Deputados são contra novo mandato para Rodrigo Janot
Deputados querem apresentar emenda que proíbe recondução de Rodrigo Janot ao cargo de procurador-geral.
Segundo a Folha de São Paulo a coleta de assinaturas está sendo efetuada pelo deputado Paulinho da Força que entende que " a recondução de um procurador já viciado não é boa para o Ministério Público. É importante que haja oxigenação."
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[consideramos extremamente adequada a proposta do deputado do SDD-SP; a reeleição, que teoricamente é efetuada em função da vontade de milhares, ou mesmo milhões, de eleitores, não tem se mostrado um bom negócio, imagine a recondução, que depende unicamente da vontade, no caso do procurador-geral, da Dilma.
Não existe nada específico que levante dúvidas sobre o Rodrigo Janot. Mas, convenhamos, ser muito inconveniente que o homem que comanda as investigações contra a quadrilha do PT - que conta para executar seus atos criminosos com o aval da Dilma, no mínimo por omissão da presidente - tenha sua carreira inteiramente nas mãos da presidente.
Janot tem poderes para ditar o ritmo e rumo das investigações, efetuar denúncias - ele chega mesmo a ter até mais poderes que o STF, já que pode em decisão solitária 'absolver' um possível criminoso, bastando para tanto não denunciá-lo.
O melhor mesmo é que o procurador não possa ser reconduzido.]
Dilma Rousseff abandonou a clandestinidade do palácio residencial neste sábado. Foi a São Paulo para desempenhar, ao lado de Lula, o papel de madrinha do casamento de seu cardiologista, Roberto Kalil, com a endocrinologista Claudia Cozer. Foi recepcionada com um panelaço. Chamaram-na de “ladra”.
Ninguém falou ainda, talvez por pena. Mas a supergerente virou uma personagem de carne e osso, como qualquer político tradicional, suspeita de tudo o que todos costumam suspeitar nessa tribo. Reeleita para o inferno, Dilma virou rainha má de um conto real.
Na história de Branca de Neve, a rainha má consulta o seu espelho para saber se existe no reino uma beleza maior do que a sua. No enredo de Dilma, a pergunta seria outra: “Diga, espelho meu, por que me perseguem as panelas? Não há nessa joça de reino nenhuma figura política mais feia do que eu?”
O espelho do Alvorada não é franco e direto como um espelho de castelo de conto de fada. Em Brasília, o espelho tentaria mudar de assunto. Enalteceria os efeitos da dieta Ravena sobre a silhueta da presidente, elogiaria o corajoso apoio ao arrocho do Levy e o generoso compartilhamento de poder com o Temer. Mas há momentos em que mesmo um espelho bajulador como o do Alvorada tem de se render à realidade: “Sim, existe no reino gente mais feia do que a rainha. Personagens que sempre estiveram tão em evidência que é espantoso que não tenham tomado mais cuidado com as impressões digitais. Seus nomes: Renan Calheiros e Eduardo Cunha.”
No conto de fada, você sabe, a rainha má mandou chamar um lenhador e ordenou que levasse Branca de Neve para a floresta. Deveria matá-la, livrar-se do corpo e retornar ao castelo para receber a recompensa. No enredo do Palácio da Alvorada, a rainha Dilma costuma chamar Lula, o ex-metalúrgico. Aconselha-se amiúde com ele. Não ordena, recebe ordens. Num ponto, o conto de fada e o conto real coincidem. Num, o lenhador poupa Branca de Neve. Noutro, o ex-metalúrgico convence a rainha má a ser boazinha com Renan e Cunha, aturando-lhes todos os desaforos.
No mais, os dois enredos são muito diferentes. A começar pela quantidade de anões —no conto de fada, sete; no real, perdeu-se a conta. O lenhador é um protagonista anônimo. Só entra na trama para fazer a escolha certa. O ex-metalúrgico não sai do palco. E fez uma opção preferencial pelo erro. A rainha do conto de fada serve a maçã envenenada para a bela, que é salva pelo beijo do príncipe. A rainha do conto real serve jantares no Alvorada para os feios. O mau dessa confraternização com o mal é que a plateia passa a não distinguir quem é quem.
Renan e Cunha estavam no mesmo casamento que fez Dilma abandonar a clandestinidade do Alvorada. Mas só a rainha má foi gongada pelas panelas. Os feios da República passaram incólumes. Dilma ainda tem três anos e meio de conto pela frente. Em tese, poderia se recuperar. O problema é que ética e coerência são como virgindade. Perdeu, já era. Não costumam dar segunda safra.
Fonte: Blog do Josias de Souza