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domingo, 29 de maio de 2022

Até quando? - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

O que aconteceu nesta semana em Uvalde, no Texas, e em outras ocasiões semelhantes na história norte-americana vai além do raso debate “mais armas ou menos armas" 

Cruzes com os nomes das vítimas do tiroteio em Uvalde, no Texas, são colocadas do lado de fora da escola Robb Elementary | Foto: Jae C. Hong/AP/Shutterstock
Cruzes com os nomes das vítimas do tiroteio em Uvalde, no Texas, são colocadas do lado de fora da escola Robb Elementary | Foto: Jae C. Hong/AP/Shutterstock

Qualquer tragédia que arrebata vidas humanas é devastadora. Mas uma tragédia que ceifa vidas de crianças inocentes é algo tão avassalador que deixa marcas profundas em todos nós. É difícil sequer imaginar o que os pais e os familiares das 19 crianças mortas nesta semana por um atirador em uma escola no Texas podem estar passando. Como alguém pode cometer uma atrocidade dessa magnitude? E aqui, antes de seguirmos com a nossa conversa semanal, peço, por gentileza, que fechem os olhos por alguns segundos e façam uma prece para essas famílias.

Como sempre fazem, as almas vazias do mundo aproveitaram a tragédia para empurrar suas agendas políticas. Durante uma coletiva de imprensa das autoridades do Texas, com a presença de policiais, do prefeito da cidade de Uvalde e do governador, Gregory Abbott, todos visivelmente abalados pelo terrível evento, o candidato democrata ao governo do Estado, Beto O’Rourke, um dos que participaram das primárias democratas em 2020, resolveu se levantar e ir até a mesa “cobrar” uma resposta do governo sobre o banimento de armas, pauta de seu partido. De maneira desprezível e oportunista, O’Rourke usou a tragédia para impulsionar sua candidatura ao governo do Estado e continuar sob os holofotes.

Enquanto as autoridades do Texas identificavam as vítimas do massacre, avaliavam suas consequências e tentavam, dentro do humanamente possível, cuidar dos familiares das vítimas do massacre, o ex-presidente Barack Obama divulgou uma mensagem no Twitter invocando a morte de George Floyd, assassinado pelo policial Derek Chauvin, em Minneapolis, durante uma prisão, em 25 de maio de 2020. Em um malabarismo insensível e bizarro, Obama conectou o tiroteio da escola em Uvalde ao segundo aniversário do assassinato de Floyd: “Enquanto lamentamos os filhos de Uvalde hoje, devemos ter tempo para reconhecer que dois anos se passaram desde o assassinato de George Floyd sob o joelho de um policial. Sua morte permanece com todos nós até hoje, especialmente aqueles que o amavam”, tuitou o ex-presidente. Narcisismo e psicopatia em estado puro.

Mais armas X menos armas
Longe das abjetas tentativas de usar a inimaginável dor de pais e mães para as agendas políticas, é preciso abordar de maneira honesta e com maior profundidade alguns pontos importantes que podem estar mudando os perfis da sociedade norte-americana, principalmente dos adolescentes. O que aconteceu nesta semana em Uvalde e em outras ocasiões semelhantes na história norte-americana vai além do raso debate “mais armas ou menos armas”. A própria expressão “tiroteio em massa” (mass shooting), usada em eventos como esse, já carrega em si uma ansiedade difícil de ser controlada. Nos Estados Unidos, existem várias definições diferentes, mas comuns, de “tiroteios em massa”.

O Serviço de Pesquisa do Congresso define tiroteios em massa como incidentes múltiplos, com arma de fogo e homicídio envolvendo quatro ou mais vítimas em um ou mais locais próximos uns dos outros. A definição do Federal Bureau of Investigation (FBI) é essencialmente a mesma. Muitas vezes há uma distinção entre tiroteios em massa privados e públicos, como uma escola, um local de culto ou um estabelecimento comercial. Os tiroteios em massa realizados por terroristas estrangeiros não estão incluídos, não importa quantas pessoas morram ou onde o tiroteio ocorra. Essas formulações são certamente viáveis, mas o limite de quatro ou mais mortes é arbitrário. Há também exclusões importantes. Por exemplo, se 20 pessoas são baleadas, mas apenas duas morrem, o incidente não é um tiroteio em massa. Mas nada disso importa quando essas tragédias acontecem. O fato é que, em menos de duas semanas, Salvador Ramos, 18 anos, matou 19 crianças e dois professores em uma escola primária no Texas, e Payton Gendron, também de 18 anos, assassinou dez pessoas em um supermercado em Buffalo, Nova Iorque.

Ambos, Gendron e Ramos, tinham sérios distúrbios mentais. As pessoas ao seu redor sabiam disso. Família, amigos, escolas. Ambos os assassinos disseram a outras pessoas que planejavam cometer um tiroteio em massa e então o fizeram. O atual sistema de alerta em vigor não está funcionando. O que, de fato, está acontecendo com muitos jovens? 
Uma pessoa que tem a intenção de cometer violência é muito difícil de ser parada em qualquer circunstância. 
Um ato do Congresso norte-americano não vai fazer isso, nem o controle de armas, nem a extinção da Segunda Emenda. 
Há mais armas nos Estados Unidos do que pessoas, cerca de 400 milhões. Sempre houve. 
Seja qual for sua opinião sobre esse fato, os norte-americanos nunca se disporão de suas armas. 
A Constituição proíbe isso e uma nova guerra civil provavelmente seria desencadeada se a proposta fosse adiante.
 
Sobre controle de armas, quer você concorde com ele ou não, isso não impedirá o próximo Payton Gendron ou Salvador Ramos de agirem, e toda pessoa racional sabe disso. 
Quem puxa o gatilho, esfaqueia, queima, atropela são pessoas, e a única maneira de parar muitos desses assassinatos é descobrir por que a sociedade norte-americana (assim como a brasileira) está produzindo tantos jovens violentos. 
Há uma razão pela qual eles estão agindo dessa maneira. Qual é esse motivo? 
E não são apenas atiradores em massa na América, esses que aparecem diabolicamente de tempos em tempos na televisão. 
Nos Estados Unidos e também no Brasil, são bandidos armados com armas ilegais, ladrões de carro, de estabelecimentos e residências. 
Por que estão agindo assim? 
Essa deveria ser uma das principais perguntas em todo esse contexto. Obviamente, é um dos pontos que democratas odeiam abordar, porque cavar soluções dentro de problemas complexos acabaria por enterrar as agendas políticas.

Armas, big techs e big pharmas
Poucas horas depois de 19 crianças terem sido assassinadas, o presidente dos Estados Unidos fez um pronunciamento na televisão e o tom não foi de união ou elevação do espírito de uma nação profundamente ferida e em agonia.  
Em vez disso, ele aproveitou a oportunidade para mais uma vez discutir com quem não votou nele, e o fez, como sempre, de maneira vergonhosa. Biden disse: “Como nação, temos de perguntar: ‘Quando, em nome de Deus, vamos enfrentar o lobby das armas? Quando, em nome de Deus, saberemos dentro de nós o que precisa ser feito? Para que, em nome de Deus, você precisa de armas, exceto para matar alguém?’ É simplesmente doente e os fabricantes de armas passaram duas décadas comercializando agressivamente armas, o que os torna maiores e com maior lucro. Pelo amor de Deus, temos de ter a coragem de enfrentar a indústria”.
 
As crianças estão morrendo porque o lobby das armas está lucrando. A desonestidade chega a ser inacreditável. E irracional também. Logo após o terrível tiroteio, o New York Times publicou a mesma ideia sobre o lobby das armas. Só não contaram que a National Rifle Association (NRA) declarou falência no ano passado, enquanto as big techs gastaram mais de US$ 70 milhões fazendo lobby no Congresso. 
As big pharmas gastaram US$ 92 milhões também fazendo lobby em Washington apenas no primeiro trimestre de 2021, enquanto a NRA gastou US$ 2,2 milhões em todo o ano de 2020, ano de eleições presidenciais. Seja qual for o problema, não é o lobby das armas que está matando pessoas inocentes. Este é um assunto muito sério para bobagens como essa, empurrada pela assessoria do Partido Democrata, ou a velha imprensa norte-americana, como preferirem.
 
Segundo uma pesquisa feita pela ABC News, “cerca de 11% dos crimes violentos na cidade de Los Angeles envolveram um sem-teto em 2018, 13% em 2019 e 15% em 2020”
Tenha em mente que os moradores de rua representam cerca de 1% da população total de Los Angeles, mas estão envolvidos em quase um quinto de todos os crimes violentos na cidade. 
Ah, mas não há nada para ver aqui. Circulando, circulando. 
Todos aqui em Los Angeles sabem que isso está acontecendo porque esses números aumentam a cada ano. 
E o que está acontecendo nas ruas também acontece nas escolas.

O que mudou?
O diretor-executivo da Associação Nacional de Oficiais de Recursos Escolares, Mo Canady, disse recentemente em uma entrevista que as escolas estão “vendo mais agressão em termos de brigas e roubos”. Segundo Canady, isso não costumava acontecer, mas está acontecendo agora em grande intensidade. Por quê? Não são armas. Não é sobre o lobby de armas
Mais famílias norte-americanas tinham armas em casa há 50 anos do que agora. De acordo com a Rand Corporation, 45% dos lares norte-americanos tinham uma arma em 1980. Em 2016, isso caiu para 32%. Então o problema não é que estamos mais armados do que estávamos. O problema é que as pessoas mudaram. Os jovens mudaram e estão mais violentos. Por quê?

Essa deveria ser a conversa bipartidária aqui nos Estados Unidos e a que deveria unir políticos de todos os espectros no Brasil. Mas ela vem sendo abafada por lunáticos que buscam atenção e que esperam apenas ganhar a próxima e a próxima e a próxima eleição, sem se preocupar, de fato, com as raízes profundas de problemas que não são simples.

Mais de 107 mil norte-americanos morreram de overdose de drogas em 2021. Esse é o maior número anual de mortes já registrado e um aumento de 15% em relação ao ano anterior

Provavelmente existem muitas causas para essas dificuldades e transtornos em adultos e adolescentes. O uso de antidepressivos nos Estados Unidos — como no Brasil — está aumentando dramaticamente. Entre 1991 e 2018, o consumo total de Selective serotonin reuptake inhibitors (SSRIs), ou inibidores seletivos da recaptação de serotonina, aumentou nos EUA em mais de 3.000%. Esses inibidores deveriam reduzir doenças mentais, mas algo não está indo na direção correta. No Canadá, as prescrições de antidepressivos financiadas pelo Estado para jovens dobraram na última década
Durante os lockdowns da pandemia, as prescrições dos inibidores aumentaram ainda mais. Um grupo de farmácias chamado “Express Scripts” relatou que as prescrições de antidepressivos aumentaram mais de 20% durante a pandemia de covid. De acordo com os números mais recentes, mais de 40 milhões de norte-americanos estão tomando drogas psicoativas. Isso é aproximadamente uma em cada dez pessoas!

Mostrei esses dados a uma amiga médica que está no campo da psiquiatria há quase 30 anos, e ela relatou que está assustada com o movimento dos antidepressivos na América. O objetivo dessas drogas é tornar o indivíduo mentalmente mais saudável, reduzir o suicídio e a violência, mas, ainda assim, as taxas de suicídio e violência estão aumentando. Não sabemos se isso é causalidade, mas precisamos encarar esse assunto com profissionalismo e preocupação. Novos números divulgados nesta semana pelo Centers for Disease Control and Prevention, o hoje famoso CDC, mostram como as overdoses de drogas aumentaram durante a pandemia. Mais de 107 mil norte-americanos morreram de overdose de drogas em 2021. Esse é o maior número anual de mortes já registrado e um aumento de 15% em relação ao ano anterior.

O isolamento humano através das telas digitais
Mas, então, as pessoas estão usando mais drogas, estão mais instáveis, estão se matando com maior frequência e, em outros casos, matando outras pessoas. O problema é tentar encontrar a raiz da mentalidade de quem mata crianças em uma escola primária! A pessoa deve estar tão terrível e profundamente desconectada de outros seres humanos que isso pode parecer normal, como uma regra que se aplicaria a todos nós. O que poderia estar aumentando o sentimento de desconexão que temos um do outro? Pesquisando alguns dados na internet, encontrei que, em 2020, os adultos nos Estados Unidos passavam em média oito horas todos os dias nas mídias e nas plataformas digitais olhando para uma tela. Os lockdowns eternos pioraram, e muito, essa situação. É claro que não estou apontando para uma, duas ou qualquer causa certa para insanos possuídos matarem pessoas, não acredito que haja uma única causa, mas não é difícil ver que esse isolamento humano através das telas digitais pode estar pesando mais do que imaginamos. Em relação a 2019, esse aumento foi de 20%.

Charles Krauthammer, proeminente escritor norte-americano, comentarista político, médico psiquiatra por Harvard e colaborador-chefe do terceiro Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (falecido em 2018), disse, após um tiroteio em massa no Washington Navy Yard, em setembro de 2013, que há muitos doentes mentais em nossa sociedade e que precisamos parar de ignorá-los, especialmente quando políticos travestem esse isolamento covarde e vil com vestes de falso amor e cuidado. Krauthammer, vencedor do Prêmio Pulitzer em 1987, disse: “Ele (o atirador) precisava de ajuda. Há 30 anos, os policiais o teriam levado para uma sala de emergência psiquiátrica. Ele provavelmente teria recebido antipsicóticos e provavelmente teria sido hospitalizado por algumas semanas. Era assim que se fazia nos anos 1970, quando eu exercia a psiquiatria, mas hoje isso não acontece. Os policiais foram embora e ele foi deixado sozinho. Ele era um homem que não deveria estar sozinho. Ele deveria ter o Estado cuidando dele e acabou matando pessoas. Olha, você quer respeitar as liberdades civis de todos, mas há um ponto em que, se você não assumir o controle de pessoas que estão claramente fora da realidade, você está prejudicando essas pessoas, expondo-as e, claro, expondo tragicamente muitos inocentes ao seu redor”.

No rescaldo de tragédias como a desta semana no Texas, e outras como Columbine, Parkland, Sandy Hook, os norte-americanos ouvem as características compartilhadas dos atiradores: normalmente são jovens do sexo masculino que obtiveram uma arma normalmente de maneira ilegal, usaram drogas ou estão fazendo uso de antidepressivos pesados, abandonaram a escola e cometeram ou planejaram suicídio como o grand finale para seus assassinatos, além de sérios problemas familiares com lares sem pais.

A mente humana é complicada. Fato. Mas paramos de falar de pessoas para dar lugar ao coletivismo macabro que ignora o indivíduo, seus problemas e as consequências muitas vezes diabólicas de seus atos. O que esses assassinos têm em comum? A resposta aos tiroteios em massa nos Estados Unidos ou à criminalidade no Brasil não pode ser a sempre fácil e rasa retórica de confisco universal de armas. A falsa bondade em ignorar doentes mentais ou viciados em drogas, sejam as ilícitas, sejam as com prescrição médica, pode ter um preço alto demais e sem volta. Foi assim que, nesta semana, a pequena cidade de Uvalde, no Texas, mudou para sempre.

Leia também “O ativismo judicial e a barbárie”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Estados não exigirão prescrição médica para vacinação de crianças contra covid-19 - O Estado de S. Paulo

Conselho de secretários estaduais de Saúde divulgou carta na qual aponta que não vai seguir postura defendida pelo Ministério da Saúde

Após reunião entre os secretários estaduais de Saúde na manhã desta sexta-feira, o Conselho Nacional de Secretarias de Saúde (Conass) divulgou na manhã desta sexta-feira, 24, uma "carta de Natal às crianças do Brasil". No texto, o grupo confirma que nenhum Estado exigirá prescrição médica para a vacinação de crianças contra a covid-19.

Na quinta-feira, 23, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que o governo vai vacinar as crianças apenas mediante prescrição médica e a assinatura de um termo de consentimento pelos pais e responsáveis. A aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos foi autorizada há mais de uma semana pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas ainda não tem data de início prevista.

O Ministério da Saúde também abriu uma consulta pública sobre a exigência de prescrição médica e a obrigatoriedade da imunização. A iniciativa foi criada em um formulário fora de plataformas do governo federal, que apresentou instabilidade ao longo desta sexta, com perguntas dúbias e sem validação de dados, como CPF.

Embora as estatísticas da própria pasta mostrem que uma criança nessa faixa etária morreu a cada 2 dias por covid-19 desde o início da pandemia, o Queiroga chegou a dizer nesta semana que não há "emergência" para vaciná-las.

A carta é assinada pelo presidente do conselho e secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula.[esse cidadão apesar de estar secretário da Saúde do Maranhão e presidente do tal Conass é advogado.] "Os cientistas do mundo inteiro apontam a segurança e eficácia da vacina para crianças! Ela inclusive já começou a ser aplicada em meninos e meninas de vários países do mundo. Infelizmente há quem ache natural perder a vida de vocês, pequeninos, para o coronavírus", diz um trecho.

"No lugar de dificultar, a gente procura facilitar a vacinação de todos os brasileirinhos. E é esse recado que queremos dar no dia de hoje, véspera de Natal: quando iniciarmos a vacinação de nossas crianças, avisem aos papais e às mamães: não será necessário nenhum documento de médico recomendando que tomem a vacina. A ciência vencerá. A fraternidade vencerá. A medicina vencerá e vocês estarão protegidos."

O governador do Ceará, Camilo Santana (PT), reafirmou em rede social que o Estado irá vacinar respeitar "o trabalho sério da Anvisa e a posição responsável do Conass(Conselho Nacional de Secretários de Saúde)". "Jamais seguiremos os negacionistas, independente do cargo que ocupam. Esses estão mais preocupados em promover disputas ideológicas e políticas que salvar vidas", afirmou.

Também em rede social, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD) postou: "Aqui não vai precisar de atestado para vacinar crianças não". Ele, ainda, incluiu a imagem de um trecho do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que destaca a obrigatoriedade da vacinação de crianças "nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias"

Em nota enviada ao Estadão/Broadcast nesta sexta, a Anvisa enfatizou ainda que a autorização para o uso da vacina infantil no Brasil não significa que os pais são obrigados a vacinarem seus filhos. "A concessão dessa autorização favorece o direito ao acesso, em especial, dos pais que tanto desejam a imunização dos seus filhos com uma vacina aprovada pela autoridade sanitária do Brasil e de diversos países", apontou. [uma advertência sensata da Anvisa, já que esse Camilo Santana, esse prefeito do Rio e as autoridades do Conass estão querendo fazer politicagem barata contra o ministro Queiroga usando nossas crianças.
Pela enésima vez expressamos a opinião do Blog Prontidão Total, totalmente favorável às vacinas (a maior parte dos nossos, foram e continuam sendo beneficiários das vacinas desde o século passado = defensores compulsórios e por gratidão dos imunizantes) mas, entendemos que vacinar crianças de forma açodada, com imunizantes que começaram a ser pesquisados/testados há menos de dois anos é algo que deve ser analisado com isenção, sem partidarismos. 
A propósito!  a Anvisa  sempre pautou sua conduta por uma política de neutralidade, só que de uns tempos para cá percebemos, talvez de forma equivocada, que a mosca da politica anda picando pessoas por lá.]

"A covid-19 ainda é uma ameaça para as pessoas que não foram vacinadas, isso inclui as crianças. Crianças e adultos podem contrair a covid-19, ficando gravemente doentes, o que pode resultar em hospitalização, e ainda em sequelas e danos à saúde que podem persistir por várias semanas ou mais após a infecção", destacou.

Saúde - O Estado de S. Paulo

 

Partido sem votos, sem noção, sem representativade pede que STF determine vacinação de crianças - VEJA

A coluna defende a imunização para os pequenos já! Que o Supremo possa tomar a decisão certa 

[caso o pedido vá para o ministro Lewandowski tem tudo para ser atendido; a única dúvida será qual carimbo o ministro vai usar:  o que determina que o pedido seja atendido em 5 dias? em 10 dias? a dúvida surge pelo fato dos despachos de Lewandowski sobre saúde, quase sempre se limitam a estabelecer um prazo para o governo cumprir o que o partideco pede.]

O partido Rede Sustentabilidade pediu para que o Supremo Tribunal Federal (STF) determine a disponibilização, por parte do  Ministério da Saúde, de vacinas contra a Covid-19 para as crianças de 5 a 11 anos, “independentemente de prescrição médica”.

“Diante do exposto, requer, em tutela cautelar incidental de urgência, *a determinação de que o Ministério da Saúde disponibilize, de forma imediata e em consonância com as recomendações técnicas da Anvisa, vacinas contra a covid-19 para as crianças de 5 a 11 anos, independentemente de prescrição médica ou de qualquer outro obstáculo imposto pelo Governo ao direito à saúde e à vida”, diz o pedido de liminar protocolado nesta sexta-feira, 24, na corte.

O senador Randolfe Rodrigues, da legenda, afirmou que trata-se da “petição Fuga para o Egito… Para escapar de Herodes”.[o senador estridente deve a essa altura estar preparando uma notícia crime para apresentar ao STF acusando o ministro Queiroga de alguma coisa.

Neste assunto, a coluna também tem partido. Vacina para as crianças já! Que o STF possa tomar a decisão certa.

Matheus Leitão, jornalista - Blog em VEJA


Queiroga diz que vai recomendar vacinação de crianças contra Covid só com prescrição - Folha de S. Paulo

Imunizante da Pfizer já foi autorizado pela Anvisa para faixa de 5 a 11 anos

O Ministério da Saúde recomendará que crianças de 5 a 11 anos sejam vacinadas contra a Covid-19, desde que mediante a apresentação de prescrição médica e consentimento dos pais. O imunizante da Pfizer já foi autorizado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para essa faixa etária.

A informação foi dada pelo titular da pasta, ministro Marcelo Queiroga, em entrevista coletiva nesta quinta-feira (23) à noite. "A nossa recomendação é que essa vacina não seja aplicada de forma compulsória. Ou seja, depende da vontade dos pais. E essa vacina estará vinculada a prescrição médica, e a recomendação obedece a todas as orientações da Anvisa", disse Queiroga.

De acordo com o ministro, a decisão final será dos pais, prática que já ocorre hoje. "Os pais são livres para levar os seus filhos para receber essa vacina", afirmou. O ministro explicou que será recomendada a vacina da Pfizer. A indicação será submetida a consulta pública, medida que especialistas consideram desnecessária. "O documento que vai ao ar [na consulta pública] é um documento que recomenda o uso da vacina da Pfizer nessa versão aprovada pela Anvisa", disse. Queiroga afirmou ainda que o Brasil tem condições de começar a vacinação dentro de um "prazo bastante curto". 

De acordo com ele, até o dia 5 de janeiro deve ocorrer a aprovação do documento com as regras para vacinação de crianças de 5 a 11 anos. A data coincide com o prazo estabelecido pelo ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), para o governo prestar informações sobre a vacinação infantil. Lewandowski é relator de um pedido do PT relacionado ao assunto.

Queiroga disse que o modelo a ser adotado pelo Brasil para a vacinação do público infantil se assemelha ao de países como a Alemanha. "Dada a sensibilidade do caso, nosso entendimento é muito parecido do que acontece na Alemanha, onde há recomendação médica, onde se contempla os casos que têm comorbidades e se respeita a decisão dos pais", disse.

Mais cedo, também em Brasília, Queiroga disse que as mortes de crianças por Covid-19 estão em um patamar baixo. Com isso, a seu ver, não são necessárias "decisões emergenciais", como autorizar vacinas para crianças. "Os óbitos em crianças estão absolutamente dentro de um patamar que não implica em decisões emergenciais", disse o ministro. "Particularmente, o Ministério da Saúde tem de tomar suas decisões com base em evidências científicas."

De acordo com dados do SIVEP-Gripe (Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe), desde o começo da pandemia até 6 de dezembro deste ano, foram registrados 301 mortes de crianças entre 5 e 11 anos por Covid-19. Em 2020, 2.978 crianças tiveram síndrome respiratória aguda grave em decorrência do coronavírus -156 delas morrem. Neste ano, foram registrados 3.185 casos nessa faixa etária, com 145 mortes.  O presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, chamou os 301 óbitos infantis de "estatística macabra" em entrevista o jornal O Globo. "Entendo que o ministério precisa apresentar à sociedade a justificativa do porquê de nós mantermos inalterada uma estatística macabra", disse Barra Torres.[nos parece que o presidente da Anvisa começa a ceder à tentação de uma possível candidatura - está sempre procurando chamar atenção, prática a qual parecia avesso.]

A proposta de consulta pública foi publicada no Diário Oficial da União, com data de início nesta quinta e término no dia 2. "A consulta pública visa ouvir a sociedade. Isso não é uma eleição. Isso não é para opinião de grupos de 'zap', como estão falando por aí. Queremos ouvir a sociedade, incluindo especialistas", disse Queiroga.

O ministro defendeu também o fato de a consulta ouvir leigos, ainda que se trate de um tema técnico, porque esses leigos são pais e mães, disse.  "Não podemos ouvir especialistas nos canais de televisão. O Ministério da Saúde não se guia por opiniões que são exaradas em canais de televisão, embora respeitemos a imprensa", disse o ministro. "O lugar para se debater isso com especialistas é em uma audiência pública no Ministério da Saúde."[a opinião de leigos com alguma noção é melhor do que esses especialistas quando que quando vão dar uma entrevista, pedem ao entrevistador que forneça indicações do que devem responder.]

Na segunda (20), Queiroga havia dito que "a pressa é inimiga da perfeição", e que a prioridade seria "segurança", ao ser questionado se não seria possível antecipar o processo para as últimas semanas deste ano. O Consems-SP (Conselho de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo) divulgou nota nesta quinta-feira em que classifica como "desnecessária e inaceitável" a abertura da consulta pública.[nos parece que bem mais desnecessária é a nota emitida pelo tal Consems-SP.]

Desde que a Anvisa aprovou a vacinação para crianças, foram registradas mais de 100 emails com ameaças aos técnicos da agência.Na mesma data da aprovação, durante sua live semanal, o presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que havia solicitado extraoficialmente o nome dos técnicos da agência envolvidos no tema e que iria divulgá-los. A proposta foi interpretada internamente na Anvisa como uma tentativa de intimidação.

No início desta semana, Queiroga afirmou não ver problema na divulgação de nomes de técnicos da Anvisa como sinalizou Bolsonaro."Não há problema em se ter publicidade dos atos da administração. Acredito que isso é até um requisito da Constituição", disse a jornalistas na frente do ministério.

Saúde - Folha de S. Paulo


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

SAÚDE PÚBLICA - As bactérias estão chegando! - O Globo

Natalia Pasternak 
 
Enquanto o mundo se preocupa com novas variantes do Sars-Cov2 que podem colocar em risco a contenção da pandemia, outro problema de saúde pública global vai passando despercebido: a surgimento de bactérias multirresistentes (multi-R).  Apontado pelo Organização Mundial de Saúde como um dos maiores desafios de saúde a serem enfrentados, o número de bactérias multi-R, ou seja, que apresentam resistência a diferentes tipos de antibióticos, é responsável em média pela morte de 700 mil pessoas no mundo, anualmente. Esse número pode chegar a 10 milhões em 2050, se nada for feito.
 
Superbactérias: total de pacientes infectados com bactérias multi-R triplicou no Brasil durante a pandemia de Covid-19

Durante a pandemia de Covid-19, o total de pacientes infectados com bactérias multi-R triplicou no Brasil, segundo dados do Laboratório de Pesquisa em Infecção Hospitalar do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). O número apurado em 2019 foi de aproximadamente mil casos, passando para 3,7 mil em 2021.

O aumento não é surpresa. O uso extensivo e indiscriminado de antibióticos durante a pandemia foi um marco do chamado “tratamento precoce” no Brasil. [lembramos à colunista que o uso indiscriminado de antibióticos, tratamentos iniciados e interrompidos é rotina no Brasil deste o século passado (por favor, não tentem jogar a culpa no presidente Bolsonaro, não vai colar) por tal razão é OBRIGATÓRIO apresentar receita médica para comprar antibiótico.
O alerta é para evitar que o senador 'estridente' cruze mais uma vez a Praça dos Três Poderes para entregar uma noticia crime ao STF, acusando o nosso presidente da prática de delito fantasma.]  Os famosos kits covid traziam sempre o antibiótico azitromicina, muitas vezes entregue por mensageiro, sem a retenção de receita, prevista por lei justamente como medida para fiscalizar e acompanhar o uso deste tipo de medicamento.

Assim, tivemos milhares de pessoas tomando, sem acompanhamento médico adequado, um medicamento completamente inútil para tratar a Covid-19, e cuja disponibilidade ampla no ambiente — agravada pelo uso indiscriminado [sic]favorece a proliferação de bactérias resistentes.

(...) 

Outro problema que apareceu durante a pandemia foi a prescrição exagerada em ambiente hospitalar, para casos de Covid-19. Ainda existe um mito na comunidade médica de que é melhor usar antibióticos para prevenir infecções bacterianas secundárias, ou que, na dúvida, é melhor dar. Na realidade, apenas uma pequena parcela dos pacientes internados desenvolve infecção secundária. No Brasil, mais de 90% dos pacientes internados receberam antibióticos, sendo que apenas 7% tiveram infecções bacterianas.

A pandemia não é a única causadora de bactérias multi-R. O uso em larga escala de antimicrobianos em criação animal, seja como preventivo de doenças ou como promotor de crescimento, é um fator que certamente colabora muito para o surgimento de resistência. Em países onde a criação é confinada, o problema é maior ainda.

 (...)

MATÉRIA COMPLETA em O GLOBO
NATÁLIA PASTERNAK
 
[comentando: por praxe, não transcrevemos matéria de qualquer colunista; a acima transcrita, parcialmenteé mais para lembrar que a articulista é frequentadora assídua dos microfones e câmeras de uma determinada TV desde os primeiros sinais da covid-19.
Comentários quase diários e com duas características: ALARMISTAS e SEM FUNDAMENTAÇÃO. 
O negócio da ilustre 'colunista' senhora é alarmar, prever o já ocorrido.
Agora que, graças a DEUS, a pandemia dá sinais de arrefecimento - felizmente, a variante ômicron não tem colaborado muito com os alarmistas - a "especialista", faz um alerta dando ares atuais  a problemas antigos (uso indiscriminado de antibióticos) - prática que já vem sendo alvo de combate desde o século passado. 
Nos parece que nos tempos do Sarney já se exigia receita médica (ficando retida) para adquirir antibióticos.
A ilustre senhora já faz previsões para o ano 2050 - que só  merecem credibilidade as feitas após as 17h de hoje, prevendo o que ocorreu ontem no final da tarde. 
De passagem ainda excursiona na área de veterinária, criticando o uso de antibióticos na criação de animais (parece esquecer que tais remédios são prescritos no caso por médicos veterinários) e ainda critica o uso de antibióticos em ambiente hospitalar [dona Natália: a senhora é também inquisidora-geral do CFM?].
Registro feito, vamos em frente.
 
Blog Prontidão Total]

domingo, 24 de outubro de 2021

Quatro gafes científicas do relatório final da CPI da Covid - Ideias

Eli Vieira

Senado

À parte as questões políticas e as acusações contra o presidente e demais atores envolvidos nas decisões em políticas públicas da pandemia, o relatório final da comissão parlamentar de inquérito do Senado em diferentes pontos cometes gafes científicas. Veja abaixo algumas delas.
1- Imunidade de rebanho “impossível”
Atribuindo a opinião à Luana Araújo enquanto alega que ela tem mais “afinidade com o tema” que Nise Yamaguchi (uma análise dos currículos delas poderia discordar), o relatório alega que “a imunidade de rebanho pela exposição ao vírus seria impossível de ser atingida” (p. 50).

Detenções de brasileiros na fronteira sul dos EUA passam de 56 mil em um ano

Por que é absurdo a Capes usar o Google Scholar como parâmetro de qualidade para as Humanas

Enquanto é verdade que seria irresponsável recomendar a infecção com o vírus, é preciso muito cuidado ao afirmar impossibilidades em ciência. Em um artigo popular do ano 2000, os cientistas T. Jacob John e Reuben Samuel propuseram a seguinte definição para imunidade de rebanho:  
- a redução da infecção ou doença no segmento não-imunizado como resultado de imunizar uma proporção da população
Ou seja, é uma proteção conferida aos vulneráveis por aqueles que estão invulneráveis. Nesta definição, com a baixa nas mortes em muitos países, é possível que, com o auxílio das vacinas (a definição não se restringe à imunidade natural), a imunidade de rebanho não só seja possível, como já esteja sendo atingida.

O relatório às vezes faz as qualificações necessárias para corrigir esse erro, às vezes volta a cometê-lo — porém, insinua que a proteção da imunidade natural seria instável, o que é o oposto do que sabemos hoje. A imunidade natural confere uma proteção mais diversa e duradoura ao vírus e não é um consenso, ainda, se a vacina dá um incremento de proteção para quem já teve a doença.

2- Confusão conceitual a respeito de tratamento precoce
O relatório acusa determinados atores de criar ambiguidades propositais no termo “tratamento precoce” e que a introdução do termo “atendimento precoce” seria uma das confusões. Porém, o próprio relatório cria confusão ao negar que haja sinonímia entretratamento”, “atendimento” e “atenção” precoces. Ora, a politização pode jargonizar palavras, mas o termo é claríssimo na nossa língua e essa distinção traçada pelo relatório não faz sentido a não ser para que se facilite atacar a todos que utilizaram o termo “tratamento precoce”. Um fenômeno que é precoce já está em acontecimento, e é prematuro ou acontece antes de um determinado prazo.

O que vem após os indiciamentos na CPI da Covid? Saiba os próximos passos [ sugerimos enfaticamente aos nossos leitores que leiam a matéria linkada; transcrevemos um pequeno trecho para que avaliem o tanto que esses senadores da CPI, Aziz liderando, são sem noção, sem rumo, sem senso: Questionado sobre a postura de Aras nesta quarta, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), mandou o recado: "Nós não vamos permitir que nenhum cidadão, seja a autoridade que for, ache que pode engavetar esse relatório. Esse relatório vai ser debatido pelo Brasil, nas universidades, vai ser usado como tese para mestrados. Esse relatório passa a não ser mais da CPI, mas das vítimas da Covid, dos sequelados", disse o senador. Para a cômica, incabível e ridícula ameaça do Aziz, só cabe responder com o famoso E DAÍ? do nosso presidente.] 

O dicionário Houaiss conceitua “precoce” como " que amadurece antes do tempo normal", em referência a frutos. No caso, quer-se colher o fruto de mitigar os sintomas da doença tão cedo quanto possível. Só os senadores da CPI parecem estar confusos a esse respeito. O termo tratamento precoce é amplo e isso, sim, é proposital, pois a intenção foi encontrar qualquer droga que possa, com repropósito, ajudar a combater a Covid-19. Não há sequer uma necessidade de restringir a uma lista pré-definida de drogas. O relatório não menciona, por exemplo, a fluvoxamina e a budesonida, que têm bons resultados mencionados aqui na Gazeta do Povo em junho. Parece até que há um esforço para deixar de fora as drogas que mostraram ter evidências de alguma eficácia, para confirmar a alegação de que têm “pouca ou nenhuma” evidência.

É positivo, no entanto, que o relatório fale em evidências serem poucas, muitas ou nulas. Isso é bem diferente da retórica desinformada em filosofia da ciência a respeito de “comprovação”. Provas, que têm caráter definitivo, são para a matemática e a lógica. As ciências empíricas, incluindo as médicas, trabalham com evidências.

3- Postura contraditória quanto à ivermectina
Fraudes científicas foram descobertas a respeito da eficácia da ivermectina, que foi inflada nelas e na postura ativista de muitos, que atinge o pico naqueles que alegam, sem evidências suficientes, que só essa droga daria um fim na pandemia sozinha. Fraudes contrárias ao uso da droga também foram descobertas, como a fraude midiática envolvendo a revista Rolling Stone (em setembro, a Rolling Stone publicou que os hospitais de Oklahoma estavam recusando-se a atender vítimas de armas de fogo porque estavam lotados de casos de overdose de ivermectina para cavalos. O principal hospital envolvido desmentiu a história, e mostrou-se que o erro era da própria publicação, que tirou de contexto falas de um entrevistado).

Uma das posturas contrárias mais irracionais foi alegar que a droga não passa de um vermífugo para cavalos. A ivermectina rendeu um prêmio Nobel pelo seu uso em humanos e é uma droga segura. Os autores do relatório, enquanto citam um parecer sensato coordenado pelo pneumologista Carlos Carvalho dizendo que ela pode ter eficácia (p. 69), mas precisa de mais investigação, adotam na postura pública em diversos momentos uma certeza de que há “ineficácia comprovada” e chegam a traduzir um tweet completamente político da FDA que insinua que ivermectina é só para cavalos e vacas (p. 62), um ponto baixo na postura pública dessa agência reguladora americana.

Joe Rogan, dono do maior podcast do mundo, tomou ivermectina como tratamento precoce para Covid-19 por prescrição médica. Convidado ao podcast, o médico Sanjay Gupta, da CNN, admitiu que a CNN mentiu ao atacar Rogan por ter seguido esse tratamento chamando a ivermectina de “vermífugo para cavalos”.

Em suma, a eficácia da ivermectina como tratamento precoce ainda está em debate, e os que pulam às certezas e aos exageros o fazem por compromissos políticos, incluindo os membros da CPI e da grande mídia. A postura de citar relatórios que deixam em aberto a possibilidade de a ivermectina funcionar e depois dar certeza de que é ineficaz ao ponto de sua prescrição ser criminosa é completamente contraditória.

4- Distorção pró-mulheres contra os fatos
O identitarismo está em alta e os políticos estão atentos a isso. Então não é surpresa que o relatório alega que a “Covid-19 atingiu mais mulheres do que homens”. A rigor, isso não é incorreto se “atingido” significa “infectado”. Porém, é uma escolha estranha de vocabulário. Mortos são atingidos? Parece que sim. Quem morre é atingido mais do que quem se infecta? Mais uma vez, a resposta parece ser sim.

No estado de São Paulo, quase 60% dos mortos eram homens. Diante do fato de que homens têm sintomas mais severos da covid e morrem mais que as mulheres, o que justificaria essa alegação do relatório da CPI?  
Parece ser a moda de tratar as mulheres como cidadãs especiais, aproveitando a onda eleitoreira direcionada a elas com bajulação e projetos de lei identitários que ameaçam ainda mais no país a igualdade de tratamento dos cidadãos. 
Tudo em nome de exibicionismo moral.

Enquanto não se espera que um relatório de uma comissão parlamentar de inquérito seja um documento científico rigoroso, essas gafes vão além disso. Entram no campo de pecados contra a linguagem clara, contra a lógica e contra o bom senso. Todos querem justiça a respeito da gestão da pandemia. E essa justiça fica mais alcançável quando se evitam esses erros.

 Eli Vieira, especial para Gazeta do Povo - Ideias


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O estado americano onde médicos podem receitar ivermectina e outros - Mundialista

Vilma Gryzinski - Veja

É o Nebraska e decisão foi do secretário da Justiça; Brasil, Estados Unidos e Índia são quase únicos países onde esses tratamentos 

 A discussão nem existe em boa parte do mundo, mas onde existe pega fogo – sem falar em desdobramentos políticos explosivos, como está acontecendo no Brasil. Nos Estados Unidos, a politização é similar à do Brasil: de forma geral, direita a favor da ivermectina e da hidroxicloroquina, centro e esquerda contra, como se fosse uma partida de futebol.

Como os estados americanos têm grande autonomia, mais até do que no sistema federativo brasileiro, os tratamentos alternativos foram liberados na semana passada no Nebraska por decisão do secretário da Justiça, Doug Peterson. A decisão decorreu de um pedido da diretora da área médica do estado, baseada no argumento de que médicos e consumidores estão sendo inundados com informações sobre os tratamentos em questão e “pode ser difícil discernir a qualidade ou a validade dessa informação”.

Como no Nebraska cabe ao secretário da Justiça a palavra final sobre a penalização de médicos caso fujam dos padrões admitidos, coube Peterson se pronunciar. “Baseado na evidência que existe atualmente, o mero fato da prescrição de ivermectina ou hidroxicloroquina para a Covid-19 não resultará na abertura de ações disciplinares”, escreveu Peterson, ressalvando que os pacientes precisam consentir no tratamento e os médicos não podem receitar doses excessivamente altas ou sem se informar sobre os outros medicamentos tomados pelos doentes."Permitir aos médicos que considerem estes tratamentos precoces vai liberá-los para avaliar instrumentos adicionais que possam salvar vidas, manter os pacientes fora dos hospitais e aliviar o nosso já sobrecarregado sistema de saúde”.

É claro que é uma decisão sujeita a um altíssimo nível de debate. Associações de médicos e farmacêuticos dos Estados Unidos, além da FDA, a agência reguladora do governo, são contra o uso off label dos remédios.  A FDA inclusive tentou fazer humor com o assunto, em agosto, com um tuíte de gosto discutível: “Você não é cavalo. Você não é vaca. Parem com isso, pessoal”.

A ideia, equivocada, era dizer que a ivermectina é um vermífugo de uso veterinário. Na verdade, o que estava acontecendo é que o antiparasitário para uso humano havia acabado em algumas regiões americanas e pessoas mal informadas estavam comprando a versão para uso na desvermifugação de animais de criação.

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Como no Brasil, médicos divergem radicalmente sobre os tratamentos e os adversários procuram qualificar como “minoria marginal” os que os prescrevem. Segundo um levantamento da Scientifc American, o número de receitas de ivermectina emitidas semanalmente em agosto passado foi de 88 mil, em comparação com 3 900 no mesmo período de 2019. Detalhe: o vermífugo não é administrado em hospitais públicos do Nebraska, estado governado por Pete Ricketts, um republicano mais conhecido porque sua família é dona do Chicago Cubs, um time de beisebol.

Ricketts promove a vacinação (mas não a sua obrigatoriedade) e seu estado tem uma boa posição no combate à Covid-19: está entre os dez com taxa de mortalidade mais baixa. Defensores dos tratamento off label mencionam a Índia como exemplo de sua eficácia. A Covid-19, que atingiu proporções épica entre março e abril no segundo país mais populoso do mundo, realmente teve uma queda drástica, mas o uso da ivermectina e da hidroxicloroquina deixou de ser recomendado no fim de setembro pelo Conselho de Pesquisas Médicas pela Força-Tarefa Nacional para a Covid-19.

Nos Estados Unidos, os mais conhecidos médicos a favor da ivermectina estão reunidos num grupo chamado Aliança de Cuidados Críticos para a Linha de Frente da Covid, criada pelos intensivistas Pierre Cory e Paul Marik.  Kory já chamou a ivermectina de “remédio miraculoso” e defendeu seu uso em todos os estágios da infecção. De “médico respeitado”, Kory foi banido para o território dos curandeiros. Acabou deixando seu emprego no centro médico da Universidade de Wisconsin “porque não estavam me deixando ser médico”.

“Diria que eu e Marik somos provavelmente os maiores especialistas do mundo no uso da ivermectina para a Covid”, disse ele, nada modestamente, a Joe Rogan, comediante que teve a doença e fez o tratamento alternativo.

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Os argumentos contra são muito mais frequentes e embasados. Mas é possível desprezar os médicos que apostam suas carreiras e reputações na hipótese a favor? Por que fariam isso se não fosse a convicção de que assim podem combater uma doença tão perversa?

Ruim é quando a divergência atinge tal nível que acaba num caso como o acontecido em Ohio. A mulher de um paciente há três meses em UTI, com Covid, conseguiu na justiça autorização para que a ivermectina receitada por um médico particular fosse administrada a a ele. Um juiz embargou a autorização em instância superior. Jeffrey Smith acabou morrendo aos 51 anos. Ninguém ganhou nada.

Blog Mundialista - Vilma Gryzinski - VEJA - Leia MATÉRIA COMPLETA

 

domingo, 18 de julho de 2021

A feitiçaria médica do Planalto - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Feiticeiros de palácio às vezes são bem-sucedidos e às vezes prejudicam a saúde dos pacientes cujo poder pretendem preservar

Às 8h57m de quarta-feira a Secretaria de Comunicação da Presidência da República informou o seguinte: “O Presidente da República, Jair Bolsonaro, por orientação de sua equipe médica, deu entrada no Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília, nesta quarta-feira (14) para a realização de exames para investigar a causa dos soluços.

Por orientação médica, o Presidente ficará sob observação, no período de 24 a 48 horas, não necessariamente no hospital. Ele está animado e passa bem.”

Salvo a data e a identidade do paciente, era tudo mentira.  Em seguida, o chefe da Casa Civil, general da reserva Luiz Eduardo Ramos, informou: “Teve fortes dores às 4h, mas nada de grave até o momento. Então, graças a Deus, ele está muito bem. Repousando, que é o que ele precisa.”

Salvo as dores da madrugada, tudo mentira. Horas depois, Bolsonaro chegava ao Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde montou um pequeno circo. Feiticeiros de palácio às vezes são bem-sucedidos e às vezes prejudicam a saúde dos pacientes cujo poder pretendem preservar. Assim se deu com a “apendicite” de Tancredo Neves em 1985 e com a “gripe” do marechal Costa e Silva em 1969. É verdade que às vezes conseguem esconder os padecimentos dos chefes. Em 1959 esconderam o enfarte de Juscelino Kubitschek. 
João Goulart teve pelo menos três ataques cardíacos entre 1961 e 1964. Jamais se falou do leve acidente vascular cerebral transitório de José Sarney. [atualizando: Graças a DEUS o presidente Bolsonaro recebeu alta, está ótimo, a realização de cirurgia não foi necessária = repouso e tratamento medicamentoso bastaram.] Dois presidentes brasileiros, Costa e Silva e João Figueiredo, assumiram o cargo com médicos cantando a pedra de suas doenças circulatórias. Deu no que deu. Um foi incapacitado por um derrame e o outro perdeu o rumo com um enfarte em 1981. Lula e Dilma Rousseff deram exemplos de transparência médica.

O Bolsonaro que, segundo a Secom passava bem e estava animado na quarta-feira, esteve internado no Hospital das Forças Armadas quatro dias antes. Felizmente, a realidade paralela dos feiticeiros foi retificada pelo seu filho, o senador Flávio Bolsonaro. Ele revelou também que, ainda em Brasília, o pai foi para uma Unidade de Terapia Intensiva, onde intubaram-no “para evitar que ele aspirasse o líquido que estava vindo do seu estômago”. (Tratava-se da sonda gástrica.)

Se Bolsonaro tivesse ido a uma unidade do Samu no terceiro dia de sua crise de soluços, com muita probabilidade teria sido recebido a prescrição de vários exames. Paciente voluntarioso, como Tancredo, Bolsonaro não faz o que mandam os médicos. Às vezes, o paciente disciplinado acaba iludido pelos feiticeiros. Em 1969, passadas 27 horas do primeiro aviso de uma complicação neurológica e depois de perder a fala pela terceira vez, o presidente Costa e Silva perguntou ao capitão médico do serviço de saúde do Planalto:
Não será derrame o que estou sentindo?
Não senhor. Derrame não é. Vamos apurar tudo direitinho.
Era uma isquemia cerebral.

A insônia de Bolsonaro faz parte das mazelas da política nacional. Em 2019 ele contou: “Fiz exames para verificar as condições do sono. E descobri 89 episódios de apneia por hora (número de interrupções respiratórias no período). Detenho o recorde brasileiro de apneia”. Não é um recorde que devesse se vangloriar. Getulio Vargas tinha a sua apneia, mas cuidava-se, no limite da hipocondria.

Só os médicos podem decidir e devem falar com autoridade a respeito do estado de saúde do presidente. Se não fosse a intervenção de Flávio Bolsonaro, essa internação teria começado com feitiçarias.

Calmante Fux
O efeito do calmante com que o ministro Luiz Fux moderou o radicalismo do capitão durou menos de 72 horas. Internado, Bolsonaro voltou a acusar os adversários pelos seus padecimentos e a falar bem de si: “Com honestidade, com honra e com Deus no coração é possível mudar a realidade do nosso Brasil.”

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Omar Aziz
Se Deus é brasileiro e estiver vacinado, quando a CPI do Senado retomar suas audiências públicas, seu presidente, Omar Aziz, tratará seus pares com o respeito que a etiqueta da Casa determina.
Seu estilo de bedel ao tratar com os colegas governistas ofende até quem torce por ele.
 

quinta-feira, 24 de junho de 2021

Universidade de Oxford anuncia novo teste de ivermectina como tratamento para Covid-19 - O Globo

A Universidade de Oxford informou nesta quarta-feira que incluiu a ivermectina, medicamento aprovado para uso contra piolhos, na lista de drogas a serem testadas contra a Covid-19. A droga fará parte de um ensaio clínico de grande escala com apoio do governo britânico, e será administrada em pacientes não internados. Medicamento teve resultados inconclusivos em testes anteriores e OMS, agências reguladoras dos EUA e da União Europeia são contrários ao uso contra a doença

A universidade afirma que incluiu a droga no projeto depois de ela ter apresentado bons resultados preliminares em testes in vitro, feitos em amostras de células em laboratório. Alguns ensaios clínicos preliminares indicaram que a droga reduz a carga viral e a duração dos sintomas para alguns pacientes com sintomas leves.  O projeto Principle, programa de Oxford que vai incorporar agora a ivermectina, é o mesmo que concluiu em janeiro que os antibióticos azitromicina e doxiciclina são ineficazes contra a Covid-19 em estágios iniciais.

A decisão da universidade surpreendeu parte da comunidade médica, porque o uso da ivermectina em Covid-19 possui recomendação contrária da da Organização Mundial da Saúde (OMS), e da FDA (agências reguladora de fármacos nos EUA) e da EMA (reguladora europeia). Os países onde a droga vem sendo usada em caráter experimental ou informal incluem Índia, Argentina e Brasil. 

Ao incluir a ivermectina em um ensaio clínico de grande escala como o Principle, o que esperamos é gerar evidências robustas para determinar quão eficaz esse tratamento contra a Covid-19 é e se há benefícios ou danos associados ao seu uso — afirmou o vice-chefe do projeto, Chris Butler.  Segundo a universidade, não serão recrutados para o teste voluntários que tenham problemas hepáticos graves, que estejam tomando varfarina (medicamento para afinar o sangue) ou outros fármacos para os quais já se sabe que há interação medicamentosa com a ivermectina. A ivermectina, da classe dos antiparasitários, é o sétimo tratamento a ser investigado no projeto Principle e atualmente está sendo avaliada juntamente com o antiviral favipiravir, informou a universidade.

Conexão brasileira
A notícia de que a ivermectina foi incluída na lista de drogas a serem testadas pelo Principle foi comemorada por defensores do medicamento, que faz parte do controverso kit de "tratamento precoce", foi promovido pelo Ministério da Saúde, ao lado da cloroquina.Na esteira dessa promoção, a droga se popularizou mesmo sem ter recebido aval da Agência de Vigilância Sanitária para uso fora da prescrição habitual, contra piolhos. A principal agremiação médica da área, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), também não endossa seu uso para Covid-19. "A SBI não recomenda tratamento farmacológico precoce para Covid-19 com qualquer medicamento (cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, anticoagulante, ozônio por via retal, dióxido de cloro), porque os estudos clínicos randomizados com grupo controle existentes até o momento não mostraram benefício" afirma o último documento de diretrizes clínicas da entidade, publicado em dezembro passado. "Não existe comprovação científica de que esses medicamentos sejam eficazes contra a COVD-19."

Segundo Schechter, com base no status atual de evidências, é legítimo que alguns cientistas queiram ampliar os testes clínicos da ivermectina. Em sua opinião, porém, não é uma aposta com grande chance de sucesso, pois os estudos que sinalizaram efeito positivo não tiveram auditoria externa e não passaram em revisão por pares nos periódicos científicos mais rigorosos.  — A dose que se mostrou eficaz contra o coronavírus nos estudos in vitro, em teoria, é alta demais para uso em humanos, e pode se mostrar tóxica. É improvável que uma dosagem menor funcione, mas nós só teremos certeza com o resultado dos testes — explica o infectologista.

A ivermectina tem seus efeitos colaterais. Por não ser isenta de riscos, como qualquer droga, só deveria ser usada em larga escala após ter sua eficácia comprovada e ter sido aprovada  — afirmou.

Saúde - Sociedade - O Globo

*Com agências internacionais


sábado, 19 de junho de 2021

Lei de Improbidade - A nova lei do liberou geral - Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Do excesso de denúncias ao liberou geral

O Brasil estava à beira de uma crise fatal no sistema financeiro em 1995. Dito de outra maneira: boa parte dos bancos, públicos e privados, não tinha o dinheiro necessário para honrar os depósitos e aplicações dos clientes. A origem, paradoxal, dessa crise estava no fim da inflação. Bancos viviam do open market. Pegavam dinheiro dos clientes, remunerados a uma fração da inflação, e aplicavam toda noite em títulos do governo, recebendo taxas que cobriam a inflação plena e mais alguma coisa.

Quando a inflação, com o Plano Real, caiu para 1% ao ano, a farra acabou. Muitos bancos não apenas tinham ativos podres, maus empréstimos (a empresas amigas e familiares), como tinham passivos muito superiores. O governo FH ficou diante do dilema: deixar a coisa rolar, quer dizer, deixar que a quebradeira ocorresse, na ideia de que isso seria um saneamento “natural” do mercado; ou fazer uma intervenção generalizada, colocando dinheiro para salvar não os banqueiros, mas os clientes e o sistema.

O Banco Central lançou então, em novembro de 1995, o Proer, Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional. Na ocasião acusado de ser uma farra de dinheiro público para os banqueiros, mostrou-se na verdade uma operação original e eficiente de saneamento — depois internacionalmente elogiada.

O BC decretou intervenção nos bancos praticamente quebrados e dividiu cada instituição em duas — a boa e a ruim. A parte boa (bons ativos) foi vendida a outros bancos. A parte ruim foi liquidada pelo BC, que teve, claro, de colocar dinheiro público para ressarcir, de novo, não os banqueiros, que perderam seus bancos, mas a clientela. De todo, foi o mais barato programa de saneamento financeiro, em comparação com outros países do G20.

Mesmo assim, muitos diretores do BC passaram anos se defendendo em processos por improbidade administrativa. O Ministério Público simplesmente não entendeu o processo ou não quis entender, por razões políticas. E aproveitou brechas da Lei de Improbidade, seus pontos vagos e muito abertos, para processar um monte de gente. Ou seja, precisava, sim, fazer a reforma da Lei de Improbidade de 1992. Do jeito que está, de fato ela afasta muita gente boa do serviço público.

Mas o projeto aprovado a toque de caixa pela Câmara de Deputados, sob a liderança de seu presidente, Arthur Lira, virou a coisa pelo avesso. Aliviou geral e merece o apelido de “lei da impunidade”. Primeiro, reduziu demais o elenco de crimes de improbidade. Depois, estabeleceu que é preciso provar materialmente que houve dolo do agente público para caracterizar a improbidade. O que é muito difícil. Exemplo: ao atrasar a compra de vacinas, rejeitar o uso de máscaras, condenar as regras de isolamento, tentar a imunidade de rebanho e receitar remédios ineficazes, o presidente Bolsonaro é responsável pelo alto número de mortos por Covid-19. [essa interpretação absurda não resistirá ao exame de juristas - que se espera sejam idôneos. Só na cabeça de um Aziz - sem condições de presidir uma CPI destinada a pegar ladrões de verbas da Saúde - e do relator Calheiros - um Aziz piorado é que pode prosperar. 
Quanto ao senador Rodrigues, do Acre,   está embarcando nessa teoria idiota e insustentável devido entender que ser senador da República é atrapalhar o Governo. 
E a  mídia militante, destaque-se militância sempre  contra o Brasil e os brasileiros,  precisa cumprir pauta.
- Como é possível responsabilizar um Governo por não comprar vacinas que na época da oferta ainda estavam em desenvolvimento??? imunizantes que um dos ofertantes, Instituto Butantã, até o inicio deste mês, decorridos mais de doze meses que apresentou a oferta, ainda não conseguiu, considerando toda sua produção da CoronaVac, produzir o total ofertado; 
- rejeição ao uso de máscaras??? quantas centenas de pessoas rejeitaram, comprovadamente, o uso de máscaras por influência do PR???
- desde quando condenar o que não funciona - no caso o ridículo isolamento meia-boca, estilo 'joãozinho' - é crime???
- desde quando divulgar opinião sobre um determinado medicamento é receitar??? especialmente, quando o medicamento exige receita médica, tendo médico - segundo o próprio Conselho Federal de Medicina - autonomia para prescrever o medicamento que entender ser o melhor para o paciente que está aos seus cuidados. !!! 
Medicamento que o próprio infectologista David Uip - então braço direito do 'joãozinho' nas ações de preservação da Saúde no estado governado pelo ex-governador das vacinas - prescreveu para ele mesmo - clique e comprove.

Pelo texto aprovado na Câmara, porém, ele só poderia ser responsabilizado se ficasse provado que tinha a intenção de matar — prova obviamente impossível de produzir.  Além disso, o projeto da nova lei reduz os prazos de prescrição. Combinando isso com a lerdeza da Justiça, praticamente todo mundo vai escapar. Vários processos já em andamento na Lava-Jato seriam imediatamente arquivados. O próprio presidente da Câmara se livraria de processos originados em sua atuação como deputado estadual em Alagoas.

O projeto está agora com o Senado. A ver. Mas, do jeito que está, o objetivo é claro: passar do excesso de acusações injustas para o liberou geral. Triste é que esse projeto tenha sido aprovado por quase todos os partidos, dos bolsonaristas aos petistas, o que dá bem um retrato da política brasileira. De comum a esses partidos, só o fato de serem todos apanhados em denúncias sérias e bem provadas. 

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista 

Coluna publicada em O Globo - Opinião, em 19 junho 2021