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sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O novo B do Brics - O Estado de S.Paulo

Eliane Cantanhêde

Criado contra o ‘mundo unipolar’, o Brics passa a contar com um forte aliado dos EUA

A reaproximação do Brasil com a China e o entusiasmo do ministro Paulo Guedes com acordos bilaterais de livre-comércio são bons passos para corrigir dois erros da política externa, um bem recente, do início do governo Bolsonaro, e outro lá atrás, do início da era PT. Esses passos vêm em boa hora. A política externa e comercial do governo Lula, fortemente pautada pela ideologia, impediu a discussão séria e pragmática da Área de Livre Comércio das Américas, a natimorta Alca. Poderia ter sido bom ou ruim aos interesses brasileiros, mas nunca saberemos. O próprio debate foi bloqueado.

Além de inviabilizar a Alca, o Brasil foi decisivo para vetar acordos bilaterais dos parceiros do Mercosul, ficando subentendido que não fazia e não permitia que Uruguai, Paraguai e Argentina fizessem acordos de livre-comércio diretamente com os Estados Unidos. Sem Alca e sem bilaterais, a grande aposta foi na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que nunca saiu. Ou seja, não sobrou nada.

Agora, depois do anúncio (por enquanto, um mero anúncio) do acordo Mercosul-União Europeia, o governo Bolsonaro atira para todos os lados. Já acenou com livre-comércio com os EUA, com a China e, depois das duas maiores economias do planeta, sabe-se lá com quantos mais. A palavra de ordem de Guedes é abertura.

De outro lado, a obsessão em desvincular o Brasil do Tio Sam correspondeu a uma ilimitada aproximação com a China, que começava a desbravar todos os continentes e ultrapassou os EUA como nosso principal parceiro comercial. E com vantagem objetiva enorme: o Brasil é superavitário nas relações com os chineses, ou seja, vendeu mais do que comprou. Pois não é que Jair Bolsonaro, eleito, já passou a – também fortemente pautado pela ideologia como Lula, mas às avessas – cutucar e provocar a parceira e gigante China. Quanto mais se assumia pró-EUA, ou melhor, pró-Trump, mais Bolsonaro desdenhava a China, que “queria comprar o Brasil”.

Ao ser recebido com pompas em Pequim e agora no seu encontro com Xi Jinping em Brasília, o presidente corrige seu próprio erro, recoloca as relações nos eixos e, mesmo sendo a China uma ditadura de esquerda, passa a agir com pragmatismo. O regime da China é um problema dos chineses, as trombadas entre Washington e Pequim são problema dos dois e o que nos diz respeito são os interesses brasileiros nas relações. E isso parece estar, enfim, prevalecendo.

Quanto ao Brics, há uma mudança importante. Ao se unirem em 2006, Brasil, Rússia, Índia e China (África do Sul veio depois) tinham uma ambição econômica e uma estratégia política: se rebelar contra um “mundo unipolar”, ou seja, contra a hegemonia acachapante dos EUA. Hoje, porém, o B mudou de lado.

Quatro dos cinco países estão entre os dez maiores, mais ricos e populosos do planeta, logo, capazes de reequilibrar o jogo mundial. O Brasil, porém, abre uma fenda na unidade do grupo. Assim como rompeu sua histórica postura independente para seguir os EUA em votos sobre Cuba e sobre direitos humanos na ONU, o Brasil age para o Brics incomodar o mínimo possível os EUA.

Assim, o Brics continua sendo forte e importante na economia mundial, mas a unidade política e o futuro do grupo parecem incertos e não sabidos, com China e Rússia de um lado, o Brasil sonhando com um alinhamento automático com os EUA e a Índia e a África do Sul tentando se equilibrar entre os parceiros. Só isso explica que a declaração final da cúpula de Brasília tenha se ocupado de Síria, Coreia do Norte, Sudão e Iêmen, sem uma única linha sobre Venezuela e Bolívia. Os negócios vão muito bem, mas os EUA pairam sobre o Brics e as visões de mundo dos cinco são hoje claramente muito diferentes.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo
 
 

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

O que é obstrução de Justiça, crime atribuído a Bolsonaro pela oposição - O Estado de S. Paulo

Bolsonaro nega obstrução: 'Não quero adulterar nada'

Previsto na lei 12.850/2013, que trata das organizações criminosas, delito leva a penas que variam de três a oito anos de prisão 

No sábado, o presidente disse ter obtido os áudios de conversas da portaria de seu condomínio, após ter o nome mencionado em investigações


O presidente Jair Bolsonaro declarou, na noite deste domingo 3, que “não quer adulterar nada” do que foi registrado na portaria do condomínio Vivendas da Barra, no Rio, onde possui uma casa. O presidente também afirmou que é “má-fé ou falta de caráter” acusá-lo de manipular as investigações sobre o caso da morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista, Anderson Gomes.

[os que pretendem denunciar o Presidente da República, JAIR BOLSONARO, partidos e parlamentares são figurinhas carimbadas já conhecidas. Por lhes faltar competência para fazer uma oposição séria fazem denúncias infundadas e que nunca vão em frente. 
Para prosperar eles terão que provar que o presidente Bolsonaro tentou impedir ou embaraçar investigação de crime envolvendo organização criminosa.
Salvo fato superveniente nada indica que Bolsonaro tentou impedir ou embaraçar qualquer investigação - lembrando que até o presente NADA PROVA que o assassinato da vereadora e seu motorista envolva organização criminosa - suspeitas e provas são bem diferentes.
NADA PROVA que a ação preventiva do presidente contra tentação de adulteração das gravações tenha impedido ou embaraçado qualquer investigação policial.
- O deputado Molon, tem a seu favor - além da mania de denúncias sem provas - o fato de ter apresentado um projeto importantíssimo na Câmara Federal = propôs um voto de louvor pelos 90 anos da atriz Fernanda Montenegro;
- o senador Randolfe, campeão em denúncias não provadas, se destaca por apresentar projetos também não aprovados.
Mais detalhes sobre a tipificação dos 'crimes' pelos quais estão denunciando,injustamente,   o presidente da República  podem ser obtidos na Lei 12.850/2013 - constatarão que são denúncias sem fundamento.] 


Bolsonaro deu uma rápida entrevista na saída de uma partida entre Itália e Paraguai pela Copa do Mundo Sub-17 no Estádio Bezerrão, no Gama, região administrativa do Distrito Federal, a cerca de 39 quilômetros do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente.  No sábado, Bolsonaro disse ter obtido os áudios de ligações feitas entre a portaria e as casas do condomínio antes que elas tivessem sido “adulteradas”. “Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano. A voz não é minha”, afirmou na ocasião.

A declaração provocou reação da oposição, que informou que iria acionar a Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro sob a alegação de que o presidente cometeu “obstrução de Justiça”, ao “ter se apropriado de provas relacionadas às investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes”.
Questionado hoje se havia sido mal interpretado, Bolsonaro afirmou que as acusações são de “quem não tem o que fazer”.
“O que eu fiz foi filmar a secretária eletrônica com a respectiva voz de quem atendeu o telefone. Só isso, mais nada. Não peguei, não fiz backup, não fiz nada. E a memória da secretária eletrônica está com a Polícia Civil há muito tempo. Ninguém quer adulterar nada, não. O caso Marielle, eu quero resolver também. Mas querer botar no meu colo é, no mínimo, má-fé e falta de caráter”, disse o presidente.

Futebol
Bolsonaro falou a jornalistas após descer da tribuna de honra do estádio para a arquibancada. Ele decidiu cumprimentar um grupo de torcedores paraguaios que no intervalo haviam entoado o nome do presidente. Cercado de seguranças, ele partiu para o meio da torcida e posou para fotos. A partida contou com um público de 824 pessoas.

O presidente saiu do Palácio da Alvorada pouco antes das 19h para o estádio. A partida começou às 20h. Bolsonaro foi ao estádio acompanhado pelos ministros do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e pelo secretário nacional de Esportes, Décio Brasil.


VEJA - Transcrito do Estadão Conteúdo

 

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Grupo de Puebla: Nova estrutura substitui o Foro de São Paulo para a retomada do Poder - DefesaNet

Nova Organização da esquerda que substituiu o Foro de São Paulo é montada para coordenar uma Guerra Híbrida Continental

Nova Organização da esquerda que substituiu o Foro de São Paulo é montada para coordenar uma Guerra Híbrida Continental . Na foto sentados Haddad e Mercadante. Foto Grupo de Lima 

Discretamente, 10 dias antes da XXV Reunião do Foro de São Paulo, realizada em Caracas, na cidade de Puebla, México, foi criada a nova organização, que substituiu o carcomido Foro de São Paulo.  Criado em 1990, na cidade de São Paulo, para buscar formas de apoiar financeiramente Cuba, após o debacle Soviético, serviu de base para que a esquerda tomasse o poder na maioria dos países da América Latina, em especial os mais relevantes, incluiu: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Venezuela.

Após a perda do poder na maioria dos países e sem fontes de financiamento, que provinham do Chavismo com os petrodólares da Venezuela e do sistema de corrupção montado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) no Brasil a esquerda trabalhou uma nova estrutura.

O Relatório Otálvora, publicado neste Sábado (19OUT2019) detalha:

 
“De acordo com sua primeira declaração, o Grupo de Puebla pretende "construir um novo projeto comum, aprendendo com nossos erros e recuperando nossa vocação de maiorias e de governo".

A escolha do local, é icônica pois marca os 40 anos da III Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (27JAN a 13FEV1979), realizado em Puebla de los Angeles, México.   A Conferência de Puebla teve forte influência do Cardeal Aloisio Loscheider,  arcebispo de Fortaleza, e então presidente da CNBB e também presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano.   A Conferência de Puebla marcou a participação da igreja católica na política da da América Latina nas próximas décadas. Realizado logo início do pontificado de João Paulo II este pouco pode fazer para bloquear o avanço da Teologia da Libertação. A Teologia da Libertação foi banida da Igreja Católica, em 1984.

Entre os fundadores do Grupo de Puebla há políticos da América Latina e da Espanha:

- México - Cuauhtémoc Cárdenas;
- Argentina - Alberto Fernández (atual candidato à presidência), Jorge Taiana e Felipe Solá;
- Chile -  Marco Enríquez-Ominami, Alejandro Navarro e José Miguel Insulza;
- Brasil - Lula da Silva, Dilma Rousseff, Fernando Haddad e Aloizio Mercadante;
- Colômbia - Ernesto Samper e Clara López;
- Paraguai -  Fernando Lugo;
- Equador  - Rafael Correa e Gabriela Rivadeneira;
- República Dominicana - Leonel Fernández, e .
- Espanha José Luis Rodríguez Zapatero,
Para Otálvora, o PT brasileiro, o Kirchnerismo argentino, o correismo equatoriano e os socialistas chilenos são o centro do Grupo de Puebla
.

O pesquisador venezuelano Pedro A. Urruchurtu publicou uma longa thread em sua conta do twitter (@Urruchurtu),  que vale a pena ver, publicamos alguns pontos:

 (...)





- Se pronunciaram contra Duque, contra Bolsonaro, contra Lenín Moreno e tem negado a possível ativação do TIAR no conflito venezuelano. Sua ações vão direto contra o Grupo de Lima e o bloqueio democrático na OEA. Seu fim e extermirnar ambos.

- Debe-se referir a este grupo e também mencionar o Foro de Sao Paulo? Muitos percebem como substituição do Foro e o  rejuvenescimento do mesmo, para preparar o retorno da esquerda ao Poder
 
Aquí o grande diferencial do Grupo de Puebla. É uma organização que está adaptada para agir em todos os campos: publicamente, nas sombras e em especial na mídia. Os recentes “conflitos sociais” no Equador e no Chile já mostram o perfil traçado para a organização.  No Brasil estão alinhadas as tradicionais publicações da esquerda: DCM, Brasil 247 e Carta Capital entre outros. No exterior relevantes: o espanhol El Pais, a bolivariana TeleSur e o sistema Russo de Guerra Hibrida baseado no RT e Sputnik.

Analistas internacionais têm alertado DefesaNet que a Rússia não planeja abandonar e menos ainda mudar o status em relação com o Venezuela.  Portanto “o Grupo de Puebla” será uma engrenagem na máquina de desinformação (Fake News) do Kremlin na região. Ao mesmo tempo introduz na região a GUERRA HÍBRIDA, queiram ou não os militares, o Sistema Brasileiro de Inteligência e a catatônica Escola Superior de Guerra (ESG).

(....)

Qualquer adaptação cabocla de grupos criminais agindo com motivação política seria uma realidade dantesca impossível de ser avaliada.  Fontes policiais do RJ e SP mencionam, que os grupos ligados ao tráfico, chamam a sí mesmo como “tropa” e se portam como “paramilitares”. Funkeiros e MCs adotam o termo em suas composições. Surge também em um campo inédito a Justiça, incluindo o Lawfare, o uso do sistema judicial como arma de guerra poítica e económica. O Grupo de Puebla criou o “Consejo Latinoamericano de Justicia y Democracia” (CLAJUD), para reestabelecer a Justiça Social e o Estado de Direito. O protagonismo do Supremo Tribunal Federal (STF) cumpre atualmente a parte que lhe cabe nesta nova estrutura seguindo as instruções emanadas desde o Grupo de Puebla, via Curitiba.
 

Alberto Fernández, caso eleito presidente na Argentina, será líder do grupo e por isto convocou a próxima reunião em seu país. Assim, retirará a Argentina do Grupo de Puebla, assumirá posições alinhadas ao México e Uruguai no caso da Venezuela e representará a nova esquerda.  Por último como financiar uma organização tão sofisticada e drenadora de recursos como o Grupo de Puebla?

 No ítem 7 Princípios de Ação, da
Declaración de Puebla consta:
“diseñar iniciativas efectivas para acabar con el narcotráfico, brindando seguridad y protección a la ciudadania con políticas que promuevan la integración y la convivencia como base para la paz social.”

O que é evidentemente uma falácia. Logo um dos maiores obstáculos ao “Grupo de Puebla” no momento é o Ministro Sergio Moro. Uma das felizes equações inesperadas e que surpreendeu foi a performance do Ministro Sergio Moro como executivo e coordenador das atividades dos órgãos policiais. Está implodindo as rotas do narcotráfico assim como contrabando e ilícitos. Por isso o CENTRÃO, a imprensa protegida pelo STF e áreas narcotistas do Judiciário necessitam do urgente afastamento do Ministro Sergio Moro.

O atual governo não tem estratégias mínimas para enfrentar ao proposto pelo Grupo de Puebla:
-  Lawfare
-  Guerra Híbrida
-  Guerra Informacional
-  Ações de Gangues criminais organizadas com objetivo político
-  Entorno geográfico hostil politicamnete
-  Manter ruma estratégia frente à Rússia
-  Qual a posição em relação à China

Para a Declaração da Formação do Grupo de Puebla acesse:



Em DefesaNet, leia MATÉRIA COMPLETA

 

 

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

O ciclo da frustração - William Waack

O Estado de S.Paulo

As crises nos vizinhos sul-americanos têm poderoso e perigoso denominador comum

Não é difícil encontrar um denominador comum para as sucessivas e paralelas crises que tomaram conta (por ordem alfabética) de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru e Venezuela, para ficar apenas com a América do Sul. O “ciclo” atual desses países é o da “era do descontentamento”. Ou da era da frustração, como preferir.
Em seu conjunto, os países desta região só se comparam aos do Oriente Médio quanto ao número de seus habitantes que declaram ter vontade de seguir a vida em outro lugar (no Brasil, alcança a faixa dos 30%; fonte é o Gallup). São os países nos quais existe a mais aguda percepção no planeta de que seus regimes políticos são tomados pela corrupção. E os de mais baixo desempenho econômico na comparação com todas as outras regiões.
Tomados individualmente, cada um desses países teria razões próprias, locais, culturais e históricas para os períodos de crise econômica, turbulência e instabilidade políticas. Mas há algo comum a todos: um sentimento difuso de frustração trazido pela demora em romper a perceptível estagnação que caracteriza um conjunto de nações preso à armadilha da renda média, e cuja distância em relação aos países mais avançados continua praticamente a mesma de uma geração atrás.
A punição a quem está no poder é quase imediata, não importa se de esquerda ou direita. Na Argentina, no Chile ou no Brasil, recentes resultados eleitorais dividem um mesmo pano de fundo: um acentuado desejo de mudança trazido menos pela esperança num futuro melhor e muito mais pela indignação com a corrupção, medo com a criminalidade e profunda desconfiança na capacidade do “sistema” de resolver problemas agudos – “sistema” passa a ser tudo, da administração pública à imprensa, passando (claro) pelo Judiciário. Ganha quem prometer derrotar o “sistema”.

Acabam sendo literalmente catapultados para o centro de decisões figuras de políticos de personalidades e biografias bastante diversas (como são Bolsonaro, Macri e Piñera, para ficar apenas nos casos de Brasil, Argentina e Chile), mas todos herdeiros de contextos políticos caracterizados, de um lado, por ausência de claras maiorias parlamentares. E pela presença, por outro lado, de bem constituídos grupos de interesses e corporações dentro da máquina do Estado (Brasil e Argentina), por delicadas situações fiscais que obrigam os governos a reduzir ou acabar com subsídios em setores como combustíveis ou transporte (Chile), no que acaba sendo entendido como afronta a uma população já atravessando graves dificuldades.
Todos apresentam um quadro muito semelhante de desequilíbrio, concentração e desigualdade de renda. É consideravelmente distinto o apego de faixas da população a postulados ideológicos quando se compara o Chile (onde há um espectro clássico de “social-democracia” versus “democracia cristã”), Argentina (e seu peronismo, que dificilmente encontra comparações) e o Brasil (no qual impera uma maçaroca ideológica). Em geral, porém, parcelas significativas da população, embora não detenham conhecimento exato das respectivas taxas de crescimento de suas economias, têm uma noção clara do fato do prometido futuro tardar tanto a chegar.
A questão, portanto, não é a do “contágio” ao qual vozes do governo brasileiro se referiram quando, finalmente, perceberam a gravidade do que acontece em vizinhos como Argentina e Chile. Muito menos se trata de alguma “conspiração” (o “esquerdista” Evo Morales está sendo contestado assim como os “direitistas” no Chile e Argentina). A questão é levar adiante reformas amplas e profundas que rompam um ciclo de estagnação. Que, ao se transformar em ciclo de frustração, cobra altíssimo preço político.
 
William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Witzel chama violência no Rio de genocídio e diz que vai acionar a ONU

O Globo - Rayanderson Guerra

Em coletiva do Rock in Rio, governador diz que vai pedir providências ao Conselho de Segurança das Nações Unidas

Governador Wilson Witzel em coletiva de imprensa na Cidade do Rock Foto: Pedro Teixeira / O Globo
Governador Wilson Witzel em coletiva de imprensa na Cidade do Rock Foto: Pedro Teixeira / O Globo
O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), disse na tarde deste domingo que pretende pedir a ajuda dos países que integram o Conselho de Segurança da ONU para enfrentar o que chama de "genocídio" que está em curso no estado. Segundo ele, a violência nas comunidades cariocas e no estado é resultado do comércio ilegal de armas e de drogas por traficantes. Segundo o governador, a ONU poderia "retaliar" países como Paraguai, Bolívia e Colômbia, e até determinar o fechamento da fronteira com o Brasil, caso não haja uma política para barrar o tráfico. [governador seu problema está no Rio e o senhor pode e deve resolver - está no bom caminho; 
mas, fechar ou abrir fronteiras internacionais é assunto do Poder Executivo Federal.
 
Em tempo: nada impede o senhor de intensificar o controle das fronteiras estaduais do Rio - entrou alguns metros no território do Rio, o assunto passa a ser estadual e o senhor pode e deve impedir entrada de armas e drogas.
Nada impede que o senhor também controle o que sai e entra dos aeroportos e mesmo do mar - áreas de marinha são de competência federal, mas, no momento em que sai daquela área o assunto passa a ser estadual.
 
E o senhor sabe que pode contar com o apoio do Presidente Bolsonaro.
 
Controle rígido das fronteiras é importante mas, no momento, não há condições logísticas para um controle total e assim fica bem mais fácil o controle das fronteiras interestaduais.] 


Witzel afirmou está trabalhando para diminuir o número de homicídios no estado e que chegou a chamar o ministro da Justiça, Sergio Moro, para juntos apresentarem a situação da violência no Rio à ONU. —  Estamos trabalhando para não acontecer mais ( homicídios ). Todas essas ações: trabalhando para tirar as armas, trabalhando junto às Nações Unidas, levar realmente a causa do genocídio do Rio de Janeiro, que não é o governador — disse. — Eu tentei através do Ministério da Justiça, o ministro Moro, que ele viesse comigo, estou aguardando. Mas, se não vier, nós vamos sozinhos, porque o Rio de Janeiro vai fazer o seu trabalho junto à Organização das Nações Unidas e ao Conselho de Segurança da ONU. Já pedi para entrarem em contato com o Conselho de Segurança da ONU nesta semana para que a eu possa expor o que está acontecendo no Rio de Janeiro e pedir providências junto a esses países.

'Quem tem que ser crucificado é quem vende essas armas'

O governador cita a entrada de contêiners de armas de forma ilegal no Brasil como uma das causas da violência nos morros cariocas e em toda a cidade. Para ele, o Conselho de Segurança da ONU poderia retaliar os países vizinhos "no que diz respeito às armas".

O próprio conselho pode tomar essa decisão: retaliar Paraguai, Bolívia e a Colômbia.  Países que vendem armas para esses países têm que ser proibidos de fazê-lo, sob pena de continuar esse massacre, essa situação sangrenta que vivemos nas comunidades do Rio de Janeiro. E fechar fronteira.
Witzel voltou a defender sua política de segurança e afirmou que "muita gente em volta do Rock in Rio poderia estar morta" caso ele não estivesse fazendo nada. O governador afirmou que a polícia do Rio não deve ser "crucificada" pela violência na cidade:
— Quem tem que ser crucificado, digamos assim, é quem vende essas armas de forma ilícita, passando por países soberanos, para que a comunidade no Rio de Janeiro fique sangrando. O Rio precisa enfrentar de verdade quem está matando os nossos policiais e pessoas inocentes que ficam no meio desta troca de tiros. 

Menina Ágatha
Ao ser questionado se seu governo seria marcado pela morte da menina Ágatha Felix, de 8 anos, atingida por um tiro nas costas quando voltava de um passeio com a mãe, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio, Witzel afirmou que a oposição tem usado a morte dela como "palco político": 
— Eu vejo que a oposição perdeu discurso. Eles deveria estar discutindo agora como melhorar a educação, mas nós ( o governo ) estamos fazendo com a educação algo que nunca foi feito, com a saúde algo que nunca foi feito, e com a segurança, a mesma coisa, algo que nunca foi feito. Querer fazer palanque de uma criança, ou de quem quer que seja, como palco de político, é uma indecência da oposição. Quem embarca nessa história... Nós temos que respeitar a diversidade, mas quem embarca nessa história está dando eco a uma política perversa contra algo que está sendo bem feito.

Na sexta-feira, primeiro dia do festival, a cantora Lellê, ex-vocalista do Dream Team do Passinho, interrompeu o show que fazia Espaço Favela para pedir uma salva de palmas para Ágatha. — Eu quero celebrar a vida, não quero celebrar a morte. Vamos agir de forma muito rigorosa contra o tráfico de drogas e armas — respondeu o governador.



O Globo - Cultura

sábado, 21 de setembro de 2019

Happy hour: exageros sobre clima causam enchente de piadas - Veja

Blog Mundialista - Vilma Gryzinski

O assunto é sério, mas são tantas as iniciativas ridículas sobre o meio ambiente que americanos menos sensíveis pendem para o lado oposto só de raiva

[estamos diante de um grande circo, em que os interesses pelo meio ambiente alimentam desejos de autopromoção, interesses financeiros, ambição indígena, recaída de alguns países e ambições colonialistas, etc.
A estes que sabem fazer barulho e usar inocentes úteis, ou idiotas úteis, em defesa do que querem, o que menos interessa é a defesa do meio ambiente.] 
 
Santa Greta Thunberg continua fazendo carinha de enjoada e a criançada aproveita para matar um dia de aula, com aprovação e incentivo dos professores.  Faz parte do jogo quando o assunto é tão premente quanto as diversas alterações infligidas pela humanidade ao meio ambiente, agora chamadas de “crise climática” para acentuar que é uma emergência apocalíptica.

As simplificações, os exageros, a exploração para fins partidários e autopromocionais são tantas que uma grande rede de televisão, a NBC, transpôs os limites do mais absoluto ridículo ao criar um projeto chamado “Confissões sobre o clima”. Significando exatamente o que o nome quer dizer. De forma anônima, para se proteger dos “crimes”, os espectadores foram incentivados a confessar suas falhas em “evitar a mudança climática”.
“Você detona o ar condicionado? Joga fora metade do almoço? Faz um churrasco por semana?”, perguntou a NBC.
Previsivelmente, houve uma inundação de piadas.
“Minha irmã tinha vários canudos de metal, mas eram irritantes e joguei tudo fora”, disse um penitente anônimo.

Em sites de direita, como o Breitbart, o pessoal pegou mais pesado na gozação.
“Uso uma motosserra movida a gasolina para cortar árvores, um trator movido a diesel para arrancá-las da mata, outra motosserra movida a gasolina para cortá-las em pedaços menores e daí uso os pedaços de árvores mortas para aquecer o clima da minha casa”, escreveu um.
Outros comentários:
“Acendo a churrasqueira sem nenhum motivo.”
“Dirijo a maior caminhonete que o dinheiro pode comprar. Às vezes sem motivo nenhum. Vou com ela até o mercado para comprar cotonetes, canudos de plástico e carne. MUITA CARNE.”

Melhor não entrar em detalhes sobre o resultado da dieta e seus efeitos para “abrir um buraco na camada de ozônio do tamanho do Texas”.
Mais:
“Como carne o tempo todo. Uso o ar condicionado 18 horas por dia, a não ser que a minha gata mie. Aí, abaixo ainda mais a temperatura para que a gatinha possa esticar o pescoço na brisa do ar e deixo ligado por 21 horas.”
“Quase gostaria de postar uma foto da minha gata esticando o focinho arrogantemente na direção do ar condicionado. É como se estivesse sendo condescendente com os hipócritas verdes.”
“Vou trabalhar na minha caminhonete a diesel e rodo 80 quilômetros todo dia, ida e volta. Sempre piso no acelerador quando passo um Prius, só para ver a reação. Ficam loucos da vida.”
“Odeio pessoas com Prius. Essa porcaria sem potência está sempre empatando o trânsito.”

Bem, já deu para captar o espírito da coisa.
E o jeitão do pessoal que fica fulo com absurdos como uma pesquisa da reputadíssima Johns Hopkins University que analisou o impacto ambiental das formas de alimentação em 140 países.
Conclusão número 1: para comer alimentos mais nutritivos, países mais pobres vão precisar aumentar as emissões de gases responsáveis pelo efeito estufa e o consumo de água.
Por motivos óbvios. Só assim produzirão alimentos mais eficientes – significando carnes variadas – para combater a subnutrição.
Conclusão número 2: nos países ricos, com alto consumo de produtos de origem animal, a alimentação tem que mudar para ficar mais pobre.
Os autores sugerem até um esquema chamado de “vegano dois terços”.
Tradução: duas refeições diárias sem nenhum produto animal, obviamente excluindo laticínios e ovos, e uma com proteínas preferencialmente vindas de peixes ou moluscos.
Ou seja, estão realmente de olho naqueles bifões e hambúrgueres gigantescos que tantos americanos adoram.
O estudo também faz outra comparação. Meio quilo de carne proveniente do Paraguai produz 17 vezes mais gases inconvenientes do que a mesma medida produzida na Dinamarca.
O motivo é o desmatamento necessário para abrir espaço aos pastos.
Duas perguntas.
A Dinamarca já nasceu desmatada?
E mesmo, famosamente, tendo mais porcos (28 milhões) do que pessoas (5,7 miihões), numa produção orientada para a China, como seus 43 mil quilômetros quadrados, excluindo-se a Groenlândia, onde atualmente não existem animais de criação, vão substituir o Paraguai?
Ou, claro, o Brasil.
Gente, é sexta-feira, dia de happy hour. Vamos relaxar.
Deixem Greta Thunberg carregar os pecados do mundo. Ela tem só 16 anos e parece ter nascido para fazer isso.


Blog Mundialista - Vilma Gryzinski - Veja


domingo, 18 de agosto de 2019

O embaixador Eduardo Bolsonaro - Elio Gaspari


O essencial é o julgamento da relação que papai Bolsonaro quer ter com os EUA 

[os dois parágrafos abaixo, mostram que laços de parentesco não significam, necessariamente, competência ou incompetência;

de qualquer forma, não é qualquer embaixador que tem um cacife de mais de 1.800.000 obtidos em 2018, em que foi candidato a deputado federal - é o recorde dos recordes.]

Jair Bolsonaro é um mágico. Baixa o nível do debate dos assuntos públicos, trata de cocô e não discute os 12 milhões de desempregados. É ajudado pela oposição que aceita sua agenda ilusionista. Um bom exemplo desse fenômeno é a qualidade do debate em torno da indicação de seu filho 03 para a embaixada do Brasil em Washington. É nepotismo? Sem dúvida. O que isso quer dizer? Pouco. O ditador nicaraguense Anastasio Somoza nomeou o genro, Guillermo Sevilla Sacasa para Washington. Um craque, tornou-se decano do Corpo Diplomático e atravessou os mandatos de oito presidentes. O Xá do Irã mandou para os Estados Unidos um cunhado, e Ardeshir Zahedi foi um grande embaixador. As monarquias do Golfo mandam seus filhos para Washington e, com a ajuda do poder de petróleo, eles se desempenham com mais sucesso que outros embaixadores árabes.

Há o nepotismo das ditaduras e há compadrio das democracias. Bill Clinton mandou Jean Kennedy Smith (irmã do falecido presidente) para a embaixada na Irlanda e Barack Obama mandou Caroline Kennedy, (filha de John) para a do Japão. (Uma meteu-se em encrencas, a outra foi irrelevante.) Isso, para não falar de Pamela Harriman, mandada por Clinton para a França. Seu mérito foi ajudá-lo na campanha. Fora disso, foi uma cortesã, mulher do filho de Winston Churchill e colecionadora de milionários, de Averell Harriman a Gianni Agnelli, passando por Ali Khan, Elie de Rothschild e Stavros Niarchos.  Juscelino Kubitschek nomeou Amaral Peixoto embaixador em Washington. Genro de Getulio Vargas, tornara-se um cacique na política nacional. “Alzirão” saiu-se bem no cargo. Como ele, Eduardo Bolsonaro ganhou a embaixada depois de ter chegado ao Congresso pelo voto popular. Amaral Peixoto falava pouco e nunca disse bobagens do tipo “fritei hambúrgueres”.

A indicação do 03 para a embaixada foi aplaudida pelo presidente Donald Trump. Como muita gente não gosta de Trump nem dos Bolsonaros, isso foi visto como um demérito. Na realidade, 03 conseguiu algo que nenhum embaixador brasileiro teve, pois o aplauso do governante do país para onde vai o novo representante é tudo o que se quer. Não se pode ver defeito nessa trumpada. A Inglaterra gostava de saber que John Kennedy era grande amigo do embaixador David Ormsby-Gore. (Mais tarde, ele quase casou com a viúva.) Se Trump perder a reeleição, pode-se trocar o embaixador, zero a zero e bola ao centro. 03 será sabatinado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado. Ali, todos poderão mostrar suas qualificações.

Os senadores perguntando e o deputado respondendo. Afinal, se “diplomacia sem armas é como música sem instrumentos”, ele vai para Washington tocar chocalho. Nepotismo e trumpismo serão aspectos subsidiários. O essencial é o julgamento da relação que papai Bolsonaro quer ter com os Estados Unidos. Em 2015 o plenário do Senado rejeitou o embaixador Guilherme Patriota, designado por Dilma Rousseff, mas esse resultado teve mais a ver com a fraqueza do governo do que com a capacidade do diplomata. Pamela Harriman foi aprovada por unanimidade na Comissão de Relações Exteriores do Senado americano, viveu feliz em Paris, teve um derrame na piscina do hotel Ritz e morreu dias depois.

Palocci em 2002 e 2008
O comissário Antonio Palocci prestou 23 depoimentos à Polícia Federal e agora conhece-se o resumo de suas confissões. Se cada fio da meada tivesse sido puxado (ou se vier a ser puxado) o efeito dessas revelações poderia ter sobre o andar de cima de Pindorama a consequência de dez Lava-Jatos. Nas confissões de Palocci entrou todo mundo. Provas, até agora, nada, salvo nas traficâncias de sua consultoria de fachada. O juiz Sergio Moro começou a Operação Lava-Jato puxando um fio que saía de um posto de gasolina, mas dificilmente a proeza se repetirá. Uma das confissões do ex-ministro ilustra a resiliência da impunidade do andar de cima.
No seu 13º depoimento, Palocci contou que em 2008 sua empresa embolsou R$ 100 mil por ter ajudado a empresa Parmalat a liberar um crédito no Banco do Brasil.
Seis anos antes, quando Antonio Palocci era prefeito de Ribeirão Preto, justificou a exigência de latas de “molho de tomate refogado e peneirado com ervilhas” numa licitação para a compra de 40.500 cestas sociais, informando que ele era produzido por uma empresa-companheira, mas também pela Parmalat. Era uma mentira conveniente para quem conduzia uma licitação viciada.

Àquela altura Palocci era o coordenador da campanha de Lula, pois o titular, Celso Daniel, havia sido assassinado. [Celso Daniel, um cadáver que apavora os mandatários petistas - por onde anda Gilberto Carvalho, ex-seminarista de missa negra? pau para toda obra.]

No telhado
Do alto do telhado, o secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, poderá avaliar o tamanho do tombo que arrisca tomar.
Bolsonaro não poderia ter sido mais claro: “Por enquanto está muito bem.”

(...)

Diplomacia
Em menos de um ano, a diplomacia bolsonariana já arrumou encrencas nos seguintes países, por ordem alfabética:
Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Chile, Cuba, França, Irã, Israel, Paraguai, Noruega e Venezuela.

Folha de S. Paulo - O Globo

Elio Gaspari, jornalista


sexta-feira, 16 de agosto de 2019

Guedes ameaça sair do Mercosul, e analistas alertam que até preço do pãozinho seria afetado - O Globo


Ministro afirmou que deixaria o bloco se eventual vitória da oposição na Argentina alterasse política comercial do país

Especialistas demonstraram preocupação com a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o Brasil pode sair do Mercosul caso a oposição vença a eleição presidencial da Argentina, em outubro, e mude a política de abertura comercial do presidente liberal Mauricio Macri. Na quinta-feira, em São Paulo, Guedes afirmou que se Cristina Kirchner, candidata a vice na chapa de oposição, quiser fechar a economia, "a gente sai do Mercosul".

Uma hipotética saída do Mercosul, segundo os especialistas, mancharia a imagem externa do Brasil e resultaria em percalços sentidos no dia a dia dos brasileiros – a começar pelo preço do pãozinho, que ficaria mais caro com taxações extras sobre as importações de matéria-prima da Argentina. O motivo: o Brasil importa 50% do trigo que consome, dos quais 86% vêm da Argentina. Hoje, a matéria-prima é isenta de tarifas de importação. – Se o Brasil sair do Mercosul, pagaremos algum tipo de alíquota para essa importação. O preço do pãozinho vai aumentar – diz Rubens Barbosa, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
Para Barbosa, contudo, analisar o futuro do Mercosul com base no resultado de uma eleição presidencial que ainda está longe do fim é um exercício “perigoso”.
– Não sabemos a política do futuro governo. Mesmo que a oposição ganhe e mude a direção da economia, não vamos ter um abalo forte no comércio. Temos um determinismo geográfico. Brasil e Argentina estarão sempre um ao lado do outro – disse Barbosa.

Welber Barral, sócio da consultoria Barral M Jorge, dedicada ao comércio exterior, avalia que a saída do Brasil do mercado comum com a Argentina “não é algo simples”. De acordo com o especialista, o Mercosul é fruto de 30 anos de negociações e envolve uma integração econômica para além da tarifa comercial comum entre os países membros. – Numa vitória da oposição, o mais provável é que o governo brasileiro adote uma estratégia de flexibilizar as regras para as tarifas comerciais com países de fora do Mercosul. Atualmente, essas alíquotas são definidas em conjunto entre os quatro países membros (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai). No passado, o Uruguai já tentou, sem sucesso, mudar essas regras. Como o Brasil é o país com maior peso no bloco, é possível que consiga essa flexibilização – diz Barral.


Na quinta-feira, Guedes também minimizou o efeito para a economia brasileira da atual crise argentina. Segundo ele, "não vai ser nenhum ventinho do Sul" que vai afetar o Brasil. Mas, este ano, com a piora da economia argentina, as exportações brasileiras para o país vizinho caíram 40% até junho.
A Argentina é o terceiro maior destino das exportações brasileiras, atrás apenas de China e Estados Unidos. E é um importante comprador de produtos manufaturados e de alto valor agregado do Brasil. São exemplos automóveis, autopeças, tratores e outros. Este ano, as vendas para os argentinos já somam quase US$ 6 bilhões.

No domingo, a candidatura do peronista Alberto Fernández, que tem a ex-presidente Cristina Kirchner como vice, ficou com 47% dos votos nas eleições primárias , uma espécie de prévia da votação de 27 de outubro. A chapa do presidente Maurício Macri, de cunho liberal, ficou com 32% dos votos.
Qualquer governo argentino deve reconhecer o Brasil como o seu principal parceiro comercial. Por isso, os líderes argentinos têm de aceitar que o Brasil está num processo de abertura econômica. Por causa da forte ligação entre os países, não vejo a Argentina se diferenciando muito do Brasil nesse quesito – diz o argentino Federico Servideo, presidente da Câmara de Comércio Argentino Brasileira (Camarbra)
Ele acredita que se Fernández for eleito presidente, ele deve moderar a visão de esquerda e protecionista após chegar ao poder.
– Provavelmente o candidato Fernández vai entender que os problemas da Argentina não se resolvem com soluções baseadas em ideologias de esquerda, nem fechando fronteiras. Espero que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia não volte à estaca zero – diz Servideo.



O Globo - Transcrito em 16 agosto 2019

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Itaipu, uma usina de encrencas - Elio Gaspari

A  hidrelétrica de Itaipu, símbolo do "Brasil Grande", virou cenário de um lance de corrupção vulgar

O repórter José Casado disse tudo: “Sob Bolsonaro, (Itaipu) virou fonte de convulsão na outra margem do Rio Paraná.” A maior hidrelétrica do continente nasceu de um litígio e, graças a meio século de costuras diplomáticas, virou uma proeza binacional. Em poucos meses de conversas impróprias, voluntarismos e tráfico de influência, o Brasil viu-se metido num escândalo. Logo em Itaipu, usina construída por um ex-oficial do Exército que passou pela vida pública sem nódoa. José Costa Cavalcanti foi ministro de Minas e Energia e do Interior, assinou o Ato Institucional nº5 e dirigiu a construção de Itaipu. Tinha pouca graça, talvez nenhuma. Morreu pobre, em 1991. 

Logo na usina de Costa Cavalcanti estourou o escândalo de um acordo matreiro firmado entre os governos de Bolsonaro e de seu amigo Mário Abdo, “Marito”, como ele o chama. Quando o caso estava no escurinho de Assunção, o ministro Sergio Moro revogou o status de refugiado que havia sido concedido em 2003 a três paraguaios que vivem no Brasil. Espremendo-se uma história onde entram picaretas paraguaios, o empresário suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP) e diplomatas invertebrados, tudo poderia vir a se resumir ao seguinte: retirando-se um item do acordo, como foi feito, uma empresa brasileira, a Leros, compraria energia paraguaia para vendê-la no mercado brasileiro. Graças a algumas tecnicalidades, seria possível que ela pagasse 6 dólares por um Megawatt, vendendo-o, numa boa, por 30. 

Na sua picaretagem, um jovem advogado paraguaio dizia falar em nome do vice-presidente Hugo Velázquez e apresentava seu pleito como um ricochete do desejo da “família presidencial do país vizinho”. Apanhado com a divulgação de mensagens trocadas com o presidente da estatal de energia de seu país, o moço informou que perdeu seu celular. (Ele é filho da ministra encarregada de combater a lavagem de dinheiro) O presidente da estatal paraguaia de energia demitiu-se e botou a boca no mundo. Caíram a mãe do moço, o chanceler e o embaixador em Brasília. 
Arriscavam cair também o presidente Mário Abdo e o vice. Salvaram-se rasgando o acordo, no que foram acompanhados por Bolsonaro no dia seguinte. A costura pode ter levado meses, o desmanche deu-se em menos de uma semana. Hoje todo mundo garante que nunca ouviu falar dessa história. 

Itaipu existe graças ao trabalho silencioso de presidentes e diplomatas que sempre evitaram acordar o sentimento nacionalista do Paraguai. Com a trapalhada do acordo, desmanchou-se um trabalho de meio século. Em 2023, o tratado que permitiu a construção da usina deverá ser renegociado e lançou-se a semente da discórdia, com o Brasil sendo acusado de ter jogado bruto pelo presidente da estatal paraguaia que se demitiu. 

Faz tempo, o engenheiro Octávio Marcondes Ferraz, construtor da usina de Paulo Afonso e um dos patriarcas da Eletrobras, batia de porta em porta dizendo que não se deveria fazer Itaipu com o Paraguai. Seria melhor construir três hidrelétricas na Bacia do Paraná, mas em território brasileiro. Tinha o apoio do senador gaúcho Paulo Brossard. Não foram ouvidos, mas nenhum dos dois seria capaz de pensar que o Brasil se meteria numa encrenca tão vulgar.

Elio Gaspari, jornalista - O Globo - O Estado de S. Paulo 

 

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Ufa! um gol de Jair - O Estado de S. Paulo

O Brasil seguiu a política e o bom senso ao ceder e salvar o parceiro Benítez no Paraguai.

Depois de tantas declarações absurdas, posições surpreendentes e bolas fora na política externa, o governo Jair Bolsonaro fez um gol na solução da crise do vizinho Paraguai. O novo acordo de Itaipu era justo, mas o Brasil cedeu e reabriu as negociações por um objetivo maior: a questão política, que neste caso se sobrepõe à questão técnica, econômica.  O Paraguai é um país particularmente aliado, quase dependente do Brasil, e os dois atuais presidentes, Bolsonaro e Mario Abdo Benítez, são não apenas pragmaticamente parceiros, como ideologicamente identificados. Os dois, aliás, vêm da mesma (sic) Arma do Exército: são paraquedistas.

Logo, há a aproximação histórica, a questão de oportunidade e vários interesses conjunturais e estratégicos. Além das incontáveis empresas brasileiras que se instalam no Paraguai – graças às condições muito mais camaradas para os negócios o Paraguai é, nada mais, nada menos, o país que mais cresce na América do Sul nos últimos 15 anos. O Brasil patina e passou por dois anos de recessão, enquanto o vizinho cresce à base de 4,5% ao ano.  Para completar, o Mercosul, que acaba de fechar um acordo histórico com a União Europeia, é formado por quatro membros plenos e, em três deles, há obstáculos, reais ou possíveis, para a implementação das medidas.

No Brasil, Bolsonaro não para de criar atritos desnecessários com os europeus, a ponto de desmarcar de última hora a audiência com o ministro de Negócios Estrangeiros da França, Jean-Yves Le Drien. Pior: alegou problemas de agenda e na mesma hora gravou um vídeo cortando o cabelo. Na diplomacia, isso é um tapa na cara. Na Argentina, o presidente Maurício Macri vai enfrentar uma eleição difícil em outubro. E se ele não for eleito e o peronismo voltar? O Uruguai navega com mais facilidade, mas o Paraguai ganhou força e poder de negociação pelo pragmatismo, política econômica bem-sucedida e estabilidade política. Já imaginaram se Benítez passa por um processo de impeachment e cai? Seria uma tragédia para o pequeno país, má notícia para o Mercosul e um tranco nas negociações com a UE.o o país crescendo e a demanda de energia obviamente aumentando, os paraguaios simplesmente usam todo o excedente de Itaipu Binacional e ainda abocanham uma parte da cota garantida do Brasil – e com o mesmo preço camarada do excedente. Assim, o Brasil poderia ter batido o pé e exigido seus direitos, mas foi sensível à complexidade envolvida.

O acordo anulado ontem era justo e tanto o Brasil exigiu quanto o Paraguai admitiu, por saber disso. E por que o acordo foi secreto? Porque o governo Benítez cometeu o grave erro de esconder a negociação para tentar fugir da velha pressão de parte da sociedade paraguaia, especialmente da esquerda, que acusa o Brasil de “imperialista” e insiste há décadas que os paraguaios são sempre lesados. Nada mais falso. Não estavam, não estão. Diante da decisão do Brasil de ceder, da anulação do acordo e da reabertura das negociações, ganham o governo Benítez, Itaipu, o Paraguai, o Brasil, os “brasilguaios”, o Mercosul e a implementação do acordo com a UE. É melhor para todos manter Benítez no governo.

Aqui vai, porém, uma advertência: i
sso não significa que o Brasil vá ceder em tudo e voltar ao que era. O que foi prometido pelo governo, e será exercitado, é “flexibilidade nas propostas, mas firmeza nos argumentos”. Ou seja, o Brasil cedeu para ajudar Benítez, mas nem por isso abdica de defender seus interesses. Não seria nada mal se essa postura pragmática e de bom senso se repetisse nas relações com o resto do mundo e, principalmente, nas declarações do presidente Bolsonaro. Mas, aí, já é pedir demais...


Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Operação para salvar o presidente do Paraguai - Blog do Noblat

Veja - Blog do Noblat

Bolsonaro e Trump, afinados

A escalada da crise que ameaça o mandato do presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítes, acusado pela oposição de ter fechado com o Brasil um acordo que fere os interesses do seu país, provocou uma ação conjunta dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump.

Bolsonaro admitiu rever o acordo que levaria o Paraguai a pagar mais caro pela energia produzida pela hidroelétrica de Itaipu. O embaixador americano em Assunção, ontem à noite, soltou uma nota onde cobra do Congresso paraguaio o “estrito respeito à lei”.

Benítes é considerado um aliado pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos. O acordo considerado lesivo ao Paraguai foi assinado em maio último, mas só agora revelado. Poderia beneficiar uma empresa brasileira ligada à família de Bolsonaro.

O Senado paraguaio recusou-se a aprovar o acordo. Benítez demitiu quatro autoridades que se envolveram nas negociações – entre elas o ministro das Relações Exteriores, Luis Castiglioni. E segue disposto a resistir às pressões para que renuncie ao cargo.




quarta-feira, 31 de julho de 2019

Acerto secreto com Brasil sobre Itaipu põe presidente do Paraguai sob risco de impeachment - O Globo




O Globo - Janaína Figueiredo

A revelação por um ex-diretor da Ande (a Eletrobras paraguaia) dos termos da ata diplomática assinada por autoridades dos dois países em maio, em Brasília, modificando aspectos da administração compartilhada da hidrelétrica de Itaipu desencadeou verdadeira tsunami política em Assunção. O presidente Mario Abdo Benítez ficou à beira de um pedido de impeachment e foi obrigado a afastar quatro altos funcionários, entre eles o chanceler Luis Castiglioni, senador colorado mais votado nas eleições de 2018. Segundo analistas locais ouvidos pelo GLOBO, a crise tornou o atual governo o mais fraco desde 2003. 

Instalou-se a sensação de que o documento negociado em Brasília, já rechaçado pelo Senado do país, foi um acordo secreto altamente prejudicial para os interesses do Paraguai . Ontem, o advogado Tadeo Ávalos apresentou uma denúncia à procuradora-geral do Estado, Sandra Quiñónez, acusando Castiglioni; o ex-embaixador do Paraguai no Brasil, Hugo Saguier Caballero; o ex-diretor da Ande Alcides Jiménez, e o ex-diretor paraguaio de Itaipu José Alderete, de traição à Pátria.  
Os pontos mais questionados pelos paraguaios se referem a limitações que seriam impostas ao país sobre seu direito de solicitar energia produzida por Itaipu e a redução da chamada “energia excedente” que seria entregue ao Paraguai. Desde 2007, o país tem preferência para receber esse tipo de energia, a preços baixíssimos. 

As denúncias públicas feitas por Pedro Ferreira, ex-presidente da Ande que ontem foi ao Parlamento reforçar suas acusações ao governo de Benítez, acentuaram a crise e aumentaram as dúvidas sobre como o chefe de Estado conseguirá acalmar os ânimos. Benítez, do Partido Colorado, foi eleito por margem estreita de votos e não controla o Parlamento, onde enfrenta a oposição de liberais, partidos de esquerda e, atualmente, também de amplas alas do próprio partido. Segundo informações que circularam na imprensa local, correligionários do presidente teriam apoiado o pedido de impeachment, suspenso temporariamente após a decisão de Benítez de afastar os quatro altos funcionários que assinaram a ata de Brasília. Esta crise é consequência de erros graves cometidos pelo governo e da incapacidade dos técnicos de chegarem a um acordo que acabou ficando, pela primeira vez desde a criação de Itaipu, em mãos da Chancelaria — afirmou ao GLOBO Alejandro Evreinoff, do Instituto de Altos Estudos Estratégicos (IAEE) e assessor de Coordenação de Itaipu.


Segundo ele, “o ponto mais sensível refere-se à energia excedente, que permite ao Paraguai baixar os custos operacionais de suas empresas e se desenvolver”.
— Finalmente, estamos igual ou pior que em outubro do ano passado, quando os técnicos começaram a negociar os termos para 2019. Essa ata não tem validade e acabou sendo usada para tentar desestabilizar o governo — apontou o especialista. 

Itaipu é uma questão extremamente sensível para o Paraguai, já que fornece 90% da energia elétrica consumida pelo país. Com menos de um ano de gestão, sem poder exibir grandes êxitos e às voltas com o impacto da recessão argentina e a desaceleração da economia brasileira, Benítez cometeu um erro que já lhe custou caro. No discurso anual ao Congresso, no começo de julho, o presidente ignorou a ata de Brasília e agora é acusado de secretismo e traição. O governo brasileiro considera válido o documento e espera seu cumprimento. -  No Paraguai, a política pode ser vertiginosa, e erros como este podem ter consequências graves — afirmou o ex-chanceler Ruben Melgarejo Lanzoni, espécie de assessor externo do presidente.

Num país que elege seus presidentes em apenas um turno, Benítez venceu as eleições por pouco e é pressionado por um Congresso que mostrou rápida capacidade de articulação. O chefe de Estado reagiu rápido, mas analistas como José Tomás Sánchez se perguntam como esta crise afetou o governista e dividido Partido Colorado.— Existe a sensação de que este governo nunca começou e, agora, a incógnita sobre a guerra colorada — frisou Sánchez. 

Desde que a crise veio à tona, uma pesquisa sobre a hidrelétrica e a relação entre Brasil e Paraguai desde 1973 realizada pelo Centro para a Democracia, a Criatividade e a Inclusão Social viralizou nas redes sociais. O trabalho, coordenado por Miguel Carter, tem números que só aumentaram a irritação social. A pesquisa de Carter diz que entre 1985 e 2018 o Paraguai deixou de ganhar US$ 75,4 bilhões por vender a energia que não consome ao Brasil, a preços abaixo dos valores de mercado. O trabalho mostra, ainda, que em todos esses anos de funcionamento da hidrelétrica o Paraguai usou 7,6% da energia produzida.— Há um amplo consenso no país de que o tratado e esta última negociação foram amplamente desfavoráveis aos paraguaios — afirmou Carter. 

Em Assunção, o documento selado em Brasília é chamado de “ata secreta da traição”, e mesmo que nada do que foi negociado tenha saído do papel, sua divulgação debilitou um governo que já era vulnerável e que muitos se perguntam como se sustentará por mais três anos.
 

O Globo - Janaína Figueiredo - Colaboraram Manoel Ventura e Eliane Oliveira, de Brasília