Ainda se
contavam os votos em vários estados norte-americanos e a mídia militante
brasileira já criticava o presidente Bolsonaro por não haver, ainda,
felicitado Joe Biden pela vitória. Aquilo seria um terrível erro tático
da diplomacia nacional, que iria custar caríssimo ao Brasil!
Cada vez que
Bolsonaro cumpre o ritual de abertura na Assembleia Geral da ONU, a
mídia militante o critica por expressar uma mensagem de soberania do
próprio país acossado por governos de esquerda e por interesses dos
agricultores europeus.
Quando eleva o tom com o presidente francês que
sugere internacionalizar a Amazônia, a mídia militante o critica.
Até parece
que nos governos Lula e Dilma, a diplomacia brasileira comandada, na
real, pelo falecido Marco Aurélio “Top Top” Garcia, andou nos esmerados
padrões do Barão do Rio Branco...
Esqueceram que,
durante aquele longo período, o Brasil associou-se aos mais
desprezíveis e deploráveis ditadores, buscados a dedo no mapa das
nações. O tráfego entre Havana e Brasília, de tão intenso, quase exigia
uma ponte aérea. Sempre havia um negociante oferecendo dinheiro do
BNDES. Sempre havia algum líder esquerdista deixando uma lágrima de
emoção nos ombros já arqueados de Fidel Castro. Na volta ao Brasil,
qualquer pergunta sobre presos políticos, acionava um discurso decorado
sobre Guantánamo e “bloqueio” americano. E ficava por isso mesmo. Presos
de direita não são humanos nem tem direitos.
Essa afinidade entre nossos governantes de então e os líderes cubanos era carnal, como unha e dedo. Quando se separam, dói. Noutra
perspectiva, parecia, também, algo estreitamente familiar. Fraternal na
afinidade dos iguais e crescentemente filial, como quem busca a bênção
do veterano e sábio pai pelo apoio político, moral e financeiro à
velhice dos rabugentos ditadores. E lá se foi dinheiro nosso para
consertar o estrago que a ditadura já leva mais de sessenta anos
produzindo.
Um pouco
diferente, mas ainda assim consistente e comprometida, solidária e
ativa, a relação dos nossos ex-presidentes com o delirante Hugo Chávez e
seu fruto Maduro. Ali também se estendeu a mão solidária do governo
petista. Podia faltar dinheiro para as penúrias humanas do nosso
semiárido, para os portos e aeroportos nacionais, mas que não faltassem
recursos para grandes obras em Cuba, Venezuela, Equador, Peru, Angola,
Moçambique, e sabe-se lá onde mais. Foram longos anos bíblicos de perdão
de dívidas! Onde houvesse um tiranete africano ou ibero-americano, lá
ia o Brasil rasgar seus títulos de crédito.
Haveria muito, mas muito mais, do mesmo. Isso, porém, me basta. Percebam
os leitores que em todos os casos, a reverência, o apreço, a dedicação
fluíam para as pessoas concretas dos líderes políticos, membros do
clube, e não para os respectivos povos.
Não eram os cubanos, mas os
Castro.
Não eram os venezuelanos, mas os bolivarianos Chávez e Maduro.
Não eram os paraguaios, mas bispo fajuto D. Lugo.
Não eram os bolivianos
ou os nicaraguenses, mas Evo e Ortega. Não eram os povos africanos, mas
seus ditadores.
Havia algo muito errado em nossa política externa. Tão
errado que me levou um dia a proclamar: “Isso não é o Brasil, senhores,
isso é Lula, Dilma e seus companheiros!”.
Não bastassem
tantos casos concretos, tratados pela mídia militante com cortesia e
tolerância, caberia uma indagação final. Seria você capaz de identificar
uma nação ou um estadista realmente democrático, uma democracia estável
e respeitável, que colhesse daqueles nossos ex- governantes uma
consideração semelhante à que foi concedida nos vários exemplos que
acabo de citar?
Pois é, não tem. A mídia militante abordou esse assunto?
Também não. Mas a diplomacia de hoje é dita radical e prejudicial ao
Brasil.
Percival Puggina (76), membro da
Academia Rio-Grandense de Letras e Cidadão de Porto Alegre, é arquiteto,
empresário, escritor e titular do site Conservadores e Liberais
(Puggina.org); colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e
Gaviões; A Tomada do Brasil pelos maus brasileiros. Membro da ADCE.
Integrante do grupo Pensar+.