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sexta-feira, 16 de junho de 2023

8 de janeiro: CPI local do DF é mais isenta do que a CPMI do Congresso - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo 
 
Nesta semana se mostrou que o governo praticamente vai impedir que a CPMI investigue realmente tudo o que aconteceu no dia 8 de janeiro.  
As suas origens, as suas motivações, os motivos a longo prazo, imediatos, os personagens principais, as responsabilidades das autoridades. 
Vai ser uma repetição daquilo que o noticiário já deu, a propaganda do governo já deu, porque o governo numa maioria de 20 a 11 já mostrou que impede as convocações pedidas pela oposição, e só aprova as convocações que interessam ao governo.
 
Por exemplo, o general Gonçalves Dias, que foi visto pelas câmeras circulando, enquanto o palácio era invadido, não puderam convocar. 
Em compensação, semana que vem, ele vai depor na mesma CPI, com o mesmo objetivo, no legislativo de Brasília, do Distrito Federal, dia 22. 
Ele já devia ter feito o depoimento, mas pediu mais tempo para se preparar. 
Então marcaram pra dia 22. Lá já depuseram o general Augusto Heleno, que foi o antigo GSI, já havia prestado depoimento lá o comandante militar do Planalto, o general Dutra, e os comandantes da PM naquele dia.

Então eu ouso imaginar que a CPI, a comissão parlamentar de inquérito do legislativo local, vai estar mais equilibrada, mais isenta e chegar a mais conclusões que a CPMI do Congresso. E é presidida por um petista que eu conheço pessoalmente. Chico Vigilante, que já foi deputado federal, é deputado distrital, não é de primeiro mandato, e é uma pessoa que está preparada pelo exercício da política em Brasília nesses últimos quarenta anos.

Politicofobia
Enquanto isso, a Câmara dos Deputados realiza uma votação vergonhosa de um projeto de lei que tramitou como um relâmpago. Vinte e três dias desde que a filha de Eduardo Cunha apresentou o projeto, em maio até o dia da aprovação, que foi na noite do dia 14. 
A apresentação e votação da matéria foi em uma hora e pouco. 
Trata-se, absolutamente, de um projeto de lei que visa legislar em causa própria, no qual deputados se protegem do "preconceito contra os políticos". 
 
Eu diria assim, politicofobia. Mas não é quanto a críticas normais, né? 
Isso até estava proposto lá, mas não tiveram coragem de deixar passar. Vão punir banco que não dê crédito para deputado. O texto prevê multa diária de R$ 10 mil e até a prisão de 2 a 4 anos. 
Será punido quem não dê crédito, cartão de crédito, abertura de conta, mesmo sendo caloteiro, mesmo já tendo dado calote no banco, mesmo estando com o nome sujo no Serasa, mesmo sendo passador de cheque sem fundo. 
Mas não é só deputado, não. Qualquer pessoa politicamente exposta: governador, prefeito, presidente da República, vereador, deputado estadual, senador, ministro, juiz, ministro do tribunal superior, secretário de ministério, chefe de gabinete de ministério, qualquer pessoa cujo nome esteja vinculado à política. É incrível.
 
E olha a quantidade de votos que aprovaram a ideia: 252 votos a favor. Quem mais votou a favor foi o PT, depois o PL, que se dividiu, 37 votos a favor, 44 contra. 
Junto com o PL, votaram contra o PSOL, o Novo, o PCdoB e a Rede. 
E junto com o PT e com o PL, votaram União Brasil, Republicanos, MDB, PSD, PP, todos com alguns deputados discordando, claro. 
O Partido Social Cristão foi o único que inteiramente votou a favor. Deu seus três votos a favor. Votação em causa própria vergonhosa, né? Como eu disse, a autoria da deputada Dani Cunha, filha de Eduardo Cunha, e o relator Claudio Cajado, do Progressistas da Bahia. Felizmente, ainda vai para o Senado.
 
Conteúdo editado por: Jônatas Dias Lima

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Depois da hora mais grave - Percival Puggina

São 20 horas e 11 minutos do dia 30 de outubro. Acabei de ouvir o deputado Arthur Lira manifestar-se oficialmente sobre o resultado da eleição mais manipulada que já presenciei e que entregou a Lula a presidência da República. Ele terminou seu pronunciamento com um “Viva a democracia!”.

Este é o meu modesto pronunciamento. Temo os anos por vir. Esta eleição não foi o ápice de uma disputa política. Muito mais estava em debate! Eram duas visões antagônicas de pessoa humana, de sociedade, de Estado. O processo era político-eleitoral, mas o que mobilizava aqueles que, por menos de 2% dos votos perderam a eleição, eram questões sociais, econômicas, filosóficas, espirituais, civilizacionais, que tínhamos e preservaremos como fundamentais para o Brasil que amamos e queremos para nossos filhos e netos.

O país marcou, hoje, um reencontro com o passado. Estamos voltando a 2003, quando Lula e seu partido assumiram o Brasil com a economia arrumada pelo Plano Real (a que se haviam oposto) e o perderam em 2016 numa mistura sinistra de inflação, depressão e corrupção. Por Deus, que não se reproduza a tragédia!

No entanto, ainda que tenha essa compreensão sobre o acontecimento de hoje, eu quero o bem do país. Considero impossível que ele venha pelas mãos de Lula e da esquerda. 
Mas jamais direi uma palavra contra meu país, jamais irei macular sua imagem, jamais farei o que nos últimos seis anos fizeram aqueles que hoje comemoram a retomada do poder. Para mim, quanto pior, pior para todos; quanto melhor, melhor para todos.
 
Infelizmente, em nosso sistema político, sobre cujos defeitos tanto tenho escrito, a democracia a que Arthur Lira ainda agora deu vivas acabou minutos antes. A democracia é o flash da eleição. 
É como um relâmpago com dia e tempo certos para acontecer. 
Está marcado no calendário constitucional. 
Depois, o que resta, o que resta a partir de agora, é o estado de direito e este, através do legislativo e do judiciário, tem se revelado surdo e cego ao povo, senhor da eleição. Ao longo dos últimos anos tivemos tantas evidências disso!

Essa deficiência sensorial foi um problema gravíssimo. Como desserviu à democracia um STF que colegiadamente se proclamou “contramajoritário” e criou a própria “democracia” no seuestado de direito” sem votos! No entanto, tal deficiência veio acentuada por sucessivos ataques às liberdades essenciais de opinião e expressão, lesadas desde bem antes do processo eleitoral.

Estarei, portanto, na resistência por verdades, princípios, valores e liberdade. Torcendo pelo bem do Brasil e seu povo. Agradeço ao presidente Bolsonaro e sua equipe pelo muito que fizeram sob as piores condições que se possa imaginar, fortuitas e provocadas, mas sempre sinistras.

*    Atualizado em 31/10/2022, às 09h07min.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Soberbos e Ingratos - Valdemar Munaro

Bicados pelo fascínio do poder, togados, governantes, homens que adquirem algum destaque, alguma função ou título, num relâmpago assumem postura curvada à mãe de todos os vícios: a soberba. Embriagados e cambaleantes, ridiculamente vaidosos, enfeitiçados pelas cimas em que se julgam estar, esses 'iluminados' olham com desdém, os que estão na 'planície', de quem sugam sustento e benesses. 
Esse modo de agir e de ser, reflete um esquecimento proposital da própria finitude e miséria, inchados de vanglórias demoníacas típicas de amnesiados e arrogantes.

Na roda natural das coisas humanas, dizia Antônio Vieira, "descobriu a sabedoria de Salomão dois espelhos recíprocos, que podemos chamar do tempo, em que se vê facilmente o que foi e o que há de ser... Que é o que foi? Aquilo mesmo que há de ser. Que é o que há de ser? Aquilo mesmo que foi. Ponde estes dois espelhos um defronte do outro, e assim como os raios do Ocaso ferem o Oriente, e os do Oriente o Ocaso; assim, por reverberação natural e recíproca, achareis que no espelho do passado se vê o que há de ser, e no do futuro o que foi. Se quereis ver o futuro, lede as histórias, e olhai para o passado: se quereis ver o passado, lede as profecias, e olhai para o futuro. E quem quiser ver o presente para onde há de olhar? Não o disse Salomão, mas eu o direi. Digo que olhe juntamente para um e para outro espelho. Olhai para o passado e para o futuro, e vereis o presente. A razão ou consequência é manifesta. Se no passado se vê o futuro, e no futuro se vê o passado, segue-se que no passado e no futuro se vê o presente, porque o presente é o futuro do passado e o mesmo presente é o passado do futuro... Roma, o que foste, isso hás de ser; e o que foste e o que há de ser, isso és. Vê-te bem nestes dois espelhos do tempo, e conhecer-te-ás. E se a verdade deste desengano tem lugar nas pedras, quanto mais nos homens! No passado foste pó? No futuro hás de ser pó? Logo no presente és pó: Pulvis es" (Do Sermão da Sexagésima).

Ora, se o que éramos, somos e seremos é essencialmente pulvis (pó), como diz a Escritura citada por Vieira, o pouco ou o muito de nosso ser e de nossas realizações, já é de grande monta. 
Nua e miserável começou nossa existência, nua e miserável terminará. 
Há uma condição patente de contingência que nos acompanha e ela nos convida à constante e visceral gratidão. 
Surpresos e gratos deveríamos ficar pelas riquezas conquistadas mais que pelas pobrezas lamentadas.

Soberba e ingratidão, porém, constituem vetores do insidioso dinamismo satânico que carcome os ninhos humildes e modestos nos quais nascemos e crescemos, inchados de arrogância e vaidade pelas pequenezes que nos amedrontam. Soberbas incensam ingratidões, ingratidões incensam soberbas. O soberbo é ingrato, o ingrato é soberbo. Reina a soberba onde viceja a ingratidão, viceja a ingratidão onde reina a soberba.

A criação, beijo de Deus no nada, segundo expressão de Sciacca, é mistério envolto na generosidade divina, ato sem 'cabimento' que deu origem e sustentação a tudo. Teorias do big bang e evolucionistas, interconectam-se, porém se enroscam quando tentam forçosamente explicar o inexplicável. 
'Poderia existir o nada e não o mundo', afirma Schelling. 
Ao invés, maravilhosamente, existe o mundo e não o nada.
 
Incabíveis, pois, em nossas misérias, as verdades profundas que sustentam e fundam nossa vida se opõem diametralmente às vaidades e arrogâncias que cultivamos. Tudo o que existe se manifesta aos nossos olhos sob uma luz e uma gênesis de generosidade heteronômica sem tamanho. 
Nada existiria não fosse uma originante gratuidade divina que trouxesse à luz e ao ser tudo o que somos e temos. Inteiramente grátis e de modo incondicional. 
Quem, pois, ingrata e soberbamente poderia reivindicar grandezas e direitos ante tamanha generosidade? 
Qualquer instante e qualquer motivo podem ser propícios à nossa volta ao pó. 
A sã consciência reconhece a própria finitude e a graça de carregá-la. 
Tal estatuto metafísico constitui a raiz de nosso ser; aceitá-lo, o mais fundamental ato de liberdade.
 
Tudo o que somos e/ou podemos ontologicamente ser, portanto, não tem fonte no arbítrio humano.  
Sartre, filósofo francês, por não aceitar essa nua e crua verdade, fez de sua inteira filosofia um rosário de lamentos. 
Queria, em suma, tudo estivesse submetido à livre escolha, inclusive a capacidade de escolher. 
Não sendo artífice nem autor da própria existência, o homem tem liberdade limitada. 
O perfil se ajusta, pois, mais a uma administração do que a um senhorio e/ou uma apropriação.  
No dom, originalmente recebido, mora recôndito mistério que transcende o tempo e a história, o sentido último de tudo o que somos, sofremos e vivemos. 
Se a existência fosse invenção da humanidade, seu fim estaria atrelado às arbitrariedades dela. Mas, felizmente, não está.

Grandes pensadores, sobremaneira Aristóteles e Platão (este na sua obra maior, A República, 369a-370), entendiam que a causa fundamental do nascimento da vida social é justamente a incapacidade individual dos humanos de se bastarem a si mesmos. Carências e necessidades físicas e espirituais nos obrigam a praticarmos amparo e cuidado recíprocos.

Originariamente, pois, a 'polis' significou uma atividade de essência colaborativa, não primordialmente conflitiva, nem contratual (como pensavam os modernos). 
Mesmo acordos cívicos e convencionais estabelecidos entre os homens visando melhor convivência, terminam por ser excrescências, não fundamentos (como pensavam Maquiavel, Hobbes, Rousseau, Hegel, Marx e similares) da sociabilidade.

Nas fontes generosas e misteriosas da criação, contudo, houve (segundo imaginações teologais), um rebuliço. À criadora generosidade divina somou-se inimaginável bem-aventurança de muitos, mas também o empertigamento de outros. Estes últimos transmutaram-se em demônios. A demonização, portanto, não resultou de um destino traçado pelo Criador, mas de um ato imoral de seres empertigados, soberbos e ingratos.

Deus e as criaturas, disse bem Tomás de Aquino, não são iguais. A essência divina subsiste em si mesma, absoluta, a essência das criaturas não consegue nada a partir de si, porque subsiste unicamente por dependência e participação. 
Os demônios, sabiam, portanto, que igualar-se a Deus é coisa impossível; mesmo assim quiseram alterar essa verdade. "Se a natureza angélica, diz S. Agostinho, se voltar para dentro de si e se satisfizer de si mesma mais que Daquele por cuja participação é feliz, inchada de soberba cairá".
 
Assim, o pecado dos demônios não foi o desejo de ser feliz, anseio comum a todas as criaturas, mas o desprezo pela ordem e pela medida estabelecidas por Deus. 
Os demônios se malfadaram não por razões genéticas ou fatalistas, mas por desvio de vontade e desonestidade de inteligência. 
Se a avareza se define como pretensão de se ter mais do que licitamente se tem, a soberba se define como pretensão de se ser mais do que licitamente se é.
 
Desgraçadamente, aqueles desvios originais, se derramaram com cara de empáfia, contagiando a história humana. 
Soberbaços, soberbões e soberbetes atuam, desde então, nas surdinas e nas entranhas da política, da vida social, da economia, do judiciário, da educação, das relações intersubjetivas e até dos recintos religiosos. Destes últimos, tem-se o exemplo de um visitador apostólico que, sobre um convento jansenista, da França do século XVII, escreveu: 'as irmãs do convento de Port Royal são santas e perfeitas como anjos, mas orgulhosas e soberbas como demônios'.
 
Se a soberba se firmou como porta da ingratidão, a ingratidão se firmou como janela da soberba. 
A história repica e replica episódios desse pêndulo. Napoleão Bonaparte, como exemplo, foi grande estrategista, mas sobretudo assaltante e saqueador, símbolo da empáfia francesa. 
Boa parte das obras de arte depositadas, guardadas e expostas nos museus parisienses é fruto de roubo e saque. 
O célebre oficial e imperador sardo espoliou cidades e aldeias inteiras por onde passou saciando seu exército e seu país com riqueza alheia.

Entretanto, a impostura saqueadora de Napoleão pode ser vista também na vida de todos os revolucionários. Nenhum deles é generoso, nem agradecido. Todos são visceralmente espoliadores, saqueadores, soberbos e ingratos. Itália, Grécia, Egito, Prússia, Rússia, entre outros lugares, lembram os roubos napoleônicos

Não fosse verdade, sobra a pergunta: de onde a França tirou aqueles sarcófagos egípcios expostos nas grandes e protegidas salas do Louvre? E todas aquelas esculturas gregas, majestosamente ali conservadas, a começar pela célebre Vitória de Samotrácia plantada nas escadarias do mesmo museu, de onde surgiram? 
Da mesma forma, as pinturas de artistas italianos, como peregrinaram até o solo francês para lá demorarem?
 
Os registros históricos daqueles furtos colhidos dos butins de Bonaparte deveriam fechar a boca do atual e soberbo presidente francês, Emanuel Macron, que, das supernas auréolas morais em que se julga estar, pretende salvar florestas amazônicas
Por que não se manifesta sobre os atuais incêndios florestais que ocorrem em solo europeu? Simples: porque é soberbo e vaidoso
Seu comportamento espelha a empáfia napoleônica que transformou grotescamente, como exemplo, a basílica de S. Francisco, em Assis, em estábulo equino.
Os mesmos vetores demoníacos que levaram Napoleão a ser grande, porém, também o engasgaram pelo inverno russo e pela derrota em Waterloo. O consolo é que demônios também caem e apodrecem
Os habitantes da ilha de Santa Helena que o digam, pois viram com seus olhos o soberbo Bonaparte amargar, velho e doente, sua falsa e grotesca grandeza.

Na França, aliás, nem tudo é bom exemplo. Seu território e sua história registram um escabroso fato de ingratidão e soberba. Refiro-me ao modo como o rei Carlos VII tratou a humilde súdita Joana D'Arc. Nascida a 6 de janeiro de 1412 na região leste da França, Joana era filha de camponeses. Infante, trabalhava na terra e vivia na simplicidade rude e desprotegida da época medieval enquanto seu país envolvia-se num conflito sem fim com a Inglaterra. A 'guerra dos cem anos' havia destronado o rei franco e submetido parte do território ao domínio britânico.

Ao completar 13 anos Joana começou a ouvir vozes que lhe pediam fosse libertar a França do jugo inglês e restaurasse a monarquia. Contrariando o próprio pai, Joana seguiu o chamado daquelas vozes: expôs seu plano ao Delfim, vestiu-se com roupas masculinas, arregimentou soldados, endossou armadura e liderou expedições que libertariam Orleans e outras cidades sitiadas. No curto espaço de tempo em que exerceu a missão, coisa inesperada, derrotou e afugentou o exército inimigo. Em 1429, numa cerimônia realizada na catedral de Reims, restabeleceu a monarquia francesa reconduzindo Carlos VII ao trono.

Apesar do heroísmo e da devoção dedicados à França e ao rei, em 1430, Joana d'Arc foi presa, literalmente vendida e trocada por moeda irrisória, aos ingleses. Estes, entregaram-na a inquisidores (boa parte deles, franceses), mesquinhos, invejosos e perversos. Acusaram-na de heresia e bruxaria e algozes juízes a condenaram ao rogo em 30 de maio de 1431. Suas cinzas martirizadas foram jogadas no rio Sena e desapareceram sem deixar rastro. Não há túmulo dedicado a Joana D'Arc na França. 
A injustiça praticada, porém, gritou aos céus e, não muito depois, em 1456, revendo os fatos, o papa Calixto III a proclamou inocente de todas as acusações. Mais tarde, a Igreja a beatificou e a canonizou.

Santa Joanna d'Arc, talvez a maior heroína da história política francesa, jamais suficientemente reconhecida por aquela sociedade, é retrato da ingratidão dos poderosos. Durante seu martírio e prisão, foi abandonada à própria sorte, despojada e desamparada em tudo, como Jesus na cruz. O rei Carlos VII, libertado e reconduzido ao poder por sua intercessão, não a protegeu, não a agradeceu, não a recompensou. Foi rei soberbo e ingrato. Arrogância e vaidade não dobraram sua vontade à verdade simples, heroica e santa de uma humilde e simples súdita camponesa.

Pouco além-mar, semelhante e clamorosa ingratidão se manifestou na mesquinha e desprezível conduta do rei Henrique VIII, soberbamente elevado ao trono da Inglaterra. O orgulho e a soberba desse rei sufocaram seu mais honrado e fiel servidor: Thomas Morus. Em tudo leal e submisso, Morus só discordou da pretensa e arrogante vontade do monarca de se tornar imperador e soberano em tudo, inclusive da Igreja. 

Tomás Morus, coração nobre, temente a Deus, incorrupto, chanceler único na história da monarquia inglesa, mesmo sem ter cometido crime, nem ofensa ao rei, foi decapitado no dia 6 de julho 1535. A soberba do monarca Henrique VIII vergou o corpo, mas não a alma de Morus. Rei sem piedade, sem remorso, nem agradecimento, nem reconhecimento, aproveitou-se do serviço, da fidelidade e do bem prestados por Morus, sem pestanejar. A soberba não desbloqueou a empáfia e a mesquinhez que macularam para sempre a vida e a obra do fundador do anglicanismo.

Soberba e ingratidão, infelizmente, não estão costuradas apenas nas vestes e na alma desses homens mencionados. Reverberam também em muitíssimos outros personagens e lugares da história. De Stálin, um biógrafo seu puxa-saco, escreveu a mentira: "Stálin nunca permitiu que seu trabalho fosse prejudicado pelo menor sinal de vaidade, presunção ou auto-adulação" (Leonov). Ora, não fosse presunçoso nem vaidoso, não teria praticado a crueldade demoníaca contra os seus contemporâneos. Vale o mesmo para todos os psicopatas que enchem as galerias criminosas: Hitler, Stalin, Lênin, Fidel Castro, o títere casal romeno Ceausescu, o revolucionário iugoslavo Tito, o chinês desalmado, Mao Tse Tung, o sanguinário cambojano, aluno de Sartre, Pol Pot, o lunático ugandês, Idi Amin Dada, o assassino Simón Bolívar, o comunista chileno Salvador Allende, o guerrilheiro argentino Che Guevara, o fanático líbio Kadafi e tantos outros. Arrogância e ingratidão germinam em todo lugar: basta esquecer que não se é Deus.

Também sabemos que o autor mais renomado das loucuras comunistas foi uma amostra de ingratidão e soberba. K. Marx, segundo biógrafos, era arrogante e 'seguro de si' na sua fala e nas suas ideias. Não revisava a própria filosofia nem suas atitudes. Sempre 'tinha razão'. Como Hegel, seu inspirador, quis dobrar a própria realidade a si ao invés de dobrar-se a ela. 
Praticou ingratidão com o próprio pai, com o sogro, com a esposa Jennifer, com a empregada doméstica, com o filho bastardo, com seu maior benfeitor, F. Engels, com os proprietários dos imóveis onde morou sem pagar, e assim por diante.

Os veios civilizacionais arrefecidos de arrogância e presunção adquirem contornos segundo os tempos e modas. Nos séculos recentes, mulheres e homens irreverentes e ressentidos ensinam novas gerações amaldiçoar mais que a bendizer, reivindicar mais que a agradecer, exigir mais que a retribuir, receber mais do que a dar, reclamar mais que a louvar e reconhecer. A existência e o mundo não mais são vistos e acolhidos como invenções da caridade divina, numa expressão de Blondel, mas como patrimônio agrilhoado à forma de usucapião.

Clamoroso exemplo do século XX foi o que ocorreu com membros da influente Escola de Frankfurt, na Alemanha. Todos eles, inglórios marxistas, teriam sido inteiramente mortos pelos nazistas não tivessem deixado aquele país para buscar refúgio em outro lugar. 
Buscaram-no, porém, não na Rússia comunista pela qual nutriam simpatia, mas contraditoriamente na nação à qual dirigiam sua mais contundente crítica cultural. 
Salvos da morte pela sociedade norte americana, receberam dela também trabalho, abrigo e riqueza. No final, retribuíram com bulimia e ingratidão.

Como se vê, muitos casos de fartura, abundância e generosidade fazem indivíduos beneficiados esquecerem suas miserabilidades originais para, inchados de soberba e dinheiro, imitarem demônios. Os intelectuais da Escola de Frankfurt eram tarimbados na 'dialética negativa' que os tornou irreconhecíveis no que diz respeito a gratidão e reconhecimento.

Verifica-se, paradoxalmente, que não só abundâncias, mas também assistencialismos produzem quase sempre efeito reverso. Os benefícios recebidos mesclam-se a novas exigências e reivindicações. Os destinatários de muitas generosidades se tornam em boa medida mais arrogantes, mais soberbos, mais 'bigornados' de ingratidão.

Nos tempos bíblicos era triste e maldita a condição da mulher incapaz de gerar filhos. Invertendo lógicas e valores surrupiados, feministas contemporâneas desprezam úteros que as geraram e amaldiçoam maternidades. 
Quanta distância, Santo Deus, dos sentimentos de gratidão dos lábios de Sara, mãe de Isaac, de Rebeca, mãe de Esaú e Jacó, de Ana, mãe de Samuel, de Maria, mãe de Jesus, mulheres que agradeciam a Deus pelos filhos e pela graça da maternidade!! 
Hoje muitas amaldiçoam úteros e filhos: o que foi graça e bênção virou fardo e maldição, o que foi fardo e maldição virou graça e bênção. Demônios atuais, valha-me Nossa Senhora, não são mais os mesmos: qualificaram-se em perversidade e loucura!! Assistimos, com assiduidade, faroestes de ingratidão e soberba nunca, antes vistos.
 
Raros acadêmicos de universidades públicas expressam gratidão pelo que recebem sem pagar dos que pagam sem receber. 
Juízes soberbos da nossa Suprema Corte, esquecem os pescadores de suas lagostas, os vinicultores de seus vinhos, os agricultores de seus alimentos, os padeiros de seus pães, os transportadores de suas benesses e, principalmente, os pagadores de seus salários. 
Empáfias demoníacas move-os mesmo ante a realidade dissonante de um povo pobre e sofrido, sem regalias como eles têm. 
Tamanha soberba se viu, por exemplo, no convite recente que alguns daqueles juízes receberam de ir a uma audiência no Senado. Para este último, declinaram, mas, para um outro, o de palestrar em Portugal, Inglaterra ou Estados Unidos, aceitaram. [alguns deles foram rejeitados em cidades gaúchas, desconvidados para não comparecerem.] Tais togados, de empáfia duplicada, não promovem a justiça, mas a enterram.

Funcionários públicos, empresários e, sobremaneira, políticos sorrateiros enriquecidos pelas vias de dinheiro público roubado e corroído se postam do lado oposto ao da gratidão. 'Vivem, como diz Shakespeare, um paraíso que os levará ao inferno'. De fato, o rico epulão acabou na Geena não pela riqueza que possuía, mas pela forma desdenhosa e sem misericórdia com que tratou Lázaro.

A ingratidão, sabemos, se encontra incrustada também nas relações entre filhos e pais, empregadores e empregados, professores e alunos, políticos e seus eleitores, doentes e enfermeiros, médicos e pacientes, produtores de lixo e garis, clientes e garçons, passageiros e motoristas, homens e mulheres, gerações presentes e passadas. 
Onde moramos, houve antes quem construiu, onde plantamos, houve antes quem arou, onde colhemos, houve antes quem semeou.

Dolorosamente, porém, há doutrinas que nos ensinam a desprezar o passado, as tradições, o que nossos antepassados edificaram. Entre essas doutrinas, a maior de todas: o marxismo e suas derivadas. Por essa razão e por muitas outras devemos rejeitá-la e combatê-la. Candidatos a cargos públicos, artistas e intelectuais atrelados a ela não merecem nosso respeito, nem nossa consideração, muito menos nosso voto. Soberbos, dizia Dante Alighieri, não reconhecem seus erros, não se arrependem de seus pecados. Cuidemo-nos deles porque seu perfil é o dos demônios.

Empáfias e soberbas agem como ácidos corrosivos da vida moral e espiritual. Devemos, segundo Rubem Braga, cuidar particularmente daquela parcela de ouro que habita o coração. Numa crônica de 1951, o autor lembra o sino de ouro da igreja de Porangatu, no sertão de Goiás. O povoado é pequeno, diz Braga, de gente parada, indolente, pobre, semelhante à pobreza de suas casas.

Mas aqueles habitantes têm um orgulho sem igual: receber, todos os dias, doses de alegria vindas do som daquele sino como se 'cada homem, o mais pobre, o mais doente e humilde, o mais mesquinho e triste, tivesse dentro da alma um pequeno sino de ouro... A povoação é pequena, humilde e mansa, mas louva a Deus com o sino de ouro

Ouro que não serve para perverter, nem o homem nem a mulher, mas para louvar a Deus... Cada um de nós quando criança tem dentro da alma seu sino de ouro que depois, por nossa culpa e miséria e pecado e corrupção, vai virando ferro e chumbo, vai virando pedra e terra, e lama e podridão".

O autor é professor de Filosofia

  Santa Maria, 02/08/2022

 

sexta-feira, 17 de junho de 2022

O Globo, editorial de jornal velho - Percival Puggina

Com atraso mínimo de três anos, já bem andado o calendário de 2022, o Globo do dia 15 deste mês de junho publica editorial apontando alguns dos abusos de poder e tropelias que têm sido, nos últimos anos, marcas registradas pelo Supremo Tribunal Federal nos anais da História. 
São pegadas, digitais e material genético ali depositados pelos ministros de FHC, Lula, Dilma e Temer.

Pois foi nesse material já mofado que O Globo, como quem vê recorte de jornal velho, resolveu dar uma olhada. Sobre o ativismo, erros, demasias que ali se acumulam nada tem sido dito naquele espaço abençoado pelo ministro Alexandre de Moraes com o nome de “mídia tradicional”. Ao mesmo tempo, na liberdade das combatidas e cerceadas redes sociais, centenas, milhares, de criteriosos analistas vêm apontando ao longo dos anos males e malefícios que agora, e só agora, merecem a atenção do jornal.  

Em todo o Grupo Globo, repórteres, comentaristas, articulistas, âncoras têm feito uso de poderosos recursos de comunicação para ratificar a inocência, a correção e o serviço prestado por essa herança legada, ou sequela deixada no Supremo pela sucessão de governos de esquerda que comandou o país entre os 1994 e 2018. 
 
Os espaços de jornalismo do Grupo, quando se trata de ativismo e abusos praticados por ministros do STF – sempre contra a direita, o governo Bolsonaro e seus apoiadores – vai ouvir os “peritos” da advocacia chique do grupo Prerrogativas (“Prerrô” para os íntimos), dos Juízes para a Democracia, de ex-ministros petistas do STF e de ativistas de outros coletivos com igual perfil.

Totalmente inesperado, embora positivo, que assim, no clarão de um relâmpago, o editorial de O Globo reconheça como “insidiosa” (enganadora, traiçoeira, pérfida) a politização do STF. Surpreende que aponte como “sem cabimento” a concessão de prazo para o presidente tomar providências nas buscas pelos desaparecidos na Amazônia e registre as dificuldades do ministro Fachin em se desvencilhar da encrenca que sua retórica provocadora arrumou com os militares em torno das urnas eletrônicas.

“Não é de hoje que o Supremo invade competências de outros poderes” admite o editorial, transcrevendo opinião do jurista Gustavo Binenbojm, para quem “o STF brasileiro, ao lado do colombiano e sul-africano, está entre os mais ativistas do mundo”.

A recortagem de notícias velhas vai adiante lembrando a prisão do deputado Daniel Silveira, os inquéritos das fake news e dos atos “antidemocráticos”, a criação de crime sem lei federal ao equiparar homofobia ao racismo. A lista real é muito, muito mais extensa, mas o editorial é um sinal de reconhecimento à atividade de tantos que, como eu, apontaram cada um desses abusos e responsabilizaram o Grupo Globo por seu apoio explícito ou silencioso consentimento à politização do Supremo.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

quinta-feira, 10 de março de 2022

O bônus milionário que o presidente da Petrobras vai ganhar este ano - O Globo

Rennan Setti
 
O presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, deve ganhar uma bolada milionária a título de bônus este ano. Os acionistas da estatal votarão em abril proposta que prevê a distribuição de R$ 13,1 milhões à diretoria da companhia dentro do Programa Prêmio por Performance (PPP). A empresa não informa exatamente quanto será embolsado por Silva e Luna, mas, como são nove os membros da diretoria, o presidente não ficará com menos de R$ 1,45 milhão.
Joaquim Luna e Silva

Considerando-se também salário e outros benefícios, os noves diretores da petrolífera terão uma remuneração global de R$ 37 milhões entre abril deste ano e maio do ano que vem — uma média mensal de R$ 342,6 mil para cada um. [Presidente Bolsonaro! vai bancar esse exagero?  
para o povão a performance da Petrobras foi apenas os aumentos seguidos nos derivados de petróleo = especialmente gás de cozinha e gasolina.]

Parcelado
O bônus da Petrobras aos diretores não é pago de uma só vez: eles recebem 60% em uma parcela à vista, e o restante é pago ao longo dos quatro anos seguintes. Para o adicional ser pago, a companhia precisa ter batido certas metas, como a evolução da dívida e do lucro e até o controle da emissão de gases do efeito estufa e de vazamentos de petróleo.

Com a escalada do preço dos combustíveis, a Petrobras teve no ano passado o maior lucro de sua história, de R$ 106,7 bilhões. O valor do bônus deste ano, no entanto, será quase o mesmo que o distribuído em 2021.

Silva e Luna chegou à Petrobras em abril do ano passado, após dirigir a Itaipu Binacional — onde, aliás, o general recebeu um bônus “relâmpago” de R$ 221 mil a título de indenização, como mostrou reportagem da Folha de S. Paulo.

A proposta de remuneração aos diretores da Petrobras será votada pelos acionistas em assembleia em 13 de abril. Na mesma ocasião, eles vão decidir sobre a nova composição do conselho. O governo indicou para a presidência do colegiado Rodolfo Lanhttps://blogs.oglobo.globo.com/capital/dim, que comanda o clube do Flamengo.

*** 

Pouco antes de indicar Silva e Luna para o comando da Petrobras, Bolsonaro fez do salário do CEO da estatal um dos principais alvos de suas críticas. À época, o presidente estava desgostoso com o então CEO da petrolífera, Roberto Castello Branco. A razão para sua ira era a política de preços da estatal. Um ano e um general depois, tanto a política de preços da Petrobras como o contra-cheque do seu CEO continuam os mesmos.

Em defesa de Silva e Luna, a verdade é que o salário do CEO da Petrobras é pequeno quando comparado ao de suas rivais internacionais...

Capital - O Globo


segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Na marca do pênalti - Fernando Gabeira

In Blog

Bolsonaro fez parte de um seleto grupo de estadistas que negaram a pandemia. Em seguida, foi o único no mundo, ressalta o jornal “Le Figaro”, que se colocou negativamente diante da vacinação. Ele foi escolhido como o pior corrupto do ano, pelo Organized Crime and Corruption Reporting Project. Coisa de comunistas? Os escolhidos anteriormente foram Putin, Maduro e Duterte.

[a pandemia, com as BÊNÇÃOS DIVINAS, vai passar ainda no inicio de 2021 - é só cessar os efeitos de alguns excessos praticados por incautos.
Cessando a pandemia, quer os inimigos do Brasil gostem ou não,  o presidente da República Federativa do Brasil, JAIR MESSIAS BOLSONARO, vai conseguir governar - missão que lhe foi concedida por quase 60.000.000 de brasileiros.
 
Voltará com suas pautas de campanha, incluindo sem limitar,  a de COSTUMES, de SEGURANÇA e todas serão aprovadas e implantadas. Algumas, com destaque para a de COSTUMES, precisam de ajustes, até mesmo endurecimento, pela deterioração sofrida.
Serão NOVOS e BONS TEMPOS, o que nos leva a perguntar
- Que nos importa a opinião de um jornal francês (não nos importam nem as ameaças feitas pelo presidente francês de internacionalizar a Amazônia - se tentar, vai perder)?
- Que valor tem uma organização de gringos  considerar o presidente Bolsonaro o pior corrupto do ano?  
Estranho,  o PIOR = a principio se pensa em ser o pior por ser o mais corrupto; só que no caso não vale tal pensamento, já que acusaram o presidente de quase tudo e mais alguma coisa, mas quanto a ser corrupto nada existe - tanto que tentam jogar a pecha de corruptos sobre os filhos do presidente para então associar = só que são CPFs diferentes.]

Bolsonaro chegou ao fim de 2020 com 24 pedidos de impeachment acumulados na gaveta. Alguns comentaristas acham que ele zombou da tortura em Dilma Rousseff para desviar a atenção de seu fracasso diante da pandemia. Mas é uma tática estúpida. Não se disfarça a morte com cheiro de morte, muito menos se esconde a desumanidade contra muitos, concentrando-a numa só pessoa.

O conjunto de declarações de Bolsonaro está registrado. Uma pandemia com quase 200 mil mortos não desaparece na história como um relâmpago no céu. [também não desaparece a comprovação farta de que o Governo Federal foi afastado do comando, da linha de frente das ações de combate ao coronavírus, sendo dado o protagonismo aos governadores e prefeitos.]  Ele contribuiu para que uma parte do povo brasileiro desafiasse o perigo da pandemia e colocasse em risco a própria vida e a dos outros.

Bolsonaro ignorou os apelos para que o Estado protegesse as populações indígenas. Por duas vezes, o STF devolveu ao governo a lição de casa que não consegue realizar: um plano eficaz para protegê-las. No governo, Bolsonaro aumentou a destruição da Amazônia, queimou um terço do Pantanal, e o Cerrado perdeu 13 % de sua vegetação. No seu prontuário, não pesam apenas vidas humanas, mas espécies animais, plantas, enfim, todos os componentes da riqueza do Brasil.

Sua política arruína as chances de nos apresentarmos como uma potência ambiental, atraindo energias, capitais, poderosos governos, todos ansiosos por trabalhar conosco numa nova etapa da luta mundial pela sobrevivência das novas gerações. Numa das suas últimas lives, Bolsonaro afirmou que não seria retirado da Presidência sem um motivo justo. Ninguém faria isso. Mas a situação muda de figura quando se consideram 200 mil mortes diante de um governo negacionista. Se isso não for um motivo justo para milhares de famílias que perderam seus entes queridos, o que será? [a primeira providência que decide o que é um motivo justo - no caso um crime de responsabilidade, devidamente comprovado - são os votos de 342 deputados favoráveis a que seja aberto um processo de impeachment. 
341 votos não autorizam sequer que a sessão para apreciar o pedido de impeachment seja aberta.]

O auxílio emergencial aprovado pelo Congresso atenuou o impacto da posição inicial na imagem de Bolsonaro. A má vontade com a vacina atualizou sua culpa. O general Pazuello tem responsabilidade, mas obedece a Bolsonaro. Só é formalmente um Sancho Pança. Sancho seguia Dom Quixote, um símbolo permanente da humanidade. Assim mesmo, era capaz de alertar: olha mestre, olha o que senhor está falando.

Juntos, capitão e general arrastaram as Forças Armadas para uma política que nega sua proximidade com a ciência, lança dúvida sobre sua capacidade e chega a nos fazer duvidar dos critérios que levam alguém ao generalato. [um pouco de prudência ao lançar dúvidas sobre, ou acusar, nossas Forças Armadas, é aconselhável. 

Acusações ou dúvidas, sem amparo em fatos, costumam causar constrangimento. Recentemente o Exército Brasileiro foi acusado de estar promovendo um genocídio = o autor da acusação teve que recuar quando percebeu que faltavam os mortos.]

A aventura da hidroxicloroquina, justificada pelo Exército como um conforto à população assustada, é um argumento religioso. Remédios são feitos para curar.  A pandemia revelou o abismo da desigualdade social. Entramos em 2021 sem resposta para milhares de pessoas necessitadas. Não só estamos longe de um contrato social, mas sendo cada vez mais empurrados para a barbárie.

Bolsonaro é a barbárie de que o capitalismo escapou no século passado, com a ajuda da social-democracia e de políticas sociais. E de que a globalização procura escapar, no século XXI, com as diretivas de governança sustentável e socialmente responsável. No seu governo, vigora a tese de que o homem é o lobo do homem, de que os fortes sobrevivem de armas na mão. Não há chances de construir um país com essas ideias. A esperança em 2021 passa por nos livrarmos desse pesadelo, em condições ainda difíceis de movimento e contato físico.

Quando os valores humanos são negados tão radicalmente por um líder e seus fiéis que riem da tortura, é fácil compreender que a luta não é apenas por um país, mas pela sobrevivência da espécie. No Brasil, a humanidade está em jogo. Muitos já compreendem, mesmo vivendo fora daqui, o potencial destrutivo dessa ameaça.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista - O Globo 

Artigo publicado no jornal O Globo em 04/01/2020

 

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Que “forças ocultas” convenceram o governo a comprar a vacina chinesa? - Sérgio Alves de Oliveira

Sem dúvida está causando cada vez mais “nojo” a política governamental sobre as   diretrizes adotadas na  prevenção e combate à “praga” do novo coronavirus, ”made” na China. Até “ontem”, a opinião pública dominante e o próprio governo asseguravam  que seria mais confiável comprar alguma vacina contra o Covid-19 produzida no  laboratório do “inferno”, do que aquela “made” na China , com as bênçãos de Xi Jinping.

Mas bastou  o Governador de São Paulo, João Doria, fazer um vôo relâmpago a Brasília, para oferecer ao Governo  a tal vacina, da qual é o “embaixador”, que imediata e “milagrosamente” toda a conversa mudou.
Comparava-se até agora  a tal vacina chinesaCoronaVac” aos envelopes de origem clandestina recebidos de lá por brasileiros, pelos correios, contendo “misteriosas” sementes, que muitos suspeitam conter algum elemento de  contaminação humana, animal, ou vegetal, ou seja, resumidamente, ”bioterrorismo”.
[Tudo sobre o coronavírus é na base do palpite e aqui vai um: tornar a 'coronavac' uma das opções de vacina a  ser comprada pelo Brasil não é muito misterioso = NÃO TEM NENHUMA VACINA DISPONÍVEL e a saída é comprar a primeira a ser disponibilizada. 
E, parece, notem bem, parece que a 'CoronaVac pode ser a primeira. 
As outras que estavam  adiantadas deram uma travada - tem uma delas que complicou na fase 3 devido o número de voluntários que se infectaram é inferior ao mínimo necessário = deixando dúvidas se poucos se infectaram por ser a vacina eficaz ou por não terem se contaminado por outras razões? 
Parece que a solução no caso será infectar de modo proposital os voluntários = surge uma questão ética.]

Mas enquanto  todos esperavam que Doria fosse  corrido a “relho” de Brasília, para surpresa e “impacto” geral, o Governador paulista acabou assinando um convênio com o Ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo ,”representando” (?) o Governo Federal (União),”aprovado” (em reunião virtual) pelos governadores, a fim de que o Governo Federal “banque” pelo Sistema Único de Saúde-SUS, 46 milhões de doses da vacina chinesa “CoronaVac”.  Foi feita alguma licitação? Ou a compra foi nas “coxas”?

De uma coisa a gente pode ter certeza. É evidente que ninguém andou levando dinheiro na “cueca” para facilitar essa aprovação surpreendente e “relâmpago”. Isso porque estaria se tratando de  uma operação de muita “grana” para o respectivo “convencimento” caber dentro da  cueca. Seria suficiente como justificativa dessa compra às pressas as palavras do Presidente do Instituto Butantã, no sentido  de que a CoronaVac seria o “imunizante contra o Covid-19 mais seguro em teste atualmente no Brasil”? E a vacina imunizante da “Oxford” ?

Uma coisa é certa: que tem boi na linha por aí, tem !!!

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo


sábado, 9 de maio de 2020

A ocupação do STF - Folha de S. Paulo

Oscar Vilhena Vieira


O tribunal não pode se omitir diante de tentativas de intimidação

Tribunais e cortes supremas, quando cumprem devidamente seu papel de guardar as respectivas constituições, têm o dom de enfurecer autocratas das mais variadas afiliações ideológicas. De Chávez a Orbán, a emasculação de tribunais tornou-se uma cena corriqueira no enredo das escaladas autoritárias. Vargas aposentou compulsoriamente sete ministros do tribunal e restringiu as prerrogativas da corte para controlar seu governo. Nesse período foi escrita uma das páginas mais constrangedoras da história do Supremo, que permitiu, vencidos os ministros Carlos Maximiliano, Carvalho Mourão e Eduardo Espínola, a entrega de Olga Benário aos nazistas. [FATO: Olga Benário era uma terrorista desde a Alemanha, já atuando em 1928,  como terrorista em solo alemão, tendo participado de resgate de presos, bem antes da vinda para o Brasil.
No Brasil também teve envolvimento com o comunismo e o terrorismo - não é a 'santinha' pintada por muitos.] 
Em 1969, o general Costa e Silva aposentou compulsoriamente os ministros Hermes Lima, Victor Nunes Leal e Evandro Lins e Silva após a edição do AI-5, que suspendeu as garantias da magistratura e excluiu da apreciação do Judiciário as ações praticadas com fundamento em atos institucionais. A porta se abria para o período mais obscuro da ditadura.

Mais recentemente o Supremo vem sofrendo formas inusitadas de intimidação. Em 2018, o comandante do Exército tomou a liberdade de advertir, por Twitter, como deveria o Supremo decidir um habeas corpus. Nesta última quinta-feira (8), o Brasil testemunhou uma ocupação relâmpago do STF. Sob a batuta presidencial e do ministro da Economia, os ocupantes reivindicaram a flexibilização de medidas de saúde pública, por entenderem que essas ameaçam a vida de muitos CNPJs.
Nada foi dito ou solicitado para prevenir a morte de milhares de pessoas ou sobre a necessidade de prover meios e condições básicas para que os mais pobres possam sobreviver durante a pandemia.  Desde a campanha eleitoral têm aumentado as ameaças ao Supremo. Os vícios e idiossincrasias do tribunal o deixaram mais vulnerável nos últimos anos. A recente escalada de ataques, no entanto, decorre sobretudo de suas virtudes.
Se o Supremo vinha sendo deferente - omisso para alguns
[omissão que optou por substituir pelo ativismo judicial, especialmente com uma postura contrária ao governo Bolsonaro, que tem se destacado por decisões monocráticas sempre contrárias ao atual governo.
A situação se tornou tão abusiva que o ministro Marco Aurélio - que não pode ser considerado bolsonarista - percebendo o quanto a corda estava esticando, decidiu propor que sejam evitadas decisões monocráticas contra chefes dos outros Poderes,devendo sempre ser referendadas pelo plenário da Corte Suprema.]
em relação a diversas ações controvertidas aprovadas pelo atual governo, com o início da pandemia passou a adotar uma postura muito mais responsiva, no sentido de não negar resposta àqueles que buscam sua jurisdição, como demonstrou Eloisa Machado em arguto artigo nesta Folha. Em um curto espaço de tempo os ministros do Supremo foram capazes de assegurar a integridade da Lei de Acesso a Informação, impediram o lançamento de uma campanha genocida de volta ao trabalho, asseguraram a competência das autoridades estaduais e municipais no campo da saúde pública, autorizaram a abertura de investigação sobre eventual conduta ilícita do presidente e suspenderam a tramitação de ações judiciais que questionam a demarcação de terras indígenas, em face das ameaças da Covid-19, para ficar apenas em alguns exemplos.
Grande parte dessas decisões foram tomadas monocraticamente, o que é um problema antigo do tribunal, que deveria ser corrigido por uma mudança no regimento, como proposto pelo ministro Marco Aurélio. Não procede, no entanto, a acusação de ativismo. Esse é um adjetivo simplista, usado sobretudo por aqueles que querem atacar uma decisão judicial da qual discordam.
Como salientou o ex-ministro Sepúlveda Pertence, "o Supremo tem competência para uma série de intromissões em atos de outros Poderes. Não para substituir-se a eles, mas para conter ilegalidades e abusos. Se se resguardasse, numa visão extremamente contida dos poderes judiciais, o Supremo estaria se demitindo desse papel fundamental que a Constituição lhe atribui". E não é isso que precisamos neste momento.
Oscar Vilhena Vieira, professor, mestre em direito,  Universidade Columbia, e doutor em ciência política - Folha de S. Paulo

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Tempos do coronavírus - Nas entrelinhas

“O grande problema para o Congresso entrar em velocidade máxima são as eleições municipais, cujas articulações já estão começando e deverão se acelerar a partir de abril, com abertura do prazo de filiações”

O governo já iniciou a operação para repatriar 29 brasileiros que estão na região de Wuhan, na China, e deverão chegar à Base Aérea de Anápolis (GO) no sábado. Os que tiverem sintomas da doença serão conduzidos diretamente para o Hospital das Forças Armadas, em Brasília. Essa operação é um prenúncio de tempos que poderão ser difíceis para o Brasil, não necessariamente por causa dessas pessoas, ou mesmo dos 14 casos suspeitos em observação no país, mas em razão do impacto que a epidemia em curso na China terá na economia mundial, caso não seja debelada rapidamente.

O acordo comercial dos Estados Unidos com a China, que estabelece relações especiais fora das regras do jogo da Organização Mundial de Comércio (OMC), deve impactar as exportações brasileiras para a China, numa escala que ainda não é mensurável. A redução da atividade econômica chinesa, em razão da epidemia, pode agravar o impacto do acordo no agronegócio e na mineração, que são atividades nas quais a parceria com a China é estratégica. A queda na produção industrial brasileira, no ano passado, por outro lado, refletiu a crise em países da 
ue tradicionalmente importavam produtos industrializados do Brasil, sobretudo a Argentina.

Essas externalidades precisam ser compensadas para que a economia brasileira volte a crescer. São duas as variáveis necessárias. Uma é o aporte de investimentos estrangeiros, o que depende da aprovação do marco regulatório das concessões e parcerias público privadas. Sem esse marco, o programa de privatizações e concessões do governo não terá a segurança jurídica necessária para atrair esses recursos. A outra é a ampliação do poder de compra da população, que depende da oferta de crédito, uma vez que não haverá aumento da renda de imediato. Não é uma equação fácil.

O governo aposta todas as fichas na agenda econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, que depende da aprovação do Congresso. Em tese, não existe grande objeção dos parlamentares à agenda, mas o tempo é exíguo. O começo da legislatura na segunda-feira e ontem foi meio melancólico, com o Congresso esvaziado. O clima é de pré-carnaval. O governo também não tem capacidade de articulação política suficiente para impor um ritmo diferente aos trabalhos do Congresso, que funciona no seu próprio diapasão.

O grande problema para o Congresso entrar em velocidade máxima são as eleições municipais, cujas articulações já estão começando e deverão se acelerar a partir de abril, com abertura do prazo de filiações partidárias. O que está antecipando essas articulações é a mudança das regras eleitorais, pois todos os partidos estão sendo obrigados a montar chapas proporcionais e a lançar o maior número possível de candidatos a prefeito, com o fim das coligações.

Quarentena
Existe também um certo nível de imponderabilidade em razão do próprio governo Bolsonaro, que fabrica crises de combustão espontânea, a mais recente na Casa Civil, onde o ministro Onyx Lorenzoni passa por um processo de contínua fritura, sem falar na estratégia de confronto adotada em algumas áreas, na qual pontifica o ministro da Educação, Abraham Weintraub, que é foco permanente de fricção política com o Congresso. Para muitos analistas, as diatribes políticas da ala ideológica do governo e até do presidente Jair Bolsonaro são fatores perturbadores do ambiente econômico.


Esse comportamento contrasta com a atuação de outros ministros que têm amplo trânsito no Congresso, como Tereza Cristina, da Agricultura; Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura; e Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, que rapidamente mobilizou seus aliados no Congresso para aprovar o projeto de lei com normas de emergência para enfrentar a ameaça de epidemia de coronavírus, relatado pela deputada Cármem Zanotto (Cidadania-SC), presidente da Frente da Saúde, ontem à noite, pela Câmara, numa tramitação relâmpago. O PL autoriza a realização de quarentenas e outras medidas compulsórias para evitar que a epidemia se instale no Brasil.

Nas Entrelinhas -  Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense

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