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segunda-feira, 25 de julho de 2022

A maior arma de guerra de todos os tempos foi colocada em ação - Daniel Lopez



Gazeta do Povo

Geopolítica da escassez

A Nova Ordem Mundial está trazendo velhas estratégias de conquista e dominação

 Será que Putin irá cumprir sua promessa de não interromper o fornecimento de grãos para a Europa? -  Foto: AP

A pirâmide de Maslow nos ensina que há uma hierarquia das necessidades humanas. 
Há aquelas que são, em tese, dispensáveis, uma vez que meramente mentais (autorrealização e estima) ou de natureza social (amigos, família etc). Entretanto, na base da pirâmide, estão as necessidades indispensáveis, inevitáveis, sem as quais não se vive: questões fisiológicas como água, comida, sono e repouso.  
E se um líder fosse capaz de utilizar esses elementos como arma de guerra? “Se não fizerem o que eu quero, então não comem?”. Obviamente, isso já foi praticado por tiranos durante a história. 
Contudo, hoje essa prática atingiu uma dimensão sem precedentes. Imagine você cortar o fornecimento de comida e energia para um continente inteiro? É algo assustador, mas real. O continente é a Europa, e o fornecedor é a Rússia.

Julgamento no STF sobre terço de férias pode gerar dívida bilionária para empresas

Uma matéria recente da BBC inglesa mostrou que imagens de satélite revelaram que alguns dos maiores produtores de trigo no mundo estão com suas plantações em péssimas condições, como é o caso da Ucrânia, da Índia e dos Estados Unidos. Contudo, o levantamento também mostrou que, por outro lago, 2 países estão com plantações cada vez mais robustas: Rússia e China
A matéria não coloca o Brasil neste levantamento, mas imagino que nosso cultivo esteja em condições razoáveis.
 
O problema disso tudo é que o cenário coloca uma situação muito tenebrosa para o continente europeu e para os países em desenvolvimento. 
O perigo de uma escassez global de alimentos começa a ganhar contornos mais sinistros e realistas. 
Instituições como o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, o Banco de Compensações Internacionais e a própria Casa Brancaalertaram para uma iminente fome mundial. E parece que a Europa será a grande prejudicada, com a possibilidade de a Rússia utilizar o fornecimento de energia e comida como ferramentas geopolíticas.
 
Um cenário de estagflação, condições climáticas adversas e interrupções das cadeias globais de suprimentos criaram o contexto perfeito para o caos. 
 E a Rússia está aproveitando cada centímetro dessa crise para fazer valer sua vontade. 
Moscou está vendendo mais petróleo e comodities do que nunca, e hoje detém, junto com a China, as culturas básicas mais prósperas do planeta. Isso dá a Putin uma vantagem geopolítica imensa, uma vez que a Europa e os EUA estão vendo sua produção de comodities, sua indústria e sua segurança energética serem dilapidadas em alta velocidade.

O Kremlin tem afirmado que não irá cortar o fornecimento de grãos para a Europa. Mas eles também haviam dito que não cortariam o suprimento de energia para os europeus. Entretanto, esta semana, o gasoduto Nord Stream 1 foi fechado por tempo indeterminado. Conclusão: além do petróleo e do gás, agora as nações orientais podem utilizar, também, os alimentos como arma contra as nações da OTAN.

É um cenário tenebroso, que pode, inclusive, ser ainda mais avassalador para as nações menos favorecidas. O caos pode gerar aumento considerável da fome, da pobreza e da criminalidade. 
O Brasil, entretanto, tem o potencial de garantir a segurança energética para a Europa e a segurança alimentar para o mundo. Fazendo isso, diminuiria o controle de Rússia e China sobre as nações ocidentais.
 
A pergunta que fica é: será que entraremos numa rota de colisão com Moscou e Pequim, tentando nos impedir de ajudar as nações em suas crises energética e alimentícia? [o Brasil tem que colocar seus interesses acima dos de qualquer outros países, que hoje se consideram donos do mundo. 
O Brasil já integra o BRICS, enquanto por parte da EUA e Europa recebe ora ameaças ora afagos (até internacionalizar a Amazônia o francês já ameaçou.]
Ou os BRICS seguirão mais unidos do que nunca, aproveitando o cenário adverso para fazer avançar, em conjunto, seus planos geopolíticos? Aguardemos.

 Daniel Lopez, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

O Brasil e a crise entre Rússia e Ucrânia

Análise Política

A cautela do governo Jair Bolsonaro e da principal corrente de oposição (PT) é reflexo da complexidade dos impactos da crise russo-ucraniana sobre o Brasil.

O Brasil é parte do hemisfério ocidental, tem um alinhamento quase estrutural com os Estados Unidos e a Europa devido a fatores geográficos, históricos e políticos 
Mas é também um membro dos Brics com ambição global, o que impõe não apenas cuidados comerciais, mas também geopolíticos. Um exemplo na recente visita de Bolsonaro à Rússia foi o apoio à pretensão de o Brasil se tornar membro permanente do Conselho de Segurança.

Após um período marcado pela introdução de fortes elementos ideológicos na política exterior brasileira, a atitude até o momento do Itamaraty diante da crise no leste europeu retoma a linha desenvolvida desde pelo menos meados da década de 1970, ainda nos governos militares: equilibrar-se entre um pró-americanismo estrutural e os novos interesses de um grande país, o Brasil, desejoso de manter certa independência nos assuntos mundiais.

O “até o momento” se deve às crescentes pressões pelo alinhamento pró-ocidental.[pressões que o Brasil por sua condição de NAÇÃO SOBERANA deve ignorar. 
Não pode ser esquecido que os autores de tais pressões, até o presente momento,  se limitam a declarar aplicação de sanções econômicas - de efeitos duvidosos e pior de tudo, especialmente para a Ucrânia, demorados e um alegado de algumas centenas, se muito milhares de armas, que talvez por falta de quem as manuseie, com conhecimento, podem cair em mãos russas.] 

O elemento novo dessa guinada: os componentes mais ideológicos do governo e da sua base de sustentação parecem seguir a atitude, também até o momento, de Jair Bolsonaro, voltada a não confrontar a Rússia. Há dois componentes circunstanciais aí:

1) o fato de o governo Joe Biden não ser visto aqui nos círculos do poder como um aliado firme e,

2) as boas relações estabelecidas entre Bolsonaro e o presidente russo, Vladimir Putin.

Relações que se consolidam quanto mais Bolsonaro se convence de que Putin não é propriamente de esquerda, mas um nacionalista russo que se apoia no tradicionalismo e no conservadorismo para consolidar seu projeto e seu poder. [Mais uma vez o presidente Bolsonaro, assume a posição correta. Esqueçamos o comunismo - Putin não é comunista, pode, até ser ateu, mas um ateu que não cria obstáculos às outras religiões. Além do mais, a Rússia desejada por Putin e apoiada no 
conservadorismo, nacionalismo e tradicionalismo, que ele cultua, não combina com um comunismo que abomina e busca eliminar valores tais como: BONS COSTUMES, FAMÍLIA, MORAL, PROPRIEDADE, RELIGIÃO, TRADIÇÃO, LIBERDADE, PATRIOTISMO. O comunismo, colado ao esquerdismo progressista, tem como como objetivo maior implantar, estando algumas  em fase adiantada de imposição,  'invenções' tais como: ateísmo obrigatório, ideologia de gênero, linguagem neutra, ditadura das minorais, cotas para tudo e outras coisas piores e que resultarão no que mais o comunismo sabe fazer e tem tido êxito em várias nações, ou seja: "... uma fantasia que até hoje só produziu fome, miséria, escassez e escravidão no mundo ... ".]  E o detalhe curioso:  até outro dia, se o referencial político era Donald Trump, o ideológico era a Ucrânia pós-Maidan. Basta lembrar das faixas pela “ucranização” nas manifestações da base pró-Bolsonaro.

Há também um componente, não desprezível, de política regional. Não conviria ao Brasil uma consolidação da cooperação militar entre Rússia e Venezuela, o que introduziria um componente de instabilização na fronteira norte. Por implicar um fortalecimento relativo das capacidades militares de Nicolas Maduro em relação a nós, e também por ter, como consequência, um aumento da pressão americana sobre nossa fronteira amazônica.

Ainda sobre as relações com os Estados Unidos e a Europa, não é preciso gastar muito raciocínio para concluir que americanos e europeus apoiariam sem nenhum sofrimento uma alternativa “não-trumpista” a Jair Bolsonaro na sucessão. O PT já identificou bem esse potencial, e hoje busca repaginar-se como um partido social-democrata nos moldes europeus. Os ajustes em sua linha de política exterior falam por si.

Ainda em relação ao PT, a crise russo-ucraniana é um complicador no cenário em que o partido persegue não apenas alianças políticas ao chamado centro, mas também apresentar- se programaticamente mais distante de um perfil que poder ser descrito pelos adversários como “radical”.

Em tese, a velha tática da equidistância, do equilíbrio e do apelo a princípios gerais poderia servir de boia contra a enxurrada de pressões para um alinhamento antirusso. Mas apenas em tese, pois o equilíbrio e a equidistância hoje correm o risco real de serem caracterizados como alinhamento pró-Moscou. O esforço dos aparatos de construção da opinião pública por estes dias chega a ser inédito. Uma observação: os mesmos que criticavam as tendências antichinesas da fase anterior de nossa política externa, e pediam pragmatismo, hoje exigem o sacrifício das relações do Brasil com a Rússia.

O que não deve espantar, pois é apenas política. Será necessário observar agora os desdobramentos das múltiplas pressões sobre a posição brasileira. Cinco pontos de atenção:

O desfecho da crise russo-ucraniana será puramente militar ou em algum momento haverá um cessar-fogo, com as partes entrando em negociações? Há movimentos do governo ucraniano em favor de aceitar a neutralidade militar exigida pela Rússia, mas no momento o presidente Vladimir Zelensky não parece ter apoio interno suficiente para fazer esse movimento sem risco.

As eventuais pressões internas desencadeadas pelas duríssimas sanções vão minar a posição de Vladimir Putin?

• Qual será o impacto imediato sobre a economia brasileira?   
Até que ponto as sanções à Rússia terão consequência sobre os negócios desta com o Brasil?
 
• Qual será o comportamento do maior parceiro comercial do Brasil, a China, diante das sanções à Rússia? 
Que impacto isso terá sobre os negócios com o Brasil?

• Como reagirá o mercado global de energia, do qual a Rússia é um jogador-chave?

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


sábado, 19 de fevereiro de 2022

Brasil parece estar do outro lado’, dizem EUA sobre viagem de Bolsonaro

Durante encontro com Vladimir Putin em Moscou, presidente brasileiro disse ser 'solidário à Rússia'

Após ser questionada sobre a declaração de solidariedade do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia, em meio às tensões envolvendo uma possível invasão de Moscou à Ucrânia, a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, afirmou nesta sexta-feira, 18, que o Brasil “parece estar do outro lado de onde está a maioria da comunidade global”. “Eu diria que a vasta maioria da comunidade global está unida em uma visão compartilhada, de que invadir um outro país, tentar tirar parte do seu território, e aterrorizar a população, certamente não está alinhado com valores globais”, afirmou Psaki em entrevista à imprensa em Washington. “Então, acho que o Brasil parece estar do outro lado de onde está a maioria da comunidade global”. [essa senhora,assim como os que pensam igual a ela, deve lembrar que o Brasil é uma NAÇÃO SOBERANA, tendo o direito de assumir as posições que entender serem as mais convenientes aos interesses do Brasil e do povo brasileiro.
Também devemos ter presente que o cidadão que preside os Estados Unidos, logo após   assumir o cargo insinuou, em parceria com o francês Macron a possibilidade da Amazônia ser invadida.
Insinuações de tal natureza são fatores que estimular o Brasil manter uma posição mais independente e sempre priorizando seus interesses.]

Em resposta a pergunta de um jornalista sobre se as falas de Bolsonaro poderiam afetar as relações Brasil-EUA, ela ressaltou que não conversou com o presidente americano, Joe Biden, sobre as declarações. Ainda assim, deu uma resposta dura. A fala da porta-voz segue o encontro do presidente brasileiro com o russo Vladimir Putin na quarta-feira em Moscou, onde Bolsonaro afirmou que “somos solidários à Rússia” e expressou desejo de intensificar as relações bilaterais entre os países.

As preocupações se dão em meio à consolidação de forças russas perto da fronteira com a Ucrânia.  De acordo com os EUA e o Ministério da Defesa ucraniano, há, atualmente, cerca de 150.000 soldados russos posicionados perto dos limites do país. A Rússia cercou o norte do país vizinho, onde a fronteira é mais desguarnecida, posicionando seu Exército como uma ferradura, cercando a região por três lados, em territórios de Belarus, de quem é aliada.

Além disso, a Inteligência americana vem afirmando há semanas que a Rússia poderia buscar um pretexto, como uma operação com agentes infiltrados, para justificar uma eventual invasão. Um dos pretextos poderia ser o recente agravamento de confrontos na região de Donbas.

A mensagem feita por Bolsonaro já tinha sido alvo de críticas por parte de autoridades americanas. Na quinta-feira, um porta-voz o Departamento de Estado dos EUA disse que o encontro “mina a diplomacia destinada a evitar um desastre estratégico e humanitário”. O momento em que o presidente do Brasil se solidarizou com a Rússia, enquanto as forças russas estão se preparando para potencialmente lançar ataques a cidades ucranianas, não poderia ter sido pior”, disse em entrevista televisionada. 

A VEJA antes da viagem do presidente brasileiro, uma autoridade do Departamento de Estado, que falou sob condição de anonimato, expressou que o Brasil deveria usar a oportunidade para reforçar à Rússia “a preocupação dos Estados Unidos e de outras nações sobre o papel desestabilizador que a Rússia está desempenhando e a ameaça atual à soberania e integridade territorial da Ucrânia”.

Segundo o funcionário americano, a posição do governo dos EUA sobre o aumento de presença militar russa na fronteira com a Ucrânia foi comunicada ao governo brasileiro, com quem “mantém diálogos regulares em todos os níveis”.

Em reportagem publicada em VEJA no início do mês, na edição nº 2775, o ex-embaixador Sergio Amaral destacou que Brasil e Rússia têm relação antiga e fazem parte do Brics, grupo que reúne ainda China, Índia e África do Sul. Em outras situações, uma missão oficial seria algo natural, mas não em meio a uma tensão que pode resultar em guerra. "Nesta circunstância é difícil evitar que essa visita seja interpretada como um gesto de simpatia e até solidariedade com Moscou”, destacou.

Caio Saad - Mundo Veja


quinta-feira, 25 de março de 2021

O piloto sumiu - Merval Pereira

O Globo 

Crise da COVID

O Congresso assumiu o comando de um “comitê de crise” contra a Covid-19, criado com um ano de atraso pelo presidente Jair Bolsonaro. As lideranças políticas do país, refletindo o pensamento de setores empresariais, da classe média desiludida, da maioria não negacionista emparedada pelo medo da pandemia sem ser maricas, tomaram as rédeas da situação, assumindo seu papel de representantes dos cidadãos. Assumiram o posto do piloto, que sumiu na tempestade.

[Comitê de crise = a forma mais fácil de dizer o que não foi feito... sem dizer como fazer = enrolar, fingir que faz e o problema continuando. Tanto que o ministro  Fux decidiu logo pela não participação do STF = afinal, há sempre o risco do STF ter que julgar eventuais acusações contra o comitê - entre elas as de omissão - e estar entre os acusados. 
Apontar a falta de vacinas como uma das causas do elevado contágio e letalidade da peste maldita não salva uma única vida, nem produz uma dose que seja do imunizante. ]

Mesmo que formalmente Bolsonaro seja o líder, já perdeu a condição de liderar, e agora é liderado pelo Centrão, formado por políticos experientes, que não estão dispostos a seguir as maluquices do presidente eventual quando se trata propriamente do futuro do país e, por conseguinte, deles mesmos.

Uma relação impressionante de sequências foi feita pelo economista e especialista em risco Paulo Dalla Nora Macedo para demonstrar como chegamos aonde estamos, no dia trágico quando superamos a casa dos 300 mil mortes pela pandemia.[avisem para o economista que o Brasil precisa de vacinas e atendimento médico - demonstrar onde estamos e como chegamos, não vai salvar uma vida que seja.]

O mundo começou a vacinar em escala em janeiro deste ano. Só os EUA vacinaram 31 milhões de pessoas naquele mês. Até 31 de janeiro, o mundo tinha aproximadamente 2,250 milhões de mortes por Covid-19. O Brasil tinha cerca de 225 mil, ou 10% do total. De 1º de fevereiro até ontem, terão morrido mais 75 mil pessoas no Brasil vítimas da Covid-19, enquanto no mundo foram 500 mil.

Desde 1º de fevereiro, portanto, o Brasil terá concentrado 15% das mortes de Covid-19, um crescimento de 50% em relação a 31 de janeiro. Se pegarmos apenas março deste ano, esse número pode se aproximar de 30%. Ou seja, em março, quase uma em cada três mortes de Covid no mundo deverá ser do Brasil. “Um espanto que mostra que a aceleração de mortes aqui é absolutamente desproporcional ao resto do mundo.”

Na comparação com os EUA, o efeito do estágio da vacinação também é bem claro: até 31 de janeiro, eles estavam muito à frente do Brasil (+25%) no número de mortes por milhão de habitantes, o que ainda é verdade. No entanto, para as mortes apenas de 1º de fevereiro até hoje, estamos empatados em mortes por milhão de habitantes e temos curvas totalmente distintas: nós subindo, eles caindo. Por isso, se consideramos apenas março deste ano, já temos um número de mortes por milhão bem acima dos EUA.

A pressão sobre o governo chegou também à Comissão de Relações Exteriores da Câmara, onde seu presidente, o deputado tucano Aécio Neves, cobrou do ministro Ernesto Araújo uma ação mais efetiva do governo brasileiro, com nova postura no debate na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a quebra de patentes de vacinas e insumos de combate à Covid-19.

Membros do Brics, como Índia e África do Sul, com o apoio de outros 55 países, querem uma moratória do acordo que regula os direitos da propriedade intelectual, mas o governo brasileiro se posiciona por uma solução intermediária, que preserve as patentes, mas leve a uma produção de vacinas e insumos em países que já estão atendidos para países mais pobres, licenciamento voluntário negociado com as farmacêuticas, transferência de tecnologia.

“Um dos principais entraves à ampliação da oferta de vacinas no mercado mundial é o compromisso de patentes e a proibição de exportação de versões genéricas das vacinas em circulação. De um lado, criticamos a ausência de oferta de vacinas e, ao mesmo tempo, nos colocamos contrários a um movimento ou uma ação concreta que pode de forma célere ampliar a oferta dessas vacinas. Quais são as perspectivas para que uma solução intermediária possa ocorrer?”, atacou Aécio Neves.

É possível que, agora, haja uma orientação comum no combate à Covid-19 no Brasil. O comitê formado para coordenar as ações da crise da pandemia será comandada pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Fica claro que, nesse assunto, Bolsonaro foi suplantado pela pressão do Congresso. Os políticos abriram os olhos, viram que, do jeito que estava, o país ia afundar, e resolveram assumir o controle da situação. O problema para Bolsonaro é que o Centrão está no comando, então ele terá que fazer avaliação sobre apoios políticos antes de reclamar de alguma medida que venha a ser tomada, como o lockdown.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


segunda-feira, 22 de março de 2021

Monitorar a vacinação - Alon Feuerwerker

Agora que a vacinação contra a Covid-19 por aqui está pegando tração, duas notícias positivas de hoje. A primeira é que o imunizante de Oxford e da AstraZeneca conseguiu 79% de eficácia na prevenção de casos sintomáticos. A vacina também revelou 100% de eficácia contra casos graves. 

Além disso, não aumentou o risco de coágulos sanguíneos (leia). O estudo foi conduzido com mais de 30 mil vacinados nos Estados Unidos, Chile e Peru. A segunda é que o imunizante da chinesa Sinovac é efetivo e seguro para crianças e adolescentes (leia).

Parece que as duas escolhas, do governo de São Paulo e do federal, vão se provando adequadas, resta agora torcer para que as entregas prometidas se realizem conforme o planejamento. A velocidade na vacinação é importante para ganhar a corrida contra as novas cepas que a seleção natural produz.

Para quem deseja acompanhar em tempo (quase) real a vacinação pelo mundo, no Financial Times tem os dados absolutos e proporcionalmente à população. Eu escolhi comparar Brics, México e Argentina (leia). Mas você pode comparar o que quiser. Vale favoritar.

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

A diplomacia que mata - Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Articulação permitiria que Brasil, China, Índia e Rússia se organizassem para produzir vacinas

Está certo que Brics, na maior parte do tempo, foi mais uma sigla do que uma aliança concreta. Originalmente representando Brasil, Rússia, Índia e China, a sigla foi inventada por um economista britânico, Jim O’Neill, para designar o grupo de países emergentes com mais chances de se tornarem ricos e influentes.
Que formassem um grupo, era duvidoso, dadas as notórias divergências entre, por exemplo, Índia e China, ou Rússia e China, sem contar que o Brasil não parecia ter qualquer proximidade com aqueles três.

Num dado momento, entretanto, com o Brasil sob governo petista, surgiu um interesse comum entre aquelas nações em fazer um contraponto à influência americana, principalmente, e europeia, em segundo lugar. Seria a voz mais importante do mundo emergente. O grupo se formalizou diplomaticamente, incorporando a África do Sul, para ter um representante daquele continente. De uma coisa meramente retórica, de mais discurso e menos ação, evoluiu para algo mais prático, especialmente com a criação do Novo Banco de Desenvolvimento, chamado banco do Brics, para financiar projetos em comum. Banco que é hoje presidido por um brasileiro, o economista Marcos Troyjo, indicado pelo governo Bolsonaro.

Tudo isso para dizer que as circunstâncias abriram uma enorme possibilidade para o Brasil — não aproveitada. Dos membros do grupo, um, a China, era não apenas o principal parceiro comercial do Brasil, como um dos maiores produtores mundiais de medicamentos e insumos. A Índia, há anos, cravou posição como a maior produtora de genéricos e também de insumos farmacêuticos. A Rússia, em reconstrução, não havia perdido a capacidade tecnológica, inclusive nas ciências biológicas e médicas.

O Brasil tem dois institutos com reconhecimento mundial na produção de vacinas, o Butantan e Manguinhos. Todo mundo sabia disso quando se iniciou a pandemia. E a oportunidade estava na mão: uma boa articulação permitiria que Brasil, China, Índia e Rússia se organizassem para produzir e distribuir vacinas em larga escala, com financiamento de seu próprio banco. China, Índia e Rússia entrando com a tecnologia e as fórmulas; Brasil, com sua capacidade de produção e seu imenso mercado, estendendo-se para o Mercosul e toda a América Latina.

Mas isso jamais passou pela cabeça do presidente Bolsonaro e de seu chanceler, Ernesto Araújo. Nessa cabeça, a China é um bando de comunistas, que produz vacina para destruir o mundo ocidental. A Rússia, bem, seja o que for, não é amiga dos EUA. A Índia, do direitista e populista Narendra Modi, até poderia ser próxima, mas o país tem uma diferença histórica com os EUA. Sendo a maior produtora de genéricos, a Índia sempre teve interesse em limitar as patentes farmacêuticas, dominadas pelas grandes farmacêuticas americanas e europeias.

Por isso, em meados do ano passado, a pandemia crescendo, a Índia propôs na OMS que as patentes de medicamentos relacionados à Covid-19 fossem temporariamente suspensas. Trata-se de uma controvérsia. A patente, o direito exclusivo de explorar a venda de um medicamento, é um estímulo importante para que as farmacêuticas invistam bilhões de dólares na busca de uma nova substância.  Mas faz tempo que o mundo, incluindo governos e setor privado, está debruçado na busca de arranjos legais que permitam conciliar a patente com a distribuição de medicamentos para as nações mais pobres.

A calamidade da pandemia justificava esse esforço. Só que o Brasil de Bolsonaro seguiu fielmente os EUA de Trump e votou contra a suspensão temporária de patentes da Covid, deixando Índia, principalmente, e China enfurecidas. A retórica antichinesa de Bolsonaro e sua turma terminou o serviço. Agora, Bolsonaro implora os medicamentos de Modi e tem vergonha de pedir os insumos chineses, esperando que Doria resolva o problema. A vacina “chinesa assassina do Doria” vira a vacina do Brasil, na nova mentira bolsonarista, tentando salvar o que não pode salvar: o fato de que ele desprezou o sofrimento e boicotou a vacina.  [cabe um pequeno comentário: a vacina da Fiocruz está contratada junto a ASTRAZENECA que possui uma fábrica na China, dispondo dos insumos necessários e com a obrigação de contratual de repassar para o Brasil todo o necessário a que o contrato seja cumprido - a China não vai intervir no assunto.
Quanto a questão indiana houve um desajuste diplomático a ser sanado.
Já a vacina chinesa, a CoronaVac, é uma parceria entre o Butantan e a Sinovac, cabendo a esta o  fornecimento dos insumos necessários, só que se trata de uma empresa chinesa, instalada em solo chinês.!!!
Quanto ao destino do atual chanceler,  o esperado e necessário para o Brasil, é sua substituição.]

Uma diplomacia pragmática salvaria milhares de vidas. Essa outra matou.

O Globo - Carlos Alberto Sardenberg, jornalista


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O custo da pirraça – O Estado de S. Paulo

Opinião

Como sempre, Bolsonaro tentou transferir uma responsabilidade que é majoritariamente de seu governo. 

E ainda tratou países europeus como receptadores de produtos roubados.  

O presidente Jair Bolsonaro usou a mais recente cúpula do Brics para atacar os países europeus que criticam a política ambiental de seu governo. [Bolsonaro criticou os países europeus por comprarem produtos brasileiros provenientes de desmatamento 'ilegal' - desmatamento que criticam.
Os europeus são tão pretensiosos, para dizer o mínimo, que querem que o Brasil combata o desmatamento, impeça que produtos do desmatamento ilegal seja impedidos de embarcar para a Europa. 
A filosofia vesga deles é que se o Brasil não impediu o embarque, a mercadoria chegou, eles podem comprar e receber o produto sem restrições.
Esquecem aqueles senhores e as Ong's vendidas que os apoiam, bem como os especialistas em nada que malham o Brasil, que a melhor forma de combater um comércio ilícito (seja de madeira, de drogas, etc) é controlando a demanda.
Se os presidentes franceses, alemães, etc, apreendessem e confiscassem as cargas ilegais após ingressarem em suas águas territoriais, seria  perda total para o comprador e/ou vendedor que desistiriam de embarcar cargas para a Europa. E os navios empregados no transporte ilícito seriam apreendidos e obrigados ao pagamento de uma multa milionária.]
Não eram nem a hora nem o lugar apropriados para isso, mas Bolsonaro jamais se preocupou com esses detalhes protocolares que regem a relação civilizada entre os países, especialmente quando se trata de exercitar sua diplomacia da pirraça. No entanto, é difícil saber que interesses do Brasil foram defendidos por Bolsonaro quando este, em seu dialeto peculiar e claramente de improviso, decidiu denunciar “países que tenham importado madeira de forma ilegal da Amazônia”, ressaltando que “alguns desses países são os mais severos críticos ao meu governo tocante a essa Região Amazônica”.

A manifestação de Bolsonaro, em lugar de aplacar as críticas, prejudica ainda mais o Brasil. Expõe a precariedade da fiscalização e da aplicação da lei sobre a extração de madeira, acentuada durante o atual governo – que trata a preocupação ambiental como entrave ao “progresso”. Em primeiro lugar, a maior parte da madeira extraída da Amazônia, cerca de 90%, é vendida no próprio mercado brasileiro. Ou seja, o problema é majoritariamente local e demanda uma ação firme das autoridades daqui mesmo, e não de outros países, para combater os madeireiros ilegais. Em segundo lugar, foi o próprio governo de Bolsonaro que afrouxou a fiscalização e as exigências burocráticas sobre o comércio de madeira, o que facilitou sobremaneira a exportação irregular. [o presidente Bolsonaro e nenhum brasileiro devem explicações a governos estrangeiros sobre o que é feito dentro do Brasil com a madeira brasileira; quanto à madeira que vai para o exterior, impedir que ela ingresse em seus países é responsabilidade das autoridades do país em que ocorra o indesejado ingresso.

Se um determinado cidadão ou empresa, no Brasil ou em qualquer país do mundo, precisa de um determinado produto o natural é que se dirija a um fornecedor. No percurso constata que um fornecedor do produto desejado está sendo furtado e recebe de um dos ladrões a oferta para comprar o produto e aceita, ele comete um crime.

E não vai adiantar nada que ele argumente em sua defesa que o dono legítimo do produto foi furtado por não cuidar adequadamente de sua guarda e manuseio. Só que na ótica dos inimigos do Brasil - aos maus brasileiros de sempre se junte os presidentes dos países coniventes com os criminosos - se tratando de malhar o presidente Bolsonaro vale tudo.

Quanto ao parágrafo abaixo, perguntamos: será que o Brasil para adequar sua legislação interna tem que ouvir outros países? Eles que façam sua legislação de acordo as conveniências de seus cidadãos e os entendimentos que entendam pertinentes = não cuidaram de suas florestas e agora querem cuidar das do Brasil; querem que o Brasil controle a entrada em solo estrangeiro de mercadorias que eles reputam ilegais. ]

Os países importadores de madeira brasileira não têm como saber se o produto que estão comprando com papelada aparentemente em ordem é ilegal. Nenhuma tábua entra em navio sem documentação oficial do governo brasileiro, emitida pelos órgãos fiscais e ambientais competentes. Em março passado, o governo Bolsonaro eliminou a exigência de autorização específica para a exportação. Desse modo, ficou mais fácil “esquentar” madeira extraída de forma criminosa, sobretudo em reservas ambientais e indígenas. Estima-se que 90% da madeira exportada pelo Brasil possa ser, na prática, ilegal.

Essa é precisamente uma das principais razões pelas quais vários países europeus vêm pressionando o Brasil a melhorar seus controles sobre o desmatamento. Em quase todo o mundo, mas particularmente na Europa, os consumidores cobram de seus governos que só autorizem a compra de produtos de outros países se houver certeza de que sua produção envolveu as melhores práticas ambientais. [o que os consumidores estrangeiros pensam ou deixam de pensar não importa ao Brasil - caso boicotem produtos brasileiros, especialmente os não alimentícios, retaliaremos com restrições na venda de alimentos. Eles que deixem com o governo do Brasil - NAÇÃO SOBERANA - a criação de normas para exportação de produtos brasileiros e cuidem os estrangeiros de sua legislação para importação.No caso da madeira brasileira, em razão da leniência do governo em relação aos madeireiros, a desconfiança é crescente.

Assim, se o interesse de Bolsonaro fosse mesmo melhorar a imagem do Brasil e calar os críticos, o primeiro passo seria acionar a máquina do Estado, que ele comanda, para fazer valer a legislação ambiental brasileira, que é exemplar. Em lugar disso, preferiu, como sempre, transferir a terceiros uma responsabilidade que é majoritariamente de seu governo. E ainda tratou países europeus, importantes clientes da indústria e da agricultura brasileiras, como receptadores de produtos roubados.

Sugerir que países como Alemanha e França são cínicos ao criticar a política ambiental do Brasil enquanto compram madeira ilegal é tão imprudente quanto inútil, razão pela qual a única serventia do discurso improvisado de Bolsonaro no Brics só pode ter sido a de excitar os camisas pardas bolsonaristas nas redes sociais, tristonhos com a surra eleitoral que seu líder levou no domingo passado.

O resultado prático da bravata bolsonarista é que provavelmente as exigências europeias para autorizar a compra de madeira brasileira, que hoje já são bastante duras, ficarão muito mais rigorosas, reduzindo o mercado para os madeireiros que trabalham dentro da lei e que têm nas exportações seu principal ganho em valor agregado. Atabalhoado como sempre, o presidente colocou no mesmo patamar empresários corretos e desmatadores criminosos. Dessa confusão, Bolsonaro espera extrair dividendos políticos – e o faz, como sempre, à custa do País.[fechando: medidas duras geram medidas duras; o princípio de a cada ação corresponde uma reação não se limita a manter os aviões a jato no ar - tem outras utilidades, entre elas a de amolecer governos estrangeiros que se intrometem nos assuntos de outros países.]

Opinião - O Estado de S. Paulo

 

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Presidente do STJ baixa folga no tribunal e curte show do Elton John - Radar - VEJA

 Por Robson Bonin

Corte não estava na área afetada pelo esquema de segurança dos Brics, mas entrou no 'feriadão' mesmo assim
O presidente do STJ, João Otávio Noronha, baixou ponto facultativo na Corte durante o encontro dos Brics e partiu com o colega, o ministro Ricardo Cueva, para curtir o show de Elton John nos EUA.


Câmara desmente ‘golpe’ de Maia para tirar mandato de Bolsonaro

Site do Legislativo abriu um espaço, o 'Comprove', para começar a desmentir fake news propagadas contra a Casa


O site da Câmara abriu um espaço, o “Comprove”, para começar a desmentir fake news propagadas contra a Casa. A primeira notícia falsa desmentida é sobre Rodrigo Maia.
“É falso que o presidente da Câmara tenha participado de uma tentativa de golpe de Estado”, diz o texto: “Rodrigo Maia nunca se envolveu em manobra para instituir o parlamentarismo e destituir o presidente Jair Bolsonaro.” [o golpe pode até não existir, mas, o parlamentarismo branco, que é uma modalidade de golpe, existe e está sempre atuante.]

Blog Radar - VEJA

sábado, 16 de novembro de 2019

A diplomacia do improviso - Míriam Leitão

O Globo

É preciso deixar o improviso na diplomacia

Os presidentes dos países dos Brics
O presidente Jair Bolsonaro disse, diante dos outros quatro líderes dos Brics, que está tocando a agenda de reformas “que estava há décadas por uma solução”. O ministro da Economia, Paulo Guedes, misturando inglês e português anunciou que Brasil e China estão negociando uma área de livre comércio. Nem uma coisa nem outra. Os governos Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula e Temer fizeram reformas econômicas importantes. E um acordo desses com a China exigiria muitas etapas prévias para o início das negociações. Um erra ao relatar o passado, o outro ao descrever o presente.

Ao falar sobre os eventos recentes, Bolsonaro tem o mesmo defeito do ex-presidente Lula, o de ignorar o que foi feito antes dele. O “nunca antes” do ex-presidente foi retomado pelo atual, que costuma fazer pausas dramáticas após afirmar: “o Brasil mudou”. A verdade é que na economia, o país vem mudando um pouco a cada mandato. O menos reformista foi o da ex-presidente Dilma Rousseff.  A última grande abertura comercial foi feita por Fernando Collor. O ex-presidente Fernando Henrique conduziu inúmeras reformas, como a mudança do capítulo econômico da Constituição que acabou com o monopólio da Petrobras, Eletrobras, Telebrás. Privatizou, mudou a previdência e aprovou a Lei de Responsabilidade Fiscal. O ex-presidente Lula aprovou uma importante reforma da previdência dos servidores. Itamar Franco em dois anos fez, sob o comando de Fernando Henrique, a mais importante reforma monetária do país, que acabou com a hiperinflação. Michel Temer aprovou o teto de gastos e a reforma trabalhista. Por que é preciso lembrar isso? Porque a amnésia ataca certos governantes do Brasil. Eles se apresentam como inaugurais e seus atos como inéditos. [o Brasil (nos desgovernos anteriores, deste século - exceção o de Temer, que só não foi mais exitoso para o Brasil, devido o Janot engaANOT ter impedido) já perdeu muito tempo. 
Nos parece que relatar fatos passados será pura perda de tempo, por improdutivo.]

O atual governo fala muito em abertura, mas pouco se viu de concreto, além do acordo Mercosul-União Europeia que vai demorar a sair do papel. Uma área de livre comércio do Brasil com a China, ou, no dizer de Guedes aos jornalistas brasileiros, “free trade area” porque “we’re seeking of higher grounds of integration” demandaria muito mais do que essa mudança de oito a oitenta que atingiu o governo Bolsonaro da noite para o dia.

Quando o presidente falava mal da China, chamando o país de o “predador” que queria “comprar o Brasil”, foi alertado por economistas, exportadores, diplomatas, jornalistas que a China é o nosso principal parceiro comercial, com US$ 98,6 bilhões de comércio e quase US$ 30 bilhões de superavit. Agora ele entendeu essa parte. Foi à China, recebeu Xi Jinping e comunicou solene: “A China é nosso principal parceiro comercial”. Sim. [prova que apesar de uma evidente (e maximizada) teimosia o nosso presidente tem capacidade de reconhecer erros, corrigindo-os.]
 
Daí a dizer que pode ser feito um acordo de livre comércio com o país vai uma grande distância. Se for sem o Mercosul, desmonta-se o acordo com a União Europeia. Se for com o bloco, é preciso que haja clima entre os dois maiores países do Mercosul. O governo brasileiro está de amuos porque não gostou do resultado eleitoral. Para mostrar seu desgosto pensa em mandar o ministro da Cidadania, Osmar Terra, representar o Brasil na posse de Alberto Fernández. Alguém precisa avisar Bolsonaro que a Argentina, apesar da crise, é o maior comprador de produtos manufaturados brasileiros, e é parceiro próximo, goste-se ou não de quem ocupará a Casa Rosada. [por enquanto, o Brasil não pode priorizar o confronto político devido diferenças ideológica - a economia tem que ter prioridade, assim o mais sensato é aguardar que os hermanos que fizeram a bobagem nas últimas eleições, consertem a lambança.] 
 
Mesmo soando claramente como uma precipitação do ministro da Economia, a tal área de livre comércio assustou os empresários. A sabedoria está em evitar o protecionismo comum em parte dos industriais brasileiros, mas não pecar por ingenuidade diante de um país que tem uma máquina poderosa de produção, e cuja economia não joga exatamente o livre jogo do mercado. Os subsídios no produto chinês são tão numerosos quanto invisíveis.

O Brasil precisa mesmo de níveis mais altos de integração com a economia mundial, mas é preciso sair da teoria para a prática. O atual governo tem o hábito de anunciar projetos que ainda não formulou. [hábito grave e que pode trazer prejuízos - falar pouco sempre é mais produtivo.
No caso do presidente Bolsonaro, que tem inimigos em pontos estratégicos do governo brasileiro, se torna mais grave, já que facilita ação de sabotadores.]  É preciso abandonar também o improviso e o amadorismo na política externa. O “namoro” com os Estados Unidos, para usar uma imagem cara ao presidente, ignorou a realidade de que a economia americana é nossa competidora na exportação de alimentos. Os Estados Unidos e a China são ambos parceiros fundamentais do Brasil. Isso parece que finalmente a diplomacia de Bolsonaro entendeu.

Coluna da Míriam Leitão, jornalista - O Globo - com Marcelo Loureiro

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Pragmatismo de Bolsonaro é uma boa novidade – Editorial - O Globo

Apesar de críticas à China no passado, presidente se curva à importância do país para o Brasil

A reunião de cúpula do grupo de países conhecido como Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) foi um choque de realidade para o governo. A ênfase no pragmatismo com a China revelou um presidente Jair Bolsonaro em contraste com o candidato que há um ano mantinha visão estreita —até hostil — sobre o principal cliente do Brasil. O peso do poder impôs a mudança. 

Quando Bolsonaro se elegeu, a China já comprava 29% de tudo o que o Brasil exportava. Ano passado foram US$ 66,6 bilhões, com aumento de 35% nas vendas, permitindo um superávit de US$ 30 bilhões. No governo Bolsonaro o ritmo de negócios se mantém em três commodities (soja, minério de ferro e petróleo), que representam 80% do tudo que é vendido à China, e avança em outros produtos: o Brasil já abastece 80% do consumo chinês de aves e 30% de carne bovina. Esse dinamismo agora se espraia por investimentos na infraestrutura brasileira, sobretudo em energia. 

Essa vitalidade o Brasil não conseguirá reproduzir com os demais integrantes do Brics. Juntos, Rússia, Índia e África do Sul somam 3% do comércio brasileiro. O cenário sugere chances para políticas comerciais, com abordagem pragmática.
Por isso, é louvável a relativa mudança de comportamento do presidente, que insistia em pautar sua visão das relações do Brasil com o mundo a partir exclusivamente de um alinhamento automático aos princípios unilateralistas do governo Donald Trump, impulsionado pela pregação obscurantista, às vezes terraplanista, dos atuais responsáveis pela política externa. 

Essa metamorfose foi notada, por exemplo, pelo líder chinês Xi Jinping. Sentindo-se confortável, ele anunciou a decisão de “aumentar e melhorar o comércio e investimentos”. Animou o ministro da Economia, Paulo Guedes, a mencionar negociações para uma “área de livre comércio”. É empreitada complexa, dependente de harmonização com o acordo Mercosul-União Europeia e, principalmente, de enquadramento na moldura da China para relações multilaterais, a “Belt and Road Initiative” (BRI), mais conhecida como nova Rota da Seda.

É certo, porém, que se Bolsonaro demonstrou pragmatismo com a China, perdeu uma oportunidade. Tinha a presidência rotativa do grupo Brics, mas não se dispôs a explorar a densidade política que possui o bloco, devido ainda ao alinhamento aos EUA. Isso ficou visível na inócua tentativa do Itamaraty de convencer os líderes Xi Jinping (China), Vladimir Putin (Rússia), Narendra Modi (Índia) e Cyril Ramaphosa (África do Sul) a subscrever uma declaração contra a cleptocracia venezuelana liderada pelo ditador Nicolás Maduro. Justa, mas inadequada à reunião. 

Recusaram, porque atendia aos interesses da Casa Branca na região. Retrucaram, abstraindo a América do Sul e destacando questões incômodas ao governo Trump no Sudão e na Coreia do Norte. Nesse aspecto, o Brasil ficou isolado.

Editorial - O Globo


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Negócios com a China - Nas entrelinhas

“Frente à concorrência chinesa, os avanços do Brasil permanecem limitados. Precisamos aumentar as exportações de manufaturados de maior complexidade”


O ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou ontem que o governo brasileiro tem intenção de formar uma área de livre-comércio também com a China. A notícia arrepiou os cabelos dos setores industriais brasileiros, que sofrem com as consequências da falta de competitividade de nossos produtos e a concorrência dos importados made in China. A ideia, segundo o ministro, é criar uma “free trade area” (área de livre-comércio), com alto nível de integração. “Queremos nos integrar às cadeias globais. Perdemos tempo demais, temos pressa”, disse Guedes, em Brasília.

Há 20 anos, o Brasil negociava com a China um volume de comércio de cerca de US$ 2 bilhões ao ano; agora, saltou para mais de US$ 100 bilhões nos dias atuais. Para efeito de comparação, com a Índia, outro parceiro do Brics, o comércio ainda está ao redor de US$ 4 bilhões por ano.  As declarações ocorrem num momento de muita confusão na América do Sul, onde a China desbancou os Estados Unidos como parceiro comercial da maioria dos países. Ao mesmo tempo, sinalizam um deriva do alinhamento automático com o presidente Donald Trump, que está em guerra comercial com a China. O Brasil aposta na relação com os chineses por razões que não necessariamente coincidem com aspectos políticos e ideológicos que levaram à formação do Brics. Não chega a ser uma esquizofrenia, é um dado da realidade objetiva, determinado pela mudança de eixo do comércio mundial do Atlântico para o Pacífico e pela emergência da China, a segunda potência econômica mundial, como principal comprador de nossas commodities de minério e agropecuárias.

Guedes sente as consequências da guerra comercial entre Estados Unidos e China na economia mundial, assim como sabe que as tensões na América Latina estão afugentando investidores em toda a região, inclusive do Brasil. Entretanto, tem uma visão ultraliberal que assusta principalmente os setores industriais brasileiros, tradicionalmente protecionistas: “Os chineses, indianos, malaios, filipinos, está todo mundo subindo o padrão de vida. A metade de lá. Enquanto isso, do lado de cá, particularmente a América Latina, o Mercosul, fez o contrário: cabeça de avestruz, enfiamos a cabeça no chão. Ficamos fechados. Nosso padrão de vida está piorando.”

O problema é que o Brasil está se desindustrializando. Não tem uma política industrial. Economistas liberais são contra isso por princípio, mas governos não podem ser indiferentes à realidade do setor produtivo. No caso brasileiro, a situação é mais grave, porque não existe capital acumulado para a criação de uma nova indústria, mais competitiva, na velocidade em que as mudanças ocorrem no mundo. A tentativa de criar empresas globalmente competitivas dos governos Lula e Dilma, a política dos “campeões nacionais”, resultou em escândalos de corrupção e colapso da “nova matriz econômica”, que lançou o Brasil na recessão.

Complexidade
De acordo com o Atlas da Complexidade Econômica, dos economistas Ricardo Hausmman e César Hidalgo (respectivamente da Universidade de Harvard e do Instituto Tecnológico de Massachusetts — MIT), a complexidade das exportações é determinante para o crescimento econômico de longo prazo dos países. Isso porque, alguns conjuntos de produtos no núcleo do tecido produtivo são mais essenciais para dinamizar outras atividades produtivas, “por conta de seus efeitos de encadeamento e transbordamento, ou seja, por estabelecerem mais conexões com o restante das atividades econômicas”. É o caso dos produtos eletrônicos, máquinas, materiais para construção, químicos e produtos relacionados à saúde.

O Brasil havia melhorado sua posição no ranking de complexidade econômica entre 2012 e 2016, passando do 50º para o 42º lugar, mas a recessão pôs tudo a perder. A análise das exportações brasileiras e chinesas para os países do Mercosul, Aladi e Nafta, qualificando o tipo de produto exportado a partir do Índice de Complexidade do Produto (ICP), contribui para a compreensão das causas da interrupção da tendência de aumento da especialização das exportações brasileiras em produtos pouco dinâmicos, ou seja, commodities.

O Brasil até procurou se adaptar ao avanço da concorrência chinesa em seus principais mercados externos, não apenas por meio da exportação de produtos de baixa complexidade, mas também exportando produtos de maior complexidade, como os da indústria de máquinas, em especial a automotiva, beneficiados pelos acordos comerciais com alguns países dessas regiões. Entretanto, a China destacou-se em produtos ainda mais sofisticados (sobretudo eletrônicos), resultado também associado a acordos comerciais entre países latino-americanos e países externos à região.

Frente à concorrência chinesa, os avanços do Brasil permanecem limitados. Precisamos aumentar as exportações de manufaturados de maior complexidade e ampliar nossas competências produtivas em direção a bens similares dos que já produzimos. Além disso, vale ressaltar a importância de participar de acordos comerciais que envolvam produtos de maior complexidade econômica, notadamente com os países com os quais já apresentamos laços comerciais estreitos em manufaturados, como os do Mercosul.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense


terça-feira, 12 de novembro de 2019

Fogo no circo - O Estado de S.Paulo

Eliane Cantanhêde

A polarização do Brasil extrapola fronteiras e incendeia a região

A Bolívia ia bem à esquerda, o Chile era um exemplo na centro-direita e, de repente, os dois regimes implodem, com o povo na rua, a oposição fortalecida, os governos acuados. O que há em comum entre eles? A insatisfação crônica da sociedade, que agora usa o poder das redes sociais e cria falsos mitos para por fogo no circo.   Foi-se o tempo dos movimentos que se alastravam em ondas e na mesma direção na América do Sul. Hoje é de cada um por si, com eleições incertas no Uruguai, a volta do nefasto kirchnerismo na Argentina e protestos grandiosos no Chile, Bolívia, Equador e Peru. Sem falar na estraçalhada Venezuela.

O mundo abriu os olhos. E, quando se olha para a América do Sul, depara-se com o Brasil, o maior, mais rico e mais populoso país da região, o que costumava dar as cartas e agora vive suas próprias tensões internas, sujeito aos reflexos das crises ao redor. Aqui também se dá, como nos vizinhos, mas sem confrontos de rua, tiros e mortes, o grande embate entre a velha esquerda e a nova direita, entre o populismo de Lula e um Bolsonaro que tenta se equilibrar entre o seu reacionarismo e o neoliberalismo de Paulo Guedes.

Os 13 anos de Evo Morales na Bolívia trouxeram desenvolvimento e inclusão social. Enquanto o Brasil passou por dois anos seguidos de recessão e patinou em 1% de crescimento ao ano, a pequena Bolívia, país mais pobre da região, atingiu a média de 4,9%. E, se o Brasil atravessa governos e regimes à direita e à esquerda sem efetiva inclusão social, organismos internacionais atestam que a Bolívia reduziu a miséria à metade. [por favor, considerem que a Bolívia tem uma população pouco acima dos 10.000.000 de habitantes, número inferior ao total de desempregados no Brasil.]

Então, o que deu errado? O grande erro de Evo Morales, o mais pragmático dos “bolivarianos”, foi institucional. Foi a crença de que só ele é capaz de “salvar” o país. Foi assim, seguindo os passos de Hugo Chávez, que ele driblou a decisão popular contra um quarto mandato e ganhou num Judiciário amigão o direito de concorrer. Daí à denúncia de fraude foi um pulo. [oportuno ter presente que o Brasil, diante da generosidade do STF, tem um condenado, temporariamente em liberdade, que também se julga capaz de salvar não apenas o Brasil e,  sim todo o UNIVERSO - pior, tem alguns milhares de pessoas, número com viés de queda,  - que acreditam nele.]

A sociedade reagiu dando palanque para os líderes de oposição e pedindo a interferência ainda velada das Forças Armadas. Mas a guinada começa mal. Além do gesto da renúncia, Morales pediu aos adversários que pacifiquem a nação, mas o oposicionista Luís Camacho radicalizou, exigindo a prisão dele e seus aliados. Para que? Se Morales, o vice, o governo e a cadeia sucessória ruíram por inteiro, isso só serve para acirrar os ânimos. Vitoriosos devem ter grandeza.

No Chile, como já explorado, a questão não foi política e social, na medida em que os indicadores iam bem, mas o povo ia mal. Diz-se que quem tem fome tem pressa. E quem está na base da pirâmide grita que as fórmulas de crescimento não estão gerando igualdade e inclusão.   Os ingredientes e as palavras de ordem já pipocavam no Brasil e emergem com força quando Lula sai da cadeia atacando os três pilares do governo: Bolsonaro, Guedes e Moro. O governo contra-ataca com uma arma válida contra Cristina Kirchner na Argentina, mas é acessória no Chile e na Bolívia: o combate à corrupção. Lula acusa o regime Bolsonaro de antipovo, Bolsonaro e Moro martelam que Lula é “condenado” e “criminoso”. [o criminoso petista usa uma ideia - aliás, ele próprio se considera um ideia - para acusar o governo Bolsonaro, já Moro e Bolsonaro apontam um fato: o condenado não foi inocentado, as sentenças continuam válidas - uma delas corroborada pelo STJ - e os demais processos penais contra o nefasto líder petista continuam válidos e em curso, e todos os crimes estão sobre as costas do sentenciado petista.]

Não se trata de um debate sobre o que é melhor para o País e para todos, mas uma guerra de acusações e de desconstrução de adversários, em que vale tudo, principalmente o jogo sujo das fake news. Isso piora muito porque Lula precisa de Bolsonaro para reanimar sua tropa e Bolsonaro usa Lula para reaglutinar o bolsonarismo.   A reunião dos Brics começa hoje em Brasília com a Rússia acusando a direita de ter dado um “golpe” na Bolívia e os investidores pisando no freio. Quem quer investir numa confusão dessas, que vem de fora para dentro, mas encontra campo fértil dentro do próprio Brasil? [O Brasil possui em sua Constituição mecanismos que podem ser utilizados pelo presidente da República pra o pronto restabelecimento da lei e da ordem.]



Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo



“El cambio” - Nas entrelinhas

“A crise ética continua sendo um vetor decisivo do processo político brasileiro, uma agenda que permanece em  pauta no Congresso, com muita audiência nas redes sociais”

 A palavra cambio em espanhol é uma espécie de abracadabra para a esquerda latino-americana; em bom português, significa mudança. É mais ou menos o que está em curso na Argentina, onde os peronistas estão de volta ao poder, com a vitória de Alberto Fernández, e no Chile, com as agruras do liberal Sebastián Piñera. Povo na rua é música aos ouvidos de qualquer militante de esquerda, mas acontece que, às vezes, o povo também vai para a rua contra a esquerda. Foi o que aconteceu na Venezuela, com Nicolás Maduro, e agora na Bolívia. A diferença é que, na Venezuela, as Forças Armadas são bolivarianas; na Bolívia, deu-se justamente o contrário, os militares forçaram a renúncia de Evo Morales, que havia fraudado as eleições para garantir um quarto mandato, duplamente ilegítimo, porque um plebiscito havia rejeitado a nova reeleição.

Um dia, toda a verdade sobre os bastidores da renúncia de Morales, que pediu asilo ao México, será revelada. Na mais tardia das hipóteses, isso acontecerá quando as gravações e arquivos da Casa Branca forem revelados. Aí saberemos qual a verdadeira participação do presidente Donald Trump no “cambio” boliviano e, de carona, a do governo brasileiro, que sempre meteu uma colher nos assuntos da Bolívia. Nesse aspecto, não será surpresa se houve discreta atuação da diplomacia e de militares brasileiros, ao contrário da trapalhada feita logo após a posse de Bolsonaro, na tentativa de derrubada de Maduro, que fracassou. Ainda que tenha sido discreta, certamente não foi com o viés mediador que sempre caracterizou a atuação do Brasil nessas crises, porque a política externa brasileira mudou de eixo. Agora, é todo apoio à direita latino-americana.

Nesse aspecto, cresce a expectativa em relação à reunião dos Brics aqui no Brasil, amanhã e quinta-feira. A política externa de Bolsonaro não tem nada a ver com a dos líderes de Rússia, Vladimir Putin; Índia, Narendra Modi; China, Xi Jinping; e África do Sul, Cyril Ramaposa. A chancelaria russa já adiantou que a questão da Bolívia está na pauta da conversa de Bolsonaro com Putin. “Já houve uma reunião em Osaka. Agora, será uma conversa mais profunda. A agenda será fundamentalmente bilateral e, é claro, questões internacionais e regionais também serão tocadas, levando em conta a situação na Bolívia”, afirmou Yuri Ushakov, assessor presidencial para Assuntos Internacionais. A existência da cúpula dos Brics em parte se deve mais à política externa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo eixo era Sul-Sul, do que a de Bolsonaro, de alinhamento absoluto com os Estados Unidos. Houve certa flexibilização a partir da viagem de Bolsonaro à China, mas agora é que vamos ver o ângulo dessa deriva.

Polarização
(...)

A crise ética continua sendo um vetor decisivo do processo político brasileiro, quem quiser que se iluda. É agenda que permanece em pauta no Congresso, com muita audiência nas redes sociais. Outros dois vetores são a agenda dos costumes, polarizada entre os movimentos identitários e setores conservadores de caráter religioso, e a agenda das reformas, que contrapõe liberais e nacional-desenvolvimentistas. Bolsonaro opera as três agendas simultaneamente.

No primeiro vetor, apesar do cristal quebrado por causa do caso Queiroz, que envolve o senador Flávio Bolsonaro (PSL-SP), seu filho, a libertação de Lula resgatou a bandeira da Lava-Jato para o governo, devido à presença do ex-juiz Sérgio Moro no Ministério da Justiça. No segundo, a polarização recrudesceu na área da Cultura, deslocada do Ministério da Cidadania para o do Turismo, sob comando do dramaturgo Ricardo Alvim, desafeto de Fernanda Montenegro, grande dama do teatro, das telenovelas e do cinema.

Ontem, Bolsonaro lançou um programa de combate ao desemprego entre jovens, talvez o ponto mais fraco de seu governo. No fundo, é no terreno econômico que o governo aposta para manter sua hegemonia política, mas, para isso, não basta a retomada da atividade econômica, é preciso gerar emprego e renda e evitar que a questão social volte a ser o vetor determinante do processo político brasileiro. 

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense