parasitologista alerta que pessoas com comorbidades devem tratar bem essas doenças. “Apenas evitar a infecção do coronavírus pode não ser o ideal, porque ela pode acontecer a qualquer minuto. As pessoas precisam se preparar e procurar atendimento médico e seguir as orientações”, aconselhou. Segundo o especialista, quanto maior o cuidado com as enfermidades preexistentes menos receptivo o paciente será ao coronavírus.

Superação
Apesar de ter diabetes e estar no grupo etário considerado de risco para o novo coronavírus, o morador da Asa Norte Joel Carreiro dos Santos, 64, superou a doença. Em 7 de maio, ele deu entrada no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) com sintomas da covid-19. “Antes de receber o diagnóstico, o protocolo usado foi o do tratamento de pneumonia. Quando testei positivo, fui para a ala específica. Precisei ficar nove dias internado e de oxigênio em um deles. Graças a Deus, o meu quadro evoluiu bem e fui para a UTI (unidade de terapia intensiva)”, lembrou.

Joel conta que precisou ajudar o irmão dele, de 70 anos, também acometido pela doença. Dias depois, ele começou a sentir os sintomas. “Tive dores no corpo, perdi o apetite e, em seguida, começou a febre. O primeiro exame de coronavírus deu negativo e chegaram até a suspeitar de dengue”, contou. Apesar de ter superado a doença, Joel relata que continua tomando cuidados. “A gente não sabe se está imune, então, precisa continuar preservando a saúde. Fui muito bem tratado no hospital e agradeço a Deus por essa bênção”, ressaltou.

Risco
São doenças que podem levar ao aumento de risco de problemas cardiovasculares. Pressão alta, alterações no colesterol, triglicérides e glicemia são alguns exemplos dessa síndrome.

Cidades - Correio Braziliense


domingo, 12 de abril de 2020

O bêbado e a borboleta - Nas entrelinhas

“Desafiar o novo coronavírus se tornou uma espécie de obsessão para o presidente da República, que se comporta como quem adquiriu imunidade contra a doença

No livro O revólver que sempre dispara (Casa Amarela), Emanuel Ferraz Vespucci analisa as causas, os comportamentos e as consequências para a saúde de diversas dependências químicas, inclusive o alcoolismo e o tabagismo. É um livro despido de preconceito e, do ponto de vista clínico, como não poderia deixar de ser, serve de referência para os que lidam com o problema: usuários em busca de tratamento, seus familiares e terapeutas. O livro explica de maneira clara como as diversas drogas causam dependência física e psicológica, os problemas que acarretam e as maneiras de enfrentá-los, sem moralismo. A perda de controle sobre o álcool, a cocaína, o crack, a maconha, morfina, calmantes, inibidores de apetite e outros psicotrópicos é um problema muito mais amplo do que se imagina.

A dependência funciona como uma roleta russa. Em algum momento a bala que está no cilindro do revólver será disparada, na medida em que o sujeito arrisca mais uma vez. Ou seja, o acaso tem um limite, quanto maior a frequência, maior a probalidade de ocorrência. Por causa da dependência, algo grave acontecerá na vida da pessoa, pode ser um acidente de carro, a perda do emprego, um surto psicótico, um infarto. 

O que interessa aqui é a analogia da roleta-russa, ou seja, do revólver que sempre dispara. Durante a pandemia de Covid-19, por causa do risco de contaminação, sair de casa é uma espécie de roleta russa, mesmo que a pessoa utilize máscaras e luvas. Acontece que o presidente da República — com o objetivo declarado de desmoralizar a política de distanciamento social preconizada pelas autoridades médicas, inclusive seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e responsabilizar governadores e prefeitos pela recessão econômica — resolveu sair às ruas com frequência e, nesses passeios, visitar o comércio local para estimular proprietários e consumidores a manterem uma vida normal. Bolsonaro ignora uma epidemia que está matando mais de 100 pessoas por dia no Brasil, o equivalente a um desastre de grandes proporções.

Desafiar o novo coronavírus se tornou uma espécie de obsessão para o presidente, que se comporta como quem adquiriu imunidade contra a doença, como acontece com aqueles que já foram contaminados, se recuperaram e adquiriram anticorpos ou que, por qualquer outra razão, têm uma sistema imunológico mais robusto, geralmente mais jovens. Não se sabe se o presidente está imunizado; ele se recusa a revelar os resultados dos exames que fez. Bolsonaro age como um jogador compulsivo, o que não deixa de ser uma dependência, sem levar em conta que a maioria das pessoas não está preparada para lidar com o aleatório.

Teoria do caos
É aí que chegamos a O andar do bêbado (Zahar), o instigante livro do físico Leonard Mlodinow, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, sobre o acaso na vida das pessoas, ou melhor, sobre como funciona a aleatoriedade. O novo coronavírus se multiplica como um “Efeito Borboleta”, descoberto em 1960, pelo matemático Edward Lorenz, base para a Teoria do Caos. Mostra como pequenas alterações nas condições iniciais de grandes sistemas podem gerar transformações drásticas e significativas.

Lorenz, que também era meteorologista, realizava cálculos relacionado a padrões climáticos num computador. Em vez de colocar 0,000001, conforme fez na primeira vez, ele colocou 0,0001, alterando completamente o resultado da simulação, como se o bater de asas de uma borboleta na Austrália provocasse um furacão no Caribe. Foi o que aconteceu com o coronavírus na Alemanha e na Coreia do Sul, países que mais bem monitoraram a epidemia e conseguiram mantê-la sobre controle, com testes em massa e hospitalização dos contaminados. No primeiro caso, bastou que uma pessoa contaminada usasse o saleiro num almoço de família para a epidemia se propagar; no segundo, um único paciente, de 30 casos confirmados, escapou do isolamento e disseminou a doença.

Na Sexta-feira da Paixão contabilizamos 1.056 mortes e 19.638 casos confirmados, 44 dias após o primeiro caso registrado no país e 24 dias depois do registro da primeira morte. São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e Amazonas estão em risco de colapso do sistema de saúde pública. Numa hora em que o país precisa de coesão social e alinhamento das políticas de combate ao novo coronavírus, para evitar o colapso do sistema de saúde, Bolsonaro aposta na autoimunizaçao pelo contagio e num medicamento de eficácia limitada nos tratamentos, a hidroxicloroquina, para evitar as mortes, e prega a retomada imediata das atividades econômicas, com adoção do chamado isolamento seletivo ou vertical. Essas apostas foram feitas em outros países, como os Estados Unidos, Inglaterra e Japão, e fracassaram.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense




sábado, 28 de março de 2020

Sem controle - Merval Pereira

O Globo

Cresce a irresponsabilidade

Como expressar o desalento de ter na presidência da República, especialmente num momento de grave crise como esse, uma pessoa capaz de dizer essa frase em público:“Alguns vão morrer? Vão morrer, ué, lamento. Essa é a vida, é a realidade. Nós não podemos parar a fábrica de automóveis porque tem 60 mil mortes no trânsito por ano, está certo?”. [certas colocações são mais palatáveis quanto feitas em privado;
sinceridade costuma ser desagradável para muitos.]

Há certas coisas que se pode pensar, mas nosso superego impede que digamos em voz alta devido a um processo civilizatório a que somos submetidos no convívio social, como já ensinou Freud. Mas Bolsonaro, como já ficou provado em outras ocasiões, não tem superego. A comparação com os automóveis parece ser uma fixação desse governo, e a falta de empatia, permanente. No início do mandato, quando se discutia a liberação da posse de armas pelos cidadãos, o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), General Augusto Heleno, também usou a comparação de automóveis com as armas.

[a grande dificuldade do governo Bolsonaro decorre, em pequena parcela, da sua loquacidade, mas a causa principal é que muitos querem governar, dar palpites e só uma autoridade é cobrada - sofrendo marcação implacável.
Fica dificil se manter o rumo quando tudo que fazemos é severamente criticado, contestado, muitas vezes chega a ser proibido.
Ao que sabemos, o coronavírus é novo e, consequentemente, a doença que causa.
Tal condição faz com que tudo sobre a doença e sua causa produzam muitas especulações, "chutes".
Só que quando o 'chute' ou especulação tem como autor um especialista ou um nome pomposo passa a ser verdade.]

Mais limitado, o também ministro Ônix Lorenzoni comparou os revólveres com os liquidificadores. O objetivo era o mesmo de hoje do presidente Bolsonaro, relativizar as eventuais mortes ocasionadas pelas decisões governamentais. Embora estudos mostrem que a liberação das armas para os cidadãos provoca mais mortes do que proteção, desta vez é mais grave, pois há um conjunto de evidências científicas, como o estudo  divulgado pelo Imperial College of London, que demonstra que a diferença entre o isolamento social rigoroso e uma estratégia mais branda de proteção seletiva sobre os idosos e os doentes pode significar até 1 milhão de vidas perdidas a mais em pouquíssimo tempo no caso do  Brasil.

Há uma ressalva fundamental no nosso caso: o estudo foi feito com base no que está ocorrendo na Europa e nos Estados Unidos, e não leva em conta a existência de favelas, a falta de abastecimento de água ou saneamento, e outras mazelas com que as populações mais carentes convivem. Os estudos do Imperial College of London foram responsáveis pela mudança de atitude do governo de Boris Johnson, que tentou uma abordagem menos drástica da crise do Covid-19 imaginando que a população ganharia anticorpos para combater o novo vírus, e teve que desistir devido ao aumento exponencial de casos de contaminação e mortes.

Temos também o caso que já se tornou clássico da Itália, - e dentro dela de Milão, - que tentou minimizar os efeitos da pandemia e acabou se tornando o epicentro de uma tragédia humanitária. Como já temos esses exemplos, a posição do presidente brasileiro torna-se ainda mais inaceitável. De nada nos servirá que ele venha dentro de um mês se desculpar (se é que é capaz disso) como fez o prefeito de Milão, que ontem, diante da catástrofe que se abateu sobre seus cidadãos, admitiu publicamente que  desprezou os perigos da Covid-19.

Mais grave é que o grau de irresponsabilidade é tamanho que o governo brasileiro é capaz de encomendar e distribuir pelos canais das redes sociais vídeos defendendo que o país não pode parar, mesmo slogan publicitário de Milão, e, diante da repulsa que geraram nos cidadãos de bem, alegar que não foram aprovados pela Secretaria de Comunicação, e, portanto, não são oficiais. Para quem tem dentro do Palácio do Planalto um chamado “gabinete do ódio”, que opera nas sombras para disseminar boatos e fake News, esta não é uma postura surpreendente. O que é preciso definir, de acordo com as instituições que zelam pela democracia brasileira, como o sistema Judiciário, e o Congresso, é qual o limite que o hoje presidente brasileiro pode ir até que seja bloqueado pelas armas da democracia.

Bolsonaro já nem mesmo se dá ao trabalho de tentar disfarçar seus objetivos. Perguntado pelo apresentador José Luis Datena se estaria disposto a dar um golpe, em vez de negar peremptoriamente, Bolsonaro respondeu: “Quem quer dar um golpe não vai falar que vai dar”. [convenhamos que o apresentador  não foi muito feliz - ou lhe faltou inteligência - na elaboração da pergunta.
Sendo experiente em programas policiais deveria saber que qualquer pessoa mal intencionada não confessa suas intenções.] Como sempre, sem superego. 

Merval Pereira, jornalista - O Globo


sexta-feira, 27 de março de 2020

Corpo fechado - Nas entrelinhas

“Há muita agitação contra a política de distanciamento social. Os aliados de Bolsonaro partiram para cima de prefeitos e governadores

Os Estados Unidos se tornaram, ontem, o país com mais casos confirmados da Covid-19 no mundo, superando a Itália e a China, com 82 mil registros. O presidente Donald Trump minimizou o fato, com o argumento de que o aumento dos casos se deve à ampliação dos exames. “No fundo, não sabemos quais são os números reais da doença, mas nós testamos um grande número de pessoas e, a cada dia, vemos que nosso sistema funciona”, disse. Trump está preocupado com a economia norte-americana, que corre risco de entrar em profunda recessão. Negociou com o Congresso um pacote de US$ 2 trilhões, que serão injetados na economia e já estão repercutindo positivamente no mercado financeiro mundial.

No Brasil, ontem, o presidente Jair Bolsonaro insistiu na linha de minimizar a doença, a ponto de tripudiar da política de distanciamento social do Ministério da Saúde, que vem sendo seguida por governadores e prefeitos. “Eu acho que não vai chegar a esse ponto”, disse, se referindo aos Estados Unidos. “Até porque, o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele. Eu acho até que muita gente já foi infectada no Brasil, há poucas semanas ou meses, e ele já tem anticorpos que ajuda a não proliferar isso daí”, disse.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), nos últimos dois dias, o mundo registrou mais de 100 mil novos casos de coronavírus. Ao todo, já são mais de meio milhão de pessoas infectadas. A OMS explicou que os primeiros 100 mil casos da Covid-19 foram registrados em 67 dias, mas foram necessários apenas mais 11 dias para dobrar e atingir 200 mil casos, e outros quatro dias para chegar a 300 mil. Agora, levou dois dias para somar mais 100 mil novos casos ao balanço.

Para reagir à inevitável recessão que a economia mundial sofrerá, o G-20, grupo dos 20 países mais ricos do mundo, do qual o Brasil faz parte, reuniu-se ontem por teleconferência, encontro do qual Bolsonaro tomou parte. A injeção de recursos na economia já programada por esses países deve chegar a R$ 5 trilhões, o que jogou o dólar para baixo de R$ 5 aqui no Brasil, e fez a Bovespa subir 3,67%, chegando a 77,709 pontos.

Desobediência civil
Nas redes sociais, há muita agitação contra a política de distanciamento social adotada pelas autoridades de saúde. Os aliados de Bolsonaro partiram para cima de prefeitos e governadores, estimulando a desobediência civil, o que se traduziu em mobilização de comerciantes, empreendedores e trabalhadores informais nas redes sociais. Com a virada do mês, a falta de dinheiro por causa dos negócios parados aumentou a tensão social, que pode transbordar do ambiente virtual para as ruas. Será muito difícil manter a quarentena a partir deste fim de semana, com o clã Bolsonaro comandando a mobilização contrária. Se isso ocorrer, será uma tragédia.

A posição de Bolsonaro sobre a epidemia contraria a política da Organização Mundial de Saúde (OMS), que recomenda que as pessoas não saiam de casa, a fim de conter a velocidade de propagação da epidemia. Bolsonaro defende uma espécie de salve-se quem puder: “A quarentena vertical tem que começar pela própria família. O brasileiro tem que aprender a cuidar dele mesmo, pô”, disse. É mais ou menos como fez o coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo (1837-1897) na Guerra de Canudos. Os habitantes do arraial, comandados pelo líder religioso Antônio Conselheiro, já haviam rechaçado duas expedições do Exército, entre outubro de 1896 e janeiro de 1897. Mas a derrota da terceira expedição, uma força de 1.300 homens comandada por um dos heróis da Guerra do Paraguai, o coronel Moreira César, o Corta-Cabeças, foi um espanto.

Moreira César era um militar que se esvaía “na barbaridade revoltante”, segundo Euclides da Cunha em Os Sertões. Quando foi capitão, participou do linchamento de um jornalista, Apulcro de Castro. Encarregado de reprimir duas rebeliões contra o governo Floriano Peixoto (a Revolta da Armada, no Rio de Janeiro, e a Revolução Federalista, em Santa Catarina), executou prisioneiros indefesos. Entrou em batalha de salto alto: “Vamos almoçar em Canudos”, anunciou antes de invadir o arraial. O coronel Tamarindo, que assumiu o comando da terceira expedição após a morte de Moreira César, entrou para a história ao comandar a debandada: “É tempo de murici, cada um cuide de si…”. Como Moreira Cezar, foi esquartejado pelos jagunços.

Ontem, a Câmara aprovou um auxílio mensal de R$ 600 a ser pagos aos trabalhadores autônomos, informais e sem renda fixa durante a crise gerada pela pandemia. O valor inicial proposto pela equipe econômica era de R$ 200, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), propôs aumentar para R$ 500, com o argumento de que a proposta do governo era “muito pequena”. [o deputado Maia, está sempre emboscado, um vacilo do presidente da República e ele ataca.
Sua intenção era posar de herói, aumentando de 300 para 500 ou criticar Bolsonaro se optasse por vetar o reajuste.
O tiro do Maia saiu pela culatra, ele "quebrou a cara", Bolsonaro percebeu a cilada e aumentou - felizmente, dessa vez, graças ao capitão, os mais desamparados se deram bem.] Ao saber disso, Bolsonaro não quis ficar para trás: “Está em R$ 500, pode subir para R$ 600. Vê lá com o Guedes”, disse. O ministro da Economia, Paulo Guedes, por enquanto, é o grande mudo nas polêmicas sobre a mudança na política econômica.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense