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segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Judiciário - STF – protagonismo e privilégio - Carlos Alberto Di Franco

 Gazeta do Povo

Alexandre de Moraes

Procuradora-geral interina questionou a legalidade da decisão de Toffoli que permitiu a Moraes atuar como assistente de acusação.| Foto: STF

Quando o Supremo Tribunal Federal tem excesso de protagonismo na mídia, boa coisa não é.  
De fato, seus ministros dão entrevistas a respeito de tudo. 
Falam fora dos autos com uma desinibição que provocaria grande constrangimento em muitos de seus ilustres predecessores. 
É verdade que vivemos, todos, a síndrome da exposição compulsiva. 
E os integrantes da corte, seres humanos que são, não escapam ao fascínio e aos riscos de tamanha visibilidade.
 
A edição do jornal O Estado de S.Paulo de 1.º de novembro, em seu espaço opinativo, testemunhou, mais uma vez, a forte presença do STF nas páginas dos jornais.  
Um editorial e um artigo trataram de decisões da corte que, a meu ver, geraram perplexidade e insegurança jurídica.
 
O título do editorial foi sugestivo: “O privilégio do sr. Moraes”.  
Trata dos desdobramentos do imbróglio que envolveu o ministro Alexandre de Moraes e sua família no aeroporto de Roma. 
Em recurso interposto no inquérito que investiga suposta agressão contra o ministro e sua família, a Procuradoria-Geral da República (PGR) fez dois pedidos ao ministro Dias Toffoli, relator do caso:  
- o levantamento integral do sigilo das filmagens contendo as supostas hostilidades; 
- e a reconsideração da decisão que admitiu a participação das supostas vítimas, desde a fase da investigação, como assistentes da acusação.


A corte suprema, infelizmente, não tem contribuído para fortalecer a sua credibilidade.
Aos olhos da população, transformou-se num espaço político 

 

O controle seletivo das filmagens passou a ser exercido de modo ilegal e abusivo num país em que a arbitrariedade do poder faz de conta que a lei não vale para todos. 
Basta pensar na triste comédia das imagens da baderna de 8 de janeiro.
O ministro da Justiça já apresentou três ou quatro versões. 
Só não entregou as imagens solicitadas pelo Congresso Nacional e devidamente autorizadas pelo STF. “Não se pode construir privilégios em investigações criminais e, por tal razão, não se pode admitir a manutenção do sigilo fragmentado da prova no caso em exame”, disse a PGR a respeito do sigilo. 
Lembrou ainda que a restrição imposta prejudica o trabalho do Ministério Público e afeta a compreensão dos fatos pela opinião pública. Ademais, as supostas vítimas deveriam ser as maiores interessadas em que tudo aparecesse.
 
Por outro lado, a decisão do ministro Toffoli de admitir o colega Alexandre de Moraes e sua família como assistentes de acusação na investigação da suposta agressão contraria o Código de Processo Penal e a jurisprudência do próprio Supremo.  
Esse é o entendimento de juízes, procuradores e advogados ouvidos para esclarecer o assunto. 
Todos entendem que a assistência de acusação só poderia ser admitida em uma fase seguinte do caso, ou seja, no curso da ação penal. 
Sobre a participação de Alexandre de Moraes e familiares como assistentes de acusação, a PGR afirmou se tratar de um “privilégio pessoal” (forte isso), em razão de inexistir essa figura na fase de investigação. “Não se tem notícia de precedente de admissão de assistência à acusação na fase inquisitorial. Tal privilégio jamais foi admitido para quaisquer das autoridades acima elencadas, nem mesmo para o presidente da República”, diz o recurso do Ministério Público. 
O crescente poder político do ministro Alexandre de Moraes, a quem respeito como pessoa e constitucionalista, não é bom para o país, para a imagem da corte e para ele próprio.
Mas vamos ao segundo texto que chamou minha atenção: “Advocacia silenciada nos tribunais”. 
Seu autor, Ruiz Ritter, é advogado criminalista, doutorando e mestre em Ciências Criminais pela PUC/RS. 
Ele informa que a Diretoria do Conselho Federal, presidentes de diversas seccionais e membros honorários vitalícios da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) tiveram audiência com o ministro Alexandre de Moraes para “requerer respeito ao direito de sustentação oral” no Supremo Tribunal Federal, após o tribunal pautar no plenário virtual os julgamentos referentes aos atos de 8 de janeiro deste ano.
O autor argumenta, com razão, que “acerta a OAB na cobrança institucional ao STF de ‘respeito’ ao direito dos advogados de se pronunciarem na corte, assim como em qualquer tribunal”.
Impedir a realização da sustentação oral presencial, admitindo a modalidade “gravada”, é um modo concreto de silenciar a advocacia e inibir o direito de defesa.

O momento atual do Brasil é de paixões exacerbadas, nervos à flor da pele. É em momentos assim que se exige uma maior prudência e ponderação de todos. Há efeitos da politização que causam danos de difícil reparação para a vida de um país. Um deles é a destruição da segurança jurídica, que no Brasil de hoje é visível a olho nu e, infelizmente, está sendo causada pela conduta de alguns ministros do STF, que é – ou ao menos deveria ser – o principal responsável pela garantia do cumprimento e da estabilidade do ordenamento jurídico e da defesa das liberdades.

LEIA TAMBÉM:  Presos Políticos - Corretor de seguros é condenado a 17 anos de prisão, sem ser ouvido pelo STF - Cristina Graeml

A corte suprema, infelizmente, não tem contribuído para fortalecer a sua credibilidade. Aos olhos da população, transformou-se num espaço político. Não creio que seja radicalmente assim. 
Mas é a percepção que existe. E isso não é nada bom. 
É hora de os ministros de STF fazerem uma sincera autocrítica. O Brasil merece.
 
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos
 
Carlos Alberto Di Franco, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 
 

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Por que o sexo pode causar morte súbita em homens e mulheres jovens - O Globo

Estudo sugere que em pessoas com menos de 50 anos, as principais causas de óbito durante a atividade sexual são a síndrome da morte súbita arrítmica ou as cardiomiopatias
 
Uma vida sexual ativa está associada a um estilo de vida saudável. Em geral, o sexo tem muitos benefícios físicos e psicológicos, incluindo redução da pressão alta, melhorar o sistema imunológico e ajudar a dormir melhor. O ato libera oxitocina, substância conhecida como hormônio do amor, que é importante na construção da confiança e do vínculo entre as pessoas. Mas há um lado sombrio: é possível morrer durante ou logo após o sexo, mesmo se você for uma pessoa jovem.

Saiba mais:Reposição hormonal não é o ‘elixir da vida’

Segundo informações do site especializado The Conversation, a incidência disso, felizmente, é extremamente baixa e representa 0,6% de todos os casos de morte súbita. Na maioria dos casos, a morte associada à atividade sexual é causada pelo esforço físico, medicamentos prescritos (como aqueles para tratar a disfunção erétil) ou drogas ilegais, como cocaína – ou ambos.

O risco aumenta à medida que as pessoas envelhecem. Um estudo feito na Alemanha, que analisou 32.000 mortes súbitas, durante um período de 33 anos, descobriu que 0,2% dos casos ocorreram durante a atividade sexual. Em geral, as vítimas eram homens, com em média 59 anos de idade e a causa mais frequente foi um ataque cardíaco. Trabalhos de morte súbita cardíaca e atividade sexual dos EUA, França e Coréia do Sul mostram achados semelhantes

Pessoas jovens também correm risco
ataque cardíaco

Entretanto um estudo recente, publicado na revista JAMA Cardiology, mostrou que esse fenômeno não se limita apenas aos homens de meia-idade. Pesquisadores da Universidade de Londres investigaram a morte súbita cardíaca em 6.847 casos encaminhados ao centro de patologia cardíaca de St George's entre janeiro de 1994 e agosto de 2020.

Destes, 0,2% ocorreram durante ou dentro de uma hora após a atividade sexual. A idade média média das vítimas foi de 38 anos e 35% dos casos ocorreram em mulheres, o que é maior do que em estudos anteriores

Queiroga:'Quero que a história me defina como o homem que acabou com a pandemia'

Outro dado interessante: essas mortes geralmente não foram causadas por ataques cardíacos, como visto em homens mais velhos. Em metade dos casos (53%), o coração foi estruturalmente normal, mas um ritmo cardíaco anormal súbito chamado síndrome da morte arrítmica súbita ou SADS foi a causa da morte

A dissecção da aorta apareceu como a segunda maior causa, responsável por 12% dos óbitos. O problema ocorre quando as camadas na parede da grande artéria do coração que fornece sangue ao redor do corpo se rompem e o sangue flui entre as camadas, fazendo com que ele inche e estoure.

Alerta:Na maior UTI de Covid-19 do Brasil, mais de 90% dos casos graves são em não vacinados

Os casos restantes foram devidos a anomalias estruturais, como cardiomiopatia (uma doença do músculo cardíaco que torna mais difícil para o coração bombear sangue para o resto do corpo) ou de um grupo raro de condições genéticas conhecidas como canalopatias.

Apesar dos resultados, David C Gaze, professor sênior de Patologia Química na Universidade de Westminster ressalta, em artigo publicado no The Conversation, que a baixa incidência de morte nesses estudos sugere que o risco de morte súbita durante o sexo é muito baixo, mesmo em pessoas com problemas cardíacos existentes. Ele também recomenda que adultos jovens que foram diagnosticados com essas condições, procurem aconselhamento de um cardiologista sobre o risco associado à atividade sexual.

Saúde - Ciência - O Globo


quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A ERVA DANINHA DO AUTORITARISMO - Percival Puggina

Os maus exemplos sufocam os bons exemplos como a erva daninha mata a planta boa
Temos assistido, nos últimos três anos, a sucessivos exemplos de autoritarismo.  Na minha percepção, o fenômeno iniciou no Supremo Tribunal Federal e se propagou rapidamente no Congresso Nacional. Em ambos os lados da praça, a Constituição é serventia da casa e servida ao gosto do patrão. 

Foi o autoritarismo que expediu ordens descabidas ao presidente da República por parte do STF. Foi ele que criou o inquérito do fim do mundo. É ele que fecha jornais, prende jornalistas, criou o flagrante eterno, estatizou verdades e impôs medo à liberdade de opinião.

Vê-se autoritarismo em atos cotidianos do presidente da Câmara dos Deputados no exercício de sua prerrogativa de elaborar a pauta de votações. Em três anos, a Casa não votou a PEC da prisão após condenação em segunda instância, nem o fim do foro privilegiado. Na democracia à brasileira, dane-se a opinião pública!  
É por causa do autoritarismo que custeamos 513 deputados federais para que uma dezena de líderes de bancada comandem os acontecimentos da Casa e conduzam todos os demais pelo nariz, segundo seu querer. 
Essa submissão se deve ao autoritarismo dos líderes na distribuição dos recursos públicos, sejam partidários, sejam do orçamento da União.

Houve longas sessões de autoritarismo na CPI da Covid-19. Foi o autoritarismo que levou ao “Pare de trabalhar e fique em casa!”. É o autoritarismo que leva juristas, políticos e jornalistas a regrarem o ato médico, formulem, com os próprios cotovelos, verdades “científicas” e imponham o passaporte sanitário.

Por puro autoritarismo, um único senador consegue tornar estéril a prerrogativa presidencial de indicar à aprovação do Senado um novo ministro do STF. Afirma o senador, e há quem concorde, ser sua a prerrogativa de marcar a data para a sabatina do indicado, podendo fazê-lo quando bem entender. Ou seja, o ato convocatório da sessão de sabatina poderia ocorrer no intervalo de tempo vai do já ao nunca. Passados cem dias da indicação, tudo leva a crer que o senador Alcolumbre pretende cumprir o que já li haver ele afirmado: enquanto for presidente da CCJ essa audiência não vai acontecer.

Examinemos em microscópio essa variante amapaense da síndrome autoritária que assusta a nação. 
O senador Davi Alcolumbre preside a Comissão de Constituição e Justiça do Senado Federal do Brasil sem haver concluído sequer o curso de Ciências Econômicas cujas aulas um dia pretendeu frequentar. 
Na poltrona onde já sentaram figuras ilustres do direito brasileiro, senta-se agora um senador graduado no ensino médio, incapaz de compreender que o direito de marcar a data de um evento não se confunde com o direito de não marcar a data do mesmo evento.  
E mais, escapa-lhe a compreensão de que se assim fosse, os presidentes da CCJ teriam a prerrogativa de, ao longo dos anos, esvaziar por completo o plenário do STF. Bastaria, para isso, que a mesma “prerrogativa” fosse usada pelos titulares do posto ao longo do tempo necessário para todos os ministros se aposentarem. 
O senador nem imagina que o abuso de sua prerrogativa pontual derruba direito constitucional atribuído ao Presidente. Cabe a este indicar à CCJ quem ele quiser, para que a comissão, por deliberação colegiada de seus membros, verifique se o indicado atende às condições exigidas de um ministro do Supremo pela Carta da República.

Democracia e autoritarismo são antagônicos. Para usar palavra da moda, o autoritarismo é antidemocrático. Para se protegerem de seus fantasmas, o STF e o Congresso Nacional nos arrastam para um simulacro de democracia que a parcela mais bem informada da população não mais leva a sério.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


terça-feira, 13 de julho de 2021

Vacina da Janssen: ‘Anvisa dos EUA’ põe alerta para advertir sobre síndrome autoimune - Revista Oeste

Rótulo do imunizante foi alterado 

A “Anvisa” dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) atualizou o rótulo da vacina contra o novo coronavírus da Johnson & Johnson. Na segunda-feira 12, o órgão regulador advertiu que pode haver risco maior de uma condição neurológica rara chamada síndrome de Guillain-Barré entre as pessoas que foram imunizadas recentemente.

A FDA informou que não está claro se o produto causa a doença, porém, técnicos identificaram aumento de queixas da síndrome, que provoca paralisia. “Relatos de eventos adversos após o uso da vacina sob autorização de uso de emergência sugerem um risco maior de síndrome de Guillain-Barré durante os 42 dias depois da vacinação”, alerta o novo rótulo.

Leia também: “Precisamos falar sobre a CoronaVac”, reportagem publicada na Edição 67 da Revista Oeste


terça-feira, 25 de maio de 2021

SÍNDROME DO DUPLO STANDARD - Leandro G.M. Govinda

Quando a pandemia acabar, os cientistas poderiam começar a investigar um transtorno muito comum na atualidade. Ainda não existe nome para isso, mas poderia muito bem ser chamado de transtorno do discurso contraditório ou síndrome do duplo standard. O sintoma mais eloquente consiste em sustentar ideias incoerentes e lançar mão de rótulos como fascista, racista e machista para terminar qualquer discussão quando seus argumentos não convencem o interlocutor. Trata-se de um distúrbio de fácil diagnóstico, bastando observar a opinião do paciente sobre os temas que estão rotineiramente nos noticiários.

Por exemplo, há pessoas que defendem o aborto aduzindo que a mãe tem o “direito” de matar o próprio filho enquanto o hospeda no seu ventre. Agora, é um sinal do transtorno se o militante pró-aborto sai às ruas para protestar contra o abate de animais para consumo humano. Escapa à razão uma pessoa sugerir que um porco tem direito à vida, mas um bebê em gestação não.[o pior é que muitos já  começam a pensar assim, incluindo, pessoas consideradas cultas = querem a liberação total do aborto e ao mesmo temo defendem penas severas apara quem maltrate animais.] A propósito, registre-se que já tem lunáticos defendendo que a mãe possa dar cabo da vida do filho enquanto este não tem consciência de si mesmo, ou seja, até os 4 anos de idade (1).

Outro caso grave é o do sujeito que defende a liberação da prática sexual entre pedófilos e crianças ao argumento de que uma criança, mesmo de tenra idade, tem discernimento para consentir com um ato sexual. Geralmente, esse sujeito anda de mãos dadas com a turma que sobe nas tamancas quando uma mulher adulta recebe uma cantada de um colega de trabalho. É simplesmente um disparate dizer que uma criança pode se defender de um pervertido e, por outro lado, sugerir que uma mulher adulta seja incapaz de lidar ou se esquivar de um assédio no ambiente de trabalho. [com certeza, quem pensa assim, defendendo a prática sexual entre pedófilos e crianças ou a o assassinato de crianças, pela coisa que no caso chama de mãe, até os 4 anos de idade, deve ser abatido:  além da mais completa falta de discernimento, noção e tudo o mais que é nobre, esse verme é venenoso e só o seu abate, de forma sumária faz JUSTIÇA.]

Mais um sinal claro da síndrome consiste em advogar a favor da liberação do uso de drogas alegando que fumar maconha no parquinho traz malefícios apenas para a saúde do maconheiro e, ao mesmo tempo, querer impor uma dieta vegetariana para todo mundo e proibir o churrasco do final de semana porque comer carne aumenta o colesterol.

Também é um indicativo de confusão quando o sujeito defende o direito das pessoas, inclusive adolescentes, de se submeterem a uma cirurgia para mudar de sexo sem maiores reservas, mas promove campanhas para impor severas restrições à mulher ou ao homem que deseja se submeter à laqueadura ou à vasectomia ao argumento de que se trata de um ato irreversível.

Se você ainda não reparou, note que essas ideias permeiam a cartilha do discurso progressista. Daí porque é tão difícil debater ou dialogar com a turma do “progresso”. Como discutir com alguém que apoia o desarmamento da população, mas ao mesmo tempo acredita que o bandido na favela tem o “direito” de portar fuzis para se “defender” da polícia? 
Como argumentar com alguém que chama de “ataque” à religião muçulmana o arremesso de pedaços de bacon contra uma mesquita e, por outro lado, classifica como “manifestação” o ato de atear fogo em igrejas católicas? 
O que dizer para aqueles que defendem o confinamento das pessoas em casa para conter a disseminação do vírus chinês, mas não veem nenhum problema em multidões saírem nas ruas para protestar em nome de minorias? 

A adoção de dois pesos e duas medidas para julgar os fatos torna quase impossível o debate sério e honesto. O resultado disso está aí para quem quiser ver: uma sociedade de pessoas desorientadas e incapazes de se comunicarem umas com as outras. E talvez seja esse mesmo o objetivo do movimento progressista: disseminar pensamentos desconexos para confundir as pessoas até que elas percam a sua racionalidade, tornando-as vulneráveis ao controle social, afinal é muito mais fácil manipular uma pessoa que não consegue raciocinar direito do que outra em pleno domínio das suas faculdades mentais.

Por isso, se você conhece alguém com sintomas do transtorno do discurso contraditório ou da síndrome do duplo standard, não perca seu tempo discutindo. Ou, antes, exija uma única virtude do seu interlocutor: coerência. Sem esse mínimo, qualquer debate é inútil, como semear no deserto. E você ainda corre o risco de perder um amigo e ser chamado de fascista, racista, machista...

(1) Prática do “aborto pós-nascimento”” ganha defensores no meio acadêmico

Leandro G.M. Govinda é Promotor de Justiça em Santa Catarina. Formou-se em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina, especializou-se em Direito Tributário pela Universidade do Sul de Santa Catarina e estudou na Universidade George Washington em Washington D.C. Foi pesquisador do CNPq, Técnico e Auditor-Fiscal da Receita Federal e Procurador da Fazenda Nacional. Ex-Professor da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) e da Escola do Ministério Público.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Situação de Maia no DEM fica insustentável após eleição na Câmara

Ex-presidente da Câmara protagoniza troca de acusações com o presidente da legenda, ACM Neto, e com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado; pano de fundo é a derrota do candidato apoiado pelo deputado na eleição para a presidência da Câmara

A situação do deputado Rodrigo Maia (RJ) no DEM ficou insustentável, depois de uma troca de acusações com o presidente do partido, ACM Neto, e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM). Inconformado por ter sido abandonado pela sigla na eleição para a presidência da Câmara, ele disse que Neto entregou "a nossa cabeça numa bandeja para o Planalto". Afirmou também que pedirá desfiliação do DEM para fazer oposição ao presidente Jair Bolsonaro.

“O partido voltou ao que era na década de 1980, para antes da redemocratização, quando o presidente do partido aceita inclusive apoiar o Bolsonaro”, disse o ex-presidente da Câmara, em entrevista ao jornal Valor Econômico, publicada nesta segunda-feira (8/2). Maia acrescentou que “o DEM decidiu majoritariamente por um caminho, voltando a ser de direita ou extrema-direita, que é ser um aliado de Bolsonaro”.

[Deputado Maia: "quem aqui faz, aqui paga";  reiteramos nossa sugestão: não abandone apenas o DEM, abandone a POLÍTICA - o senhor não tem votos para ser um político. Tentar ser aceito em outro partido não recomendamos, corre o risco de ser rejeitado até por um desses partidecos sem noção, sem programa e sem votos e que só conseguem holofotes movendo ações contra o  presidente Bolsonaro = ações sem importância, desnecessárias por inúteis, tanto que o despacho dado pelo ministro  MD Lewandowski segue um padrão: "ao Ministério da Saúde para responder em 48 horas (as vezes o prazo passa para cinco dias".).]

O deputado responsabiliza o DEM pela derrota de Baleia Rossi (MDB-SP) na eleição na Câmara. Na ocasião, o partido decidiu adotar a neutralidade, abandonando o bloco criado por Maia em torno da candidatura de Rossi. Com votos da maioria dos deputados do DEM, Arthur Lira (PP-AL), apoiado por Bolsonaro, venceu a disputa. Durante a entrevista, Maia afirma que vai fazer o pedido de desfiliação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para “dormir tranquilo”. "Hoje posso dizer que sou oposição ao presidente Bolsonaro. Quando era presidente da Câmara, não podia dizer. Mas agora quero um partido que eu possa dormir tranquilo de que não apoiará [o presidente]", disse.

Maia afirmou também que "falta caráter" a ACM Neto e a Caiado. “Foi um processo muito feito do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não. Falta caráter, né?”, afirmou. Na entrevista, o parlamentar disse que a criação do bloco em torno da candidatura de Baleia Rossi foi discutida com o ACM Neto e com o líder da bancada na Câmara, Efraim Filho (DEM-PB). Segundo ele, ambos trataram a ideia como uma das estratégias para viabilizar também a eleição do candidato Rodrigo Pacheco (DEM-MG) no Senado, esvaziando uma possível frente do MDB em favor de Simone Tebet (MDB-MS).

Rodrigo Maia diz ainda que percebeu a "traição" do DEM em 31 de janeiro, um dia antes da eleição, durante reunião de líderes. “Não podia imaginar que um amigo de 20 anos ia fazer um negócio desses”, disse Maia sobre ACM Neto. “Mesmo a gente tendo feito o movimento que interessava ao candidato dele no Senado, ele entregou a nossa cabeça numa bandeja ao Palácio do Planalto.”

O ex-presidente da Câmara disse que os líderes estão transformando o DEM em “um partido sem posição”. Ele fez essa declaração ao criticar uma entrevista em que ACM Neto diz que pode ir “do Bolsonaro ao Ciro Gomes” — e sem projeto de país. “Deste partido eu não tenho mais como participar porque não acredito que esse governo tenha um projeto primeiro, democrático, e, segundo, de país”, afirmou o deputado.

Ele também não descartou a possibilidade de uma aproximação ainda maior entre o partido e o presidente da República. “Não descarto nem a hipótese de Bolsonaro acabar filiado ao DEM”, disse Maia. O deputado ainda não decidiu sobre o partido ao qual pretende se filiar após deixar o DEM.No domingo, ele se encontrou com o governador de São Paulo, João Doria, que o convidou para ingressar no PSDB. O parlamentar também vem conversando com o Cidadania e com o PSL.

Risco
Caso Maia decida deixar o DEM, ele poderá correr o risco de perder o mandato. A Justiça Eleitoral entende que, nos cargos do sistema proporcional (vereadores e deputados estaduais e federais), o mandato pertence ao partido. Essa perda só não ocorre quando o parlamentar comprova que deixa a legenda por uma justa causa, como por exemplo, mudança de conteúdo programático e perseguição pessoal.

As declarações do ex-presidente da Câmara foram rebatidas por ACM Neto, que divulgou uma nota. Segundo ele, Maia tenta transferir a responsabilidade por seus erros políticos para a presidência do partido após ter tentado, até a última hora, “conseguir o aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para se perpetuar no cargo de presidente da Câmara”.

“Infelizmente, o deputado Rodrigo Maia tenta transferir para a presidência do Democratas a responsabilidade pelos erros que ele próprio cometeu durante a condução do processo de eleição da Mesa Diretora da Câmara”, diz a nota do presidente do DEM. “No empenho em transferir as responsabilidades pelo seu fracasso, Rodrigo Maia tenta negar que insistiu, até o último momento, na possibilidade de conseguir o aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para se perpetuar no cargo de presidente da Câmara”, acrescenta o comunicado.

ACM Neto diz também que todos sabem que Rodrigo Maia tinha um único candidato à presidência da Câmara, que era ele mesmo. Quando o STF derrubou a possibilidade de reeleição, o deputado perdeu força para conduzir sua sucessão e chegou ao final do processo contando com o apoio de apenas um terço da bancada do seu próprio partido”.

A nota do ex-prefeito de Salvador (BA) afirma que "Rodrigo, que tinha a fama de grande articulador, fracassou nessa empreitada. Essa é a realidade". E acrescenta: "Ao invés de escutar quem sempre esteve ao seu lado, e fazer com serenidade e honestidade o exercício da autocrítica, o deputado Rodrigo Maia se encastelou no poder conquistado e, agora, demonstra surpreendente descontrole. A falta de grandeza e a deslealdade causam profundo estranhamento".

O líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB), respondeu, por meio de nota, às declarações do ex-presidente da Câmara. Ele disse que Maia merece respeito mas que sua saída do DEM irá pacificar a legenda. Ele afirma também que "o Democratas é um partido plural e não tem dono", que "a bancada da Câmara não tem dono".

"O líder é eleito pela vontade expressa da maioria. Essa mesma maioria, que torna a decisão legítima, faltou a Rodrigo Maia para compor o bloco de centro-esquerda na disputa pela presidência", diz o líder do DEM. "Na verdade, ao tentar levar o partido para essa posição, sem consultar a bancada sobre o que desejava, Rodrigo se viu isolado e perdeu o comando do processo, e muitas vezes o alertamos sobre essa dificuldade. Era a sua sucessão, cabia a ele construir os consensos e conduzir o processo. Na democracia, maioria não se impõe, maioria se conquista", acrescenta.

Para Caiado, Maia ataca porque não conseguiu ainda superar a perda de poder. “O deputado Rodrigo Maia, infelizmente, foi acometido por uma síndrome que atinge com muita frequência as pessoas que não aceitam deixar o poder: ‘síndrome da ansiedade de poder'”, diz Caiado. “A foto escolhida pelo Valor Econômico identifica a face de desequilíbrio do paciente. E o mais grave: ele faz questão de deixar claro que está saindo do Democratas e colocando seu nome a leilão. A sua entrevista não deve ser considerada pela classe política porque é indicadora de internação hospitalar, acrescenta o governador de Goiás.

Correio Braziliense

domingo, 24 de janeiro de 2021

Mamãe, quero ser presidente

Ricardo Fiuza - Vozes

Não restam mais dúvidas: o Brasil está vivendo uma epidemia de milionários cismados com a Presidência da República. É a síndrome do “Mamãe, quero ser presidente”, muito comum entre gente mimada com o boi na sombra. O que mais poderia explicar esse surto de Dórias, Hucks, Amoedos, etc enguiçados nessa paranoia de mandar nos outros?

Veja Também: 2030 e a falsa felicidade

Sim, essa é a paranoia. Porque se fosse uma paranoia do tipo missionária, quixotesca ou algo assim, eles não tentariam atrapalhar absolutamente tudo que é feito no país – para se apresentarem como solução heroica. É a velha história: quando a criança não recebe o devido contraponto ao narcisismo primário, passará o resto da vida querendo tudo para si – e nunca estará satisfeita.

O problema dos tempos atuais é a complacência das sociedades com as emanações do narcisismo pueril delirante. Não aparece ninguém para dar uma segurada no chilique. Os adultos estão cansados ao final de um dia de trabalho e lá estão os pirracentos na sala dizendo que vão salvar a Amazônia, que vão dar aula de democracia, que tá tudo errado e a Greta tem razão: ninguém nunca fez nada que preste por este planeta e eles vieram dar a real.

São criaturas sovinas, personalistas, calculistas e gulosas que ficam recitando um teatrinho amador de solidariedade e empatia – sem que a coletividade contraponha com a dignidade e a clareza necessárias: deixe de ser ridículo, seja homem. O mais interessante é que personalidades tidas como reserva intelectual da nação, tipo um FHC, estão se desmanchando diante desses emergentes remediados. A elite culta estava chocada, perplexa, estarrecida com a ascensão política dos rudes sem compostura, sem lastro histórico e doutrinário. 
De repente cai de joelhos diante de um aventureiro de auditório
De quantas conveniências e facilidades se faz uma grande alma?
É isso. Por que insistir em chamar de política o que é só uma loja de conveniência?  
Tem prateleiras acessíveis com éticas baratinhas para tudo – ecologia, empatia, ciência, humanismo, inclusão sexual. 
É só passar no caixa – ou nem precisa, se for amigo do dono. 
Saia dali sorrindo com um abadá de preocupação social, com pulseirinha vip de macho sensível ou fêmea consciente, com camarote exclusivo na avenida das elevadas virtudes carnavalescas.
Mas nada seria possível nesse fabuloso mundo de facilidades sem uma imprensa abnegada na dura missão de transformar loja de conveniência em templo de virtudes
Não pense que é fácil se prestar ao papel de vender arregimentadores de bilionários como luminares da comiseração.  
Não despreze o custo de um rebolado até o chão para transformar frases de porta de banheiro em moderna filosofia progressista.

A contracultura libertária de hoje é um ajuntamento de nerds ricos e tarados pelo controle de cada vírgula. E você está entrando nessa democracia de cativeiro porque quer.

Ricardo Fiuza, jornalista - Gazeta do Povo  - Vozes

 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

O país do privilégio - Merval Pereira

O Globo

O país do privilégio e a fraude na vacinação

Nada mais ignominioso do que as notícias que pipocam dando conta de que em diversos estados brasileiros está havendo fraude na vacinação contra a COVID-19. Pessoas que não fazem parte da primeira leva dos grupos de risco furam a fila para garantirem para si ou familiares o privilégio de serem vacinadas, numa pandemia que testa a nossa solidariedade como humanos e que depende da atitude de cada um para que o conjunto dos cidadãos possa sobreviver à crise sanitária.
[O poder do Exemplo: grande parte dos órgãos de imprensa tentam atribuir  ao presidente Bolsonaro responsabilidade pela mortandade causada pela covid-19. Atribuem à loquacidade do presidente, que algumas vezes adentra à incontinência verbal, serve de exemplo aos brasileiros e com isso a pandemia avança.

Mas neste mau exemplo o STF se superou - assunto amplamente noticiado.
Se a Suprema Corte, tenta furar a fila de vacinação, que dizer dos 'apadrinhados'  por prefeitos e governadores. O correto é que  governador, prefeito, ou seus subordinados e aspones, flagrado furando a fila seja punido com rigor.
 
Felizmente, o STF desistiu de punir quem os que não aceitarem se vacinar. Seria uma medida absurda - especialmente pela não disponibilidade abundante do imunizante  - e que iria resultar no CAOS CAÓTICO que predominou no combate à covid-19, decorrente da decisão que atribuiu aos governadores e prefeitos o protagonismo no combate ao coronavírus. 
Ademais, nos parece não existir legislação estabelecendo punição - teriam que se valer do recurso de punir por analogia (seria algo do tipo: recusar a vacina contra a covid-19 é crime análogo ao .....'estupro', 'propagar doença contagiosa', 'racismo'... ) recurso não aceito em matéria penal e que seria implantado mediante decisão judicial = invadindo a competência privativa do Poder Legislativo.
Também seria uma bagunça, por abrir espaço para um governador proibir furar a fila e um prefeito permitir a prática e vice-versa.]

No Brasil fragilizado pela desorganização de um governo incompetente, que deveria ser responsabilizado pelo retardamento do programa de imunização nacional, há alguns muitos mais iguais que os outros. O atraso na chegada das vacinas e dos insumos, devido a problemas causados por uma política externa nula, e uma ação descoordenada do ministério da Saúde entregue a um General que nem sabia o que era o SUS quando assumiu,  cada dia cobra o pedágio em mais de mil vidas, e é esse número alarmante de mais de 200 mil mortes que deveria fazer com que o governo fosse culpado pela negligência no trato da pandemia e os “espertos” de sempre fossem punidos vigorosamente.

O Ministério Público está investigando casos acontecidos em pelo menos sete estados, em que o privilégio foi concedido a filhos, amigos, parentes de autoridades locais, sem falar nos prefeitos que furam a fila afirmando que estão dando o exemplo. Com o número ínfimo de doses de vacina enviado para cada município, a valorização  do imunizante fez com que se criasse um criminoso mercado paralelo de prestígio, e logo veremos denúncias de pessoas que subornaram para serem vacinadas à frente das que estão na lista de prioridades. [falando na lista, excelente que os profissionais de saúde, especialmente os da linha de frente - não apenas do front de combate à covid-19 e sim dos que tem qualquer contato com doentes (o profissional de saúde pode trabalhar na área de socorro a acidentados e encontrar um portador do coronavírus).
Felizmente desistiram, pelo menos por agora, de priorizar presidiários = estes não precisam de serem vacinados com prioridade,  pelo simples fato de que sendo a lei cumprida, estão sujeitos ao isolamento compulsório - reclusão = regime fechado.
Outra prioridade indevida é a concedida a índios que vivem em aldeias e a quilombolas sem comorbidades; qual a razão da injusta concessão? índios que vivem em aldeias, se supõe que vivem isolados, convivendo apenas com os da aldeia!!!  
- qual a razão de um quilombola, digamos com 62 anos, sem comorbidade, ter prioridade em relação a um não quilombola com 70 anos? pergunta válida para indígena que está sendo vacinado fora da aldeia? 
A TV mostrou índios jovens, sem comorbidades, 'furando' fila com dezenas de profissionais de saúde sendo preteridos.]

Uma lista, aliás, que terá que ser refeita, pois não há vacinas para todo o grupo, e alguns municípios estão distribuindo literalmente meia dúzia de doses para os postos de vacinação. Centro da crise humanitária mais grave dessa pandemia, Manaus teve que suspender a vacinação para reorganizar as prioridades.  As doses de Coronavac que chegaram ao estado nesta semana são suficientes para vacinar somente 34% dos profissionais de saúde que atuam no estado, que sofre há dias com a falta de oxigênio e de insumos para vacinação. Mas as filhas do dono de uma das maiores universidades privadas de Manaus, no Amazonas, já estão protegidas pela primeira dose, pois não apenas furaram a fila, como exibiram seus troféus nas redes sociais. Médicas, foram contratadas pela Secretaria de Saúde na véspera da vacinação começar.

Não foi nem preciso investigar, elas, como várias outras pessoas em diversos estados, foram reveladas pelo próprio narcisismo, pois publicaram suas fotos nos “Insta” da vida sem nem mesmo notar que estavam se autodenunciando por um crime que deveria ser duramente castigado, assim como os responsáveis pela liberação de tal privilégio.

A perda da noção de pertencimento a uma comunidade, que deveria vir sempre antes da escolha individual, é um fenômeno da pós-modernidade, segundo o sociólogo Zygmunt Bauman, e no Brasil ela é exacerbada pela síndrome do “você sabe com quem está falando”, sobre o que escreve com maestria outro sociólogo, o brasileiro Roberto DaMatta, que se espanta até hoje como os sinais de trânsito não são respeitados nas ruas do país.  

DaMatta escreve ensaios sobre nossas autoridades e celebridades que promovem “um espetáculo deprimente de racismo, machismo, ignorância, arrogância e injustiça por se considerarem superiores aos demais e, portanto, dispensados de obedecer às leis e às normas da boa convivência social”. O livro, ampliado e reeditado, continua contemporâneo, prova de nossa falência como sociedade.

 Merval Pereira, jornalista - O Globo


terça-feira, 19 de maio de 2020

A pele e o coronavírus - Letra de Médico




Conheça as sete manifestações cutâneas relacionadas a Covid-19

Desde o início da pandemia pelo coronavírus, médicos estão descrevendo diferentes sinais e sintomas, nos mais variados órgãos e sistemas, que podem cursar com a infecção. Tal ato é nobre pois, além de traçar métodos clínicos mais sugestivos para se estabelecer diagnósticos precoces dessa enfermidade, pode, em última instância, tentar estabelecer critérios apurados para se conhecer o prognóstico da doença.

Nesse sentido, algumas manifestações cutâneas do coronavírus já foram relatadas e merecem discussão na coluna desse mês. Até agora, sete possíveis manifestações foram observadas: acroisquemia, eritema pérnio, exantema morbiriforme, exantema purpúrico/petequial, exantema tipo varicela (“catapora”), urticária e SDRIFE.

• Acroisquemia: considerada, talvez, a mais grave das manifestações cutâneas do coronavírus, a acroisquemia foi descrita em casos mais graves da doença, em pacientes internados em unidade de terapia intensiva. Esses pacientes apresentavam cianose de extremidades, bolhas de sangue e necrose, provavelmente, resultantes de fenômenos microembólicos sistêmicos causados pela evolução da doença viral.

• Eritema pérneo: caracterizado por placas violáceas sobre base avermelhada, infiltradas e dolorosas, nas faces laterais dos pés e dorsais dos dedos dos pés. Esse manifestação foi vista principalmente nos pacientes do norte da Europa, sugerindo, inclusive, estar associada a uma manifestação leve do coronavírus.

• Exantema morbiriforme: é uma manifestação cutânea comum de várias doenças virais e alergias medicamentosas, manifestando de mais variadas formas. As mais comuns são caracterizadas por manchas avermelhadas associadas a pápulas (“bolinhas”) avermelhadas, vesículas ou lesões purpúricas.

• Exantema purpúrico/petequial:
manifestação considerada rara, caracteriza-se por exantema que evoluiu com púrpuras e petéquias. O quadro é parecido com o exantema presente na dengue, o que pode levar a erros diagnósticos em áreas onde dengue é considerada endêmica.

• Exantema tipo varicela (“catapora”): caracterizada por pápulas avermelhadas e vesículas distribuídas principalmente no tronco. Foi descrito como surgindo após 3 dias de aparecimento dos sintomas gerais do coronavírus.

• Urticária: podendo aparecer antes ou após a sintomatologia geral do coronavírus, são placas avermelhadas, pruriginosas, que, em alguns casos, confundiu o diagnóstico precoce de infecção por coronavírus.

• SDRIFE: caracterizado por exantema em áreas de dobras, parecido com “Symmetrical Drug-Related Intertriginous and Flexural Exanthema” (daí, a sigla SDRIFE), também conhecido como síndrome do babuíno.
Por enquanto, é ainda cedo fazer o estabelecimento direto dessas manifestações de pele com o coronavírus, seja como meio diagnóstico, seja como meio prognóstico dessa virose. As citações dessas manifestações foram frutos de relatos de casos, o que nos obriga esperar por dados vindos de estudos epidemiológicos mais abrangentes e conclusivos. 

No entanto, esses relatos já alertam para a possibilidade do coronavírus ser, sim, mais do que uma “simples gripezinha”, tratando-se de uma doença de abrangência sistêmica, que atinge vários órgãos e sistemas, e que merece a atenção e o empenho das autoridades políticas e de saúde do mundo todo.

Letra de Médico - Adilson Costa, dermatologista - VEJA


domingo, 12 de abril de 2020

Mandetta pegou o vírus do holofote - Elio Gaspari

Declaração de Mandetta sobre tráfico e milícia pode ser atribuída à síndrome do holofote

Numa guerra, o poder público pode precisar de entendimento com o crime organizado, mas não pode legitimá-lo     

Ministro perdeu uma oportunidade de ficar calado quando disse que “a saúde dialoga, sim, com o tráfico, com a milícia"

O ministro Luís Henrique Mandetta perdeu uma oportunidade de ficar calado quando disse que “a saúde dialoga, sim, com o tráfico, com a milícia, porque eles também são seres humanos e também precisam colaborar, ajudar, participar.”

Para um ministro da Saúde que construiu sua reputação falando no valor do conhecimento, só se pode atribuir essa declaração à síndrome do holofote. Dialogar com as milícias e com o tráfico é coisa que o poder público do Rio de Janeiro pratica há décadas. O próprio Mandetta já viu a promiscuidade suprapartidária que dialoga com a contravenção em Mato Grosso do Sul.

[Faltou ao ministro da Saúde o sentido de respeito pela instituição Presidência da República, o sentido de "liturgia do cargo" de Presidente da República, quando tratou o presidente da República por 'você' = ao dizer em conversa com o Chefe do Poder Executivo  'até você me demitir'.
O cargo de presidente da República exige que protocolos sejam seguidos.

Os que relutam em respeitar o presidente da República, tenham em conta que nos Estados Unidos da América,um modelo de democracia - o que deve incomodar em muito os inimigos do Trump - que lá existe a obrigação legal de sempre se dirigir ao presidente da República utilizando no mínimo, a tratamento "Senhor Presidente".] 


A essência da fala do ministro é um truísmo. Em diversas áreas o poder público precisa dialogar com a bandidagem para trabalhar em paz. O que ela não precisa é legitimá-lo, coisa que Mandetta fez. Essa legitimação não funciona apenas como um gesto simbólico. Ela ampara organizações criminosas. Além disso, tanto os traficantes como as milícias dividem-se em facções. Como se faria esse diálogo: numa assembleia?

O ministro da Saúde poderia se informar sobre as consequências de sua fala com o ministro da Justiça, mas faz tempo que o doutor Sergio Moro entrou numa quarentena. Além dele, poderia também recorrer ao acervo de conhecimentos da família Bolsonaro com milicianos. Ninguém deve se meter com decisões profissionais dos médicos, mas eles também não devem ir além delas, atropelando as leis.

Numa guerra, o poder público pode precisar de algum tipo de entendimento com o crime organizado, mas não pode legitimá-lo. Em 1941, o governo americano entendeu-se com a máfia do porto de Nova York para que ela não atrapalhasse seus embarques militares. Mais: em 1943, quando a tropa do general George Patton desembarcou na Sicília, cultivou a simpatia da máfia. O “capo” Don Calogero Vizzini tornou-se prefeito da cidade de Villalba e coronel honorário da exército americano. O preço desse diálogo seria um problema dos italianos.
O general Patton nunca assumiu publicamente a ajuda da Máfia.

O Itaú Unibanco dá o exemplo
O Itaú Unibanco anunciará amanhã uma doação de R$ 1 bilhão para o combate à Covid-19. O dinheiro irá para a fundação do banco e será administrado exclusivamente por um conselho de profissionais da saúde, onde estarão diretores de hospitais públicos e privados. Dinheiro na veia.

Essa será a maior iniciativa filantrópica já ocorrida no Brasil e sua lembrança ficará gravada na história da pandemia. Para se ter uma ideia do tamanho da doação, estima-se que em 2016 todas as iniciativas filantrópicas de corporações brasileiras somaram R$ 2,4 bilhões. (Nessa cifra entraram ações relacionadas com cultura, meio ambiente e educação, por exemplo.)
De onde eles estão, Olavo Setúbal (1923-2008) e Walther Moreira Salles (1902-2001), criadores dos dois bancos, terão um momento de orgulho.

Folha de S. Paulo e O Globo - MATÉRIA COMPLETA - Elio Gaspari, jornalista


quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O século XXI está atolado no XIX

Se 49% dos brasileiros defendem a pena de morte, quantos seriam os que aplaudem massacres de facções?

É muito provável que mais da metade dos brasileiros ache razoável que integrantes de facções criminosas assassinem inimigos em brigas de presídios. Essa suspeita ampara-se no fato de que, há poucos meses, 49% dos entrevistados pelo Ibope se declararam favoráveis à pena de morte. (Em 2010 eram 31%.)

Essa questão faz parte da agenda do século XIX, e o Brasil politicamente correto do século XXI finge não percebê-la.  A sociedade cosmopolita, globalizada, nada teria a ver com o país dos presídios lotados, das milícias e do tráfico infiltrado no aparelho de segurança dos estados.  O governo de Michel Temer, como os de seus antecessores, lida com a questão da segurança manipulando dois truques destinados a empulhar a plateia.  A primeira é a síndrome da reivindicação sucessiva, muito ao gosto dos burocratas que gostam de apresentar uma agenda futurista que lhes permite não fazer o que devem. As facções criminosas que estão nos presídios só poderiam ser contidas com bloqueadores de celulares. 

Instalados os bloqueadores, será necessário um satélite para vigiar a fronteira e assim por diante. (Presos de Manaus denunciavam a venda de alvarás de prisão domiciliar.)  As cadeias estão superlotadas porque prende-se demais e, em vez de botar pra trabalhar quem nunca trabalhou, defende-se a mudança na legislação penal. A síndrome da reivindicação sucessiva atinge outras áreas. Por exemplo, não se podia regularizar a situação de um terreno na periferia porque a região não tinha esgoto, e não tinha esgoto porque não estava urbanizada. À falta do futuro, o trabalhador não conseguia (e ainda não consegue) legalizar seu lote.

Ao truque da reivindicação sucessiva junta-se a síndrome da responsabilização regressiva.
O campeão dessa mágica vem sendo o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes. Sempre que pode, o doutor lembra que a situação dos presídios resulta de uma crise antiga, secular, cuja origem está nos tempos coloniais.  Tudo bem, a responsabilidade é de Tomé de Souza. Nada a ver com os governos de José Sarney, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, todos apoiados pelo atual presidente Michel Temer.

O doutor Moraes é um homem do seu tempo. Atento às sutilezas do vocabulário, sempre que fala em “homicídio”, acrescenta a palavra “feminicídio”.  No mundo do politicamente correto, [se é político não pode ser correto, já que tudo contribui para a política não ser correta.]  lixo é “resíduo sólido”, e não se deve buscar a regeneração dos delinquentes, mas a “ressocialização” dos presos.   Tudo seria uma questão de palavras que não fazem mal a ninguém, se na fantasia de modernidade e cosmopolitismo não se escondesse o atraso.

Finge-se que tornozeleiras, satélites, radares, censos e mudanças pontuais nas leis podem resolver o problema das prisões brasileiras. Eles resolvem o problema da ocupação do noticiário, nada mais que isso. O que há de mais dramático nessa grande representação é que boa parte da plateia que se pretende iludir está em outra faixa de onda, achando que massacres de presídios onde facções se matam são uma simples limpeza social. Se milhões de brasileiros acham que massacres fazem bem à sociedade, a primeira coisa que se pode fazer para reverter essa situação é desligar a máquina de propaganda e empulhações. Pode ser pouco, mas ajuda.

Fonte: Elio Gaspari,  jornalista - O Globo

 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

UTILIDADE PÚBLICA - Insuficiência cardíaca agora se trata com exercício



Atividades físicas se firmam como indicação médica por diminuir o trabalho do coração
Eis um novo remédio com o poder de tratar a doença que é a principal causa de internação e morte por males cardiovasculares no Brasil. Revolucionário ao ponto de derrubar paradigmas da medicina. Assim é o exercício, que se firma como uma forma de tratamento importante para a insuficiência cardíaca.

A atividade física está na essência da Humanidade, mas só agora começa a ter seu valor e mecanismos de ação reconhecidos. Nesta primeira reportagem da série “Cura pelo exercício”, sua força como tratamento da insuficiência cardíaca é apresentada como emblemática, se for levado em conta o fato de que intolerância ao esforço é justamente uma das principais características da síndrome, na qual o coração enfraquecido não bombeia sangue suficiente. Até há pouco tempo se achava que esses pacientes deveriam se manter em repouso. Agora, a indicação é se mexer.

Trabalhos pioneiros sobre a compreensão da ação terapêutica da atividade física na insuficiência cardíaca têm sido realizados pelo programa liderado por Carlos Eduardo Negrão, diretor da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP). Ele está à frente de cinco grupos multidisciplinares que reúnem médicos, educadores físicos, biólogos moleculares e psicólogos e acompanhou 140 pacientes.

Mês passado, Negrão atraiu uma multidão de pesquisadores, educadores físicos, médicos e estudantes para um auditório na Faculdade de Medicina da USP. Todos queriam assistir a sua conferência intitulada “Novos paradigmas do exercício físico no tratamento da doença cardiovascular: conhecimentos do laboratório aplicados ao paciente”, um dos destaques da reunião anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), um dos maiores eventos de ciência no Brasil.

MENOS TRABALHO PARA O CORAÇÃO
Há cerca de 20 anos Negrão busca compreender como a atividade física atua sobre o ser humano, da célula ao indivíduo. Suas investigações oferecem muitas dessas respostas, com mais de cem estudos em algumas das principais revistas científicas internacionais.  — O exercício modula a ação de proteínas musculares ligadas à regulação da atividade nervosa simpática no sistema nervoso central e do estreitamento dos vasos sanguíneos. Com isso, diminui o trabalho do coração — explica Negrão, um corredor e fã de atividade física.

O efeito é tão intenso, que mesmo pacientes graves respondem à simples estimulação elétrica dos músculos. — Melhorar o estado de um paciente com insuficiência cardíaca é fantástico. O exercício melhora a qualidade e possivelmente a expectativa de vida de uma pessoa — destaca o professor.

A pesquisadora Ligia Antunes Correa, do grupo de Negrão, já viu muitos pacientes mudarem de vida para melhor depois de um programa de treinamento. — O exercício é mais que bem-estar. É um remédio — afirma ela.

O fisiologista Igor Lucas Gomes-Santos, do mesmo grupo, estuda o que acontece dentro das células. Ele explica que os exercícios reduzem muito a ação de uma proteína chamada angiotensina II e do sistema nervoso simpático, ambos ligados à insuficiência cardíaca. Também consegue reduzir a caquexia, a perda de massa muscular frequente nesses pacientes e que pode levar à morte.  — Observamos alterações positivas nas vias moleculares desses pacientes. O mesmo acontece com a normalização da atividade nervosa simpática, ligada ao controle da pressão. Após a primeira sessão de treinamento, já vemos melhora na circulação — frisa Gomes-Santos.

O professor de cardiologia da UFF e médico do Pró-Cardíaco Evandro Tinoco, um dos maiores especialistas do país em insuficiência cardíaca, diz que um programa de exercícios pode ajudar a tirar pacientes da fila do transplante: — Não há dúvida de que o exercício é um dos remédios mais importantes e um dos menos usados contra a insuficiência cardíaca. É uma revolução.

Segundo Tinoco, o exercício só não é mais prescrito pelos médicos porque o conhecimento sólido sobre sua ação terapêutica é relativamente recente e pouco divulgado. Outro fator é o custo alto e não coberto pelos planos de saúde. Mas ele acredita que esse cenário rapidamente mudará.

O caso da insuficiência cardíaca é apenas um no numeroso rol de doenças que podem ter o exercício prescrito como tratamento. A lista inclui de diabetes à hipertensão e passa por disfunção erétil, aneurisma, acidente vascular cerebral, complicações renais e preparação para grandes cirurgias, destaca o diretor científico da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro e fundador da clínica especializada Clinimex, Claudio Gil Araújo, ele próprio um corredor dedicado e que assina editorial ainda inédito que enumera dezenas de doenças que podem ser tratadas com exercícios.

SEM EFEITOS COLATERAIS
Na família ninguém é cardíaco, tampouco ele sentia qualquer sinal que lhe parecesse indicar problemas no coração. Nunca fumou. Por isso, o protético Gerd Werner, de 57 anos, jamais esperou sofrer um infarto severo, como o que lhe acometeu há dois anos e mudou sua vida de forma radical. Werner teve como sequela uma insuficiência cardíaca. Hoje, ele é um dos pacientes que se tratam com Claudio Gil Araujo, numa clínica que mais parece uma academia, em Copacabana.  — Não fazia atividade física regular. Mas desde 2014 ela se tornou parte da minha vida. Venho três vezes por semana. No início, era como um remédio. Agora virou hábito. E por toda a vida — conta.

Numa esteira próxima a Werner, a médica Angela Verri conversa animada com amigos, brinca com todo mundo. De segunda a sexta-feira, ela vai todo fim de tarde da Tijuca para Copacabana. Não está ali como médica, mas paciente. Angela se orgulha de não aparentar os 63 anos de idade e mais ainda da ausência de sinais dos problemas que a levaram a se transformar de sedentária praticante “era do tipo que pega o carro para ir à padaria” em atleta amadora militante:
— Corro e me divirto muito. E ainda tomo o meu vinho — afirma ela.

Uma sucessão de problemas graves a fizeram mudar de vida. Em março de 2012 sofreu um infarto, que a obrigou a colocar um stent. Logo em seguida, descobriu que tinha câncer de intestino. Teve que operar. E a isso se somaram um cateterismo e mais seis stents.
— Eu precisaria fazer uma cirurgia de revascularização, mas não queria me operar de novo. Aí soube que poderia tentar uma reabilitação com exercício. No início não levei a menor fé, achei que ia virar rato de laboratório. Estava errada. Cheguei péssima e agora estou ótima. Levo uma vida saudável. É como um remédio sem efeitos colaterais que tenho que tomar todos os dias — diz.

A mesma animação de Angela demonstra a desembargadora e professora Salete Maria Polita Maccaloz, de 67 anos. Ela começou há pouco a segunda fase de uma quimioterapia para um câncer de pulmão com metástase óssea e já iniciou um programa de exercícios. Sua meta é reverter a perda de massa muscular e poder voltar a jogar golfe.  Já me sinto melhor. A quimio é muito desgastante, mas estou confiante que com os exercícios vou melhorar mais depressa — conta.

Fonte: O Globo