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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Ebola: o vírus assassino que ressurge de tempos em tempos

África Ocidental

Ao contrário da gripe, esse vírus não é transmitido pelo ar. Portanto, é menos contagioso do que muitas outras doenças virais. Mas taxa de mortalidade é assustadora: de 50% até 90% no caso de algumas epidemias, segundo a OMS

 O vírus do ebola, que ataca novamente na Guiné após três mortes, é um assassino que ceifou mais de 15.000 vidas desde 1976. Até agora, foram identificados cinco subtipos do agente infeccioso e houve onze epidemias causadas por três deles.

De onde vem o vírus?
O vírus do ebola foi identificado pela primeira vez em 1976 na República Democrática do Congo (RDC, então Zaire). É um vírus da família filoviridae (filovírus). Seu nome vem de um rio no norte do país, próximo ao local onde eclodiu a primeira epidemia.  Desde então, cinco "subtipos" do vírus do ebola foram identificados: Zaire, Sudão, Bundibugyo, Reston e e Floresta de Tai. Os três primeiros causaram graves epidemias no continente africano.
 
Como é transmitido?

O vírus circula entre morcegos frugívoros, considerados o hospedeiro natural do ebola, mas eles não desenvolvem a doença. Outros mamíferos, como grandes símios, antílopes ou porcos-espinhos, podem ser portadores e transmiti-los às pessoas.

Durante uma epidemia, o ebola é transmitido entre humanos por meio de contato próximo e direto. Uma pessoa saudável é infectada pelos "fluidos corporais" de um doente: sangue, vômito, fezes...  Ao contrário da gripe, esse vírus não é transmitido pelo ar. 
Portanto, é menos contagioso do que muitas outras doenças virais.
Mas esse vírus é assustador pela alta taxa de mortalidade: em torno de 50% e até 90% no caso de algumas epidemias, segundo a OMS.

Quais são os sintomas?
Após um período de incubação de 2 a 21 dias (cerca de cinco dias em média), o ebola se manifesta com febre repentina, fraqueza, dores musculares e articulares, dor de cabeça e dor de garganta e, em alguns casos, hemorragia.Os sobreviventes costumam ter sequelas: artrite, problemas de visão e audição e inflamação dos olhos.
 
Existe vacina?
Uma primeira vacina, fabricada pelo grupo norte-americano Merck Shape and Dohme, mostrou-se altamente protetora contra o vírus, segundo ensaio realizado na Guiné em 2015. A OMS pré-qualificou esta vacina em novembro de 2019 para ser homologada. Mais de 300.000 doses foram administradas em uma campanha de vacinação direcionada durante a última epidemia na República Democrática do Congo.

Uma segunda vacina experimental, do laboratório norte-americano Johnson & Johnson, foi introduzida preventivamente em outubro de 2019 em áreas onde o vírus está ausente, e mais de 20.000 pessoas foram vacinadas.

A pior epidemia (2013-2016)
A pior epidemia da história surgiu no sul da Guiné em dezembro de 2013 e se espalhou para os países vizinhos da África Ocidental. Causou mais de 11.300 mortes entre os quase 29.000 casos registrados, de acordo com a OMS, que declarou o fim da epidemia em março de 2016.

Mais de 99% das vítimas foram registradas na Libéria, Serra Leoa e Guiné.

Décima e décima primeira epidemia na RDC
A décima epidemia começou em 1º de agosto de 2018 na província de Kivu do Norte. A OMS declarou emergência sanitária de alcance internacional em julho de 2019, quando ameaçava países vizinhos.

As autoridades do país proclamaram o fim desta epidemia, a segunda mais grave da África (com cerca de 2.280 mortes) depois da de 2013-2016, em junho de 2020. Sem ligação com esta epidemia, em junho de 2020, uma décima primeira epidemia de febre ebola estourou na província de Equateur. O país declarou seu fim em 18 de novembro (55 mortos).

"Reaparecimento" na RDC e "situação epidêmica" na Guiné
A República Democrática do Congo anunciou no dia 7 de fevereiro um surto da doença no leste, para onde a OMS enviou uma equipe de epidemiologistas após a morte de uma mulher.Uma semana depois, no dia 14, a Guiné anunciou que estava novamente "em situação de epidemia", depois de ter confirmado o aparecimento no sudeste do país de sete casos, três deles fatais.
São as primeiras mortes pela doença desde 2016 na Guiné. A OMS vai implantar meios "rapidamente", como doses de vacinas, para ajudar a Guiné. [o desempenho medíocre da OMS na pandemia em curso, mostra  a velocidade do "rapidamente" da OMS. Descoberta há 44 anos, o peste do 'ebola', com transmissibilidade bem menor que os vírus da família H, uma vacina efetiva ainda não foi descoberta.
O índice de transmissibilidade do ebola é dezenas de vezes menor que o da peste SARS.]
 
Mundo - Correio Braziliense

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Na fila da vacina - Carlos Alberto Sardenberg

Coluna publicada em O Globo - Economia 28 de janeiro de 2021

Vamos falar francamente: ainda neste ano, mais para o segundo semestre, hospitais e clínicas particulares estarão oferecendo vacina contra a Covid-19, em caráter suplementar ao Plano Nacional de Imunização – e tudo de acordo com a Constituição.  Um pouco de história: a Constituinte de 1988 tinha um viés claramente estatizante. Por isso temos o Sistema Único de Saúde – e o “único” aí não era apenas um modo de falar. A ideia era essa mesma: um sistema estatal, universal e gratuito. E obrigatório, vetando-se a medicina privada.

Só não ficou assim por dois motivos. Primeiro, porque seria preciso estatizar hospitais, clínicas e mesmo consultórios privados. E não havia dinheiro para isso – já que não se poderia simplesmente confiscar tudo, como se fosse uma ditadura. O segundo motivo vai na mesma linha: teria o Estado os recursos necessários para esse sistema gratuito? Está lá no artigo 196: que a “saúde é direito de todos e dever do Estado” e que será garantido “acesso universal e igualitário”.

Reconhecendo isso, os constituintes incluíram o artigo 199, dizendo que a assistência à saúde é “livre à iniciativa privada”. Como isso estava em contradição com o contexto, colocaram-se  várias ressalvas: essa atuação seria “complementar” e controlada pelo SUS, seria vedada a empresas estrangeiras e se daria preferência às instituições filantrópicas em relação àquelas com fins lucrativos.

O entendimento dos estatizantes era simples: com o tempo, dada a qualidade e gratuidade do SUS, o sistema privado desapareceria ou ficaria apenas para os poucos milionários. O mundo andou e como estamos hoje? Mais de 40 milhões de contratos particulares com planos e operadoras de saúde, muitas de capital estrangeiro. E um sistema privado de qualidade internacional.  Isso já funciona no caso da Covid. Os hospitais e clínicas particulares atendem os doentes e aplicam os testes. Aliás, os altos dirigentes da República se tratam nesses hospitais.

Por que, portanto, não podem vacinar?  Por questões econômicas, éticas e políticas. Na economia: ainda há escassez de vacinas em relação à demanda mundial. As farmacêuticas que já têm o imunizante estão vendendo apenas para governos e instituições multilaterais, como a OMS. A entrada do setor privado no negócio, no mundo, aumentaria ainda mais a demanda e elevaria os preços. Assim, se cairia onde os líderes mundiais de respeito tentam evitar: que os ricos passem na frente.

Mas, para falar francamente, de novo, ricos, no cenário mundial, estão tentando passar à frente
A União Européia encomendou 400 milhões de doses à AstraZeneca, para entrega neste primeiro trimestre. A farmacêutica avisou, nestes dias, que não conseguirá entregar nem metade disso. Qual a reação de parte dos líderes da União Européia. Proibir a AstraZeneca, que tem sede na Europa, de exportar sua vacina antes de atender toda a demanda da comunidade. [são a esses democratas de araque que os traidores brasileiros querem entregar a Amazônia do Brasil. Foram comprados para vender a ideia, aos incautos, que a democracia desses países é a democracia secular. 
União Europeia, Estados Unidos e outros do mesmo naipe cultivam a democracia em que eles possuem o controle, o domínio total.]

Ainda bem que líderes como a alemã Angela Merkel se opõem ao que consideram falta de solidariedade global. Mas, veremos. A questão ética vem na sequência. Não se pode vacinar os ricos, aqui e lá fora, antes dos grupos prioritários, pobres ou não.  A questão política decorre das anteriores. Claro que os hospitais e clínicas privadas, assim como as grandes empresas, poderiam estar no mercado comprando vacinas, se é que já não o fizeram. Mas não estão querendo vacinar neste momento justamente por temor da reação da sociedade, dos clientes e dos parceiros comerciais.

Tudo considerado, no momento, no Brasil e no mundo, cabe aos governos comprar e aplicar as vacinas, seguindo a fila dos mais para os menos vulneráveis.  Não há problema onde os governos estão cumprindo isso. Não é o caso do Brasil. Como o governo Bolsonaro desdenhou da doença, está muito atrasado na busca dos imunizantes. Se não fosse o governo paulista, tudo o que teríamos seriam dois milhões de doses vindas da Índia.[não podemos esquecer:  
dois milhões de doses vindas da Índia, vacinam dois milhões de pessoas, com eficácia de 71%;  
dois milhões de doses da vacina chinesa, vacinam um milhão de pessoas, com eficácia de 51%.
Estupidamente, a turma do Doria quer usar as doses destinadas a segunda aplicação, nos que já receberam a primeira, e deixar para realizar a segunda aplicação  mais para a frente. O problema é que a bula da CoronaVac - como recomenda a Anvisa o documento que deve ser seguido - determina que a segunda dose deve ser aplica na 3ª/4ª semana. Os milhões vacinados no estado de São Paulo, correm o risco de não receberem a segunda dose a tempo e passarem à condição de semi vacinados.
Cabe perguntar: os que receberem a segunda dose com atraso, passarão à condição de imunizados, ou terão que receber outra dose?]

Saída de momento? O setor privado financiar o público e, sobretudo, apoiar na organização. Quando o Plano Nacional estiver funcionando normalmente, aí vai aparecer a vacina no sistema privado. E se o governo nem assim conseguir vacinar? Aí os mais ricos vão se vacinar à sua maneira.

Carlos Alberto Sardenberg,  jornalista


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A diplomacia que mata - Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Articulação permitiria que Brasil, China, Índia e Rússia se organizassem para produzir vacinas

Está certo que Brics, na maior parte do tempo, foi mais uma sigla do que uma aliança concreta. Originalmente representando Brasil, Rússia, Índia e China, a sigla foi inventada por um economista britânico, Jim O’Neill, para designar o grupo de países emergentes com mais chances de se tornarem ricos e influentes.
Que formassem um grupo, era duvidoso, dadas as notórias divergências entre, por exemplo, Índia e China, ou Rússia e China, sem contar que o Brasil não parecia ter qualquer proximidade com aqueles três.

Num dado momento, entretanto, com o Brasil sob governo petista, surgiu um interesse comum entre aquelas nações em fazer um contraponto à influência americana, principalmente, e europeia, em segundo lugar. Seria a voz mais importante do mundo emergente. O grupo se formalizou diplomaticamente, incorporando a África do Sul, para ter um representante daquele continente. De uma coisa meramente retórica, de mais discurso e menos ação, evoluiu para algo mais prático, especialmente com a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, chamado banco do Brics, para financiar projetos em comum. Banco que é hoje presidido por um brasileiro, o economista Marcos Troyjo, indicado pelo governo Bolsonaro.

Tudo isso para dizer que as circunstâncias abriram uma enorme possibilidade para o Brasil — não aproveitada. Dos membros do grupo, um, a China, era não apenas o principal parceiro comercial do Brasil, como um dos maiores produtores mundiais de medicamentos e insumos. A Índia, há anos, cravou posição como a maior produtora de genéricos e também de insumos farmacêuticos. A Rússia, em reconstrução, não havia perdido a capacidade tecnológica, inclusive nas ciências biológicas e médicas.

O Brasil tem dois institutos com reconhecimento mundial na produção de vacinas, o Butantan e Manguinhos. Todo mundo sabia disso quando se iniciou a pandemia. E a oportunidade estava na mão: uma boa articulação permitiria que Brasil, China, Índia e Rússia se organizassem para produzir e distribuir vacinas em larga escala, com financiamento de seu próprio banco. China, Índia e Rússia entrando com a tecnologia e as fórmulas; Brasil, com sua capacidade de produção e seu imenso mercado, estendendo-se para o Mercosul e toda a América Latina.

Mas isso jamais passou pela cabeça do presidente Bolsonaro e de seu chanceler, Ernesto Araújo. Nessa cabeça, a China é um bando de comunistas, que produz vacina para destruir o mundo ocidental. A Rússia, bem, seja o que for, não é amiga dos EUA. A Índia, do direitista e populista Narendra Modi, até poderia ser próxima, mas o país tem uma diferença histórica com os EUA. Sendo a maior produtora de genéricos, a Índia sempre teve interesse em limitar as patentes farmacêuticas, dominadas pelas grandes farmacêuticas americanas e europeias.

Por isso, em meados do ano passado, a pandemia crescendo, a Índia propôs na OMS que as patentes de medicamentos relacionados à Covid-19 fossem temporariamente suspensas. Trata-se de uma controvérsia. A patente, o direito exclusivo de explorar a venda de um medicamento, é um estímulo importante para que as farmacêuticas invistam bilhões de dólares na busca de uma nova substância.  Mas faz tempo que o mundo, incluindo governos e setor privado, está debruçado na busca de arranjos legais que permitam conciliar a patente com a distribuição de medicamentos para as nações mais pobres.

A calamidade da pandemia justificava esse esforço. Só que o Brasil de Bolsonaro seguiu fielmente os EUA de Trump e votou contra a suspensão temporária de patentes da Covid, deixando Índia, principalmente, e China enfurecidas. A retórica antichinesa de Bolsonaro e sua turma terminou o serviço. Agora, Bolsonaro implora os medicamentos de Modi e tem vergonha de pedir os insumos chineses, esperando que Doria resolva o problema. A vacina “chinesa assassina do Doria” vira a vacina do Brasil, na nova mentira bolsonarista, tentando salvar o que não pode salvar: o fato de que ele desprezou o sofrimento e boicotou a vacina.  [cabe um pequeno comentário: a vacina da Fiocruz está contratada junto a ASTRAZENECA que possui uma fábrica na China, dispondo dos insumos necessários e com a obrigação de contratual de repassar para o Brasil todo o necessário a que o contrato seja cumprido - a China não vai intervir no assunto.
Quanto a questão indiana houve um desajuste diplomático a ser sanado.
Já a vacina chinesa, a CoronaVac, é uma parceria entre o Butantan e a Sinovac, cabendo a esta o  fornecimento dos insumos necessários, só que se trata de uma empresa chinesa, instalada em solo chinês.!!!
Quanto ao destino do atual chanceler,  o esperado e necessário para o Brasil, é sua substituição.]

Uma diplomacia pragmática salvaria milhares de vidas. Essa outra matou.

O Globo - Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


sábado, 5 de dezembro de 2020

Censura globalista: não pode criticar a OMS no YouTube

Rodrigo Constantino

Fiz no meu canal do YouTube uma entrevista com o médico Alessandro Loiola, que tem sido um crítico ferrenho dos exageros das autoridades nessa pandemia. O bate-papo, de mais de uma hora de duração, foi muito elogiado pelos milhares de seguidores, e vários que acompanham a live TudoConsta diariamente chegaram a considerar esta a melhor entrevista de todas.

Nada demais foi dito, ao menos não pela ótica de liberais e conservadores que não embarcaram na histeria coletiva da pandemia e que não endeusam as autoridades. Não obstante, qual não foi minha surpresa ao receber um email do YouTube avisando que o vídeo foi retirado do canal?! Sim, o YouTube resolveu apagar a conversa com mais de uma hora de extensão. E qual a justificativa? Ferimos as "regras" do canal. Como? Eis a explicação: O YouTube não permite conteúdo que contesta explicitamente a eficácia das orientações das autoridades de saúde locais ou da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre distanciamento social e auto-isolamento que podem levar as pessoas a agir contra essa orientação.

Eu apelei, alegando que a OMS vem se equivocando muito mais do que acertando desde o começo da pandemia, e que não há embasamento científico para várias dessas medidas, como o caso do lockdown. Sem sucesso. Recebi com certa rapidez surpreendente a seguinte resposta: Obrigado por enviar seu apelo de vídeo ao YouTube. Após uma análise mais detalhada do conteúdo, determinamos que seu vídeo viola nossas Diretrizes da comunidade e mantivemos nossa decisão original. Agradecemos a sua compreensão. Atenciosamente, equipe do YouTube.

Fico aqui pensando por quem essa equipe é composta... seriam pessoas como nossos "jornalistas", que fazem quarentena gourmet com hashtag "fique em casa", achando que são grandes humanistas por conta disso? Seriam eleitores do Doria?!

A coisa toda é surreal e absurda. O YouTube é uma plataforma que deveria ser neutra. Não cometendo um crime, o conteúdo deveria ser liberado. Mas existe, pelo visto, o "crime do pensamento", e é proibido até questionar a OMS, aparentemente. Estamos diante de uma censura globalista, uma ditadura do pensamento único, uma tirania dos "especialistas" e tecnocratas ligados ao regime opressor chinês.

O "consolo" oferecido pela plataforma já expõe todo seu viés "progressista", com linguagem calibrada para a era das "microagressões":     Sabemos que isso pode ser decepcionante, mas é importante para nós que o YouTube seja um lugar seguro para todos. Se o conteúdo quebrar nossas regras, nós o removemos. Se você acha que cometemos um erro, você pode apelar e nós daremos outra olhada. Continue lendo para mais detalhes.

Lugar seguro para todos?! O que diabos isso quer dizer?!   
Que não se pode mais questionar a OMS e suas diretrizes sem respaldo científico? 
Que temos todos que adotar aquilo que as "autoridades" dizem e calar a boca?! 
É extremamente preocupante, e não é de hoje que liberais e conservadores são perseguidos pelas redes sociais.Para quem quiser ver a entrevista, segue o vídeo do meu outro canal, criado recentemente como um backup (aproveito e recomendo que passem a segui-lo também):

https://youtu.be/0SiR0kR-1gY

Rodrigo Constantino, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo 


Dr. Alessandro Loiola fala sobre vachina, lockdown, histeria pandêmica e muito mais
 

segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Testes de virgindade e kits de 'reparo de hímen' são vendidos no Reino Unido

BBC
Rachel Stonehouse - BBC Newsbeat

Os exames intrusivos são considerados uma violação dos direitos humanos pela OMS e pela ONU, que querem sua proibição

[Aconteceu e continua acontecendo na democrática Inglaterra.]

Polêmicos "testes de virgindade" estão sendo feito em mulheres em clínicas médicas privadas britânicas, mostra uma investigação do programa de rádio Newsbeat e do projeto 100 Women (100 Mulheres), ambos da BBC. Os exames intrusivos são considerados uma violação dos direitos humanos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU), que querem sua proibição.

Os testes — que envolvem um exame vaginal para verificar se o hímen está intacto — não têm base científica, não podem provar se alguém é virgem e podem ser uma forma de abuso. A investigação da BBC encontrou também várias clínicas privadas anunciando procedimento de "reconstituição da virgindade" que, quando contatadas, também ofereciam o chamado teste de virgindade por valores entre 150 libras (R$ 1.063) e 300 libras (R$ 2.126).

A BBC identificou 21 clínicas e conseguiu fazer perguntas a 16 delas. Sete confirmaram que oferecem "teste de virgindade" e várias outras não quiseram prestar esclarecimento. Todos disseram que oferecem cirurgia de reparo do hímen, que custa entre 1,5 mil libras (cerca de R$ 10 mil reais) e 3 mil libras (cerca de R$ 21 mil). Dados do NHS (o serviço de saúde pública britânico) mostram que 69 procedimentos de reparo de hímen foram realizados na Inglaterra nos últimos cinco anos.

 A BBC ouviu a história de uma mulher que teve ajuda da instituição de caridade Karma Nirvana, que apoia vítimas de um tipo de abuso emocional praticado por famílias, baseado "na honra" e casamento forçado. "Eu tinha um relacionamento emocionalmente abusivo com meus pais, que queriam que eu tivesse um casamento arranjado", diz ela. "Um dia, um ancião da comunidade me viu sair com meus amigos e disse à minha mãe que um dos meninos era meu namorado. Havia muitos rumores na comunidade sobre isso."

Ela foi então ameaçada com um "teste de virgindade" pelos pais. "Meus pais e a família do homem com quem eles queriam que eu me casasse disseram que eu precisava fazer um teste de virgindade para provar que ainda era virgem para que o casamento pudesse prosseguir. Eu estava com medo e não entendi o que isso realmente significava. Senti que fugir era minha única opção — então foi o que fiz", conta ela, que pediu para não ter seu nome divulgado.

"Recebemos ligações de meninas preocupadas com isso. Pode ser que estejam preocupadas que suas famílias tenham descoberto que talvez tenham tido um relacionamento ou não sejam virgens. Pode ser que a família esteja pressionando as jovens a fazer os testes e elas estão preocupadas com o resultado', diz Priya Manota, que a gerencia a linha telefônica de apoio do Karma Nirvana.

"O abuso por causa da 'honra' e do casamento forçado acontece muitas vezes quando a mulher entra em um relacionamento, escolhe seu próprio parceiro e tem um relacionamento íntimo ou sexual. Sabemos que muitas vítimas em casos extremos chegaram a ser mortas", afirma. "Outras vítimas são repudiadas pela família e não têm para onde ir."

No ano passado, o rapper americano T.I. provocou indignação após admitir durante um podcast que leva sua filha todos os anos para um teste para verificar se o seu hímen ainda está intacto.

Pinças e sangue falso
A BBC também descobriu 'kits de reparação de hímen', que afirmam 'restaurar a virgindade', sendo vendidos na internet por 50 libras (R$ 354).

Um kit comprado na internet e exportado da Alemanha continha 60 ml de gel que tensiona a vagina, pinças de plástico, uma cápsula de sangue e três sachês que pareciam conter sangue falso. Não havia instruções sobre como usar o kit.

O ginecologista Ashfaq Khan recebe regularmente pedidos de pacientes para fazer testes de virgindade e reparo do hímen. "Não entendo por que isso não é ilegal no Reino Unido, deveria ser ilegal", diz ele. "Toda a ideia de que a ausência de parte do hímen significa que você não é virgem está errada desde o princípio. Ele pode ser rasgado por vários motivos."

'Educar as comunidades'

Continue lendo no Correio Braziliense

 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Selo de mau pagador – O Estado de S. Paulo

Opinião

No total, dívidas do Brasil com organismos internacionais somam mais de R$ 4 bilhões

É estonteante a capacidade de Brasília de implodir pontes que ligam o País à comunidade internacional. O presidente da República e alguns de seus principais ministros, a começar pelo das Relações Exteriores, insultam rotineiramente líderes internacionais; escarnecem de preocupações literalmente vitais à sociedade global, como o meio ambiente ou a pandemia; ameaçam conquistas históricas, como o acordo Mercosul-União Europeia; insistem na vassalagem a um demagogo já rejeitado pelo seu povo; provocam arbitrariamente parceiros comerciais seminais, como a China ou a Argentina; ameaçam países vizinhos, como a Venezuela; sabotam recursos internacionais, como os do Fundo Amazônia; e reduzem o Itamaraty a uma trincheira de suas guerrilhas ideológicas contra conspiradores imaginários. [acordo Mercosul - União Europeia, outro ajuste ditatorial, basta um único país da UE não assinar e o acordo vai para o beleléu - só quem não tem direito nem a piar, exceto para concordar, é o Brasil; o tal do Fundo Amazônia foi sonegado por o Brasil não concordar com os decretos absolutistas da Noruega - país que prega a preservação das florestas brasileiras e causa danos ao meio ambiente do Brasil.] 

Mas não se pode limitar o conjunto da obra de destruição ao desvario de Jair Bolsonaro. O Congresso acaba de negar ao Ministério da Economia as verbas necessárias para quitar os compromissos em atraso do País com organismos internacionais como a e suas agências.

Em 2019, o Brasil quase perdeu o direito a voto na Assembleia-geral, pagando às pressas sua dívida com a ONU. Na análise das contas federais do ano passado, o Tribunal de Contas da União alertou o governo sobre a grande diferença entre os compromissos internacionais pendentes e a dotação orçamentária para quitá-los, com risco de infração ao artigo 167 da Constituição, que proíbe a realização de despesas sem previsão no Orçamento.

 [vale a pena gastar bilhões de reais pagando taxas para integrar organismos internacionais que não são de grande valia?
- para que serve a OMS? quais as decisões realmente úteis tomadas por aquela Organização no combate à covid-19?
- já perceberam que as decisões realmente importantes da democrática ONU são adotadas pelos membros permanentes do Conselho de Segurança daquela Organização?
E as mais importantes são adotadas por um membro permanente do CS/ONU?
Se todos decidirem uma medida e um membro permanente, apenas um, vetar a decisão, o decidido deixa de valer. 
Assim, um membro apenas pode decidir contra a vontade de todos. 
Situação parecida ocorre no Brasil, com o Supremo Tribunal Federal em que um único ministro pode suspender uma lei aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República. E que o ministro autor da decisão suspensiva, pode retardar a apreciação da matéria pelo colegiado e com isso tornar a suspensão uma revogação.]

Saber mais, clique aqui.]

Neste ano, o governo federal reincidiu na barbeiragem, e deixou para a última hora o provimento de recursos para quitação dos compromissos nacionais com organismos como a OMS, Unesco, OEA, OIT, além de 13 missões de paz, 8 bancos multilaterais, fundos internacionais e outras 106 organizações internacionais. No total, as dívidas somam mais de R$ 4 bilhões.

Para cumprir parte desses compromissos e garantir prerrogativas mínimas, como o direito a voto na Assembleia-Geral da ONU, o Ministério da Economia solicitou ao Congresso um crédito de R$ 1,235 bilhão. Mas a menos de dois meses do vencimento das dívidas, o Parlamento rejeitou o pedido. Todo o episódio é uma verdadeira comédia de erros. Primeiro, há a irresponsabilidade dos parlamentares, ávidos por granjear recursos para as suas praças em época de eleições, mesmo que em flagrante prejuízo dos interesses nacionais. Depois, há a inépcia do Ministério da Economia, que incluiu na mesma solicitação de crédito as contribuições que beneficiavam o MDR, abrindo uma brecha para a manobra do Congresso. Por fim, há a crônica desarticulação do governo com as bases parlamentares.

Agora, conforme apurou o Estadão/Broadcast, a equipe econômica trabalha no afogadilho para utilizar algum projeto de lei de crédito suplementar ainda em tramitação para efetuar novo remanejamento, cortando despesas orçamentárias que não serão executadas, para dar lugar à liquidação de parte daqueles compromissos internacionais.

Se malograr, será uma desmoralização sem precedentes para a política externa. Mas mesmo que consiga, a imagem do País já está arranhada. No mínimo é mais um sinal às autoridades e investidores internacionais da incúria do País em honrar seus compromissos. O quiproquó é injustificável, mesmo pelo choque da pandemia, já que essas dívidas estão contratadas há anos.

Enquanto se multiplicam por todo o planeta os apelos à cooperação multilateral para combater o vírus e a catástrofe econômica precipitada por ele, o Brasil caminha a passos largos rumo ao isolamento. Não é esta a vocação do Brasil e dos brasileiros.

Opinião - O Estado de S. Paulo

 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Calote internacional – O Estado de S. Paulo

Opinião 

Dívida do Brasil com organizações internacionais ultrapassa R$ 4 bilhões

O desapreço do governo brasileiro por organizações internacionais vai além da retórica antimultilateral adotada pelo presidente Jair Bolsonaro e por seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Faltando apenas dois meses para o fim do ano, dificilmente o Brasil honrará os R$ 4,216 bilhões em compromissos assumidos em 2020 com a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), entre outras instituições. Desse montante, apenas R$ 15,4 milhões foram pagos até agora, segundo o Ministério da Economia. A pasta respondeu a pedido de informação feito pelo jornal Valor.

[não defendemos o isolamento total do Brasil em relação aos organismos internacionais. Mas, nos parece que já passa da hora do Brasil analisar a importância de cada um desses organismos internacionais e avaliar a importância de permanecer nos mesmos = vantagens e desvantagens.

Após, sentar com cada um desses organismos e negociar, dependendo da importância de cada um para o Brasil, novo valor para as contribuições e redução dos débitos.

Em  um exame açodado se conclui que integrar a Unesco não tem grande valia, valendo o mesmo para a OIT e a OMS o desempenho pífio daquela organização - campeã em chutes fora, sobre como controlar a pandemia, avanços recuos, um dia pensa de uma forma e no outro mudou 180º - levante uma lebre: que benefícios o Brasil recebe participando daquela organização ou é aquele membro que só é lembrado na hora de ser cobrado? e a OCDE? E a FAO? - quantas vezes ajudou aos famintos do Brasil?

E a ONU? - a mãe de todas. Sempre que emite um parecer sobre matéria de interesse do Brasil é contra - será que sempre o Brasil está errado? lembram daquele parecer da 'comissão de boteco' da ONU em conjunto com a OEA queriam soltar um presidiário multicondenado?]

Com certeza é possível negociar e reduzir taxas. Para fechar: R$ 4,216 bilhões não é muita grana; dos recursos repassados pelo Poder Executivo - mediante coação dos demais Poderes - estão sobrando, segundo matéria do jornal Valor Econômico, R$ 31 bilhões para os governadores gastarem como, se, e onde quiserem.] 

Em nota para lá de otimista, o Ministério da Economia ressaltou que “o exercício orçamentário de 2020 ainda está em andamento” e que, portanto, “ajustes à peça orçamentária estão sendo estudados e pagamentos serão realizados, caso haja espaço orçamentário no restante do ano”. A ressalva não está ali à toa. Como São Tomé, é ver para crer.

A dívida brasileira com a ONU neste ano é de R$ 458,45 milhões. Com a OMS, de R$ 84,44 milhões. À Unesco, o País deve R$ 28,77 milhões. À OIT, são R$ 90,32 milhões. Além desses compromissos, o Brasil não pagou sua participação em 13 missões de paz, 8 bancos multilaterais, em fundos internacionais e em outras 106 organizações intergovernamentais.

O governo alega que a pandemia de covid-19 deteriorou as contas públicas neste ano e dificultou o pagamento dos compromissos do Brasil com esses órgãos. De fato. Mas convém lembrar que em 2019, quando o mundo ainda não era assombrado pela ameaça do novo coronavírus, o País por pouco não perdeu direito a voto na Assembleia-Geral da ONU, pagando às pressas uma parte da dívida com a instituição. Ou seja, a pandemia só acentuou a reiterada falta de compromisso do País com as entidades multilaterais das quais faz parte. [Dívida herdada do governo Temer que herdou do governo de sua antecessora petista. O governo Bolsonaro iniciou 2019 devendo a muitas organizações internacionais.]

Não é de hoje que a ordem internacional baseada no multilateralismo está abalada. Em parte, pelas próprias deficiências de organizações internacionais concebidas no pós-guerra e que demandam algumas reformas urgentes para continuarem a ter relevância no século 21. Mas é a hostilidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra a ordem liberal e democrática representada por instituições como a ONU, a OMS, a Organização Mundial do Comércio (OMC), entre outras, a principal causa do abalo que elas têm sofrido nos anos recentes. E não só os de natureza política, mas também econômica. Afinal, a constrição financeira é uma das formas mais eficazes de minar a atuação de uma organização multilateral, sobretudo quando um grande contribuinte como os Estados Unidos é governado por alguém tão hostil quanto Donald Trump.

Sob a inspiração do presidente americano, outros líderes mundiais, como o presidente Jair Bolsonaro, passaram a se sentir confortáveis em ficar inadimplentes com organismos que representam a ordem internacional vigente que, aliada a outros fatores, contribuiu para o progresso da humanidade sem precedentes no século passado e muito ainda tem a contribuir nos anos vindouros.

É claro que a dívida do Brasil com as organizações internacionais não tem o caráter de retaliação que têm os substanciais cortes de recursos praticados pelos Estados Unidos. O Brasil não tem poder para tanto. Mas o desdém de Bolsonaro por essas instituições, calcado em uma espécie de respaldo da contraparte norte-americana, tampouco o anima a quitar os débitos.

Amanhã os americanos decidirão quem presidirá o país nos próximos quatro anos. A depender da escolha, o multilateralismo pode recuperar boa parte da força perdida. O Brasil pleiteia assentos na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e no Conselho de Segurança da ONU, entre outros objetivos internacionais que dependem de uma boa atuação no concerto das nações. Convém estar em dia com suas obrigações.

Opinião - O Estado de S. Paulo - 2 novembro 2020


sexta-feira, 12 de junho de 2020

O capitão combate a verdade - Fernando Gabeira

Em Blog


quinta-feira, 11 de junho de 2020

Miséria, como sempre - William Waack

O Estado de S.Paulo

É a pobreza de milhões de pessoas, agravada pela crise do vírus, que condiciona as agendas

O coronavírus colocou de novo no centro do nosso vocabulário uma palavra que a gente ouve há gerações e não consegue se livrar dela: miséria. O palavreado inócuo de sucessivos governos petistas alardeando exitosa “inclusão social” e “combate à pobreza” já havia sido desmentido pelos números antes mesmo da atual tripla crise política, econômica e de saúde pública – e Lula foi beneficiado por um ciclo de bonança internacional que não se repetirá por gerações.

No meio da pior crise de nossa memória o atual governo está demorando (assim como demorou para se adaptar ao jogo político) para entender que miséria é o fator que condicionará todos os cálculos políticos e estratégicos. Miséria é o que já jogou para o alto o caminho de ação no qual Paulo Guedes insistia ainda naquela semana de março na qual as medidas de emergência foram decretadas. A saber: o de que reformas estruturantes (Previdência, tributária, administrativa, de Estado, etc) produziriam dentro de um horizonte político conveniente, o de 2022, o “destravamento” da economia e consequente combate sustentável da miséria.

Ocorre que ela aumentou antes, e inverteu prioridades. A miséria está sendo agravada por uma crise que evidenciou de forma ainda mais brutal o grau de informalidade e vulnerabilidade de vastas camadas da nossa população, especialmente nas periferias das grandes capitais. Nesse contexto de pobreza gritante e crescente pode-se chamar o conjunto de parlamentares do que se quiser, menos de bobos, e a resposta que articularam até aqui (a de escancarar os cofres públicos) é o reconhecimento político da gravidade de uma situação social que ainda deve piorar antes de talvez melhorar, e não se sabe quando.

Em outras palavras, o dilema imposto ao governo pela miséria do País é como equilibrar o altíssimo custo político de parecer produzir ajuda insuficiente para milhões de necessitados versus o altíssimo custo fiscal de manter programas de renda básica. Diante da claque com que “dialoga” entrando ou saindo todo dia do Alvorada, Jair Bolsonaro já resumiu o problema para o qual ninguém tem solução. “Não tenho dinheiro para seguir nisso muito tempo”, afirmou.

Aproveitou também para repetir que a “culpa” é de governadores, do STF, de “terroristas” manifestantes, da imprensa ou, mais recentemente, da OMS, [convenhamos que a OMS com o recomenda e desrecomenda semeia, a exempto do STF, a INsegurança estratégica do combate à pandemia.] que estaria, por motivos políticos, interessada em “quebrar o Brasil” (desalojá-lo do poder, entende-se). Bolsonaro evidentemente aprecia os benefícios político-eleitorais trazidos por programas de distribuição de dinheiro, conforme demonstram as pesquisas. Porém, reconhece que não há mais espaço fiscal para criação de despesas obrigatórias (como prestação de benefícios desse tipo) – a não ser que se arrisque levar as contas públicas à insolvência.

Na busca desenfreada por uma resposta ao “que fazer” surgem as propostas lacradoras de internet, como a de reduzir salários nos três Poderes. É um poderoso símbolo, mas no mundo dos números ainda insuficiente para combater a miséria. Ou a de colocar na frente de qualquer outra reforma a do sistema tributário, que ajudasse, pela simplificação, a diminuir a informalidade – portanto, ampliando o alcance de benefícios sociais. Como é fartamente sabido, o grande obstáculo a qualquer reforma tributária é a ausência de lideranças políticas capazes de refazer o pacto federativo, fora descascar o abacaxi de equilibrar o jogo de interesses de múltiplos grupos econômicos e corporativistas.

Todos que lidam com história de campanhas políticas lembram da célebre frase de marqueteiros americanos quando tratavam de convencer um candidato à presidência (Bill Clinton) a manter o foco. “It’s the economy, stupid.” No Brasil a miséria impõe outra prioridade. “It’s the social, stupid.” É simplesmente não deixar pessoas morrerem de fome. E a gente achava que já tinha deixado isso para trás.

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo


sexta-feira, 22 de maio de 2020

O PIOR DOS MUNDOS - Percival Puggina


 A cada dia que passa, observando a evolução dos números de novos diagnósticos e de óbitos levados à conta da covid-19, mais me convenço de que iremos conviver com essa doença por muitos meses.  Produzir imunidade ampla em relação ao vírus é tarefa gigantesca, de eficácia incerta, para as calendas do ano que vem, e olhe lá. Não há segurança sequer em relação à imunização que a própria infecção confere ao enfermo curado. Pessoas continuarão se contagiando e adoecendo por um período de tempo incerto e não sabido.


A pergunta que está sobre a mesa é a seguinte: até quando devemos manter o isolamento horizontal, se sabemos que o coronavírus continuará entre nós? O isolamento vem acompanhado de uma paralisação das atividades econômicas e traz um séquito de desgraças, a saber: recessão, fechamento de empresas em cascata, desemprego, redução de salários, queda do consumo, descrédito de investidores e aumento do risco Brasil, perda de valor das empresas, desvalorização da moeda, redução proporcional das receitas públicas e, consequentemente, da capacidade de o setor público dar conta de suas atribuições essenciais. Se quem pode mais, como a Petrobras, fechou o trimestre com prejuízo recorde, imagine-se a situação de quem pode menos.

Convivem hoje dois consensos bastante amplos. Segundo os profissionais da saúde, é necessário manter o isolamento para “achatar a curva” e reduzir a pressão sobre o sistema de saúde, e evitar a mortalidade por incapacidade assistencial. Segundo o mundo do trabalho, ou seja, o setor privado produtivo, é preciso retomar atividades, com as devidas precauções, para evitar a miséria e suas consequências fatais sobre os segmentos mais frágeis da sociedade, a saber, entre muitas outras: falta de recursos fiscais para irrigar o sistema público de saúde e sobrecarga desse sistema por abandono dos planos privados, desemprego, desabitação e aumento da população de rua, subnutrição.

Junto a todos os louvores aos profissionais da saúde atendendo na ponta do sistema, contraindo a enfermidade, morrendo durante seu empenho em curar os outros, contrastando a nobreza de sua tarefa com a vilania da politicagem e da corrupção, sei que a Ciência, tão exaltada quanto necessária nestes tempos difíceis, sofre maus tratos em certas mãos. 
Por que será que a OMS me vem à mente enquanto escrevo?
Numa visão distópica, se ninguém sair de casa e ali ficarmos assépticos, passando álcool gel, teremos deixado o vírus à míngua, mas escreveremos o posfácio da civilização. Caberá aos sobreviventes escrever o futuro. Repito, é uma distopia.

Penso que o debate sobre o mais grave problema da humanidade neste período de protocolos, quarentena, isolamento horizontal, vertical e lockdown não pode – em hipótese alguma – cair na ideologização. Neste estreito e raso patamar, as Ciências relacionadas à Saúde são vistas como cuidadoras da humanidade e a Economia como ciência cuidadora do dinheiro... Essa é uma visão realmente estreita e terrivelmente ideológica. A Economia como Ciência, ou substantivada como atividade econômica, liga-se inteiramente, por preposição, à vida e sobrevivência do ser humano! A Economia é para pessoas, de pessoas, com pessoas, por pessoas, sobre pessoas, mediante pessoas.

Associá-la exclusivamente a dinheiro é desconhecer o que a torna essencial, inclusive para que as Ciências da Saúde avancem e proporcionem a todos o bem que a elas corresponde. Na prática, é preciso saber como conciliar as condições de sobrevivência com as de proteção da vida. A melhor solução será aquela que minimizar as duas perdas defasadas na linha do tempo, mas significativas e reais: as mortes causadas pela doença e as mortes determinadas pela miserabilização da sociedade. Receio estarmos andando pelo pior dos mundos, com o maior dano em ambos os casos.

 Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
  

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Corte salarial para políticos e Isolamento total não existe - Gazeta do Povo

Cristina Graeml

Corte no salário de políticos e servidores públicos. 

Sugestão para combater a crise econômica pós-pandemia já está circulando na internet.

 Isolamento total não existe
A pandemia de coronavírus e a consequente necessidade de isolamento social para evitar o contágio nos fez ver que tipo de serviços precisam realmente ser feitos de forma presencial. São muitos! E aí eu queria chamar a atenção para a hipocrisia do discurso do isolamento total, o que, por óbvio, é impossível de se fazer.

Quem está tentando meter política nessa história, dizendo que determinado governante está mais certo que o outro, porque determinou antes que todo mundo ficasse em casa, ou quem arroga pra si a virtude do altruísmo enquanto há uma massa ignorante e irresponsável indo pra rua e dando sobrevida ao vírus, precisa cair na real, porque além de vazias essas narrativas acabam jogando a culpa sobre inocentes que estão dando doses imensas de sacrifício para tentar preservar um pouco de sanidade no meio dessa loucura toda.

Serviços essenciais
É lógico que há serviços mais essenciais que outros. Todos hão de concordar que, num primeiro momento, atender a um doente é mais urgente que vender produtos no comércio. Por essa lógica atendimento médico é mais essencial que fabricar computadores ou celulares, por exemplo. Mas passado algum tempo vai faltar computadores e celulares para quem quer adquirir um novo equipamento ou substituir um antigo, com problema. E até médicos podem vir a ter dificuldades para trabalhar sem telefone e computador, prejudicando o atendimento em clínicas e hospitais, certo?

Então, em época de ânimos exaltados e discursos erroneamente interpretados, prefiro falar em serviços essencialmente presenciais, que nesse momento exigem que parte considerável das pessoas continue saindo de casa para trabalhar. A lista é enorme: serviços médicos, de enfermagem, farmácia, de limpeza (e aí é imprescindível incluir os lixeiros, que raramente são lembrados), serviços de segurança, de transportes e todos aqueles relacionados à gigantesca cadeia de fornecimento de alimentos.

Começa com o agricultor. Ele às vezes trabalha em família, então, em tese, teria como respeitar o isolamento social até o momento de fazer a entrega do que planta e colhe. Mas muitos agricultores são empregados em grandes propriedades produtoras e seguem saindo de casa todo dia para trabalhar.  Tem também o pessoal que ensaca ou encaixota os produtos colhidos no campo para levar para as indústrias de processamento de alimentos ou direto para os estabelecimentos comerciais. Tem a turma que transporta, seja de kombi, caminhão, trem, barco, até de navio, no caso das exportações. E aqui entram na ista também os funcionários de portos e aeroportos, dos postos de combustíveis.

Não esqueçamos de todas as fábricas que processam alimentos, dos supermercados, das mercearias... E quando a gente fala de mercados e vendas, é preciso incluir, além do pessoal de atendimento direto ao cliente (como açougueiros, atendentes de padaria e os caixas) também os estoquistas, a equipe administrativa, os faxineiros, os seguranças. É muita gente.

Recriminar quem sai de casa é covardia
Diante dessa lista imensa de serviços essencialmente presenciais me surpreende ver pessoas que podem trabalhar sem sair de casa (e devem continuar fazendo isso) horrorizadas com estatísticas de que em tal cidade ou estado “só” 60% ou 50 e poucos por cento da população estão respeitando a quarentena.

Não é para se horrorizar. É motivo de comemoração. Um país do tamanho do Brasil conseguir quase que de uma hora para a outra que metade das pessoas não saia de casa é um grande feito! Isso ajuda a conter o ritmo de contaminação do vírus que, todos já sabemos, é altamente contagioso. E mantém atendimento a doentes, além do abastecimento para os hospitais e as casas de quem está em quarentena.

Há um ponto perigoso no discurso esnobista do horror aos que saem de casa, nessa onda que varreu as redes sociais e os grupos de WhatsApp, de que nós, que respeitamos a quarentena, somos conscientes, porque estamos confinados, abrimos mão da nossa liberdade de ir e vir enquanto um bando de irresponsáveis está nas ruas espalhando o vírus.

Alimentar essa discussão é espalhar ódio a quem precisa sair de casa para buscar o sustento da sua família e esquecer dos que sequer têm escolha, porque fazem parte daquela lista de trabalhadores essenciais.
Então se há "só" 60% ou 50 e poucos por cento que ficam em casa, esses precisam é agradecer aos 40 e poucos por cento da população que seguem saindo para trabalhar todo dia, apesar de não contribuírem para que a estatística de "respeito à quarentena” pareça melhor. Infelizmente são eles os mais vulneráveis à contaminação e, sim, os maiores responsáveis pela transmissão do vírus, porque estão na linha de frente do atendimento aos doentes e aos clientes.

Você já parou para pensar que a curva do contágio continua aumentando, porque eles estão se contaminando e levando o vírus para as próprias casas, contaminando também suas próprias famílias? Não á toa a Organização Mundial de Saúde (OMS) explicou recentemente que o fato de a curva de contágio continuar crescendo em boa parte dos países, apesar de o mundo inteiro estar fazendo quarentena, tem a ver com isso: o contágio está se dando dentro das casas.  Sim! Não fiquemos horrorizados. É o curso normal de qualquer ciclo de contágio. Pessoas saem para trabalhar, voltam para casa com o vírus ainda sem ter sintomas, contaminam suas famílias e, só depois, descobrem que estão doentes. Passados mais uns dias é o marido ou a esposa ou os filhos que adoecem.

A gente precisa entender isso para parar com o debate bobo de que só o isolamento total pode conter a pandemia, porque isso não vai acontecer. E não é sensato nem honesto ficar criticando quem não faz quarentena, achando que todo mundo se enquadra na condição de trabalhar em casa, porque as realidades são muito diferentes até mesmo da nossa casa, para o vizinho de muro ou de andarQuem está na sacada ou na janela batendo panela e gritando para criticar ou apoiar presidente, ministro, governador, quem quer que seja, por terem defendido os que precisam trabalhar ou mandado os desobedientes sossegarem o facho, deveria olhar para o térreo e lembrar que ali na portaria do prédio tem um funcionário que todo dia vai e volta de casa para o trabalho, pega ônibus, metrô, se expõe ao risco de contrair coronavírus, de levar o inimigo invisível pra dentro da própria casa, e isso só pra garantir que outros fiquem seguros com a família.

E não venham me dizer que estou apoiando o presidente ou apoiando Doria, Witzel, Caiado, Maia, quem quer que seja. Ou o Mandetta ou o Tedros da OMS! Quero apenas abrir os olhos para o ridículo que é, nesse momento, politizar o isolamento social sem perceber que, ao fazer isso, querendo atingir o grupo que pensa o contrário, joga-se uma carga de culpa sobre trabalhadores inocentes.
Está mais do que na hora de a gente olhar para o jeito italiano ou espanhol de lidar com a quarentena, que é ir para janela cantar, aplaudir e levar algum conforto a quem está trabalhando, do que ficar praticando o esporte nacional preferido que é berrar no vazio e espalhar ódio, incompreensão e mais medo.

Cristina Graeml, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo



quarta-feira, 1 de abril de 2020

Um homem atormentado - Merval Pereira

O Globo

Bolsonaro começa a mudar

Só o futuro dirá mas, pelo pronunciamento de ontem por rede nacional de televisão, está caindo a ficha do presidente Jair Bolsonaro. Com atraso, parece ter começado a se mover na direção do bom-senso que a realidade está fazendo prevalecer em todo mundo, em governos populistas de direita, como o dele e o de Trump nos Estados Unidos, e de esquerda, como o de Lopez Obrador no México.


Pela manhã, o presidente havia dado a entender que usaria a fala do diretor-geral da OMS Tedros Ghebreyesus para defender o fim do isolamento horizontal, mas teve que recuar diante do desmentido formal da Organização. Mesmo assim, Bolsonaro sonegou frases para montar uma versão que, para os mais desinformados, parece ser uma concordância com a sua posição. Mas em nenhum momento ousou defender o fim do isolamento social, mesmo porque o número de mortes e infectados entre nós começa a crescer de maneira exponencial, e ainda nem estamos no pico da epidemia. Cada vez mais solitário, o presidente Bolsonaro é um homem atormentado, conforme depoimento de pessoas que estiveram com ele recentemente. Alguns relatos falam em choros súbitos, e não seria estranho, pois há meses o presidente, ele próprio, já declarou que chora durante a noite.

Reclama dos ministros, acha que a imprensa elogia Mandetta, ou Moro, ou Guedes para diminuí-lo, como se ter escolhido bons ministros não fosse uma qualidade sua. Parece sentir não estar à altura do momento. Mas, apesar do comportamento errático que frequentemente espanta ministros e assessores palacianos, Bolsonaro consegue manter um apoio na classe militar, na qual desde o começo baseou seu governo.

Militares influentes, mesmo discordando de muitas atitudes, levam em conta sua reclamação de que o Congresso e a imprensa não o deixam trabalhar, emperram suas decisões com críticas exageradas e posições radicalizadas, como se ele não fosse o primeiro a radicalizar.  [importante para o Brasil e para o governo do presidente Bolsonaro é  que muitos já perceberam que existe por parte do Congresso Nacional e da mídia, não toda mas parte considerável, o interesse, o propósito de boicotar, até sabotar, ou no mínimo atrapalhar o Governo do Presidente Bolsonaro.

Tal atitude se tornando pública facilita ao presidente Bolsonaro neutralizar em parte ou mesmo totalmente tais ações.

Até o Supremo, age de forma a desestimular o presidente Bolsonaro a adotar medidas de sua competência e necessárias para a governabilidade do Brasil- ministro em 'off' e/ou sob compromisso de anonimato informam que se o presidente Bolsonaro adotar tal medida, ou editar tal norma, será desautorizado pelo STF.

PANELAÇOS; inúteis - o presidente Bolsonaro não está sob processo de impeachment (condição que eventuais panelaços poderiam influir de modo desfavorável ao presidente do Brasil)
E estão sendo desmoralizados - a imprensa apresenta imagens repetidas = de reportagens anteriores.
Ontem mesmo apesar de mostrar imagens com vários apartamentos de um edifício, apenas em um se percebeu uma panela sendo batida = situação mostrada em imagem de um 'outro' panelaço.]
Esse aparelhamento militar da máquina estatal é consequência natural, pois Bolsonaro fez sua vida política apoiado pelas corporações militares e por membros delas mesmo fora das três Armas, como integrantes de empresas de segurança e milicianos que a família condecorou e empregou. 

Essa atitude faz com que os militares tenham pontos em comum com o presidente, mesmo quando discordam das estratégias ou atitudes. Há uma admiração pela maneira como conseguiu eleger-se deputado federal por quase trinta anos e chegar à presidência da República com apoio popular, como se esse apoio, coroado em 2018, tivesse o condão de resgatar a imagem dos próprios militares. [certamente não resgatou a imagem de metalúrgicos ou de sindicalistas pelegos.]

Bolsonaro faz questão de manter essa aura de vencedor, e quando há alguma discussão mais difícil dentro do governo, ele assume a solução alegando: “Quem tem voto aqui sou eu”. Ontem, esse homem assombrado por fantasmas viu-se diante de uma situação inusitada, o combate ao Covid-19 que provoca a maior crise humanitária das últimas décadas no mundo, e a data 31 de março de 1964, que para ele e os militares em geral, especialmente os de uma geração ainda na ativa, representa um paradigma do qual insistem em se orgulhar, como mostra a ordem do dia anacrônica do ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva. [motivos para orgulho não faltam e disposição para se necessário fazer tudo de novo - não cometendo os erros anteriores (um dos erros, não o único,  foi o de permitir que os vencidos escrevessem a história, no que resultou em estória).]

A luta contra o comunismo num mundo em que esse sistema político nem mesmo existe mais, é o maior elo entre os militares e Bolsonaro, e ele se vale disso para alimentar o sentimento de lealdade. O perigo de haver revoltas populares por falta de comida e dinheiro é uma ameaça que o presidente vende para justificar sua insistência contra o isolamento  horizontal. O fantasma da volta de Lula e do PT, a que o próprio Bolsonaro alude volta e meia, aliado à memória do golpe de 64, é um amálgama que os une, ainda que completamente equivocado.  

Bolsonaro usa essa lembrança para fazer política, pois lhe convém manter essa dicotomia “eu contra ele”. Mas ele, que pela manhã havia feito um comentário sobre o golpe militar dizendo que foi “o dia da liberdade”, à noite não se pronunciou sobre o tema, demonstrando, talvez pela primeira vez, que, por momentos, sabe separar o grave período por que a humanidade passa da politicagem que ontem ainda manchava seu pronunciamento com a tentativa de distorcer as palavras do diretor-geral da OMS.

Merval Pereira, jornalista - O Globo